artigo sobre a yersinia enterocolitica

Upload: le-ma

Post on 30-Oct-2015

279 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 9Importncia de Yersinia enterocolitica emmicrobiologia mdica

    1Departamento de Anlises Clnicas, Toxicolgicas e Bromatolgicas, Faculdade de Cincias Farmacuticas de Ribeiro Preto,Universidade de So Paulo, USP, Ribeiro Preto, SP, Brasil.

    2Departamento de Cincias Biolgicas, Faculdade de Cincias Farmacuticas, Universidade Estadual Paulista, UNESP, Araraquara, SP,Brasil.

    *Autor correspondente: Juliana Pfrimer Falco - Departamento de AnlisesClnicas, Toxicolgicas e Bromatolgicas - Faculdade de CinciasFarmacuticas de Ribeiro Preto - Universidade de So Paulo - USP - Av.do Caf, s/nCEP: 14040-903 - Ribeiro Preto - SP - Brasil. - Telefone: (16)3602-4896 - Fax: (16) 3602-4725 - E-mail: [email protected]

    Recebido 04/09/06 / Aceito 26/09/06

    RESUMO

    Y. enterocolitica um enteropatgeno invasivo dehumanos que provoca uma srie de sintomas clnicosintestinais e extra-intestinais que variam desde umagastrenterite branda a uma linfadenite mesentricaque mimetiza apendicite e em casos raros pode evoluirpara uma septicemia. A infeco causada por Y.enterocolitica pode levar a seqelas imunolgicas,incluindo artrite, eritema nodoso e glomerulonefrite.Amostras patognicas de Y. enterocolitica soassociadas a determinados sorogrupos e biotipos e auma variedade de caractersticas fenotpicasrelacionadas a virulncia. Estudos de genticamolecular demonstraram a importncia do plasmdiopYV que codifica vrios genes de virulncia, bem comoa importncia de vrios genes de virulnciacromossomais na patognese dessa bactria. Asinfeces intestinais causadas por Y. enterocolitica sonormalmente auto-limitadas no havendo usualmentea necessidade de antibioticoterapia. A ocorrncia deinfeces por Y. enterocolitica no Brasil no tofreqente como em pases europeus, Japo e EstadosUnidos. Essa reviso enfoca as caractersticas gerais,a patognese, os sintomas clnicos, mecanismos devirulncia, tratamento e susceptibilidade a antibiticosde amostras de Y. enterocolitica isoladas no Brasil e aoredor do mundo.Palavras-chave: Y. enterocolitica; patognese; sintomas clnicos;virulncia; tratamento e susceptibilidade antimicrobiana.

    INTRODUO

    Bactrias do gnero Yersinia pertencem famliaEnterobacteriaceae. O nome Yersinia foi dado em homena-gem ao bacteriologista francs A. J. Yersin, que isolou pelaprimeira vez, em 1894, o agente da peste. O Comit Inter-nacional de Sistemtica Bacteriana em 1972, incluiu o g-nero Yersinia na famlia Enterobacteriaceae, abrangendoas espcies Yersinia pestis, Yersinia pseudotuberculosis eYersinia enterocolitica (Thal, 1974; Falco, 1976). Essastrs espcies so patognicas para o homem e roedores. Y.pestis causa a praga, Y. pseudotuberculosis a adenite

    mesentrica e septicemia e Y. enterocolitica que, a maisprevalente entre os humanos, causa sobretudo, sndromegastrentestinal variando de enterite aguda a linfadenitemesentrica (Sulakvelidze, 2000; Robins-Browne, 2001;Bockemhl & Wong, 2003).

    Y. pestis geralmente transmitida atravs da pi-cada de pulga infectada pelo sangue de ratos contaminadosque so o reservatrio natural da bactria. Y.pseudotuberculosis e Y. enterocolitica so adquiridas atravsda ingesto de gua e alimentos contaminados. Emboraexista essa diferena na via de infeco, os trs microrganismostm em comum tropismo para os tecidos linfides e capacidadede resistir resposta imune inespecfica do hospedeiro, emparticular fagocitose e morte por macrfagos e leuccitospolimorfonucleares. (Salyers & Whitt, 2002; Carniel, 2003).

    A peste ou praga, causada pela Y. pestis, umadas mais antigas doenas infecciosas conhecidas. Causoutrs pandemias, sendo que na Idade Mdia toda a Europafoi atingida pela doena resultando em pelo menos 25 mi-lhes de vtimas, ou seja, um tero da populao da poca.Praticamente desapareceu da Europa no sculo XIX, em-bora continuasse a ocorrer de forma epidmica em diferentespases, atingindo principalmente os portos, levada pelosnavios (Buttler, 1983, 1994).

    Y. pseudotuberculosis, foi isolada pela primeira vezem 1883, por Mallassez e Vignal, que a denominaram baciloda tuberculose zoogleica, ao observarem o que lhespareceram leses tuberculosas, em cobaios inoculados commaterial purulento de uma criana que havia morrido deuma aparente meningite tuberculosa. Foi denominada Y.pseudotuberculosis por Smith e Thal em 1965. Durante meiosculo aps seu primeiro relato, Y. pseudotuberculosis foiisolada somente de animais, roedores e pssaros, que soseus reservatrios naturais. At a dcada de 1950, apenasdois casos humanos haviam sido relatados, um caso desepticemia em 1909 por Saisawa e um de linfoadenitemesentrica em 1916 por Albrechet. Em 1953, Knapmostrou o envolvimento etiolgico da bactria comlinfadenite mesentrica. Posteriormente, na maioria dospases europeus foram descritos casos de linfadenitemesentrica causados por Y. pseudotuberculosis, bem como,formas extra-intestinais como septicemia, eritema nodoso,febre escarlatiniforme e artrite reativa (Falco, 1976;

    Revista de Cincias Farmacuticas Bsica e Aplicada Journal of Basic and Applied Pharmaceutical Sciences

    Rev. Cinc. Farm. Bsica Apl., v. 27, n.1, p. 9-19, 2006ISSN 1808-4532

  • 10

    Mollaret, 1995). Resultados de estudos realizados em nossolaboratrio, mostraram que no Brasil, at o presente, estabactria foi isolada apenas de animais doentes ou sadios(Martins et al., 1998, 2001).

    A antomo-patologia da infeco por Y. pestis e Y.pseudotuberculosis similar. Y. pseudotuberculosis induzimunidade cruzada contra a Y. pestis. Devignat em 1953,levantou a hiptese de que o aparecimento de Y.pseudotuberculosis na Europa, local onde se originou, foidevida a uma mutao de Y. pestis sugerindo que adisseminao lenta da Y. pseudotuberculosis entre osroedores proveu-lhes imunidade suficiente para eliminar aY. pestis o que dessa maneira evitou o aparecimento dadoena na forma epidmica (Mollaret, 1995). Esta conclusofoi baseada em estudos de hibridizao do DNA quemostraram que as duas bactrias representavam dois tipospatolgicos de um nico microrganismo e tambm pelaobservao que ocorrera uma diminuio considervel decasos de peste na Europa, o que indicava que a populaoestaria vacinada e que os roedores haviam-se tornadoresistentes doena (Achtmann et al., 1999). Entretanto,essa hiptese foi derrubada por uma pesquisa mais recenteonde foi verificado, por tcnicas de tipagem molecular, quena verdade foi Y. pseudotuberculosis que surgiu primeiro edeu origem a Y. pestis (Carniel, 2003).

    Infeces humanas por Y. enterocoliticaapareceram em 1960 em alguns pases europeus comoFrana, Blgica, Holanda, Alemanha e Sua eposteriormente na Sucia, Finlndia, Hungria, etc. Nos anosseguintes, foi identificada fora da Europa, como nos EstadosUnidos em 1965, no Canad e frica do Sul em 1966, noCongo Belga em 1967, no Brasil em 1969, no Japo em1972, no Ir em 1976, entre outros (Mollaret, 1995). Emboraa doena tenha aparecido como nova, os microrganismosisolados dos pacientes no pareciam ser uma nova bactria;de fato, microrganismos classificados anteriormente comoBacterium enterocolitum no identificado ou Pasteurellapseudotuberculosis atpica, foram posteriomenteclassificados como Y. enterocolitica. O primeiro isolamentodessa bactria foi realizado por Schlerfstein & Colemannos Estados Unidos em 1934; desde ento o microrganismofoi isolado na Sua e na Dinamarca antes de ser classificadocomo Yersinia enterocolitica (Falco, 1976).

    Infeces em animais por Y. enterocoliticaapareceram logo aps a descrio da infeco no homem.No perodo compreendido entre 1960 a 1965, criaes dechinchilas em fazendas da Alemanha e Dinamarca foramdizimadas por um grande surto. Concomitantemente, naFrana, Suia e Inglaterra, ocorreram contaminaes emcoelhos. Posteriormente, dados epidemiolgicos mostraramque a infeco ocorria em roedores, na maioria das vezes,na forma subclnica e em sunos e bovinos na forma clnica,sendo os sunos considerados o principal reservatrio dessabactria (Mollaret, 1995).

    Y. enterocolitica albergou at a dcada de 1980um grande nmero de cepas que diferiam bioquimicamentedas amostras tpicas do microrganismo. Essas amostras

    foram denominadas Y. enterocolitica like ou Y.enterocolitica atpicas. Estudos de hibridizao de DNA,inclusive realizados pelo nosso grupo, mostraram queconstituam espcies distintas que foram denominadas Y.intermedia, Y. kristensenii, Y. frederiksenii, Y. aldovae, Y.rodhei, Y. mollaretti , Y. bercovieri e Y. ruckeri (Brenner etal., 1976, Bercovier et al., 1980, Sulakvelidze, 2000;Bochemhl & Wong, 2003). Essas espcies j foramisoladas de alimentos, do meio ambiente e do homem ondepodem causar infeces oportunistas com exceo daY. ruckeri que causa doena em peixes, mas sua taxonomiaainda incerta (Sulakvelidze, 2000; Bochemhl & Wong, 2003).

    No Brasil, infeces por Y. enterocolitica no sorelatadas com a mesma freqncia que em vrios outrospases. Tal fato deve-se, ou a pequena ocorrncia domicrorganismo em nosso pas, ou a no utilizao dastcnicas ideais para isolamento e caracterizao dessabactria. Nosso grupo realizou vrios estudos sobre Y.enterocolitica e outras espcies de Yersina, mostrando seuisolamento a partir de material clnico humano, animal,alimentos e meio ambiente (Pizsolitto et al., 1979; Toledo& Falco, 1980; Falco, 1981, 1987, 1991; Decarlis et al.,1982; Uboldi-Eiroa et al., 1984, 1986, 1988; Landgraf &Falco, 1987; Saridakis et al., 1988; Leite et al., 1988;Perroni et al., 1995; Martins et al., 1998, 2001; Falco etal., 2002, 2004).

    CARACTERSTICAS DO MICRORGANISMO

    Yersinia um pequeno bacilo Gram-negativo,medindo ao redor de 0,5 x 0,8 m de largura por 1 x 3 mde comprimento. Em culturas jovens a 25C predominamformas cocides, em culturas velhas a 37C os bacilos ten-dem ao pleomorfismo. um microrganismo incomum en-tre as enterobactrias por ser psicotrfico tendo a capaci-dade de multiplicar-se em temperaturas variando de 0 a44C, sendo a tima entre 25 a 28C. Resiste bem ao con-gelamento, podendo sobreviver em alimentos congelados. sensvel ao calor, sendo destrudo por pasteurizao a71,8C por 30 segundos. capaz de crescer numa faixa depH variando de 4 a 10, mas o timo ao redor de pH 7,6(Holt e al., 1994; Bochemhl & Wong, 2003).

    A bactria cresce em meio com alta concentraode sais biliares, conseqentemente cultivada com suces-so em meios como gar CIN, gar MacConkey e gar SS.Nesses meios de cultura as colnias so muito pequenas,arredondadas, opacas, incolores, medindo cerca de 1 mmde dimetro (Holt et al., 1994; Bochemhl & Wong, 2003).Em estudos que realizamos foi mostrado a importncia dosmeios de gar MacConkey e gar SS no isolamento deYersinia comparativamente a outros meios de isolamentode enterobactrias como gar SS-desoxicolato, gar Hektoenentrico, Agar EMB e gar XLD (Falco et al., 1979; Fal-co & Shimuzi, 1987). Em gar sangue as colnias no sohemolticas. Em meio lquido, como gua peptonada oucaldo simples, desenvolvem-se de forma abundante. Comexceo de Y. pestis, as outras Yersinias apresentam-se im-

    Y. enterocolitica enteropatognica

  • 11

    veis temperatura de 37C e mveis a 25C por flagelosperitrquios. O microrganismo anaerbio facultativo epossui vias de metabolismo intermedirio (Holt et al., 1994)

    Y. enterocolitica apresenta comportamentoheterogneo frente a diferentes substratos (Falco et al.,1978 b; Holt et al., 1994). Em decorrncia de algumas dessasatividades bioqumicas, pode ser dividida em biotipos designificado clnico e epidemiolgico varivel. Atualmenteexistem cinco biotipos, sendo o biotipo 1 subdividido aindanas biovariedades 1A e 1B. De maneira geral, as variedadespatognicas para o homem e animais enquadram-se nosbiotipos 1B, 2, 3, 4 e 5, enquanto aquelas isoladas do meioambiente enquadram-se no biotipo 1A. (Bottone, 1999;Robins-Browne, 2001)

    O esquema antignico de Y. enterocolitica inclui76 sorogrupos somticos e 44 antgenos flagelares. Noentanto, rotineiramente, utiliza-se, na sorotipagem, s acaracterizao dos antgenos somticos, pois a tipagem dosantgenos flagelares no tem importncia prtica para opropsito de diagnstico em laboratrio de rotina. Ossorogrupos mais relacionados com doenas no homem soo O:3, O:5,27, O:8 e O:9. Esse esquema antignico compartilhado com as outras espcies de Yersinia, excetoY. pseudotuberculosis e Y. pestis (Aleksic et al.,1986).Podem ocorrer reaes cruzadas entre Yersinia e outrosmicrorganismos como Brucella e Salmonella conformerelatado pelo nosso grupo (Falco et al., 1978a; Falco etal., 1980; Lopes & Falco, 1980).

    Y. enterocolitica tambm classificada quanto sensibilidade a diferentes fagos. No esquema parafagotipagem existem nove fagotipos: II, VIII, IX

    a, IXb, XI,

    X, X3, Xz e X0 (Nicolle et al., 1976).H grande correlao entre bio-soro-fagotipos de

    Y. enterocolitica e dessas caractersticas com o tipo dehospedeiro e a regio de isolamento (Robins-Browne,2001). O sorotipo O:3, que encontrado com maiorfreqncia em casos clnicos humanos no Brasil, geralmenteest associado ao biotipo 4 e fagotipo VIII. (Falco, 1981,1987; Perroni, 1995). Esse bio-soro-fagotipo tambm opredominante em vrios outros pases da Europa e no Japo(Robins-Browne, 2001).

    Yersinia enteropatognica susceptvel a um grandenmero de antibiticos e quimioterpicos. H relatos daresistncia a alguns antibiticos -lactmicos comoampicilina, carbenicilina e cefalotina, mas da sensibilidades cefalosporinas de terceira gerao e cefamicinas, aosaminoglicosdeos e ao trimetoprim-sulfametoxazol. Dadosde nossos estudos mostraram resultados similares (Falco etal., 1978c, 2004, 2006). Foram descritas duas diferentesenzimas -lactmicas codificadas por genes cromossomaisem Y. enterocolitica (Bochemhl & Wong, 2003).

    PATOGNESE

    Estudos relatados por Hartland & Robins-Browne(1998) e por Robins-Browne (2001), descrevem a patogeniade Y. enterocolitica. Segundo esses autores, a bactria um

    patgeno invasivo que induz uma resposta inflamatria nostecidos infectados. O leo distal e em particular o tecidolinfide intestinal so os alvos principais da infeco,embora regies intestinais adjacentes e os linfonodosmesentricos sejam tambm envolvidos com freqncia. Y.enterocolitica manifesta tropismo por tecido linfide demaneira similar Y. pestis e Y. pseudotuberculosis. Acapacidade de invaso de Y. enterocolitica mediada pordois genes cromossomais denominados inv e ail e por umgene plasmidial denominado yadA contido no plasmdiode virulncia denominado pYV. Os produtos desses genesde invaso so protenas denominadas invasina (Inv), locusde fixao e invaso (Ail) e adesina de Yersinia (YadA),respectivamente.

    A escassez de dados sobre a patogenia dayersiniose em humanos contrasta com o grande nmero dedescries sobre o comportamento de Y. enterocolitica emmodelos in vivo e in vitro. Estudos com voluntrios noso recomendados pelo risco de seqelas auto-imunes. Poresse motivo, a maioria das informaes sobre a patognesedo microrganismo foi obtida utilizando modelo animalprincipalmente camundongos e coelhos. Embora essesanimais no sejam o hospedeiro natural das sorovariedadesde Y. enterocolitica que infectam o homem, eles permitemelucidar muitos aspectos da patognese da doena humana.Ao estudar-se a patogenia da infeco em camundongosinfectados experimentalmente por via oral, com Y.enterocolitica da sorovariedade O:8, altamente patognica,observa-se que a maioria das bactrias permanecem nolmen intestinal enquanto uma minoria adere ao epitlio damucosa, no mostrando preferncia particular por qualquertipo de clula. As bactrias que invadem o tecido, pelocontrrio, s invadem atravs das clulas M que recobremos folculos linfides intestinais (placas de Peyer). Apspenetrar no epitlio, essa bactria atravessa a membranabasal das placas de Peyer e prolifera no tecido linfide dointestino e na lmina prpria, causando a destruiolocalizada de tecidos, levando formao demicroabscessos. Pode ainda alcanar as microvilosidadesadjacentes e, atravs do sistema linftico, outros locais maisdistantes. Essas leses so constitudas de microcolniasde bactrias, rodeadas por clulas inflamatriasgranulocticas ou mononucleares que ocorremprincipalmente dentro das criptas intestinais podendoextender-se s suas vilosidades, que normalmente so altasno leo, e ficam bastante reduzidas. Ao realizar-se amicroscopia eletrnica do intestino dos animais infectados,observa-se que as bordas escovadas das microvilosidadesapresentam-se desorganizadas ou diminudas,principalmente nas proximidades dos microabscessos(Robins-Browne, 2001).

    Atravs das vias linfticas, a bactria pode alcanaros linfonodos mesentricos, onde tambm produzmicroabscessos. Se a bactria conseguir escapar doslinfonodos e cair na corrente circulatria, alcanar rgosmais distantes, sempre mostrando tropismo por tecidoslinfides, localizando-se preferencialmente no tecido

    Y. enterocolitica enteropatognica

  • 12

    reticulo-endotelial do fgado e do bao (Robins-Browne, 2001).Embora, Y. enterocolitica seja freqentemente

    considerada como um patgeno intracelular facultativodevido sua resistncia inata morte por macrfagos, amaioria das leses histolgicas causadas por essa bactriaso extracelulares. Dessa forma, macrfagos contendo abactria vivel devem exercer um importante papel na suadisseminao atravs corpo do hospedeiro (Robins-Browne, 2001).

    Estudos realizados por nosso grupo sobre ainvasibilidade in vivo de Y. enterocolitica, usando comomodelo a infeco experimental em camundongos,mostraram a capacidade invasora e de causar doena nosanimais infectados com cepas que albergavam fatores devirulncia em detrimento daquelas que no albergavam osmesmos, as quais no eram invasoras e no provocaram doena(Falco et al., 1984; Medeiros et al., 1987; Bauab & Falco,1991).

    MANIFESTAES CLNICAS

    As manifestaes clnicas que podem ocorrer emdecorrncia da infeco por Y. enterocolitica, foramdescritas em vrios trabalhos de Bottone (1981, 1997, 1999)e de Robins-Browne (2001). Essas sndromes estorelacionadas a seguir.

    Manifestaes gastrentestinais

    Enterocolite

    Na infeco aguda, a bactria penetra no tratogastrentestinal aps ingesto de alimentos e/ou guacontaminados. A dose infectante para o homem no perfeitamente conhecida, mas deve estar acima de 104unidades formadoras de colnias (UFC).

    A maioria dos sintomas da infeco por Y.enterocolitica ocorre em crianas, principalmente naquelasabaixo de cinco anos de idade. Nesses pacientes, a yersinioseapresenta-se como diarria, freqentemente acompanhadapor febre baixa e dores abdominais. A caracterizao dadiarria varia de aquosa a mucide, sendo baixa aporcentagem de ocorrncia de fezes sanguinolentas. Adurao da doena tpica varia de poucos dias a trs semanas,embora alguns doentes desenvolvam enterocolite crnicaque pode persistir por vrios meses. Raramente, aenterocolite progride para perfurao ou ulcerao intestinalou para intussuscepo leo-clica, megaclon txico outrombose das veias mesentricas. Crianas com diarriaprovocada por Y. enterocolitica freqentemente queixam-se de dor abdominal e dor de cabea.

    Embora Y. enterocolitica raramente seja isoladade locais extra-intestinais, pode desenvolver-se em qualquertecido. Doenas focais, na ausncia de septicemia evidente,podem apresentar-se como celulite, abscessos subcutneos,piomiosites, linfoadenite supurativa, artrite sptica,

    osteomielite, infeco do trato urinrio, abscessos renais,sinusites, pneumonia, abscessos pulmonares ou empiema.

    Pseudoapendicite

    Yersiniose aguda em crianas acima de cinco anosde idade e em adolescentes apresenta-se freqentementecomo pseudoapendicite. Essa sndrome caracterizada pordor e sensibilidade abdominal no quadrante inferior direito.Tais sintomas normalmente so acompanhados por febre epouca ou nenhuma diarria. A importncia dessa forma dadoena que ela mimetiza um quadro de apendicite. Emaproximadamente 80% desses pacientes, aps alaparotomia, observa-se ilete terminal com ou sem adenitemesentrica e apndice normal ou ligeiramente inflamado.Nesses casos, Y. enterocolitica pode ser isolada do leo distalou dos linfonodos mesentricos, bem como, das fezes. Asndrome pseudoapendicular parece ser mais freqente empacientes infectados por cepas virulentas de Y.enterocolitica, notadamente pelas do biotipo 1B. No entanto,raramente o microrganismo causa apendicite verdadeira.

    A adenite mesentrica pode deixar de serdiagnosticada, pois se a laparotomia no for realizada, di-ficilmente haver um diagnstico correto. Algumas ve-zes os ndulos mesentricos formam uma grande massaque facilmente palpvel, usualmente no quadrante inferi-or direito.

    Septicemia

    Septicemia uma complicao rara da infecocausada por Y. enterocolitica, exceto em pacientesimunocomprometidos ou com excesso de ferro. Algunsfatores que predispem ao desenvolvimento da septicemiapor Yersinia so imunossupresso, discrasia sangnea, mnutrio, insuficincia renal crnica, cirrose, alcoolismo,diabetes melito e excesso de ferro, principalmente naquelespacientes em tratamento com desferroxamina B. O bio-sorogrupo 1B/O:8, de alta virulncia, causa septicemia commaior freqncia.

    Septicemia/bacteremia tambm pode ser oresultado da inoculao direta da bactria durante transfusosangnea. Doadores de sangue com bacteremia subclnicaou de baixo grau, constituem a provvel fonte de infecoadquirida por transfuso. Um pequeno nmero de bactriaspresentes no sangue a ser doado, aumentar durante aestocagem em refrigerao sem que ocorram mudanas naaparncia do sangue. Pacientes transfundidos com sangueou seus derivados contaminados, podem desenvolver ossintomas minutos ou horas aps a exposio, dependendodo nmero de bactria e da quantidade de endotoxinaadministrada com o sangue. Morte por septicemia causadapor Y. enterocolitica ocorre em 30 a 60% dos casos.

    A contaminao do sangue por transfuso no comum, mas quando ocorre, a morbidade e a mortalidadepodem ser significativas. Entre as diferentes espcies de

    Y. enterocolitica enteropatognica

  • 13

    Yersinia, a Y. enterocolitica a mais importante causa debacteremia associada a transfuso e morte (64%).

    Infeces metastticas aps a Septicemia

    A disseminao da Y. enterocolitica atravs dosangue pode levar a vrias infeces metastticas comoabscesso esplnico, heptico e pulmonar, osteomielite,panoftalmite, endocardite, aneurisma mictico, meningite,manifestaes cutneas incluindo celulite, piomiosite,pstulas e leses com bolhas.

    Seqelas auto-imunes

    A yersiniose pode levar tambm a complicaesauto-imunes, embora na maioria das vezes, a doenadesaparea espontaneamente sem deixar seqelas. Ascomplicaes imunolgicas decorrentes de um quadro poryersiniose aguda apresentam uma gama bastante varivel,incluindo artrite reativa, eritema nodoso, iridociclite,glomerulonefrite, miocardite e tireoidite.

    Artrite reativa

    A complicao mais conhecida a artrite reativa.A sinovite caracterstica desta doena resulta, pelos menosem parte, da capacidade da bactria modular seletivamentea resposta do hospedeiro. Nosso grupo demonstrou que Y.enterocolitica provoca ativao policlonal de linfcitosB, que est associada produo de auto-anticorpos(Medeiros et al., 1997; Crespo et al., 2002; Silva et al.,2003; Ramos et al., 2005).

    Essa manifestao da infeco no freqenteantes dos dez anos de idade, ocorrendo principalmente nospases escandinavos, onde prevalecem as cepas do sorotipoO:3 e o antgeno leucocitrio humano HLA-B27. Homense mulheres so afetados igualmente. A artrite aparece deuma a duas semanas, variando de um a 38 dias, aps umquadro de diarria ou de pseudoapendicite. As articulaesenvolvidas com maior freqncia so as dos joelhos,tornozelos, artelhos, tarsais, dedos, pulsos e cotovelos. Aartrite normalmente migratria, isto , as articulaes soafetadas uma aps a outra. Em apenas um entre oitopacientes com artrite, ocorre o envolvimento de uma nicaarticulao. O lquido sinovial, normalmente estril,apresenta um grande nmero de clulas inflamatrias,principalmente polimorfonucleares, contendo comfreqncia antgenos bacterianos. A artrite geralmente duramenos que trs meses e o prognstico em termos dedestruio articular excelente, embora em alguns pacientesos sintomas possam persistir por vrios anos depois doepisdio agudo. Muitos pacientes com artrite tambmapresentam sintomas extra-articulares, como uretrite,inflamao ocular e eritema nodoso.

    Pacientes que desenvolvem artrite reativaapresentam anticorpos contra a bactria em nmeros altose por perodos maiores que pacientes que no

    desenvolveram a doena. Presume-se que bactrias vivaspersistam ocultas por longo perodo, talvez na mucosaintestinal, lanando material antignico continuamente nacirculao sangnea e estimulando a reao imunolgicapersistente que ocorre nesses pacientes.

    Eritema Nodoso

    A infeco intestinal por Y. enterocoliticaocasionalmente acompanhada por uma erupo cutneado tipo mcula-papular no especfica. Em alguns casos, oeritema nodoso ou eritema multiforme desenvolve-se umaa duas semanas aps os sintomas intestinais cessarem.

    Eritema nodoso induzido por Y. enterocoliticaocorre principalmente em mulheres adultas e subsiste porduas a quatro semanas, no sendo associado com o antgenoHLA-B27, embora seja acompanhado com freqncia porartrite.

    Outras Seqelas Auto-Imunes

    Outras complicaes auto-imunes causadas por Y.enterocolitica, relatadas quase que exclusivamente empases escandinavos, incluem a sndrome de Reiter,iridociclite, glomerulonefrite proliferativa aguda e carditetipo reumtica.

    A bactria tambm ligada a distrbios da tireide,inclusive hipertireoidismo de Graves, bcio no txico etireoidite de Hashimoto, embora o papel da Y.enterocolitica nessas condies no esteja comprovado.

    Faringite

    Em adultos, no curso de uma enterite oubacteremia, pode ocorrer faringite como nico quadroclnico, acompanhada ou no por adenopatia cervical. descrito na literatura um surto familiar fatal de faringitepor Y. enterocolitica; neste surto, um dos pacientesapresentava uma forte faringite exudativa com intensaadenopatia cervical, mimetizando uma infecoestreptoccica. Tambm durante um grande surto alimentarpor Y. enterocolitica nos Estados Unidos foi descrita aocorrncia de 14 casos de faringite. A bactria foi isoladada faringe dos pacientes que apresentavam dor de gargantae febre, mas sem enterite, sendo que trs necessitaramhospitalizao.

    Provavelmente o mecanismo de infeco da faringeseja similar ao que ocorre no trato intestinal, onde Y.enterocolitica produz linfadenite nos ndulos mesentricose leocecais, bem como ulcerao e necrose focal de tecidoslinfticos. A afinidade de Y. enterocolitica por tecidoslinfides pode ser aplicada aos tecidos posteriores dafaringe. Dessa maneira, Y. enterocolitica pode serresponsvel por casos espordicos de falsa faringite viral,quando a cultura de material de garganta negativa paraoutros patgenos bacterianos pertinentes. Nosso gruporelatou isolamento de Y. enterocolitica de garganta de um

    Y. enterocolitica enteropatognica

  • 14

    paciente sem sintomatologia intestinal (Toledo & Falco,1980).

    Manifestaes clnicas no Brasil

    No Brasil, a maioria das infeces por Y.enterocolitica apresenta-se na forma de diarria, emboraoutras manifestaes clnicas tenham sido descritas, quasesempre associadas diarria, como anemia falciforme,pneumonia, adenopatia, manifestaes cutneas, artrite etalassemia mas em freqncia muito baixa, conforme relatosde trabalhos de nosso grupo (Falco 1981, 1987; Perroniet al.,1995)

    FATORES DE VIRULNCIA

    Para que Y. enterocolitica possa ocasionardoena, necessita de um conjunto de atributos ou fatoresde virulncia que so codificados tanto por genesplasmidiais contidos no plasmdio de virulncia, pYV,como por genes cromossomais. A expresso dessesdeterminantes de virulncia temperatura-dependente, isto os genes plasmidiais so normalmente expressos a 37Ce os cromossomais usualmente a 25C (Robins-Browne,2001).

    Y. enterocolitica um patgeno muito verstil,com grande habilidade de se adaptar a uma grandevariedade de ambientes, dentro e fora do hospedeiro. Abactria tem acesso a seus hospedeiros atravs da ingestode alimentos ou gua contaminados nos quais cresce at afase estacionria temperatura ambiente (Bottone, 1999).

    Marcadores Cromossomais

    As informaes sobre os genes cromossomais,envolvidos na virulncia de Yersinia no so to precisascomo aquelas envolvidas com os genes plasmidiais. Entreos genes cromossomais que foram identificados e bemcaracterizados esto os relacionados com a sntese delipopolissacardeo (LPS), produo de urease, sntese defmbrias, invaso de clulas eucariticas, produo deenterotoxina e captura de ferro (Carniel,1995).

    Urease

    A urease um determinante de virulncia de vriasbactrias patognicas intestinais, pois facilita sua passagematravs do estmago. A bactria precisa escapar da barreiracida estomacal para causar doena. A tolerncia cidareside no fato de que produzem urease, que catalisa aproduo de amnia a partir da uria, permitindo bactriaresistir a pH to baixo quanto pH 2,5 do estmago (Robins-Browne, 2001).

    Lipopolissacardeo (LPS)

    O lipopolissacardeo (LPS) afetado por

    temperaturas elevadas pois ocorrem alteraes nacomposio de seus acares e cidos graxos a 35-37C.Clulas crescendo a 25C possuem um LPS liso e expressama cadeia completa do antgeno O, enquanto clulascrescendo a 37C so rugosas devido represso da sntesedo lipopolissacardeo. O LPS liso pode estimular avirulncia por aumentar a hidrofobicidade e, dessa maneira,facilitar a passagem da bactria atravs do muco que forrao epitlio intestinal. Por outro lado, o LPS liso por apresentarcadeias alongadas somticas (O), pode ocultar protenas desuperfcie associadas virulncia tais como Ail e YadA,requeridas numa fase tardia da infeco. A represso dasntese do LPS a 37C pode aumentar as chances da bactriasobreviver nos tecidos, permitindo-lhe expor na superfcieseus determinantes de virulncia no perodo apropriado dainfeco (Pierson , 1994).

    Fmbrias

    Y. enterocolitica temperatura de 25C expressafmbrias que participam da aderncia da bactria ao epitliointestinal. As fmbrias so produzidas na superfcie e sodenominadas Myf (mucoide Yersinia fibrillae) porconferirem aspecto mucide s colnias bacterianas que asexpressam. As fmbrias so muito flexveis e semelhantesao fator de colonizao CS3, encontrado em muitas cepashumanas de E. coli enterotoxignica (Carniel, 1995).

    Protena de invaso Inv

    temperatura de 25C, a bactria produz umaprotena de invaso denominada invasina (Inv), que umaprotena de membrana externa de 92 kDa.A invasinatambm pode ser produzida in vitro a 37C quando abactria cresce em pH baixo. Inv confere bactria apropriedade de invadir in vitro clulas HeLa, Hep-2 eHenle 407. A protena Inv quem inicia diretamente apenetrao da bactria na clula alvo, pela ligao areceptores denominados 1integrinas. Em clulas epiteliaisessa interao promove modificao no citoesqueleto,endocitose da bactria e acmulo de aquitina ao redor dovacolo endoctico. Em linfcitos T induz a secreo decitocinas por clulas T-CD4 e citotoxicidade por clulas T-CD8. O gene inv, que codifica Inv, existe no cromossomode todas as Y. enterocolitica, mas funcional apenas emsorovariedades patognicas de Y. enterocolitica, indicandoque a invasina desempenha um papel fundamental navirulncia (Carniel, 1995).

    Protena de Invaso Ail

    Com a adaptao temperatura do hospedeiro, umsegundo fator de adeso produzido a 37C, a protena Ail,de 17kDa, codificada pelo gene cromossomal ail (adhesion/invasion loccus). uma protena de membrana externa, semqualquer homologia com Inv. As cepas avirulentas, isoladas

    Y. enterocolitica enteropatognica

  • 15

    de humanos ou do meio ambiente, no possuem o gene ail. Ograu de invaso in vitro mediada por Ail maior em Y.enterocolitica de alta virulncia que na de baixa virulncia.Ail medeia adicionalmente a resistncia ao efeito bactericidado complemento (Robins-Browne, 2001).

    Captura do Ferro

    O ferro um fator essencial para o crescimento dequase todas as bactrias. A habilidade de Y. enterocoliticade capturar ons ferro um dos principais fatores que asdiferenciam em cepas de alta e baixa virulncia (Baumleret al.,1993). Dois mecanismos so utilizados por Yersiniapara realizar a captura do ferro. Um deles atravs depequenas molculas quelantes de ferro denominadassiderforos e o outro consiste em utilizar as molculas deferro ligadas protena heme (Carniel, 1995). Os siderforosquelam o ferro ligado a protenas eucariticas, transportam-no a receptores especficos na membrana externa bacteriana,liberando-o dentro do citoplasma. Os siderforos podemser sintetizados pela bactria (endgenos) ou utilizados domeio externo (exgenos). Entre os endgenos, oyersiniforo ou yersiniabactina que sintetizado somentepor Y. enterocolitica de alta virulncia (1B/O:8) e codificado no locus do cromossomo que contm os genespara biossntese, transporte e regulao denominado ilhade patogenicidade. Por estar presente apenas nas cepasaltamente patognicas, o locus denominado ilha de altapatogenicidade-HPI, sendo por esse motivo consideradacomo ilha de captura do ferro (Carniel, 2001, 2002). Y.enterocolitica de baixa virulncia produzem o siderforoendgeno aerobactina. Os siderforos exgenos no sosintetizados pela Yersinia mas por outras bactrias ouadquiridos durante a administrao de determinadas drogas,como a ferrioxamina B, de nome comercial Desferal usadasno tratamento de pacientes com excesso de ferro (Carniel,1995).

    Enterotoxinas

    Y. enterocolitica pode secretar uma enterotoxinatermoestvel (Yst ou YstA), codificada pelo gene ystA, cujaporo carboxi-terminal homloga enterotoxina deEscherichia coli enterotoxignica, de Citrobacter freundiie de Vibrio cholera no O1 (Robins-Browne, 2001). A YstA produzida em temperaturas inferiores a 30 oC, portantopode no ser expressa in vivo, mas uma vez que a YstA resistente ao pH cido do estmago, pode causar intoxicaoalimentar quando produzida em alimentos e ingerida pr-formada (Schiemann, 1988). Resultados recentes sugeremque esta toxina tambm pode ser expressa a 37 oC em meiocom alta osmolaridade e pH similares ao do lmen intestinal.O gene ystA restrito s sorovariedades patognicas de Y.enterocolitica. Alm de YstA, foi caracterizada uma outraenterotoxina denominada YstB, codificada pelo gene ystB, queacredita-se tambm estar envolvida como causa de diarria

    (Robins-Browne, 2001).

    Y. enterocolitica pode ainda expressar ou nocaractersticas fenotpicas como atividade da enzimapiraminazidase, hidrlise da esculina e fermentao dasalicina, sendo estas caractersticas relacionadas virulncia(Farmer III et al., 1992). Em trabalhos realizados em nossolaboratrio demonstrou-se a correlao entre a expressodessas caractersticas fenotpicas com cepas patognicas deY. enterocolitica (Bauab et al., 1995; Falco et al., 2004,2006).

    Marcadores Plasmidiais

    Plasmdio pYV e Yops

    Y. enterocolitica patognica possue o plasmdiopYV que responsvel pela produo da invasina YadA ede outras protenas denominadas Yops (Yersinia outerproteins). A secreo das protenas Yops ocorre atravs deuma maquinaria conhecida como Secreo do Tipo IIIusadas por bactrias Gram-negativas para translocarprotenas bacterianas efetoras diretamente no citoplasmada clula eucaritica hospedeira. As Yops descritas em Y.enterocolitica so: YopB, YopD, LcrV, YopQ, YopE, YopH,YopM, YopT, YopO, YopP e YopN (Cornelis, et al.,1998;Cornelis, 2001).

    Os efeitos das Yops efetoras nos macrfagos sode inibio da fagocitose, do burst respiratrio, da produ-o de citocina pr-inflamatria e da apoptose. Nosleuccitos polimorfonucleares provocam resistncia fagocitose e a morte pelos peptdeos antimicrobianos. Nasclulas epiteliais causam citotoxicidade e alterao da res-posta liberao da citocinas (Cornelis, 2001)

    As Yops so produzidas in vitro temperaturade 37 oC e em baixas concentraes do on clcio. Os genesestruturais que codificam vrias dessas protenas, estodistribudos ao longo do plasmdio, em uma regio de 20-Kb, chamada clcio-dependente. Os loci transcricionaischamados lcrA (virA), lcrB (virB), lcrC (virC), lcrF (virF)e lcrG (virG), so os responsveis pelo controle da respostaao clcio e da produo das Yops. O gene virF, codificauma protena denominada VirF em Y. enterocolitica que aprincipal reguladora dessa maquinaria (Cornelis et al, 1998).

    Adesina YadA

    YadA (adesina A de Yersinia) uma protena demembrana externa, produto do gene plasmidial yadA,produzida a 37oC. a mais importante adesina de Yersinia.Induz a adeso da bactria ao muco intestinal, colgeno,laminina e fibronectina. O complexo formado permite aligao a 1integrinas, com conseqente internalizao dabactria por endocitose. YadA tem a importante funo deinibir a reposta imune inata do hospedeiro, conferindoresistncia ao do sistema complemento, comconseqente inibio da fagocitose, alm de inibir o burst

    Y. enterocolitica enteropatognica

  • 16

    respiratrio (Bottone, 1999; Salyers & Whitt, 2002).

    Amostras de Yersinia portadoras do plasmdio devirulncia expressam ainda diversas propriedadesfenotpicas tais como autoaglutinao a 37 oC, aderncia aclulas HEp-2, absoro do corante Vermelho Congo,dependncia ao clcio a 37 oC, entre outras. Correlacionandoa presena de plasmdio com essas caractersticasfenotpicas, tem-se um conjunto de dados para definir apatogenicidade de Yersinia e a capacidade do microrganismocausar doenas no homem e animais (Farmer III, 1992;Robins-Browne, 2001).

    Nosso grupo pesquisou a ocorrncia de marcadoresde virulncia em amostras de Y. enterocolitica do bio-sorotipo 4/O:3 isoladas de material clnico de humanos eanimais, bem como, a presena desses marcadores emamostras isoladas do ambiente (biotipo 1A, 2 e 3) e dealimentos (biotipos 1A e 2), provenientes de vrios estadose regies do Brasil ( Falco et al., 2003a, 2003b, 2004,2006). Foi observada em todas as amostras de origemhumana e animal a presena dos genes de virulnciacromossomais inv, ail e ystA. A presena do gene plasmidialvirF nessas amostras foi varivel. Ademais, todas asamostras de origem clnica apresentaram comportamentorelacionado virulncia frente aos testes de fermentaoda salicina, hidrlise da esculina e atividade dapirazinamidase e, diferentemente, comportamento varivelfrente aos testes de autoaglutinao a 37oC, absoro docorante Vermelho Congo e dependncia ao clcio,relacionados a expresso do plasmdio pYV. Em contraste,apesar de todas as amostras isoladas de alimentos teremapresentado o gene inv, o que era esperado uma vez queesse gene comum amostras patognicas e no-patognicas, os genes ail e ystA foram detectados em apenasduas das amostras de alimentos estudadas (5,7%).Interessante mencionar que uma dessas amostras foibiotipada como 1A, o qual foi considerado, por muitotempo, apenas como um biotipo no-patognico (Falco etal., 2006). Entretanto, a presena de alguns genes devirulncia em amostras desse biotipo confirmam outrosrelatos que consideram o biotipo 1A no to inofensivoquanto se acreditava (Grant et al., 1998; Tennant et al. 2003).As amostras de origem ambiental relacionadas a bio-sorogrupos patognicos, 2/0: 5,27 e 3/0: 5,27, tambmapresentaram os mesmos marcadores e caractersticasrelacionados a virulncia acima citados (Falco et al., 2004).

    TRATAMENTO E SUSCEPTIBILIDADE A ANTIBITICOS

    Infeces intestinais por Y. enterocolitica so nor-malmente autolimitadas e no necessitam de tratamentoespecfico com antimicrobianos. Em pacientesimunocomprometidos, a enterite pode ser tratadaprofilaticamente. Nesses pacientes recomendado a admi-nistrao oral de doxiciclina ou trimetoprim-sulfametoxazol, bem como, para pacientes com outrascomplicaes gastrentestinais e infeces extraintestinais

    em geral (Bockemhl & Wong, 2003).Os padres de resistncia a drogas de Y.

    enterocolitica so sorogrupos especficos e so governadosem parte pela produo de duas lactamases produzidas porgenes cromossomais e designadas -lactamases A e B. Estas-lactamases so produzidas principalmente nas amostrasdos sorogrupos O:3 e O:9 e so as responsveis pelaresistncia penicilina, ampicilina, cefalotina e carbenicilina(Bochemhl & Wong, 2003).

    Y. enterocolitica O:8 susceptvel ampicilina masapresenta resistncia varivel carbenicilina e cefalotina.Amostras O:8, assim como amostras do biotipo 1B,produzem predominantemente -lactamases do tipo A(Stock et al., 2000). A atividade antibacteriana in vitro noreflete necessariamente a eficcia da atividadeantimicrobiana in vivo. Clinicamente, a administrao decefalosporinas de amplo espectro, frequentemente, feitaem combinao com aminoglicosdeos e isso resulta emcura na maioria dos casos de pacientes com infecesextraintestinais, incluindo septicemia (Bottone, 1997).Fluoroquinolonas (ciprofloxacina) e cefalosporinas deamplo espectro, como cefotaxima e ceftriaxone podem serconsideradas os agentes antimicrobianos mais efetivos parao tratamento da infeco por Y. enterocolitica O:3(Rastawicki et al., 2000).

    Resultados de nossas pesquisas mostraram que amaioria das amostras de Y. enterocolitica estudadas,independente de terem sido isoladas de fezes diarricashumanas, animais, alimentos ou do meio ambiente, foramresistentes ao menos ampicilina e cefalotina (Falco et al.,2004, 2006). Esses resultados, concordam com os obtidosem outros estudos, onde foi observado, com freqncia,resistncia a ampicilina e a muitas cefalosporinas (Tzelepi etal., 1999; Stock et al., 2000; White et al., 2002).

    CONSIDERAES FINAIS

    A doena causada por Y. enterocolitica apresentauma grande variedade de caractersticas clnicas, podendoresultar em infeces agudas e/ou complicaes auto-imunes. Embora a maioria das infeces sintomticas re-sultem em diarria no-especfica e autolimitante, ayersiniose pode levar a complicaes suporativas e auto-imu-nes. O risco dessas complicaes determinado, princi-palmente, pelos fatores do hospedeiro, em particular idade eestado imunolgico.

    Na infeco por Y. enterocolica ocorre uma relaoprimorosamente afinada, regulada pela temperatura, entreas caractersticas de virulncia da bactria. Para provocarinfeco o microrganismo precisa em primeiro lugar adaptarseus antgenos de superfcie codificados a 25C pararesistirem ao aumento de temperatura que encontrada noorganismo do hospedeiro. Como ingerida normalmente partir de uma fonte alimentar fria como leite, alimentos noaquecidos ou gua, Y. enterocolitica virulenta utilizadeterminantes mediados por genes cromossomais, expressosa baixas temperaturas para estabelecer a colonizao. A

    Y. enterocolitica enteropatognica

  • 17

    aclimatao temperatura das clulas dos mamferos, resultano aparecimento de alguns outros determinantescromossomais e de vrios determinantes plasmidiais queso gradualmente expressos para contrabalanar osmecanismos de defesa do hospedeiro como, por exemplo,a fagocitose e a morte intracelular. O ciclo quente-frio datransmisso da Y. enterocolitica se completa quando osmicroabscessos das criptas intestinais se rompem,possibilitando bactria ter acesso novamente ao meioambiente atravs das fezes, contaminando alimentos e gua.

    Enfatiza-se a importncia da utilizao de tcnicasadequadas para o isolamento da bactria em nosso pas,onde Yersinia enterocolitica ainda pouco conhecida ecaracterizada.

    ABSTRACT

    Importance of Yersinia enterocolitica in medicalmicrobiology

    Y. enterocolitica is a human invasive enteropathogenwhich causes a number of intestinal and extraintestinalclinical symptoms of various degrees of severity, rangingfrom mild gastroenteritis to mesenteric lymphadenitis,which mimics appendicitis and in rare cases can evolveto septicemia. Infection by Y. enterocolitica can also leadto post-infection immunological sequelae includingarthritis, erythema nodosum and glomerulonephritis.Pathogenic Y. enterocolitica strains have traditionallybeen linked to specific biotypes and serogroups andassociated to a variety of phenotypic characteristicsrelated to virulence. Molecular genetics studies havepointed to the importance of the pYV virulence plasmid,which encodes various virulence genes, as well that ofspecific chromosomal virulence genes, in determiningthe pathogenesis of this bacterium. Intestinal infectionsby Y. enterocolitica are mostly self-limiting and usuallydo not need an antibiotic treatment. The occurrence ofthis microorganism is not as frequently described inBrazil as it is in other countries, such as Japan, USAand many European countries. This review focuses onthe general characteristics, pathogenesis, clinicalsymptoms, virulence characteristics, treatment andantibiotic susceptibility of Yersinia enterocolitica strainsisolated in Brazil and around the world.Keywords: Y. enterocolitica; pathogenesis; clinicalsymptoms; virulence; treatment and antibiotic susceptibility.

    Carniel E. Yersinia pestis, the cause of plague, is a recetlyemerged clone of Yersinia pseudotuberculosis. Proc NatlAcad Sci USA 1999;96:14043-8.Aleksic S, Bockemhl J, Lange F. Studies on the serologyand flagelar antigens of Yersinia enterocolitica and relatedspecies. Zentralbl Bakteriol Mikrobiol Hyg A 1986;261:299-310.Bauab TM, Falco DP. Experimental infection of mice withYersinia strains bearing or not bearing the virulence-associated plasmid. Contrib Microbiol Immunol1991;12:144-55.Bauab TM, Correa EF, Falco DP. Evaluation of differenttechniques used for the diferentiation of pathogenic andnon pathogenic strains of Yersinia enterocolitica. ResMicrobiol 1995;26:106-11.Baumler RA, Koelenil R, Stojiljkovic I, Heesemann J,Braun V, Hantke K. Survey of newly characterized ironuptake systems of Yersinia enterocolitica. ZentralblBakteriol 1993;278:416-24.Bercovier H, Mollaret HH, Alonso JM, Brault J, FanningGR, Steirwalt AG, Brenner DJ. Characterization of Yersiniaenterocolitica sensu stricto. Curr Microbiol 1980;4:201-6.Bockemhl J, Wong JD. Yersinia. In: Murray PC. et. al.(eds.). Manual of clinical microbiology. 8th.ed. Washington,DC: ASM Press; 2003. p.672-83Bottone EJ. Yersinia enterocolitica. Boca Raton: CRC Press;1981. 224p.Bottone EJ. Yersinia enterocolitica: the charisma continues.Clin Microbiol Rev 1997;10:257-76.Bottone EJ. Yersinia enterocolitica: overwiew andepidemiologic correlates. Microbes Infect 1999;1:323-33.Brenner DJ, Steigerwalt AG, Falco DP, Weaver RE,Fanning GR. Characterization of Yersinia enterocolitica andYersinia pseudotuberculosis by deoxyribonucleic acidhybridization and by biochemical reactions. Int J SystBacteriol 1976;26:180-94.Butler T. Plague an other Yersinia infections. New York:Plenum Press; 1983. 220p.Butler T. Yersinia infections: centenial of the discovery ofthe plaque bacillus. Clin Infect Dis 1994;19:655-63.Carniel E. Chromosomal virulence factors of Yersinia: naupdate. Contrib Microbiol Immumol 1995;13:218-24.Carniel E. Evolution of pathogenic Yersinia, some lights inthe dark. Adv Exp Med Biol 2003;529:3-12.Carniel E. Plasmids and pathogenicity islands of Yersinia.Curr Top Microbiol Immunol 2002;264:89-108.Carniel E. The Yersinia high pathogenic island: an ironuptake island. Microbes Infect 2001;3:561-9.Cornelis GR. The Yersinia YSC-Yop type III weaponry.Nat Rev Mol Cell Biol 2001;3:742-52.

    Y. enterocolitica enteropatognica

    REFERNCIAS

    Achtman M, Zurth K, Morelli C, Torrea G, Guiyoule A,

  • 18

    Cornelis GR. et. al. The virulence plasmid of Yersinia, anantihost genome. Microbiol Mol Biol Rev 1998;62:1315-52.Crespo AMC, Falco DP, Araujo PMF, Medeiros BMM.Effects of Yersinia enterocolitica O:3 derivatives on Blymphocytes activation in vivo. Microbiol Immunol2002;46:95-100.Decarlis MRST, Falco DP, Maffei HVL, Pavan C. Yersiniaenterocolitica isolada de criana com diarria crnica, emBotucatu-SP. Rev Microbiol 1982;13:50-2.Falco DP. Estudos sobre as espcies Yersinia enterocoliticae Yersinia pseudotuberculosis. [Tese] Araraquara: Facul-dade de Farmcia e Odontologia, UNESP, 1976.Falco DP. Occurrence of Yersinia spp. in foods in Brazil.Int J Food Microbiol 1991;14:179-82.Falco DP. Prsence de Yersinia enterocolitica et Yersiniapseudotuberculosis en Amrique Latine. Rev Microbiol1981;12:5-10.Falco DP. Yesiniosis in Brazil: summary of the datareceived at the reference laboratory for Yersinia in Brazil.Contrib Microbiol Immunol 1987;9:68-75.Falco DP, Corra EF, Falco JP Yersinia spp. in theenvironment: epidemiology and virulence characteristics.Adv Exp Med Biol 2003a;529:341-3.Falco DP, Ewing WH, Britt LE. Relaes antignicas entreYersinia enterocolitica e Yersinia pseudotuberculosis comoutras enterobactrias. Rev Microbiol 1978a;9:18-23.Falco DP, Ewing WH, Davis BR, Hermann GJ.Caracterizao bioqumica de Yersinia enterocolitica eYersinia pseudotuberculosis. Rev Microbiol 1978b;9:100-21.Falco DP, Ewing WH, Dowell Jr VR. Culturalcharacteristics of Y.enterocolitica and Y. pseudotuberculosisin differential media. Contr Microbiol Immunol 1979;5:88-94.Falco DP, Farmer III JJ, Dowell Jr. VR. Distino entreYersinia enterocolitica e Yersinia pseudotuberculosis frentea antibiticos e quimioterpicos. Rev Microbiol 1978c;9:71-3Falco DP, Giorgi W, Imbriani EM, Sentome EHT, PincettaLA. Yersinia enterocolitica: inqurito sorolgico em suinos.Biolgico 1980;46:281-308.Falco DP, Shimizu MT. Avaliao de tcnicas de isolamentode Yersinia enterocolitica a partir de fezes de camundongosinfectados experimentalmente. Rev Microbiol 1987;18:324-9.Falco DP, Shimizu MT, Trabulsi LR Kinetics of infectioninduced by Yersinia. Curr Microbiol 1984;11:303-11.Falco JP, Brocchi M, Proena-Mdena JL, Acrani GO,Corra EF, Falco DP. Virulence characteristics andepidemiology of Yersinia enterocolitica and Yersiniae otherthan Y. pseudotuberculosis and Y. pestis isolated from water

    and sewage. J Appl Microbiol 2004;96:1230-6.Falco JP, Dias AMG, Correa EF, Falco DP.Microbiological quality of ice used to refrigerate foods.Food Microbiol 2002;19:269-76.Falco JP, Falco DP, Corra EF, Brocchi M. A virulencestudy of Yersinia enterocolitica O:3 isolated from sickhumans and animals in Brazil. Adv Exp Med Biol2003b;529:317-9.Falco JP, Falco DP, Pitombo-Silva A, Malaspina AC,Brocchi M. Molecular typing and virulence markers ofYersinia enterocolitica strains from human, animal and foodorigins isolated between 1968 and 2000 in Brazil. J MedMicrobiol 2006;55;1539-48.Farmer III JJ, Cater GP, Miller VL, Falkow S, WachsmuthIK. Pyrazinamidase CR MOX agar, salicin fermentation-esculin hydrolisis, and D-xylose fermentation for identifyingpathogenic serotipes of Yersinia enterocolitica. J ClinMicrobiol 1992;30:2589-94.Grant T, Bennett-Wood V, Rovins-Browne RM.Identification of virulence-associated characteristics inclinical isolates of Yersinia enterocolitica lacking classicalvirulence markers. Infect Immun 1998;66:1113-20.Hartland EL, Robins-Browne RM. Infections withenteropathogenic Yersinia species: paradigms of bacterialpathogenesis. Rev Med Microbiol 1998;9:191-205.Holt JG, Krieg NR, Sneath PHA, Staley JT, Williiams ST.Bergeys manual of determinative bacteriology. 9th.ed.Baltimore: Willians and Wilkins; 1994. p.189Landgraf M, Falco DP. Isolamento de Yersinia sp em ali-mentos diversos. Rev Microbiol 1987;18:93-7.Leite CQF, Valentini SR, Falco DP. Pesquisa deenteropatgenos em alimentos crneos crs. Cinc TecnolAliment 1988;8:155-68.Lopes MA, Falco DP. Aglutininas anti-Yersiniaenterocolitica e anti-Yersinia pseudotuberculosis em soroshumanos. Rev Microbiol 1980;11:34-40.Martins CHG, Bauab TM, Falco DP. Characteristics ofYersinia pseudotuberculosis isolated from animals in Brazil.J Appl Microbiol 1998;85:703-7.Martins CHG, Corra EF, Falco DP. Epidemiologia daYersinia pseudotuberculosis no Brasil. Rev Cinc Farm2001;22:57-66.Medeiros BMM, Costa AM, Arajo PMF, Falco DP.Association between polyclonal B cell activation and thepresence of autoantibodies in mice infected with Yersiniaenterocolitica O3. Braz J Med Biol Res 1997;30:401-5.Medeiros BMM, Shimizu MT, Falco DP. Perodo deinfectividade de animais inoculados experimetnalmente comYersinia sp. Rev Saude Publica 1987;21:261-4.Mollaret HH. Fifteen centuries of Yersiniosis. ContribMicrobiol Immun 1995;13:1-4.

    Y. enterocolitica enteropatognica

  • 19

    Nicolle P, Mollaret HH, Brault J. Nouveaux rsultats sur lalysotypie de Yersinia enterocolitica portant sir plus de 4000souches dorigine diverse. Rev Epidemiol Sant Publique1976;24:479-96.Perroni VRS et al. Epidemiology and pathogenicity ofYersinia enterocolitica O:3 isolated at a University Hospitalin Brazil. Contrib Microbiol Immun 1995;13:39-42.Pierson DE. Mutations affecting lipopolysaccharideenhance ail-mediated entry of Yersinia enterocolitica intomamalian cells. J Bacteriol 1994;176:4043-51.Pizsolitto AC, Falco DP, Shimizu MT, Galvo SHM,Giraldini W. The first isolation of human Yersiniaenterocolitica in Brazil. Contr Microbiol Immunol1979;5:169-75.Ramos OP, Silva EEC, Falco DP, Medeiros BMM.Production of autoantibodies associated with polyclonalactivation in Yersinia enterocolitica O;8 infected mice.Microbiol Immunol 2005;49:129-37.Rastawicki W, Gierczynski R, Jagielski M, Kulazewiski S,Jeljaszewicz J. Susceptibility of Polish clinical strains ofYersinia enterocolitica serotype O:3 to antibiotics. Int JAntimicrob Agents 2000;13:297-300.RobinsBrowne RM. Yersinia enterocolitica. In: Doyle PM,Beuchat LR, Motville TJ, editors. Food microbiology. BocaRaton: ASM Press; 2001. p.215-45.Salyers AA, Whitt DD. Yersinia pestis, the cause of plagueand its relatives. In: Salyers AA, Whitt DD. Bacterialpathogenesis. Washington, DC: ASM Press; 2002. p.202-215Saridakis HO, Ferreira AJP, Pelayo JS, Falco DP. Isola-mento de Yersinia pseudotuberculosis de bezerros, na re-gio de Londrina, Paran, Brasil. Rev Microbiol 1988;19:12-3.Scheimann DA. Examination of enterotoxin production atlow temperatures by Yersinia enterocolitica in culture mediaand foods. J Food Prot 1988;51:571-3.Silva EEC, Ramos OP, Bauab TM, Falco DP, MedeirosBMM. Yersinia enterocolitica O:3 isolated from patients

    with or without reactive arthritis induces policlonalactivation of B cells and autoantibody production in vivo.Autoimmunity 2003;36:261-8.Stock I, Husig P, Wiedemann B. Beta lactamase expressionin Y.enterocolitica biovars 1 A, 1 B and 3. J Med Microbiol2000;49:403-8.Sulakvelidze A. Yersinia other than Y. enterocolitica, Y.pseudotuberculosis. and Yersinia pestis: the ignored species.Microbes Infect 2000;2:497-513.Tennant SM, Grant THA, Robins-Browne RM.Pathogenicity of Y. enterocolitica biotype 1 A. FEMSImmunol Med Microbiol 2003;38:127-37.Thal E. Genus Yersinia. Veterinrmedizenische bedeutungund bakteriologische diagnostik. Berl Mnch TierrztlWochenschr 1974;87:212-4.Toledo MRF, Falco DP. Yersinia enterocoliticafermentadora rpida de lactose isolamento partir de ma-terial de garganta. Rev Microbiol 1980;11:136-7.Tzelepi E, Arvanitidou M, Mavroidi A, Tsakris A. Antibioticsusceptibilites of Yersinia enterocolitica and Y. intermediaisolates from aquatic environments. J Med Microbiol1999;48:157-60.Uboldi-Eiroa MN, Cullen BT, Falco DP, Leito MFF.Yersinia enterocolitica e Yersinia atpica em leite cr epasteurizado. Coletanea do ITAL 1984;14:27-37.Uboldi-Eiroa MN, Falco DP, Cullen BT, Stfano ER. Pes-quisa de Yersinia em queijo-de-Minas frescalcomercializado na regio de Campinas. Bol ITAL1986;23:271-83.Uboldi-Eiroa MN, Falco DP, Taniwaki MN, Silveira NFA.Pesquisa de Yersinia sp em linguias frescascomercializadas na regio de Campinas. Coletanea ITAL1988;18:134-9.White DG, Zhao S, Simjee S. Wagner DD, McDermott PF.Antimicrobial resistance of foodborne pathogens. MicrobesInfect 2002;4:405-12.

    Y. enterocolitica enteropatognica