artigo magalhães educação rgpd maio 2012

4
---~----------- ----------------------'" JOÃO BEZERRA MAGALHÃES NETO Administrador Postal (PUClRJ) e de empresas (UPISIDF), pós graduado em gestão da qualidade nos serviços públicos (UNICAMP/SP). Atuou nos Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo Federais e estaduais. Preside o Conselho Técnico-Consultivo do Instituto Brasileiro de Administração Pública Ao mestre" com carinho. Ao gestor, com justificada muita apreensão! ARTICiO D ia desses, autoridade republicana teve ascen- dente hospitalizada, sob o cuidado de até então anônima enfermeira. Na alta da ilustre paciente - perguntada se por ela algo podia ser feito em retribuição - não teve dúvida a discípula de Anna Nery: de pronto - humilde e firme - disse ter único pedido, que seu filho fosse matriculado na escola da Fundação Bradesco. A emblemática estória foi ouvida de passagem na unidade educacional mantida pelo braço social do gigantesco banco, logo após ter sido visitada escola da rede pública municipal da mesma grande cidade, do mesmo carente bairro, distantes uma da outra poucos metros, mas qui- lômetros de lonjura na imagem institucional. Abstraído suposto tráfico de influência, a excelente reputação da escola fundacional é que está por trás da disputada vaga, enquanto a longa agonia da rede oficial de ensino se arrasta há décadas, teimando em desafiar a capacidade e a competência do estado, do governo e da administra- ção pública. Chocante disparidade. A escola municipal estava semanas sem aula em pleno período letivo, além da greve dos professores, à espera de mais uma reforma meia-boca a mascarar problemas de infraestrutura: equi- pamentos sucateados, instalações deterioradas, paredes sujas, carteiras quebradas e ventiladores arrancados dos tetos, a revelar grotescas cenas de vandalismo dos próprios alunos. Enquanto isso, na outra escola, nor- malidade a toda prova, entra-e-sai de pais, estudantes, professores e pessoal de apoio, disciplina, segurança e controle de acesso, tudo nos trinques, primeiro mundo diriam apressadinhos. Do lado de cá, a diretora apontava exemplar comportamento dum pequenino saído da sala de aula para tomar água no bebedouro, brilhava olhos a descrever sua escola, na fala mansa e baixinha como ela, cativante como liderança respeitada, postura de clássica educadora, dessas que a gente nunca esquece; lá, onde beirava o caos, o diretor teve de chamar o capataz e ber- rar ameaçador para crianças na quadra de esporte, que saíram provo cativas correndo a atirar pedra em tudo e todos, inconsciente revolta de quem é apedrejado na vida. Na situação, nem de longe cabe o rótulo da Belíndia (mistura de Bélgica e Índia, cunhada por Edmar Bacha para explicar a desigualdade no Brasil), porque as duas escolas têm o mesmo entorno, as famílias o mesmo per- fil socioeconômico. QUALIDADE É RESULTADO DA GESTÃO Educação é processo de transformação de insumos (gente com conhecimento transmissível + grana para pagar custos inerentes + coisas a suportar a logística do todo) em produtos (alunos conclusos), que traz resulta- dos (formandos de boa ou de má qualidade) e impacto na sociedade, por exemplo, na empregabilidade. É típico de política pública, como mostra o modelo da figura. Começando pelo recurso financeiro, há dinheiro na educação. Definido no percentual mínimo de 25% do orçamento público, é cerca de 5% do Produto Interno Bruto (PIE), na média, de 2000 a 2010, quase todo ele no Maio 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 53

Upload: joao-bezerra-magalhaes-neto

Post on 19-Jul-2015

113 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

---~---------------------------------'"JOÃO BEZERRA MAGALHÃES NETOAdministrador Postal (PUClRJ) e de empresas (UPISIDF), pós graduado emgestão da qualidade nos serviços públicos (UNICAMP/SP). Atuou nos PoderesExecutivo, Judiciário e Legislativo Federais e estaduais. Preside o ConselhoTécnico-Consultivo do Instituto Brasileiro de Administração Pública

Ao mestre" com carinho.Ao gestor, com justificadamuita apreensão!

ARTICiO

Dia desses, autoridade republicana teve ascen-dente hospitalizada, sob o cuidado de até entãoanônima enfermeira. Na alta da ilustre paciente -

perguntada se por ela algo podia ser feito em retribuição- não teve dúvida a discípula de Anna Nery: de pronto -humilde e firme - disse ter único pedido, que seu filhofosse matriculado na escola da Fundação Bradesco. Aemblemática estória foi ouvida de passagem na unidadeeducacional mantida pelo braço social do gigantescobanco, logo após ter sido visitada escola da rede públicamunicipal da mesma grande cidade, do mesmo carentebairro, distantes uma da outra poucos metros, mas qui-lômetros de lonjura na imagem institucional. Abstraídosuposto tráfico de influência, a excelente reputação daescola fundacional é que está por trás da disputada vaga,enquanto a longa agonia da rede oficial de ensino searrasta há décadas, teimando em desafiar a capacidadee a competência do estado, do governo e da administra-ção pública.Chocante disparidade. A escola municipal estava

semanas sem aula em pleno período letivo, além dagreve dos professores, à espera de mais uma reformameia-boca a mascarar problemas de infraestrutura: equi-pamentos sucateados, instalações deterioradas, paredessujas, carteiras quebradas e ventiladores arrancadosdos tetos, a revelar grotescas cenas de vandalismo dospróprios alunos. Enquanto isso, na outra escola, nor-malidade a toda prova, entra-e-sai de pais, estudantes,professores e pessoal de apoio, disciplina, segurança e

controle de acesso, tudo nos trinques, primeiro mundodiriam apressadinhos. Do lado de cá, a diretora apontavaexemplar comportamento dum pequenino saído da salade aula para tomar água no bebedouro, brilhava olhos adescrever sua escola, na fala mansa e baixinha como ela,cativante como liderança respeitada, postura de clássicaeducadora, dessas que a gente nunca esquece; lá, ondebeirava o caos, o diretor teve de chamar o capataz e ber-rar ameaçador para crianças na quadra de esporte, quesaíram provo cativas correndo a atirar pedra em tudoe todos, inconsciente revolta de quem é apedrejado navida. Na situação, nem de longe cabe o rótulo da Belíndia(mistura de Bélgica e Índia, cunhada por Edmar Bachapara explicar a desigualdade no Brasil), porque as duasescolas têm o mesmo entorno, as famílias o mesmo per-fil socioeconômico.

QUALIDADE É RESULTADO DA GESTÃOEducação é processo de transformação de insumos

(gente com conhecimento transmissível + grana parapagar custos inerentes + coisas a suportar a logística dotodo) em produtos (alunos conclusos), que traz resulta-dos (formandos de boa ou de má qualidade) e impacto nasociedade, por exemplo, na empregabilidade. É típico depolítica pública, como mostra o modelo da figura.Começando pelo recurso financeiro, há dinheiro na

educação. Definido no percentual mínimo de 25% doorçamento público, é cerca de 5% do Produto InternoBruto (PIE), na média, de 2000 a 2010, quase todo ele no

Maio 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 53

João Bezerra Magalhães Neto

há mais linha de celular que gente, chove internet até noseco hinterland nordestino e nas úmidas planícies ama-zônicas já se navega no ciberespaço; é modernidade, masparece existir interesse econômico por trás da falsa ideiade aprendizagem plugada no modem up to date, porqueembaixo de árvore se pode dar aula de qualidade, bastater professor motivado, preparado e vocacionado, bastater aluno ligado no que aprende.A propósito do magistério, já que 25% (principal-

mente na educação infantil) não é formado, é obrigatórioenfiar aqui valorização, capacitação impositiva (via per-centual da jornada de trabalho alocada em reciclagem,atualização e up grade) e remuneração maior para o pro-fessor (que ganha metade do salário de algumas outrasprofissões de nível superior). É vocação, sacerdócio pes-soal e ser normalista já foi prenda doméstica de mulherno casamento, mas lecionar não pode ser a última esco-lha de jovem sem opção, ao contrário, deve ser motivo deorgulho expor em letra garrafal no cartão de visita ou naplaca do endereço residencial, "aqui mora o senhor dou-tor professor fulano de tal': como se vê em país europeu,é status, respeito da sociedade.Quanto ao aluno, por irrevogável decreto celestial do

Dono deste mundo, talento nasce randômico em qual-quer brenha, desponta mesmo na pior condição e - seoportunidade justa for dada a quem saiba aproveitá-Ia -vai ter explosão de genialidade como fogo de artifício domorro ao asfalto, da favela ao condomínio de luxo; todostêm chance de acordo com sua capacidade e - na base davontade, esforço e livre arbítrio - qualquer um vira téc-nico, mestre ou doutor, sem privilégio ou preconceito. Háoutra coisa: se a mãe tiver diploma universitário, a filha-rada recebe influência, incrementa rendimento escolar,tem expectativa de vida melhor.Estrutura adequada é necessário, projeto político-

-pedagógico crucial, conteúdo atual interdisciplinarcapital, grade curricular robusta indispensável e mate-rial didático compatível fundamental, mas produziraluno de qualidade em escala só é possível com profes-sor de excelência, leitura, biblioteca cheia, educação detempo integral, incluindo pré-escola, de preferência emturma menor, na expectativa de mais desempenho, ape-sar de existir cursinho com gente esborrando, escola comrelação aluno/professor quase um a um (por exemplo, naeducação indígena), sala isolada no grotão com aluno dedistintas séries e disciplinas em aula ministrada simult~-neamente por um único professor e semana letiva fechada

ARTIGO

AO MESTRE, COM CARINHO. AO GESTOR, COM JUSTIFICADA MUITA APREENSÃO!

, '.

ensino básico (4,9%, dos 5,8%, em 2010), que consomepouco mais de R$ 3,5 mil por aluno (20% acima do ensinomédio), enquanto o ensino universitário chega próximode R$ 18 mil por aluno, diferença que vem diminuindo.Como do montante pelo menos 60% tem de ser gasto compessoal, é esquisita a ceieuma sobre piso salarial nacio-nal, com professor em greve e governante impossibilitadode cumprir a lei, é o cúmulo. Nos governos, quem alegadificuldade orçamentária são exatamente os mais caren-tes, coisa sem sentido, porque é inquestionável a relaçãodireta entre estágio de desenvolvimento, renda médiadomiciliar per capita, investimento bruto anual por alunoe desempenho em qualquer avaliação qualitativa, ou seja,esta é tão mais alta quanto mais for alocado dinheiro emeducação pública, que retorna ao PIE na proporção de R$1,85 por real gasto, segundo o Instituto de Política Eco-nômica Aplicada (IPEA). É aritmética pura: a igualdadede oportunidade a todo brasileiro depende de que estadoe município pobre receba maior apoio financeiro, masinvista no ensino, ponto final.Não, ponto e vírgula. Porque prefeitos exibem gasto

superior a 80 bilhões de reais em 2010 (de todas as fontes,quase 11% a mais, comparado a 2009), mas esta fortuna(alocada inclusive em transporte escolar, fardamento,merenda e livro didático) não surte efeito proporcional;há despesa alta em infraestrutura, mas escolas caem aospedaços; reformas se repetem na rede pública e quem fazmais festa que aluno é empreiteiro; foi feito investimentoem parafernália eletrônica e laboratório sofisticado, masexiste muita sucata e gerigonça obsoleta. Aliás, aportetecnológico é prá mais de metro: se vende um compu-tador por segundo no Brasil (são 100 milhões em 2012),

Formulação de políticas públicas - Marco conceitual

Metas(Impactos)

o'roo-~Q)

EQ)a.~

InsumosI

• Longo prazo, melhoria na sociedade

• Efeitos intermediários dosprodutos/serviços nos CIdadãos

• Produtos e serviços disporsbiâzaocs

• Ações reafizadas para transformarinsumos em produtos ou serviços

• Financeiros, humanos e materiais

54 I Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio 2012

com uma só matéria (geralmente, física, química ou bio-logia) dada por docente no rodízio em escola, bairro oucidade, por absoluta carência de gente especializada: odeterminante que soluciona essa matriz anormal é jei-tinho, bom senso, improvisação e criatividade, mas háciência no dimensionamento da quantidade necessáriade docentes por disciplina, em cada escola, via númerode turmas em cada série e modalidade de ensino, cargahorária de cada professor e quantidade de alunos porturma, contexto perfeito para o algoritmo aplicável.Com isso, se reverte o funil do processo produtivo

educacional do ensino básico ao nível superior (ape-nas 50% dos que concluem o primeiro grau terminam osegundo aos 19 anos de idade e - dos que chegam aqui- menos entram na universidade). Ou seja, alta taxa derejeito, gente patinando em círculo no caminho ou exclu-ída pela evasão (em torno de 10%, na média, em todoo ciclo), repetência (estão atrasados nos estudos 23%dos alunos do ensino fundamental e 34% da educaçãobásica) e represamento (a distorção idade-série vinda dareprovação e do ciclo abandono/retorno, que cria déficitanual de dois milhões de jovens, mais no norte e nor-deste brasileiros), sangria de custo incalculável, juntodo analfabetismo (tragédia mais cara que todo dinheironecessário ao letramento). Temos hoje seis milhões dealunos superiores (2/3 em faculdade privada), inclusiveem curso à distância de tecnólogo versátil, licenciaturapicada ou bacharelismo de montão (quantidade acimada qualidade), mas nem todos têm de ir para a academia(com ou sem cota racial), sair de canudo ou anel coloridono dedo, entrar em prestigiada pós-graduação uspianaou voar longe para doutorado sanduíche (pior nomenão há); é importante a universidade (ainda mais se forgrande) e deve se complementar com ensino profissionalexcelente, como na escola técnica alemã (fachhochshule),que prepara em longos meses até samoense ocidental navelha arte do talho, a ser açougueiro, numa palavra fácil.

NA PISADA DO PISAAlguma autoridade educacional inexplicavelmente

irritadiça tenta desqualificar modelos universalmenteaceitos como o PISA (Prograrnrne for InternationalAssessment, em português Programa Internacional paraAvaliação de Alunos), da Organização para a Coopera-ção e Desenvolvimento Econômico (OCDE), porque,neles (veja gráficos), o Brasil não se dá bem, coisa deavestruz que enterra a cabeça e deixa o corpo exposto.

,"

A lista trienal comparativa classifica países membros econvidados, a partir da avaliação do ensino que cada umoferece (refletida na habilidade e aptidão do estudanteem compreender, analisar e enfrentar a vida real), focadaem três disciplinas (matemática, ciência e literatura, umaem cada edição é enfatizada), por meio de teste aplicadoa alunos de 15 anos de idade, portanto na transição entreo nível secundário e a inserção no mercado de trabalho.Somos dos que mais evoluíram na década, mas, aindaassim, em 2009, entre 65 países (China [Xangai e HongKong], Coreia, Finlândia, Cingapura e Canadá foram osprimeiros) restou-nos o 53° lugar (melhor que Argentina,atrás de Colômbia, México e Uruguai), demonstrando ainequação da qualidade educacional (escolas públicas narabeira) e da desigualdade social (causa/efeito no viciosociclo da pobreza), pois o Distrito Federal (o líder bra-sileiro) teve desempenho geral equivalente ao Chile (ocampeão latino-americano, em 45° lugar) e o Maranhãoficou na penúltima posição mundial em matemática.Além de ter escola privada em média 60% melhor queo sistema oficial de ensino (a discrepância é menor empaíses desenvolvidos), o recorte geográfico exibe mapamenos feio no centro-sul (SC, RS,MG, PR, ES, SP,RJ,MSe GO, nesta ordem, a partir do melhor) e horripilante nonorte-nordeste do Brasil (RN, MA e AL, os três últimosestados na lista), crua realidade também nos sistemasde avaliação oficiais, como, por exemplo, nos ExameNacional do Ensino Médio (ENEM), Prova Brasil e Pro-vinha Brasil. Afinal, foi bom o Ministério da Educação(MEC) ter se rendido à métrica da qualidade do ensino -como preconizava o Programa Brasileiro da Qualidade eProdutividade (PBQP) desde os anos 90 - adotado prê-mios e implantado mecanismos de recompensa, mas, háequívoco como na escola que contrata consultoria espe-cializada para aprontar mais aluno participante de examenacional de avaliação, absurdo total a escancarar a baixaqualidade do processo educacional, igualzinho ao bacha-rel que faz preparatório para a Ordem dos Advogados doBrasil (OAB).

O QUE DIZER DO IMPACTO NA SOCIEDADE?Por causa da educação, o índice de Desenvolvi-

mento Humano (IDH) do Brasil se elevou (matrículasquase universalizadas no ensino fundamental, sobre-tudo), o ensino médio tem mais jovens insertos, asaúde melhorou (mães escolarizadas têm menos filhos,vacinam eles, transmitem hábitos sanitários) e a renda

Maio 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 55

AO MESTRE, COM CARINHO. AO GESTOR, COM JUSTIFICADA MUITAAPREENSÃOl

OPINIÃO

subiu (por conta de mais escolaridade, um monte saiuda pobreza extrema e empurrou outro lote pirâmidesocial acima/mercado de consumo adentro), mas oapagão de mão de obra desabou na agenda, falta espe-cialista em setor estratégico da economia expandida,técnicos são importados, brasileiros repatriados aosmontes, efeitos colaterais do analfabetismo funcional(gente com restrição cognitiva para entender tabela ougráfico) ou da insuficiente formação (léguas distantedo padrão desejável de trabalhador), que é respon-sabilidade privada e governamental, via extinção debarreiras (municipais, estaduais e federais) à inova-ção, ao empreendedorismo ou à atração de capitais derisco, de parcerias sociais ou filantrópicas e de organi-

" A SAÚDE MELHOROU EA RENDASUBIU, MAS O APAGÃO DE MÃODE OBRA DESABOU NAAGENDA "

João Bezerra Magalhães Neto

zações não lucrativas para a atividade educacional.De fato, algo já é feito no desenvolvimento de con-

teúdos, materiais e recursos didáticos multimídia, masaquém das necessidades e potencialidades, se compa-rado a outras políticas públicas nas quais há forte atuação- saúde em destaque - em relação à moderna tecnologia aser customizada no ensino, com salvaguardas institucio-nais que assegurem prioridade ao interesse da sociedade,porque educação é porta e alavanco do futuro, pátriodireito individual da cidadania, dever do estado (obri-gatória e gratuita no ensino fundamental) e da família,garantia universal de acesso ao conhecimento e ao desen-volvimento integral (nativista e empírico) da pessoa, temde ser inclusiva, não se fala mais nisso.

OU ATA OU DESATANão adianta fórum educacional em paradisíaco

resort á beira mar com ministro e rico empresário (quedevia ser igual mecenas americano doador de fortuna auniversidade), melhor é inundar (como no esporte) opaís com olimpíadas de matemática, português e ciên-cia para elevar a qualidade do aluno normal, mesmoque ele seja fisgado com transporte gratuito, vá à escola

pela merenda escolar, tenha meia-entrada ou passe--livre em ônibus coletivo (qualquer atrativo é válidopara ter estudante em sala de aula, chegar ao professor,afastar do trabalho prematuro).Nesta linha, é criar Vale-Letra, Vale-Alfabeto,

Vale- Leitura, Vale-Educação, Vale-Conhecimento;é replicar imagem de criança europeia ou chilena deuniforme escolar engomado, gravatinha, sainha plis-sada, voltar ao tempo em que elite brasileira sentavaem banco de escola pública, porque era a melhor opção(não a proposta que a quer matricular nela, por cas-tigo); é ressuscitar Darei Ribeiro e o Centro Integradode Educação Pública (CIEP), é retomar a Escola-Par-que de Anísio Teixeira (transformação via mudança,não laisser faire), é relembrar Paulo Freire (educaçãopopular crítica), ao invés de adotar como indicadormetro quadrado de escola construída, milhões de reaisna atividade-meio a encher relatório de secretaria deeducação, se aí cabe o nome.O nome disso é gestão efetiva (que engloba eficiên-

cia e eficácia), sem adjetivo (democrática, colegiada) deocasião ou choque modista, é adotar modelo referencial,solução inovadora e método efetivo, é fixar parâmetro(top down) e meta negociada (bottom up), é manter cons-tância de propósito, priorizar meritocracia e subir degrauum-a-um na melhor ia continua, monitorando, avaliando,premiando, recompensando, motivando; é simplesmentebotar educador de coração em sala de aula e alocar gestorde visão com batuta autônoma de liderança, sem reservade mercado para ninguém e nenhuma profissão; é espa-lhar de novo no país liceus, ateneus, maristas, batistas,cultura humanista comme il faut em lugar de utilitarismosupérfluo, deixar o irresistível fascínio do saber cumprirsua função avant Ia lettre. Assim, seremos pessoas civili-zadas' cidadãos plenos, merecemos há tempo.Ou então, primeiro devolvam nosso suado

imposto, depois distribuam noite adentro a meninopobre caixinha de lustrar sapato rico, instalemsemáforo para guri vendedor de bugiganga ou de emmais bisnaga de água com sabão a pivete limpadorde para-brisas de carro, ou espalhem pela rua maistranseunte com bolsa, colar e relógio disponíveispara trombadinha arisco, ou construam mais abrigopara menor infrator e mais presídio para condenado,até que tudo tenha orçamento maior que o da educa-ção. Claro, o Brasil não quer e nem vai ter isso porlongo tempo mais. Que Deus nos ouça e atenda! •

Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio 201256.1