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R icardo G iuffrida O ÏFLQD de v iolão FÁBIO CARRILHO ONLINE Artistas 40 AGOSTO 2012 GUITAR PLAYER.COM.BR GUITAR PLAYER.COM.BR AGOSTO 2012 41 BOA PARTE DO CONHECIMENTO sobre violão popular, independentemen- te do gênero musical, é transmitida na base da oralidade, de mestre para aluno, ou aprendida “de ouvido”, escutando gravações e tentando assimilar a música, o que por si só já é um ótimo exercício. Felizmente, métodos dedicados ao assunto têm sido organizados por instrumentistas gabaritados, com o objetivo de encurtar distâncias no aprendizado. O violonista e guitarrista Ricardo Giuffrida – colunista da Guitar Player Brasil – lançou recentemente o método Violão: Estilos e Técnicas (Me- lody Editora). O livro, com CD de áudio incluso, apresenta lições que abordam ritmos e técnicas variadas de violão po- pular. Em entrevista, Giuffrida comenta sobre a obra. Como surgiu a ideia de elaborar esse método? Quais critérios você seguiu para organizar o conteúdo do material? A ideia do livro veio de uma carên- cia no mercado brasileiro por métodos de violão popular. O conceito geral é proporcionar conhecimento nos diver- sos estilos da música popular de que o violão participa, desde o pop até o violão brasileiro, flamenco e jazz. O livro é um apanhado da minha expe- riência de vários anos como professor e músico de estúdio, quando observei que a versatilidade é uma arma impor- tante para todo professor e artista. O público-alvo é desde o aluno iniciante que já saiba tocar alguma coisa até o aluno intermediário e avançado, prin- cipalmente nos estilos de flamenco, jazz e música brasileira. Você deu atenção especial à parte rítmica. Considera esse um ponto crucial para o estudante que está iniciando? O violão rítmico é um aspecto es- sencial para todos os músicos, seja iniciante ou não. Conheço muitos ins- trumentistas que são excelentes solis- tas, mas possuem dificuldade imensa na parte rítmica, como na hora de seguir um pulso, estabelecer células rítmicas consistentes e tocar junto com um solista sem respeitar a dinâ- mica necessária. Uma experiência que acho muito importante para o aluno é gravar a si mesmo o máximo que puder. Isso amplia nossa consciência sobre o que estamos tocando, pois conseguimos separar a situação de executor e a de ouvinte. Você não se limitou apenas à linguagem brasileira, falando também de flamenco e jazz. Em que medida acha bacana o violo- nista ter pelo menos alguma experiência nesses dois estilos? Como eles podem con- tribuir para tocar coisas brasileiras? As linguagens do flamenco e do jazz são bastante específicas. O fla- menco possui um conjunto de técnicas que levam o violão a outro estágio, im- portantes não apenas para o aprimo- ramento mecânico do aluno, mas tam- bém para o desenvolvimento cultural e afetivo. O jazz, apesar de não ter uma escola específica para o violão, é uma música universal que permite a máxi- ma liberdade de expressão. No violão brasileiro, a influência do flamenco vem principalmente depois da gera- ção de Raphael Rabello, especialmen- te pela exuberância técnica, mas sem descaracterizar a alma do nosso violão. Quanto ao jazz, quem toca bossa nova sabe da influência desse estilo, princi- palmente na parte harmônica. Esses dois estilos são importantíssimos na música brasileira. Você também comentou sobre a ques- tão técnica, dos diferentes tipos de ataque. Nem todos os violonistas exploram a gran- de variedade de sonoridades e timbres que o instrumento proporciona, não acha? Os diferentes tipos de timbre são aplicáveis principalmente no violão erudito, no qual essas possibilidades são levadas ao máximo, pois a sono- ridade é muito importante. Todo es- tudante deve ouvir a tríade que con- sidero importante nessa categoria: Andrés Segovia, Juliam Bream e John Williams. A escola do flamenco tam- bém possui uma sonoridade peculiar e majestosa, porém, valoriza um som mais percussivo, com as técnicas de rasgueo, alzapúa, entre outras. Obri- gatórios para audição são Paco de Lu- cía, Tomatito, Vicente Amigo e Gerar- do Nuñez. O violão brasileiro, apesar de não ter uma escola técnica específi- ca, apropriou-se de elementos do vio- lão erudito e flamenco. Alguns ícones são Raphael Rabello, Baden Powell, Dilermando Reis, entre muitos outros. Na sua opinião, qual modelo de violão considera mais indicado para quem está começando? No que ele se sobressai aos demais no que diz respeito ao aprendizado? Creio que, para o iniciante, é im- portante um bom violão de cordas de náilon, para depois seguir um caminho mais específico. O violão de cordas de náilon é bastante versátil, podendo ser utilizado em diversos estilos, do pop até música brasileira e erudita. O violão de cordas de aço não serve para todos os gêneros – atua, basica- mente, em levadas pop e alguns estilos de jazz. Há no mercado uma infinidade de modelos básicos com preços aces- síveis. No decorrer do aprendizado, o aluno pode migrar para estilos especí- ficos, como o violão de cordas de aço e até mesmo a guitarra. Se optar por seguir o violão clássico, brasileiro ou flamenco, pode passar para um violão de luthier. Qual peso você atribui às suas experi- ências práticas com aulas para a elabora- ção de seu método? Atualmente, minha atividade como professor acontece apenas em workshops. Porém, tive experiência de cerca de dez anos como professor de guitarra e violão popular, flamen- co, brasileiro e erudito, inclusive com a elaboração de outros livros, apostilas e transcrições. A experiência com alu- nos sempre me estimulou a transmitir conhecimento e a produzir material. O livro é um apanhado desses anos todos como professor. Dar aulas é um constante aprendizado dos dois lados e acho que um dos pontos principais da relação entre o professor e o aluno é o estimulo ao conhecimento – às vezes, muito mais do que a transmissão do co- nhecimento em si. O professor sempre deve estar ligado às diferenças entre os alunos, percebendo o ritmo de apren- dizado, interesses e objetivos de cada um. O sonho de todos os professores é formar músicos profissionais, mas a grande maioria dos alunos tem objeti- vos diferentes em relação à música e o educador deve aprender isso.

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Page 1: Artistas O G Riuffrida -  · PDF filesobre violão popular, independentemen-te do gênero musical, é transmitida na base da oralidade, de mestre para aluno,

Ricardo

Giuffrida

O

de violão

FÁBIO CARRILHO

O N L I N E

Artistas

40 AGOSTO 2012 GUITAR PLAYER.COM.BR GUITAR PLAYER.COM.BR AGOSTO 2012 41

BOA PARTE DO CONHECIMENTO sobre violão popular, independentemen-te do gênero musical, é transmitida na base da oralidade, de mestre para aluno, ou aprendida “de ouvido”, escutando gravações e tentando assimilar a música, o que por si só já é um ótimo exercício. Felizmente, métodos dedicados ao assunto têm sido organizados por instrumentistas gabaritados, com o

objetivo de encurtar distâncias no aprendizado. O violonista e guitarrista Ricardo Giuffrida – colunista da Guitar

Player Brasil – lançou recentemente o método Violão: Estilos e Técnicas (Me-lody Editora). O livro, com CD de áudio incluso, apresenta lições que abordam ritmos e técnicas variadas de violão po-pular. Em entrevista, Giuffrida comenta sobre a obra.

Como surgiu a ideia de elaborar esse método? Quais critérios você seguiu para organizar o conteúdo do material?

A ideia do livro veio de uma carên-cia no mercado brasileiro por métodos de violão popular. O conceito geral é proporcionar conhecimento nos diver-sos estilos da música popular de que o violão participa, desde o pop até o violão brasileiro, flamenco e jazz. O

livro é um apanhado da minha expe-riência de vários anos como professor e músico de estúdio, quando observei que a versatilidade é uma arma impor-tante para todo professor e artista. O público-alvo é desde o aluno iniciante que já saiba tocar alguma coisa até o aluno intermediário e avançado, prin-cipalmente nos estilos de flamenco, jazz e música brasileira.

Você deu atenção especial à parte rítmica. Considera esse um ponto crucial para o estudante que está iniciando?

O violão rítmico é um aspecto es-sencial para todos os músicos, seja iniciante ou não. Conheço muitos ins-trumentistas que são excelentes solis-tas, mas possuem dificuldade imensa na parte rítmica, como na hora de seguir um pulso, estabelecer células rítmicas consistentes e tocar junto com um solista sem respeitar a dinâ-mica necessária. Uma experiência que acho muito importante para o aluno é gravar a si mesmo o máximo que puder. Isso amplia nossa consciência sobre o que estamos tocando, pois conseguimos separar a situação de executor e a de ouvinte.

Você não se limitou apenas à linguagem brasileira, falando também de fl amenco e jazz. Em que medida acha bacana o violo-nista ter pelo menos alguma experiência nesses dois estilos? Como eles podem con-tribuir para tocar coisas brasileiras?

As linguagens do flamenco e do jazz são bastante específicas. O fla-menco possui um conjunto de técnicas que levam o violão a outro estágio, im-portantes não apenas para o aprimo-ramento mecânico do aluno, mas tam-bém para o desenvolvimento cultural e

afetivo. O jazz, apesar de não ter uma escola específica para o violão, é uma música universal que permite a máxi-ma liberdade de expressão. No violão brasileiro, a influência do flamenco vem principalmente depois da gera-ção de Raphael Rabello, especialmen-te pela exuberância técnica, mas sem descaracterizar a alma do nosso violão. Quanto ao jazz, quem toca bossa nova sabe da influência desse estilo, princi-palmente na parte harmônica. Esses dois estilos são importantíssimos na música brasileira.

Você também comentou sobre a ques-tão técnica, dos diferentes tipos de ataque. Nem todos os violonistas exploram a gran-de variedade de sonoridades e timbres que o instrumento proporciona, não acha?

Os diferentes tipos de timbre são aplicáveis principalmente no violão erudito, no qual essas possibilidades são levadas ao máximo, pois a sono-ridade é muito importante. Todo es-tudante deve ouvir a tríade que con-sidero importante nessa categoria: Andrés Segovia, Juliam Bream e John Williams. A escola do flamenco tam-bém possui uma sonoridade peculiar e majestosa, porém, valoriza um som mais percussivo, com as técnicas de rasgueo, alzapúa, entre outras. Obri-gatórios para audição são Paco de Lu-cía, Tomatito, Vicente Amigo e Gerar-do Nuñez. O violão brasileiro, apesar de não ter uma escola técnica específi-ca, apropriou-se de elementos do vio-lão erudito e flamenco. Alguns ícones são Raphael Rabello, Baden Powell, Dilermando Reis, entre muitos outros.

Na sua opinião, qual modelo de violão considera mais indicado para quem está

começando? No que ele se sobressai aos demais no que diz respeito ao aprendizado?

Creio que, para o iniciante, é im-portante um bom violão de cordas de náilon, para depois seguir um caminho mais específico. O violão de cordas de náilon é bastante versátil, podendo ser utilizado em diversos estilos, do pop até música brasileira e erudita. O violão de cordas de aço não serve para todos os gêneros – atua, basica-mente, em levadas pop e alguns estilos de jazz. Há no mercado uma infinidade de modelos básicos com preços aces-síveis. No decorrer do aprendizado, o aluno pode migrar para estilos especí-ficos, como o violão de cordas de aço e até mesmo a guitarra. Se optar por seguir o violão clássico, brasileiro ou flamenco, pode passar para um violão de luthier.

Qual peso você atribui às suas experi-ências práticas com aulas para a elabora-ção de seu método?

Atualmente, minha atividade como professor acontece apenas em workshops. Porém, tive experiência de cerca de dez anos como professor de guitarra e violão popular, flamen-co, brasileiro e erudito, inclusive com a elaboração de outros livros, apostilas e transcrições. A experiência com alu-nos sempre me estimulou a transmitir conhecimento e a produzir material. O livro é um apanhado desses anos todos como professor. Dar aulas é um constante aprendizado dos dois lados e acho que um dos pontos principais da relação entre o professor e o aluno é o estimulo ao conhecimento – às vezes, muito mais do que a transmissão do co-nhecimento em si. O professor sempre deve estar ligado às diferenças entre os alunos, percebendo o ritmo de apren-dizado, interesses e objetivos de cada um. O sonho de todos os professores é formar músicos profissionais, mas a grande maioria dos alunos tem objeti-vos diferentes em relação à música e o educador deve aprender isso.

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LIÇÃO Os exemplos a seguir encontram-se no livro Violão: Estilos e Técnicas

e foram selecionados especialmente por Ricardo Giuffrida para esta matéria.

Você pode comprar o livro

Violão: Estilos e Técnicas,

de Ricardo Giuffrida, pelo site

guitarplayer.com.br ou pelo

telefone (11) 3044-1807.

Ex. ! Solo de bluegrass: desafio de palhetada para violão de cordas de aço

Violão: Estilos e Técnicas

de Ricardo Giuffrida, pelo site

Ex. " Levada de samba no estilo de João Bosco

Ex. # Levada de bossa nova no estilo de Tom Jobim

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Ex. $ Arpejos no estilo do violão flamenco

Ex. % Tremolo flamenco

Ex. & Levada de choro Ex. ' Bulería: palo flamenco

Ex. ( Palhetada alternada no jazz

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