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 Vitor Hugo Ribeiro Doutorando do Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Maringá e integrante do Núcleo de Estudos de Mobilidade e Mobilização- NEMO/UEM. E-mail: [email protected] Pedro Henrique Silveira Brum Graduado em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá DGE/UEM e integrante do Núcleo de Estudos de Mobilidade e Mobilização- NEMO. E-mail: [email protected] Henrique Manoel da Silva Docente do Programa de Pós Graduação em Geografia- PGE/ UEM e integrante do Núcleo de Estudos de Mobilidade e Mobilização.  E-mail: [email protected] A EXPANSÃO SUCROALCOOLEIRA NA MICRORREGIÃO DE CIANORTE - PR E SUAS IMPLICAÇÕES NO ÂMBITO DO TRABALHO INTRODUÇÃO A expansão da lavoura canavieira na Microrregião de Cianorte, assim como em outras localidades do Estado do Paraná, se deu principalmente em detrimento da policultura desenvolvida por agricultores familiares que, ao longo das últimas décadas foram perdendo espaços para as unidades produtivas vinculadas ao setor sucroalcooleiro. A expansão das unidades produtivas está articulada às questões que envolvem o agronegócio no Brasil, onde o Estado, através de suas agências de fomento como o BNDES, incentiva e subsidia a construção de usinas e destilarias bem como a fusão e compra de unidades por grupos hegemônicos do setor. A grande maioria das unidades produtivas da Microrregião de Cianorte são vinculadas ao grupo Santa Terezinha LTDA. Em meados dos anos 2000, o grupo comprou unidades dos Municípios de Cidade Gaúcha- Usaciga, Rondon- Cocarol, São Tomé-Coamto. A única unidade de produção da Microrregião de Cianorte que não pertence ao grupo Santa Terezinha LTDA é a Melhoramentos, localizada no Município de Jussara. No

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Vitor Hugo Ribeiro

Doutorando do Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade Estadual deMaringá e integrante do Núcleo de Estudos de Mobilidade e Mobilização-

NEMO/UEM. E-mail: [email protected]

Pedro Henrique Silveira BrumGraduado em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá DGE/UEM e integrante

do Núcleo de Estudos de Mobilidade e Mobilização- NEMO. E-mail:[email protected]

Henrique Manoel da SilvaDocente do Programa de Pós Graduação em Geografia- PGE/ UEM e integrante doNúcleo de Estudos de Mobilidade e Mobilização. E-mail: [email protected]

A EXPANSÃO SUCROALCOOLEIRA NA MICRORREGIÃO DE CIANORTE -PR E SUAS IMPLICAÇÕES NO ÂMBITO DO TRABALHO

INTRODUÇÃO

A expansão da lavoura canavieira na Microrregião de Cianorte, assim como emoutras localidades do Estado do Paraná, se deu principalmente em detrimento dapolicultura desenvolvida por agricultores familiares que, ao longo das últimas décadasforam perdendo espaços para as unidades produtivas vinculadas ao setor

sucroalcooleiro. A expansão das unidades produtivas está articulada às questões queenvolvem o agronegócio no Brasil, onde o Estado, através de suas agências de fomentocomo o BNDES, incentiva e subsidia a construção de usinas e destilarias bem como afusão e compra de unidades por grupos hegemônicos do setor. A grande maioria dasunidades produtivas da Microrregião de Cianorte são vinculadas ao grupo SantaTerezinha LTDA. Em meados dos anos 2000, o grupo comprou unidades dosMunicípios de Cidade Gaúcha- Usaciga, Rondon- Cocarol, São Tomé-Coamto. A única

unidade de produção da Microrregião de Cianorte que não pertence ao grupo SantaTerezinha LTDA é a Melhoramentos, localizada no Município de Jussara. No

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Município de Tapejara também existe uma unidade do grupo Santa Terezinha, sendoum dos maiores produtores de cana-de-açúcar da Microrregião em Questão.

Um dos reflexos desta concentração da lavoura canavieira na Microrregião, alémda territorialização das unidades pertencentes ao grupo Santa Terezinha LTDA, é aintensa mobilidade da força de trabalho no corte da gramínea (RIBEIRO, 2011). Obaixo custo que essa força de trabalho representa para os agentes do setor canavieiroacaba propiciando diretamente a expansão desta atividade na Microrregião em questão.

O setor mobiliza trabalhadores de diversas localidades do Estado do Paraná, e tambémde outros Estados brasileiros, principalmente nordestinos. Para se ter uma ideia, no anode 2013, o grupo Santa Terezinha mobilizou aproximadamente 1800 trabalhadoresoriundos de Estados nordestinos, e também de Minas Gerais. Estes trabalhadoresresidem em alojamentos, em Municípios onde existem unidades do grupo, como SãoTomé, Rondon, Cidade Gaúcha, Tapejara, dentre outros como Paranacity daMicrorregião de Paranavaí e Ivaté da Microrregião de Umuarama. A permanência

desses trabalhadores migrantes na região tem contribuído para o aumento populacionaldas áreas periféricas dos pequenos municípios, alterando suas espacialidades eprovocando acirramento dos conflitos socioeconômicos. Geralmente, estes municípiosnão estão preparados para receber essa força de trabalho, pois existe neles certaprecariedade no que diz respeito às infraestruturas básicas. O que desencadeou umprocesso de periferização urbana no entorno desses pequenos municípios, que do pontode vista políticos e econômico já são periféricos.

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA MICRORREGIÃO DE CIANORTE

A Microrregião Geográfica de Cianorte é formada por 11 Municípios, ecompreende uma área de 4.073,87 Km2. Sua população, de acordo com IBGE (2011) seaproximou de 201.267 habitantes. Com exceção de Cianorte, que possui 75.360habitantes, os demais municípios são demograficamente pequenos, com populaçãooscilando entre 2 mil a 15 mil habitantes (Tabela 1).

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Figura 1- Mesorregião Noroeste Paranaense e localização geográfica da Microrregião deCianorte.

Fonte: Ribeiro, 2011.

Tabela 1- Municípios da Microrregião Geográfica de Cianorte- População, IDHe PIB.

Cidades População.Hab. IDH.M PIB

Cianorte 75.360 0,818 1,163,048,00Tapejara 15.434 0,73 195,907,99Cidade Gaúcha 11.800 0,749 130,795,23

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Rondon 9.391 0,734 140,397,19Japurá 9.020 0,759 72,942,93Tuneiras do Oeste 8.887 0,707 76,777,53Jussara 6.897 0,768 102,590,74São Tomé 5.595 0,738 77,161,32Indianópolis 4.456 0,749 91,445,36Guaporema 2.289 0,725 24,156,21São Manoel doParaná 2.170 0,75 19,867,38

Fonte: IBGE, 2012.

A principal atividade econômica que movimenta o PIB dos municípios daMicrorregião em questão está vinculada ao setor agrícola, sendo o sucroalcooleiro omais dinâmico, que mobiliza a população local para os serviços dentro das unidades deprodução e para o corte da cana-de-açúcar. Apenas Cianorte apresenta um perfileconômico diversificado, com setor têxtil sendo o mais dinâmico do município.

A construção de novas agroindústrias do ramo sucroalcooleiro na Microrregião

de Cianorte, além das fusões que ocorreram na última década, tem impulsionado aexpansão da cana-de-açúcar nos municípios sedes das usinas/destilarias e também nosmunicípios ao seu redor, incorporando as melhores áreas agricultáveis.

Os financiamentos e incentivos por parte do governo federal para a construção eampliação de usinas e destilarias vêm alterando o perfil sócio-econômico e demográficodestes municípios periféricos. A existência dessas usinas e a ampliação de suacapacidade produtiva têm atraído e mobilizado significativa população trabalhadora de

outras localidades e regiões do país, provocando o surgimento de bairros periféricosnessas pequenas localidades, fenômeno espacial inexistente até então. Taistrabalhadores são mobilizados não apenas para a atividade sazonal do corte da cana-de-açúcar, como também dentro das atividades industriais, o que lhes obriga a residir nosmunicípios sedes.

Percebe-se então, nestes municípios sedes das usinas e destilarias, uma relaçãointrínseca entre os agentes dominantes da sociedade nos moldes de Correa (2005): osproprietários dos meios de produção, que neste caso são os capitalistas do agronegóciosucroalcooleiro, que recebem recursos do Estado para a construção de suas usinas e

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destilarias, que tem nos arrendamentos as áreas para a produção e reprodução de suamatéria-prima (cana-de-açúcar), e o proprietário fundiário, que vê no arrendamento desuas terras uma oportunidade efetiva de ganho, na condição também de promotoresimobiliários, que lucram com a vinda de trabalhadores para estes municípios. E por fim,resta aos grupos sociais excluídos a mobilidade forçada no corte da cana-de-açúcar ou,dependendo da sua qualificação, trabalhar dentro das unidades produtivassucroalcooleiras, ambos produzindo e gerando mais-valia para os proprietários dos

meios de produção.O Estado legitima essas contradições sociais abrindo mão de leis e decretos

frágeis no que diz respeito à força de trabalho no campo, e com o dinheiro públicofinancia a economia moderna sucroalcooleira. São reflexos também do processo dereestruturação produtiva no campo, que ao intensificar o processo de modernização,fragmentou e desarticulou as entidades sindicais e dentre outras de classes, facilitando aentrada do capital no meio rural, desestruturando e expropriando a agricultura familiar e

camponesa ali existentes (THOMAZ JUNIOR, 2002).Tanto as entidades sindicais quanto as empresariais são moldadas pelas

necessidades de expansão capital. Neste sentido, é possível perceber que o capital e otrabalho consistem num processo contraditório que se articulam no âmbito do processosocial da produção. De um lado o capital hegemoniza o processo produtivo, adquirindoo controle e a totalidade do mesmo e, por outro lado, o trabalho adentra subsumido noprocesso de produção, gerando a mais valia aos agentes do agronegócio (THOMAZ

JUNIOR, 2002).

O TERRITÓRIO E A MOBILIDADE DA FORÇA DE TRABALHO

O território consiste numa área política e administrativa do espaço contendo suaslinhas e fronteiras. Também entende-se que a noção de território envolve um controlepolítico administrativo, bem como econômico e social, além de uma área jurídicaocupada por uma população que mantém relações de comércio, transporte e trabalho etc

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(REFFESTIN, 1993). O território é controlado principalmente pelo poder do Estado epelas grandes empresas, e por outras organizações de classe (SAQUET, 2013).

O poder do Estado e das grandes firmas propiciam em um determinado territóriouma intensa mobilidade humana, a exemplo do setor sucroalcooleiro na Microrregiãoem questão. As unidades de produção se instalam nas localidades favoráveis ao cultivoda cana-de-açúcar, expandem suas atividades, beneficiando-se de políticas públicas deâmbito regional, estadual e nacional.

Dados do IBGE (2012) apontam que a Microrregião de Cianorte temaproximadamente 99.765 hectares plantados de cana-de-açúcar. Como pode-seobservar na Figura 2, a gramínea ocupa grandes área agricultáveis na maioria dosmunicípios que compõe a Microrregião.

Figura 2- Distribuição da cana-de-açúcar na Microrregião de Cianorte- 2013.

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Fonte: Canasat, 2013.Elaborado: NEMO,2014.

Conforme apresenta a tabela a seguir, os municípios que mais cultivam cana-de-açúcar são: Rondon, com 22.140 hectares; Tapejara com 20.680 hectares plantados; eTuneiras do Oeste que cultiva 12.500 hectares de cana-de-açúcar. É preciso levar emconsideração o Perímetro municipal. Um exemplo é São Tomé. Embora pareça poucoexpressiva sua área destinada à cana-de-açúcar- 9.050 hectares, com um perímetro

municipal de 21.862 hectares, a gramínea ocupa aproximadamente 41% de todo oespaço. Já o município de Rondon, que possui 55.608 hectares de perímetro municipal,a lavoura canavieira ocupa aproximadamente 40% desse espaço. Estima-se que a cana-de-açúcar ocupe 39% e 35 % do perímetro dos municípios de Guaporema e Tapejararespectivamente.

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Tabela 2- Microrregião de Cianorte, área ocupada pela lavoura canavieira- 2012.

MunicípiosPerímetro

Municipal(hectares).

Área plantadacom cana-de-

açúcar% do espaço

cana

Cianorte 81.167 8700 11Tapejara 59.140 20680 35Cidade Gaúcha 40.304 7776 20Rondon 55.609 22140 40Japurá 16.518 2450 15Tuneiras do Oeste 69.887 12500 18Jussara 21.081 4200 20São Tomé 21.862 9050 41Indianópolis 12.262 3416 28Guaporema 20.019 7734 39São Manoel do Paraná 9.538 1119 12

Fonte: IBGE, 2012;Elaborado: NEMO, 2014.

Essa concentração da cana-de-açúcar têm acirrado os conflitos sociais, uma vezque o setor mobiliza explora uma intensa força de trabalho para o corte da cana-de-açúcar. Geralmente essa força de trabalho, por ser de baixa qualificação, recebe umaremuneração insuficiente às suas necessidades de reprodução, induzindo a um aumentobrutal de produtividade como mecanismo compensatório, cuja conseqüência direta têmafetado e comprometido a saúde desses trabalhadores.

Alguns relatos colhidos em pesquisa de campo são elucidativos dos problemasvivenciados por esses trabalhadores migrantes e suas estratégias adaptativas diante danecessidade de mover-se em busca de melhores condições de vida, ou da promessa decondições melhores conforme podemos observar nas falas de algumas cortadoras decana provenientes da região Nordeste do país que no Paraná passaram a trabalhar noeito. Quando perguntado a essas trabalhadoras de Cidade Gaúcha qual o interesse em

trabalhar no Paraná uma delas de Arapiraca-AL respondeu:

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A precisão né. A precisão que manda agente vir de lá pra cá, porquelá é muito mais difícil né. Então agente veio pra cá trabalhar. Agentenão ganhamuito mas o que agente ganha vai levando a vida né,melhor que lá. [...]primeiro veio o meu cunhado pra cá com a minhairmã né, ai forampassando informação pra nós de como que era aqui,então nós resolvemosvir também né(Lúcia, 33 anos).

De acordo com as teorias sobre movimentos populacionais, a exemplo de

autores como Petersen (1961) e Beaujeu-Garnier (1971), no âmbito dos processosmigratórios existem os fenômenos de expulsão e atração. Neste caso, o Município deArapiraca se constituiu para essa trabalhadora numa área de exclusão, devido adificuldade enfrentada para garantir sua sobrevivência naquela localidade. Quandoperguntada como era a vida em Arapiraca, a trabalhadora respondeu:

Era trabalho também, na roça. A minha vida inteira era trabalho [...] Lá a gente trabalhava de dia pra comer a noite, mas registro láagente não tem.É tipo o pessoal que trabalha aqui na mandioca,entende? Na lavoura,serviço de fumo. Ai recebe a diária né. Trabalhaa semana pra receber adiariazinha [...] Agora aqui é bem melhor. Aqui graças a Deus, agente vainum médico e tem médico, temmedicamento, agente tem água boa prabeber também porque lá temcanto na região que não tem. Lá aonde aminha mãe mora meu Deus,é uma calamidade por água [...] e tambémmuitas coisas que lá eu nãotinha condições de ter, porque agente sempretem o sonho de ter ascoisinhas da gente né, e lá eu nunca tive essaoportunidade que tenhohoje.(Lúcia).

Pode-se identificar no depoimento acima, as principais contradições noMunicípio de origem dessa trabalhadora. As relações precárias de trabalho, sem registroe sem emprego fixo além da problemática urbana no que tange à qualidade de vidacomo saúde, saneamento, poder de consumo etc.; De certo modo tal contextocondicionou seu deslocamento para o Paraná. Essa condição de miserabilidade social noterritório alagoano desencadeia uma intensa desterritorialização de uma parcelasignificativa da força de trabalho, sendo que parte dela, se reterritorializa no Estado

paranaense. Aqui, conforme os depoimentos das trabalhadoras, as mesmas alcançaramcerta ascensão social e o alcance de alguns anseios. O relato seguinte apresenta as

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conquistas que uma trabalhadora adquiriu no Paraná, ao se inserir no trabalho de corteda cana-de-açúcar:

Ah, a minha casa ela sabe é mobiliada e tudo e lá agente não tinha. Lá eu tinha só um fogãozinho pra cozinhar, e não podia comprar uma geladeira.Um aparelho de som também não podia porque ninguémtinha dinheiro. Lá como se diz, era assim era trabalhar de dia ecomer de noite. Então nãotinha nada. Lá é desse jeito(Helena, 35anos).

Percebe-se que mesmo expostas a uma condição de trabalho exaustiva ondepredominam baixos salários, sua situação vida atual é vista como melhor do que a queconheciam em sua região de origem, dado não só pelo acesso a alguns bens de consumocomo pelas garantias trabalhistas e assistenciais que a carteira assinada lhes faculta.Mesmo ressaltando que o poder de consumo dos brasileiros das classes mais baixas,têm-se beneficiado das políticas de crédito e de financiamentos do governo federalocorridas nos últimos anos.

Se por um lado se observa certa melhoria na condição de vida e consumo entreos cortadores e cortadoras de cana-de-açúcar que afluem de outras regiões do país parao Noroeste do Estado do Paraná, por outro, a expansão canavieira gera um outroproblema talvez maior, esse sim para os pequenos agricultores familiares residentes avárias décadas na região e que vêem a monocultura como uma ameaça a suaorganização produtiva e a seu modo de vida.

Deve-se ponderar também, a extrema complexidade que é tratar deste assunto.Embora exista uma alienação e submissão do trabalho pelo capital na atividadesucroalcooleira, este trabalho manual tornou-se no decorrer do tempo importante parauma parcela significativa da população economicamente ativa inserida no mercado detrabalho.

Por mais que as unidades de produção tenham proporcionado cursos decapacitação para os trabalhadores rurais se qualificarem e ingressarem nos serviçosdentro das usinas e nas destilarias, a grande maioria ainda prefere trabalhar no campo,

na condição de cortadores e cortadoras, pois conforme observado por Ribeiro (2011), no

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campo além de terem mais liberdade, tem-se também oportunidades de maiores ganhoscom a produtividade do trabalho no eito.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Este trabalho apresentou algumas informações de pesquisas que vêm sendorealizadas pelo Núcleo de Estudos de Mobilidade e Mobilização no que tange à força de

trabalho no corte da cana-de-açúcar. Seu intuito têm sido estabelecer um mapeamentogeográfico e sociológico da mobilidade forçada e de suas implicações sócio-territoriaisno âmbito dos municípios periféricos da região noroeste do Paraná. Tal fenômeno,condicionado pela expansão do setor sucroalcooleiro têm provocado não apenasmudanças nas características socioeconômicas dos municípios em questão, mas tambémnos arranjos territoriais e no modo de vida de distintas populações, que ao moverem-se,rearticulam novas espacialidades e mecanismos de resistência ante as pressões do

grande capital.

REFERÊNCIAS:

BEAUJEU- GARNIER, Jacqueline.Geografia de população. 2ª ed. São Paulo: EditoraNacional, 1971.

CANASAT: Disponível em: http://www.dsr.inpe.br/laf/canasat/. Acesso em;Junho/2014.

CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. 4ª edição. São Paulo, Ática 2005. 94páginas.

IBGE: Censos demográficos. Disponível em:www.ibge.com.br. Acesso em:Junho/2014.

PETERSEN, William.Population. New York: The Macmillan Company, 1965.

RAFFESTIN, Claude.Por uma geografia do poder. Tradução de Maria CecíliaFrança. São Paulo: Ática, 1993.

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RIBEIRO, Vitor Hugo.Mobilidade forçada e exploração da força de trabalho: umolhar para os trabalhadores da cana-de-açúcar do Noroeste Paranaense.2011.174p. Dissertação (Mestrado em Geografia). Programa de Pós- Graduação emGeografia. Universidade Estadual de Maringá. Maringá.

SAQUET, Marcos Aurelio.Abordagens e concepções sobre território. 3.ed. SãoPaulo: Outras Expressões, 2013.

THOMAZ JÚNIOR, Antonio.Por trás dos canaviais, os “nós” da cana:a relaçãocapital x trabalho e o movimento sindical dos trabalhadores na agroindústria canavieira

paulista. São Paulo. Annablume. 2002. 388p.