artigo sociologias

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 Sociologias, Porto Alegre, ano 15, n o  32, jan./abr. 2013, p. 112-146 SOCIOLOGIAS 112 DOSSIÊ Participação Social e Desigualdades nos Conselhos Nacionais Joana alencar * , Isadora cruxên ** , Igor Fonseca *** , roberto PIres **** , urIella rIbeIro ***** * Cientista política pela Universidade de Brasília (UnB), Instituto de Pesquisa Econômica Apli- cada (IPEA). (Brasil) E-mail: [email protected] ** Cientista política pela Universidade de Brasília (UnB), Instituto de Pesquisa Econômica Apli- cada (IPEA). (Brasil) E-mail: [email protected] .br *** Mestre em política ambiental pela Universidade de Brasília (UnB), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). (Brasil) E-mail: igor.fonseca@ipe a.gov .br **** Doutor em políticas públicas pelo Massachusetts Institute of T echnology (MIT), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), (Brasil) E-mail: [email protected] .br ***** Mestre em ciência política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), (Brasil) E-mail: uriella.ribeiro@ipe a.gov .br Resumo Instituições participativas têm sido descritas como elementos de mitigação de tradicionais desigualdades políticas, ampliando o acesso de atores excluídos do sistema formal. Entretanto, também têm sido alvo de críticas que apontam a repro- dução de desigualdades sociais e políticas em seu interior. O presente artigo em- preende investigação empírica sobre desigualdades nos conselhos nacionais. Para tanto, são analisados dados de  survey com767 conselheiros nacionais, membros de 21 conselhos e 3 comissões nacionais . A anális e dos dado s focou nas de sigua l- dades entre os conselheiros quanto a renda, escolaridade, gênero, raça/cor, região de residência e setor de representação. Procura identificar se, nas dimensões cita- das, os conselhos incluem atores tradicionalmente excluídos do processo político.  As interpretações revelam um quadr o complexo no que se refere à questã o das desigualdades nos conselhos nacionais. Quando observado de forma agregada, o perfil dos conselheiros nacionais indica atores que possuem renda e escolaridade substancialmente superiores à média da população. No entanto, há considerável variação entre os conselhos nacionais ligados a distintas áreas de políticas públicas. Em algumas áreas, os conselhos exibem uma composição plural, sendo mais inclu- sivos e criando novas oportunidades de acesso a espaços decisórios. Palavras-chave: Conselhos nacionais. Desigualdade. Inclusão política.

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  • Sociologias, Porto Alegre, ano 15, no 32, jan./abr. 2013, p. 112-146

    SOCIOLOGIAS112

    DOSSI

    Participao Social e Desigualdades nos Conselhos Nacionais

    Joana alencar*, Isadora cruxn**, Igor Fonseca***,roberto PIres****, urIella rIbeIro*****

    * Cientista poltica pela Universidade de Braslia (UnB), Instituto de Pesquisa Econmica Apli-cada (IPEA). (Brasil) E-mail: [email protected]** Cientista poltica pela Universidade de Braslia (UnB), Instituto de Pesquisa Econmica Apli-cada (IPEA). (Brasil) E-mail: [email protected]*** Mestre em poltica ambiental pela Universidade de Braslia (UnB), Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA). (Brasil) E-mail: [email protected]**** Doutor em polticas pblicas pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA), (Brasil) E-mail: [email protected]***** Mestre em cincia poltica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA), (Brasil) E-mail: [email protected]

    Resumo

    Instituies participativas tm sido descritas como elementos de mitigao de tradicionais desigualdades polticas, ampliando o acesso de atores excludos do sistema formal. Entretanto, tambm tm sido alvo de crticas que apontam a repro-duo de desigualdades sociais e polticas em seu interior. O presente artigo em-preende investigao emprica sobre desigualdades nos conselhos nacionais. Para tanto, so analisados dados de survey com767 conselheiros nacionais, membros de 21 conselhos e 3 comisses nacionais. A anlise dos dados focou nas desigual-dades entre os conselheiros quanto a renda, escolaridade, gnero, raa/cor, regio de residncia e setor de representao. Procura identificar se, nas dimenses cita-das, os conselhos incluem atores tradicionalmente excludos do processo poltico. As interpretaes revelam um quadro complexo no que se refere questo das desigualdades nos conselhos nacionais. Quando observado de forma agregada, o perfil dos conselheiros nacionais indica atores que possuem renda e escolaridade substancialmente superiores mdia da populao. No entanto, h considervel variao entre os conselhos nacionais ligados a distintas reas de polticas pblicas. Em algumas reas, os conselhos exibem uma composio plural, sendo mais inclu-sivos e criando novas oportunidades de acesso a espaos decisrios.

    Palavras-chave: Conselhos nacionais. Desigualdade. Incluso poltica.

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    Social Participation and Inequalities within National Councils

    Abstract

    Participatory institutions have been described as mitigating factors for tradi-tional political inequalities, since they broaden the access of actors excluded from the formal system. However, they have also borne some criticism, with claims that social and political inequalities are reproduced within them. This paper descri-bes an empirical research on inequalities within the national councils on public policies. For this purpose, we analyze survey data obtained from questionnaires applied to 767 board members from 21 different national councils and 3 national committees. Data analysis focused on inequalities among councilors as to income, education, gender, race/ethnicity, region of residence and sector of representa-tion. The study aimed at identifying if, regarding these six selected dimensions, the councils include actors traditionally excluded from the political process. The analysis revealed a complex context as to the existence of inequalities within the national councils. Through an aggregate view, the councilors general profile in-dicates that in average they have both income and education levels substantially higher than the average population. There is, however, important variation betwe-en the profiles of board members from national councils of distinct areas of public policy. In some areas, councils present a plural composition, are more inclusive and create new opportunities for access to deliberative spaces.

    Keywords: National councils. Inequality. Political inclusion.

    1 Introduo

    objetivo deste artigo discutir a questo da desigual-

    dade nos conselhos nacionais. Os conselhos de polti-

    cas pblicas so colegiados cuja finalidade promover

    o dilogo entre sociedade civil e poder pblico para a

    formulao, gesto ou controle de polticas pblicas. Foi

    uma das formas de democratizao que ganhou fora no Brasil aps a

    constituio de 1988, juntamente com as conferncias, audincias e con-

    sultas pblicas, ouvidorias, entre outras. Os conselhos, apesar de estarem

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    SOCIOLOGIAS114

    diretamente ligados a rgos do poder executivo, so instituies hbri-

    das, que agregam Estado e sociedade, constituindo-se em canais de parti-

    cipao poltica, deliberao institucionalizada e divulgao das aes do

    governo (Avritzer; Pereira, 2005; Carneiro, 2006).

    O estudo da composio dos conselhos nacionais tem o potencial

    de indicar se tais instituies se consolidaram como canais de participa-

    o que permitem a incluso de novos atores, alguns muitas vezes margi-

    nalizados de processos decisrios, contribuindo, assim, para a reduo de

    desigualdades polticas. Este artigo busca investigar se, e de que maneiras,

    as relaes de desigualdades sociais e polticas, tradicionalmente mani-

    festas entre pessoas de diferentes regies, classe, cor/raa e sexo, se ma-

    nifestam tambm nos conselhos nacionais. Assim, a presente anlise trata

    informaes sobre o perfil dos conselheiros nacionais, em contraste com

    dados socioeconmicos e demogrficos da populao brasileira e com

    dados sobre perfil dos representantes polticos no Congresso Nacional.

    O objetivo central observar em que medida esses espaos favorecem

    a reduo de desigualdades ou mesmo em quais aspectos algumas desi-

    gualdades so reproduzidas.

    A ideia de trabalhar a questo da desigualdade nos conselhos nacio-

    nais relaciona-se com a necessidade de confrontar argumentos encontra-

    dos na literatura que assumem posies divergentes em relao ao tema.

    Alguns estudiosos defendem que os conselhos so espaos onde grupos

    sociais historicamente excludos do processo poltico formal teriam opor-

    tunidade de se manifestar, deliberar e participar do processo decisrio.

    Outros autores, por sua vez, questionam a instituio conselho enquanto

    legtima forma de participao social, na medida em que seus integrantes

    muitas vezes pertenceriam a elites que sempre estiveram no poder no

    pas basicamente, homens, brancos, que possuem escolaridade e renda

    bem superiores mdia

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    As anlises se baseiam em dados oriundos de trs tipos de fontes,

    estatsticas demogrficas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    (IBGE), perfil dos parlamentares disponibilizado pelo Congresso Nacional,

    e survey realizado a partir de parceria entre o IPEA e a Secretaria Ge-

    ral da Presidncia da Repblica. Um questionrio quali-quantitativo foi

    aplicado aos conselheiros nacionais, entre 2010 e 2011, com o objetivo

    de levantar informaes sobre o seu perfil. Para a seleo dos conselhos

    a serem pesquisados, foram utilizados os seguintes critrios: conselhos

    considerados centrais em suas reas de poltica, portanto excluindo os

    auxiliares, complementares, curadores e gestores de fundos; conselhos

    que tm necessariamente a presena da sociedade civil em sua compo-

    sio; conselhos criados por ato normativo de abrangncia ampla, como

    decreto presidencial ou lei (Pires; Lopez, 2010).O survey buscou abranger

    todos os 27 conselhos nacionais e 3 comisses que atendiam aos critrios.

    No entanto, por motivos alheios atuao dos pesquisadores, obteve res-

    postas de conselheiros membros de 21 conselhos nacionais e 3 comisses

    nacionais, totalizando 767 respondentes.

    O artigo estrutura-se em trs partes principais, alm desta introdu-

    o. A primeira situa o problema e a discusso no panorama interna-

    cional, recuperando argumentos da literatura que tratam da questo da

    desigualdade nas instncias participativas. Na segunda parte, so apresen-

    tados os dados coletados pelo survey que permitem discutir as relaes de

    igualdade e/ou desigualdade poltica nos conselhos nacionais brasileiros.

    Para tanto, utilizamos dados da populao brasileira gerados pelo IBGE,

    bem como informaes sobre os congressistas brasileiros, de modo a co-

    locar em perspectiva algumas caractersticas do perfil dos conselheiros

    nacionais. Por fim, so feitas algumas consideraes finais.

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    2 Participao e Desigualdades Polticas

    A partir dos anos 1970, especialmente a partir dos avanos dos pro-

    cessos de transio para democracia no Leste Europeu e na Amrica La-

    tina, a noo de que cidados comuns podem ou devem participar em

    um contnuo de decises polticas passa a constituir elementos de crtica

    e reviso para a teoria democrtica. O papel desempenhado pela so-

    ciedade civil nestas experincias suscitou elaboraes tericas e estudos

    empricos a respeito da participao social como elemento de renovao

    e aprofundamento das novas experincias democrticas (Cohen; Arato,

    1994; EVANS, 2003; Pateman, 1992). No caso brasileiro, a participao

    social assumiu lugar central nos debates sobre a redemocratizao, pois

    se associou tanto com os objetivos de fortalecer e energizar a sociedade

    civil quanto com os desejos de qualificar os processos governamentais,

    aprimorando a formulao, gesto e controle das polticas pblicas.

    Um conjunto de argumentos apostava que a democratizao e a

    tentativa de incluso de uma pluralidade de novos atores em espaos

    polticos institucionais levariam a uma maior proximidade entre Estado e

    sociedade no processo de produo das polticas, visto que haveria maior

    abertura ao debate e expresso de vozes excludas, marginalizadas ou

    em vulnerabilidade, de vozes daqueles diretamente atingidos pelas deci-

    ses polticas. Nesse contexto, a afirmao da necessidade de criao de

    fruns participativos e inclusivos, em que a prxis poltica fosse mais igua-

    litria que as formas existentes na democracia representativa, orientou

    as primeiras anlises sobre instituies participativas (IPs), entre os anos

    1990 e incio dos anos 2000 no Brasil (Avritzer, 2002; Baiocchi, 2001;

    Dagnino, 2002; Heller, 2001; Santos; Avritzer, 2002).

    Esses primeiros estudos focavam a importncia da participao di-

    reta nos processos decisrios, ao apresentar o crescimento de instituies

    participativas (IPs) e do nmero de participantes, apostando que as ativi-

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    dades de participao em si geravam a consolidao da democracia, do

    aprendizado democrtico e da prpria participao direta, potencializan-

    do melhores decises oriundas de debates mais qualificados e marcados

    pela pluralidade de vozes (Santos; Avritzer, 2002).

    A democracia participativa, portanto, ancorava-se na assertiva de que

    os mecanismos de participao seriam inclusivos e promotores de relaes

    polticas mais igualitrias, uma vez que a poltica representativa tradicional,

    ao longo da histria, se apresenta como um espao de grupos privilegiados:

    homens, brancos e de classes mdia e alta (Matos; Ramalho, 2010). Logo, a

    aposta na reduo das desigualdades constou como justificativa para a cria-

    o e funcionamento de instituies participativas tais como conselhos,

    oramentos participativos, fruns temticos e conferncias.

    No entanto, questionamentos em torno das promessas iniciais das

    instituies participativas reorientaram os estudos sobre participao so-

    cial, uma vez que ainda no se conhece, de forma clara, a qualidade dos

    processos de democratizao (incluso, envolvimento, transparncia) e/ou

    os efeitos atribudos participao (inovao, distribuio) (COELHO et

    al., 2010, p.321). Diante das lacunas, os estudos deixam de ter um tom

    laudatrio a respeito das experincias inicias de participao no Brasil

    ps-redemocratizao e assumem um carter mais crtico e qualificador

    dos processos participativos.

    Se, por um lado, os primeiros argumentos apontavam as instituies

    participativas, dentre as quais destacamos os conselhos como elementos de

    potencial incluso e reduo das desigualdades polticas, ao promover o

    acesso aos processos decisrios por parte de atores tradicionalmente exclu-

    dos do processo poltico (Santos; Avritzer, 2002; Dagnino, 2002; Cunha,

    2007), a atual orientao analtica tem, por outro lado, apresentado um

    conjunto de argumentos que apontam a reproduo de desigualdades no

    interior das IPs como um problema de legitimidade e efetividade destes

    espaos (Crtes, 2005; Cleaver, 2001, 2005; Kothari, 2001; Sayago, 2007).

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    De acordo com Crtes (2005), estas distintas orientaes na litera-

    tura podem ser organizadas em dois grupos: otimistas e cticos. O

    primeiro deles constitudo por autores que tm uma viso mais posi-

    tiva sobre a operao e os possveis efeitos das instituies participati-

    vas (Santos; Avritzer, 2002). Eles consideram que estas instituies so

    formas de exerccio coletivo do poder pblico que favorecem a insero

    de movimentos sociais em arenas polticas institucionalizadas, abrindo es-

    pao para grupos sociais que ainda no conseguiram se fazer representar

    por meio dos parlamentos tradicionais. Como consequncia da incluso

    de novos atores sociais, alguns analistas chegaram a identificar possveis

    efeitos democratizantes e (re)distributivos associados atividade partici-

    pativa (Santos, 1998; Marquetti, 2003).

    O segundo grupo destacado por Crtes elabora uma perspectiva

    mais crtica ao chamar ateno para o fato de que fruns participativos

    tendem a ser ocupados, principalmente, por atores que tm condies

    de se organizar e possuem recursos financeiros e de poder. Para esse con-

    junto de autores (Fiorina, 1999; Pinto, 2004; Skocpol, 1999), os grupos

    sociais historicamente excludos continuariam sem acesso aos espaos de-

    cisrios, uma vez que os desenhos institucionais dos fruns participativos

    tenderiam a reproduzir as desigualdades j existentes no ambiente social

    e poltico. Nesta perspectiva, destacam-se duas principais questes que

    tm orientado anlises crticas de instituies participativas nos ltimos

    anos: representao e desigualdade deliberativa.

    No que se refere representao (Abers; Keck, 2008; Avritzer, 2007;

    Lavalle; Houtzager; Castello, 2006a, 2006b; Lchmann, 2007; Miguel,

    2003), esta se torna um problema, uma vez que, nos conselhos, a partici-

    pao no se manifesta de forma direta. As conselheiras e os conselheiros

    passam por diversos processos seletivos, tornando-se representantes, se

    no de sua populao de referncia, no mnimo, de suas entidades ou de

    um conjunto delas que atuam na mesma rea temtica.

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    As crticas referem-se constatao de que, nos espaos de parti-

    cipao, os membros envolvidos exercem funo de representao sem

    a autorizao formal da sociedade como um todo (Lavalle; Vera, 2011).

    Nos conselhos, pressupe-se que os atores societrios exeram funes

    de representao poltica, ainda que os mecanismos de seleo de con-

    selheiros no garantam a representatividade destes em relao aos inte-

    resses que entendem representar e, menos ainda, em relao aos demais

    interesses presentes na sociedade (Lavalle; Houtzager; Castello, 2006a).

    No entanto, esta viso pode ser contraposta por outra perspectiva de

    representao nos espaos de participao. A legitimidade da representa-

    o nesses espaos no advm das eleies (autorizao); na verdade, ela

    est apoiada na expertise e qualificao dos participantes (Lchmann,

    2007); na afinidade temtica (Avritzer, 2007); na pluralizao dos espa-

    os e na correo dos processos polticos de excluso (Lavalle; Houtzager;

    Castello, 2006b); ou nos processos de accountability (Lavalle; Vera, 2011).

    Assim, a representao, nesses espaos, diferente da exercida nos Parla-

    mentos tradicionais, uma vez que ela no possui o elemento da autorizao

    e nem est baseada no monoplio ou na territorialidade (Avritzer, 2007).

    Outra questo que tem orientado anlises crticas diz respeito s re-

    laes de poder nas instituies participativas (Fonseca, 2010; Williams,

    2004) e suas implicaes para o processo deliberativo (Avritzer, 2010;

    Cunha, 2007; Pires, 2011). Em contextos marcados por desigualdades po-

    lticas e sociais, alguns autores tm argumentado que espaos de partici-

    pao tendem a no operar de forma igualitria, comprometendo a capa-

    cidade dos participantes de engajarem-se na deliberao (Cleaver, 2001;

    Kothari, 2001; Sayago, 2007). Restries econmicas ou sociais podem

    impedir que determinados indivduos vocalizem suas opinies e anseios.

    Podem ocorrer, inclusive, situaes em que o comparecimento e a ao

    nos fruns de participao constituam monoplio daqueles que no sofrem

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    SOCIOLOGIAS120

    tais restries e que podem regularmente se locomover, prescindir de horas

    de trabalho e ter voz ativa nos canais de mobilizao e participao. Essa

    situao pode institucionalizar a excluso, ao invs de estimular relaes

    polticas mais igualitrias (Manor, 2004; Cleaver, 2005; Fuks; Perissinotto,

    2006). A participao restrita a um grupo de privilegiados pode gerar um

    processo de elitizao desses espaos, bem como tem o potencial de refor-

    ar e reproduzir desigualdades se essas instituies somente promovem as

    vozes e valores daqueles que so mais articulados e facilmente acessveis na

    comunidade (Hayward; Simpson; Wood, 2004; EVERSOLE, 2003).

    No caso dos conselhos municipais, por exemplo, desigualdades

    situadas nas relaes de poder locais podem contaminar e direcionar

    instncias participativas, pois o exerccio formal da participao, sem o

    combate s desigualdades que antecedem o mecanismo, faz com que as

    decises sejam tomadas por aqueles que, tradicionalmente, controlam o

    processo poltico local (Cleaver, 2005; Blair, 2000; Ribot, 2007, Wong,

    2003; Milani, 2006; Manor, 2004). A presena de desigualdades tem o

    potencial de gerar graves distores no funcionamento efetivo das insti-

    tuies participativas, tais como: a reduzida e descontnua participao

    da populao local (Pereira, 2008; Souza, 2008; Manor, 2004); a falta de

    acesso informao e educao (Sayago, 2007; Wendhausen; Caponi,

    2002; Fonseca; Bursztyn; Moura, 2012); a no alterao do status quo

    local (Hayward; Simpson; Wood, 2004; Milani, 2006); a no alocao

    de capital social para grupos com menor poder poltico (Olival; Spexo-

    to; Rodrigues., 2008; Dino, 2003); e o controle das elites locais sobre

    o processo decisrio (Tatagiba, 2005; Fuks; Perissinotto, 2006; Portes;

    Landoult, 2000). Finalmente, os estudos crticos tm tambm chamado

    ateno para uma tendncia de elitizao nos espaos de participao,

    sobretudo nos conselhos gestores de polticas (Tatagiba, 2005). Alguns au-

    tores defendem que a desigualdade aumenta na medida em que a hie-

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    SOCIOLOGIAS 121

    rarquia das instituies participativas se desloca do nvel local/municipal

    para o nvel nacional.

    Apesar desse amplo debate, ainda existem questes a serem res-

    pondidas pela literatura no que se refere s relaes entre instituies

    participativas e desigualdades polticas. Assim, este artigo visa contribuir

    para o debate, analisando se e em quais condies as instituies

    participativas so mais ou menos propensas reproduo de desigual-

    dades polticas manifestas na sociedade e na poltica representativa do

    pas. Desse modo, a prxima seo apresenta dados inditos sobre o per-

    fil dos conselheiros nacionais, ao verificar empiricamente os processos

    participativos no interior dos conselhos nacionais e suas faces mais ou

    menos inclusivas, dando evidncia s possveis formas de reproduo de

    desigualdades sociais e polticas j existentes. Para apresentar o estudo em

    torno de distintos conselhos nacionais, nossa anlise considera a diferen-

    ciao entre as regies do pas, as peculiaridades de cada conselho e de

    cada segmento social presente, em especial, os conselheiros membros do

    governo e conselheiros representantes da sociedade civil. Destarte, nas

    sees seguintes, apresentaremos o perfil social e econmico dos con-

    selheiros, desagregando as informaes de acordo com os tipos de con-

    selhos, setor de representao e regies de residncia, dando evidncia

    tambm s nuances e peculiaridades manifestas por alguns conselhos.

    3 Conselheiros e conselhos nacionais: promoo de igualdades e reproduo de desigualdades

    Esta seo tem como objetivo apresentar os dados de perfil dos

    conselheiros nacionais, coletados por meio de um survey, aplicado en-

    tre 2010 e 2011, envolvendo 21 conselhos e 3 comisses nacionais, em

    um universo de 767 conselheiros nacionais respondentes. Optou-se pela

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    SOCIOLOGIAS122

    agregao dos conselhos por rea temtica de polticas pblicas. A diviso

    foi efetuada de modo a permitir visualizar as possveis diferenas entre os

    conselhos de diferentes reas temticas. A inteno verificar o potencial

    de cada tipo de conselho em incluir diferentes grupos populacionais, con-

    tribuindo para a reduo ou reproduo de desigualdades de represen-

    tao em relao a gnero, raa/cor, idade, renda, escolaridade e regio

    de residncia dos conselheiros. Nesse sentido, nos parece til observar

    as especificidades dos conselhos, mas tambm conhecer semelhanas e

    diferenas entre conselhos de uma mesma rea de poltica pblica.

    A classificao de reas temticas se baseou em dois estudos do IPEA

    (Pires; Lopez, 2010; Pires; Vaz, 2012) e gerou quatro grupos: polticas so-

    ciais, garantia de direitos, desenvolvimento econmico, infraestrutura e

    recursos naturais. O primeiro grupo refere-se a polticas que trabalham

    diretamente com proteo social, ou seja, as aes do Estado para impe-

    dir que os cidados cheguem a ou permaneam em situao de risco so-

    cial. O pblico alvo inclui as pessoas socialmente vulnerveis (situao de

    extrema pobreza e falta de oportunidades), as pessoas que se inserem no

    que foi denominado como posio vulnervel no ciclo vital do ser humano

    (idosos e crianas), situaes de invalidez ou dificuldades para o exerccio

    laboral. Inclui, tambm, as polticas sociais de ampla abrangncia, das

    quais a populao, de forma geral, pode se beneficiar: sade, segurana

    pblica, cultura.

    O segundo grupo, garantias de direitos, envolve as polticas de pro-

    moo social que tm por finalidade prover oportunidades a grupos po-

    pulacionais historicamente excludos ou marginalizados. Essas polticas

    so instrumentos para promover a equidade, no sentido de reconhecer

    igualmente o direito de grupos diferentes. A rea de desenvolvimento

    econmico concentra as polticas que lidam com assuntos relacionados

    ao fomento, regulao, financiamento e estmulo ao desenvolvimento da

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    SOCIOLOGIAS 123

    economia. Por fim, a rea de infraestrutura e recursos naturais inclui as

    polticas voltadas promoo de infraestrutura (como infraestrutura urba-

    na, saneamento bsico, energia eltrica, gua, telefone, transporte, entre

    outros) e preservao do meio ambiente e dos recursos naturais, bem

    como seu desenvolvimento sustentvel.

    Quadro 1. Tipos de conselhos nacionais.

    Nome Conselhos N. de conselheiros% de

    conselheiros

    Polticas sociais

    CNPS (previdncia social), CNPC (poltica cultural), CNAS (assistncia social), CNS (sade), CONADE (direitos da pessoa portadora de deficincia), CO-NAETI (erradicao do trabalho infantil), CONAN-DA (criana e adolescente), CONASP (segurana pblica), CONJUVE (juventude), CNDI (idosos), CONSEA (segurana alimentar e nutricional), CDDPH (direitos da pessoa humana).

    331 43,2%

    Garantias de direitos

    CNCD/LGBT (combate discriminao LGBT), CNDM (direitos da mulher), CNPCT (povos e co-munidades tradicionais), CNPI (poltica indigenis-ta), CNPIR (igualdade racial).

    115 15,0%

    Desenvolvimento econmico

    CNES (economia solidria), CNT (turismo), CONA-PE (pesca), CONDRAF (desenvolvimento rural).

    140 18,3%

    Infraestrutura e Meio Ambiente

    CONCIDADES (conselhos das cidades), CNRH (re-cursos hdricos), CONAMA (meio ambiente).

    181 23,6%

    Total 767 100,0%

    Fonte: elaborao prpria.

    A partir da classificao exibida no Quadro 1, torna-se visvel uma

    primeira constatao, que diz respeito concentrao do nmero de

    conselhos nas reas afeitas s questes sociais se somarmos os conselhos

    das reas de poltica social e garantia de direitos, temos 70,8% do total

    dos conselhos pesquisados1 ou 58,2% dos conselheiros. Em alguma medi-

    1 Os 21 conselhos e 3 comisses nacionais que constituem a amostram desta pesquisa integram o conjunto de 31 conselhos que compem o universo de tais instituies existentes no governo federal, tal como definido em Pires e Lopez (2010).

  • Sociologias, Porto Alegre, ano 15, no 32, jan./abr. 2013, p. 112-146

    SOCIOLOGIAS124

    da, tal concentrao reflexo do prprio processo constituinte, no qual

    a mobilizao de movimentos e atores sociais se concentrou fortemen-

    te na democratizao da gesto das polticas sociais. Em contraposio,

    as reas de desenvolvimento econmico e infraestrutura observaram, ao

    longo dos ltimos vinte anos, desenvolvimentos mais tmidos no que diz

    respeito aos instrumentos de democratizao da gesto de suas polticas.

    De forma geral, os dados de perfil apontam que 63,4% dos conse-

    lheiros identificaram o seu setor de representao como sociedade civil,

    ao passo que 36,6% representam o poder pblico, o que gera uma so-

    brerrepresentao dos primeiros em relao aos segundos. Ao mesmo

    tempo em que, isso pode ser resultado de diferentes fatores como, por

    exemplo, a maneira como a composio de alguns conselhos est defi-

    nida2, respostas a questes abertas que faziam referncia s dificuldades

    enfrentadas pelos conselhos na realizao de suas atividades indicam a

    existncia de uma insatisfao com a atuao e a falta de assiduidade dos

    representantes do poder pblico em vrios conselhos, de modo que o

    nmero reduzido de conselheiros desse setor na pesquisa pode ser indi-

    cativo da atuao destes nesses espaos.

    Percebemos inicialmente que, de forma geral, considerando a vari-

    vel sexo, os conselhos nacionais possuem uma composio predominan-

    temente masculina cerca de 63% de homens e 37% de mulheres (Tabela

    1). No entanto, essa proporo varia de acordo com a temtica do conse-

    lho. Nos conselhos de garantias de direitos as mulheres so maioria, tota-

    lizando 54,4% dos conselheiros. Conforme podemos observar na Tabela

    2 Alguns conselhos preveem no prprio ato normativo uma proporo maior de representantes da sociedade civil do que do governo. Outros ainda adotam uma composio mais fragmenta-da, subdividindo a sociedade civil. Nessa pesquisa, contudo, essas subdivises foram agregadas sob a categoria mais ampla de sociedade civil, para estar em conformidade com a diviso poder pblico sociedade civil encontrada na maior parte dos conselhos. Isso permitiu a an-lise conjunta dos dados recolhidos.

  • Sociologias, Porto Alegre, ano 15, no 32, jan./abr. 2013, p. 112-146

    SOCIOLOGIAS 125

    1, os conselheiros dos conselhos voltados para polticas sociais e garantia

    de direitos possuem uma diviso mais equitativa na qual a quantidade

    de homens ou mulheres varia de 40% a 60% nos demais, a quantidade

    de homens supera os 70%.

    Ainda assim, o nmero de mulheres que ocupam assentos em espa-

    os como os conselhos nacionais parece bastante relevante, se compara-

    do com outras esferas de representao. A ttulo de ilustrao, apenas 56

    mulheres (9,4%) exercem cargos de deputada ou senadora no Congresso

    Nacional em 2012, ao passo que h 538 parlamentares homens (90,6%)3.

    Parece possvel dizer, nesse caso, que os conselhos so espaos mais per-

    meveis e acessveis s mulheres do que o Congresso, cone da democra-

    cia representativa. Essa concluso inicial, no entanto, precisa ser estudada

    com maior nvel de detalhe, considerando fatores externos e internos que

    influem na composio dessas duas instncias.

    Tabela 1. Distribuio dos conselheiros por sexo segundo o tipo de conselho

    Sexo (em %) Total

    Tipo de conselhoMasculino Feminino

    Polticas sociais 58,3 41,7 100,0

    Garantias de direitos 45,6 54,4 100,0

    Desenvolvimento Econmico 73,9 26,1 100,0

    Infraestrutura e Meio Ambiente 73,7 26,3 100,0

    Total 62,9 37,1 100,0

    Fonte: INSTITUTO DE PESQUISA ECONMICA APLICADA (2012)

    3 Elaborao prpria a partir de dados retirados das pginas oficiais da Cmara dos Deputados e do Senado Federal entre 05 e 13 de maro de 2012. Foram consideradas informaes dos deputados e senadores em exerccio no momento da coleta de dados, incluindo, portanto, titulares e suplentes.

  • Sociologias, Porto Alegre, ano 15, no 32, jan./abr. 2013, p. 112-146

    SOCIOLOGIAS126

    Se considerarmos a distribuio de raa/cor por sexo (Tabela 2),

    possvel perceber que tanto entre homens quanto entre mulheres a pro-

    poro de conselheiros que se declara de cor branca maioria, manten-

    do proporo semelhante para as demais opes de cor/raa. Quando

    relacionamos sexo e setor de representao, por sua vez, observamos que

    no existem diferenas significativas entre os dois setores no que se refere

    proporo de homens e mulheres, sendo que, para ambos, a diviso

    geral de cerca de 60% de homens e 40% de mulheres (Tabela 3).

    Tabela 2. Distribuio dos conselheiros por raa/cor segundo o sexo

    SexoRaa (em %)

    TotalBranca Preta Amarela Parda Indgena

    Masculino 67,0 12,4 0,9 15,8 4,1 100

    Feminino64,7 15,6 1,8 16,0 1,8 100

    Total 66,1 13,6 1,2 15,9 3,2 100 (n=744)

    Fonte: INSTITUTO DE PESQUISA ECONMICA APLICADA (2012).

    Tabela 3. Sexo dos conselheiros segundo setor de representao

    Setor de Representao Sexo (em %) Total

    Masculino Feminino

    Poder pblico 60,6 39,4 100

    Sociedade civil64,4 35,6 100

    Total 63,0 37,0 100 (n=755)

    Fonte: INSTITUTO DE PESQUISA ECONMICA APLICADA (2012).

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    SOCIOLOGIAS 127

    Ao observarmos as respostas relativas a cor/raa, percebemos que a

    maior parte dos conselheiros se declara de cor branca (66%). Dos demais,

    16% se consideram pardos e 13,6% pretos (Tabela 4)4. Quando compara-

    mos as diferentes reas temticas, podemos perceber, conforme a Tabela

    4, que nos conselhos de garantias de direitos a proporo de brancos e

    no brancos mostra-se mais equilibrada: a quantidade de brancos me-

    nor que 50% (38,9%). Nesses, cerca de um tero dos conselheiros se de-

    clara de cor preta e 13,3% so pardos e, ainda, 11,5% so indgenas. Os

    conselhos de garantias de direitos so conselhos que visam proteo dos

    direitos de grupos historicamente excludos dos processos polticos. Entre

    eles, destacam-se o Conselho Nacional de Igualdade Racial e a Comisso

    Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais, que possuem predomi-

    nncia de conselheiros que se declaram no brancos. Se consideradas as

    propores de raa da populao brasileira, encontramos que 6,9% se

    declararam pretos e 44,2% se declararam pardos em 2009 (IBGE, 2010a).

    Nesse caso, o que se pode perceber nos conselhos de garantias de di-

    reitos que estes so espaos em que alguns grupos raciais em geral

    sub-representados nas arenas de deciso esto mais representados, o

    que poderia indicar que, nesses espaos, possuem maior capacidade de

    vocalizar suas demandas.

    4 As opes de cor disponveis nessa questo foram baseadas na tipologia adotada pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatstica - IBGE no censo de 2010 e incluam: branca, preta, parda, amarela e indgena. Apesar de essas cinco categorias utilizadas pelo IBGE serem, por vezes, alvo de crticas, o IBGE considera que elas ajudam a construir um papel legitimador das representa-es sobre os diversos grupos tnicos raciais que convivem no Brasil (IBGE, 2008, p. 12). Alm disso, os termos propostos [...] foram pensados como totalmente descritivos, sem nenhuma ideia de que eles servissem como forma de identificao dos grupos (SCHWARTZMAN, 1998).

  • Sociologias, Porto Alegre, ano 15, no 32, jan./abr. 2013, p. 112-146

    SOCIOLOGIAS128

    Tabela 4. Distribuio dos conselheiros por cor/raa segundo o tipo de conselho

    Tipo de conselho Raa (em %)Total

    Branca Preta Amarela Parda Indgena

    Polticas sociais 67,0 10,5 1,9 18,8 1,9 100,0

    Garantias de direitos 38,9 35,4 0,9 13,3 11,5 100,0

    Desenvolvimento Econmico

    71,9 11,1 1,5 14,1 1,5 100,0

    Infraestrutura e meio ambiente

    77,5 6,9 0,0 13,9 1,7 100,0

    Total 66,0 13,6 1,2 16,0 3,2 100,0

    Fonte: INSTITUTO DE PESQUISA ECONMICA APLICADA (2012)

    Nos conselhos de desenvolvimento econmico e poltica social, a

    quantidade de brancos encontra-se em torno de 70%, respectivamente

    71,9% e 67%. Os conselhos do grupo infraestrutura e meio ambiente so

    os que possuem maior quantidade de brancos 77,5%. Parece possvel

    concluir que, de forma geral, h predominncia de conselheiros de cor

    branca, e os conselhos que concentram a maior quantidade de conse-

    lheiros no brancos so justamente os que esto voltados para defesa de

    direitos de grupos minoritrios.

    Tabela 5. Raa/cor dos conselheiros segundo setor de representao

    Setor de

    Representao

    Raa (em %)Total

    Branca Preta Amarela Parda Indgena

    Poder pblico 75,9 7,7 0,4 14,6 1,5 100

    Sociedade civil 60,2 17,0 1,7 16,8 4,3 100

    Total 66,0 13,5 1,2 16,0 3,2100

    (n=739)

    Fonte: INSTITUTO DE PESQUISA ECONMICA APLICADA (2012).

  • Sociologias, Porto Alegre, ano 15, no 32, jan./abr. 2013, p. 112-146

    SOCIOLOGIAS 129

    Considerando a questo da raa/cor por setor de representao (Ta-

    bela 5), verificamos uma maior diversidade racial na sociedade civil, em-

    bora esta apresente, tal como o poder pblico, maioria de conselheiros

    que se autodeclaram de cor branca. Pode-se supor, a partir desses dados,

    que espaos como os conselhos permitem maior incluso de grupos que

    ainda so minoria nos ambientes decisrios por meio das organizaes da

    sociedade civil.

    No que se refere ao grau de escolaridade, 81,9% dos conselhei-

    ros concluram pelo menos o superior completo e 55,2% possuem ps-

    graduao. Nesse aspecto os extremos esto situados: nos conselhos de

    infraestrutura e meio ambiente cuja quantidade de conselheiros com

    nvel superior completo ou mais superam os 90%, e nos conselhos de

    garantias de direitos que totalizam 68,3% de conselheiros com aquele

    grau de escolaridade.

    Tabela 6. Distribuio dos conselheiros por nvel de escolaridade segundo o tipo de conselho

    Tipo

    de conselho

    Nvel de escolaridade (em %)

    TotalEnsino

    fundamental

    Ensino

    Mdio

    Superior

    incompleto

    Superior

    completo

    Ps-

    graduao

    Polticas sociais 2,1 6,6 7,9 27,5 55,9 100

    Garantias

    de direitos4,3 14,8 12,2 24,3 44,3 100

    Desenvolvimento

    Econmico2,9 10,8 7,9 30,2 48,1 100

    Infraestrutura e

    Meio Ambiente0,0 6,1 3,3 23,9 66,6 100

    Total 2,1 8,5 7,5 26,7 55,2 100

    Fonte: INSTITUTO DE PESQUISA ECONMICA APLICADA (2012).

  • Sociologias, Porto Alegre, ano 15, no 32, jan./abr. 2013, p. 112-146

    SOCIOLOGIAS130

    Percebe-se que a escolaridade dos conselheiros de conselhos nacio-

    nais bem superior, por exemplo, mdia da populao. Nesta, a mdia

    de escolaridade 7,1 anos de estudo, o que equivale ao ensino funda-

    mental incompleto (IBGE, 2010). Podemos verificar ainda que a maior

    porcentagem de conselheiros com superior incompleto encontra-se nos

    conselhos de garantias de direitos, que concentram maior proporo de

    jovens de 21 a 40 anos (ver Tabela 8).

    Quando consideramos a escolaridade dos conselheiros segundo a

    raa declarada (Tabela 7), percebemos que a quase totalidade dos conse-

    lheiros que se declara de cor branca (90%) possuem pelo menos o ensino

    superior completo. Essa proporo mais diversificada para as demais

    raas, muito embora estas tambm apresentem uma proporo de mais

    de 50% de conselheiros com nvel superior completo. Isso pode ser um

    reflexo das diferenas existentes na populao brasileira de forma geral.

    Segundo dados do IBGE (2010b), a populao branca possui, em mdia,

    maior quantidade de anos de estudo que a populao de pretos e pardos,

    respectivamente 8,4 e 6,7 anos de estudo. Quanto concluso de curso

    superior, possvel observar que a quantidade de cidados que se declaram

    pretos e possuem essa escolaridade de 4,7%, os pardos so 5,3% e os bran-

    cos 15%. Ou seja, as pessoas que chegam a compor os conselhos nacionais,

    independente da raa/cor, apresentam em mdia uma escolaridade superior

    mdia nacional. Traando um paralelo com o nvel de escolaridade obser-

    vado no Congresso Nacional, percebe-se que o perfil educacional bastante

    semelhante, dado que 80% dos parlamentares em exerccio em maro de

    2012 possuam pelo menos o nvel superior completo.5

    5 Idem nota 2.

  • Sociologias, Porto Alegre, ano 15, no 32, jan./abr. 2013, p. 112-146

    SOCIOLOGIAS 131

    Tabela 7. Escolaridade dos conselheiros segundo raa

    Raa

    Escolaridade (em %)

    Ensino

    Fundamental

    Ensino

    Mdio

    Superior

    Incompleto

    Superior

    Completo

    Ps-

    graduaoTotal

    Branca 0,6 4,7 3,7 29,1 61,9 100

    Preta3,0 14,1 22,2 29,3 31,4 100

    Amarela0,0 22,2 0,0 44,4 33,4 100

    Parda5,0 14,3 8,4 16,0 56,2 100

    Indgena12,5 20,8 16,7 25,0 25,0 100

    Total 2,0 8,2 7,3 27,1 55,4 100 (n=743)

    Fonte: INSTITUTO DE PESQUISA ECONMICA APLICADA (2012).

    A Tabela 8 indica que a faixa etria predominante nos conselhos de

    forma geral a de 41 a 60 anos, sendo que representantes nessa faixa

    etria ocupam menos de 50% das cadeiras somente nos conselhos de

    garantias de direitos. Se, para permitir maior clareza, observarmos os re-

    presentantes eleitos no congresso nacional (Tabela 9), interessante notar

    que a faixa etria predominante a mesma, ou seja, mais de 60% dos

    parlamentares tem entre 41 e 60 anos e, se considerarmos os represen-

    tantes que possuem mais de 41 anos, a quantidade ultrapassa os 85%.

  • Sociologias, Porto Alegre, ano 15, no 32, jan./abr. 2013, p. 112-146

    SOCIOLOGIAS132

    Tabela 8. Distribuio dos conselheiros por faixa etria segundo o tipo de conselho

    Tipo de conselho

    Faixa Etria (em %)

    Total21 a 30

    anos

    31 a 40

    anos

    41 a 60

    anos

    Mais de 60

    anos

    Polticas

    sociais13,3 17,9 55,8 13,0 100,0

    Garantias

    de direitos

    14,2 29,2 44,2 12,4 100,0

    Desenvolvimento

    Econmico

    3,6 18,6 60,0 17,9 100,0

    Infraestrutura e

    Meio Ambiente

    3,9 13,3 69,1 13,8 100,0

    Total 9,4 18,6 58,0 14,0 100,0

    Fonte: INSTITUTO DE PESQUISA ECONMICA APLICADA (2012).

    Tabela 9. Faixa etria dos parlamentares brasileiros em exerccio em maro de 2012

    Faixa etria (em%)

    31 a 40 anos10,3

    41 a 60 anos60,9

    Mais de 60 anos26,4

    Total100 (n=594)

    Fonte: Elaborao prpria a partir de dados retirados das pginas oficiais da Cmara dos Deputados e do Senado Federal entre 05 e 13 de maro de 2012. Foram consideradas informaes dos deputados e senadores em exerccio no momento da coleta de dados, incluindo, portanto, titulares e suplentes.

    Em relao renda familiar, dentre conselheiros, de forma geral,

    70,4% ganham acima de R$ 4.000,00 e 25,4% recebem acima de R$

  • Sociologias, Porto Alegre, ano 15, no 32, jan./abr. 2013, p. 112-146

    SOCIOLOGIAS 133

    12.000,00. Percebemos uma diferena considervel em relao renda

    familiar mdia no Brasil aferida pelo IBGE, por meio da Pesquisa por Or-

    amentos Familiares, que de R$ 2.763,47. (IBGE, 2010c)

    Tabela 10. Distribuio dos conselheiros por renda familiar mensal segundo o tipo de conselho

    Tipo de conselho

    Renda Familiar (em%) Total

    Abaixo

    de 500

    De 501

    a 1.500

    De

    1.501

    a 2.500

    De

    2.501

    a 4.000

    De

    4.001

    a 8.000

    De

    8.001

    a

    12.000

    Acima

    de

    12.000

    Polticas

    Sociais0,3 5,3 8,0 14,9 28,2 20,1 23,2 100,0

    Garantia de

    Direitos

    7,9 16,7 7,9 17,5 28,9 8,8 12,3 100,0

    Desenvolvimento

    Econmico

    2,2 6,0 7,5 13,4 26,1 14,2 30,6 100,0

    Infraestrutura

    e Meio Ambiente

    0,6 3,3 5,5 9,9 21,0 26,0 33,7 100,0

    Total 1,9 6,6 7,3 13,8 26,2 18,8 25,4 100,0

    Fonte: INSTITUTO DE PESQUISA ECONMICA APLICADA (2012).

    possvel perceber na tabela 10 que, observando os conselheiros

    das diversas reas temticas, 80,7% dos que atuam em conselhos liga-

    dos rea de infraestrutura e meio ambiente possuem renda familiar

    acima de R$ 4.000,00. Um quarto do total de conselheiros dessa rea

    possui renda familiar mdia acima de 12.000,00. Por outro lado, h maior

    diversidade nesse aspecto nos conselhos de garantia de direitos: 32,5%

    recebem como renda familiar at R$ 2.500,00 e 67,5% acima desse valor.

    Pode-se perceber, assim, que nos conselhos estudados a renda alta para

  • Sociologias, Porto Alegre, ano 15, no 32, jan./abr. 2013, p. 112-146

    SOCIOLOGIAS134

    todas as reas temticas, apenas a rea de garantias de direitos apresenta

    uma maior proporo de conselheiros situados nas trs faixas de renda

    abaixo da mdia nacional (32,5%).

    Quando se observa a distribuio da renda familiar de acordo com o

    setor de representao (Tabela 11) nota-se que aproximadamente 25% dos

    conselheiros da sociedade civil recebem abaixo da mdia anteriormente ci-

    tada. J dentre os representantes do poder pblico, menos de 3% declaram

    possuir renda familiar mdia abaixo daquele valor. Observa-se tambm uma

    diferena considervel entre os dois setores em estudo na faixa de renda

    entre R$ 2.501,00 e R$ 4.000,00. Desse ltimo valor at R$ 8.000,00 a

    diviso semelhante, e os que ganham acima de R$ 12.000,00 representam

    mais de 35% do poder pblico e 19% da sociedade civil o que mostra que,

    apesar de a maioria pertencer ao poder pblico, uma quantidade razovel

    de conselheiros da sociedade civil possui uma faixa de renda bastante alta em

    comparao com a renda familiar mdia da populao.

    Tabela 11. Renda familiar dos conselheiros segundo setor de representao

    Tipo de

    conselho

    Renda Familiar em R$ (em%) Total

    Abaixo

    de

    500

    De 501

    a

    1.500

    De 1.501

    a

    2.500

    De 2.501

    a

    4.000

    De 4.001

    a

    8.000

    De 8.001

    a

    12.000

    Acima

    de

    12.000

    Poder

    pblico0,4 0,7 1,8 5,1 29,6 27,0 35,4 100

    Sociedade

    civil2,8 10,2 10,4 18,5 24,6 13,8 19,7 100

    Total 1,9 6,7 7,2 13,6 26,4 18,7 25,5100

    (n=745)

    Fonte: INSTITUTO DE PESQUISA ECONMICA APLICADA (2012).

    Analisando a distribuio dos conselheiros por regio do Brasil (Ta-

    bela 12), possvel perceber que a regio onde reside maior nmero

    de conselheiros a regio Centro Oeste (36,9%), sendo que, dos 276

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    SOCIOLOGIAS 135

    conselheiros que residem nesta regio, 246 so de Braslia. A segunda

    regio com maior proporo de conselheiros a regio Sudeste (28,5%),

    seguida pela regio Nordeste (17,1%) e, por ltimo, regies Sul (10,2%)

    e Norte (7,2%).

    Tabela 12 . Distribuio dos conselheiros por regio do Brasil segundo o tipo de conselho

    Tipo

    de conselho

    Regio de residncia dos conselheiros (em %)

    TotalNorte Nordeste

    Centro-

    OesteSudeste Sul

    Polticas

    Sociais5,5 15,6 35,2 34,9 8,9 100,0

    Garantia

    de Direitos7,9 21,9 43,0 22,8 4,4 100,0

    Desenvolvimento

    Econmico

    8,1 21,3 33,1 23,5 14,0 100,0

    Infraestrutura

    e Meio Ambiente

    9,4 13,5 39,4 24,1 13,5 100,0

    Total 7,2 17,1 36,9 28,5 10,2 100,0

    Fonte: INSTITUTO DE PESQUISA ECONMICA APLICADA (2012).

    A Figura 1 permite uma visualizao melhor da distribuio e das

    concentraes (indicadas pelas diferenas no tamanho dos crculos) dos

    conselheiros no territrio brasileiro de acordo com seus municpios. Nota-

    se que a regio Norte a regio com menor representao. Essa regio

    possui maior representao na rea temtica infraestrutura e meio am-

    biente 9,4%. A maior parte dos conselheiros possui residncia na re-

    gio centro-oeste (36,9%) e sudeste (28,5%).

    Ademais, interessante perceber que a maioria dos conselheiros

    possui residncia em regies litorneas, j que, em geral, as cidades lito-

    rneas so as mais desenvolvidas de suas respectivas regies sobretudo

    as capitais estaduais. A ttulo de ilustrao, a diviso de representantes no

  • Sociologias, Porto Alegre, ano 15, no 32, jan./abr. 2013, p. 112-146

    SOCIOLOGIAS136

    congresso nacional que, diferentemente dos conselhos, determinada

    previamente por lei traz as regies nordeste e sudeste como as que pos-

    suem maior quantidade de parlamentares, ambas com cerca de 30%.As

    regies sul e norte tambm possuem quantidade semelhante, e, ao con-

    trrio dos conselhos nacionais, a regio centro oeste apresenta o menor

    nmero de parlamentares, pouco mais de 8%.6

    Figura 1. Distribuio dos conselheiros por municpio

    Legenda: azul 1 a 10 conselheiros, amarelo 11 a 20, verde 21 a 30, vermelho mais de 30.

    Fonte: INSTITUTO DE PESQUISA ECONMICA APLICADA (2012).

    * O grfico em cores pode ser acessado no documento fonte, disponvel em: < http://www.ipea.gov.br/participacao/images/pdfs/relatoriofinal_perfil_conselhosnacionais.pdf> (Nota da reviso tcnica) 6 Idem nota 2 e 4.

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    SOCIOLOGIAS 137

    Conforme mencionado, a elevada proporo de conselheiros na re-

    gio Centro-Oeste , em larga medida, resultado do fato de que a maior

    parte dos representantes do poder pblico est localizada em Braslia,

    centro poltico-administrativo do pas, e de que a capital tambm sede

    de diversas organizaes da sociedade civil (ONGs, confederaes, sin-

    dicatos, etc.). De modo a ter uma noo mais clara da distribuio dos

    conselheiros por regio, a Tabela 13 traz as percentagens dessa distribui-

    o para a sociedade civil e para o poder pblico. Nesse caso, percebe-se

    que os representantes da sociedade civil esto, em sua maioria, na regio

    Sudeste (39,6%), seguida da regio Nordeste (23,8%).

    Tabela 13. Distribuio dos conselheiros por regio do Brasil segundo o setor de representao

    Setor

    de Representao

    Regio de residncia dos conselheiros

    TotalNorte Nordeste

    Centro-

    OesteSudeste Sul

    Poder

    pblico4,4 5,9 75,1 9,2 5,5 100

    Sociedade

    civil8,8 23,8 14,8 39,6 13,1 100

    Total 7,2 17,2 37,0 28,4 10,3100

    (n=747)

    Fonte: INSTITUTO DE PESQUISA ECONMICA APLICADA (2012).

    A partir dessas informaes, podemos verificar que o perfil social

    dos conselheiros marcado por predominncia do sexo masculino, cor/

    raa branca, renda e escolaridade acima da mdia da populao brasi-

    leira. Em alguns casos, observa-se mesmo a reproduo de determinados

    perfis desiguais da populao brasileira nesses espaos. No entanto,

    importante perceber que, apesar da relativa uniformidade em relao aos

    dados de renda e escolaridade, existem diferenas entre o perfil de alguns

  • Sociologias, Porto Alegre, ano 15, no 32, jan./abr. 2013, p. 112-146

    SOCIOLOGIAS138

    conselhos, como se pode verificar, por exemplo, por meio de maior po-

    tencial de incluso nos conselhos de proteo social, em especial conse-

    lhos de garantias de direitos.

    4 Consideraes finais

    Neste artigo, analisamos como as desigualdades polticas so (ou

    no) reproduzidas em instituies participativas. Para tanto, utilizamos

    dados de um survey com 767 conselheiros de 21 conselhos e 3 comisses

    nacionais de polticas pblicas. A estratgia analtica baseou-se na com-

    parao dos dados em trs nveis: entre tipos de conselheiros (segmentos,

    grupos de representao, etc.), entre grupos de conselhos distribudos em

    reas de temticas de polticas pblicas, e entre os dados de perfil dos

    conselheiros com dados da populao brasileira em geral e dos parla-

    mentares do congresso nacional. As comparaes trataram das dimenses

    de gnero, raa/cor, idade, renda, escolaridade e regio de residncia

    dos conselheiros. A pergunta de pesquisa procurou identificar se, nas di-

    menses citadas, os conselhos nacionais incluem atores tradicionalmente

    excludos do processo poltico por sua situao de desigualdade social e

    poltica. Abaixo, resumimos alguns resultados na anlise.

    Na dimenso de gnero, identificamos que os conselhos nacionais

    so mais inclusivos quando comparados ao congresso nacional, mesmo

    sendo, no geral, compostos por uma maioria masculina. Por outro lado, as

    propores variam de acordo com os tipos de conselhos: as reas temticas

    Garantia de Direitos e Polticas Sociais so aquelas em que a incluso

    de mulheres maior e apresentam distribuio de gnero mais equilibrada;

    enquanto que as reas de Infraestrutura e Meio Ambiente e Desenvolvi-

    mento Econmico apresentam visvel predominncia masculina.

    J na dimenso racial, vemos que os conselhos nacionais reafirmam

    a desigualdade racial existente no Brasil. No geral, os conselhos apresen-

  • Sociologias, Porto Alegre, ano 15, no 32, jan./abr. 2013, p. 112-146

    SOCIOLOGIAS 139

    tam predominncia de pessoas de cor branca (66%), sendo que negros,

    pardos e indgenas continuam sendo minoria nestas instncias de partici-

    pao social. A exceo atribuda aos conselheiros da rea de Garantia

    de Direitos, onde h predominncia de conselheiros no brancos.

    Com relao escolaridade, o perfil dos conselheiros nacionais

    aponta que eles apresentam escolaridade amplamente superior mdia

    nacional 81,9% dos conselheiros com pelo menos ensino superior com-

    pleto, e 55,2% possuem ps-graduao. A alta escolaridade se repete

    entre conselheiros brancos e no brancos, homens e mulheres, e entre

    conselheiros do poder pblico e da sociedade civil. Assim, no que se

    refere ao conhecimento, o perfil dos conselheiros nacionais destoa do da

    mdia da populao brasileira. Caracterstica semelhante encontramos no

    congresso nacional, onde quase totalidade dos parlamentares, 80%, pos-

    sui ensino superior completo.

    Quando se observa a escolaridade e a distribuio de renda, percebe-

    se que 70,4% dos conselheiros tm renda familiar acima de R$ 4.000,00,

    ainda que a mdia da renda familiar brasileira seja de R$ 2.763,47. Ao

    desagregar os dados por setor e raa, percebe-se que a renda mdia de

    conselheiros do poder pblico e dos conselheiros que se declararam bran-

    cos maior do que a renda dos demais conselheiros. No entanto, mesmo

    entre os conselheiros da sociedade civil e os no brancos, seus rendimentos

    so amplamente superiores mdia da populao brasileira.

    Com relao faixa etria, os conselheiros nacionais so predomi-

    nantemente pessoas experientes, com idade acima de 41 anos (72%). A

    alta porcentagem de conselheiros na faixa etria acima de 41 anos coloca

    os conselhos nacionais em situao prxima ao congresso nacional, onde

    os parlamentares pertencem a faixas etrias semelhantes. Os conselhos de

    Garantia de Direitos desviam um pouco dessa regra, na medida em que

    43,4% de seus membros esto compreendidos nas faixas de 21 a 40 anos.

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    SOCIOLOGIAS140

    A concentrao da residncia dos conselheiros na regio Centro-

    Oeste era esperada, j que grande parte dos representantes do poder

    pblico reside no Distrito Federal. Os conselheiros representantes da

    sociedade civil apresentam significativa predominncia de residncia na

    regio sudeste do Brasil (39,6%). Esses dados podem apontar para uma

    desigualdade regional tpica da federao brasileira que tem, ao longo da

    histria, ofertado mais oportunidades s pessoas residentes nas regies

    com maior desenvolvimento econmico.

    Em suma, as interpretaes construdas a partir dos dados aqui apre-

    sentados j so suficientes para revelar um quadro de grande complexi-

    dade no que se refere questo das desigualdades nos conselhos nacio-

    nais. Por um lado, quando observado de forma agregada, o perfil dos

    conselheiros nacionais indica que estes so atores que possuem renda e

    escolaridade substancialmente superiores mdia da populao brasilei-

    ra, sugerindo, assim, algum tipo de representao elitizada da sociedade

    nos espaos de participao. Alm disso, as evidncias sugerem que tem

    se manifestado a reproduo de algumas das desigualdades mais mar-

    cantes na sociedade brasileira. O perfil dos conselheiros marcado por

    predominncias do sexo masculino, da cor branca e de origens regionais

    concentradas nos principais centros econmicos e polticos do pas.

    Por outro lado, a perspectiva agregada esconde diversas situaes e

    experincias que apontam em direo distinta. H considervel variao

    entre os conselhos nacionais quanto ao perfil dos seus conselheiros. Em

    alguns casos, como na rea de garantia de direitos e de polticas sociais,

    os conselhos exibem uma composio mais plural e diversificada, sendo

    mais inclusivos em relao populao que esteve historicamente fora

    dos espaos de poder e deciso: mulheres, negros, menos escolarizados

    e com rendas mais baixas. H inclusive conselhos, como os de Igualda-

    de Racial, Povos e Comunidades Tradicionais, e Direitos da Mulher, nos

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    SOCIOLOGIAS 141

    quais grupos tradicionalmente excludos da poltica (no brancos ou mu-

    lheres) tm participao relativa superior aos demais segmentos.

    Estas informaes indicam claramente avanos no sentido de maior

    incluso poltica e, consequentemente, de reduo de desigualdades.

    Assim, ainda que submetidos a algumas limitaes, conselhos tm opor-

    tunizado arenas polticas de acesso mais ampliado, quando comparadas

    a outros canais de relao poltica entre Estado e sociedade. Portanto, a

    existncia deles e seu contnuo aperfeioamento so portadores de promes-

    sas importantes para o aprofundamento da democracia brasileira. Por fim,

    cabe tambm mencionar que a prpria variao entre os conselhos existen-

    tes pode ser reflexo de outras desigualdades, uma vez que as diferentes vozes

    e demandas sociais tm encontrado menos oportunidades para participar

    de conselhos que abordam temas relacionados ao poder econmico, como

    infraestrutura, meio ambiente e desenvolvimento econmico.

    Reconhecemos que os dados e anlises aqui apresentadas consti-

    tuem uma etapa inicial de investigaes sobre o perfil dos conselheiros

    nacionais e sobre o potencial de incluso dessas instncias. A anlise dos

    dados descritivos precisa ser sucedida por sua associao a outras vari-

    veis de interesse. Esse trabalho foi iniciado no relatrio final da pesquisa

    (Cruxn; Alencar; Lima; Ribeiro, 2013)7, o qual testa relaes entre os

    diversos dados coletados por meio do questionrio e aborda questes

    como representao e efetividade. Assim, por meio desse acmulo gradu-

    al, pretende-se contribuir com as reflexes e desenho de aes voltadas

    para o aprimoramento dos espaos de democracia participava no Brasil.

    7 Disponvel em www.ipea.gov.br/participacao.

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