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O texto discorre sobre o papel da defensoria pública como instrumento de proteção aosdireitos humanos, notadamente o acesso à justiça dos necessitados. Tece comentários sobre a LeiComplementar Estadual n.° 988/2006, que criou uma instituição jurídica com diversas formas departicipação social e, mostra que isso é resultado da grande presença da sociedade civil organizadaquando da postulação da criação da Defensoria Pública. Esta participação social garantiu intensainteração entre Defensoria Pública e Sociedade, que se refletiu diretamente na atuação dainstituição, conjuntamente com a sociedade civil, em casos relacionados a violação de direitoshumanos.

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    Material Artigo Autor Willian Fernandes (Ouvidor-Geral da Defensoria Pblica de So Paulo) Veculo Revista Direito e Sociedade

    VIOLAO DE DIREITOS HUMANOS, DEFENSORIA PBLICA E PARTICIPAO SOCIAL

    Resumo: O texto discorre sobre o papel da defensoria pblica como instrumento de proteo aos direitos humanos, notadamente o acesso justia dos necessitados. Tece comentrios sobre a Lei Complementar Estadual n. 988/2006, que criou uma instituio jurdica com diversas formas de participao social e, mostra que isso resultado da grande presena da sociedade civil organizada quando da postulao da criao da Defensoria Pblica. Esta participao social garantiu intensa interao entre Defensoria Pblica e Sociedade, que se refletiu diretamente na atuao da instituio, conjuntamente com a sociedade civil, em casos relacionados a violao de direitos humanos.

    Palavras-chaves: Direitos Humanos; Defensoria Pblica; Ouvidoria-Geral; Sociedade Civil Organizada.

    INTRODUO

    O presente artigo pretende abordar os seguintes pontos: a) direitos humanos, b) defensoria pblica como um importante instrumento para efetividade dos direitos humanos, c) participao social na fiscalizao e gesto da coisa pblica, utilizando a Lei Complementar 988/2006, como paradigma.

    No que se refere aos direitos humanos, citarei os ltimos casos relacionados violncia e que redundaram na morte de centenas de pessoas, como exemplos para demonstrar a importncia da Defensoria no debate. Contudo, lembro nesta nota introdutria que a realizao destes Direitos um processo histrico, assim como histrico seu contedo1.

    No que se refere Defensoria Pblica, abordarei a sua importncia como forma de se garantir a adequada prestao jurisdicional e, a sua constituio como instrumento de acesso justia, bem como, mostrando que a prpria inexistncia da instituio j a negao de um direito humano, qual seja, o direito de ter acesso ao direito.

    Por sua vez, aproveitarei para mostrar o descaso do Estado na implementao adequada destas Instituies no Pas e as conseqncias negativas decorrentes disso.

    1 CARBONARI, Paulo Csar. A Construo de Um Sistema Nacional de Direitos Humanos. Relatrio Azul 2004:

    Garantias e Violaes de Direitos Humanos. Edio Comemorativa de 10 Anos. Porto Alegre: Corag, 2004, pp. 344-369.

    WILLIAN FERNANDES Advogado, com atuao no terceiro setor. Atual Ouvidor-Geral da Defensoria Pblica do Estado de So Paulo.

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    No que se refere participao social, a proposta do presente texto, restringe-se as formas de participao social dos usurios e representantes da sociedade civil organizada na gesto e fiscalizao na Defensoria Pblica, citando como exemplo o caso do Estado de So Paulo, resgatando que se trata de uma conquista de luta da prpria sociedade civil organizada.

    DIREITOS HUMANOS

    Em todo o Brasil a violao dos Direitos Humanos tem sido uma constante, em que pese o Pas ter sido subscritor de diversos tratados internacionais para garantir o contrrio. J no estamos mais falando dos fundamentos dos direitos humanos, de qual a sua natureza, se so direitos naturais ou histricos, absolutos ou relativos, mas sim qual o modo mais seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das solenes declaraes, eles sejam continuamente violados2.

    Em So Paulo os crimes de maio3 e, a resposta dada pelo Estado situao, que resultou na morte de centenas de pessoas4 deixaram expostos fragilidade do Estado e, por conseguinte nos imps a necessidade de reflexo sobre suas deficincias. S no perodo compreendido entre 12 a 20 de maio de 2006, 439 (quatrocentos e trinta e nove) pessoas foram mortas em decorrncia de ferimentos por arma de fogo no Estado de So Paulo. O elevado nmero de mortes, significativamente superior ao registrado no mesmo perodo em anos anteriores e nas semanas anteriores e posteriores em 2006 foi resultado da crise de segurana pblica em So Paulo, afirmou Paulo de Mesquita Neto, pesquisador do Ncleo de Estudo da Violncia da Universidade de So Paulo.5

    No final do ano de 2006 o Estado do Rio de Janeiro viveu drama semelhante, onde nibus foram incendiados e uma verdadeira guerra se instalou nos seus morros, sendo necessrio auxlio do Governo Federal para tentar dar uma resposta crise de segurana.

    No caso de So Paulo os gestores mostraram inabilidade em lidar com o problema, veja-se que na seqncia da crise, as dificuldades cotidianas da polcia e da justia para apurao das responsabilidades em crimes de homicdio foram exacerbadas. Conflitos polticos e eleitorais tomaram o lugar de investigaes criminais, inquritos policiais e processos judiciais. (...) O principal resultado dos conflitos polticos e eleitorais foi a no apurao de responsabilidades pelos homicdios praticados entre 12 e 20 de maio de 2006.6

    Os dois casos citados acima so exemplos mais recentes da necessidade de se garantir mecanismos e instrumentos eficazes de proteo, garantia e promoo dos direitos humanos. Alm da promoo dos direitos sociais (uma das formas efetivas de combate violncia) se faz necessrio a populao estar garantida contra o superpoder do Estado. Vejam que discursos recentes, de autoria de polticos brasileiros, ficou centrado em demasia na categorizao das aes enquanto atos de terrorismo7. Trata-se de categorizao que pode levar a orientao de decises polticas equivocadas e, de custo caro a populao brasileira e aos direitos humanos. Mas no se trata de casos isolados. Em diversos segmentos e temticas, as respostas do Estado seguem na contramo do respeito aos direitos fundamentais (ainda que se possam enumerar algumas conquistas).

    2 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Editora Campus. Rio de Janeiro, 2004 3 reimpresso. Pg. 45. As

    reflexes na referida obra servem de base para a sustentao dos argumentos. 3 Crimes atribudos a Faco Criminosa PCC, que resultou na morte de diversos policiais civis e supostos

    delinqentes (estes ltimos em suposta resistncia seguida de morte). 4 Vide: FOLHA DE SO PAULO, 31/01/2007 (quarta-feira), pg. C8, matria intitulada: Polcia matou 77% mais

    no ano do PCC, onde lanado dvida sobre a atuao da polcia e, sugerindo que no referido perodo (maio de 2006), vigorou poltica de matana do Estado. 5 Neto, Paulo de Mesquita, CRIMES DE MAIO, Condepe, So Paulo, 2006

    6 Neto, Paulo de Mesquita, CRIMES DE MAIO, Condepe, So Paulo, 2006.

    7 Ver entre outros: Artigo As armadilhas do terror, Autoria: Alberto Silva Franco, Renato Campos Pinto de Vitto, e

    Renato Sergio de Lima, Folha de So Paulo, de 11 de janeiro de 2007, pg. A3.

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    Os crimes de maio e a violncia no Estado do Rio de Janeiro8 so apenas dois exemplos, outros seguimentos e temticas, poderiam ser listados aqui para demonstrar o drama sem fim vivido no Pas9.

    Especialmente nos crimes de maio a Defensoria Pblica de So Paulo, que tinha acabado de ser instalada, teve atuao exemplar na defesa dos direitos humanos e, sua atuao realizou-se a partir do envolvimento desta instituio jurdica com a sociedade civil organizada.

    Neste sentido, registro que a atuao da sociedade e da Defensoria foi deflagrada em ato pblico realizado na Assemblia Legislativa de So Paulo. Ressalto dois pontos que so importantes levantar com relao a isso: primeiro, a Defensoria estava presente no evento organizado pela sociedade e no esperou ser instada para atuar; segundo, as deliberaes daquele evento levaram a atuao conjunta entre a sociedade civil organizada e a Defensoria, tendo esta integrado comisso independente10 para se reunir e discutir os casos (de homicdios) e as medidas a serem adotadas, em especial o monitoramento dos casos relacionados execuo sumria11.

    Esta interao entre Defensor e Sociedade se revela de extrema importncia, para conter os abusos do Estado e, garantir que quele que sofre com estes abusos tenha garantido um tcnico-jurdico ao seu lado assistindo aos seus interesses. At porque, a experincia mostra que quem sofre com casos anlogos so queles j marginalizados pela excluso social, ou seja, o usurio dos servios da Defensoria.

    A onda de violncia no pas (como nos casos em comento), sem dvida influencia os magistrados brasileiros. E os casos acima, obviamente, respingam no Poder Judicirio. Subsidiam este argumento vrios trabalhos. Podemos citar aqui publicao de pesquisa editada pelo IBCCRIM e IDDD, intitulado Decises Judiciais nos crimes de Roubo, cujo resultado conclui que a maioria dos indivduos acusados por roubo obtm uma condenao no regime mais gravoso que o previsto em lei, ainda que primrios e tendo obtido aplicao da reprimenda base no mnimo legal e que, a fundamentar as decises, encontram-se em grande medida, motivao de carter extrajurdico e de cunho ideolgico, comuns s teses encontradas no senso comum sobre a criminalidade.12

    Na referida publicao, os argumentos mobilizados nas decises judiciais coadunam e talvez constituam de per si o que tem se propagado por meio de verdadeiras redes sociotcnicas formada pelo campo miditico, burocrtico, por vezes acadmicos, dando coro retrica dos movimentos ultraconservadores, esvaziada de contedo e de valor cientifico ou qui, amparo real.13

    As entidades de defesa dos direitos humanos a muito vem denunciando este Brasil marginal, refm da profunda desigualdade, da ausncia de perspectivas e das diferenas e contradies sociais14. No obstante, ainda existem discursos na sociedade de que a defesa dos direitos humanos a defesa de bandido.

    Obviamente que a atuao das entidades de defesa dos direitos humanos so de suma importncia para denunciar as arbitrariedades do Estado, o descaso deste com questes relacionadas ao direitos humanos e, para reivindicar implantao de polticas pblicas e instrumentos necessrios a soluo dos problemas.

    8 Em especial os ataques aos transportes pblicos e tiroteios vivido no Rio de Janeiro no ms de Dezembro/2006.

    9 No que se refere a violncia, ver entre outros: Violncia e Democracia, O Paradoxo Brasileiro, Angelina Peralva,

    Editora Paz e Terra, So Paulo, 2000 10

    A Comisso Independente foi denominada Comisso Especial da Crise da Segurana Pblica de So Paulo e foi formada por representantes do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CONDEPE), Defensoria Pblica do Estado de So Paulo, Ouvidoria de Polcia do Estado de So Paulo, e entidades da sociedade civil que se ocupam da defesa dos direitos humanos. A Comisso recebeu a colaborao do Ministrio Pblico Federal, do Conselho Regional de Medicina do Estado de So Paulo (Cremesp), e do perito Ricardo Molina. 11

    Crimes de Maio, organizadora Rose Nogueira, Condepe, So Paulo, 2007. 12

    Decises Judiciais Nos Crimes de Roubo em So Paulo, IBCCRIM e IDDD, So Paulo, 2005 13

    Idem 14

    Ver entre outros: Direitos Humanos No Brasil 2003, Relatrio Anual do Centro de Justia Global, Rio de Janeiro, 2003

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    Corolrio desta tese mais uma vez a postulao da Defensoria Pblica como um importante instrumento da sociedade para garantia dos direitos fundamentais. Alis, a inexistncia dela j a negao de um dos direitos fundamentais, qual seja,o direito ao acesso justia integral e gratuita, prevista em nossa Constituio Federal.

    ACESSO A JUSTIA DIREITO HUMANO DEFENSORIA PBLICA DESCASO DO ESTADO

    Pois bem, se considerarmos, portanto, que a violao dos direitos humanos uma constante, como dito no incio, e que os maiores violados so aqueles j marginalizados pela excluso social, necessrio se faz garantir que estes tenham instrumento de acesso justia, e, portanto, estamos falando das Defensorias Pblicas.

    Vejam que a Constituio de 1988, no rol de direitos e garantias fundamentais, dispe que o Estado prestar assistncia jurdica integral e gratuita aos que comprovarem insuficincia de recursos15.

    Por sua vez, a mesma Carta Magna, em seu artigo 134, dispe que cabe a Defensoria Pblica a orientao jurdica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do artigo 5, LXXIV.

    Apesar disto, a Defensoria Pblica de So Paulo s foi implantada no ano de 2006 e, no Estado de Santa Catarina, sequer existe.

    Estamos falando de uma importante instituio jurdica para a sociedade, cuja existncia foi protelada at o ano de 2006.

    Vejamos, exceto Santa Catarina, todos os Estados do Brasil tm Defensorias Pblicas. Em So Paulo a Lei Complementar 988/2006 que criou a Defensoria Pblica foi fruto de intenso debate na sociedade. possvel afirmar que foi a Sociedade quem exigiu a implementao deste importante rgo, enfrentando inclusive interesses coorporativos contrrios.

    A Lei (988/2006) tramitou na Assemblia Legislativa e, em que pese sua excelncia, esta j foi criada com limitaes de atuao, tendo a Defensoria necessariamente que apelar para convnios como forma de garantir a execuo de suas atribuies legais. A Lei criou apenas 400 (quatrocentos) cargos de defensor. Este nmero sem dvida, insignificante perto da demanda por acesso a justia no Estado. Por ser a mais recente Defensoria Pblica a ser instalada, no mnimo, o nmero de cargos j deveria adequar-se ao nmero ideal do pblico alvo em potencial. Isso confirma tendncia a no universalizao dos servios.

    O II Diagnstico da Defensoria Pblica, elaborado pela Secretaria da Reforma do Judicirio do Ministrio da Justia, aponta que a cobertura total do servio no pas, abrange apenas 39,7% das comarcas e sesses judiciais existentes, ou seja, mais da metade no dispe dos servios da Defensoria Pblica.

    Ainda, a remunerao do Defensor Pblico significativamente inferior que das demais carreiras jurdicas. No se trata de questo menor, mas sim garantia de igualdade de armas. Isto porque, a baixa remunerao do defensor (quando comparado aos magistrados e promotores), transforma a Instituio incumbida da defesa do necessitado em rgo de menor prestgio e, por conseguinte, gerando insatisfao e, fazendo os Defensores migrarem para outras carreiras de melhor remunerao16 17. Vale lembrar as concluses de Mauro Cappelltti, quando diz que sem remunerao adequada, os servios jurdicos para pobres tendem a ser pobres18.

    15 Constituio Federal, Artigo 5, inciso LXXIV.

    16 Ministrio da Justia, Brasil, 2004, I Estudo Diagnstico das Defensoria Pblicas.

    17 Ver ainda: ALVES, Cleber Francisco. Justia Para Todos, Assistncia Jurdica Gratuita nos Estados Unidos, na

    Frana e no Brasil. Editora Lmen Jures. RJ 2006. Pg. 231 e 232: No ms de junho de 2005, os mais de 600 defensores pblicos do Estado do Rio de Janeiro deflagraram uma greve que atingiu propores inditas, com a

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    Aqui, tambm estamos falando de garantia dos direitos humanos, o direito de ter acesso ao direito, posto que trata-se de elemento essencial funcionalidade da nossa ordem jurdica, por se cuidar de uma garantia instrumental voltada para a realizao concreta de outros direitos19. Entretanto, sequer h prioridade ao programa de assistncia jurdica gratuita. Vejam que, quando comparado o oramento destinados s instituies do sistema de justia, constatamos que os Estados destinam 71% do oramento ao Poder Judicirio, 25,4% ao Ministrio Pblico e 3,3 do total gasto com a Defensoria Pblica, valor claramente insuficiente diante da amplitude de seu pblico alvo, que corresponde a 70,86% da populao do pas20. Ineficincia do Estado? NO, descaso com o direito a ter direito. E no de agora, mas sim, um descaso histrico21.

    Alm da insuficincia de recursos destinados a promoo do acesso justia, a desigualdade na distribuio dos recursos ignora que a Defensoria Pblica deve assumir feies e prerrogativas simtricas quelas conferidas pela prpria Constituio ao Ministrio Pblico22. Alm do mais, trata-se, na verdade, de um dever estatal inerente ao prprio exerccio da cidadania, que no pode ser afetado em razo de restries referentes a prioridades oramentrias23.

    Como a instituio da Defensoria Pblica foi uma conquista social, o seu fortalecimento passar por postulaes dos mesmos atores que foram responsveis por sua implementao.

    SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA EXEMPLO DE SO PAULO - CONQUISTAS

    Pois bem, demonstrado o descaso do Estado com o tema, passemos agora a discorrer sobre a sociedade civil organizada como agente de transformao e mudana neste cenrio catico, pegando como exemplo a mobilizao ocorrida no Estado de So Paulo, que diagnosticou a necessidade de se reconhecer que o modelo paulista de prestao de assistncia judiciria (at antes da criao da Defensoria Pblica) no se ajustava aos ditames constitucionais, visto que cabe ao Estado, atravs de rgo prprio, intitulado Defensoria Pblica, realizar essa funo essencial prestao jurisdicional, atravs de profissionais concursados, organizados em carreira e com dedicao integral a causa pblica24 (conforme dito acima).

    Neste sentido, no Estado de So Paulo a atuao da Sociedade Civil Organizada garantiu a criao no apenas de mais uma Instituio Jurdica, mas a criao de uma instituio com contornos verdadeiramente democrticos, dotada de diversos mecanismos de participao social.

    adeso da esmagadora maioria dos integrantes da carreira e que perdurou por dois meses. Entre as reivindicaes dos membros desta que, outrora, era considerada a melhor Defensoria Pblica do pas chegando mesmo a alcanar reconhecimento em mbito internacional, estavam: a) a garantia de melhores condies de trabalho necessrias para uma adequada prestao dos servios; b) o fim da odiosa discriminao remuneratria sofrida pelos defensores pblicos em comparao com os ocupantes das outras carreiras jurdicas igualmente essenciais Justia; c) a realizao de concurso pblico para preenchimento de vagas abertas nos ltimos anos em virtude da contnua evaso de defensores que migram para outras carreiras jurdicas em busca de melhores condies de trabalho e de melhores salrios. 18

    CAPPELLETTI, Mauro; Garth, Bryanth. Acesso Justia, Sergio Antonio Fabris Editor, 1988, traduo por Ellen Gracie Northefleet. 19

    Ver entre outros, OLIVEIRA, Rogrio Nunes. Assistncia Jurdica Gratuita, Editora Lmen Jris, RJ, 2006 20

    Ministrio da Justia, Brasil, 2006, II Estudo Diagnstico das Defensoria Pblicas. 21

    Ver entre outros, OLIVEIRA, Rogrio Nunes. Assistncia Jurdica Gratuita, Editora Lmen Jris, RJ, 2006. Registra: Desde a colnia at s vsperas da repblica, a iseno das despesas processuais e o patrocnio judicirio aos desvalidos ocuparam papis secundrio no cenrio legislativo brasileiro. 22

    ALVES, Cleber Francisco. Justia Para Todos, Assistncia Jurdica Gratuita nos Estados Unidos, na Frana e no Brasil. Editora Lmen Jures. RJ 2006. 23

    Idem. 24

    MAXIMINIANO, Vitore Andr Zlio; LEITE, Antonio Jos Maffezoli. Um Projeto Para Uma Instituio Democrtica, Moderna e Autnoma, Boletim IBCCRIM Ano 10 n. 115

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    A maior mobilizao veio do Movimento pela Defensoria Pblica, organizao esta formada por mais de 440 entidades de defesa dos direitos humanos e que foi criada no ano de 2002, justamente para postular a criao da Defensoria.

    Nos 3 (trs) anos de sua existncia, o Movimento colaborou para a divulgao da luta pela criao da Defensoria Pblica, por meio da realizao de atos pblicos, oficinas, debates e encontros com comunidade e personalidades. Alm disso, o anseio pela criao da Instituio levou diversas manifestaes e moes de apoio em vrias instncias do Poder Judicirio, do Legislativo e da sociedade civil.

    Foi o anteprojeto de lei orgnica da Defensoria Pblica no Estado de So Paulo, de autoria das diversas entidades que integraram o referido Movimento, um dos mais importantes subsdios de que se valeu o grupo de trabalho da Procuradoria Geral do Estado25, rgo este que foi o responsvel pela elaborao do projeto oficial do Governo do Estado de So Paulo.

    Como resultado desta intensa mobilizao e articulao, a Defensoria Pblica de So Paulo deve elaborar seu plano anual de atuao, com a garantia da ampla participao popular, em especial de representantes de todos os conselhos estaduais, municipais e comunitrios, de entidades, organizaes no-governamentais e movimentos populares, atravs da realizao de conferncias estaduais e regionais26.

    Alm disso, a instituio dotada de Ouvidoria-Geral, como rgo da administrao superior, que tem assento no Conselho Superior da Instituio27. A Ouvidoria-Geral independente, cujo cargo de Ouvidor-Geral ocupado por mandatrio escolhido pelo Governador do Estado, em lista trplice elaborada pelo Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana. O Ouvidor-Geral no pode ser membro da Defensoria Pblica e, a ele garantida independncia para fiscalizar a instituio e participar da sua gesto.

    Por sua vez a Ouvidoria-Geral tambm fiscalizada, na medida em que na sua estrutura, existe um Conselho Consultivo composto por representantes da sociedade civil, que tem como finalidades precpuas acompanhar os trabalhos da Ouvidoria e formular crticas e sugestes para o aprimoramento de seus servios, constituindo canal permanente de comunicao com a sociedade civil28.

    Ainda, possvel ao cidado fazer uso da palavra diretamente nas reunies do Conselho Superior da Defensoria Pblica, que o rgo que exerce o poder normativo no mbito da Instituio.

    A Lei Complementar 988/2006 garante tambm a participao do usurio e da sociedade civil em geral na definio das diretrizes institucionais da Defensoria Pblica e, no acompanhamento e fiscalizao das aes e projetos desenvolvidos pela Instituio, da atividade funcional e da conduta pblica dos membros e servidores.

    So conquistas importantes da Sociedade Civil que fortalecem a Defensoria Pblica e, por conseguinte, a promoo e garantia dos direitos humanos. O modelo de Defensoria Pblica conquistada em So Paulo fomenta a democracia participativa, privilegia o usurio, e, de maneira geral, est adequado (em grande medida, pois necessrio aprimorar a Lei) s postulaes que tem se intensificado no seio da sociedade civil.

    Vejam que temos movimentos na sociedade civil se ocupando de discusses sobre a reforma do sistema poltico, como por exemplo, a Plataforma da Reforma do Sistema Poltico Brasileiro, que pretende a radicalizao da democracia29 e, que nasceu justamente em funo da incapacidade das instituies vigentes concretizarem plenamente os objetivos da Constituio. A

    25 Vide Texto do Movimento Pela Defensoria Pblica : Defensoria Pblica Para Quem Carente de Justia, Subsdios

    para discusso do Projeto de Lei Complementar n. 18/2005. So Paulo, 2006 26

    Artigo 31, inciso XIX, da Lei Complementar 988/2006, de 09 de janeiro de 2006. 27

    O Conselho Superior da Defensoria Pblica o rgo que exerce o poder normativo no mbito da Instituio. Trata-se de colegiado integrado por membros natos e eleitos. 28

    Vide artigo, 39, da LC 988/2006, de 09 de janeiro de 2006. 29

    Vide: Reforma Poltica, Construindo a Plataforma dos Movimentos Sociais Para a Reforma do Sistema Poltico No Brasil, Reflexes para o Debate, pg. 12

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    Lei Complementar 988/2006 j d mostras de estar adequada reivindicaes da referida plataforma.

    A Lei Complementar 988/2006 , portanto, um exemplo de participao social e fomenta a necessidade de se estender a discusso s demais instituies jurdicas.

    CONCLUSO

    A existncia de violao de direitos humanos implica na necessidade de dilogo permanente entre Estado e Sociedade. Implica tambm em garantir instrumentos de proteo a estes direitos e, como a parte mais fragilizada quando se fala em direitos humanos constituda por aqueles economicamente mais fragilizados, necessrio se faz a existncia de Defensorias Pblicas para a garantia de seus direitos.

    Estas Defensorias Pblicas devem estar estruturadas para enfrentar os obstculos ao acesso justia. Entretanto, do que foi exposto acima, em especial questes relacionadas estrutura e oramento destas instituies, estamos longe do ideal, o que demonstra por parte dos gestores do Estado (polticos) um descaso com o acesso justia aos pobres. Isso, igualmente comprovado pela diferena no tratamento oramentrio, revelado da observncia do oramento do Ministrio Pblico e do Poder Judicirio.

    A reflexo sobre a interao entre a sociedade civil e as instituies jurdicas (tradicionalmente fechadas), nos mostra que, notadamente no caso relacionado aos crimes de maio (paradigma), do dilogo com as entidades de defesa dos direitos humanos nasceu a atuao conjunta entre Defensoria e Sociedade, que teve grande importncia para o monitoramento dos casos de violao dos direitos humanos praticados por prepostos do Estado.

    Alm disso, mostramos que esse dilogo foi uma conquista e, da participao das entidades e da mobilizao destas com vistas a criao da Defensoria Pblica em So Paulo, nasceu uma instituio com diversos mecanismos de participao social, sendo a Ouvidoria-Geral, dirigida por pessoa estranha a carreira um dos exemplos. Em que pese esta participao tem se mostrado que, alm de ajustar melhor as aes da instituio aos casos concretos de violao de direitos humanos, fortalece a Instituio.

    Refletimos que a luta pelos direitos humanos ser permanente, at porque, est acima de tudo a busca da dignidade. Esta, por sua vez, construo de reconhecimento e, portanto, luta permanente contra a explorao, o domnio, a vitimizao e a excluso.

    A Defensoria Pblica se insere neste contexto como um dos instrumentos mais importantes do cidado carente de recursos. Alm do acesso ao judicirio, tambm orienta, informa, conscientiza e motiva a populao carente a respeito de seus direitos e, com isso, ataca o problema apontado Mauro Cappelletti quando, tecendo comentrios sobre os obstculos a serem superados para o efetivo acesso justia, aponta o problema da aptido para reconhecer um direito e propor uma ao e sua defesa.30

    certo que a efetividade dos direitos humanos para todos complexa e depende de vrias outras questes aqui no apontadas, mas a inexistncia de defensorias e/ou a criao destas com estruturas inadequadas parte (grande) do caminho para se perpetuar o estado de violao destes direitos, notadamente dos mais pobres.

    30 CAPPELLETTI, Mauro; Garth, Bryanth. Acesso Justia, Sergio Antonio Fabris Editor, 1988, traduo por Ellen

    Gracie Northefleet, pg. 22.

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    Bibliografia:

    CARBONARI, Paulo Csar. A Construo de Um Sistema Nacional de Direitos Humanos. Relatrio Azul 2004: Garantias e Violaes de Direitos Humanos. Edio Comemorativa de 10 Anos. Porto Alegre: Corag, 2004. BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 3 reimpresso - Editora Campus. Rio de Janeiro, 2004 PERALVA, Angelina. Violncia e Democracia, O Paradoxo Brasileiro. Editora Paz e Terra. So Paulo, 2000. NOGUEIRA, Rose CRIMES DE MAIO, Condepe, So Paulo, 2006. Decises Judiciais Nos Crimes de Roubo em So Paulo, IBCCRIM e IDDD, So Paulo, 2005. Direitos Humanos No Brasil 2003, Relatrio Anual do Centro de Justia Global, Rio de Janeiro, 2003. Ministrio da Justia, Brasil, 2004, I Estudo Diagnstico das Defensoria Pblicas. ALVES, Cleber Francisco. Justia Para Todos, Assistncia Jurdica Gratuita nos Estados Unidos, na Frana e no Brasil. Editora Lmen Jures. RJ 2006. CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryanth. Acesso Justia, Sergio Antonio Fabris Editor, 1988, traduo por Ellen Gracie Northefleet. OLIVEIRA, Rogrio Nunes. Assistncia Jurdica Gratuita, Editora Lmen Jris, RJ, 2006. MAXIMINIANO, Vitore Andr Zlio; LEITE, Antonio Jos Maffezoli. Um Projeto Para Uma Instituio Democrtica, Moderna e Autnoma, Boletim IBCCRIM Ano 10 n. 115 Dossie do Movimento Pela Defensoria Pblica : Defensoria Pblica Para Quem Carente de Justia, Subsdios para discusso do Projeto de Lei Complementar n. 18/2005. So Paulo, 2006. Cartilha da Reforma Poltica, Construindo a Plataforma dos Movimentos Sociais Para a Reforma do Sistema Poltico No Brasil, Reflexes para o Debate.