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AS DESONERAÇÕES FISCAIS E SEUS IMPACTOS SOBRE O MERCADO DE TRABALHO: a experiência brasileira no período de 2012 a 2016 José Aderaldo do Nascimento Neto 1 Marcus Antonio Gomes Souza 2 RESUMO: Este artigo aborda a análise das desonerações fiscais e os impactos sobre o mercado de trabalho no Brasil, durante o período de 2012 a 2016. Nesse contexto recupera- se a atuação da política fiscal brasileira e, para qual fim esta tem sido aplicada a partir do regime de metas de inflação. Contudo houve uma reorientação no período recente e muitas das premissas básicas do regime de metas não foram levadas a contento. No tocante aos impactos sobre o mercado de trabalho, convém apresentar os efeitos da política de desonerações e, sua concretude na geração de empregos formais durante o governo Dilma Rousseff, cujo fim específico é a redução das desigualdades sociais através do declínio da taxa de desocupados. Para melhor entendimento demonstra-se a evolução taxas percentuais de desonerações fiscais para os setores eleitos como estratégicos da economia, ao passo que se busca a imersão dessas medidas para produção de empregos permanentes com elevado nível de produtividade e remuneração. Palavras-chave: Mercado de Trabalho. Política fiscal. Desonerações fiscais ABSTRACT: This article discusses the analysis of the rates of deregulation and the impacts on the labor market in Brazil, during the period from 2012 to 2016. Metassed regime of inflation. The rule of a reorientation rule was not recent and many of the basic premises of the goal regime were not brought to a happy conclusion. Impossible to the impact of the market, it is appropriate to present the tax of desonerations and, its concreteness in business of employment during the government Dilma Rousseff, on the aim is a reduction of social inequalities through a decline of unoccupied taxes. For better understanding, we present the best statistics on economics, salaries, profits and income. Keywords: Labor Market. Fiscal policy. Tax exemptions. 1 Mestrando em Desenvolvimento Socioeconômico/PPGDSE-UFMA; Economista/IPREV-Ma. 2 Mestrando em Desenvolvimento Socioeconômico/PPGDSE-UFMA; Bacharel em Ciências Econômicas-UFMA; Licenciado em matemática/CENECT-PR; Professor de Educação Profissional/SENAI-Ma.

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Page 1: AS DESONERAÇÕES FISCAIS E SEUS IMPACTOS SOBRE O …...isenções sobre setores da economia e a evolução das taxas percentuais de cada um dos impostos dentro do período estudado

AS DESONERAÇÕES FISCAIS E SEUS IMPACTOS SOBRE O MERCADO DE

TRABALHO: a experiência brasileira no período de 2012 a 2016

José Aderaldo do Nascimento Neto1

Marcus Antonio Gomes Souza2

RESUMO: Este artigo aborda a análise das desonerações fiscais e os impactos sobre o mercado de trabalho no Brasil, durante o período de 2012 a 2016. Nesse contexto recupera-se a atuação da política fiscal brasileira e, para qual fim esta tem sido aplicada a partir do regime de metas de inflação. Contudo houve uma reorientação no período recente e muitas das premissas básicas do regime de metas não foram levadas a contento. No tocante aos impactos sobre o mercado de trabalho, convém apresentar os efeitos da política de desonerações e, sua concretude na geração de empregos formais durante o governo Dilma Rousseff, cujo fim específico é a redução das desigualdades sociais através do declínio da taxa de desocupados. Para melhor entendimento demonstra-se a evolução taxas percentuais de desonerações fiscais para os setores eleitos como estratégicos da economia, ao passo que se busca a imersão dessas medidas para produção de empregos permanentes com elevado nível de produtividade e remuneração.

Palavras-chave: Mercado de Trabalho. Política fiscal. Desonerações fiscais

ABSTRACT: This article discusses the analysis of the rates of deregulation and the impacts on the labor market in Brazil, during the period from 2012 to 2016. Metassed regime of inflation. The rule of a reorientation rule was not recent and many of the basic premises of the goal regime were not brought to a happy conclusion. Impossible to the impact of the market, it is appropriate to present the tax of desonerations and, its concreteness in business of employment during the government Dilma Rousseff, on the aim is a reduction of social inequalities through a decline of unoccupied taxes. For better understanding, we present the best statistics on economics, salaries, profits and income.

Keywords: Labor Market. Fiscal policy. Tax exemptions.

1 Mestrando em Desenvolvimento Socioeconômico/PPGDSE-UFMA; Economista/IPREV-Ma. 2 Mestrando em Desenvolvimento Socioeconômico/PPGDSE-UFMA; Bacharel em Ciências Econômicas-UFMA; Licenciado em matemática/CENECT-PR; Professor de Educação Profissional/SENAI-Ma.

Page 2: AS DESONERAÇÕES FISCAIS E SEUS IMPACTOS SOBRE O …...isenções sobre setores da economia e a evolução das taxas percentuais de cada um dos impostos dentro do período estudado

1 INTRODUÇÃO

As dificuldades encontradas no período de 2012 a 2016, para promoção do

crescimento econômico põem sobre o governo Dilma Rousseff muitas responsabilidades do

ponto de vista da execução da política macroeconômica. Não menos importante para o

desenvolvimento econômico do Brasil, o mercado de trabalho é incitado a produzir resultados

positivos que objetivem a redução das desigualdades sociais através do emprego formal. E,

para alcance do declínio da taxa de desemprego no país, o governo têm- se utilizado de

alguns mecanismos imanentes a política fiscal, tal como: as isenções fiscais. Essa evidência

reforça o comprometimento do governo com as políticas sociais, entretanto este pacto não se

atentou aos mecanismos de controle para à aplicação dessas medidas de estímulos aos

setores produtivos. Ao longo do processo de implementação destas medidas, muitas foram

desvirtuadas e não lograram êxito na sua totalidade, contudo vale salientar o descasamento

entre planejamento, execução e controle das isenções fiscais, por este fato muitos dos

resultados negativos estão vinculados a esta causa.

Nesse contexto, este trabalho busca apresentar algumas explicações a respeito da

política fiscal do período, especificamente através das isenções fiscais, assim como seus

impactos sobre o mercado de trabalho. Dessa forma este texto está estruturado em 5 seções.

A primeira seção do trabalho inclui esta introdução e, na sequência apresenta-se a segunda

seção que trata da política fiscal brasileira e mercado de trabalho, dando ênfase a atuação do

governo instalado à época. Por conseguinte, a evolução das desonerações fiscais capitulada

na terceira seção. Esta parte ocupa-se por discorrer sobre o processo de distribuição das

isenções sobre setores da economia e a evolução das taxas percentuais de cada um dos

impostos dentro do período estudado. Na penúltima seção e não menos importante que as

demais elencadas anteriormente, os efeitos das desonerações fiscais sobre o mercado de

trabalho brasileiro ao longo do período de 2012 a 2016, nessa parte ensaia-se algumas

explicações das consequências das isenções fiscais sobre o mercado de trabalho. Na última

seção estão as considerações finais desse texto, cujo objetivo central é fazer o fechamento

das seções anteriores desse artigo.

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2. POLÍTICA FISCAL BRASILEIRA E MERCADO DE TRABALHO

O primeiro mandato de Dilma Rousseff inicia-se em um contexto internacional

desfavorável, isto é fato, dado os efeitos da crise internacional iniciada em 2008. Todavia,

este governo compromete-se, em dar seguimento as políticas de redução das desigualdades

sociais. Dessa forma a política fiscal fora levada ao exercício de reduzir as metas de superávit

primário do setor público consolidado. Entretanto, nesse contexto cabe uma pergunta: o que

é a política fiscal brasileira? Este modelo de política fiscal configura-se pela geração de

superávits primários contínuos e aumento da carga tributária. “A política fiscal ganhou lugar

destacado na condução da política macroeconômica e na estratégia de desenvolvimento”

(LOPREATO, 2007).

A reforma na área fiscal, embora iniciada na década de 80, ganhou outro caráter no Plano Real. A estabilização e a integração ao mercado internacional colocaram questões de natureza diversa e levaram à construção de um novo regime fiscal, marcado, no primeiro momento, pela renegociação das dívidas estaduais, a reforma da previdência e as privatizações. (LOPREATO, 2007, p.04)

Para Baltar (2015) o estudo das relações entre produção, emprego, renda do trabalho

e preço ajuda a revelar o mercado de trabalho implícito na forma de crescimento da economia

brasileira depois da abertura comercial e financeira, com uma orientação de política

macroeconômica que prioriza o controle da inflação, usando como instrumento principal o

manejo da taxa básica de juros pelo Banco Central do Brasil (BCB), enquanto as autoridades

fiscais executam o orçamento de modo a evitar que o déficit nominal amplie a relação entre

dívida pública e PIB e o governo renuncia ao uso da taxa de câmbio como instrumento de

política de desenvolvimento da produção doméstica de bens que concorrem com a produção

de outros países.

O mercado de trabalho sem dúvidas afeta muitas variáveis macroeconômicas, sendo

este mercado para as economias modernas um grande propulsor de desenvolvimento

econômico. No Brasil recente a política macroeconômica colocou-se na posição de

estimulante desse mercado através das isenções fiscais, de antemão estes foram os

norteadores ao longo do governo de centro-esquerda liderado por Dilma Rousseff. Para

Dweck e Teixeira (2017) “esse modelo pode ser descrito como social desenvolvimentismo, no

qual tanto os investimentos públicos quanto às políticas redistributivas têm papel central para

determinar a trajetória de crescimento”. Nesse contexto ocorreu várias mudanças no cenário

internacional, com o objetivo de reorganizar as formas de produção no sistema capitalista a

fim de contrabalancear a tendência de queda da taxa de lucro.

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Esse processo gerou mudanças nos padrões da concorrência intercapitalista, acirrando a competição, o ritmo das fusões e aquisições e a desnacionalização das estruturas produtivas de países que não estão no centro desses movimentos. Essas mudanças acentuam o caráter oligopólico das estruturas produtivas contemporâneas, com forte poder de marcação de preços, e permanentemente incitadas a se guiar pelos patamares dos rendimentos vigentes nos mercados financeiros. (CARLEIAL, 2015, p.203)

Segundo Rodrigues (2016) “sob a ótica do emprego, o governo Dilma se inicia, em

2010, com uma desocupação média de 6,7%, o menor patamar desde o início da nova série,

em 2002. Paralelamente, a crescente capacitação feminina e o mercado de trabalho3

aquecido determinaram a menor diferença das desocupações entre os gêneros com homens

alcançando a taxa de 5,2% e as mulheres, 8,5%”.

Muitos desses resultados se deram pelo segundo governo Lula, com as políticas

anticíclicas aplicadas contra a crise internacional financeira que se espraiava pelo mundo,

estas medidas pouparam o Brasil da avalanche que passeava pelo mundo e, isto trouxe à

pátria do futebol resultados positivos que acalmaram os ânimos do mercado nacional.

Conforme Carleial (2015) “com a crise de 2008, o Brasil foi exitoso no manejo de políticas

anticíclicas implementadas pelos bancos públicos e o país passou quase incólume pelo auge

da crise (os bancos públicos possuem hoje 55% do mercado contra 35%, em 2009). Tal como

nos países desenvolvidos, as medidas contracíclicas implementadas estiveram centradas em

desonerações fiscais, manutenção/ampliação dos gastos do governo, ampliação dos recursos

voltados para o seguro- -desemprego, medidas especiais para setores estratégicos em

dificuldades, como é o caso da automotiva”. “Quanto à formalização, 2010 contou com a maior

representatividade de empregos com carteira assinada sobre o total de empregados desde

2002, alcançando 51%”. (RODRIGUES,2016, p.72).

3. EVOLUÇÃO RECENTE DAS DESONERAÇÕES FISCAIS

“A Constituição Federal, no artigo 165, § 6º, estabelece que o “projeto de lei

orçamentária será acompanhado de demonstrativo regionalizado do efeito, sobre receitas e

despesas, decorrente de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza

financeira, tributária e creditícia”, expressando a aplicação do princípio da transparência das

contas governamentais””. (DE LIMA, 2017, p.05)

3 Estimulado pelo crédito imobiliário crescente, o desemprego da construção civil foi de 2,9% em 2010,

ante o pico de 8,9% de 2003. A indústria alcançou um nível de desocupação de 3,2% e o comércio, 3,6%, ambos com mínimas históricas. (RODRIGUES, 2016, p.72).

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Consoante à Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF, Lei Complementar nº 101/2000,

em seu art. 14, § 1º, a renúncia de receitas4 “compreende anistia, remissão, subsídio, crédito

presumido, concessão de isenção em caráter geral, alteração de alíquota ou modificação de

base de cálculo que implique redução discriminada de tributos ou contribuições, e outros

benefícios que correspondem a tratamento diferenciado” (DE LIMA, 2017, p.05)

A política de isenções fiscais tem tido espaço cativo nos governos brasileiros, desde

o alvorecer dos anos 90, entretanto nos dois governos Dilma Rousseff, esta política tem sido

usada com vigor, a fim de estimular a indústria nacional e propiciar o crescimento econômico

do país. Segundo De Oliveira (2016) “é através do ativismo do Estado que podemos extrair

dos mercados o maior nível de emprego possível, resultando em maximização no nível de

bem-estar da sociedade. Nesse sentido, caberia ao Estado, por meio de sua capacidade de

centralizar informações, fomentar recursos e influenciar a demanda, contribuindo para a

composição de um cenário macroeconômico de maior segurança, propício aos investimentos

do setor privado, minimizando incertezas, gerando aumento da renda esperada desses

investimentos”.

O principal fator de perda de competitividade nacional, segundo o governo, são os altos custos de produção contraídos pelas empresas, não só derivados do fator trabalho, como também do capital. Tais custos são atribuídos, majoritariamente, à alta carga tributária e, por isso, o governo priorizará a redução destes custos na produção com o objetivo de estimular a competitividade industrial interna, além da geração de emprego e renda. (CORDILHA apud DE OLIVEIRA, 2016, p.28)

Figura 1-Quadro demonstrativo da evolução das renúncias fiscais da união nos

últimos cinco anos (2012 a 2016) e projeção para o ano de 2017- (Valores em bilhões)

PERÍODO 2012 2013 2014 2015 2016 2017

IRPJ 32,17 35,83 38,90 41,65 43,36 46,25

COFINS 43,49 54,77 59,52 64,42 63,17 64,02

IRPF 27,08 31,30 35,07 36,04 37,11 41,87

IRRF 4,70 5,53 7,25 8,96 8,80 9,59

PIS-PASEP 8,53 10,87 11,82 12,94 12,62 12,72

IPI INTERNO 17,95 20,90 22,43 20,94 21,90 25,06

IPI VINCULADO 2,68 3,17 3,26 3,68 3,97 3,40

IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO

2,90 3,48 3,62 4,07 4,36 3,51

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA

28,16 33,74 53,86 64,18 56,39 62,49

IOF 2,06 2,12 2,63 2,89 3,14 2,87

ITR 0,03 0,03 0,03 0,04 0,04 0,04

4 “Os benefícios tributários se referem aos gastos governamentais indiretos decorrentes do sistema tributário, que visem atender objetivos econômicos e sociais, constituindo-se exceção ao sistema tributário de referência e que alcancem, exclusivamente, determinado grupo de contribuintes, produzindo a redução da arrecadação potencial e aumentando a disponibilidade econômica do contribuinte” (§ 2º, art. 89, Lei nº 12.465/2011).

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CSLL 8,18 9,05 9,70 10,43 11,00 11,79

CIDE 0 0 0 0 0 0

AFRMM 0,99 1,15 1,48 1,59 1,15 1,22

CONDECINE 0 0 0 0 0 0

TOTAL DOS GASTOS TRIBUTÁRIOS (GT) E PREVIDENCIÁRIOS

182,41 223,31 235,71 271,85 266,99 284,84

Fonte: Receita Federal do Brasil-RFB

Elaboração: Consultoria do Legislativo

Figura 2-Quadro demonstrativo da evolução da inflação e dos gastos tributários em

relação ao crescimento do PIB no período de 2012 a 2016 e uma projeção para o ano de 2017

PERÍODO 2012 2013 2014 2015 2016 2017

IPCA 5,84% 5,94% 6,01% 10,67% 6,28% *4,71%

GT/PIB 3,49% 3,80% 4,20% 4,60% 4,27% 4,19%

Fonte: RFB e IBGE * Projeção Focus

No tocante ao exposto nas figuras acima, é patente a elevação dos gastos tributários

e previdenciários, quando comparado com a inflação medida pelo índice de preços ao

consumidor amplo (IPCA5), dos últimos anos. E, simultaneamente este aumento também se

deu acima do crescimento do PIB6, e isto representa um aumento da ordem de 56,15%,

quando considerado o intervalo entre os dois últimos anos do primeiro governo Dilma até a

sua interrupção através do processo de impeachment.

Conforme De Oliveira (2016) “instituiu-se a redução do IPI sobre bens de

investimento, redução de prazo para devolução de créditos do PIS-PASEP/COFINS sobre

bens de capital e desoneração da folha de pagamento para setores de confecções, calçados,

móveis e software”. “Na trajetória recente de tributação do IPI, tem se destacado a indução

por meio de estímulos ou incentivos fiscais, utilizando a menor incidência de carga tributária

como mecanismo redutor de custos e estimulador de atividades econômicas para o alcance

de objetivos macroeconômicos e de desenvolvimento produtivo”. (GERACY, 2018, p.23). No

caso do IPI-interno, as isenções tiveram forte utilização durante o governo Lula e perpassaram

para o governo Dilma. Os valores percentuais de 17,95% em 2012, aumentaram para 21,90%

em 2016, perfazendo um aumento de 22% no decurso de 5 anos. No tocante ao IPI-vinculado,

este por sua vez, teve durante o período estudado um aumento nas isenções da ordem de

26,86%, cujo fim era estimular o mercado e, dessa forma aumentar o número de postos de

trabalho.

5 O IPCA é composto por: 30% do IPC (Índice de Preços ao Consumidor);60% do IPA (Índice de Preços

no Atacado);10% do INCC (Índice Nacional de Construção Civil); 6 Produto Interno Bruto.

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“Sabe-se, por exemplo, que a desoneração do ICMS é bastante utilizada como

instrumento de política pública na órbita dos Estados, mas não há informações no âmbito

subnacional tais quais as produzidas pela RFB, deficiência essa que deve ser suprida em

atendimento ao disposto no já citado § 6º do art. 165 da Constituição Federal”. (BARROS,

2017, p.13)

Fonte e elaboração: Instituto Fiscal Independente.

O avanço acelerado do volume de renúncias fiscais (gráfico 1) produziu alguma

alteração na sua composição, ainda que modalidades como simples nacional, zona franca de

Manaus e entidades sem fins lucrativos tenham sistematicamente ocupado posição de

destaque. “De maneira consolidada, quer seja em termos nominais ou em porcentagem do

produto, o elevado volume das renúncias fiscais ou gastos indiretos realizados através do

sistema tributário é evidente, não obstante, pouco avaliado”. (BARROS, 2017, p.02).

4. OS EFEITOS DAS DESONERAÇÕES FISCAIS SOBRE O MERCADO DE TRABALHO

BRASILEIRO AO LONGO DO PERÍODO DE 2012 A 2016

No que se observa das reduções fiscais para o mercado, destaca-se a intensidade

das isenções durante o período analisado, em contraste com a expansão do mercado interno

de forma que preservasse e ampliasse o nível de ocupação aos padrões de uma economia

em desenvolvimento sustentável, produzindo uma melhora do mercado de trabalho em termos

do número de ocupados e também da qualidade desses postos, no que diz respeito aos níveis

Gráfico 1- Evolução das renúncias fiscais em percentual do PIB e R$

Bilhões.

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salariais, pois à medida que os custos são reduzidos através do efeito das desonerações, os

salários deveriam de certa forma aumentar, dado que a demanda por trabalhadores se

elevaria, em busca de um novo patamar de equilíbrio entre oferta e demanda. Isto é, levando

em consideração a lei de Say, esta seria a lógica, entretanto isso se não demonstrou na

prática. Uma outra vertente de explicação para tais efeitos é que o mercado fora aquecido e

essa tendência de desonerações produziu por parte do mercado de trabalho uma oferta maior

de mão-de-obra, por exemplo: trabalhadores que estavam à procura de emprego ou que

estavam em postos menos produtivos, empregaram-se ou mudaram de emprego; o segundo

caso explicado, revela o tipo de desemprego batizado de friccional pelos economistas

neoclássicos. A oferta de trabalho estando mais alta que a demanda do mercado, produzirá

uma redução dos salários. É importante, então fomentar a discussão de que as isenções

produziram efeitos sobre o mercado de trabalho, todavia estes impactos produzidos pelas

isenções foram canalizados para os postos de trabalho de menor produtividade, vinculado a

menores salários, rebaixando a média agregada dos salários. “É possível a utilização do

mecanismo de isenções de impostos sobre bens e serviços, como estímulos fiscais, contudo,

é importante observar que talvez o próprio Estado não seja competente o suficiente para

gerenciar tal mecanismo. Essa estratégia, além da difícil execução, seria muito complicada

de se reverter quando se alcançasse o pleno emprego. Keynes acreditava muito mais na

capacidade do investimento em atuar na diminuição das flutuações de demanda, visando o

pleno emprego”. (OLIVEIRA, 2016, p.10).

O homem sempre precisa viver de seu trabalho, e seu salário deve ser suficiente, no mínimo, para a sua manutenção. Esses salários devem até constituir-se em algo mais, na maioria das vezes; de outra forma seria impossível para ele sustentar uma família e os trabalhadores não poderiam ir além da primeira geração (SMITH apud CAMPOS, 1991, p.133).

Mas o subdesenvolvimento impõe a sua marca no mercado de trabalho,

desmistificando um pouco a natureza da revolução vivida. O setor de atividade que mais

emprega é a construção civil, seguida pelo comércio e extrativa mineral; a indústria de

transformação tem uma participação bem menor. Do mesmo modo, as ocupações criadas são

de baixo salário, reforçando o “mantra” de que a estrutura salarial é dominada por

trabalhadores que ganham até dois salários mínimos, o que é compatível com o crescimento

do salário médio no período. (SABOIA apud CARLEIAL, 2015, p.208). “No governo Dilma,

entretanto, a política de redução do desemprego foi reforçada, do ponto de vista de atuação

no conflito distributivo, por um dos mais decisivos atos no enfrentamento da fração bancário-

financeira do capital”. (DWECK e TEIXEIRA, 2017, p.38). Portanto, mesmo a economia

desacelerando o governo manteve uma de suas principais políticas em curso: a manutenção

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do emprego formal. Nesse aspecto as taxas se mantiveram baixas, entretanto a geração de

emprego já não possui a mesma intensidade de anos anteriores, todavia o nível de

desemprego continua baixo, pois menos pessoas estão procurando emprego. Contudo, com

o passar dos meses e o cenário econômico interno se agravando rumo à recessão, as

condições políticas e econômicas do governo já não possuem o mesmo cacife para manter o

custo desses estímulos a fim de garantir o pleno emprego.

A última divulgação do IBGE, em setembro de 2015, revela que entre agosto de 2014 e agosto de 2015 a taxa de desemprego passa de 5,0% para 7,6%. A ampliação do desemprego vai gerar importantes alterações nas formas de inserção dos desempregados na busca pela sobrevivência: aumentará a busca pela condição de trabalhador autônomo e aumentará a informalidade. Desemprego, informalidade e desproteção social estão de volta ao cenário brasileiro. Os efeitos sobre os rendimentos também já são visíveis. O rendimento real de agosto foi 0,5% maior do que o de julho, e 3,5% menor do que o de agosto de 2014, segundo o IBGE. (CARLEIAL, 2015, p.208-209)

Explica Manni et al (2017) “que em relação ao período entre 2012 e 2016 temos um

rápido aumento do desemprego a partir da recessão de 2014. Vale notar que os momentos

de crises afetam diretamente o desemprego. Isso pode ser causado por um baixo nível de

investimento nesses períodos, diminuindo a geração de empregos

Fonte: IBGE, Diretoria de pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional

por Amostra de Domicílios Contínua 2012-2016.

Consoante PNAD7 (2012-2016) em 2012, havia 72,4 milhões de pessoas ocupadas

no setor privado no trabalho principal, exclusive nos serviços domésticos. Em 2015, esse

número chegou a 75,0 milhões, caindo para 73,7 milhões em 2016. Em todos os anos da

7 Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios Contínua; IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Figura 3-Pessoas ocupadas no setor privado no trabalho principal, exclusive nos

serviços domésticos, segundo o tamanho do empreendimento (%)

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série histórica, grande parte dessa população estava em empreendimentos de pequeno porte

(1 a 5 pessoas), com esse percentual ultrapassando a metade em 2016 (50,1%). Outro grupo

importante estava em empreendimentos com 51 ou mais pessoas, proporção que variou de

26,0% em 2016 a 30,5% em 2013 e 2014. Para Pochmann (2015) “a discrepância entre a

evolução da demanda e oferta de trabalhadores disponíveis no interior do mercado de

trabalho expressa o crescimento recente do desemprego no Brasil metropolitano, cuja

determinação encontra-se associada à recessão na economia nacional. A queda no nível de

atividade no ano 2015 vem acompanhada da redução da quantidade de ocupados e do

rendimento médio real recebido pelos trabalhadores”.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A primeira constatação sobre o período analisado é que houve uma reorientação da

política macroeconômica no sentido de garantir estímulos à economia, cujo fim específico

seria a mitigação das desigualdades sociais. Para tanto, algumas medidas foram adotadas e,

uma destas foi através da política fiscal, com as isenções de impostos sobre alguns setores

produtivos, que o governo julgava estratégicos para o desenvolvimento econômico do país.

Estas mudanças, por sua vez aqueceram o mercado brasileiro, ainda que no médio prazo e,

fez com que o número de ocupados aumentassem, assim reduzindo a taxa de desemprego.

“É importante observar também que o alto grau de desonerações aplicadas afeta diretamente

o financiamento futuro das políticas sociais, uma vez que o governo não exigiu nenhum tipo

de contrapartida do setor privado, que se beneficiou por um longo período dessas

desonerações, nem na forma de aumento do nível de investimento, ou no aumento na oferta

de postos de trabalho, ou mesmo com garantias de cumprimento de direitos trabalhistas”. (DE

OLIVEIRA, 2016, p.48)

Nesse prisma a política de isenções fiscais sem as devidas contrapartidas, ou

fiscalização por parte do Estado, daqueles que estão sendo beneficiados, produz um

ambiente de resultados isolados, com baixo efeito multiplicador na economia e, por

consequência este efeito é minorado sobre o mercado de trabalho, que gera espasmos de

empregos de baixa remuneração e precarizados na sua totalidade. Esta aplicação de medidas

fiscais para incentivo da economia deve está amparada por um conjunto de elementos que

apontem o rumo a ser seguido, a fim de gerar a coadunação destas em torno do mesmo

propósito para o qual estas foram elaboradas e aplicadas, que é o crescimento econômico e

a criação de postos de trabalho de melhor qualificação, para que estes elevem o nível da

renda agregada nacional.

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Todavia as políticas de desonerações fiscais não podem ser levadas ao cabo de

constituírem-se como “panaceia ”, ou seja, o caminho para o desenvolvimento econômico do

Brasil, pois estes mecanismos de política fiscal devem ser vistos como elementos utilizados

no curto prazo, para encorajamento da economia e, também para que o produto efetivo

retorne ao seu nível natural, gerando assim empregos permanentes com remuneração

adequada para as características de um país em desenvolvimento.

Os resultados também reforçam as críticas às políticas industriais recentes, indicando a manutenção de uma estratégia de financiamento público de estruturas produtivas que não elevam os níveis de emprego, nem tampouco avançam nas dimensões de inovação, produtividade e competitividade, requeridas no paradigma de desenvolvimento contemporâneo. Pelo contrário, as evidências de efeitos dinamizadores das desonerações, quando observadas, voltaram-se à geração de postos de trabalho de menor produtividade, reforçando os apontamentos da literatura sobre fragilidades dos modelos de governança e monitoramento dos resultados dessas políticas. (GERACY, 2018, p.98)

Por fim, cabe ponderar que a combinação entre crescimento econômico, redução das

desigualdades e da taxa de desemprego, foram contraproducentes quando observada a

estratégia utilizada pelo governo e, as fissuras acentuaram-se ao longo do período, tanto no

campo econômico quanto no político e, a ruptura ocorre com a recessão da economia.

REFERÊNCIAS

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