artigo sobre home care
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Daniella Oliveira Bonomi
A VIABILIDADE DO HOME CARE COMO FERRAMENTA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE
Belo Horizonte
Universidade Gama Filho Fundação UNIMED
2006
DANIELLA OLIVEIRA BONOMI
A VIABILIDADE DO HOME CARE COMO FERRAMENTA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE
Trabalho apresentado ao Curso de Pós-Graduação lato sensu em Auditoria em Saúde da Universidade Gama Filho em parceria com a Fundação Unimed,
Coordenador: Prof. Dr. Fernando Castanheira.
Belo Horizonte Universidade Gama Filho
Fundação UNIMED 2006
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que, de alguma maneira, contribuem para
tornar a minha vida uma busca incessante de realiza ções.
RESUMO
O home care é uma das ferramentas usadas para a promoção da saúde e abrange todos os serviços de saúde prestados aos pacientes em sua residência. Essa modalidade de atendimento tem crescido muito e vem se tornando mais importante nos últimos tempos. O objetivo deste trabalho foi o de demonstrar as vantagens e desvantagens proporcionadas pela utilização do home care. A metodologia utilizada foi uma revisão da literatura baseada em pesquisa bibliográfica, que levou a perceber a importância e os benefícios da promoção de saúde via home care para a comunidade, para o estado e também para as instituições de saúde privada. Palavras-chave: home care, promoção de saúde, vantagens, desvantagens,
hospitais.
ABSTRACT
Home Care is one of the tools for health promotion and encloses all health services for home patients. This attendance modality has grown a lot in recent years, turning out very important day after day. The objective of this work is to demonstrate the advantages and disadvantages of the use of the domiciliary attendance, home care. The used methodology was literary revision based on bibliographical research, that lead us to perceive the importance and the benefits of health promotion through home care for the community, the state and also for the institutions of private health.
Key Words: home care, health promotion, advantages, disadvantages, hospitals
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
1. Gráfico - População idosa no mundo (1960-2020) 18
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 07
1.1 Justificativa 09
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo geral
1.2.2 Objetivos específicos
11
11
11
2. METODOLOGIA 12
3. A PROMOÇÃO DA SAÚDE 13
4. AS TENDÊNCIAS DO SETOR DE SAÚDE 16
5. O ATENDIMENTO DOMICILIAR COMO FERRAMENTA NA
PROMOÇÃO DA SAÚDE
21
5.1 Visita e atendimento domiciliar 34
5.2 Internação domiciliar 35
6. CONCLUSÕES 45
7. REFERÊNCIAS 50
7
1 INTRODUÇÃO
Promover a saúde é necessário. Não se trata de uma ação individual, mas de um
conjunto delas, exercidas contínua e globalmente sobre um indivíduo ou uma
determinada população, com os objetivos de diminuir a morbimortalidade,
propiciar os melhores níveis de crescimento e desenvolvimento físico, intelectual e
emocional, conduzindo essa população a uma vida mais longa, saudável e
produtiva. Essa é a responsabilidade dos agentes participantes desse processo.
Dentre esse conjunto de ações existentes para a promoção da saúde, este
trabalho aborda o home care, que compreende assistência médica abrangente a
todos os serviços médicos e de enfermagem prestados aos pacientes em sua
residência.
Essa modalidade de atendimento tem crescido muito nos últimos tempos,
tornando-se mais importante a cada dia. Os motivos que dão ao home care o
destaque que ele tem recebido são diversos: o envelhecimento da população que
está cada vez atingindo mais altos índices de longevidade e, assim, demandando
mais assistência médica; a necessidade de humanização do atendimento ao
paciente; os resultados que esse tipo de tratamento tem demonstrado, com uma
melhora muito mais rápida do paciente que é tratado em casa, em meio a sua
família; os custos mais baixos demandados pelo home care em relação à
8
internação hospitalar; a disponibilização de leitos nos hospitais; e que este
tratamento possibilita a existência cada vez maior de casos de infecção hospitalar,
dentre outros.
Apesar do aumento na demanda pelo tratamento hospitalar residencial, a maioria
das empresas de saúde no Brasil, assim como muitas pessoas, ainda opta por
atitudes conservadoras de assistência médica exclusivamente ambulatorial ou
hospitalar, porque desconhecem a possibilidade de cura com uma internação
domiciliar, parâmetros, redução dos custos e todos os benefícios que essa
modalidade de assistência à saúde pode trazer.
9
1.1 Justificativa
Os altos custos gerados pelo desenvolvimento de técnicas e uso de materiais de
custos elevados fazem com que o setor de saúde passe por graves problemas
financeiros. Existem dificuldades relacionadas ao atendimento da população,
grandes filas para atendimento básico de saúde, indisponibilidade de leitos para a
população que depende do sistema publico de saúde. No entanto, muitas
empresas privadas têm sua existência ameaçada por não conseguirem custear
todo esse aparato tecnológico que vem sendo incorporado à medicina moderna.
Alem disso, a vida privada e a vida pública compreendem vários significados na
sociedade moderna, suscitando a dificuldade de aceitar o diferente, de
compreender o outro e o novo, de respeitar a singularidade de cada ser humano.
Essas são marcas de uma sociedade massificada, em que todos deveriam ter
resguardada a igualdade, sabendo respeitar as particularidades de cada indivíduo.
São essas e outras marcas que levaram a autora à escolha do tema A
VIABILIDADE DO HOME CARE COMO FERRAMENTA NA PROMOÇÃO DE
SAÚDE, pois, apesar de comprovados os inúmeros benefícios proporcionados
pelo tratamento domiciliar, grande parte das empresas de saúde no Brasil, assim
como a maioria das pessoas e das famílias de pacientes, ainda opta por atitudes
conservadoras de assistência médica exclusivamente ambulatorial ou hospitalar.
Esse fato se dá ora porque desconhecem a possibilidade e a agilidade da cura
10
com uma internação domiciliar, ora porque ignoram seus parâmetros, a redução
dos custos e seus enormes benefícios.
Assim, a escolha desse tema justifica-se pela sua contribuição para avaliação e
divulgação dos benefícios dessa prática não só para a sociedade como para as
próprias empresas de saúde.
11
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo geral
O objetivo deste trabalho é demonstrar as vantagens e desvantagens
proporcionadas pela utilização do atendimento domiciliar – home care – para a
sociedade e para instituições de saúde no País.
1.2.2 Objetivos específicos
1 Identificar as vantagens e desvantagens da utilização do tratamento
domiciliar analisando a viabilidade de sua prática para nossa sociedade.
2 Ressaltar os benefícios que a utilização dessa ferramenta pode contribuir
para a diminuição da demanda de internações em nossa sociedade.
3 Analisar os motivos que levam a não utilização do tratamento domiciliar
pelas instituições de saúde e pela sociedade em geral.
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2. METODOLOGIA
Este trabalho, de acordo com Vergara (2003), caracteriza-se por uma revisão da
literatura (pesquisa bibliográfica) que aborda questões pertinentes à promoção da
saúde, situando o papel do home care nesse tipo de programa.
Para tanto, foram utilizados, na coleta de material abordando a literatura em
questão, artigos científicos publicados e artigos veiculados em internet.
A análise das informações bem como a conclusão desta revisão entrelaça as
questões pertinentes aos benefícios e desvantagens do home care na promoção
de saúde para pacientes e instituições de saúde.
13
3. A PROMOÇÃO DA SAÚDE
A globalização é um fato real e irreversível. Trata-se de uma integração mundial
dos mais diversos setores econômicos e financeiros, que se tornou possível pelo
grande avanço tecnológico que a informatização e as facilidades de comunicação
instantânea propiciaram. Outros fatores que também contribuíram para a
consolidação da tendência globalizante foram mudanças geopolíticas, como a
queda do muro de Berlim, a emergência de novos países, o aumento da demanda
e da expectativa dos consumidores de bens de serviços, bem como o surgimento
de regulamentações exigidas pelo mercado internacional. Embora a globalização
unifique o mundo, uma grande parte da população permanece excluída.
Nesse contexto, de acordo com Hirschfeld e Oguisso (2002), em uma análise de
dados publicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), observa-se um
enorme desequilíbrio nos gastos globais com assistência à saúde, notadamente
entre os países mais industrializados e os em desenvolvimento. Enquanto nos
primeiros o gasto com saúde representa 89% do total, nos países menos
industrializados despende-se apenas 11% em saúde. Entretanto, apenas 16% da
população concentram-se nos países industrializados e 84% nos países em
desenvolvimento. O peso das doenças nos países industrializados representa
apenas 7%, ao passo que, nos países em desenvolvimento, esse peso representa
93%. Portanto, gasta-se muito mais com muito menos pessoas nos países
14
industrializados.
Assim, percebe-se que as sociedades em que as pessoas tiverem senso de
otimismo em relação ao futuro, coesão social e eqüidade terão como resultado
melhor saúde. Nesse aspecto, Wilkinson (1998) afirma que hoje não há mais
dúvidas sobre as evidências de determinantes sociais que afetam a saúde. A
prova disso é que o escritório regional da Organização Mundial da Saúde para a
Europa tem promovido estudos sobre políticas e ações necessárias para orientar
os países da região, de modo a prevenir antes que os males cresçam, pois
reconhece que essas evidências são discutidas apenas entre pesquisadores e
seria preciso aumentar a conscientização das pessoas e estimular e promover as
ações.
A Organização Mundial de Saúde na Europa está trabalhando para promoção da
saúde e, conscientizando a população da necessidade de que tal iniciativa parta
de cada indivíduo na busca de sua própria qualidade de vida.
A promoção de saúde é a busca da melhoria da qualidade de vida do ser humano,
com objetivo de permitir a ele uma vida mais feliz, saudável e longeva.
A saúde pode ser entendida conforme a percepção de Capra, apud Silva e Aguillar
(2002, p. 124), em que se trata da “[...] experiência e bem-estar resultante de um
equilíbrio dinâmico, envolvendo os aspectos físicos e psicológicos do organismo,
15
assim como suas interações com o meio ambiente natural e social”.
Percebe-se, em diversas outras obras da literatura, a abordagem da enfermagem
orientada para a promoção de saúde e assistência integral, não apenas no sentido
de prevenção e cura, mas de melhoria da qualidade de vida.
Dessa forma, o primeiro passo para a promoção da saúde seria conscientizar ou
educar a população, seja essa cliente de instituições de saúde públicas ou
particulares, considerando que a essência da clínica geral é envolver
conhecimentos de biologia, psicologia e ciência social, aliados à experiência,
sabedoria, compaixão e desvelo pelo paciente como ser humano.
16
4. AS TENDENCIAS DO SETOR SAÚDE
Quando se estuda a qualidade de vida, vê-se que se trata de hábitos, costumes,
local em que se vive, práticas, conceitos e condição sócio-econômica. Todos
esses são fatores que interferem na qualidade de vida do indivíduo, podendo ou
não levar a um estilo de vida doentio ou saudável. É impossível ser feliz estando
doente. As doenças se manifestam das mais variadas formas e nos mais variados
locais. Podem estar no corpo físico ou na saúde mental.
Os efeitos da globalização no contexto mundial têm proporcionado diversas
modificações, positivas e negativas, nas mais diversas áreas de nossas vidas.
Assim, também na área da saúde, é necessário que se observem as mudanças
ocorridas nos últimos tempos, bem como as tendências para um planejamento
futuro.
Olhando à volta pode-se perceber claramente que o perfil da saúde da população
está mudando. As estatísticas para um futuro hoje presentes segundo Hense e
Pfeiffer (1993), confirmadas pelo Centro de Documentação do Ministério da Saúde
(1998), apontam que o número de doenças crônico-degenerativas, tanto em
adultos quanto em crianças, tem aumentado.
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O aumento significativo das condições crônicas de saúde tem feito com que um
número maior de famílias passe pela experiência de ter uma criança ou um adulto
doente crônico em sua casa.
O controle cada vez maior de epidemias por meio do avanço das pesquisas em
saúde, de vacinas, saneamento básico e educação, é outra preocupação da
saúde no Brasil e no mundo. Todavia, um outro fenômeno, tem marcado a
tendência da área de saúde com muita ênfase: o aumento da longevidade do ser
humano.
Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde, citada por Gomes e Loures
(2004), o envelhecimento é reconhecido como uma das mais importantes
modificações na estrutura da população mundial. Esta é uma realidade em todos
os países do mundo. Todavia, entre os dotados de menos recursos econômicos e
sociais, como o Brasil, a questão ocasiona maiores problemas, devendo ser
considerada primordial na política, na saúde e na educação.
O Brasil está deixando de ser um país de jovens, tendo-se, entre os fatores
responsáveis, o declínio da natalidade, que, entre 1960 e 1980 diminuiu em 33% e
os avanços da tecnologia médica nos últimos 50 anos, que trouxe a cura para uma
gama de patologias consideradas fatais antigamente. Além disso, a promoção de
saúde via prevenção das doenças e a maior informação sobre as mesmas devem
empurrar a expectativa mundial de vida humana para perto dos cem anos em
18
menos de duas décadas, como mostra o gráfico 1.
Gráfico 1 - População idosa no mundo (1960-2020)
0
10
20
30
40
50
1960 1980 2000 2020
Países Desenvolvidos
Países em Desenvolvimento
Fonte: Jornal Brasileiro de Medicina – JBM, 2004, p.78.
Assim, a atenção ao idoso é um tema que se tornou objeto de preocupação dos
países e da Organização Mundial de Saúde, despertando o interesse das
sociedades e da comunidade mundial para as várias questões relacionadas ao
fenômeno do envelhecimento que decorre, em parte, da diminuição das taxas de
fecundidade e, também, do aumento na esperança de vida das populações.
O Brasil, em especial, de acordo com Duarte (1996), atrai as atenções de
estudiosos do processo de envelhecimento e das questões sociais, econômicas,
políticas e científicas suscitadas pelo fenômeno do envelhecimento em grande
escala. Ainda de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apud
19
Duarte (1996), recentes estudos realizados por demógrafos e epidemiólogos
brasileiros projetam para o ano de 2025 a possibilidade de existirem 33 milhões
882 mil pessoas acima de 60 anos, ou seja, dentro de 19 anos, o País estará
ocupando o 6º lugar no mundo em termos de população idosa. A faixa etária que
mais deve aumentar é a de 70 anos ou mais de idade, o que certamente trará
exigências que produzirão impacto no orçamento das políticas públicas para a
assistência à saúde da população em geral.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (1995), em países desenvolvidos,
pessoas acima de 60 anos estão ativas e são capazes de realizar o autocuidado e
encontram-se menos de 5% incapacitadas por atrofia cerebral irreversível. Nesses
países, a maioria das pessoas inválidas é tratada em casa registrando-se menos
de 5% dos maiores de 60 anos do mundo desenvolvido que estão entregues aos
cuidados das instituições. (DUARTE, 1991).
Para Oren, apud Duarte (1991), todas as pessoas têm o direito e a
responsabilidade de cuidarem de si mesmas para a manutenção de sua saúde e
bem-estar. Assim, para Luce et al. (1991), essas pessoas quando impossibilitadas,
seus familiares têm responsabilidade de prover esses cuidados tanto em crianças
quanto em idosos, contribuindo para a manutenção de sua segurança emocional,
auto-estima e auto-imagem. É um processo que objetiva preservar o
gerenciamento de sua própria saúde com autonomia e independência.
20
O autocuidado como suporte educativo e promotor da saúde já existe como
proposta de assistência desde o surgimento da enfermagem moderna. Ganhou,
contudo, ganhou maior ênfase a partir da Teoria de Oren, cuja premissa básica é
de que o homem tem habilidades inatas para cuidar de si mesmo, e se pode
beneficiar com o cuidado da equipe de saúde quando apresenta limitações
decorrentes da falta de saúde. O autocuidado representa uma forma de
despaternalizar a assistência, tornando-a participativa. (LUCE et al., 1991).
A desospitalização é uma tendência mundial da organização dos serviços de
saúde e possibilita aliviar a carência de leitos hospitalares e melhorar a qualidade
de atendimento por meio da desconcentração dos locais de atendimento.
21
5. O ATENDIMENTO DOMICILIAR COMO FERRAMENTA NA PROM OÇÃO DA
SAÚDE
Home Care ou atendimento domiciliar é um modo inovador de assistência médica,
abrangente a todos os serviços médicos e de enfermagem prestados aos seus
pacientes em sua residência; modalidade que cresce e se torna cada dia mais
importante em razão do envelhecimento da população e da necessidade de
humanização do atendimento.
De acordo com Queiroz e Egry (1983), a assistência domiciliar de enfermagem
tem mostrado a sua eficácia em termos de desenvolvimento global da família no
tocante à saúde, apesar de sua pequena utilização e valorização pelas unidades
de saúde.
O conceito de home care é bem abrangente assim como são os serviços médicos
e de enfermagem prestados aos pacientes em sua residência. Em geral, significa
atendimento ambulatorial ou internação domiciliar (24 horas) por equipe de saúde
especializada.
Fabrício et al. (2004) definem o atendimento domiciliar como um conjunto de
procedimentos hospitalares possíveis de serem realizados na casa do paciente,
abrangendo ações de saúde desenvolvidas por equipe multiprofissional, baseadas
22
em diagnóstico da realidade em que o paciente está inserido, visando à promoção,
a manutenção e a reabilitação da saúde.
Não há muitos registros formais sobre a história da assistência domiciliar no Brasil.
O que mais se encontra são depoimentos de pessoas que viveram ou estão
vivendo o desenvolvimento dessa modalidade. As primeiras atividades
domiciliares desenvolvidas no Brasil aconteceram no século XX, de acordo com
Fabrício et al. (2004), mais precisamente, em 1919, com a criação do serviço de
enfermeiras visitadoras no Rio de Janeiro. Em 1949, foi criado o Serviço de
Assistência Médica Domiciliar e de Urgência (SAMDU), em que os médicos de
plantão saíam em ambulâncias para o atendimento. Nessa época, a demanda era
feita via telefone diretamente aos postos de urgência.
A partir da década de 90, várias outras implantações de serviços de assistência
domiciliar surgiram, sendo implantados em empresas, prefeituras, hospitais
públicos e privados, cooperativas médicas, seguradoras de saúde, medicina de
grupo entre outros.
Em uma pesquisa realizada no México por Martínez, Mávil e Perez (1996), onde
pacientes diabéticos foram submetidos ao tratamento por meio de assistência
domiciliar, foi constatada a eficácia do tratamento domiciliar em diabéticos com
lesões de pele tanto para a taxa de morbidade quanto para os custos do
tratamento. Foi reduzido também o número de hospitalizações e amputações.
23
Esse mesmo estudo, aplicado em um grupo de pacientes no trato de úlceras,
demonstrou uma porcentagem menor de resultados. Todavia, ainda assim, os
pacientes apresentaram lesões mais limitadas.
O movimento de home care surgiu nos Estados Unidos, em 1947, na era do pós-
guerra, quando várias enfermeiras se reuniram e passaram a atender pacientes
em casa. Somente na década de 1960 é que esse movimento tomou mais vulto, e
a idéia da desospitalização precoce começou a ser levada a sério.
Os hospitais viviam cheios, os leitos não eram suficientes, as filas para internação
hospitalar começaram a surgir de todos os lados, a população aumentando cada
vez, muitos doentes de guerras, os idosos estavam ficando mais longevos
precisando cada vez mais de cuidados médicos e de enfermagem e novos
hospitais precisavam ser construídos.
Naquela época, surgiram as Nursing Home até hoje existentes. Seu atendimento é
realizado principalmente por enfermeiras e direcionado para o idoso crônico
terminal. Entretanto, a demanda para atender outros tipos de pacientes, com
diversas patologias, também era grande.
Para evitar que idosos em recuperação ocupassem leitos hospitalares, foram
criadas instituições que se propunham a tratar do paciente em casa e, ao contrário
do que os profissionais imaginavam, em vez de queda, houve um salto de
24
eficiência com esse tipo de tratamento, promovendo-se uma recuperação precoce
do paciente. (SANTOS, 2005).
Começava a surgir embrionariamente uma solução economicamente viável e
criativa para um atendimento alternativo à saúde. No princípio, o sucesso não foi
tão grande, pois os familiares não podiam arcar com os custos dessa internação
hospitalar e que o tornava elitizado demais. À medida, porém, que as seguradoras
e os planos de saúde descobriram este nicho de diminuição de despesas
passaram a estudar as planilhas de custos e a remunerar quase todos os
procedimentos de home care. (MARTINI, 1993).
Na estrutura de atendimento ao doente, o Hospital Samaritano, no início do
século, contratava as enfermeiras inglesas com experiência e prática domiciliares
para cuidar das autoridades da época em suas casas, pois a alta burguesia tinha
grande resistência ao atendimento hospitalar. Apesar do crescimento do
atendimento hospitalar que objetivava proporcionar a melhoria e a cura, a
concentração e manutenção de tecnologia e atendimento especializado num só
lugar aumentaram o custo da internação hospitalar. Assim, tornou-se necessário
repensar o sistema de saúde brasileiro.
De acordo com a Revista Brasileira de Medicina (2000), o gerenciamento
inadequado num hospital causa falha no aprovisionamento de determinado
medicamento. Provoca, ao mesmo tempo, um aumento no custo da assistência ao
25
alargar o tempo de permanência do paciente e exigir uma compra emergencial de
medicamentos, conseqüentemente, uma deterioração da qualidade ao prejudicar
ou adiar o tratamento do paciente e fazê-lo permanecer desnecessariamente no
hospital sujeito a infecções hospitalares.
Um equipamento sem manutenção adequada também atrasa ou impede o
tratamento de determinados pacientes, com reflexos simultâneos sobre o custo do
tratamento e a qualidade da assistência.
Uma alta taxa de infecção hospitalar resulta, ao mesmo tempo, em altos custos e
em má qualidade da assistência hospitalar.
Finalmente, a utilização excessiva ou desnecessária de alta tecnologia certamente
acarreta custos desnecessários, mas também, com freqüência, resulta em queda
na qualidade da assistência prestada.
Dessa forma, em muitos casos, são os mesmos fatores os responsáveis pelos
altos custos e pela baixa qualidade dos serviços de saúde. Eles são, em parte
conseqüência de um gerenciamento ineficiente ou inadequado dos serviços de
saúde e de uma despreocupação, muito comum entre profissionais de saúde, com
o custo dos serviços e sua eficiência. Era comum até pouco tempo atrás ouvirem-
se afirmações como saúde não tem preço. Como a prestação de serviços de
saúde obviamente exige a utilização de recursos, em quantidade vultosa como se
26
vê, essa postura tem levado, muitas vezes, a um custo desnecessariamente alto
da assistência médica. (REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA, 2000).
Uma política esclarecida e planejada de identificação das ineficiências e
desperdícios no processo de produção permitirá ao mesmo tempo reduzir ou
eliminar os custos desnecessários e melhorar a qualidade da assistência médica.
O controle de custos e a busca da qualidade não devem, portanto, ser
considerados como mutuamente exclusivos ou mesmo objetivos concorrentes,
mas, sim, duas facetas do mesmo processo, cada vez mais necessário, de
gerenciamento da assistência médica, que busca encontrar maneiras mais
eficientes e racionais de melhorar e manter a saúde da população.
O atendimento domiciliar vem se dando, progressivamente, por meio do programa
Saúde da Família, mas ainda é preciso corrigir distorções do sistema hospitalar,
agilizando, por exemplo, a liberação do paciente. O aumento da atividade de home
care está em crescimento, não devido à longevidade da população, mas pela
necessidade de desospitalizar a atenção à saúde dessa população.
O cuidado domiciliar, por meio da visita domiciliar, é o principal instrumento para a
prevenção da mortalidade infantil, da mortalidade perinatal, para a prevenção das
doenças crônico-degenerativas e no acompanhamento das pessoas que já
manifestaram tais problemas de saúde.
27
De conformidade com Joint Commission (1997) referente ao home care a saúde
não está no hospital, ela deve estar no lar das pessoas, seja em casas modestas
ou em mansões, em cortiços ou debaixo de viadutos.
Outro ponto fundamental da atividade é a importância da observação dos
princípios éticos e legais e o cumprimento da legislação de modo que se possa
garantir o cuidado prestado com qualidade e, principalmente, com segurança.
Quanto às perspectivas, Hirschfeld (2001) alertou que o Brasil vai precisar cada
vez mais de instrumentos para atender seus idosos fora das instituições
hospitalares, já que não dispõe de leitos, nem recursos financeiros suficientes.
Segundo a mesma autora, existe uma tendência global de aumento da idade da
população nos próximos 20 anos e que, somente no Brasil, essa taxa de
crescimento deverá ser de 200%, e a principal preocupação hoje está nas
diferenças observadas nos processos de envelhecimento ocorridos em diferentes
países: "[...] o mundo desenvolvido enriqueceu antes de envelhecer. E os países
em desenvolvimento estão envelhecendo muito antes de enriquecer."
(HIRSCHFELD, 2001, p. 454).
Durante a Conferência Internacional Panorama Mundial de home care, que
aconteceu nos dias 26 e 27 de novembro de 2001, o secretário da Saúde do
Estado de São Paulo, José da Silva Guedes, declarou que "[...] a expansão do
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home care terá apoio do Governo no processo de implantação e expansão da
modalidade de atendimento domiciliar à saúde e caberá ao Governo disponibilizar
os equipamentos para os tratamentos a serem realizados.”
Ao reconhecer que essa é uma modalidade que cresce e se torna a cada dia mais
importante, em razão do envelhecimento da população e da necessidade de
humanização do atendimento, o secretário ressaltou, ainda, a economia de
recursos gerada com a eliminação ou a redução do tempo de internação dos
doentes.
Para sistematizar o programa Saúde na Família, foram anunciadas, durante a
referida conferencia, as Diretrizes para a Assistência Domiciliar na Atenção Básica
e, posteriormente, seriam publicadas oficialmente pelo Governo Federal em
meados de 2002.
De acordo com Maria Raquel Gomes Maia Pires (2001), assessora técnica da
Coordenação de Qualificação da Atenção Básica da Secretaria de Política do
Ministério da Saúde as diretrizes as discussões serão fundamentais para a
regulamentação do setor de home care no Brasil e acrescentou que as fases para
a implementação e validação do documento pelo Ministério seriam quatro e já se
estaria na última que é a publicação e divulgação do documento final.
Cuidar da saúde do cidadão em sua própria residência aumenta a capacidade de
29
atendimento da rede pública e humaniza o tratamento.
Entre a omissão e as alianças com os setores que fazem das doenças da
população um negócio, assiste-se à redução da qualidade de atendimento aos
pacientes da rede pública e a um processo de abandono dos investimentos.
O significado final dessa crise é a diminuição da capacidade de trabalho, da
qualidade e da expectativa de vida dos brasileiros; as medidas preventivas são
insuficientes, os tratamentos adiados e os cidadãos usuários são submetidos a
condições humilhantes.
As empresas que optam pela valorização da saúde encontram grandes
dificuldades para obter recursos para novos investimentos e para custear os
serviços, e a racionalização do que está disponível surge como alternativa
inevitável.
Os serviços de saúde no Brasil adotam um modelo centrado na doença e no
hospital e são caracterizados pelo gigantismo e o imediatismo. Os serviços são
estruturados de forma a serem prestados em unidades de saúde, transformando a
exigência de melhores serviços de saúde em reivindicação de novos
equipamentos. O cotidiano do sistema de saúde torna-se uma triste combinação
de filas, congestionamento de unidades e gastos enormes de tempo e dinheiro
com a burocracia. Mas é possível prestar serviços de saúde à população, sem que
30
ela, necessariamente, tenha que se locomover até as unidades de saúde ou se
submeter à internação hospitalar. Ao invés de unidades de grande porte,
transfere-se a prestação dos serviços para unidades mais simples e para a própria
residência dos cidadãos.
Apesar das vantagens que a assistência domiciliar apresenta, a sua implantação e
a gestão dos serviços exigem muita atenção. O principal ponto a ser lembrado é
que um sistema de assistência domiciliar, desde o mais simples até o mais
complexo, só pode ser concebido a partir da existência da rede de unidades de
saúde, que funciona como a principal porta de entrada e oferece a retaguarda
hospitalar e ambulatorial para os pacientes.
Para sua implantação, é preciso definir quais são os tipos de serviço viáveis no
município, levando-se em conta as maiores necessidades e as possibilidades da
prefeitura em termos de equipamentos e pessoal.
É importante estabelecer critérios de seleção das regiões ou pacientes a serem
atendidos. É mais vantajoso, por exemplo, implantar serviços de visita domiciliar
nas localidades com maior concentração de população infantil e com menor nível
de renda.
A internação domiciliar é mais aconselhável onde houver maior carência de leitos
públicos. Para a prestação de serviços especializados e a internação domiciliar, é
31
importante observar as condições existentes na residência do paciente, avaliando
se é possível receber cuidados em casa.
Uma vez que a participação ativa dos doentes e familiares é fundamental, não é
possível levar adiante o projeto sem considerar as condições psicológicas e a
disposição da família em seguir a prescrição.
As enfermidades mais freqüentes em home care são aquelas advindas do
progressivo envelhecimento da população, as ditas crônicas como hipertensão
arterial sistêmica, câncer, seqüelas de AVC, doença de Alzenheimer e escleroses.
O home care beneficia uma gama enorme de pacientes crônicos com diversas
patologias. Além das mencionadas acima, estão aqueles pacientes que requerem
nutrição enteral ou parenteral prolongada, diabéticos debilitados, pacientes com
escaras de decúbitos, queimados em recuperação, pacientes pediátricos
prematuros, traqueostomizados ou em tratamentos que exigem antibióticoterapia
endovenosa, casos de tumores malignos em tratamento ou fora de possibilidade
terapêutica curativa entre outras.
Enfim, é cada vez mais crescente o número de pacientes que se beneficiarão com
o home care. E, na medida em que a sofisticação dos aparelhos de telemedicina
se desenvolve com mais rapidez, permitindo que um maior número de pacientes
possam ser monitorizados a distância, outras doenças virão se juntar às já
32
existentes.
Home Care é uma arte que as instituições já a fazem bem. A parte mais específica
e mais difícil é a alta do paciente. Isto acontece quando a equipe, de acordo com o
médico assistente, se retira da casa do paciente e transfere os cuidados para o
próprio paciente ou para familiares. Todos os detalhes devem ser
pormenorizadamente explicados e entendidos pelos cuidadores.
Aqui a resistência dos familiares é significativa e, por isso, faz-se necessária muita
experiência, eficiência e competência por parte das equipes especializadas em
home care, devido à relação dos familiares e, em especial, dos cuidadores do
enfermo com a equipe de atendimento domiciliar, que, muitas vezes assume um
caráter de dependência, e a família costuma recorrer ao serviço por motivos pouco
importantes.
Embora o eixo de toda internação domiciliar seja feito pelo pessoal de
enfermagem, nutrólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas pulmonares,
reabilitadores físicos e psicólogos, cabe ao médico assistente a tarefa de indicar o
momento exato que seu paciente poderá ser transferido do hospital para a
internação domiciliar.
Compete exclusivamente a ele repassar para a chefia de enfermagem da
Instituição de home care toda a sua rotina, os medicamentos, as orientações
33
médicas, além dos exames que ele necessita, quando sejam feitos, e as datas em
que pretende visitar o paciente.
Caberá à enfermeira tomar todas as providências pertinentes, indo à casa do
paciente, conversar com os familiares, providenciar todos os materiais e
equipamentos necessários (cama apropriada, suporte de soros, bombas de
infusão, monitores e oxigênio entre outros) para continuar o tratamento em casa.
Tais equipamentos têm que ser compatíveis com a residência da família, para
tornar o ambiente apropriado e apto para continuar o tratamento do paciente.
Quanto aos serviços, os mais comuns do home care são: internação domiciliar;
serviços de enfermagem; imunização e prevenção de doenças; reabilitação,
serviços de apoio como consulta médica em casa; atendimento de emergência;
remoção e outros. Observa-se, todavia, com base na bibliografia pesquisada, que
muitos dos serviços de assistência domiciliar estão dividindo sua forma de
assistência basicamente em: visita domiciliar, atendimento domiciliar e internação
domiciliar.
34
5.1 Visita e atendimento domiciliar
De acordo com Fabrício et al. (2004), visita domiciliar pode ser entendida como
atendimento realizado por profissional e/ou equipe de saúde na residência do
cliente, com o objetivo de avaliar as necessidades deste, de seus familiares e do
ambiente onde vive, para estabelecer um plano assistencial voltado para a
recuperação.
Por atendimento domiciliar, segundo Fabrício et al. (2004), compreendem-se as
atividades desenvolvidas por profissionais ou equipes de saúde na residência do
cliente para executar procedimentos mais complexos, que exigem formação
técnica para tal.
Também são realizadas orientações para os responsáveis pelo cuidado no
domicílio, e a periodicidade do atendimento é efetuada de acordo com a
complexidade do cuidado requerido.
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5.2 Internação domiciliar
Designar-se-á primordialmente por internação domiciliar todo e qualquer
tratamento multidisciplinar especializado que requeira atendimento 24 h. de equipe
de saúde na casa do paciente. É necessário repassar a idéia que qualquer tipo de
paciente, desde que esteja clinicamente estável, dependente de respirador ou
não, pode ser tratado em casa com relativa simplicidade, dependendo do know-
how de quem coordena o tratamento.
Na internação domiciliar, oferecem-se ao paciente médicos, enfermagem,
fisioterapia, suporte nutricional, exames laboratoriais, exames complementares,
medicamentos, materiais hospitalares e equipamentos médicos como oxigênio,
bombas de infusão, nebulizadores. Além disso, apoio psicológico extensivo à
família, e remoções.
Quase tudo que é feito numa Unidade de Terapia Intensiva, hoje pode ser feito no domicílio devido à alta tecnologia em home care, tais como a nutrição artificial, hidratação, ventilação mecânica, aspiração contínua de secreções, infusões endovenosas e diálises que transformam as residências em verdadeiras enfermarias de hospital. (HIRSCHFELD; OGUISSO, 2002, p. 457).
No home care segue-se rigorosamente as determinações e orientações do médico
assistente, especialmente quanto aos medicamentos e materiais utilizados durante
a internação domiciliar não se interfere na prescrição do médico assistente do
36
paciente. Entretanto, por critérios de segurança, mantêm-se médicos de backup
24 horas, durante os sete dias da semana, que poderão ser acionados.
O home care, por vezes, é complexo e necessita de uma coordenação com
variáveis freqüentes e requer uma equipe multidisciplinar especializada para que
trabalhem de modo integrado, em perfeita coordenação e timing. Para isso, são
necessários profissionais de saúde mais capacitados, pois os casos podem
requerer múltiplas terapias e análises de vários e modernos procedimentos.
Para Fabrício et al. (2004), a permanência de profissionais de enfermagem junto
ao cliente é pré-estabelecida no prazo de seis, doze ou vinte e quatro horas.
Também nessa modalidade de atendimento ocorre orientação ao responsável e
familiares sobre o cuidado do paciente no domicílio.
O programa de internação domiciliar não substitui a hospitalização quando ela é
necessária, mas é um processo de complementação, gerido por uma equipe
técnica e multidisciplinar.
Embora o papel do hospital, ao centralizar o atendimento ao paciente instável é
primordial para o sucesso de seu tratamento, existe uma resistência natural do ser
humano em ser internado.
37
Uma recente pesquisa feita pelos americanos mostrou que 9 entre cada 10
pacientes optariam pelo home care a outro cuidado médico institucionalizado. Isto
reflete que ser tratado em casa é um desejo inato do ser humano.
De conformidade com Ackerman apud Madjarof (1987), a família é a unidade
básica de desenvolvimento e experiência, realização e fracasso, saúde e
enfermidade. É o primeiro grupo a que pertence um indivíduo e onde ele tem a
oportunidade de aprender através de experiências positivas (afeto, estímulo,
apoio, respeito, sentir-se útil) e negativas (frustrações, limites, tristezas, perdas),
todas elas fatores de grande importância para a formação de sua personalidade.
A família é a primeira integradora, e o amor, compreensão, confiança, estímulo e
comunicação, que permeiam a relação, são formas de proteção que utiliza para
facilitar o processo de integração e participação do indivíduo nos diferentes grupos
sociais da comunidade/sociedade.
Cálculos feitos recentemente com planilhas de custos de seguradoras e planos de
saúde revelaram números que, com o paciente em internação domiciliar, a
redução dos custos em certas doenças atinge valores entre 20 e 60%
comparativamente aos custos hospitalares da mesma enfermidade. (SANTOS,
2005).
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Guimarães apud Freitas, Bittencourt e Tavares (2000), considerou que a
internação domiciliar vem sendo adotada como rotina pelas seguradoras e planos
de saúde em atividade no País, por o considerarem um atendimento seguro, de
qualidade e de custo inferior ao da internação hospitalar.
Assim a decisão dos planos de saúde de entrar nesse segmento se
responsabilizando financeiramente pelas despesas, tornou o home care uma
alternativa realista e definitiva. Hoje, a maioria desses planos cobre quase
integralmente os custos de internação domiciliar.
O raciocínio que se segue é que o home care, ao reduzir os custos para as
seguradoras e planos de saúde, poderiam até repassá-los para seus clientes ou
no mínimo, não reajustar suas mensalidades com freqüência e o quantitativo que
costumam fazer.
Na ânsia pela busca contínua de redução dos custos na área de saúde, a
internação domiciliar é vista como uma excepcional alternativa para os planos de
saúde e o Estado. Entretanto, a atenção domiciliar transfere para a família custos
que não incidiriam sobre ela se os pacientes estivessem em hospitais.
É bom para o paciente porque ele é tratado no seu habitat natural, com
atendimento personalizado 24 h., com tudo em volta familiar.
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É bom para a família que não precisa se desestruturar com deslocamentos,
estacionamentos, engarrafamentos, eventuais falta ao trabalho e é gratificante ver
seu parente sendo acompanhado por equipes de profissionais dentro da sua
própria casa e o mais significativo, sem ônus financeiro para a família. Além da
impossibilidade do paciente de contrair uma infecção hospitalar.
Contudo quando eleito um cuidador da família ele pode passar por um processo
de esgotamento progressivo, dentre os quais: dilemas, angústias, dúvidas, medo
por não estar prestando corretamente o cuidado. O fato de não se tratar de tarefa
valorizada socialmente é mais um agravante da situação. Encontraram-se
diferentes níveis de dedicação do cuidador entre as famílias acompanhadas.
Aqueles que se sentem menos valorizados são, geralmente, os mais envolvidos
com os cuidados ao paciente.
Quando não se tem um cuidador da família, muitas vezes, é necessário contratar
um cuidador externo.
É bom para o hospital como já mencionado, pois permite uma maior rotatividade
de seus leitos, abrindo espaço para pacientes instáveis que precisam realmente
de cuidados hospitalares.
A otimização de seus leitos acarretará uma maior margem de lucro pelo fato de o
hospital não precisar elevar o seu efetivo de pessoal, e ainda, permitir capacitá-lo
melhor com treinamentos mais específicos.
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E, finalmente, é muito bom para os planos de saúde cuja principal preocupação
são os custos hospitalares. A fomentação do home care reduzirá as despesas
com internações hospitalares, além do que, determinadas empresas de home care
já prevendo as tendências do futuro da saúde da população mundial, estarem
investindo na área de atendimento domiciliar preventivo, gerando com isso, mais
redução de custos de re-internação.
Infelizmente, muitas empresas de saúde no Brasil, ainda optam por atitudes
conservadoras de assistência médica exclusivamente ambulatorial ou hospitalar,
por ainda desconhecerem o imenso potencial que é investir na medicina
preventiva e o verdadeiro benefício que é a internação domiciliar, ou seja, uma
solução prática, humana e econômica de recuperação do paciente com patologias
crônicas ou seqüelas em sua própria casa.
Abreviam assim, o período de internação em hospitais ou até mesmo, evitam ou
otimizam os recursos hospitalares, permitindo ao paciente reabilitar-se mais
rapidamente por estar no seu ambiente e no convívio familiar Os avanços
tecnológicos, através do aperfeiçoamento de equipamentos e profissionais,
permitem que, cada vez, mais especialidades atendam pelo home care.
A estrutura montada nas residências do paciente, pela empresa de home care,
varia de acordo com a patologia e o grau de complexidade do paciente, sempre
41
visando a sua segurança total.
Sintetizando, pode-se dizer que os benefícios da internação domiciliar são:
- humanização do atendimento tornando o tratamento menos traumático e
exclusivo;
- redução no tempo de recuperação. A reintegração ao ambiente familiar
favorece psicologicamente o paciente reduzindo o tempo de recuperação de
sua saúde;
- redução acentuada nos custos do tratamento variando de 30 a 60% a
menos no valor da internação hospitalar;
- redução no risco de infecção hospitalar;
- redução na taxa de re-internação;
-valorização do leito hospitalar.
A preferência do paciente e da família em ficar em casa ou até morrer em casa e
42
não ir para o hospital é um sentimento que agora se pode respeitar sem remorso
sabendo-se de antemão que terá um tratamento humano, eficiente e digno.
Com os planos de saúde tendo interesse nesta desospitalização precoce, pode vir
a ocorrer no futuro, como já aconteceu no Canadá, país que prima pela medicina
preventiva, o caso de uma cidade teve de fechar um hospital por falta de
pacientes. (JOINT COMMISSION, 1997).
Isso significa que, nos países do primeiro mundo, não existe falta de hospitais. Os
estabelecimentos de saúde devem investir na medicina preventiva e na qualidade
de atendimento das emergências. O foco dos hospitais será o paciente de
emergência.
Já se observam, na internação domiciliar, dados que demonstram uma importante
redução do tempo de doença do paciente, isto é, a recuperação parece ser mais
rápida, pois o atendimento é quase sempre personalizado com um profissional de
enfermagem 24 horas exclusivamente para o paciente. (SILVA, 1998).
Em cima disso e gravitando em torno do paciente, existe uma equipe
multidisciplinar e um ambiente acolhedor que inspira confiança e não temor. E
tudo isso somado, deve influenciar positivamente o sistema imunológico do
paciente, favorecendo uma recuperação mais rápida.
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Um outro lado bem positivo em home care é a ausência de infecção hospitalar,
esta é uma enfermidade que acontece em grande parte dos hospitais e que em
home care é reduzido à zero. A ausência de infecção hospitalar tem efeito
impactante nos custos operacionais dos planos de saúde
Em geral, a própria empresa de home care se encarrega de conseguir a
autorização para a internação domiciliar após o preenchimento da solicitação pelo
médico assistente. No entanto, é de se esperar que, no futuro, ocorra o momento
em que os próprios planos de saúde tomarão a iniciativa de redirecionar os
pacientes internados em hospitais, para a internação domiciliar e não autorizar
intermináveis prorrogações de internação hospitalar.
De posse da autorização de internação domiciliar fornecida pelo plano de saúde
do paciente, promove-se a transferência do paciente para sua casa.
O prontuário médico com os respectivos relatórios e anotações da enfermagem e
dos outros profissionais envolvidos no caso ficam na casa do paciente à
disposição do médico assistente. Em qualquer intercorrência com o paciente, o
médico assistente será prontamente notificado e dará as instruções ou tomará as
medidas que achar oportunas para a resolução do problema e continuação do
tratamento ou até de uma eventual re-internação hospitalar. Normalmente e por
enquanto, os candidatos são principalmente idosos oriundos dos hospitais.
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A internação domiciliar está indicada primordialmente para pacientes estáveis.
Podem estar até graves, desde que estejam com sinais vitais estabilizados. Se, no
decurso da internação domiciliar, passar para a condição de instável, deve-se
prontamente reavaliá-lo para uma possível re-internação hospitalar.
Após a alta do paciente caso necessário, sofisticados equipamentos e sistemas
tecnológicos de monitorização a distância são colocados na casa do paciente para
manter a sua saúde e prevenir recorrências.
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6. CONCLUSÕES
O atendimento domiciliar ou como aqui denominado home care, tem surgido como
resposta às dificuldades assistenciais existentes como falta de leitos nos hospitais
e altos custos dos tratamentos que, muitas vezes, comprometem a qualidade dos
serviços médicos prestados.
Esse novo tipo de atendimento de saúde, de recente implantação, vem ganhando
espaço na promoção de saúde, presta serviço de atendimento e internação
domiciliar, altamente especializado, que tem como objetivo proporcionar um maior
conforto, e segurança ao paciente, na medida em que a recuperação ocorre
dentro da sua própria residência.
O home care beneficia uma gama enorme de pacientes crônicos com diversas
patologias como hipertensão arterial sistêmica, câncer, seqüelas de AVC, doença
de Alzenheimer e escleroses. Beneficia também pacientes que requerem nutrição
enteral ou parenteral prolongada, diabéticos debilitados, pacientes com escaras de
decúbitos, queimados em recuperação, pacientes pediátricos prematuros,
traqueostomizados ou em tratamentos que exigem antibióticoterapia endovenosa,
casos de tumores malignos em tratamento ou fora de possibilidade terapêutica
curativa entre outras.
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Em tais condições, a estrutura de home care oferece uma infra-estrutura de
pessoal e de equipamentos para garantir a mesma assistência que receberia no
hospital, com mais conforto.
No Brasil, ainda são poucas as entidades que realizam esse tipo de trabalho, mas
as experiências relatadas neste trabalho levam a concluir que há uma boa
aceitação junto aos pacientes que já contrataram essa modalidade de serviço
assistencial. Essa modalidade assistencial, sem dúvida será uma boa alternativa
para a limitação da nossa rede hospitalar, cujos leitos poderão ser direcionados
para os pacientes em tratamento de doenças mais complexas, que não
apresentem alternativa de tratamento ou pacientes com quadros emergenciais.
As vantagens do uso do atendimento domiciliar superam suas desvantagens. Para
o financiador da assistência, destaca-se, como benefício, além do conforto para o
paciente que a proximidade dos familiares traz, a redução de custos que são, em
média, 50% inferiores ao tratamento hospitalar convencional.
Os familiares percebem o atendimento em casa como muito melhor para o
paciente, quando o comparam com o tratamento no hospital. Além da segurança e
comodidade para a família, em casa, o paciente pode receber mais carinho e
afeto.
As condições vantajosas da assistência domiciliar, freqüentemente, proporcionam
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uma tendência de que os pacientes apresentem uma recuperação mais rápida. O
conforto psicológico da presença dos familiares pode proporcionar um equilíbrio
com o desconforto gerado pela doença abreviando o tempo de cura.
Outra vantagem que se apresenta para o paciente é eliminar o risco de infecção
hospitalar.
Como já dito, para as estruturas hospitalares, possibilita um maior giro de leitos e
o atendimento de um número maior de pacientes que necessitam de internação
para a cura de doenças mais complexas e de maior risco.
Um aspecto não muito benéfico desse tipo de tratamento é ressaltado por meio da
literatura pesquisada, quando esta chama a atenção para as repercussões do
papel de cuidador sobre a vida de quem o assume. Ele pode passar por um
processo de esgotamento progressivo, dentre os quais, dilemas, angústias,
dúvidas, medo por não estar prestando corretamente o cuidado. O fato de não se
tratar de tarefa valorizada socialmente é mais um agravante da situação.
Encontraram-se diferentes níveis de dedicação do cuidador entre as famílias
acompanhadas. Aqueles que se sentem menos valorizados são, geralmente, os
mais envolvidos com os cuidados ao paciente.
Uma desvantagem é a relação de dependência criada entre os familiares e a
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equipe de atendimento domiciliar, o que faz com que a família se sinta insegura ao
cuidar sozinha do paciente e recorra ao serviço de atendimento domiciliar por
motivos pouco importantes.
Um contraponto negativo são os encargos financeiros que a estadia em casa do
paciente acarreta para a família.
O atendimento domiciliar, por sua vez, ao mesmo em que permite maior
convivência do paciente com seus familiares, acarreta ônus financeiro e desgaste
psicológico e social para a família e em especial, para o cuidador, cumprindo
obrigações que, a princípio, caberiam ao Estado.
Fica claro, então, que o home care como uma complementação do serviço
hospitalar possibilita uma redução do tempo de internação domiciliar, menor risco
de infecções hospitalares, possibilidade de contato permanente com a família,
transição sem trauma do hospital para o domicílio, redução dos custos do
tratamento, possibilidade eventual de manutenção da atividade profissional em
casa, maior conforto e privacidade, o que resulta em menor tempo de cura,
preservação da oferta de leitos hospitalares e redução dos custos assistenciais.
Portanto, a proposta do home care é do atendimento do paciente, cuidando de
doenças que se enquadram em um perfil próprio para tal situação ou dando
continuidade a um tratamento iniciado no hospital, sem que essa proposta
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comprometa ou ponha em risco a integridade do paciente.
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