artigo equina 32 nov dez-2010
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Roberto Arruda deSouza Lima
Engenheiro agrônomo,Doutor em
Economia Aplicada,Prof. da ESALQ/USP,
Pesquisador do [email protected]
Ana Letícia AraujoGraduanda da
ESALQ/USP
A importância da pastagem para os equinos ébastante conhecida e reconhecida. Mesmo animaiscriados estabulados – fato cada dia mais comum –necessitam ingestão de fibras para o equilíbrio dosistema digestório. Consequência direta deste fatoé o cuidado crescente com a formação de um bompasto, com atenção para fertilidade do solo, esco-lha da espécie, manejo e outros aspectos que signi-ficam relevantes investimentos para os criadores.
No entanto, ao se colocar equinos em um pi-quete, tem-se conhecimento de que cerca de umterço da área deixará de ser consumida devido aseletividade desses animais em não comer no mes-mo lugar em que defecam e urinam, isto é, na áreaconhecida como “bosteiro”. Essa rejeição dura cercade vinte e oito dias após seu uso. Essa área nãoconsumida pode chegar inclusive a tomar metadeda área dependendo do tipo de manejo realizado.Devido a esse hábito, algumas áreas ficam super-pastejadas e outras sem pastejo nenhum, formandomurunduns. Além do problema dos murunduns, asáreas superpastejadas são degradadas rapidamentedevido ao hábito alimentar do cavalo, que consisteem “cortar” a planta em uma altura muito próximado solo (razão pela qual se deve dar preferência aplantas estoloníferas para reduzir essa degradação).Em termos econômicos, o assunto ganha impor-tância ainda maior, pois significa que pelo menosum terço do volume financeiro aplicado na forma-ção e manutenção de pastos é perdido.
Uma forma de reduzir essa diferença entre asduas partes do piquete (a superpastejada e a nãopastejada) é a rotação com ovinos no mesmo pi-quete, para que esses pastejem na área não utilizada(como alimento) pelos equinos. Esse método é uti-lizado a muitos anos na Europa e funciona muitobem para aquela região. Ao se utilizar esse método,
Rotação de pastejo entre equinos e ovinos:um olhar econômico
o convencionado para climas temperados é mantera relação de três ovinos para cada equino que haviano piquete.
Adicionalmente, evidencias mostram que o pas-toreio alternado entre equinos e ovinos pode redu-zir a pressão parasitária para ambas as espécies.Os parasitas presentes nas fezes dos equinos emsua grande maioria são diferentes daqueles presen-tes nas fezes dos ovinos (Tabela 1), fazendo comque não haja uma transmissão de parasitas de umaespécie para outra, com os principais parasitas decada espécie além de com o tempo diminuir a po-pulação de nematódeos presentes na área que po-deriam infestar outro exemplar de uma das espéci-es. É importante citar o fato de que os equinos sealimentam tranquilamente na área onde os ovinosdefecaram uma vez que não tem problemas quantoao cheiro e a palatabilidade dessas áreas, só quan-do são utilizadas como bosteiro por eles (equinos)é que as áreas são rejeitadas.
Quanto à relação de pastos cultiváveis para asduas espécies em locais temperados, uma boa al-ternativa é a utilização de coast-cross em uma par-te da área, pois é consumida tanto por equinos quan-to por ovinos. Pode-se, inclusive, incluir em outraparte da área com leguminosas de clima tempera-do. Já para climas tropicais, pode-se fazer uso dealguma outra espécie do gênero Cynodon spp. eincluir, em consórcio, alguma leguminosa de climatropical. Ambos os tipos de leguminosas (clima tem-perado e tropical) além de servir como alimenta-ção, representam um complemento nutricional, umavez que são ricas em proteína. Adicionalmente, fi-xam o nitrogênio, diminuindo a necessidade de adu-bação nitrogenada.
Deve-se destacar que, tanto para equinos quan-to para ovinos, é necessária uma boa preparaçãodo solo, com adubação corretiva. Além da aduba-ção antes da instalação do pasto, a adubação decobertura e a roçada de igualação são essenciaispara as duas espécies, pois só assim as plantaspodem crescer com um conteúdo nutricional e al-tura adequados. A melhor época em média paracolocação dos equinos é de vinte e oito dias após aadubação e roçada de igualação, quando as fezesrestantes já foram mineralizadas e o odor já estáquase inexistente. Já a colocação dos ovinos deveser feita após a retirada dos equinos, para que aárea rejeitada pelos equinos, onde o pasto continuacom altura elevada, seja utilizado pelos ovinos, evi-tando a perda de pasto.
Com relação ao valor nutricional da forrageira,
Tabela 1: Parasitoses mais comuns em ovinos e em equinos
Parasitoses
Ovinos Equinos
Cooperia punctata Anoplocephala perfoliata
Haemonchus contortus Cyathostomum spp.
Oesophagostomum columbianum Gyalocephalus spp.
Ostertagia ostertagi Oxyuris equi
Strongyloides papillosus Parascaris equorum
Trichostrongylus colubriformes Strongylus spp.
conforme o passar do tempo, essevalor diminui. Já a produção de maté-ria seca por hectare aumenta inicial-mente, mas, e depois de um tempo, oacúmulo de matéria seca também de-cai. Assim, é necessário estimar qual aépoca ideal para colocação dos animaisno piquete uma vez que com a forra-geira muito tenra, a lotação será me-nor e poderá causar um aceleramentona degradação do pasto, enquanto quese colocar os animais depois de muitotempo, o capim estará “passado” e combaixo valor nutritivo, sendo necessá-rio um consumo maior de matéria secapara uma mesma absorção de nutrien-tes além do aumento do consumo deágua. Deve-se ressaltar que alguns es-tudos, inclusive, mostram que quandoexiste rotação de pastagem entre dife-rentes espécies, pode ocorrer aumen-to no ganho de peso em uma das es-pécies quando não nas duas.
Na busca de quantificar o impactoeconômico da rotação de pastejo entreequinos e ovinos, é necessário realizara estimativa dos custos de plantio, es-tabelecimento e manutenção da pasta-gem. O ideal é que isso seja feito indi-vidualmente, caso a caso. Um modelointeressante para tanto é o elaboradopela EMBRAPA (Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária). A seguir éapresentado (Tabelas 2 e 3) as esti-mativas de custos realizadas por H.Resende, em setembro de 2005, paraa EMPRAPA. O leitor interessado po-derá utilizar a estrutura da planilha,adaptando-a para a sua propriedade,especialmente com atualização da co-luna referente ao preço.
Apenas como exemplo hipotético,o custo anual da pastagem correspon-deria a R$ 1.797,68 / ha (R$ 1.698,88de do plantio e estabelecimento e R$1.545,55 / ha de manutenção). O va-lor estimado para o bosteiro seria, en-tão, R$ 600,00 de cerca. Com a im-plantação da rotação entre equinos eovinos, essa perda é reduzida, repre-sentando, assim, aumento na eficiên-cia da utilização do piquete e uma di-minuição no custo de cada hectare depastagem utilizado para a criação deequinos existente na propriedade. Es-sas características fazem com que arotação de pastagem entre equinos eovinos seja interessante tanto do pon-to de vista econômico quanto do pon-to de vista zootécnico.
FON
TE: E
MB
RA
PA (2
010)
Tabela 2: Custo do plantio e estabelecimento de 1,0 ha de Coast-Cross
SERVIÇOS E INSUMOS UNID. QTDE. PREÇO R$ / ha %
1 - Preparo e correção do solo 534,52 31,46
1.1 - Calagem
* Transporte interno do calcário htr 0,5 26,92 13,46 0,79
* Distribuição do calcário htr 1,2 30,06 36,07 2,12
* Auxiliar de tratorista dh 0,3 18,64 5,59 0,33
* Calcário dolomítico Kg 2500 0,10 250,00 14,72
305,13 17,96
1.2 - Preparo do Solo
* Aração com arado de 3 discos htr 2,58 36,82 95,01 5,59
* Gradagem c/niveladora (2 vezes ) htr 1,68 33,93 57,00 3,36
152,01 8,95
1.3 - Controle Inicial de Invasoras
* Aplicação de herbicida htr 0,6 39,21 23,52 1,38
* Auxiliar tratorista dh 0,1 18,64 1,86 0,11
* Herbicida glyfosato l 4 13,00 52,00 3,06
77,39 4,56
2 - Mudas
* Corte com alfange ou enxada dh 0,6 18,64 11,18 0,66
* Transporte (+- 2 km) htr 1,75 26,92 47,12 2,77
* Carga e descarga dh 1,7 18,64 31,69 1,87
* Mudas (preço computado em serviços) t 2,5 0,00 0,00 0,00
89,99 5,30
3 - Plantio
* Adubação manual a lanço dh 0,6 18,64 11,18 0,66
* Sulcagem e cobertura das mudas htr 5 36,82 184,12 10,84
* Distribuição das mudas nos sulcos dh 5,4 18,64 100,66 5,93
* Gradagem para nivelar o solo htr 0,84 33,93 28,50 1,68
* Transporte de adubo htr 0,5 26,92 13,46 0,79
* Adubo para plantio (superf. simples) kg 550 0,46 253,00 14,89
590,93 34,78
4 - Tratos culturais
4.1 - Controle de invasoras
* Roçada ou corte c/ segadeira htr 1,5 39,00 58,51 3,44
* Aplicação localizada de herbicida dhm 1 22,25 22,25 1,31
* Herbicida glyfosato l 1 13,00 13,00 0,77
93,76 5,52
4.2 - Adubação de cobertura
* Distribuição manual do adubo dh 0,52 18,64 9,69 0,57
* Transporte do adubo htr 0,5 26,92 13,46 0,79
* Adubo para cobertura (20-00-20) kg 250 0,86 215,00 12,66
238,16 14,02
4.3 - Irrigação
* Irrigação com conjunto convencional hci 7,5 12,20 91,52 5,39
5 - Outros custos
* Assistência técnica sm 0,2 300,00 60,00 3,53
6 - Custo total R$/ha 1.698,88 100,00
Tabela 3: Custo anual de manutenção/ha da cultura de Coast-Cross
SERVIÇOS E INSUMOS UNID. QTDE. PREÇO R$ / ha %
1.1 - Adubação de cobertura - 4 vezes/ano
* Distribuição manual do adubo dh 2,08 18,64 38,77 2,51
* Transporte do adubo (até 10 ha) htr 1,6 26,92 43,08 2,79
* Adubo 20-05-20 (250 kg x 4 vezes) kg 1.000 0,95 950,00 61,47
1.031,85 66,76
1.2 - Controle de invasoras - 4 vezes/ano 35,25 2,28
* Aplicação localizada de herbicida dhm 1 22,25 22,25 1,44
* Herbicida glyfosato l 1 13,00 13,00 0,84
1.3 - Irrigação 268,45 17,37
* Irrigação com conjunto convencional (6 irrig. / ano) hci 22 12,20 268,45 17,37
2 - Outros custos 210,00 13,59
* Assistência técnica sm 0,1 300,00 30,00 1,94
* Remuneração do uso da terra mês 12 15,00 180,00 11,65
3 - Custo total de manutenção R$/ha 1.545,55 100FON
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