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Missa Nova e Vaticano II: a ruptura demonstrada A Missa de Paulo VI parece ser a tradução de um serviço protestante ” (Jean Guitton). 1. Introdução 2. Jean Guitton e as confissões de Paulo VI 3. Paulo VI secreto: uma ficção de Jean Guitton? 4. Missa Nova e o Segredo de Fátima 5. Pacto de Metz: a traição conciliar 6. A participação protestante na fabricação da Missa Nova 7. Monsenhor Bugnini e o propósito da Missa Nova 8. Ottaviani e o Breve Exame Crítico 9. O prefácio tradicionalista de Joseph Ratzinger 10. Paulo VI e o Culto do homem 11. Ecclesiam Suam e as diversas vias 13. Conclusão 1.Introdução Mediante a edificação do Instituto do Bom Pastor – beneficiado pela concessão de “crítica construtiva” aos erros do Vaticano II – Bento XVI magistralmente sepultou a fragilíssima lenda de um “super-concílio” incriticável e intocável. Enquanto os visionários, conduzidos pelas rédeas de uma obediência desordenada, censuram qualquer manifestação de oposição aos documentos conciliares, uma porção significativa de clérigos, sobretudo da cúpula romana, persistem na manutenção da crítica aberta, cientes

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Missa Nova e Vaticano II: a ruptura demonstrada

“A Missa de Paulo VI parece ser a tradução de um serviço protestante” (Jean Guitton).

1. Introdução

2. Jean Guitton e as confissões de Paulo VI

3. Paulo VI secreto: uma ficção de Jean Guitton?

4. Missa Nova e o Segredo de Fátima

5. Pacto de Metz: a traição conciliar

6. A participação protestante na fabricação da Missa Nova

7. Monsenhor Bugnini e o propósito da Missa Nova

8. Ottaviani e o Breve Exame Crítico

9. O prefácio tradicionalista de Joseph Ratzinger

10. Paulo VI e o Culto do homem

11. Ecclesiam Suam e as diversas vias

13. Conclusão

1.Introdução

Mediante a edificação do Instituto do Bom Pastor – beneficiado pela concessão de “crítica construtiva” aos erros do Vaticano II – Bento XVI magistralmente sepultou a fragilíssima lenda de um “super-concílio” incriticável e intocável. Enquanto os visionários, conduzidos pelas rédeas de uma obediência desordenada, censuram qualquer manifestação de oposição aos documentos conciliares, uma porção significativa de clérigos, sobretudo da cúpula romana, persistem na manutenção da crítica aberta, cientes de que um ensino pastoral e falível, nos padrões do Vaticano II, pode ser questionado havendo motivo razoável.

Poderíamos listar uma porção de teólogos, bispos e importantes prelados que “ousaram” discutir abertamente a letra anfibológica do Concílio. Nenhum deles sofreu, por suas contestações, a pena de excomunhão. Nem mesmo suas publicações ou alocuções foram condenadas como heréticas ou cismáticas. Dessa ausência de repressão – talvez para não comprometer o espírito

ecumênico – podemos entender, da parte das autoridades romanas, uma reconhecida liberdade para criticar os ensinamentos equívocos do Vaticano II.

Vislumbramos protestos isolados e até casos de ameaças provenientes de autoridades do episcopado. Porém, nenhuma punição efetiva. As disputas continuam firmes e públicas. Aos defensores da letra conciliar, remanesce a difícil missão de apresentar, satisfatoriamente, uma hermenêutica da continuidade.

Particularmente nesta redação, queremos discutir e refutar algumas dessas pretensas soluções mirabolantes que, nalguns casos, beiram as profundezas do fanatismo. Conquanto seja possível, em alguns casos específicos, uma interpretação católica dos textos do Vaticano II (embora não seja a melhor solução), queremos demonstrar que existem erros doutrinários impossíveis de serem eliminados senão por uma correção textual.

2. Jean Guitton e as confissões de Paulo VI

No artigo “Missa Nova e a hermenêutica da ruptura”, reunimos uma coleção de provas que indicavam, com indiscutível evidência, o espirito ecumênico que conduziu Paulo VI e seus auxiliares na fabricação do Novus Ordo Missae. A título de complemento, retransmitimos as confissões do filósofo Jean Guitton, que por ser amigo e confidente do Papa, ocupava a categoria de testemunha qualificada para divulgar fielmente os pensamentos do pontífice sobre a liturgia reformada.

É importante sublinhar que, mesmo na ausência dessas declarações de Guitton, continuaríamos a sustentar o mesmo parecer, visto que seu fundamento provém, essencialmente, do próprio Ordo da Missa com seus elementos habilitadores de uma interpretação protestante. Basta estudar o que estudiosos de notável competência produziram sobre a questão, mormente o denominado “Breve Exame Crítico”, para perceber a inexatidão e o “sabor de heresia” que subjaz no Ordo Missae.

Entretanto, desprezando os critérios que identificam a veracidade de uma confissão, nosso cognominado “objetante” simplesmente desqualificou as palavras de Jean Guitton. O princípio adotado para “derrubar” a testemunha, denuncia um deplorável ceticismo “destruidor” de toda a verdade. Para demonstrá-lo, reproduzirmos as palavras do autor:

“Portanto, é juízo temerário acusarmos a Sua Santidade o Papa Paulo VI de algo tão grave, se não tivermos como comprovar da própria boca dele, ou de alguma fonte direta dele (documento, gravação, filmagem, etc). (grifo nosso).

Partindo desta condição absurda de julgamento, grande parte da história – senão toda ela – deveria ser descartada por carência de fontes diretas. Como a maior parte das conclusões históricas têm base em fatos narrados por

testemunhas que nem sempre são as protagonistas dos acontecimentos, não haveria outra alternativa senão colocá-las na situação de “juízos temerários”.

O que nos garante, por exemplo, que realmente houve o grito do Ipiranga as margens plácidas? Como não duvidar do ensinamento de Sócrates, sendo que, tudo o que sabemos deste filósofo nos foi transmitido por seus discípulos, Xenofonte e Platão? [1] E de que valem as testemunhas em um tribunal, caso o réu não confesse seus próprios atos? As consequências desse ceticismo racionalista conduz inevitavelmente à destruição de toda a certeza. Na ausência de confissões documentadas, provenientes dos realizadores da ação, nada poderia ser afirmado sobre a veracidade de um discurso ou de um evento histórico. A dúvida, e não a certeza, prevaleceria nos tribunais e nos livros de história.

Por motivos filosóficos, recusamos veementemente esse ceticismo materialista que arrastará seus adeptos para negação da historicidade dos Evangelhos. Cristo não nos legou nenhum documento de suas mãos. Tudo o que sabemos de sua Pessoa é obra de doze testemunhas. Com efeito, seria juízo temerário – na opinião dos céticos – emitir julgamentos se não tivermos como comprovar as narrações dos Apóstolos por escritos diretos de Nosso Senhor.

Outra escusa levantada pelo desafiador diz respeito ao modernismo de Jean Guitton. Diz ele que, sendo o confidente um modernista, suas interpretações seguem no mesmo sentido, sobretudo no que tange ao pensamento do Papa e aos documentos do Concílio. Logo, tudo o que disse o filósofo sobre Paulo VI e a Missa Nova não condiz com a verdade.

O entendimento é absurdamente invertido.

É por ser modernista que as palavras de Jean Guitton adquirem maior peso de confiabilidade. Poder-se-ia duvidar da confissão de um tradicionalista sobre as palavras do Papa, e não de um modernista que, além de “grande” filósofo da modernidade, era amigo e confidente pessoal do Papa. O mesmo acontece com relação às referências históricas acerca da existência de Cristo. Encontramos testemunhos tanto da parte de cristãos como da parte de pagãos. E, certamente, os testemunhos dos não cristãos são tidos por mais confiáveis para o público não católico, por não haver interesse em defender o cristianismo.

Ademais, Jean Guitton está apenas confirmando o que é evidente por si mesmo. Como dissemos, as revelações desse filósofo são complementares e, portanto, não indispensáveis em matéria de comprovação do “desvio” litúrgico operado pelo Vaticano II.

Antes de registrarmos o pensamento de Paulo VI sobre seu confidente, destacando o grau de confiança que o pontífice lhe depositava, ressaltamos mais um equívoco do “divagador” que atesta sua imprudência em discorrer sobre algo que não estudou suficientemente.

Disse ele:

“O próprio Jean Guitton demonstra insegurança se interpretou corretamente quando diz ‘havia a intenção ecumênica de eliminar, OU pelo menos de remover ou atenuar’. Ele não sabia dizer ao certo se o que ele interpretou era eliminar, ou se era atenuar...”

Ainda que a intenção do Papa fosse atenuar e não propriamente eliminar os elementos excessivamente católicos da Missa, seria gravíssima do mesmo modo, porque, no fundo, visava favorecer uma interpretação protestante da liturgia católica. A firmeza na declaração de Guitton dissipa qualquer suposição de insegurança, como se o autor não tivesse completa certeza do que estava afirmando.

A confiança transborda nas palavras do confidente:

“... a intenção de Paulo VI em relação à liturgia, ou à vulgarização da Missa, era reformar a liturgia católica para aproximá-la da liturgia protestante… da Ceia protestante. […] repito que Paulo VI fez tudo o que estava em seu poder para aproximar a Missa católica — apesar do Concílio de Trento — da Ceia protestante” [2]

Sem titubear, Jean Guitton, o filósofo do Papa, declara que Paulo VI fez de tudo para aproximar a Missa Católica da Ceia protestante. E quando um padre, que estava presente no debate, protestou contra essa afirmação, Guitton seguramente replicou:

"A Missa de Paulo VI se apresenta principalmente como um banquete, não é verdade?... e insiste muito pouco na noção de sacrifício, de sacrifício ritual (...). Em outras palavras, há em Paulo VI uma intenção ecumênica de eliminar, ou pelo menos de atenuar, o que há nela de muito 'católico', no sentido tradicional e de aproximá-la -- repito -- da Missa calvinista"! [2] [3]

Jean Guitton manifesta confiança e não insegurança no que diz. Ele não mudou de parecer, mesmo quando questionado em um debate.

Somado a isso, temos ainda a opinião do Papa sobre os escritos de seu fidelíssimo confidente. Em um livro do filósofo Guitton, intitulado “Diálogos com Paulo VI”, encontramos o seguinte trecho esclarecedor:

“Por muito poderoso, porém, que seja o meu desejo de escrever, na esteira do Concílio, um livro intemporal, teria atirado este trabalho ao fogo se tivesse crido desagradar a Paulo VI. Foi por isso um instante de alegria quando, na manhã de 27 de Dezembro (dia em que a Igreja festeja um Evangelista que é também o meu patrono), recebi um telegrama de Paulo VI, onde pude ler estas palavras de censura e de doce absolvição: NIMIS BENE SCRIPSISTI DE NOBIS” [4]

Guitton confessa sua preocupação em não dizer nada que desagrade a Paulo VI. Isso deixa patente seu interesse em transmitir com precisão fatos e confissões relacionados ao seu amicíssimo Pontífice. E que de fato ele é fiel em suas revelações, confirmou o mesmo Papa ao enviar-lhe uma carta com a seguinte declaração: “Haveis escrito (dito) excessivamente bem de nós” [4].

Nenhum protesto. Nenhuma correção. Para Paulo VI, Jean Guitton não incorre em “julgamentos equivocados”.

Por ocasião de outra publicação, o Papa direcionou as seguintes palavras elogiosas ao seu “admirável” filósofo:

“Desde o primeiro dia do vosso ‘Monsieur Pouget’ e do seu diálogo de aprofundamento de si mesmo ao mesmo tempo que de comunicação com os outros, nunca mais deixámos de seguir com simpatia o desenvolvimento da obra que escrevíeis no prolongamento do seu universo de pensamento, onde a fé e a Inteligência vão ao encontro uma da outra e se enriquecem mutuamente com os seus fecundos apoios” [4].

As palavras de confiança e satisfação do Papa colorem a enorme credibilidade que ele depositava no trabalho de seu “amigo-confidente”. Essa “fé” na capacidade desse filósofo, também ressurge em João Paulo II. Por solicitação deste Papa, Guitton produziu e publicou uma biografia do Padre Lagrange. Nela, pode-se ler uma afirmação gravíssima acerca do Vaticano II, o que motivou uma longa e acirrada polêmica entre o professor Orlando Fedeli e o denominado “Instituto Paulo VI de Brescia”, da Itália. Transcrevemos o trecho abaixo para em seguida tirarmos as conclusões:

“Quando leio os documentos concernentes ao modernismo, tal como foi definido por São Pio X, e quando os comparo com os documentos do Concílio Vaticano II, não posso deixar de ficar desconcertado, porque o que foi condenado como uma heresia em 1906 foi proclamado como sendo e devendo ser doravante a doutrina e o método da Igreja. Dito de outro modo, os modernistas em 1906 me aparecem como precursores. Meus mestres faziam parte deles [os modernistas]. Meus pais me ensinavam o modernismo. Como São Pio X pode repelir os que agora me aparecem como precursores?” [5].

Como as demais confissões, essa também poderia ser questionada como consequência da ignorância ou má fé do autor. Mas o detalhe que não permite dispensá-la como “leviana interpretação” provém do fato de estar num livro elaborado por encomenda de um Papa que, além do mais, não rejeitou e muito menos criticou as palavras acusativas de Guitton ao Vaticano II. É um ataque público ao Magistério Conciliar que não sofreu qualquer repressão dos Papas. Isso nos confirma duas coisas: a liberdade para questionar o Concílio e o prestígio de Guitton perante a cúria romana, sobretudo em relação aos Papas Paulo VI e João Paulo II.

A conclusão é indiscutível: Jean Guitton tinha enorme preocupação em ser uma fonte confiável do pensamento do Papa. Ele não tinha motivos aparentes para fraldar o pensamento do pontífice que tanto admirava. A certeza disso vem, também, da ausência de crítica dos Papas que conheceram e até elogiaram o pensamento e os escritos do filósofo.

Portanto, ao oponente inconformado, advertimos que será preciso mais que palpites ou suposições céticas para desqualificar uma testemunha de

considerável importância para os Papas realizadores e aplicadores do Vaticano II.

3 Paulo VI Secreto: uma ficção de Jean Guitton?

Em outro artigo publicado [6], comentamos outras confissões de Paulo VI, também descritas por Jean Guitton em seu livro intitulado “Paulo VI Secreto”. De acordo com as revelações, o Papa teria afirmado que o Infalível Concílio de Trento obscureceu a tradição da Igreja na liturgia. Também teria dito que a liberação da Missa de São Pio V seria a condenação do Vaticano II por meio de um símbolo [7].

Essas confissões do Papa, publicadas por Guitton, não comprovam coisa alguma, segundo a opinião do “mestre da divagação”. Sem apresentar nenhum argumento sério, no mínimo racional, o “teólogo” compara o livro de Guitton – filósofo respaldado pelo confiança do Papa – com os escritos fictícios de inimigos da Igreja, como por exemplo, “O Código Da Vinci” de Dam Brow. Que provas apresenta o acusador quando chama o amigo do Papa de fraudulento? Nenhuma. Apenas suposições temerárias. Para que também não sejamos alvos da língua caluniadora deste aventureiro, reproduzimos ipsis litteris suas palavras:

“Se não me engano, estas citações que você traz estão como se fossem uma comprovação inegável das palavras e do pensamento do Papa Paulo VI (de um livro que não comprova coisa alguma), estão justamente no livro de Jean Guitton que possui um título com um tom que muitos entenderiam como ficção denominado "O Segredo de Paulo VI". Isto me faz lembrar de outros livros como "A última tentação de Cristo", ou ainda o livro denominado "O Código de DaVinci’”.

Dificilmente um historiador levaria a sério essa objeção sem valor científico. Uma obra não pode ser depreciada unicamente pelo título que leva. Existem outros critérios de avaliação que nem sequer aparecem na “pena” do contestador. Mas quem disse que o título desabona as revelações de Jean Guitton? Muito pelo contrário. O título adotado é perfeitamente razoável, visto tratar-se de revelações de um confidente do Papa. Ora, confidente é aquele para o qual uma pessoa revela suas informações mais secretas. Neste sentido, Jean Guitton é o confidente que nos revela o Paulo VI secreto, conhecido somente por sua audição.

O autor não disse, em momento algum, tratar-se de ficção. Sua narração firma-se como relato de algo que realmente aconteceu. E, pelo que conhecemos, também essa obra de Guitton permanece isenta de críticas por parte da cúria romana. Mesmo assim, o audacioso divagador insiste em imputar falsidade às declarações do amigo do Papa.

Evidentemente, poder-se-ia abalar a sustentabilidade das afirmações, recordando as referências positivas de Paulo VI ao seu Ordo Missae. Ora, sabendo disso, seria uma atitude esperada, para um falsificador de pensamento, ocultar as partes em que Paulo VI contesta qualquer efeito de ruptura com a tradição. Esse é um dos critérios para se comprovar a veracidade de um texto. Enfim, se Guitton realmente quisesse mentir, induzindo o leitor a pensar que Paulo VI era contra a Missa Antiga, vendo nela o símbolo de condenação do Concílio, não teria ele revelado os trechos em que o Papa recusa que tenha alterado a Fé na liturgia.

Fazer uma impugnação de testemunho histórico requer, previamente, um aparato de provas e argumentos altamente convincentes. Não se pode simplesmente contestar com base em suposições fantasiosas, que fogem ao critério científico.

Analisando, portanto, o fundamento da objeção, constatamos que a veracidade das revelações sobre Paulo VI preserva-se intacta, apesar dos palpites de um imprudente comentador de blog.

4. Missa Nova e o segredo de Fátima

Atropelando todas as evidências em nome de uma “obediência irracional”, o divagador fez uma inacreditável afirmação, como se não houvesse, até o momento, qualquer estudo sério sobre a ocultação de parte da terceira mensagem de Fátima:

“O Terceiro Segredo de Fátima, não contém afirmações sobre a liturgia do Novus Ordo Missae, o qual pode ser consultado no site do Vaticano inclusive com cópia dos manuscritos (inclusive com os erros e imprecisões de escrita) de Irmã Lúcia [...] Ainda assim, tristemente muitos preferem acreditar em boatos do que acreditar no Vaticano ou na Congregação Para a Doutrina da Fé”

O inocente adversário, porque acredita numa infalibilidade tirânica, classifica como boatos tudo o que estudiosos já comprovaram mediante exaustiva análise do emblemático caso de Fátima. Apesar das incongruências provenientes do Vaticano sobre o assunto, deveríamos então simplesmente fechar os olhos como “cordeirinhos obedientes”, enterrando como “ridículos boatos” todas as provas, a lógica e até mesmo o bom senso proveniente de uma lúcida razão? Contra isso, temos ensinamentos de grande autoridade. Por exemplo, São Francisco de Sales que assim advertiu:

“Muitos se enganaram redondamente (...) os quais julgaram que ela (a obediência) consistia em fazer a torto e a direito tudo o que nos pudesse ser mandado, ainda que fosse contra os mandamentos de Deus e da Santa Igreja” [8].

Também o Papa Pio IX sublinhou a questão em confirmação da Declaração dos Bispos Alemães:

“A Igreja Católica não é uma sociedade na qual é aceito aquele princípio imoral e despótico pelo qual se ensina que a ordem do superior em qualquer caso exime (os súditos) da responsabilidade pessoal” [9].

Portanto, não é um proceder virtuoso essa “obediência cega” pela qual o súdito ignora a moralidade ou ortodoxia da ordem superior. Se fosse assim, São Godofredo de Amiens e São Hugo de Grenoble não teriam resistido, juntamente com outros bispos, ao Papa São Pascoal II na questão das investiduras. Mas, como a obediência não anula a razão humana, esses dois santos se opuseram ao Papa nos seguintes termos:

“Se, como absolutamente não cremos, escolherdes uma outra via, e vos negardes a confirmar as decisões de nossa paternidade, valha-nos Deus, pois assim nos estareis afastando de vossa obediência” [8].

Ignorando o exemplo dos santos e o próprio ensino do Magistério, quer o divagador nos fazer aceitar, de olhos fechados, uma explicação cheia de contradições do Vaticano sobre o Terceiro Segredo de Fátima.

Não faremos, evidentemente, uma exposição completa de todos os questionamentos que envolvem Fátima e a não publicação completa do terceiro segredo. Pontuaremos algumas questões mais relevantes, pois estudiosos já esgotaram suficientemente a matéria, dando provas incontestáveis de que existe uma explicação do segredo não revelada pelo Vaticano.

Para não escandalizar o adepto da obediência surreal, convém esclarecer que a interpretação do segredo proposta pelo Vaticano não é de obrigatória aceitação para os católicos. Ora, se com relação as aparições privadas os cristãos são livres para crer ou não crer, também são livres para aceitar ou não a interpretação do conteúdo dessas aparições [10].

Na exposição do Cardeal Tarcísio Bertone, que precede a mensagem de Fátima, encontramos vários pontos questionáveis e em franca contradição com as palavras da confidente. O Secretário da Congregação para Doutrina da Fé, pretendendo eliminar qualquer hipótese de ocultação de parte do segredo, menciona afirmações como se fossem verdadeiramente as palavras de Lúcia. Por exemplo, quando ele diz que ela concordou que a consagração realizada por João Paulo II correspondia exatamente ao pedido de Nossa Senhora:

“A Irmã Lúcia confirmou pessoalmente que este acto, solene e universal, de consagração correspondia àquilo que Nossa Senhora queria: ‘Sim, está feita tal como Nossa Senhora a pediu, desde o dia 25 de Março de 1984’ (carta de 8 de Novembro de 1989). Por isso, qualquer discussão e ulterior petição não tem fundamento” [11].

Essa informação é desmentida pela vidente, conforme entrevista publicada em 1985, no periódico em Sol de Fátima:

“No participaron todos los obispos del mundo ni se hizo mención a Rusia. Muchos obispos no dieron importancia alguma a este acto” [10].

A consagração solicitada em Fátima prescreve uma referência nominal a Rússia. Irmã Lúcia sempre insistiu neste ponto, queixando-se da negligência dos Papas. Embora o Secretário Tarcísio Bertone se refira à cerimônia de João Paulo II como “ato solene e universal de consagração”, não houve, por mais um vez, a consagração solene nos moldes determinados por Nossa Senhora.

O Papa tinha consciência de que a menção da Rússia era condição indispensável para cumprimento das petições de Fátima. Essa informação nos é ratificada por uma revelação do Bispo Monsenhor Paul Josef Cordes, estreito colaborador do Santo Padre:

“Era 1984, y durante um almuerzo privado, el Papa habló de la consagración que había realizado. Contó que había pensado, tempo atrás, em mencionar a Rusia em la plegaria de la bendicíon. Sin embargo, por sugerencia de sus colaboradores, acabó abandonando esa idea. No podía arriesgarse a uma provocacíon tan directa contra os dirigentes soviéticos. Nos contó también cuánto le peso esa renuncia a la bendición pública de Rusia” [10].

Diante dessa revelação, que é aditiva e não fundamental, podemos levantar o seguinte questionamento: que motivos tinha Bertone para atribuir a consagração de Fátima ao Papa João Paulo II sendo que o Papa mesmo reconhece não tê-la realizado nas condições impostas pela Virgem? Por que tanto interesse assim em dissolver qualquer hipótese de ocultação de parte do terceiro segredo? Qual seja o objetivo do prelado, a informação compromete a veracidade da estranha carta que ele referenciou como sendo da irmã Lúcia. As ponderações conexas de Socci terminam por denunciar uma possível manipulação de dados:

“Puede sustentarse um pronunciamento tan importante de sor Lucía sobre uma carta tan ‘discutida’ que no há sido publicada ni reproducida, de cuyo destinatário o actual depositário no se hace mención, uma carta que desmiente todas las precedentes declaraciones de la vidente? Puede basarse solo em una carta semejante, no escrita a mano por sor Lucía y cuya autenticidade nunca fue confirmada personalmente por la monja?” [10].

Em outro trecho da explicação, Bertone afirma que a data proposta para publicação da mensagem (1960) era sugestão particular de Lúcia, e não da Virgem de Fátima.

“... o Senhor D. Bertone pergunta-lhe: ‘Porquê o limite de 1960? Foi Nossa Senhora que indicou aquela data?’. Resposta da Irmã Lúcia: ‘Não foi Nossa Senhora; fui eu que meti a data de 1960 porque, segundo intuição minha, antes de 1960 não se perceberia, compreender-se-ia somente depois’” [11].

Repetidas vezes a confidente afirmou com inabalável convicção que o ano de 1960, para publicação do segredo, era de inteira decisão de Nossa Senhora. Foi o que afirmou Lúcia e o bispo de Leiria em 1952, ante ao questionamento sobre a referida data para revelação do segredo: “Porque la Santa Virgen así lo quiere” [10]. Depois, em 1960, o próprio autor que havia perguntado sobre a data, e que falou pessoalmente com Lúcia em 17 e 18 de outubro de 1946,

confirmou a informação: “Lúcia afirma que Nuestra Señora quiere que se haga público a partir de 1960” [10]. Para finalizar, a declaração do padre Valinho, sobrinho da senhora Lúcia: “El informe acerca del Secreto iba acompañado por una carta en la que Lucía decía que la Virgen le había dicho que esse secreto solo podía ser divulgado depués de 1960” [10].

Após ter atribuído insistentemente e sem vacilar a escolha da data a Nossa Senhora, como poderia Lúcia desmentir-se subitamente a si mesma no ano de 2001, dizendo que tratava-se de uma ideia sua? Como poderia ela ter sustentado por tantos anos uma mentira, atribuindo a Virgem uma ideia que não era dela e, deste modo, enganando a Santa Sé?

Refletindo um pouco, percebe-se que, por um motivo lógico, a data deveria ser definida por Nossa Senhora, e não por Lúcia. As primeiras partes do segredo foram tornadas públicas em 1941 por permissão recebida do Céu, e não por escolha pessoal da vidente [12]. Do mesmo modo deveria suceder com a terceira mensagem do segredo. E isso adquire maior razoabilidade quando se verifica que Nossa Senhora, em aparição a Lúcia em 13 de Julho de 1917, havia proibido divulgar essa parte da mensagem: “Esto no se lo digáis a nadie”. Ora, diante dessa proibição do Céu, jamais Lúcia teria se atrevido a fixar, por seu próprio capricho, a data para revelação pública da mensagem. Somente Nossa Senhora, que havia proibido a publicação, poderia fazê-lo.

Pelo que se compreende, competia a Nossa Senhora e não a Lúcia estabelecer a data para revelação dos segredos. Outrossim, a vidente sempre havia declarado que 1960 era a data fixada pela Virgem. Por isso e pela lógica demonstrada, fica difícil aceitar como verdadeira a informação do senhor Cardeal Tarcísio Bertone.

Outro detalhe questionável, diz respeito à alusão ao atentado sofrido por João Paulo II como sendo a realização do terceiro segredo. Essa interpretação é incrivelmente forçada pelo Cardeal Ângelo Sodano em 13 de maio de 2000. O Cardeal sugere que o Papa da visão do segredo cai por terra “como morto”, ou seja, apenas ferido sob tiros de uma arma de fogo. Imediatamente após essa “fraude” de Sodano, ele liga o fato ao atentado contra João Paulo II que caiu por terra “como morto”, sob tiro de uma arma de fogo.

Em sua análise crítica dessa avaliação do Cardeal Sodano, Antonio Socci observa que o papa da visão profética é literalmente “assassinado”, o que é algo muito diferente de ferimento sem morte, como aconteceu com João Paulo II. Na visão, o bispo vestido de branco é fuzilado por vários soldados, morrendo juntamente com os que lhe acompanhavam (bispos, sacerdotes, religiosos e seculares). No atentado de 1981, apenas João Paulo II é ferido e por um único atirador. Existem muitas outras contradições e imprecisões na exposição de Sodano, perfeitamente demonstradas pelo Jornalista Antonio Socci. Mas, para dar um desfecho no assunto, transcrevemos as próprias palavras de Lúcia direcionadas ao Papa em 1982, portanto, posterior ao atentado que ele havia sofrido:

“Aunque no constatamos aún lá consumación completa del final de esta profecia, vemos que nos encaminhamos poco a poco hacia ella a grandes passos [10].

Lúcia escreve ao Papa e nem sequer recorda o incidente de 1981. A vidente definitivamente não compactua com o parecer do Vaticano. Desfazendo as especulações controvertidas de alguns intérpretes, Lúcia direciona a profecia de Fátima para o futuro, negando que já tenha se realizado no passado.

Que não podemos aceitar como segura a interpretação do Vaticano está suficientemente demonstrado. Os fatos denunciam uma conspiração entre membros da cúria para camuflar uma parte não publicada do terceiro segredo. Tamanha preocupação em esconder sugere algo de muito grave nesta mensagem ainda desconhecida por muitos.

Como discorremos em artigos anteriores, existem algumas declarações que nos permitem conhecer na essência o teor dessa mensagem secreta. No contexto de nosso estudo, trouxemos para a análise dois textos fundamentais, provenientes de duas autoridades extremamente confiáveis. Uma delas, e consideramos a mais importante, provém do Papa Pio XII quando ainda era Secretário de Estado do Papa Pio XI. Em 1936 o então Cardeal Eugênio Pacceli escreveu a um amigo de confiança sobre o tenebroso segredo:

“Suponha , meu caro amigo, que o comunismo seja apenas o mais visível dos órgãos de subversão contra a Igreja e contra a tradição da revelação divina, então nós vamos assistir à invasão de tudo o que é espiritual, a filosofia, a ciência, o direito, o ensino, as artes, a imprensa a literatura, o teatro e a religião. Estou obcecado pelas confidências da Virgem à pequena Lúcia de Fátima. Essa obstinação de Nossa Senhora diante do perigo que ameaça a Igreja, é um aviso divino contra o suicídio que representaria a alteração da fé, em sua liturgia, sua teologia e sua alma [...] Ouço em redor de mim os inovadores que querem desmantelar a Capela Sagrada, destruir a chama universal da Igreja, rejeitar seus ornamentos, dar-lhe remorso de seu passado histórico” [13].

Na circunstância desse texto, o futuro Pio XII – que conhecia o segredo – adverte que em Fátima Nossa Senhora preveniu contra uma alteração da fé na liturgia, que representaria um desastroso suicídio na Igreja. Esse suicídio foi posteriormente confirmado pelo Papa Paulo VI em seu discurso sobre a crise da Igreja:

"A igreja atravessa, hoje, um momento de inquietação. Alguns se exercem na auto crítica, dir-se-ia que até na auto demolição [...] A Igreja é golpeada também por quem faz parte dela" [14].

Autodemolição é uma forma de suicídio.

Pacceli comentou e Paulo VI constatou o suicídio provocado pelo Vaticano II.

Que a alteração da fé na liturgia, contida no aviso de Fátima, se refere a uma mudança ou reforma litúrgica, compreende-se pelo texto seguinte, quando

Pacceli alerta sobre os inovadores que o circundam, e que almejam destruir a Capela Sagrada, rejeitando seus ornamentos. Essa preocupação do Cardeal o fará escrever a “Encíclia Mediator Dei”, pela qual, enquanto Papa Pio XII, procurou coibir os abusos litúrgicos e frear uma suicida tentativa de mudança da Missa.

A relação, portanto, entre Fátima e a Missa Nova é garantida pelo Secretário de Estado do Vaticano, que em 1939 se tornou o Papa Pio XII. É por essa mensagem de Pacceli que passamos a entender o motivo pelo qual Nossa Senhora pediu a publicação do segredo em 1960, praticamente nas vésperas do Vaticano II. Queria a Mãe de Deus prevenir a Igreja contra o suicídio que seria a mudança da liturgia conduzida pelo Vaticano II?

Terá o desafiador coragem de acusar o Papa Pio XII de mentiroso, como sempre faz com relação aos autores que comprometem suas falácias? Um dilema se interpõe: ou Fátima denuncia uma reforma litúrgica desastrosa, e Pacceli disse a verdade, ou Fátima não tem qualquer relação com essa mudança, e Pacceli é um mentiroso. Que o desafiador resolva esse problema decorrente de suas imprudentes asserções.

Na mesma linha de Pacceli, havíamos citado uma surpreendente revelação de um amigo de longa data do Papa Bento XVI. Em entrevista exclusiva para o Cruzada de Fátima, Padre Paul Kramer conta que esse amigo do Papa - Padre Dollinger – contou-lhe que em 1990 o Cardeal Ratzinger tinha-lhe relatado que no terceiro segredo Nossa Senhora alertou contra as mudanças na Missa e que haveria um Concílio diabólico na Igreja. Não estamos falando de uma testemunha qualquer. E se o “cético” acusador de testemunhas duvida da honestidade do confidente, transcrevemos a resposta do Padre Kramer sobre a reputação do Padre Dollinger:

“Nós estávamos falando de um padre mais velho, um amigo pessoal de longa data do Papa Bento, um homem que por muito tempo foi familiarizado com São Pio de Piertrelcina [Padre Pio]. De fato, ele me disse que tinha ido se confessar com Padre Pio 58 vezes. Ele é um homem que, por muitos anos, foi Reitor de um seminário na America do Sul; um homem que é altamente estimado, que é de grande reputação na Igreja. Eu também ressaltaria que, na diocese onde ele trabalhou, o que eu disse a respeito do Terceiro Segredo de Fátima, e que o Cardeal Ratzinger revelou a ele, era de conhecimento comum entre os padres mais jovens, e os que eram seminaristas e diáconos, no tempo que este homem era o Reitor. Todos eles sabiam da história que o Cardeal Ratzinger tinha contado a ele [...] Como mencionei, juntos eles haviam feito juntos um dossiê, e o enviaram ao Cardeal Ratzinger. Então, ele é um homem de grande credibilidade, pessoa meritória; um homem de grande seriedade que não é dado a criar histórias fabulosas, ou exagerar sua própria importância. Um homem que não tem nenhuma necessidade de tais coisas; ele é um homem da mais alta credibilidade” [15].

Seria Padre Dollinger também um mentiroso inventor de histórias? Ou seria ele um ignorante ou teólogo de má fé? Qual será o crime que o atrevido caluniador

imputará ao Padre amigo de Bento XVI? É verdade que existem discursos do Papa favoráveis ao Vaticano II e a Missa Nova. Não sabemos o motivo dessas avaliações positivas. Pode ser por receio de divisões na Igreja ou uma manobra política para evitar consequências mais drásticas. Independente disso, seguem plausíveis as palavras de Ratzinger sobre o Segredo de Fátima.

A que conclusão chegamos? Que a análise do Jornalista Antonio Socci, acusada levianamente de boatos, é muito mais lógica e convincente que as suposições e contradições dos Cardeais Tarcísio Bertone e Ângelo Sodano. Veja-se, por isso, que nem sempre é seguro trocar os “boatos” razoáveis por explicações falíveis e equivocadas de um órgão da Santa Sé. E se, com todas as evidências, o “destemido” aventureiro insistir em nos intimar a obedecer cegamente, sob pecado de rebeldia, retrucamos esta tirânica pressão com o infalível Magistério da Igreja:

“Desde que falta o direito de mandar ou o mandato é contrário à razão, à Lei eterna, à autoridade de Deus, então é legítimo desobedecer aos homens a fim de obedecer a Deus” [16].

Obedecemos primeiramente a Deus, e ao Vaticano na medida em que suas autoridades, mormente o Papa, proclamam as imutáveis verdades da Fé.

5. Pacto de Metz: a traição conciliar

Quando trazemos à memória a ativa participação dos protestantes na elaboração da nova liturgia, os adversários apressadamente respondem que esses “irmãos separados” participaram do Vaticano II na condição de observadores, a exemplo do Concílio precedente que, por decisão deliberada do Papa Pio IX, também convidou os adeptos de outras religiões.

A primeira vista, os atos parecem similares. Ambos os Concílios convocaram a presença dos hereges e cismáticos. Porém, analisando cada uma dessas convocações, percebe-se de imediato uma importante diferença ignorada ou propositadamente encobertada pelos defensores do Vaticano II.

Para a realização do Vaticano I, o Romano Pontífice convocou os “não-católicos” por meio de duas cartas apostólicas de 8 e 13 de setembro de 1878. Ao ser questionado pelo arcebispo de Westminster se os dissidentes poderiam apresentar seus argumentos no concílio, o Papa esclareceu:

“Nós não quisemos convidar os não-católicos para uma discussão, mas só os exortamos a aproveitar a oportunidade oferecida por este concílio, em que a Igreja Católica – à qual os seus antepassados pertenciam – dá uma nova prova da sua unidade interior e da sua invencível vitalidade, e a prover assim à necessidades das suas almas, abandonando uma situação na qual não podem estar seguros da sua salvação. Quando por obra da divina graça eles viessem a conhecer o perigo em que estão, e procurassem a Deus com todo o seu coração, não lhes seria difícil libertarem-se de todas as opiniões preconcebidas

e adversas; deixando de lado qualquer desejo de disputa retornariam ao Pai, de quem infelizmente se afastaram há tanto tempo” [17].

Pio IX convida os hereges e cismáticos a participarem do concílio como observadores, conclamando-os a reconhecerem seus erros e a retornarem para a verdadeira religião. O papa não lhes concede liberdade de discurso nas sessões conciliares. A participação é terminantemente restrita.

Também não houve qualquer concessão do papa para obter a presença desses “inimigos da fé”. Sem rodeios diplomáticos, o santo padre reafirmou a necessidade de conversão e o perigo em que se encontram todos aqueles que permanecem fora da Igreja Católica.

Essa foi a aludida convocação dos “não-católicos” no Vaticano I de Pio IX. Veremos, logo mais, como isso se desenrolou no Vaticano II de João XXIII e Paulo VI, sublinhando qual foi o grau de “intromissão” dos hereges e cismáticos na doutrina e na liturgia modificada.

Especificamente neste tópico, focaremos a condição acordada entre o Vaticano e a Igreja Ortodoxa Russa que, na época, estava sob o domínio do governo comunista de Moscou.

Esse acordo traidor entre católicos e cismáticos teve lugar em 1962 na cidade de Metz, França. Nas condições do pacto firmado, a Igreja Ortodoxa se comprometia a enviar dois observadores ao Concílio, enquanto que, da parte do Vaticano II, não seria proferida qualquer condenação ao comunismo.

A notícia sobre essa concordata comunicou o Partido Comunista Francês através de seu boletim central de janeiro de 1963:

“Puesto que el sistema socialista mundial manifiesta de forma innegable su superio-ridad y recibe su fortaleza de la aprobación de centenares y centenares de millones de hombres, la Iglesia ya no puede contentarse con un tosco anticomunismo. Incluso se ha comprometido, con ocasión del diálogo con la Iglesia ortodoxa rusa, a que no habrá en el Concilio un ataque directo contra el régimen comunista” [18].

Em troca de “observadores”, o Vaticano II não condenaria a criminosa, nazista e antinatural doutrina comunista.

Esse “silêncio combinado” sofreu as severas críticas do Cardeal Giacomo Biffi, ex-Arcebispo de Bolonha, autor do livro “Memórias e digressões de um italiano Cardeal”. Nessa obra de 640 páginas, o prelado censura o Vaticano II por sua omissão em face da perversidade comunista. Sem emitir nenhuma condenação textual, observa o Cardeal que o Concílio simplesmente calou-se, enquanto “rios de sangue” eram derramados por uma ideologia criminosa, sempre denunciada pelos Papas anteriores [19].

Ensinou Pio XI que a Igreja não deve silenciar – como silenciou o Vaticano II – diante do perigo comunista:

“Vós, sem dúvida, Veneráveis Irmãos, já percebestes de que perigo ameaçador falamos: é do comunismo, denominado bolchevista e ateu, que se propõe como fim peculiar revolucionar radicalmente a ordem social e subverter os próprios fundamentos da civilização cristã [...]diante destas ameaçadoras tentativas, não podia calar-se nem de fato se calou a Igreja Católica. Não se calou esta Sé Apostólica, que muito bem conhece que tem por missão peculiar defender a verdade, a justiça e todos os bens imortais, que o comunismo despreza e impugna. Já desde os tempos em que certas classes de eruditos pretenderam libertar a civilização e cultura humanística dos laços da religião e da moral, os Nossos Predecessores julgaram que era seu dever chamar a atenção do mundo, em termos bem explícitos, para as conseqüências da descristianização da sociedade humana” [20].

Rompendo com o Magistério precedente, o Vaticano II não se pronunciou. Por vias de um acordo deplorável, tornou-se cúmplice de uma grave perversidade.

A veracidade desse acordo “vaticano-moscovo” teve uma surpreendente confirmação a partir de uma carta de Monsenhor Georges Roche, secretario por trinta anos do Cardeal Tisserant, que conduziu as negociações de acordo com os comunistas da KGB. Segundo as revelações do prelado, existiu verdadeiramente o acordo entre Roma e Moscou, e que a iniciativa dos encontros foi tomada pessoalmente por João XXIII, por sugestão do Cardeal Montini, futuro Papa Paulo VI [18].

Os efeitos desse acordo foram rapidamente notados no decurso do Vaticano II. O sumiço misterioso de uma declaração anticomunista, elaborada por 450 padres conciliares e entregue ao Secretariado do Concílio, mostra a preocupação dos dirigentes em não direcionar ataques ao comunismo. Também o silêncio a que foram submetidos o clérigos que insistiam em denunciar o regime vermelho. Estes receberam o “delicado conselho” de permanecerem “sentados e calados” [10].

O que podemos deduzir deste pacto de silêncio?

Vimos que em Fátima Nossa Senhora pediu a consagração da Rússia como forma de impedir a propagação de seus erros pelo mundo. Ora, o comunismo é um dos graves erros da Rússia Soviética. A Virgem Maria, que não faz acordos traidores com os homens, queria efetivamente combater os erros da Rússia. O Vaticano II, ao contrário, se calou voluntariamente, favorecendo a disseminação e o triunfo do comumismo. Deus, por meio de Maria, pede uma ação de combate. Mas, negando-se a obedecer as ordens do Céu, os Papas conciliares não consagraram a Rússia e ainda decidiram não condenar seu regime comunista, fazendo acordos traidores com os inimigos da fé.

O fato também denúncia o poder de influência dos “não-católicos” nas decisões do Concílio, a ponto de conseguirem por meio de acordo uma garantia de não condenação de suas doutrinas. Pio IX estava interessado em converter os hereges, e por isso os convocou a participarem como observadores. João XXIII, em atitude oposta, estava mais preocupado com a participação dos “não-

católicos”, chegando ao cúmulo de prometer silêncio total do Vaticano II sobre a ideologia comunista.

Com relação a esta omissão diante do mal, sobretudo se combinada por meio de acordo, vale recordar o ensino do Magistério da Igreja:

“É aprovar o erro não lhe resistir, é sufocar a verdade não a defender” [21].

O Vaticano II não resistiu ao erro comunista. Silenciou ecumenicamente. Nas palavras do Magistério: aprovou um mal sempre condenado pela Igreja. Pois, como ensina o provérbio: “Quem cala consenti”.

6. A participação protestante na fabricação da Missa Nova

Havíamos comprovado a participação protestante na reforma litúrgica pela declaração de Monsenhor W. W. Baum, diretor-executivo para os assuntos ecumênicos da Conferência Episcopal Norte-americana: “Eles [os pastores protestantes] ali estão não simplesmente como observadores, mas também como consultores, e participaram nas discussões sobre a renovação litúrgica católica. Não teria muito sentido se se contentassem com escutar, mas contribuem de fato” [8].

Por causa desse texto de um importante clérigo-diretor, fomos acusados de mentirosos e difamadores do Papa Paulo VI. Como a Sala de Imprensa do Vaticano disse que os protestantes foram admitidos somente na condição de simples observadores, deveríamos abandonar, com dócil obediência, todas as provas que conduzem logicamente para um entendimento contrário.

Apoiado nas instruções de Dom Âreas Rifan, o desafiante nos apresentou o que seria sua indestrutível objeção:

“Os pastores protestantes participaram como observadores, o que está muito claro no livro ‘La Rifforma Liturgica, 1948-1975 – Monsenhor Annibale Bugnini’ onde está várias vezes repetido que os observadores não escreveram o Missal e não fizeram o Missal. E isto é um fato, pois nas Assembléias Plenárias os observadores não tinham direito nem de voto e nem de voz”.

Seguindo a “opinião de terceiros”, nosso infeliz adversário assevera que, segundo o liturgista Monsenhor Annibale Bugnini, os observadores não tiveram participação no Missal. A certeza dessa não participação estaria fundada na impossibilidade de voto e voz, privilégio único dos padres e bispos conciliares.

Assim seria se fosse verdade.

No início do Vaticano II, os leigos eram, até então, simples observadores das decisões conciliares. Porém, essa situação foi revertida, quando em 13 se novembro de 1963 introduziu-se um novo artigo no Regimento Interno do Concílio que, sob aprovação do Papa, concedia aos leigos observadores o direito de intervenções discursivas durante as sessões:

“Por gratuita concessão do Sumo Pontífice, renomados leigos podem assistir às sessões públicas, às Congregações Gerais e às reuniões das Comissões. Mas só podem tomar a palavra se forem solicitados pelo Moderador da assembleia ou pelo presidente de uma comissão, a dar a sua opinião em circunstâncias particulares e do mesmo modo que os especialistas” [22].

Os leigos começavam a ganhar voz no Concílio.

Nesse espírito democrático conciliar, Paulo VI convidou onze homens para participarem da segunda sessão do Vaticano II, na qualidade de “Auditores”. Esses personagens eram então leigos que, após prévia autorização, poderiam discursar a título de “opinião”.

Uma primeira intervenção leiga aconteceu em 13 de outubro, quando foi concedida a palavra ao Sr. Keegan, de Londres, presidente do Movimento Mundial dos Trabalhadores Cristãos. Diante da Assembleia Geral, pronunciou suas considerações em favor da abertura do Concílio às opiniões dos leigos, recebendo, por isso, um caloroso aplauso dos Padres Conciliares [22].

Esses auditores também elaboravam propostas que eram oficialmente submetidas ás Comissões. Tinham também não raras oportunidades de discutir, com os padres, os especialistas e os observadores das Igrejas Cristãs Separadas, os assuntos debatidos no Concílio [22].

Além de submeterem suas propostas às Comissões, os leigos “observadores” também eram livres para discutirem com os “observadores” das Igrejas cristãs separadas. Desse modo, seria possível aos leigos católicos retransmitirem às Comissões as queixas e as opiniões dos “irmãos separados”. Mas como os hereges tinham contato direto com os padres conciliares, para manifestarem suas considerações, essa mediação certamente tornou-se desnecessária.

Ao término da sexta semana da primeira sessão, concedeu uma entrevista o Sr. Cullman, professor nas universidades de Basiléia e de Paris, na condição de hóspede do Secretariado para a União dos Cristãos. Nessa entrevista, o professor disse que era autorizado aos convidados e observadores assistir a todas as Congregações Gerais, comunicar seus pontos de vista nas reuniões semanais especiais do Secretariado, além de terem contato pessoal com os Padres Conciliares, especialistas e outras personalidades romanas [22].

No começo da segunda sessão do Concílio, Paulo VI recebeu em audiência os observadores e convidados. Na circunstância, dirigiu-se ao Papa o observador da Federação Luterana Mundial, Dr. Kristen Skydsgaard, exprimindo sua gratidão pela renovação do convite para a segunda sessão do Concílio. Em resposta, o Papa Paulo VI manifestou o desejo de receber os observadores e convidados não só dentro de sua casa, mas no próprio coração de sua intimidade” [22].

Simples observadores ou ativos colaboradores?

No dia 18 de outubro, o Cardeal Bea ofereceu uma recepção aos observadores e convidados. Falando-lhes em francês, o prelado solicitou que encaminhassem suas críticas, recordando as seguintes considerações do Papa: “Devemos acolher com humildade, reflexão, e mesmo com reconhecimento, as críticas que nos são feitas; Roma não precisa se defender; não deve permanecer surda às sugestões que lhe vêm de vozes honestas, e muito menos quando estas vozes são de amigos e de irmãos” [22].

Em conclusão, o Cardeal assegurou que seria dada a maior atenção às suas críticas positivas, suas sugestões e desejos [22].

Durante um discurso de agradecimento do Papa Paulo VI, o chefe da delegação anglicana transmitiu diante do Pontífice seu discurso em nome dos observadores-delegados: “Nenhuma vez sequer durante estes quatro anos [...] sentimos que nossa presença incomodasse fosse a quem fosse. Ao contrário, sempre nos pareceu que ela havia contribuído, em vários aspectos, para o êxito do Concílio e da grande tarefa de reforma que ela empreendeu” [22].

Na presença do Papa Paulo VI, o simples “observador” da delegação anglicana afirmou que os representantes de outras religiões contribuíram para o êxito do Concílio e da reforma que ele empreendeu. É a confirmação de que os observadores protestantes influenciaram na letra e na reforma litúrgica do Vaticano II.

Na descrição do chefe da delegação anglicana (Dr. Moorman), entrevemos a bem sucedida “pressão” exercida pelos observadores protestantes:

‘... constituían una especie de control sobre lo que se decía. Cada obispo que se ponía de pie para hablar sabía que en la tribuna de San Longino se encontraba un grupo de críticos inteligentes que preparaban lápices y bolígrafos para consignar lo que dijera, y para usarlo quizás en contra suya o de sus colegas en alguna ocasión futura... Los miembros del Concilio trataron, por lo tanto, de ser muy sensibles acerca de los que los representantes de otros credos pudieran pensar y se esforzaron por no decir nada que pudiera ofenderlos. Si algún Padre se entusiasmaba y decía cosas que pudieran causar revuelo en la tribuna de observadores, era a veces refutado por algún orador posterior’” [23].

Com esse eficiente poder de interferência nas decisões do Concílio, nem seria preciso conceder aos “observadores” o direito de voto e voz. Entretanto, não tardou a participação discursiva deixar de ser, de algum modo, uma impossibilidade aos “não-católicos”. Habilmente burlou-se a interdição, como se pode visualizar nas palavras do chefe anglicano:

“... aunque a los observadores no se les permitía hablar en el Concilio, a veces uno u otro de los Padres leía sus palabras en su lugar’” [23].

Não é preciso direito de voz para quem dispunha de porta-voz. Os protestantes transmitiam suas ideias por intermédio de alguns padres. A participação,

portanto, não consistia apenas em observar os acontecimentos. Os hereges atuaram e contribuíram para a mudança doutrinal e litúrgica do Vaticano II, e com a ajuda traidora de padres conciliares.

A contribuição dos protestantes prosseguiu vigorosa. Diz o representante anglicano que eles tinham liberdade para compartilhar suas opiniões nas reuniões semanais especiais do Secretario para a Unidade dos Cristãos. Além disso, tinham contato direto com padres, peritos e outras preeminentes personalidades de Roma.

Muito mais que observadores, os protestantes eram elementos vivos e ativos no Concílio, como nos assevera o professor e delegado luterano, Oscar Cullmann: “Cada mañana me asombro cada vez más del modo en que formamos realmente parte del Concilio’” [23].

Em uma reunião organizada pelo seu Secretariado, O Cardeal Bea delimitou o alcance da ação dos observadores na redação do Decreto sobre o Ecumenismo: “No titubeo en declarar que ellos han contribuido en forma decisiva para producir este Resultado” [23]. O professor B. Mondin, do Pontifício Colégio de Propaganda para as Missões, também testemunhou que os observadores, a exemplo do Dr. Cullman, produziram uma “contribuição válida” ‘para a redação dos documentos conciliares [23]. A infiltração protestante também é atestada pelo Padre Holandês Schillebeeckx:

“Se asombra uno al encontrarse simpatizando más con el pensamiento de observadores cristianos no-católicos, que con las opiniones de sus propios hermanos del otro lado de la línea divisoria. La acusación de connivencia con la Reforma no carece por lo tanto de fundamento” [23].

Abonando nossa posição, afirma o “perito conciliar” não ser desprovida de fundamento a ideia de que observadores protestantes, de fato, ajudaram na Reforma do Vaticano II. Deste modo, podemos seguramente reafirmar nossa primeira conclusão, declarando que a Missa Nova e alguns documentos do Concílio são resultados da cooperação mútua entre padres e hereges.

Em discurso aos observadores “não-católicos”, após a realização de uma cerimônia ecumênica, o Papa Paulo VI deixou subentendido a influência dos hereges nas decisões do Concílio:

“… Sabeis, Irmãos, que de muitas maneiras o nosso próprio Concílio Ecumênico pôs-se em movimento em direção a vós: da consideração que os Padres Conciliares não deixaram de manifestar pela vossa presença, que tão cara lhes era, até o esforço unânime para evitar toda expressão que não fosse cheia de deferências para convosco; da alegria espiritual de vermos vosso grupo de escol associado às cerimônias religiosas do Concílio, até a formulação de expressões doutrinais e disciplinares aptas a arredar os obstáculos e a abrir sendas tão largas e aplainadas quanto possível para uma melhor valorização do patrimônio religioso que conservais e desenvolveis: a Igreja Romana, como vedes, testemunhou a sua boa vontade de vos compreender e de se fazer compreender; não pronunciou anátemas,

senão invitações; não traçou limites à sua espera, como tampouco os traça ao seu oferecimento fraterno de continuar um diálogo que a empenha” [24].

Nas palavras do Pontífice, o grupo dos “não-católicos” estava associado à formulação de expressões doutrinais e disciplinares, aptas a eliminar e a ampliar, o quanto possível, uma melhor valorização do patrimônio religioso conservado e desenvolvido pelos hereges.

Para eliminar obstáculos, nada mais eficaz do que contar com a contribuição dos inimigos, com os quais se desejava uma maior aproximação teológica-litúrgica.

Quanto aos seis observadores protestantes convidados para acompanharem a implementação da liturgia no pós-concílio, reproduzimos as plausíveis ponderações de Monsenhor Lefebvre:

“Podemos legitimamente pensar, que foi por isso que os protestantes foram convidados para a Comissão da Reforma Litúrgica; para ficarmos sabendo se estavam satisfeitos ou não, ou se havia alguma coisa que lhes não agradava, se eles podiam ou não rezar conosco. Eu penso que não pode existir outro motivo para esta presença dos protestantes na Comissão de reforma da Missa. Mas como podemos pensar que protestantes, que não têm nossa fé, possam ser convidados para uma Comissão destinada a fazer uma reforma de nossa Missa, de nosso Sacrifício, daquilo que temos de mais belo, de mais rico em toda a Igreja, o objeto mais perfeito de nossa fé?!” [25].

Não houve calúnia de nossa parte, quando tão somente confirmamos uma evidência histórica. O imprudente divagador, que nos rotulou de mentirosos e caluniadores, deveria ter antes investigado cuidadosamente a questão, para não incorrer na falta que levianamente nos imputa.

7. Monsenhor Bugnini e o propósito da Missa Nova

Para implantar seu arquétipo litúrgico, Paulo VI nomeou o Monsenhor Anniballe Bugnini, suspeito de manter, naquele tempo, sérias relações com a seita maçônica. Em artigo publicado no site da Congregação do Clero [26], o vaticanista Andrea Tornielli abordou a questão, reproduzindo duas cartas nas quais se registra um provável diálogo entre Bugnini e o Grão-Mestre da maçonaria. O conteúdo da conversa desvenda um suposto plano para destruir a Igreja pela demolição da liturgia.

Essa ligação de Bugnini com os maçons tem demonstrativos que superam o insignificante rótulo de meras “suspeitas circunstanciais”. Michael Davies, que investigou o assunto, fornece-nos uma importante informação:

“Fiz minha própria investigação sobre o assunto e pude responder pela autenticidade dos seguintes fatos. Um sacerdote romano da mais alta reputação detinha a evidência pela qual considerou demonstrado que Mons. Bugnini era um francomaçom. Disse que essa informação fora posta nas mãos de Paulo VI com a advertência de que si não se tomasse imediatamente medidas, se veria em consciência obrigado a tornar público o assunto. Mons. Bugnini foi então despedido e a congregação dissolvida” [23].

Em se tratando de “suspeitas circunstanciais”, sem valor comprovativo, seria incompreensível a severa punição infringida contra monsenhor Bugnini. A decisão do Papa, perante as evidências, robustece a ideia de que o criador da Missa Nova era um legítimo francomaçom.

No ano de 1978, um jornalista italiano (Mino Pecorelli) publicou um documento contendo uma lista de 123 cardeais e bispos do Vaticano que seriam membros da maçonaria [27]. Dos nomes revelados, encontramos precisamente o de Monsenhor Annibale Bugnini. O documento poderia até ser contestado. Mas o misterioso assassinato do jornalista induz os céticos a acreditar que sua denúncia não está, pelo menos completamente, desprovida de verdade. O fato foi estudado e comentado pelo historiador Ricardo de la Cierva:

“El periodista Mino Pecorelli, que había denunciado la infiltración masónica en las alturas de la Iglesia, fue asesinado en Roma el 22 de marzo de 1979, de forma misteriosa que parecía ritual. Nadie hurgó en esa muerte hasta que en 1995, durante el proceso del dirigente democristiano Giulio Andreotti, alguien le acusó de haber ordenado el asesinato del denunciante” [28].

As provas e os acontecimentos fortalecem as suspeitas de que o patriarca da reforma litúrgica era um agente da maçonaria. A certeza desta “cumplicidade” maçônica” torna-se mais tangível quando se conhece as declarações de Bugnini sobre as duas versões do rito romano. Relativo ao propósito ecumênico da reforma, de modo a favorecer uma leitura protestante da missa, temos uma declaração comprometedora de Bugnini, reproduzida pela imprensa oficial do Vaticano:

“Desejo eliminar [do futuro Rito em elaboração] cada pedra que pudesse se tornar ainda que só uma sombra de possibilidade de obstáculo ou de desagrado aos irmãos separados” [29].

Assim confessou o então Secretário da Comissão responsável pela elaboração do Novo Ordo Missae. Contra isso, foi-nos apresentada a seguinte advertência do Cardeal Raztinger, na época direcionada a Monsenhor Lefebvre:

“O sr. sabe igualmente que para a interpretação do missal, o essencial não é o que dizem os autores privados, mas somente os documentos oficiais da Santa Sé. As afirmações do Pe. Bouyer e de Mons. Bugnini, aos quais o sr. faz alusão, não são senão opiniões privadas” [30].

Como o documento aduzido provém de uma autoridade da Igreja, ainda que desprovida de infalibilidade, bastou para o defensor conciliar despachar a mensagem de Bugnini para o arquivo cético das impossibilidades.

Poder-se-ia até cogitar a procedência do argumento contra Lefebvre, supondo que Bugnini tivesse participado da reforma litúrgica como simples observador ou intérprete do Missal. Entretanto, todo mundo sabe que o envolvimento do suspeito maçom na Missa Nova não foi somente de interpretação, como sugere o Cardeal Ratzinger, mas de ativa elaboração do que se denominou Missal de Paulo VI. A interpretação protestante subseqüente é apenas conseqüência de uma manobra anterior, conduzida por Monsenhor Bugnini.

O fundamental, portanto, é demonstrar se o fabricador da liturgia aplicou o que realmente pretendia, isto é, eliminou do futuro Rito em elaboração cada pedra que pudesse se tornar ainda que só uma sombra de possibilidade de obstáculo ou de desagrado aos irmãos separados.

Examinando a estrutura do rito moderno com seus novos elementos, percebe-se que os obstáculos, impeditivos de uma celebração ecumênica, foram satisfatoriamente eliminados. Bugnini realizou o que pretendia enquanto Secretario responsável pela reforma da Missa. E o que de fato aconteceu, não pode ser negado, nem mesmo por uma importante autoridade da Igreja.

Evidentemente que a polêmica frase de Bugnini expressa apenas um desejo, e não de fato a sua realização concreta. Embora a própria reformulação da Missa nos permita vislumbrar a consumação do “plano maçônico”, o adversário contundente poderia ainda nos exigir uma prova do próprio autor do Missal, pela qual estaria patente a execução de sua vontade.

Para responder antecipadamente ao ceticismo do contestador, apresentaremos dois pequenos fragmentos extraídos do livro de Monsenhor Bugnini, no qual ele manifesta seu julgamento sobre a obra que ele mesmo empreendeu.

Durante seu desterro no Irã – punição decorrente da acusação de ser maçom – Bugnini redigiu uma obra sobre a Reforma Litúrgica. Neste opúsculo, podemos encontrar dados “preciosos” em que o autor atesta a concretização de seus planos.

Primeiramente ele havia expressado o desejo de eliminar os obstáculos da Missa que pudessem desagradar aos protestantes. Isso significa eliminar ou atenuar os elementos católicos da Missa, exatamente como desejava Paulo VI, segundo as revelações de Jean Guitton. Analisando mais profundamente, eliminar ou atenuar esses elementos equivale a romper com a tradição multissecular da Igreja na liturgia. Ora, essa constatação aparece no livro de Bugnini, quando ele diz ter sido a Missa Nova a “Reforma Litúrgica mais satisfatória que jamais se recordará da história multissecular da Igreja” [31].

Temos então uma confirmação do próprio fabricador da Missa. Ele confessa que a Nova Liturgia favorece eficazmente o esquecimento de todo o passado da Igreja. É um modo de dizer que houve uma ruptura com a tradição. A Missa

Nova não é uma continuação ou repetição da verdade de sempre. Ela é uma árvore sem raiz que surge abruptamente para propiciar uma reunião ecumênica entre católicos e hereges.

Embora estivesse a serviço de Paulo VI, Bugnini tinha motivos particulares para detestar a Missa Antiga e por isso modificá-la profundamente para ser paulatinamente desprezada. Mostrando seu sincero repúdio, o protagonista da reforma chamou a multissecular liturgia da Igreja de “noite escura de um culto sem face e sem luz” [31].

Para Bugnini, a Igreja passou dois milênios sob as trevas de um culto sem face e sem luz que, extraordinariamente, iluminou e frutificou a vida de milhares de santos. Seria preciso uma fabricação experimental – produto banal de um momento – para dissipar as “trevas antigas” e inaugurar uma nova primavera de profanações, jamais vista na multissecular tradição da Igreja.

Aos que julgam que Paulo VI nunca esteve vinculado ao plano maçônico-litúrgico de Bugnini, transcrevemos o trecho em que o “monsenhor da maçonaria” coloca o pontífice como o cabeça da reforma:

“O volume quer ser uma reconhecida e filial homenagem a Paulo VI, o verdadeiro realizador da reforma litúrgica...” [31].

Bugnini executou e Paulo VI sancionou...

...“E a fumaça de Satanás invadiu o Templo de Deus...” [32].

8. Ottaviani e o Breve Exame Crítico

Uma das principais referências da resistência tradicionalista é o denominado “Breve Exame Crítico” dos Cardeais Ottaviani e Bacci. Este trabalho de peritos visava convencer o Papa do perigo que representava para Fé a nova liturgia promulgada. Apesar de não provocar o resultado esperado, as críticas do opúsculo permanecem atualíssimas.

Replicamos apenas a conclusão deste erudito trabalho:

“O seguinte Estudo Crítico é o trabalho de um grupo seleto de bispos, teólogos, liturgistas e pastores de almas. A despeito de sua brevidade, o estudo demonstra de forma bastante clara que o Novus Ordo Missae – considerando-se os novos elementos amplamente suscetíveis a muitas interpretações diferentes que estão nela implícitos ou são tomados como certos – representa, tanto em seu todo como nos detalhes, um surpreendente afastamento da teologia católica da Missa tal qual formulada na sessão 22 do Concílio de Trento” [33].

Incapazes de responder aos apontamentos deste irrefutável documento, apelam os reformistas para uma solução completamente evasiva do problema. Falsamente amparados pela “tradição”, sustentam de modo distorcido uma infalibilidade litúrgica automática que garantiria a absoluta perfeição da Missa Nova. Essa é a tentativa de solução dos discípulos da continuidade.

Marchando nesta direção equivocada, o debatedor simplesmente silenciou perante os questionamentos do Breve Exame Critico. Vulnerável ante a impossibilidade de refutação, conformou-se em apresentar declarações que nem de longe enfraquecem o principal estudo contra a Missa Nova.

O primeiro pronunciamento seria da Congregação para a Doutrina da Fé que, após analisar o “Exame Crítico” dos Cardeais, teria respondido oficialmente acusando-o de conter afirmações “superficiais, exageradas, inexatas, emocionais e falsas”.

Pesquisamos a citação e nada encontramos. Investigando, porém, trechos do livro de Monsenhor Aniballe Bugnini [A Reforma Litúrgica], detectamos um julgamento absolutamente equivalente:

“Incompreensível como pôde respaldar com sua assinatura uma difamação que a si mesmo se qualifica não só por sua imparcialidade mas também por sua ignorância teológica (...) O opúsculo [Breve Exame Crítico] contem muitas afirmações superficiais, exageradas, inexatas, apaixonadas e falsas” [31].

Examinado o fragmento, percebe-se que a ordem dos termos é idêntica. Não há dúvidas de que o pronunciamento é de Monsenhor Bugnini, e não de um órgão da Santa Sé. Por conseguinte, a reprovação não tem valor enquanto expressa apenas uma opinião privada de um provável maçom.

Curioso que, apesar das afirmações superficiais, exageradas, inexatas, apaixonadas e falsas, ninguém, nem mesmo Bugnini, arriscou combater os fundamentos do Breve Exame Crítico. Como se trata de um parecer de autoridade irrelevante, é necessário demonstrar racionalmente que o estudo dos Cardeais, envolvendo bispos, pastores e peritos, não passou de uma obra de ignorantes superficiais.

Teria o desafiante coragem e a capacidade de fazê-lo?

Não cremos.

O segundo pronunciamento seria do próprio Cardeal Ottavianni. De acordo com o teor da carta que lhe é atribuída, o prelado teria demonstrado posterior satisfação com os resultados da Missa Nova:

“... Eu me alegrei profundamente com a leitura dos Discursos do Santo Padre sobre as questões do novo Ordo Missae, e sobretudo com suas precisões doutrinais contidas nos Discursos às Audiências Públicas de 19 e 26 de novembro: depois do que, eu creio, ninguém pode mais sinceramente se escandalizar. Para o mais, será necessário fazer uma obra prudente e

inteligente de catequese, a fim de tirar algumas perplexidades legítimas que o texto pode suscitar.” E nessa carta ele lamenta: “... De minha parte, eu lamento somente que se tenha abusado de meu nome em um sentido que eu não desejaria, pela publicação de uma carta que eu tinha dirigido ao Santo Padre sem autorizar ninguém a publicá-la” [34].

Com relação a Missa Nova, o importante são os argumentos. Se posteriormente o responsável por eles capitulou, renunciando as suas críticas incontestáveis, em nada essa mudança compromete seu breve exame. Não estamos diante de uma irrelevante interpretação particular, mas de uma demonstração concreta de afastamento da teologia católica pelo favorecimento de uma visão protestante da Missa.

Como ensina um sábio princípio tomista: “Não atentes a quem disse, mas o que é dito com razão e isto, confia-o à memória” [35]. Logo, não nos interessa, neste caso específico, se quem disse o argumento o deixou de dizer. Mas, se o disse, e o disse com razão, confiamos à memória.

9. O prefácio “tradicionalista” de Joseph Ratzinger

A resistência tradicionalista obteve proeminentes aliados de Roma. Cientes de que o Vaticano II não promulgou dogmas, expressando-se em nível estritamente pastoral, compuseram críticas que atualmente servem de baluarte para aqueles que, com devida clarividência, denunciam os pontos incompatíveis com a tradição.

São muitos os prelados que, por justa causa, decidiram romper com o silêncio obsequioso. Particularmente neste artigo, explicitaremos o verdadeiro pensamento do eminentíssimo Cardeal Joseph Ratzinger sobre o Novus Ordo Missae, desfazendo distorções que ultrapassam os limites do bom senso.

No livro de Monsenhor Klaus Gamber – importante obra que expõe as falhas da Reforma Litúrgica – encontra-se o famigerado prefácio tradicionalista do Cardeal Ratzinger, contendo críticas a Missa Nova. Pretendendo ensombrar a univocidade do texto, o “fabuloso” acrobata interveio com suas costumeiras distorções e contorções hermenêuticas, forjicando interpretações escandalosamente inconciliáveis com a realidade:

“O que Ratzinger criticou, referindo-se ao texto que você distorceu gravemente, foi a metodologia que foi usada para se compor o Novo Missal, e não o Novus Ordo Missae em si [...] Fica evidente portanto, que a crítica de Ratzinger se deve à forma de "fabricação" abrupta que foi utilizada na reforma litúrgica, o que é diferente do método do amadurecimento orgânico que é o mais adequado”

Pautados no próprio sentido inequívoco das proposições, dissemos que o prefácio do Cardeal direciona uma acusação gravíssima contra a Missa Nova.

Rompendo com o desenvolvimento orgânico que sempre acompanhou a liturgia no decorrer dos séculos, o eminente purpurado coloca a reforma de Paulo VI na situação de ruptura, porque nasceu como um produto artificial em descontinuidade com passado tradicional da Igreja.

Como dissemos, o prefácio tradicionalista de Ratzinger encontra-se no livro de Monsenhor Klaus Gamber. Ora, prefaciar um livro é, no mínimo, concordar com o pensamento do autor da obra. A satisfação e os elogios do Cardeal confirmam essa aprovação:

“Monsenhor Klaus Gamber, que desgraçadamente nos deixou rápido, porém precisamente, ao nos deixar se fez verdadeiramente presente a nós, EM TODA A FORÇA DAS PERSPECTIVAS QUE NOS ABRIU [...] com a vigilância de um AUTÊNTICO VIDENTE e com a intrepidez de uma VERDADEIRA TESTEMUNHA, se opôs a esta FALSIFICAÇÃO e NOS ENSINOU incansavelmente a plenitude viva de uma verdadeira liturgia, GRAÇAS A SEU CONHECIMENTO incrivelmente rico das fontes; ele mesmo, que conhecia e amava a história, nos ensinou as múltiplas formas do devir e do caminho da liturgia" [36].

Não há ressalvas nas considerações de Ratzinger. Ele concorda plenamente com a dissertação crítica de Gamber sobre o Novus Ordo Missae. 

Esclarecido este ponto, podemos dizer que o pensamento de Gamber, contido em seu livro, é também o pensamento de Ratzinger. Por sua vez, exporemos, primeiramente, as considerações do erudito monsenhor, para, num segundo momento, analisarmos o próprio texto do Cardeal.

Gamber é categórico ao afirmar que o ritus modernus rompeu com a tradição:

“A ruptura com a tradição está consumada: pela introdução da nova forma de celebração da missa e os novos livros litúrgicos” [36].

E disse mais:

“Mas ao contrário, quiseram suprimi-la e substituí-la com uma liturgia nova, preparada com precipitação e, diremos, artificialmente: com o Ritus Modernus. Ó, como se vê aparecer de modo sempre mais claro e alarmante o oculto fundo teológico desta reforma! Sim, era fácil obter uma mais ativa participação dos fiéis nos santos mistérios, segundo as disposições conciliares, sem necessidade de transformar o rito tradicional. Porém a meta dos reformadores não era obter a mencionada maior participação ativa dos fiéis, mas fabricar um rito que interpretasse sua nova teologia, aquela mesma que está na base dos novos catecismos escolares. Já se vêem agora as conseqüências desastrosas que não se revelarão plenamente até que passem uns cinqüenta anos” [36].

A acusação de Gamber é gravíssima!

No parecer deste exímio perito em liturgia, a Missa experimental do Vaticano II, recusada unanimemente em votação, foi uma fabricação precipitada e artificial, destinada a interpretar uma nova teologia. Sem medo de repressões, o ilustre

monsenhor rompeu o silêncio e acusou a liturgia vigente de contaminada pelo câncer modernista:

“A confusão é enorme. Quem vê claro hoje em dia, em meio a esta escuridão? Onde estão os responsáveis da Igreja que nos possam mostrar o bom caminho? Onde estão os bispos que tenham o valor de fazer desaparecer este tumor canceroso, que é a teologia modernista, implantada no tecido da celebração dos santos mistérios, antes que se prolifere mais e mais?” [36].

Para não ter dúvidas da conexão de ideias entre Ratzinger e Gamber, reproduzimos o ponto chave que será reforçado pelo notável prefaciador.

Klaus Gamber, considerado um grande estudioso da liturgia, nos faz uma revelação histórica interessante:

“Na parte precedente temos mostrado que a autoridade eclesiástica nunca exerceu influência notória na evolução das formas litúrgicas. Limitando-se a sancionar o rito nascido do costume e ainda isso o fez tarde, sobretudo depois da aparição de livros litúrgicos impressos e no Ocidente somente depois do Concílio de Trento” [36].

Nos informa o prelado que as formas litúrgicas nasciam do costume e não de uma intervenção criadora das autoridades clericais. Até o advento do Vaticano II, houve um desenvolvimento orgânico da liturgia. Ao invés de fabricar, como se a Missa fosse um produto de laboratório, os Papas apenas sancionavam os ritos oriundos do costume. Por isso o Papa São Pio V, ao publicar o Missal Romano, respeitou as tradições litúrgicas que tivessem duzentos anos de existência [37].

Rompendo com a prática tradicional, Paulo VI não quis dar continuidade ao desenvolvimento orgânico-litúrgico. Ao contrário, fabricou algo inédito, repentino e artificial, além de proibir a Missa Gregoriana que já tinha quase dois milênios de existência.

Em seu prefácio, o Cardeal Ratzinger segue a mesma linha de pensamento de Monsenhor Klaus Gamber:

“A reforma litúrgica, em sua realização concreta, se distanciou demais desta origem. O resultado não foi uma reanimação, MAS DE UMA DEVASTAÇÃO [...] O que ocorreu após o Concílio é algo completamente distinto: no lugar de uma liturgia fruto de um desenvolvimento contínuo, introduziu-se uma liturgia fabricada. Escapou-se de um processo de crescimento e de devir para entrar em outro de fabricação. Não se quis continuar o devir e o amadurecimento orgânico do que existiu durante séculos. Foi substituído, como se fosse uma produção industrial, POR UMA FABRICAÇÃO QUE É UM PRODUTO BANAL DO MOMENTO. Gamber, com a vigilância de um autêntico vidente e com a intrepidez de uma verdadeira testemunha, se opôs a esta falsificação..." [36].

A Missa Nova é pejorativamente chamada de liturgia fabricada. Sendo uma fabricação de gabinete e não uma continuação do desenvolvimento orgânico

da liturgia tradicional, como sempre aconteceu na história, Ratzinger chamou o Rito Moderno de “produto banal de um instante”. Critica-se tanto o método quanto o resultado desse método, ou seja, a própria liturgia inventada.

Quando o método é ruim, o resultado não pode ser bom. Um professor que empregasse um método péssimo de ensino, sem dúvida teria um resultado decepcionante. Um pintor que usasse uma técnica ruim de pintura, certamente não faria uma boa obra de arte.

A censura, portanto, atinge também a nova liturgia por causa do método empregado: fabricação e não desenvolvimento orgânico. Porém, na consideração do desafiador, Ratzinger teria criticado somente a forma de fabricação abrupta. Então, uma fabricação não abrupta seria aceitável? Nem uma e nem outra. O Cardeal denuncia a fabricação em si mesma, seja ela abrupta ou não, pois um rito não é suscetível de fabricação:

“Não se pode ‘fabricar’ um movimento litúrgico desta classe, como não se pode ‘fabricar’ algo vivo. Todavia, pode-se contribuir com o seu desenvolvimento, esforçando-se em assimilar o novo espírito da liturgia e defendendo publicamente o que assim se recebeu” [36].

Em sintonia com o pensamento tradicionalista de Klaus Gamber, o prefaciador do livro deprecia o “produto banal” da fábrica modernista.

Essa visão tradicional de Ratzinger também insurge em livros de sua autoria. Leia-se, por exemplo, o seguinte excerto que denota a inflexível certeza do Cardeal:

“Qual é a linha de espiritualidade do concílio Vaticano II e qual a sua situação diante da história dos demais concílios? Será que o último concílio tende para uma mundanização ou para uma espiritualização da Igreja? Significará o último concílio uma ruptura, uma revolução ou uma continuação? Se for confrontado com certas tendências do século XIX e da primeira metade do século XX, o Concílio assinala, sem dúvida, uma ruptura e um avanço muito grande.” (Padre Joseph Ratzinger, Das Neue Volk Gottes – Enwürfe zur Ekkleseologie, Patmos-Verlag, Düsseldorf, 1969, trad. br. por Clemente Raphael Mahl: O Novo Povo de Deus, São Paulo, Paulinas, 1974, p. 278, destaques nossos).

Sem sombra de dúvidas – diz o prelado – o Vaticano II assinala uma ruptura com os demais concílios da Igreja. Essa revolução doutrinária tem a ver com a pretensão do Concílio de adaptação da teologia católica às tendências do pensamento moderno.

Aos que reagem indignados contra os acusadores do Vaticano II, revidamos com uma ponderada instrução cardinalícia:

“Para outros, o concílio [Vaticano II] deu um grande escândalo ao ceder terreno ao mundo desvirtuado. Esses últimos lamentam-se pelo fato de o concílio ter provocado verdadeiras crises e ter discutido coisas que para eles estavam absolutamente certas. (...) Tendo diante de si este exemplo [o de Santa Teresa d'Ávila, cuja conversão a afastou da 'abertura para o mundo' de

seu convento 'aggiornatto'] os mais conservadores se perguntam: e o concílio, não enveredou ele por um caminho completamente oposto e que só poderá conduzir a uma meta bem diversa que não a da conversão? Nenhuma dessas dúvidas, de qualquer corrente de pensadores que proceda, deve ser desprezada. É preciso haver muita compreensão com relação às críticas sobre o concílio." (Joseph Ratzinger, Das Neue Volk Gottes - Enwürfe zur Ekkleseologie, Düsseldorf: Patmos-Verlag, 1969, trad. br. por Clemente Raphael Mahl: O Novo Povo de Deus , São Paulo: Paulinas, 1974, p. 282. O destaque é nosso.)

Uma preciosa orientação aos caifazes da web que, diante de críticas ao Vaticano II, rasgam suas as vestes com brados de “blasfêmia”. Segundo o Cardeal do Vaticano, atual Papa Emérito, é preciso muita compreensão – e não exasperação - com relação às críticas sobre o Concílio.

Seguirá essa orientação o raivoso blogueiro desafiante?

Embora a crença de ruptura brilhe na pena de Ratzinger, reconhecemos, contudo, uma transparente oscilação nas considerações do Cardeal. Essa tendência em favorecer, concomitantemente, dois lados contrários (tradicionalistas e simpatizantes da letra do Concílio) manifesta-se, sobretudo, no pontificado de Bento XVI. Ao mesmo tempo em que afirma uma ruptura, imediatamente suaviza com uma intervenção conciliadora. Às vezes chega mesmo a contradizer-se.

Temos o exemplo concreto dessa inconstância no Discurso do Papa à Cúria:

“O Concílio Vaticano II, com a nova definição da relação entre a fé da Igreja e certos elementos essenciais do pensamento moderno, reviu ou também corrigiu algumas decisões históricas, mas nesta aparente descontinuidade, ao contrário, manteve e aprofundou a sua íntima natureza e a sua verdadeira identidade” [38].

Desse texto extraímos o seguinte:

1) Pela nova definição da relação entre a fé e o pensamento moderno, o Vaticano II reviu ou também corrigiu algumas decisões históricas

2) Apesar da aparente descontinuidade, manteve e aprofundou sua íntima natureza e a sua verdadeira identidade

Embora tente inocentar o Vaticano II na segunda proposição, Bento XVI reconhece que, ao menos aparentemente, o católico pode ser induzido ao erro ao ler os documentos deste Concílio terminologicamente polissêmico. Indevidamente, há quem compare essas “imprecisões” textuais com os trechos da Bíblia que, à primeira vista, apresentam uma aparente divergência. Essa comparação não se sustenta quando se compreende a finalidade de um Magistério. Por vontade Divina, a Escritura Sagrada é um livro que, obrigatoriamente, necessita de elucidação. Por isso Deus formou um colégio docente de Apóstolos. O Magistério, por sua vez, não pode conter falhas ou

prescrições imprecisas, susceptíveis de dupla interpretação. Por sua natureza, todo Magistério legítimo deve ser preciso e facilmente compreensível em suas definições. Ora, de que serve um Magistério que favorece ainda que aparentemente o erro ou que, por sua imprecisão textual, necessita ser interpretado? Poderíamos falar neste caso de verdadeiro Magistério?

O Vaticano II, portanto, apresenta uma aparente descontinuidade. Enquanto Magistério, ele não é suficientemente luminoso. Sua obscuridade é de tal profundidade que sua continuidade – no dizer do Papa – só pode ser demonstrada se submetido à luz da Tradição. É um Magistério que precisa de Magistério para não ser erroneamente interpretado.

Na mesma declaração em análise, Bento XVI reconhece que o Vaticano II alterou ou corrigiu a tradicional definição da Igreja sobre a relação entre a fé e os princípios da modernidade. Ora, os Papas sempre condenaram o pensamento da civilização moderna por ser doutrinariamente incompatível com os fundamentos da fé católica. A Igreja é uma sociedade teocêntrica – reconhece a Deus como causa e fim de todas as coisas – enquanto a modernidade gnóstica é antropocêntrica, isto é, coloca o homem – supremo ídolo – no centro de todas as coisas. São doutrinas essencialmente divergentes, baseadas em cosmovisões inconciliáveis.

Ademais, toda correção supõe erro ou imperfeição, pois não se faz correção do que está certo ou suficientemente perfeito. Logo, o Vaticano II mudou algo que considerava errado ou imperfeito com relação a fé e o pensamento moderno.

Estamos diante de uma mudança doutrinária.

A relação entre a fé e o mundo moderno, antes do Vaticano II, era de condenação, de inconciliação, de intransigência. Após a “correção” feita pelo Concílio neste ponto, a postura passou a ser de simpatia, de respeito, de concórdia, de aprovação. O Vaticano II procurou agradar o mundo, adaptar a doutrina católica ao pensamento moderno, motivo pelo qual se recusou a condenar o comunismo.

Nota-se que, apesar de uma proposta no sentido da hermenêutica da continuidade, Ratzinger e depois Bento XVI, nunca abandonaram por completo a ideia de que, no Vaticano II, existem elementos suscetíveis de uma crítica construtiva. A fundação do IBP é uma prova de que o pensamento tradicionalista de Joseph Ratzinger não perdeu seu vigor. Agora, mais do que nunca, é preciso paciência e compreensão com as críticas ao Vaticano II, pois o que era considerado um abuso, tornou-se um dever reconhecido no Instituto do Bom Pastor.

E isso também vale para os papagaios de blog.

10 Paulo VI e o culto do homem

A essência do Vaticano II consistiu em substituir Deus pelo homem. Em seus documentos, prevalece nitidamente uma exaltação dos “direitos do homem” em detrimento dos direitos da Igreja. Reconhece, como direito natural, a livre propaganda da heresia. Nenhum herege, segundo a letra do Concílio, pode ser impedido de pregar mentiras [39]. As falsas religiões foram tratadas como verdadeiras, pois, assim como a Igreja Católica, elas também participam do mistério da salvação [40]. O culto voltou-se para o homem. Por ele o latim foi sacrificado [41]; o gregoriano desprezado, a Eucaristia profanada, a liturgia demolida. De Versus Deum, a missa tornou-se versus populum. Por um amor naturalista, o padre virou as costas para Deus. A fumaça do antropocentrismo “obscureceu” a Igreja de Deus.

Esse antropoteísmo ou “Religião do Homem” encontra-se na medula do Concílio Vaticano II. Assim denunciou Monsenhor Brunero Gehardini, em seu polêmico livro:

“O homem moderno, para o qual tende o antropocentrismo conciliar, deste absorve a ideias que subvertem as relações naturais e reveladas entre a criatura e o Criador, torna-se o porta-bandeira e o arauto destas ideias, e por elas resta, por assim dizer, pregado em um estado de inconciliabilidade com as verdades da doutrina e da Tradição” [42].

Não obstante as evidências sensíveis de ruptura, nosso infeliz perseguidor assevera contra nossa imaginária confiança antropocêntrica nas diversas opiniões dos homens:

“Infelizmente, desconfiar do Magistério da Igreja, e confiar nas opiniões diversas dos homens, é a manifestação do imanentismo antropocêntrico que tomou ao coração de muitos. Já alertava o Profeta Jeremias 17,5 ‘Eis o que diz o Senhor: Maldito o homem que confia em outro homem...’”

A referência é um presente para a nossa refutação.

Se o polemista conhecesse as declarações humanistas de Paulo VI, não mencionaria o trecho da Escritura que considera maldita a confiança no homem como supremo ídolo a ser cultuado.

A confiança no homem é o maior erro do Concílio. Em seu Magistério falível e imprudente, enveredou em direção ao pensamento do homem moderno.

E nem venha o blogueiro dizer que isso é interpretação nossa, ou que o texto não condiz com o contexto. As palavras são de Paulo VI e dispensam interpretação:

“Na verdade, a Igreja, reunida em Concílio, entendeu sobretudo fazer a consideração sobre si mesma e sobre a relação que a une a Deus; e também sobre o homem, o homem tal qual ele se mostra realmente no nosso tempo: o homem que vive; o homem que se esforça por cuidar só de si; o homem que não só se julga digno de ser como que o centro dos outros, mas também não se envergonha de afirmar que é o princípio e a razão de ser de tudo [...] O

humanismo laico e profano apareceu, finalmente, em toda a sua terrível estatura, e por assim dizer desafiou o Concílio para a luta. A religião, que é o culto de Deus que quis ser homem, e a religião — porque o é — que é o culto do homem que quer ser Deus, encontraram-se. Que aconteceu? Combate, luta, anátema? Tudo isto poderia ter-se dado, mas de facto não se deu” [43].

Sem ambigüidades, Paulo VI afirma uma relação de simpatia e concórdia entre o Vaticano II e a religião idólatra do homem moderno. Ao invés de choque ou condenação – como sempre aconteceu na história da Igreja – o Concílio resolveu encarar com bons olhos o ateísmo humanista, adotando, também, o culto do homem como centro de suas inovações:

“Vós, humanistas do nosso tempo, que negais as verdades transcendentes, dai ao Concílio ao menos este louvor e reconhecei este nosso humanismo novo: também nós — e nós mais do que ninguém somos cultores do homem” [43].

Difícil não ficar escandalizado com esse “culto estranho” inaugurado por um Papa da Igreja. A Igreja tem um só culto. Ela adora um só Deus, o Verbo Encarnado. Ela professa a Fé em um só Senhor. Ela tem uma só Fé. Jamais existiu na Igreja Católica um Culto ao Homem. Isso é uma inovação antropocêntrica do Vaticano II, e que se opõe a dois mil anos de Tradição.

Existem aqueles que, na prática, pretendem servir a dois senhores. Com o Vaticano II sucedeu diferente. Este Concílio, conforme declara Paulo VI, serviu unicamente ao “deus-Homem:

“Uma outra coisa julgamos digna de consideração: toda esta riqueza doutrinal orienta-se apenas a isto: servir o homem, em todas as circunstâncias da sua vida, em todas as suas fraquezas, em todas as suas necessidades. A Igreja declarou-se quase a escrava da humanidade, precisamente no momento em que tanto o seu magistério eclesiástico como o seu governo pastoral adquiriram maior esplendor e vigor devido à solenidade conciliar; a ideia de serviço ocupou o lugar central” [43]

O homem é o ídolo do Vaticano II.

Ninguém pode servir a dois senhores, diz Nosso Senhor.

Paulo VI direcionou a missão do Concílio: servir o homem.

Unicamente!

São várias as pronúncias do Papa nas quais ele traça os rumos antropocêntricos do Concílio. Esse direcionamento ao pensamento moderno é confirmado, também, por esta preleção:

“Tudo isto e tudo o mais que poderíamos ainda dizer acerca do Concílio, terá porventura desviado a Igreja em Concílio para a cultura actual que toda é antropocêntrica? Desviado, não; voltado, sim” [43].

A Igreja do Vaticano II não se orientou para Deus. Por isso fez a Missa de frente para o homem e de costas para Deus. O homem está no centro como

supremo ídolo a ser cultuado e servido. Assim sentenciou Paulo VI: “Nós temos fé no homem” [44].

Fé no homem, servidão ao homem e culto ao homem, eis a doxologia antropocêntrica do Vaticano II.

Na esteira do Concílio, a CNBB parece ter aprendido bem as lições humanistas de Paulo VI, colocando-se, também, inteiramente e exclusivamente a serviço do Supremo Ídolo do século XX: “Esta Igreja, em todos os lugares, tem uma só autoridade: a de servir os homens” [45].

São Pio X já havia rechaçado essa pretensão moderna de substituir a Deus pelo homem:

“É necessário que com todos os meios e trabalhos nós façamos desaparecer radicalmente a enorme e detestável maldade própria do nosso tempo, que substitui Deus pelo homem” [46].

Entretanto, Paulo VI não se conteve em sua “devoção” humanista. Quando da chegada do homem a Lua, compôs um glória nas alturas ao seu “príncipe do Céu”:

“Honra ao homem! Honra ao pensamento! Honra à Ciência! Honra à síntese da atividade científica e organizativa do homem, do homem que diferentemente de todos os outros animais, sabe dar-se instrumentos de conquista à sua mente e à sua mão. Honra ao homem rei da Terra, e também, agora, príncipe do céu!” [47].

Até então, havia na Igreja apenas o Glória in Excelsis Deo. Porém, inebriado de “amor” pelo homem, Paulo VI cantou um novo Glória. Um esquisito e antropocêntrico “Glória ao Homem nas Alturas”.

Não é sem motivo que a maçonaria não hesitou em prestar homenagens ao Papa que tanto serviu, honrou e cultuou o Homem. Foi na ocasião da morte de Paulo VI que o Grão Mestre da Maçonaria proferiu uma espantosa confissão:

“Para nós é a morte de quem fez cair a condenação de Clemente XII e dos seus sucessores. Ou seja, é a primeira vez – na história da Maçonaria moderna – que morre o chefe da maior religião ocidental, não em estado de hostilidade com os maçons” [48].

Curiosa declaração!

Como é possível um Papa não desagradar a maçonaria?

Paulo VI fez o culto do homem.

Organizou um Concílio antropocêntrico.

Confiou no homem e agradou a maçonaria.

Contra a Escritura Sagrada: “Maldito o homem que confia no homem”.

Seria maldito Paulo VI por confiar exageradamente no homem?

Seria o Vaticano II maldito por colocar o homem no centro de suas inovações?

Que o blogueiro reflita e responda a essas indagações.

11 Eclessiam Suam é as diversas vias

Não se pode negar que haja verdades nos documentos do Vaticano II. Assim como metafisicamente não pode existir o mal absoluto [49], também não pode existir um documento absolutamente falso ou que só contenha mentiras. Em um livro herético, por exemplo, sempre se poderá encontrar algumas verdades, apesar das proposições errôneas. No entanto, quando condena alguém ou uma obra como herética, a Igreja sempre o faz malgrado a existência de poucas ou muitas verdades. Uma única heresia é suficiente para que a punição seja decretada. Podemos usar como exemplo um copo que contenha 99% de água potável e apenas 1% de veneno. Ora, ainda que se diga que a esmagadora maioria é de água pura, a mínima gota de veneno nos faz repudiar todo o conteúdo do recipiente.

Esse ensinamento tem respaldo no Magistério do Papa Leão XIII:

“Não pode haver nada de mais perigoso do que aqueles hereges os quais, enquanto percorrem toda a doutrina sem erros, com uma só palavra, como uma gota de veneno, infectam a pura e simples fé divina e depois a tradição apostólica” [50].

A história da Igreja revela a argúcia dos hereges para escamotear seus erros doutrinários. Ao longo dos séculos, eles sempre procuraram disfarçar seus verdadeiros objetivos com declarações e comportamentos hipócritas. Em seus escritos, encontramos, intencionalmente, princípios contraditórios, bem como uma mistura ardilosa de teses verdadeiras com proposições errôneas. Desse modo, quando interpelados, alegavam que as afirmações “aparentemente” heterodoxas deveriam ser lidas à luz das afirmações ortodoxas. Com essa escusa serpentina, os hereges conseguiam, ao mesmo tempo, sustentar o erro almejado e, quando necessário – para fugir de uma condenação – afirmar a tese oposta ou ortodoxa.

O modernismo é um caso que ilustra esse ziguezague dos heréticos.

Na Encíclica Pascendi Dominici Gregis, o Papa São Pio X destaca a artimanha que consiste em reunir, num mesmo escrito, teses corretas e teses condenadas:

“Estas coisas tornar-se-ão ainda mais claras, tendo-se em vista o procedimento dos modernistas, de todo conforme com o que ensinam. Nos seus escritos e discursos parecem, não raro, sustentar ora uma ora outra doutrina, de modo a facilmente parecerem vagos e incertos. Fazem-no, porém, de caso pensado; isto é, baseados na opinião que sustentam, da mútua separação entre a fé e a ciência. É por isto que nos seus livros muitas coisas se encontram das aceitas

pelo católicos; mas, ao virar a página, outras se vêem que pareceriam ditadas por um racionalista. Escrevendo, pois, história, nenhuma menção fazem da divindade de Cristo; ao passo que, pregando nas igrejas, com firmeza a professam. Da mesma sorte, na história não fazem o menor caso dos Padres nem dos Concílios; nas instruções catequéticas, porém, citam-nos com respeito. Distinguem, portanto, outrossim a exegese teológica e pastoral da exegese científica histórica” [51].

Esse era o método eficaz para não provocar a revolta súbita dos católicos. A ruptura não poderia ser escancarada nos textos do Vaticano II. Era preciso, segundo o Padre Schillebeecks, exprimir-se de modo diplomático, para depois tirar as conclusões implícitas, isto é, o erro camuflado sob a superfície da verdade:

"Nós o exprimimos de um modo diplomático, mas depois do Concílio nós tiraremos as conseqüências implícitas" [18].

Valendo-se da mesma estratégia modernista, o blogueiro tentou iluminar as partes obscuras da Encíclica Ecclessiam Suam. Recorrendo ao contexto ou aos trechos mais claros, acreditou ter demonstrada a inexistência de elementos heterodoxos no documento.

É a velha lábia de justificar um erro ou uma ambigüidade pinçando outro trecho de ortodoxia impecável. Porém, nem sempre o contexto salva o texto. Uma frase errada não pode ser justificada por outra correta. Assim, de nada adiantaria encontrar em um livro a afirmação de que a Igreja Católica é o meio de salvação instituído por Cristo se, na página seguinte, encontrássemos a afirmação de que todas as religiões são instrumentos de salvação. A primeira afirmação verdadeira não tornaria a segunda aceitável.

O texto fundamento do ecumenismo relativista do Vaticano II encontra-se no seguinte trecho da Encíclica Ecclesiam Suam:

“Descobre-se no diálogo como são diversas as vias que levam à luz da fé, mas como apesar disso é possível fazê-las convergir para o mesmo fim. Ainda que sejam divergentes, podem tornar-se complementares, levando o nosso raciocínio para fora das sendas comuns e obrigando-o a aprofundar as investigações e a renovar os modos de expressão” [52].

Paulo VI ensina dois erros nesse Documento:

1) São diversas as vias que levam à luz da fé

2) Essas vias contrárias podem tornar-se complementares.

Assim como Cristo é o único caminho para Deus, a Igreja Católica é a única via que nos proporciona a luz da Fé. Não existem atalhos para Céu, assim como não existem outras vias para a Fé. Por isso declara o Credo Católico:

"Todo aquele queira se salvar, antes de tudo é preciso que mantenha a fé católica; e aquele que não a guardar íntegra e inviolada, sem dúvida perecerá

para sempre (...) está é a fé católica e aquele que não crer fiel e firmemente, não poderá se salvar" [53].

E que a Igreja Católica é a única via de salvação, também decretou o Papa Pio IX, pelos seguintes “erros condenados” no Syllabus:

“16º No culto de qualquer religião podem os homens achar o caminho da salvação eterna e alcançar a mesma eterna salvação” [54].

“17º Pelo menos deve-se esperar bem da salvação eterna daqueles todos que não vivem na verdadeira Igreja de Cristo” [54].

Após alargar a porta da salvação – que Cristo disse ser estreita – Paulo VI lançou sua proposta ecumênica-relativista, dizendo que as vias divergentes podem juntar-se como caminhos complementares. Ora, as seitas não são vias complementares da Igreja Católica. Elas são vias de perdição. Por suas doutrinas, extraviam as almas afastando-as da verdadeira Fé. Assim como não é possível unir verdade e mentira, ortodoxia e heresia, também não é possível convergir em união a Igreja Católica e as falsas religiões. O divergente da Fé deve ser condenado e não dialeticamente combinado com ela.

Disse-nos o blogueiro que, para entender essas duas afirmações relativista de Paulo VI, seria preciso considerar as palavras seguintes do Pontífice:

“A dialética deste exercício de pensamento e de paciência far-nos-á descobrir elementos de verdade mesmo nas opiniões alheias, obrigar-nos-á a exprimir com grande lealdade a nossa doutrina, e tornar-nos-á merecedores, já só pelo que nos custou expô-la às objeções e à assimilação lenta de quem nos ouve. Tornar-nos-á sábios, far-nos-á mestres” [52].

Que haja algum elemento verdadeiro nas opiniões alheias é compreensível. Porém, essa migalha de verdade não torna o conjunto verdadeiro. Um livro que contenha 70% de verdade e 30% de mentira continua sendo um livro péssimo. Em hipótese alguma as verdades justificam as mentiras. Um paciente que tivesse com um só órgão do corpo infectado por vírus, não deixaria de ser um paciente doente só porque permanece com a maioria dos órgãos saudáveis.

Antes que o blogueiro proteste, dizendo tratar-se de opinião nossa, fornecemos a fonte Magisterial de nossa prédica:

“(…) Agostinho diz (Enarrationes in Psl. 54, 19): ‘em muitas coisas concordam comigo, e, numa poucas não; mas por causa daquelas coisas em que não estão de acordo comigo, para nada lhes aproveitam as muitas coisas nas quais concordam comigo’. E com razão; pois os que tiram da doutrina cristã o que lhes apraz, baseiam-se não na fé mas no seu próprio juízo,[...] obedecem mais a si mesmos do que a Deus. ‘Vós – dizia Agostinho – que nos evangelhos credes no que quereis e não credes no que não quereis, acreditais em vós mesmos antes do que no evangelho’. (Liv XVII, Contra Faustum Manichaeum, 3)” [50].

Para o Magistério do Papa Leão XIII, de nada servem as verdades nas opiniões alheias se elas não trazem a verdade plena. O mesmo se aplica as

seitas, que embora contenham elementos de verdade, estão separadas da Igreja de Cristo, e por isso são desvios para o inferno, e não vias para o Céu.

Segundo o blogueiro, o relativismo inicial de Paulo VI seria dissolvido pelas seguintes afirmações do Pontífice:

“Um perigo subsiste porém. A arte do apóstolo tem seus riscos. O DESEJO DE NOS APROXIMARMOS DOS NOSSOS IRMÃOS NÃO DEVE TRADUZIR-SE NUMA ATENUAÇÃO OU DIMINUIÇÃO DA VERDADE. O NOSSO DIÁLOGO NÃO PODE SER FRAQUEZA NOS COMPROMISSOS COM A NOSSA FÉ. O apostolado não pode transigir com meias atitudes, ambíguas, quanto aos princípios teóricos e práticos característicos da nossa procissão cristã. O irenismo e o sincretismo são, no fim de contas, formas de cepticismo a respeito da força e do conteúdo da Palavra de Deus, que desejamos pregar. Só quem é de todo fiel à doutrina de Cristo pode ser apóstolo eficaz. E só quem vive em plenitude a vocação cristã pode imunizar-se do contágio dos erros com que entra em contacto." [52].

Com esse trecho, temos uma contradição, e não uma solução para o relativismo das “vias complementares”.

Primeiro Paulo VI disse que as vias contrárias a Fé são também vias que levam para a luz da Fé. Depois, retomando a doutrina tradicional, afirma que a verdade da Fé não pode ser diminuída ou transigida. Ora, a Fé nos ensina que só existe uma via de salvação: a Igreja Católica. Assim como houve uma só Arca de Noé, fora da qual todos pereceram, assim também existe uma só Arca de Pedro, fora da qual não pode haver esperança de salvação.

São duas afirmações contrárias na Encíclica do Papa. Uma relativista e outra tradicional. Uma heterodoxa e outra ortodoxa. Elas são contrárias e não complementares.

O contexto, ao invés de salvar ou explicar o texto relativista, destaca com mais força sua oposição à doutrina tradicional.

O blogueiro simplesmente citou a parte correta do texto sem harmonizá-la com a parte inaceitável. O mais difícil não o fez o “teólogo” malabarista: conciliar texto e contexto, ou, texto claro com texto obscuro.

O pedaço por nós recortado da Ecclesiam Suam contém um erro relativista injustificável. Nem texto e tampouco contexto podem torná-lo católico. Não houve distorção de nossa parte. Basta verificar que nem mesmo os trechos citados pelo divagador desfazem o relativismo das “diversas vias de salvação”.

É a conhecida manobra de misturar relativismo com tradição. E o pior é quando surge alguém com pretensões de unir a mentira com a verdade.

Aliás, essa fuga para o contexto é uma fuga tipicamente protestante. Quando citamos um trecho católico para desmascarar suas doutrinas, eles sempre apelam para o contexto, de modo a insinuar que o católico distorceu a frase para favorecer sua exegese.

E depois somos nós os protestantes.

O relativismo ecumênico da Ecclesiam Suam levou à absurda declaração de que as falsas religiões do demônio participam do mistério da salvação:

“Por isso, as Igrejas e Comunidades separadas, embora creiamos que tenham defeitos, de forma alguma estão despojadas [as seitas] de sentido e de significação no mistério da salvação. Pois o Espírito de Cristo não recusa servir-se delas [as seitas] como de meios de salvação cuja virtude deriva da própria plenitude de graça e verdade confiada à Igreja Católica” [55].

Embora seja possível existir sacramentos nas seitas, isso não faz delas “meios de salvação”. Essas divisões do demônio são meios de perdição. O que pode acontecer é Deus usar de um elemento católico, usurpado por uma seita, como instrumento de santificação. É o que acontece, por exemplo, nas seitas que mantiveram a matéria e a forma válida do batismo. Contudo, a santificação se dá por meio de um Sacramento Católico, e não por meio da doutrina e das práticas heréticas da Seita. Com efeito, uma alma pode se salvar apesar dos malefícios da seita, na medida em que não adere conscientemente os erros dela. Assim, um protestante pode se salvar no protestantismo, mas jamais por causa do protestantismo.

Nesse sentido, Deus não se recusa a servi-se dos elementos católicos, presentes nas seitas, como meios de salvação. Quanto as seitas, é o diabo que não se recusa a servir-se delas como “meios de perdição”.

Essa crença relativista de que Deus se serva das seitas do Diabo como vias de salvação – como se houvesse atalhos para o Céu – lançou as bases do erro ecumenista que, ao invés de condenar e combater, pretendeu unir todas as religiões por um diálogo fracassado que só dividiu os católicos. Conciliar verdade e mentira tornou-se a meta utópica do Vaticano II. Buscou-se o nivelamento entre a verdadeira e as falsas religiões:

“O diálogo coloca os interlocutores em pé de igualdade. Nele, o católico não está posto como alguém que possui toda a verdade, mas como aquele que, tendo a fé, procura essa verdade com os outros, crentes e não crentes” [18].

Acreditando que além da Igreja Católica existem várias outras embarcações que conduzem para o Céu, a Igreja pós-conciliar suspendeu as missões de conversão. Para que tornar o herege católico se as seitas são meios de salvação? É a conclusão inevitável expressa na “Instrução para o dialogo” do Secretariado para os Não Crentes, em 28 de Agosto de 1968, no qual se afirma que o diálogo não visa nem refutar e nem converter os não crentes [18].

Nesse espírito ecumênico, João Paulo II reuniu-se com os bruxos vodus em 04 de fevereiro de 1993, durante sua viagem a Benin (África). Ao invés de exortar os feiticeiros para a conversão, o Pontífice enalteceu suas práticas satânicas:

“A Igreja deseja estabelecer relações positivas e construtivas com grupos humanos de credos diferentes com vistas a um enriquecimento recíproco. O

Concílio Vaticano II [...] reconheceu que há coisas boas e verdadeiras, sementes do Verbo, nas diferentes tradições religiosas [...] É legítimo sentir-se agradecidos aos anciões do rito vodu que transmitiram o sentido do sagrado, a fé num Deus único e bom, o gosto pela celebração, a estima pela vida moral e a harmonia na sociedade” [56].

Esses ensinamentos e práticas ecumênicas nos permitem compreender com mais clareza o sentido da frase de Paulo VI constante em seu documento Ecllesiam Suam.

São diversas as vias que levam à luz da Fé. Apesar de divergentes, podem tornar-se complementares.

Em outras palavras: a Igreja Católica não seria a única via de salvação. Ela seria apenas mais uma dentre milhares de vias contrárias.

Isso é relativismo!

É indiferentismo religioso!

É um erro do Vaticano II.

E para encerrar, a reprovação de São Padre Pio ao diálogo do Paulo VI:

Um Santo contra o Papa?

Um Santo contra o Vaticano II?

Paulo VI seria um apóstata por promover o diálogo com os poderes luciferinos?

Conclusão

Findamos mais essa resposta na certeza de que o Vaticano II não ensinou infalivelmente. Na certeza de que é lícito criticá-lo, a exemplo do IBP, fundado para apontar os erros e ambigüidades desse Concílio.

Dizer que não há problemas na letra do Vaticano II, mas unicamente em sua interpretação, é negar o Magistério do Papa Bento XVI. Magistério, este, marcado por atos de incontestável heroísmo em favor da Tradição. O discurso do Papa à Cúria Romana, em dezembro de 2005; a liberação da Missa; o levantamento das excomunhões e a fundação do IBP, traduzem o pensamento do Papa sobre o Vaticano II.

Pelo discurso em 2005, reconheceu o Papa que existe um problema na letra do Vaticano II. Que a hermenêutica da ruptura é favorecida pela proposital ambigüidade do Concílio. E, desse modo, o Vaticano II foi atacado por Bento XVI como contendo “sabor de heresia”.

Pela liberação da Missa e levantamento das excomunhões, Bento XVI fez justiça a Dom Lefebvre, pois reconheceu a legitimidade de sua heróica resistência a Missa Nova e ao Vaticano II.

Com o IBP e sua missão crítica, ficou definitivamente atestada que a hermenêutica da continuidade não é suficiente para salvar os textos do Concílio. Ora, uma interpretação autêntica que necessita inevitavelmente de uma crítica construtiva precedente, é um indicativo de que existem problemas no próprio documento, impeditivos de uma interpretação católica.

Felizmente Bento XVI colou o Vaticano II em “xeque-mate”.

Ao condenar a hermenêutica da ruptura e ao defender a hermenêutica da continuidade, o Papa preparou a sepultura do Vaticano II, pois lançou sobre ele a condenação de “sabor de heresia”.

A duplicidade da linguagem do Vaticano II é condenada pelo Papa e pela Escritura Sagrada:

"Todo pecador se dá a conhecer pela duplicidade de sua língua" (Eccli V, 11)

Esse foi o pecado do Vaticano II: não falar claramente. Abandonar o tomismo para adotar a linguagem flutuante da filosofia moderna.

A língua bífida do Vaticano II é o que permitiu as duas interpretações contrárias.

São textos imbuídos da duplicidade serpentina.

Essa é a realidade admitida por Bento XVI.

Fátima já havia profetizado.

Haveria um Concílio diabólico

Haveria uma suicida mudança da Missa.

Que a vitória venha logo.

Que o Vaticano II com sua língua bífida não demore a ser sepultado.

O velório já foi preparado.

Por Bento XVI.

Para horror dos modernistas!

Que em breve ouvirão amargamente:

Réquiem in pace Vaticano II...

In Corde Maria ReginaEder Silva

Campo Grande, 29 de setembro, na festa dedicada a São Miguel Arcanjo.

Referência Bibliográfica

[1] F.-J. Thonnard, A. A. Compêndio de História da Filosofia. São Paulo: Editora Herder,1968.

[2] Orlando Fedeli. A Missa Nova é católica? Disponível em: <<http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=veritas&subsecao=igreja&artigo=missa_nova_catolica&lang=bra>>.

[3] Padre Dominique Bourmaud. Cien años de modernismo: Genealogia del concilio Vaticano II. Versão PDF.

[4] Jean Guitton. Diálogos com Paulo VI. Lisboa: Edição Livros do Brasil.

[5] Orlando Fedeli. Carta a um padre. São Paulo: Editora Veritas, 2008.

[6] Eder Silva. A ruptura litúrgica confirmada pelo Papa Paulo VI. Disponível em: <http://www.montfort.org.br/a-ruptura-liturgica-confirmada-pelo-papa-paulo-vi/>

[7] Orlando Fedeli. Paulo VI: Liberar a Missa de São Pio V é condenar o Concílio Vaticano II por meio de um símbolo. Disponível em: <<http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=veritas&subsecao=igreja&artigo=missa_concilio&lang=bra>>.

[8] Padres tradicionalistas de Campos. A Missa Nova: um caso de consciência. São Paulo: Artpress, 1982.

[9] Denzinger Henrique. El Magisterio de la Iglesia: Manual delos Simbolos,Definiciones y Declaraciones de la Iglesia em Materia de Fe y Costumes. Barcelona: Editorial Herder, 1963.

[10] Antonio Socci. El Cuarto Secreto de Fátima. Madri: La Esfera de los Libros, 2012.

[11] Congregação para a Doutrina da Fé. A Mensagem de Fátima. Disponível em: <http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20000626_message-fatima_po.html>.

[12] Memorias de la Hermana Lucía. Portugal: Secretariado dos Pastorinhos, 2008.

[13] Orlando Fedeli. Eis o Terceiro Segredo de Fátima: O cardeal Pacelli o leu... E contou algo. Disponível em: <http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=veritas&subsecao=igreja&artigo=pacelli_3segredo&lang=bra>.

[14] Papa Paulo VI. Discorso Al Membri del Pontificio Seminario Lombardo,Sabato, 7 dicembre 1968

[15] Cruzada de Fátima. El Secreto advirtió contra el Concilio Vaticano Segundo y la Nueva Misa. Disponível em: <http://www.fatima.org/span/crusader/cr92/cr92pg7.pdf>.

[16] Papa Leão XIII. Encíclica Libertas Praestantissimum, n.15.

[17] Roberto de Mattei. Pio IX. Porto: Editora Civilização.

[18] Romano Amerio. Jota Unum, Ricardo Ricciardi editori, Milano - Napoli, 1985.

[19] Sandro Magister. Antes do Último Conclave: “Que Disse Eu ao Futuro Papa”, Disponível em: < http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=veritas&subsecao=igreja&artigo=magister_biffi&lang=bra>.

[20] Papa Pio XI. Divini Redemptoris, 19 de março de 1937.

[21] São Félix III apud Leão XIII. Carta aos bispos italianos, 8/12/1892.

[22] Ralph Wiltgen S.V.D. O Reno se Lança no Tibre: O Concílio Desconhecido. Editora Permanência: Niterói, 2007.

[23] Michael Davies. El Concilio Del Papa Juan. Edição PDF. 1981.

[24] Allocutions Du Pape Paul VI. Basilique Saint-Paul-hors-les-murs Samedi 4 décembre 1965.

[25] Monsenhor Marcel Lefebvre. A Missa de Lutero. Florence – 15 de fevereiro de 1975.

[26] Andrea Tornielli. Dossiê Liturgia uma Babel Programada. Disponível em: http://www.clerus.org/clerus/dati/2007-11/23-13/DossieLitUmaBabel.html.

[27] Orlando Fedeli. Loja Maçônica no Vaticano. Disponível em: <http://www.montfort.org.br/old/perguntas/loja_maconica_vaticano.html>.

[28] Ricardo de la Cierva. La hoz y la cruz. Auge y caída del marxismo y la teología de la liberación. Editorial Fénix. Serie Máxima.

[29] L’Osservatore Romano, de 11 de março de 1965; Doc. Cath. Nº 1445, de 4/4/1965, coll. 603-6040.

[30] Dom Fernando Arêas Rifan. Carta Aos Bispos da Fraternidade. Campos: Brasil, 30 de janeiro de 2009.

[31] Padre Jesús Maria Mestre Roc. La Reforma Liurgica: Actualizacion del Misterio Pascual.

[32] Papa Paulo VI. Omelia na Solennità dei Santi Apostoli Pietro e Paolo Giovedì, 29 giugno 1972.

[33] Cardeal Alfredo Ottaviani. Breve Exame Crítico do Novus Ordo Missae.

[34] Dom Fernando Arêas Rifan. Orientação Pastoral “O Magistério Vivo da Igreja”.

[35] Luiz Jean Lauand. Cultura e educação na Idade Média: textos do século V ao XIII. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1998.

[36] Prefácio do Cardeal Ratzinger - In Monsenhor Klaus Gamber. A Reforma da Liturgia Romana.Teresina: 2009.

[37] Papa São Pio V. Bula Quo Primum Tempore, 14/07/1570.

[38] Papa Bento XVI. Discurso à Cúria, em 22 de Dezembro de 2.005.

[39] Papa Paulo VI. Declaração Dignitatis Humanae: Sobre a Liberdade Religiosa. Disponível em: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19651207_dignitatis-humanae_po.html. [40] Papa Paulo VI. Constituição Dogmática Lumen Gentium: Sobre a Igreja. Disponível em: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html>.

[41] Mons. Marcel Lefebvre. Do Liberalismo à Apostasia: A Tragédia Conciliar. Rio de Janeiro: Permanência, 1991.

[42] Cristina Siccardi. Recensione libraria: Vaticano II. Alle radici di un equivoco. Disponível em: <http://www.corrispondenzaromana.it/recensione-libraria-vaticano-ii-alle-radici-di-un-equivoco-di-mons-b-gherardini/>.

[43] Papa Paulo VI. Discurso na Última Sessão Pública do Concílio Vaticano II, 7 de dezembro de 1965.

[44] Papa Paulo VI. Entrevista em Sidney, 2 de Dezembro de 1970.

[45] Orlando Fedeli. Antropoteísmo: A Religião do Homem. São Paulo: Celta, 2011.

[46] Papa São Pio X. Carta Encíclica E Supremi Apostolatus, 4/10/1903.

[47] Papa Paulo VI. Discurso na hora do Angelus, 7 de fevereiro de 1971.

[48] J.A.F. Benimeli; G. Caprile; V. Alberton. Maçonaria e a Igreja Católica. 3ª ed. São Paulo: Paulus, 1981.

[49] Santo Agostinho. Confissões.

[50] Papa Leão XIII, Carta Encíclica Satis Cognitum, 19.

[51] Papa São Pio X. Carta Encíclica Pascendi Dominici Gregis, 8 de setembro de 1907.

[52] Papa Paulo VI. Carta Encíclica Ecclesiam Suam, 6 de agosto de 1964.

[53] Credo de Santo Atanásio, séc. IV. [54] Papa Pio IX. Syllabus.

[55] Papa João Paulo II. Carta Encíclica Ut Unum Sint. Disponível em: <http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_25051995_ut-unum-sint_po.html>.

[56] L’Osservatore Romano, 6 de fevereiro de 1993.