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OS REFLEXOS DA POLUIÇAO SONORA NO AMBIENTE ESCOLAR: UM ESTUDO NAS ESCOLAS ESTADUAIS DE UBERLÂNDIA-MG Anaísa Filmiano Andrade Lopes Graduada em Gestão em Saúde Ambiental, UFU [email protected] Diogo Sá da Silva Pompeu Graduando do Curso de Geografia, UFU [email protected] RESUMO Este trabalho objetivou mensurar e analisar a poluição sonora em escolas da rede estadual da cidade de Uberlândia- MG, destacando os efeitos negativos na saúde de professores e alunos. Para tanto foram selecionadas as escolas Alexandra Pedreira, no setor leste da cidade e Clarimundo Carneiro, na área central, onde foram realizados o monitoramento sonoro e a aplicação de questionários aos professores visando identificar os principais agravos que estes sofrem no ambiente escolar. As análises dos dados indicaram que os índices sonoros mensurados ultrapassaram consideravelmente os valores estipulados por normas e recomendações nacionais e internacionais sobre ruído em ambientes de ensino. Os questionários apontaram que o ruído intenso é uma das principais causas do desconforto e prejuízo à saúde dos professores. A promoção da saúde no ambiente escolar apresenta-se como uma importante e eficaz ferramenta fomentadora de ações destinadas a minimizar os problemas da poluição sonora. Palavras- chave: Poluição Sonora, Ambiente Escolar, Promoção da Saúde. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, a tomada de consciência da população mundial sobre os problemas ambientais, os movimentos ecológicos e o aumento de denúncias sofre os efeitos nocivos da degradação ambiental, colocaram em evidência a relação entre a saúde das pessoas e o meio ambiente. Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2003) sugerem que em torno de 15 milhões de

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Este trabalho objetivou mensurar e analisar a poluição sonora em escolas da rede estadual da cidade de Uberlândia- MG, destacando os efeitos negativos na saúde de professores e alunos. Para tanto foram selecionadas as escolas Alexandra Pedreira, no setor leste da cidade e Clarimundo Carneiro, na área central, onde foram realizados o monitoramento sonoro e a aplicação de questionários aos professores visando identificar os principais agravos que estes sofrem no ambiente escolar. As análises dos dados indicaram que os índices sonoros mensurados ultrapassaram consideravelmente os valores estipulados por normas e recomendações nacionais e internacionais sobre ruído em ambientes de ensino. Os questionários apontaram que o ruído intenso é uma das principais causas do desconforto e prejuízo à saúde dos professores. A promoção da saúde no ambiente escolar apresenta-se como uma importante e eficaz ferramenta fomentadora de ações destinadas a minimizar os problemas da poluição sonora.

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OS REFLEXOS DA POLUIÇAO SONORA NO AMBIENTE ESCOLAR: UM ESTUDO NAS ESCOLAS ESTADUAIS DE UBERLÂNDIA-MG

Anaísa Filmiano Andrade LopesGraduada em Gestão em Saúde Ambiental, UFU

[email protected]

Diogo Sá da Silva PompeuGraduando do Curso de Geografia, UFU

[email protected]

RESUMO

Este trabalho objetivou mensurar e analisar a poluição sonora em escolas da rede estadual da cidade de Uberlândia- MG, destacando os efeitos negativos na saúde de professores e alunos. Para tanto foram selecionadas as escolas Alexandra Pedreira, no setor leste da cidade e Clarimundo Carneiro, na área central, onde foram realizados o monitoramento sonoro e a aplicação de questionários aos professores visando identificar os principais agravos que estes sofrem no ambiente escolar. As análises dos dados indicaram que os índices sonoros mensurados ultrapassaram consideravelmente os valores estipulados por normas e recomendações nacionais e internacionais sobre ruído em ambientes de ensino. Os questionários apontaram que o ruído intenso é uma das principais causas do desconforto e prejuízo à saúde dos professores. A promoção da saúde no ambiente escolar apresenta-se como uma importante e eficaz ferramenta fomentadora de ações destinadas a minimizar os problemas da poluição sonora.

Palavras- chave: Poluição Sonora, Ambiente Escolar, Promoção da Saúde.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, a tomada de consciência da população mundial sobre os problemas ambientais, os movimentos ecológicos e o aumento de denúncias sofre os efeitos nocivos da degradação ambiental, colocaram em evidência a relação entre a saúde das pessoas e o meio ambiente. Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2003) sugerem que em torno de 15 milhões de pessoas no Brasil tenham algum problema de audição e que, depois da poluição da água e do ar, nada agride mais os sentidos humanos que a poluição sonora. Esta modalidade de poluição ocorre através do ruído, que é o som indesejado, sendo considerada uma das formas mais graves de agressão ao homem e ao meio ambiente.

Gerges (1991) afirma que som e ruído é o mesmo fenômeno físico, porém não são sinônimos. Um ruído é apenas um tipo de som, mas um som não é necessariamente um ruído. Este seria uma sensação desagradável desencadeada pela recepção da energia acústica. O som pode ser definido como a compressão mecânica ou onda mecânica que se propaga de forma circuncêntrica em meios que tenham massa e elasticidade (LUNDQUIST, 2003). A nocividade do ruído está diretamente relacionada ao seu espectro de frequência, à intensidade da pressão sonora, à direção da exposição diária, bem como à suscetibilidade individual.

Apesar de existir legislação específica que regula os limites de emissão de ruídos e estabelece medidas de proteção para a população dos efeitos danosos, o que se verifica é que os níveis produzidos pelas atividades humanas, geralmente estão acima dos valores determinados pelas

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legislações (ANDRADE, 2008). A poluição sonora é uma ameaça constante a saúde humana e ao desempenho eficiente de suas atividades (ECOLNEWS, 2006).

Dois aspectos são determinantes para mensurar a amplitude da poluição sonora: o tempo de exposição e o nível do barulho a que se expõe a pessoa. Segundo a OMS (2003), o limite tolerável ao ouvido humano é de 65 dB, acima desse valor, nosso organismo sofre estresse aumentando o risco de doenças e de comprometimento auditivo. Atualmente o ruído é um dos principais indicadores de degradação da qualidade do ambiente urbano e é reconhecido como um problema de saúde pública, envolvendo fatores clínicos e comportamentais, que avaliam a reação das pessoas e a interferência deste nas suas atividades de vida.

Em relação à saúde, é importante destacar algumas implicações decorrentes do tempo/exposição a níveis sonoros elevados. A extensão e o grau do dano mantêm relação direta com a intensidade da pressão sonora, a duração do tempo, a frequência e a suscetibilidade individual (SANTOS, 1994). Segundo Spoendlin (1976), o ruído atinge diferentemente a estrutura receptora auditiva. Aqueles que são intensos, de imediato tendem a produzir lesões mecânicas, como consequente processo degenerativo, já os contínuos e prolongados originam alterações relacionadas à exaustão metabólica das células sensoriais. Kitamura (1995) cita como consequências mais estudadas e conhecidas destas lesões: o estresse, a perda auditiva, os prejuízos na comunicação oral, o recrutamento e os zumbidos. Alguns dos sinais e sintomas que vêm sendo relacionados com a exposição ao ruído, segundo Menezes, são os seguintes:

Aumento de batimentos cardíacos (alguns autores citam mínima variação dos batimentos cardíacos com o passar do tempo de exposição ao ruído ou mesmo bradicardia), hipertensão arterial leve ou moderada com consequente aumento do risco de doenças cardíacas, alterações digestivas (citadas por alguns autores relacionadas à exposição muito prolongada – maior que o tempo necessário para lesão auditiva – a ruídos menores que ou iguais a 500 Hz), irritabilidade, insônia, ansiedade, nervosismo, redução da libido, aumento do tônus muscular, dificuldade de repouso do corpo, tendência à apresentação de espasmos musculares reflexos, aumento da frequência respiratória (também há relatos de diminuição da frequência e aumento da profundidade respiratória), vertigem e cefaleia (MENEZES, 2000, p. 70).

Dentre os ambientes prejudicados pela poluição sonora, destaca-se o escolar. Escolas que sofrem com o ruído interno e externo, têm seu espaço físico comprometido, pois os altos níveis de pressão sonora prejudicam as condições de desempenho e saúde de professores e alunos (GERGES, 2000). Segundo Bradley (2002), a falta de informação e conhecimento nessa área acaba sendo um assunto preocupante para a sociedade. A conscientização da população para os problemas, somada a medidas de prevenção, seria uma valiosa contribuição para a redução do ruído urbano, principalmente aqueles que influenciam no cotidiano escolar.

A preservação da qualidade do ambiente sonoro em todas as esferas da atividade humana, e em especial no âmbito das atividades escolares, promove a sadia qualidade de vida, que é dever de todos garantidos pela Constituição da República Federativa do Brasil. O ambiente escolar é fundamental para a concretização de ações de promoção da saúde voltadas a tomada de decisões favoráveis a toda comunidade escolar. Essas ações envolvem: educação para a saúde; programas e projetos dirigidos à poluição sonora; capacitação dos professores com a orientação de profissionais da área para incluir discussões de promoção da saúde em sala de aula; parcerias e integração entre escolas, órgãos públicos e o setor privado;

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comprometimento de alunos e professores na redução dos ruídos nas suas diferentes formas - evitar arrastar carteiras, elevar o tom de voz, bater portas desnecessariamente, entre outros. Além dessas medidas os profissionais envolvidos na infraestrutura física e locacional devem propor planos e projetos visando melhorar as condições sonoras do ambiente escolar.

O Ministério da Saúde compreende que o período escolar é fundamental para se trabalhar saúde na perspectiva de sua promoção, desenvolvendo ações para a prevenção de doenças e para o fortalecimento dos fatores de proteção. Porém, o ambiente escolar está se tornando um local degradador, ao invés de promotor da saúde, uma vez que os ruídos de origem interna (conversas, gritos, bagunças) e externa (trânsito, comércio, construções) tem afetado diretamente o processo de ensino-aprendizagem, assim, é necessário buscar ações voltadas para a comunidade escolar para dar concretude às propostas de promoção da saúde.

Dado esse panorama, o trabalho objetiva analisar os níveis de poluição sonora em escolas da rede estadual da cidade de Uberlândia-MG e seus efeitos adversos na saúde de professores e alunos. Ainda por meio dos questionários, identificar os principais problemas relatados pelos educadores que prejudicam sua saúde e o processo de ensino-aprendizagem.

Foram escolhidas para investigação as escolas estaduais Alexandra Pedreira e Clarimundo Carneiro, a primeira localiza-se na área periférica e a última na área central da cidade. Neste contexto a pesquisa busca responder os seguintes questionamentos: O índice da poluição sonora pode ser influenciado pela localização da escola? O ruído interno e externo interfere no ambiente escolar? Eles prejudicam o processo de ensino-aprendizagem? Os níveis sonoros elevados podem afetar a saúde de professores e alunos? As ações de promoção da saúde poderiam minimizar esses problemas? Esses questionamentos configuraram-se como fatores propulsores ao desenvolvimento e construção da pesquisa, orientando o referencial teórico, a metodologia aplicada, as discussões e as análises dos resultados obtidos.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a execução da pesquisa, foram realizados procedimentos de coleta de dados e informações, tabulação de dados e análise dos resultados obtidos. As técnicas de coleta de dados e informações, segundo Lakatos e Marconi (2003) e Salazar (2007), podem ser organizadas em dois grupos, sendo: o da documentação indireta e o da documentação direta.

A documentação indireta envolve levantamentos de dados e informações por meio de pesquisa documental, bibliográfica e na internet (LAKATOS; MARCONI, 2003; SALAZAR, 2007). A documentação direta, por sua vez, “é a fase de levantamento de dados no próprio local onde os fenômenos ocorrem. Nessa etapa, os dados podem ser obtidos de duas maneiras: pesquisa de laboratório e pesquisa de campo” (SALAZAR, 2007, p. 38).

Assim, nesta pesquisa utilizaram-se procedimentos de documentação indireta e direta. Especificamente, a documentação indireta foi realizada por meio de pesquisas em livros, artigos, dissertações, legislações e em teses, disponíveis eletronicamente sobre as temáticas: poluição sonora no ambiente escolar, promoção da saúde, meio ambiente e qualidade de vida.

A documentação direta realizou-se por meio de pesquisa de campo com o uso das técnicas de observação direta intensiva (monitoramento sonoro) nas escolas da rede estatudal de ensino, sendo uma localizada na área central, Escola Estadual Clarimundo Carneiro e a outra

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localizada no setor leste da cidade, Escola Estadual Alexandra Pedreira e de observação direta extensiva (aplicação de questionários para os professores e registro fotográfico).

As medições sonoras ocorreram no primeiro semestre de 2013 nas turmas do 6º ao 9º ano (5ª à 8ª série) no período da manhã. Para monitoramento da intensidade sonora foi utilizado decibelimetro digital nas salas de aulas e no intervalo para comparar os níveis de ruído durante o período de funcionamento escolar. O decibelimetro utilizado foi do modelo ICEL DL-4100, display de LCD: 3 ½ iluminado e com barra gráfica, 30 a 130 DB (3 escalas), com resolução de 0,1 dB e exatidão de 1,4 dB. Para a coleta de dados, o mesmo foi calibrado e utilizado no circuito de ponderação “A”; circuito de resposta “lenta - SLOW”; faixa de medição entre 50 a 100 dB (A).

Durante as medições, não houve intervenções na rotina da escola para que os resultados fossem o mais próximos da realidade cotidiana. As medições foram realizadas em oito dias (dois dias para cada série), elas ocorreram em todos os cinco horários, como o horário é de cinquenta minutos, a cada dez minutos obtinha-se um valor sonoro em decibéis (dB). Ao total forram realizadas vinte e cinco medições em cada turma e duzentas medições em cada escola.

Foram aplicados também 50 questionários junto aos professores com intúito de coleta de dados e informações sobre conhecimento e implicações da poluição sonora no cotidiano escolar. Os dados obtidos foram tabulados e organizados em gráficos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Este trabalho foi realizado no município de Uberlândia-MG, localizado entre as coordenadas geográficas de latitude 18º 30’ e 19º 30’ Sul e, 47º 50’ a 48º 50’ de longitude Oeste do meridiano de Greenwich, na mesorregião Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e na microrregião do Triângulo Mineiro (LIMA, 1999) como mostra o Mapa 1. Sua área de 4.040 quilômetros quadrados é ocupada, segundo o Censo 2010, por 604.013 habitantes.

Mapa 1: Localização do Município de Uberlândia-MG.

Fonte: Geominas, 2007. Org.: Souza, 2007.

Na legislação municipal, a poluição sonora é regida pela Lei complementar 017 de 04 de Dezembro de 1991 do Meio Ambiente que dispõe no seu Art. 1º - A Política Ambiental do Município de Uberlândia, que tem por objetivo preservar, conservar, defender e recuperar o Meio Ambiente e melhorar a qualidade de vida dos habitantes. A análise da legislação municipal demonstra que, apesar de bem detalhada, ela não consegue coibir na sua totalidade

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os problemas relacionados à poluição sonora fazendo-se necessário, além de uma fiscalização mais efetiva, pesquisas que demonstram até que ponto esta modalidade de poluição influencia na qualidade de vida e principalmente no processo educacional. Para tanto, as escolas investigadas foram a Dona Alexandra Pedreira (Figura 1) e a Clarimundo Carneiro (Figura 2).

Figura 1: E. E. Dona Alexandra Pedreira.

Fonte: LOPES, A. F. A., 2013.

Figura 2: E. E. Clarimundo Carneiro.

Fonte: LOPES, A. F. A., 2013.

Foram realizadas reuniões com os professores e alunos sobre os motivos pelos quais o estudo estava sendo realizado e qual a sua importância para a comunidade escolar. Os resultados mostram que durante os oito dias de estudo as médias sonoras diárias de cada escola estão muito acima das recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (Gráfico 1).

Gráfico 1: Médias sonoras da Escola Estadual Dona Alexandra Pedreira e Escola Estadual Clarimundo Carneiro (db/dias).

Fonte: LOPES, A.F. A, 2013.

Esses elevados índices sonoros no ambiente escolar, muitas vezes, obrigam o professor a superar a intensidade do barulho elevando a sua intensidade da voz. Isso caracteriza o “Efeito Lombard”, que é essa tendência na qual quem fala mantém constante relação entre o nível de sua fala e o ruído, o que pode ocasionar alterações vocais (DREOSSI, 2004). Por outro lado

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os alunos também desprendem grande energia para manter a atenção, pois lidam com o opositor invisível, o ruído, o que pode resultar em baixo rendimento escolar.O questionário mostra que 71% dos professores entrevistados eram mulheres e 29% homens (Gráfico 2). Em relação à idade, 14% têm de 51 a 60 anos, 21% tem de 20 a 30 anos, a maioria tem idade entre 31 a 40 anos (36%), seguido pelos que apresentam entre 41 a 50 anos (29%), os professores na faixa etária de 31 a 50 anos representam 65% dos entrevistados (Gráfico 3).

Gráfico 2: Gênero dos Entrevistados

29%

71%

Gênero

Masculino

Feminino

Fonte: LOPES, A. F. A., 2013.

Gráfico 3: Idade dos Entrevistados

Fonte: LOPES, A. F. A., 2013.

Os dados apontam também que metade (50%) dos professores apresenta pouco tempo de carreira e mais da metade (57%) tem pouco tempo de atuação nas escolas pesquisadas (Gráfico 4 e 5). Os professores com pouco tempo de atuação são os que mais encontram dificuldades para manter a disciplina em sala de aula, fato que é observado em menor escala junto aos professores com maior tempo de carreira ou de instituição.

Gráfico 4: Tempo de Atuação como Professor.

Fonte: LOPES, A. F. A., 2013.

Gráfico 5: Tempo que Trabalha nas Instituições.

Fonte: LOPES, A. F. A., 2013.

O Gráfico 6 mostra que 50% dos entrevistados lecionam mais de 24 horas por semana, ou seja, estão sujeitos a exposições prolongadas de ruído. Foi constatado que uma considerável parcela de professores das duas escolas, já foi afastada do cargo, por algum problema de saúde relacionado ao desgaste das cordas vocais. Como esses profissionais trabalham por um longo período semanal, tornam-se mais suscetíveis a esses problemas.

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O nível de barulho dentro das salas de aula é outro fator preocupante, 71% consideram o barulho alto ou muito alto (Gráfico 7). Nenhum dos professores entrevistados considerou o barulho baixo e a maioria relatou que encontra dificuldades para ministrar aula.

Gráfico 6: Horas Lecionadas por Semana.

Fonte: LOPES, A. F. A., 2013.

Gráfico 7: Nível de Ruído Observado.

Fonte: LOPES, A. F. A., 2013.

Todos os professores relatam que se sentem incomodados pelo barulho de origem interna ou externa ao ambiente escolar (Gráfico 8). Os ruídos que mais afetam esse ambiente (Gráfico 9) são os provocados pelos alunos (interno - 79%), seguido pelos ruídos gerados pelo trânsito (externo - 21%). Parte desse grupo é composto por professores das E. E. Clarimundo Carneiro que está localizada em uma avenida com intenso fluxo de veículos e pessoas.

Gráfico 8: Incômodo sentido pelos professores causado pelo barulho.

Fonte: LOPES, A. F. A., 2013.

Gráfico 9: Ruídos que mais afetam o ambiente escolar.

Fonte: LOPES, A. F. A., 2013.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Escola Estadual Alexandra Pedreira e a Escola Estadual Clarimundo Carneiro possuem fonte de ruídos provenientes do próprio ambiente interno, provocados pelos alunos, ou até mesmo pelos professores quando elevam o seu tom de voz durante a aula, porém em cada escola foi identificada uma particularidade que afeta diretamente nos níveis sonoros. Na Escola Estadual Alexandra Pedreira é a localização da quadra de esportes próxima às salas de aula, já na Escola Estadual Clarimundo Carneiro, o fator agravante são os ruídos advindos do ambiente externo (veículos automotores, comércio e fluxo de pessoas) devido sua localização próxima a uma avenida de intensa circulação.

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Diversos fatores podem funcionar como fontes de ruído no ambiente interno escolar, tais como: educação física, alunos na quadra esportiva, circulação de pessoas e conversas nos corredores, queda e movimentação de objetos escolares, atividades de limpeza, ventiladores ligados, conversas paralelas, entre outros. As salas de aula com infraestruturas inadequadas (acústica) e mal planejadas (próximas a quadras esportivas e vias de circulação), não são fontes de ruído, mas contribuem para sua propagação.

Os dados mostram resultados preocupantes, concluiu-se que os índices sonoros mensurados, ultrapassaram consideravelmente os valores estipulados por normas e recomendações nacionais e internacionais em ambientes de ensino. Foi constatado através do questionário e das visitas in loco que os ruídos no ambiente escolar tendem a competir com a fala do professor, mascarando algumas palavras, tornando ininteligível o discurso, causando desconforto na intensidade de sua voz e comprometendo seu desempenho devido ao estresse. Os alunos sentem dificuldade nas leituras, na assimilação do conteúdo, piora na escrita, fácil distração, entre outros. Esse excesso, além de prejudicar o processo de ensino-aprendizagem, traz prejuízos à saúde dos estudantes e dos professores, gerando efeitos cumulativos que podem se tornar um problema de saúde pública.É fundamental desenvolver ações que minimizem a poluição sonora nos ambientes escolares. A interferência do ruído nesses ambientes, suas condições acústicas e infraestrutura física precisam ser analisadas, uma vez que as salas de aula devem ser adequadas para a promoção da concentração, raciocínio e aprendizado. Os profissionais envolvidos (engenheiros, arquitetos, urbanistas, geógrafos e etc) devem propor planos e projetos visando a melhoria das condições atuais nas quais as escolas se encontram e planejar as futuras instalações escolares para que se minimize os problemas que afetam diretamente no processo de ensino-aprendizagem e na saúde dos professores e alunos.

Concomitantemente é necessário promover a conscientização da comunidade escolar, no sentido de melhor organização para controlar, prevenir e minimizar a intensidade do ruído de origem interna e/ou externa. As leis e normas devem orientar a comunidade, no sentido de efetivar as ações de prevenção dos ruídos e promoção da saúde nas escolas, tornando-a produtiva e agradável, afim de que possa realmente cumprir sua finalidade.

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