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As cidades mais inovadoras do Brasil
Em 45 municípios, surgem empreendedores de negócios incomuns, que vêm atraindo cada vez mais recursos
Por Katia Simões
Em locais tão distantes um do outro, como Belém do Pará e São Leopoldo, no
Rio Grande do Sul, nasce - e cresce - um tipo raro de empreendedor. Nesses
centros de geração de conhecimento e de mão de obra de qualidade, quem
abre uma empresa não sonha com negócios comuns, mas sim com ideias que
irão transformar a ciência, o campo e a tecnologia. Com a ajuda do Instituto
Inovação, do Sebrae, do IBGE e de consultores, Pequenas Empresas &
Grandes Negócios fez um levantamento de 45 bolsões brasileiros da
inovação. São cidades nas cinco regiões do Brasil, em que empresários têm
melhores condições para criar e atrair recursos. Sim, porque vem crescendo o
capital, público e privado, destinado a negócios de fronteira.
AS CIDADES MAIS INOVADORAS DO PAÍS | Confira os
45 bolsões de inovação nas cinco regiões brasileiras
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Se no passado a falta de recursos era um dos principais impeditivos para o
Brasil entrar no mapa da inovação mundial, hoje o cenário é outro. "Estamos
longe do mundo ideal e bem melhor do que nas décadas passadas", afirma
Eduardo Costa, diretor de inovação da Finep, agência de inovação do
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). "Calculamos que 2% dos 5 milhões
de empresas formais do país precisam inovar. Atendemos no máximo 3 mil de
um universo de 100 mil", afirma.
Por ano, a Finep disponibiliza uma verba de R$ 4 bilhões para inovação -
desses, R$ 2 bilhões para pesquisas em universidades, R$ 1,2 bilhão para
crédito subsidiado, R$ 700 milhões para subvenção e R$ 100 milhões para
capital de risco. A verba é multiplicada em parcerias firmadas com fundos de
investimento e governos estaduais. "A demanda é grande, daria para operar
com pelo menos três vezes esse valor."
AS FONTES DE RECURSOS PARA INOVAÇÃO, POR ESTADO | Saiba qual a verba disponível
para investimentos em 2010
SAIBA MAIS
O MCT não é o único órgão que investe em inovação do país. As empresas
brasileiras também podem recorrer aos programas do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), dos Bancos da Amazônia e do
Nordeste, do Sebrae e de fundos de investimentos públicos e privados. De
acordo com o Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital da FGV-
Eaesp, os recursos só em venture capital somam no Brasil US$ 1,5 bilhão, o
equivalente a R$ 2,7 bilhões. Com base em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e
Santa Catarina, os fundos garimpam empreendimentos inovadores em todo o
país, com aportes entre R$ 50 mil e R$ 500 mil por empresa.
Um dos poucos programas voltados especificamente para a micro e pequena
empresa, o SebraeTec de Inovação Tecnológica, por exemplo, disponibilizou
R$ 32 milhões para cerca de 20 mil micro e pequenos empreendedores
investirem em inovação em 2010. "A subvenção é de até 50% do projeto, em
um teto de R$ 45 mil, porque nem toda inovação precisa de fortunas para ser
implementada. Boa parte das empresas carece apenas de boa gestão", diz
Edson Fermann, diretor de inovação do Sebrae. Pesquisa feita pelo Sebrae-SP
sinaliza que 39% dos empreendedores precisariam de impostos menores para
realizar inovações em seus produtos, enquanto 22% necessitariam de
empréstimos bancários para desengavetar seus projetos. Todavia, apenas 20%
das empresas ouvidas vão atrás de cursos e consultorias para se diferenciar.
AS CIDADES QUE MAIS GERAM PATENTES
REGIÃO CENTRO-OESTE
Brasília (DF)
REGIÃO SUDESTE
São Paulo (SP)
Rio de Janeiro (RJ)
Belo Horizonte (MG)
Campinas (SP)
Guarulhos (SP)
São Bernardo do Campo (SP)
Franca (SP)
Bauru (SP)
São Carlos (SP)
Jundiaí (SP)
Osasco (SP)
Sorocaba (SP)
Marília (SP)
São Caetano
do Sul (SP)
Santo André (SP)
Contagem (MG)
REGIÃO SUL
Curitiba (PR)
Porto Alegre (RS)
Londrina (PR)
Joinville (SC)
Caxias do Sul (RS)
Blumenau (SC)
Novo Hamburgo (RS)
Passo Fundo (RS)
São Leopoldo (RS)
Criciúma (SC)
Canoas (RS)
FONTES: INPI, IBGE; ANÁLISE: INSTITUTO DE INOVAÇÃO
"Chega a sobrar dinheiro para investir em inovação em determinadas regiões
do país, por falta de bons projetos", afirma Carlos Henrique de Brito Cruz,
diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp). A questão é que grande parte das empresas não está preparada
para inovar. Nem sequer sabe fazer um plano de negócios. Segundo Cruz, o
que a maioria dos candidatos a investimentos encaminha aos órgãos de
fomento é a especificação do produto e não o projeto de pesquisa que gerará
algo inovador. "Falta orientação para os empresários calcularem os riscos e
mostrarem onde está a inovação. Só assim conseguirão ter acesso às verbas",
afirma.
A análise é parecida fora dos centros públicos de pesquisa. "Tem muita ideia
boa que se perde em todo o país por falta de preparo empresarial", diz
Frederico Greve, sócio da DGF Investimentos, responsável pelos fundos Fipac
e Terra Viva, ambos voltados à inovação e com dinheiro em caixa para investir.
Segundo Greve, mais da metade dos projetos analisados pelo fundo são
encaminhados pelos próprios empreendedores. Mas a maioria dos aprovados é
prospectada pela equipe da casa. Dos R$ 100 milhões disponíveis para o
Fipac, foram investidos R$ 70 milhões em 14 empresas, todas do Sul e do
Sudeste. "Não investimos mais porque os projetos submetidos à seleção até
agora não preencheram os pré-requisitos exigidos pelo fundo", afirma.
EMPRESAS COM POTENCIAL INOVADOR, POR REGIÃO | São 42.623 no Sudeste, 23.037 no
Sul, 5.727 no Nordeste, 3.115 no Centro-oeste e 2.087 no Norte do Brasil (pequenas e médias)
Especialistas são unânimes: o caminho para melhorar a distribuição da
inovação no país está no preparo das empresas. "É essencial investir em
inovação. Mas ninguém coloca dinheiro em um negócio que não seja rentável,
por mais revolucionário que seja", diz Greve, da DGF Investimentos.
Netshoes: e pensar que tudo começou num puxadinho...
Ninguém cresceu como a Netshoes no comércio eletrônico. A empresa vem dobrando de tamanho a cada ano desde 2009 – e deve romper a barreira de R$ 1 bilhão em vendas
André Vieira e Guilherme Felitti
Em 12 anos, Márcio Kumruian transformou uma loja apertada no maior e-
commerce de esportes da América Latina
A turma de 2000 do Mackenzie ainda
deve se lembrar daquela loja
improvisada dentro de um
estacionamento vizinho à faculdade,
que vendia sapatos femininos e tênis a
preços bem convidativos. Tinha um
nome invocado, Netshoes, apenas dois
vendedores, armênios, e dois sócios,
também descendentes de armênios.
Pois “o lojinha” cresceu, abriu filiais em
academias, ganhou os shopping
centers, e quando ameaçava decolar
no varejo tradicional, os donos
decidiram mudar tudo. Venderam os pontos, invadiram o comércio eletrônico e
transformaram a Netshoes em um caso único da internet brasileira. A empresa
vem dobrando de tamanho nos últimos anos. Em 2009 faturava R$ 155
milhões. Até dezembro, as vendas devem bater em R$ 1 bilhão, resultado de
fortes investimentos em marketing e diversificação – incluindo a estreia no
mercado internacional e o aumento do número de itens em sua prateleira
eletrônica, até aqui restrita a tênis, jaquetas e maiôs. Se chegar ao R$ 1 bilhão,
a empresa se junta a B2W (dona do Submarino e da Americanas.com) e a Nova
Pontocom (responsável pelos sites do Pão de Açúcar e Casas Bahia) no seleto
grupo das pontocom brasileiras com receitas de sete dígitos. Mais
surpreendente, porém, é que as rivais são generalistas (vendem de protetor
solar a fogões) e estão apoiadas pelas maiores empresas do varejo brasileiro. A
Netshoes é independente e especialista em artigos esportivos.
O dono do negócio é Márcio Kumruian, um paulistano de 38 anos, que resolveu
empreender quando trabalhava como gerente de uma loja de calçados em São
Paulo. Em 2000, ele juntou as economias, convenceu um primo a apostar em
seu projeto (esquivos, ambos se recusam a dar entrevista) e partiu para a loja
própria. O espaço no estacionamento, no centro de São Paulo, foi arrendado
por um tio – o mesmo que lhe deu a dica sobre a clientela do Mackenzie. E o
nome surgiu num almoço de família, sugestão de uma tia antenada com as
coisas da internet. Márcio adotou o prefixo Net, mesmo operando uma loja de
rua e sem ter nenhum plano de vender sapato pela web. Mas vai que um dia...
A primeira versão do site Netshoes apareceu em 2002. Cinco anos depois, veio
a decisão que mudaria a trajetória da marca: a web dava resultados tão
expressivos (70% das vendas na ocasião) que não valia a pena manter abertas
as oito lojas físicas. Se insistisse no varejo de cimento e tijolo, dificilmente a
empresa teria escala para elevar seu faturamento em tão pouco tempo.
Visionária, a tia do Márcio.
A Netshoes é, hoje, o maior símbolo do crescimento das empresas de nicho no
comércio eletrônico brasileiro. Enquanto B2W e Nova Pontocom brigam pelo
topo do varejo online (leia a próxima reportagem), dezenas de categorias antes
inexpressivas passaram a contar com duas ou três lojas nos últimos três anos.
Se até bem pouco atrás era impossível comprar itens para bebês, hoje você
consegue encomendar fraldas na Baby.com.br ou na Bebê Store. O mesmo
fenômeno se observa com sapatos (Dafiti, Shoes4You e Calçados.com.br) e
roupas femininas (Roupas.com, OQVestir e GlossyBox), móveis (Mobly e Oppa)
e moda unissex (Divamos e TheLuxnet). Todos os sites fundados para
aproveitar esta “verticalização” têm como referência pontocons com mais de
uma década que dominaram seus nichos: notoriamente a Sack’s, loja de
cosméticos comprada pelo conglomerado de luxo LVMH em 2010, e a Netshoes.
Do clique à sua
Campainha
No início do e-
commerce no
Brasil, o tempo
que um produto
levava para
percorrer o
caminho entre a
prateleira do
centro de
distribuição e o
armário do
cliente poderia chegar a semanas. Hoje, dura dois dias – ou até algumas horas.
O cliente entra no site, escolhe o produto (uma jaqueta do Brasil) e fecha o
pedido (1). Em segundos, ele chega ao centro de distribuição (2). Um
funcionário retira manualmente a encomenda da gôndola (3). Por esteiras, o
produto chega ao caixa, para que não conste mais no estoque. As mesmas
esteiras levam o produto à área do empacotamento (4). Ali, ele é manualmente
colocado em caixa (5) e embalado (6). Dali, as esteiras levam o pacote à
agência dos Correios ou aos caminhões dos parceiros de logística. No dia
seguinte, o cliente recebe o produto em casa.
Além do futebol, a Netshoes vem se aproximando de outros
esportes: a loja passou a estampar anúncios em jogos do Novo
Basquete Brasil e patrocinou a Academia de MMA do Corinthians
Graciela Kumruian, diretora de operações e irmã do fundador. Após ajeitar a TI,
ela organizou a estrutura interna da Netshoes
O Brasil parece estar repetindo um cenário de maior fragmentação que os
Estados Unidos já experimentaram na última década, com o sucesso de sites
como o Diapers, especializado em artigos para bebês, e a Zappos, focada em
tênis. Lá, as 25 maiores lojas online são responsáveis por 66% da receita do
setor, número que vem caindo nos últimos meses, segundo a consultoria
comScore. Para chegar a um patamar parecido, o Brasil ainda tem chão.
Juntas, B2W e Nova Pontocom têm praticamente metade das vendas online.
Mas convém não duvidar do poder das rivais de nicho e nem de sua capacidade
de atrair investimentos.
Em dezembro de 2009, o fundo americano Tiger Global Management, um voraz
investidor no e-commerce brasileiro (já fez 17 aportes) abocanhou 30% da
Netshoes. O valor da transação não foi revelado, mas analistas especulam que
a empresa valia cerca de R$ 300 milhões na ocasião. Numa segunda operação,
em janeiro de 2011, o Tiger comprou outros 17%, alcançando 47% do capital
da empresa. “Percebemos que o nicho esportivo estava dando resultado e que
havia um grande potencial a explorar”, afirma Graciela Kumruian, irmã de
Márcio, ex-acionista da Netshoes e atual diretora de operações da companhia.
Com o caixa forrado e altas perspectivas de crescimento, a Netshoes iniciou um
processo de revisão de toda a sua operação. Graciela se debruçou, primeiro,
sobre os problemas da área de TI, investindo em infraestrutura própria. Até
então, os serviços de tecnologia estavam nas mãos de terceiros – o que
representava, na visão da diretora, um risco para a operação. Sua segunda
providência foi criar uma diretoria dedicada apenas a afinar a organização
interna da Netshoes durante seu crescimento. Dali veio a ideia de desmembrar
a diretoria de tecnologia em duas – uma para hardware, outra para software. O
objetivo, segundo ela, era dar maior vazão à crescente lista de melhorias
exigidas pelos acionistas. Com uma divisão inteira dedicada aos softwares ficou
mais fácil implementar serviços como o sistema 3D, que indica ao cliente o
modelo mais adequado, de acordo com as características de seu pé. É uma
tecnologia que os concorrentes ainda não têm.
O terceiro movimento tinha a ver com a visibilidade da marca. Para isso,
apostou na TV. “Ela nos trouxe um público novo”, diz Roni Cunha Bueno, outro
ex-sócio transformado em diretor de marketing. Em 2009, a Netshoes já havia
experimentado o gostinho da mídia eletrônica. Patrocinou o time do Santo
André no Campeonato Paulista. Nada se compararia, porém, à estratégia de
colocar placas publicitárias na lateral do campo durante o amistoso entre Brasil
e Estados Unidos, na estreia de Mano Menezes no comando da seleção
brasileira. A turma do marketing se animou. No ano passado, a marca passou a
estampar as camisas de Santos, Cruzeiro e Atlético-PR e a aparecer cada vez
mais em placas de publicidade nos estádios. Também foi encomendada a
primeira campanha de TV, assinada pela agência F.Biz. A poderosa triangulação
lhe rendeu grande exposição não apenas durante os jogos, mas também nos
intervalos – quando a propaganda era transmitida. Em agosto de 2011, de
acordo com a comScore, a Netshoes já era a loja online mais acessada do
Brasil, ultrapassando a Americanas.com. A TV atraiu consumidores novatos e
torcedores apaixonados para a página da empresa.
Pioneira em vender tênis pela web,
a Zappos passou por um período semelhante
à Netshoes: de 2005 a 2007, sua receita
dobrou todo ano. Em 2009, foi vendida à
Amazon por US$ 1,2 bilhão
Mais usuários e mais acessos multiplicaram rapidamente a receita. E os gastos
– ou investimentos, como diz Graciela – acompanharam o ritmo. Em dois anos,
o número de funcionários da Netshoes foi multiplicado por seis, para 1,5 mil.
Até o final do ano, serão 2,1 mil. Para comportá-los, a empresa inaugurará, até
março, uma segunda sede na região do Paraíso, Zona Sul de São Paulo. E abriu
um novo centro de distribuição dedicado a grandes produtos, em Itapevi (SP).
O centro existente em Barueri passou por um processo de automatização de
esteiras e ganhou uma agência própria dos Correios para lidar apenas com o
alto volume de entregas. Parte dos investimentos para evitar as “dores do
crescimento” será dirigida para o que Graciela define como estrutura
hierárquica da empresa. “Como estamos em um mercado novo, é difícil achar
alguém pronto. Preferimos criar dentro de casa.” Isso se traduz em treinamento
para todos os níveis e alta mobilidade interna – em 2011, foram mais de 50 mil
horas de cursos e mais de 1,5 mil mudanças de cargos e funções, segundo a
gerente de recursos humanos Luciana Machado. O resultado deste modelo de
gestão fica claro quando se olha o perfil da cúpula: nenhum dos oito diretores
foi contratado de outra empresa de comércio eletrônico. Vieram dos mais
diversos setores e aprenderam o jeito Netshoes de operar. Para blindá-los, a
empresa aposta no dinheiro. “Pode-se dizer que estamos entre as companhias
de ponta em remuneração”, diz Luciana.
Mesmo com os altos gastos, a Netshoes opera no azul. Em 2010, a empresa
investiu quase R$ 30 milhões em algumas das operações descritas acima e
ainda assim fechou o ano com lucro – modesto, de R$ 2 milhões, mas um
lucro. Os dados estão no balanço publicado em julho no Diário Oficial. Sobre o
ano passado? Nenhuma palavra. (E nenhum número: o balanço ainda não foi
enviado ao Diário Oficial). O que se sabe é que com os investimentos mais
representativos fora do caminho (como a sede prevista para março e o novo
centro de distribuição) e a receita mantendo a tendência de dobrar todo ano, a
perspectiva da Netshoes para os próximos anos é otimista. Melhor ainda: a
injeção financeira do Tiger permitiu que a empresa ganhasse visibilidade e
porte para acessar o mercado financeiro. Em dezembro, duas operações
forraram o caixa da Netshoes: o conselho aprovou uma emissão de debêntures
para captar R$ 120 milhões e um contrato com o Itaú para “adiantar” receitas
futuras. Neste cenário de relativa facilidade de capitalização, uma oferta de
ações na bolsa (tamanho para tanto a companhia já tem) não parece
necessária. Ainda.
Tudo depende dos planos de internacionalização e do aumento do portfólio de
produtos. Para manter este ritmo, a Netshoes “teria de diversificar seu modelo
de negócios, investir em B2B e passar por uma rápida expansão internacional”,
diz Pedro Guasti, presidente do e-bit. É mais ou menos o que a empresa já vem
fazendo. No segundo semestre, a Netshoes deu os primeiros passos externos,
ao inaugurar operações na Argentina e no México. A estratégia, diz Graciela, é
replicar o modelo de sucesso no Brasil: site traduzido, centro de distribuição
próprio, controle próximo dos parceiros de logística e patrocínio a times de
futebol locais para ganhar projeção entre os consumidores. Há mais de um ano,
a Netshoes tem sua marca registrada e uma empresa aberta nos Estados
Unidos, além de um contrato com a NBA para vender no Brasil produtos oficiais
da liga americana de basquete.
A expansão dos domínios não é apenas geográfica. Um acordo divulgado em
janeiro com a Nike transformou a Netshoes em fornecedora exclusiva, para as
lojas, dos uniformes que os jogadores de Santos, Bahia e Coritiba usarão em
campo. A Nike dá as camisas em branco e o site fica responsável pela estampa
e distribuição, assumindo o papel de intermediário (se a rival Centauro, por
exemplo, quiser essas camisas, terá de negociar com a empresa dos
Kumruian). A Netshoes também avança silenciosamente em outros nichos.
Além das camisas de times, chuteiras e aparelhos de ginástica, já oferece iPods,
celulares, motos elétricas infantis e games (muitos sem nenhuma temática
esportiva). Em dezembro, o objeto social foi alterado para comportar
“cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal”. Clique lá e você
poderá comprar gel redutor. Graciela afirma que a empresa só vende itens
relacionados a esportes. E só. Certo, certo. Mas, pensando bem, esse
argumento pode justificar milhares de produtos – para assistir qualquer
competição esportiva você precisa de uma TV, não é? Tamanho para brigar
com os gigantes generalistas a Netshoes ainda não tem. Mas vai que o Tiger
(ou a abertura de ações na bolsa) resolva dar outro empurrãozinho...