artigo de kleverson teodoro ufop

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1 RECONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DE OURO PRETO APÓS A MUDANÇA DA CAPITAL. Kleverson Teodoro de Lima 1 IFMG - Instituto Federal de Minas Gerais Resumo: O objetivo desse artigo é apresentar a relevância de três questões presentes na pesquisa que estou começando a desenvolver sobre o processo de reconstrução identitária experimentado em Ouro Preto entre o final do século XIX e o início do XX. Primeira: quais foram os problemas enfrentados pela população de Ouro Preto após a perda do título de capital de Minas Gerais? Segunda: como se deu a reconstrução das redes de sociabilidade após o arrefecimento do fluxo migratório impulsionado pela mudança da capital e a chegada de novos grupos? Terceira: como os discursos da “modernização” e “musealização” de Ouro Preto foram apropriados pelos diferentes atores e grupos sociais locais? Essas questões desenham o perímetro que desejo percorrer nessa investigação e, dessa maneira, contribuir para a historiografia sobre o período. Palavras-chave: Ouro Preto, identidade, modernidade, musealização. Nas últimas duas décadas, a sintonia entre as mudanças teórico-metodológicas no campo da História e as comemorações do centenário de Belo Horizonte estimularam a produção de novas investigações sobre os interesses que influenciaram o processo de transferência da capital mineira na fase inicial da República (Salgueiro, 1997; Viscardi, 2007; Castro, 2008). Ancorados nesse tema, outros estudos se inclinaram tanto à análise da composição do tecido urbano de Belo Horizonte - evidenciando, por exemplo, as diretrizes técnico-científicas e o diagrama do poder distribuído no espaço do planejamento da nova capital - quanto à ressignificação do cenário urbano de Ouro Preto entre o final do século XIX e o início do XX (Faria: 1985, Magalhães & Andrade, 1989; Mello, 1996; Miranda, 1996; Julião, 1996; Ávila, 2008; Brandão,2008; Fonseca, 1998; Meniconi, 1999; Natal, 2007; Mantovani, 2007). Em meio a essas pesquisas, as analogias entre a antiga e a nova capital apresentam-se inevitáveis, já que na virada para o século XX construiu-se em Minas uma antítese entre os modelos urbanos das duas cidades: Belo Horizonte representando o moderno, o novo; e Ouro Preto, o antigo, o arcaico. Mas as relações entre esses espaços não se restringiam ao campo das oposições, havia também abertura para misturas ou superposições entre as suas simbologias, como demonstram a instalação da réplica do Pico do Itacolomi na Praça da 1 Mestre em História pela Universidade Federal de Minas Gerais e graduado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto.

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Page 1: Artigo de kleverson teodoro ufop

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RECONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DE OURO PRETO APÓS A MUDANÇA DA CAPITAL.

Kleverson Teodoro de Lima1

IFMG - Instituto Federal de Minas Gerais

Resumo: O objetivo desse artigo é apresentar a relevância de três questões presentes na pesquisa que estou começando a desenvolver sobre o processo de reconstrução identitária experimentado em Ouro Preto entre o final do século XIX e o início do XX. Primeira: quais foram os problemas enfrentados pela população de Ouro Preto após a perda do título de capital de Minas Gerais? Segunda: como se deu a reconstrução das redes de sociabilidade após o arrefecimento do fluxo migratório impulsionado pela mudança da capital e a chegada de novos grupos? Terceira: como os discursos da “modernização” e “musealização” de Ouro Preto foram apropriados pelos diferentes atores e grupos sociais locais? Essas questões desenham o perímetro que desejo percorrer nessa investigação e, dessa maneira, contribuir para a historiografia sobre o período.

Palavras-chave: Ouro Preto, identidade, modernidade, musealização.

Nas últimas duas décadas, a sintonia entre as mudanças teórico-metodológicas no campo da

História e as comemorações do centenário de Belo Horizonte estimularam a produção de

novas investigações sobre os interesses que influenciaram o processo de transferência da

capital mineira na fase inicial da República (Salgueiro, 1997; Viscardi, 2007; Castro, 2008).

Ancorados nesse tema, outros estudos se inclinaram tanto à análise da composição do tecido

urbano de Belo Horizonte - evidenciando, por exemplo, as diretrizes técnico-científicas e o

diagrama do poder distribuído no espaço do planejamento da nova capital - quanto à

ressignificação do cenário urbano de Ouro Preto entre o final do século XIX e o início do XX

(Faria: 1985, Magalhães & Andrade, 1989; Mello, 1996; Miranda, 1996; Julião, 1996; Ávila,

2008; Brandão,2008; Fonseca, 1998; Meniconi, 1999; Natal, 2007; Mantovani, 2007).

Em meio a essas pesquisas, as analogias entre a antiga e a nova capital apresentam-se

inevitáveis, já que na virada para o século XX construiu-se em Minas uma antítese entre os

modelos urbanos das duas cidades: Belo Horizonte representando o moderno, o novo; e Ouro

Preto, o antigo, o arcaico. Mas as relações entre esses espaços não se restringiam ao campo

das oposições, havia também abertura para misturas ou superposições entre as suas

simbologias, como demonstram a instalação da réplica do Pico do Itacolomi na Praça da

1 Mestre em História pela Universidade Federal de Minas Gerais e graduado em História pela Universidade

Federal de Ouro Preto.

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Liberdade (FIG.1) e a reprodução de paisagens ouropretanas nas varandas de algumas

residências particulares de Belo Horizonte (Meniconi, 1999).

FIG.1 – Praça da Liberdade, 1905.

Autor: desconhecido.

Fonte: Coleção Otávio Dias Filho, Fundação João Pinheiro, 1997, BH-MG.

Especificamente, interessa ao problema aqui apresentado os trabalhos que tematizam a

ressignificação do cenário urbano de Ouro Preto entre o final do século XIX e o início do XX,

seja através das apropriações da atmosfera modernizante da Belle Époque ou da

transformação da identidade da antiga capital, renomeada como “cidade histórica” e

“monumento nacional”. Nesse sentido destacamos duas investigações: A construção de uma

cidade-monumento: o caso de Ouro Preto, elaborada pelo arquiteto Rodrigo Meniconi, em

1999; e Ouro Preto: a construção de uma cidade histórica - 1891-1933, produzida pelo

historiador Caion Meneguello Natal, em 2007. Os trabalhos de Meniconi e Natal, além de nos

permitir uma base mais táctil para a interpretação dos discursos que contribuíram para a

construção das identidades “cidade histórica” e “monumento nacional” para Ouro Preto,

demonstram-se audaciosos ao elegerem uma temporalidade pouco comum à historiografia

relacionada a essa cidade, ainda polarizada pelos estudos setecentistas.

Apresentaremos em linhas gerais os roteiros e as idéias detectadas nesses trabalhos, a fim de

realçar a importância dessas investigações e de demonstrar ao leitor a necessidade de uma

pesquisa mais abrangente sobre certas questões ainda pouco exploradas. Meniconi (1999) e

Natal (2007) trafegam um caminho semelhante, passando pelos debates políticos que

defendiam ou não a transferência da capital; a influência das perspectivas técnico-científicas e

Réplica do Pico

do Itacolomi

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positivistas nesse contexto; a inauguração de Belo Horizonte e a retração do papel político de

Ouro Preto em Minas; e o crescimento das vozes de intelectuais mineiros e de outros estados

que defendiam a singularidade e a importância do patrimônio da cidade no cenário político e

artístico nacional, como a trupe capitaneada por Mário de Andrade na década de 1920.i

Sintetizaremos as idéias principais dos seus trabalhos seguindo esse mesmo percurso.

O início da República reacendeu em Minas Gerais o debate sobre a mudança da capital,

desejo presente na Conjuração Mineira e retomado na segunda metade do século XIX. Os

conspiradores do final do século XVIII defendiam a transferência da capital para a Vila de

São Del Rey, opção que evidenciava a tendência de fortalecimento das rotas comerciais do sul

de Minas, conectadas ao centro do Estado e à capitania do Rio de Janeiro. Esse e outros

planos, no entanto, se desintegraram com as delações e as prisões dos principais participantes

e líderes no início de 1789 (Linhares, 1905; Natal, 2007). Quase um século depois, o Padre

Paraizo, representante da região do Serro na Assembléia Provincial, voltou ao tema

defendendo um novo espaço para a transferência da capital: agora às margens do Rio das

Velhas. Essa opção reiterava a permanência da capital na zona central e realçava o

aproveitamento da potencialidade hidrográfica a partir da integração entre o Rio das Velhas,

Rio São Francisco e a faixa litorânea do Atlântico. O transporte fluvial de pessoas, bens e

mensagens ajudaria a desenvolver a economia regional e as conexões entre a capital mineira e

as outras províncias brasileiras. Essa mudança favoreceria a região norte do Estado, cortada

por importantes rios como o Jequitinhonha e os acima citados. No entanto, a idéia não

encontrou força política e a ressonância necessária para a sua aprovação (Linhares: 1905;

Natal, 2007).

No final do século XIX, o assunto emergiu novamente. A recém-instalada República

dissolveu e extinguiu as assembléias provinciais e estabeleceu entre as atribuições dos

governadores empossados o direito de ordenar, caso necessário, a mudança das capitais dos

seus estados para lugares mais convenientes (Meniconi,1999). Em Minas, já em 1890, essa

questão apareceu nos jornais de Ouro Preto e de Juiz de Fora, cidade que colocou-se em

campanha para sediar a nova capital.

(...) o debate na imprensa opunha dois grupos de valores estereotipados. De um lado, Juiz de Fora, uma cidade que se via moderna, industrializada e economicamente avançada. Mas era vista pelos seus oponentes como rebelde e viciada. De outro,

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Ouro Preto, que se percebia como um lídimo representante do Estado de Minas, por ser uma cidade culta e tradicional. Mas o grupo oponente a via como suja, mal-cheirosa e empobrecida. O grupo ouro-pretano inventava-se na tradição. O juiz-forano, na modernidade (Viscardi, 2007).

Esse debate, que dividiu os setores políticos mineiros em alas a favor ou contra a transferência

(denominados como mudancistas ou não-mudancistas), era atravessado por dois conflitos: no

cenário estadual, as lutas políticas inter-regionais, fruto da antiga formação espacial e

econômica de Minas, separada em pólos relativamente autônomos “com os seus interesses

voltados para fora do Estado (Singer,1977)” (Wirth,1982); no plano nacional, em meio ao

clima da recente república, se destacavam os embates entre os grupos deodoristas e

florianistas, esses últimos partidários das idéias separatistas difundidas em Minas pelos

críticos da permanência da capital na região central do Estado (Viscardi, 2007). Ouro Preto,

portanto, representava o “centro” administrativo de um Estado sem uma coerente unidade

econômica ou política.

Apesar das vozes contrárias, em 1891 foi “declarada a mudança da capital do Estado para um

local que, oferecendo as precisas condições higiênicas” se prestasse “à construção de uma

grande cidade” (Minas Gerais, 1891, p.52 apud. Meniconi, 1999). Ainda, em 1891, foram

indicadas e escolhidas as localidades que seriam avaliadas, cabendo aos estudos técnicos, à

“neutralidade científica”, a definição do novo espaço entre as concorrentes: Juiz de Fora,

Barbacena, Várzea do Marçal, Paraúna e Curral Del Rey. No ano seguinte, a Secretaria do

Interior do Estado Público publicou as instruções que deviam guiar a comissão incumbida

desses estudos, chefiada pelo engenheiro Aarão Reis. Conforme Rodrigo Meniconi (1999) os

aspectos a serem considerados deveriam levar em conta

(...) o estabelecimento de uma cidade de 150 a 200 mil habitantes (grifo nosso). Deveriam ser examinadas as condições naturais de salubridade, o abastecimento abundante de água potável, os esgotos e conveniente escoamento das águas pluviais, as facilidades oferecidas para a edificação e construção em geral, o farto abastecimento dos produtos da pequena lavoura indispensáveis ao consumo diário, a iluminação pública e particular, de forma a oferecer as condições de conforto requeridas pela vida moderna, com a indicação do sistema preferível, as condições topográficas em relação à livre circulação de veículos e ao estabelecimento de carris urbanos, a ligação ao plano geral da viação estadual e federal e, finalmente, a despesa mínima que as instalações iniciais, exigiriam com o custo das implantações, dos projetos a serem executados e da construção dos edifícios representativos.

Ainda, segundo Meniconi (1999):

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Na relação das condições transparece a postura científica e “positivista” que deverá nortear os trabalhos da Comissão. Os aspectos são objetivos e mensuráveis, muitas vezes devendo ser corroborados por dados estatísticos, provas documentais, planilhas e tabelas, enfim, por comprovações factuais. Percebe-se, também, que alguns aspectos comprometem e direcionam a escolha; sub-repticiamente Ouro Preto é descartada por sua incapacidade de atender muitos dos requisitos, em especial os relativos aos esgotos e escoamento, ao “farto abastecimento” de produtos agrícolas e às condições topográficas para livre circulação de veículos e estabelecimento de carris (grifo nosso).

Envolvida pelos interesses políticos e econômicos em jogo, a comissão analisou as

localidades e apresentou um relatório conclusivo ao governador Afonso Penna em maio de

1893.ii Em dezembro desse mesmo ano, num viés conciliador conduzido por Penna, facilitado

pela ruptura entre os mudancistas das regiões do sul de Minas e da Zona da Mata, o antigo

Arraial do Curral Del Rey (situado no centro do Estado) foi escolhido para abrigar a nova

capital (Barreto,1996; Viscardi,2007). Aarão Reis tornou-se o chefe da Comissão de

Construção da Nova Capital e com sua equipe definiu a planimetria, o desenho urbano e a

arquitetura dos principais edifícios públicos de Belo Horizonte (Magalhães & Andrade, 1989;

Julião, 1996; Salgueiro,1997). A nova capital representava a fé linear na ciência e no

progresso, traduzia em suas avenidas, edifícios e praças a imagem idealizada de um novo

tempo, de reinvenção de um novo país. Reproduzia as aspirações de uma modernização

conservadora: por um lado, os grupos social, política e financeiramente mais influentes eram

seduzidos pela atmosfera da atualização dos valores e dos costumes; por outro, eram

reticentes quanto a ampliação dos direitos e da participação dos setores menos favorecidos no

jogo do poder (Linhares, 2002). Belo Horizonte, assim como a República, nasceu moderna e

conservadora, aberta ao novo, mas entrelaçada a valores tradicionais (Mello,1996;

Simão,2006; Ávila,2008).

Entre 1891 e 1893, período em que os estudos sobre o espaço da nova capital ainda estavam

em andamentos, Ouro Preto tentou enfrentar o processo de transferência se adaptando às

diretrizes urbanas disseminadas na época. O seu cenário urbano constituído nos períodos

colonial e imperial foi parcialmente afetado pelos discursos de modernização presentes na

atmosfera da Belle Époque.iii Em dezembro de 1891 foi criada a Empresa de Melhoramentos

da Capital num contrato firmado entre a Intendência Municipal ouropretana e os Srs. Vicente

Barreiros e Dr. Alexandre Moura Costa. Segundo Caion Natal (2007), a partir desse projeto

A cidade que se pretendia fazer deveria constituir-se, basicamente, de uma arquitetura de ‘gosto moderno’; suas vias deveriam seguir um traçado reticular; indústrias seriam construídas; viadutos, avenidas, bulevares, linhas de Bondes,

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ruas e planos inclinados seriam criados; previa-se o estabelecimento de sistemas eficientes de esgotos e água encanada, bem como o calçamento, alargamento e alinhamento das ruas já existentes; ansiava-se pela construção de novos chafarizes e pontes no lugar dos antigos; pela construção de um teatro amplo e moderno; pelo estabelecimento de um cemitério e matadouro públicos afastados do centro urbano; pela construção de muros de arrimo para conter as águas dos rios e evitar deslizamentos. Ademais, era necessário tomar as devidas providências para embelezar a cidade: arborizar as ruas e os adros das igrejas, construir parques e jardins , restaurar as vias e edifícios que estivessem em estado calamitoso, suprimir os becos onde se acumulavam detritos putrefatos e insalubres, nivelar áreas acidentadas e abrir praças e novas áreas planas, mais amplas e arejadas, para evitar miasmas e epidemias (grifo nosso).

FIG.2 – Parte do Projecto de Boulevard, 1891, autor desconhecido.

Fonte: Arquivo Público da Prefeitura Municipal de Ouro Preto

A FIG.2 apresenta parte do Projeto de Boulevard criado para Ouro Preto em 1891. Contendo

no centro as fachadas das novas casas que seriam construídas, no lado direito o corte

transversal de uma suposta praça e no lado esquerdo a frente de um jardim, essa planta

registra algumas pistas sobre a nova cidade sonhada para a antiga capital, inscreve uma

vontade e uma forma de olhar Ouro Preto. No entanto, o contraste entre as obras desejadas e

as condições para realizá-las fica evidente quando nos aproximamos da realidade financeira

da velha capital: a Empresa de Melhoramentos, que não podia contar apenas com os recursos

da municipalidade, adquiriu um empréstimo junto ao governo estadual, valor que foi

insuficiente para o vulto planejado e que contribuiu apenas para aumentar o endividamento da

economia ouropretana (Coelho,1987). “A carência de recursos técnicos, materiais e

financeiros selaram o malogro da Empresa de Melhoramentos da Capital (Natal, 2007).”

Ainda, em 1892, a Câmara publicou o Edital sobre terrenos foreiros, que incorporou os

terrenos abandonados situados na Serra de Ouro Preto e previu a utilização dessa zona na

futura expansão urbana da capital. Diogo de Vasconcelos, presidente da Câmara, assim

justificou a ação:

Considerando que dentro do perímetro da sesmaria Municipal não há terreno que seja excluído do domínio porque as mesmas extensões isentas do pagamento de foros pela Carta Régia

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incorporam-se ao patrimônio se acaso abandonadas, e nenhuma prova existe mais concludente desse abandono que as ruínas e confusão em que se acham. Considerando que mesmo para os terrenos de sesmarias vizinhas prevalece aquele direito de incorporação nas partes que entravam pelas divisas da sesmaria Municipal, tanto assim que pela Carta Régia não se permite que se recite o domínio dos proprietários que as tenham uma vez abandonado. Considerando que o mesmo direito regia e rege as datas e outras concessões minerais cuja superfície pelo abandono dos serviços reverte ao patrimônio da Câmara. Considerando ainda que tão vastos terrenos podem e devem ser repovoados, como é necessário e exigido ao grande desenvolvimento da cidade, cujos arrebaldes não podem continuar entregues à solidão e a esterilidade: Resolve: 1º Ficam incorporadas ao patrimônio municipal os terrenos devolutos e abandonados em toda a Serra de Ouro Preto; e bem assim toda superfície das antigas datas e concessões minerais que tenham caducado; e estejam dentro dos limites da sesmaria municipal. 2º Fica marcado o prazo de 60 dias para quaisquer reclamações opostas a este Edital, indo os quais serão aforados os respectivos terrenos. Paço da Câmara Municipal de Ouro Preto , 12 de julho de 1892. Diogo Luiz de Almeida Pereira de Vasconcelos.iv

No ano seguinte, em 1893, a Câmara encomendou ao engenheiro João F. Blaksley um plano

de expansão da mancha urbana de Ouro Preto. Seguindo a recomendação dos camaristas, ele

estudou o planalto do Morro do Cruzeiro a fim de fundar-se nesse espaço uma nova cidade

que pudesse “ser unida à histórica capital do Estado de Minas Gerais (grifo nosso)

(Blaksley,1893).” Traduzindo os discursos dos não-mudancistas em projeção urbanística,

Blaksley buscou conciliar em seu projeto a coexistência entre a “histórica capital” e a “nova

capital” a ser criada. O viaduto que ligaria o setor antigo ao novo (o Morro da Forca ao alto

do Morro do Cruzeiro) simbolizaria essa tentativa de construir uma passagem harmoniosa

entre o passado e o presente, a tradição e o progresso (FIG.3). Segundo José Efigênio Pinto

Coelho, a “nova capital”

teria uma avenida contornando todo o núcleo urbano, duas avenidas se cruzariam no centro, e várias ruas paralelas transversais às duas avenidas. (...) Este núcleo do Morro do Cruzeiro seria ligado a Ouro Preto por uma ponte que vai dar no Morro da Forca. Seria uma ponte de estrutura metálica, lembrando a estrutura da Torre Eiffel. Este plano começou a ser executado, e é por isso que o Morro da Forca é chapado, pois, no plano, ali seria o ponto chave da obra; a porta de entrada (grifo nosso) (Coelho, 1987).

Como a emergência da cidade moderna e de suas práticas de destruição e remodelamento do

espaço não exclui a possibilidade de se “julgar aquilo que se deve preservar”, os pontos de

ancoragem da memória, a conservação do antigo núcleo da sede de Ouro Preto representava

nesse contexto a proteção dos discursos que atribuíam a essa área a condição de principal

palco da luta dos mineiros contra a tirania e a favor da liberdade de expressão e da criação

artística (Choay, 2001; Arantes, 1984; Gonçalves, 1996; Pesavento,1997). Apesar do apelo à

memória, o espaço urbano no projeto de Braksley é reduzido ao atendimento das questões

funcionais de circulação, abastecimento, salubridade, topografia e custo, assemelhando-se às

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preocupações que guiaram os trabalhos de Aarão Reis na construção da nova capital e aos

planos da frustrada Empresa de Melhoramento de Ouro Preto.

FIG.3 – Sem título. Ouro Preto, primeira metade do século XX.

Autor: Luiz Fontana.

Fonte: Acervo fotográfico do Núcleo de Mentalidade e Memória IFAC/ UFOP.

Na defesa de seu status como capital, a cidade convocou o panteão de personagens da história

de Minas que viveram em Ouro Preto, como Felipe dos Santos, Cláudio Manoel da Costa,

Aleijadinho etc., se posicionando como a “guardiã e representante das mais gloriosas

tradições mineiras” (Meniconi, 1999; Natal, 2005). Esse apelo é nítido na inauguração do

monumento dedicado a Tiradentes, em 21 de abril de 1893, situado na principal praça da

cidade.

Os defensores de Ouro Preto acreditavam na sacralização cívica do mártir Tiradentes, todavia, sacralizada também deveria ser a antiga Vila Rica, berço da luta pela liberdade. Retirar-lhe o status de Sede do Governo Mineiro significaria arrancar de Minas suas raízes, impondo ao mesmo tempo à heróica terra de Tiradentes a mais desalmada crueldade, o abandono (Fonseca, 1998).

Todavia, nem o panteão de “heróis”, o projeto de Braksley, a incorporação dos terrenos

abandonados na serra ou os planos da Empresa de Melhoramento de Ouro Preto evitaram a

aprovação do Curral Del Rey, em dezembro de 1893, como o espaço para a construção do

novo centro político e administrativo de Minas. Para Rodrigo Meniconi (1999):

A construção da nova capital e o êxodo que se seguiu - calcula-se que mais de 45% da população tenham emigrado - vão colocar Ouro Preto em uma espécie de limbo, um local fora do tempo (grifo nosso). Não sendo mais desse tempo, de que tempo seria esse lugar?

Área chapada no

Morro da Forca

Morro do Cruzeiro (espaço para a “nova capital”)

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É nesse contexto marcado pela diminuição da população, queda da arrecadação tributária,

aumento dos problemas a serem sanados pela gestão municipal e apropriação de novos

conceitos sobre o espaço urbano que os aspectos evocativos presentes nos discursos

derrotados dos não-mudancistas adquiriram uma nova direção: a preservação e a conservação

da “histórica” cidade. Para Caion Natal (2005):

A nova concepção que passa a envolver Ouro Preto, a partir da consolidação de Belo Horizonte, é a de que a cidade não deveria mudar sua condição material, mas sim trazer as marcas do passado em seu traçado e em sua arquitetura. Em fins do século XIX e começo do XX, Ouro Preto passa a assumir uma imagem cujo principal atributo seria sua imutabilidade como signo da preservação de uma memória histórica; de uma tradição que deveria ser mantida sob pena de perder um importante elemento constitutivo da identidade brasileira e mineira.

Nesse processo de construção dos discursos que criticavam o esquecimento de Ouro Preto e

que exaltavam a velha cidade como um importante cenário da memória nacional destaca-se

(na fase de inauguração da nova capital) a constituição do Arquivo Público Mineiro, em 1895,

e os lançamentos da Revista do Arquivo Público Mineiro, em 1896, e das Efemérides

Mineiras, em 1897, empreendimentos coordenados por José Pedro Xavier da Veiga (1998).

Pouco depois esse tema ganhou uma nova visibilidade nas comemorações do bicentenário de

Ouro Preto, em 1911, marcadas pela programação de festas, visitas aos “lugares históricos”,

exibição de filmes e a edição de uma publicação específica sobre a história local

(Meniconi,1999; Natal,2005). O livro Bi-Centenário de Ouro Preto (1711-1911): Memória

Histórica, editado pela Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, envolveu nomes

importantes do quadro intelectual mineiro, como Nelson de Senna, Benedicto José dos

Santos, Diogo de Vasconcelos e Augusto Velloso (Senna,1911). Em meio às manifestações

desse evento buscou-se construir conexões históricas entre Ouro Preto e Belo Horizonte,

como se a recente capital fosse o prolongamento da antiga.

Dessa forma, os fantasmas da transferência da capital, que envolviam Ouro Preto, seriam exorcizados: esta não seria mais uma cidade renegada, inferiorizada, esquecida, mas sim o suporte moral da cidade moderna, a raiz da mineiridade. Desse modo, aliava-se um discurso progressista, em prol de Belo Horizonte e, portanto, da cidade moderna, a um discurso de conservação da tradição, tendo em vista a cidade de Ouro Preto. Passado e futuro eram, então, vistos como a face de uma mesma moeda: enquanto Belo Horizonte representava o espírito empreendedor do mineiro, o desenvolvimento econômico, o progresso científico, Ouro Preto representava a raiz desse progresso, o nascedouro da identidade mineira (Natal, 2005)

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No início do século XX, as exaltações e as alegorias montadas em torno da valorização e

conservação da cidade contaram com novos adeptos, como o escritor Alceu de Amoroso Lima

(o Tristão de Ataíde), que escreveu um artigo em 1916 em defesa do “passado nacional”, onde

cita o descaso com as cidades de Ouro Preto e Diamantina; e o escritor Mário de Andrade,

que visitou a região na segunda década do XX, estadia que o levou a escrever sobre

Aleijadinho em 1920 definindo-o como um “gênio da raça”. Na década de 1920 novas vozes

defenderam a necessidade de se reavaliar o esquecimento e o mal estado de conservação da

velha cidade, como o arquiteto Lúcio Costa e os paulistas liderados por Mário de Andrade

(Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Blande Cendars), colocando Ouro Preto e Minas no

foco do chamado modernismo brasileiro (Meniconi, 1999; Natal, 2005: Oliveira, 2005). A

sintonia entre a ressonância dessas vozes e as intenções do governo Vargas de manter um

bom relacionamento com os setores políticos mineiros e influenciar a reconfiguração do

discurso mítico nacional levou ao tombamento de Ouro Preto como “monumento nacional”

em 1933. Época em que a cidade passou a ser tutelada pela esfera federal. Segundo Rodrigo

Meniconi (1999):

Com a criação, no ano seguinte, da Inspetoria de Monumentos Históricos, vinculada ao Museu Histórico Nacional dirigido por Gustavo Barroso, os problemas da conservação e restauração da cidade e de seus valores assumem dimensões nacionais, demandando urgências operativas. Em 1935 Barroso apresenta um “Plano de Restauração” da cidade de Ouro Preto. Esse plano, primeiro no Brasil, na verdade contemplava a restauração de edificações singulares, igrejas, pontes e chafarizes e vai ser executado nos próximos três anos, com uma verba de 200 mil réis.

O tombamento de Ouro Preto transformou a velha capital em um espaço laboratorial para a

política de preservação patrimonial: reflexões; diretrizes; ações; e limites. A transformou num

lugar de memória, em modelo, e incentivou a criação do Serviço de Patrimônio Artístico

Nacional em 1937. O estudo desse processo nos permite trilhar as marcas das traduções do

Estado e de grupos políticos e artísticos sobre alguns conceitos, como “genuíno”, “heroísmo”,

“arte” e “nacional”, nesse período ainda incipiente de construção da cultura republicana e da

política de patrimonialização no Brasil (Meniconi, 1999; Natal, 2007; Oliveira, 2005)

Apesar da importância das pesquisas aqui brevemente apresentadas, acreditamos que algumas

questões relacionadas ao período ainda necessitam de uma investigação que lhes dê maior

visibilidade. A primeira refere-se a necessidade de se compor e analisar um inventário mais

abrangente sobre os problemas enfrentados pelos moradores durante as décadas posteriores à

mudança da capital. Acreditamos que as informações identificadas sobre essa época são

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insuficientes para se pensar o impacto dessa mudança no cotidiano dos ouropretanos e a

difusão das soluções imaginadas nos âmbitos da política e da economia para reverter tal

situação.v Em geral, as informações tendem a citações superficiais dos problemas, como

demonstra o trecho abaixo escrito por José Efigênio Pinto Coelho. Conforme o autor, após a

transferência da capital

Ouro Preto entra em caos: falta d’água, funcionários da Câmara sem receber os salários, obras paralisadas, muito desemprego, estabelecimentos comerciais e hotéis fechando as portas; até o trem já não andava mais em seu horário habitual (Coelho, 1987).

Portanto, nos parece que a análise desse inventário de problemas auxiliará a verificação de

dois pontos: os limites da economia da cidade para reverter tal situação; e a influência dessa

realidade na produção e apropriação dos discursos que ante a perspectiva do arruinamento e

do esquecimento de Ouro Preto passaram a ancorar a reinvenção da cidade nos campos da

memória histórica e da memória artística. O trecho abaixo, escrito por Olympio Cardoso em

1907, exemplifica essa relação entre a economia e a identidade:

É digna de outra sorte a ex-capital de Minas. (...) Seu progresso não é apenas uma necessidade urgente; é também um dever imposto a todo brasileiro, porque se o Brasil, devido às suas nobres cogitações, foi considerado como um horizonte onde se divisaram grandes encantos, Ouro Preto foi sem dúvida o sol que brilhou e extasiou nesse horizonte (Jornal Independência, Ouro Preto, número único, 07/09/1907, p.2-3, discurso de Olympio Cardoso apud. Natal, :2005).

A segunda questão refere-se ao processo de reconstrução da vida social após a migração de

parte dos moradores de Ouro Preto para Belo Horizonte, outro tema tocado superficialmente

pelas pesquisas rastreadas. Em 1890, sete anos antes da mudança da capital, a sede de Ouro

Preto contava com 17.857 habitantes; três décadas depois esse número girava em torno de

11.857. Uma diferença, portanto, de 6.000 moradores (ou 34%) (Annuario Estatistico de

Minas Gerais de 1921, Anno I, Belo Horizonte: Imprensa Oficial. 1921). Como esse

percentual demonstra um número de evasão menor que o indicado no trabalho de Rodrigo

Meniconi (45%), acreditamos, em sintonia com José Efigênio Pinto Coelho (1987), que a sede

tenha absorvido novas levas de moradores após a fase do intenso abandono. Esse novo

contingente foi composto pelas famílias que viviam nas regiões próximas a Ouro Preto e pelos

estudantes que vieram ingressar, sobretudo, na Escola de Minas e na Escola de Farmácia

(Jorge,1986; Coelho,1987; Carvalho, 2002; Machado, 2008).vi Eles encontraram um cenário

favorável às suas acomodações, já que a evasão levou ao abandono de parte dos imóveis,

gerando o aumento da oferta de compra, venda e aluguel e, talvez a prática mais comum, a

ocupação não autorizada das edificações.

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A antiga capital parece ter se reconstruído a partir desses três setores: os remanescentes, que

permaneceram por razões distintas em Ouro Preto; os migrantes que vieram das regiões

próximas; e as novas levas de estudantes, que se diferenciavam pela tendência de fixação

temporária. Essa divisão tripartida não deve guiar o leitor à idéia de homogeneidade, já que

esses setores se dividiam em grupos sociais distintos com discursos e interesses próprios.

Diante da necessidade de reconstrução das redes de sociabilidade após a mudança da capital

nos perguntamos: como se deram as relações de aproximação e estranhamento entre esses três

setores? É possível identificar em seus valores e práticas culturais pontos de misturas,

superposições e resistências? Que nova cidade surge nesse período?

A terceira questão resulta das duas acima citadas: como desdobraram-se os temas da

“modernização” e “musealização” da cidade nos discursos dos diferentes atores e grupos

sociais locais durante as primeiras décadas do século XX? As informações identificadas nos

trabalhos de Meniconi (1999) e Natal (2007), apesar de esclarecedoras e relevantes, tendem a

se fixar em torno das apreensões dos discursos produzidos nos circuitos intelectuais mineiros

ou não, penetrando muito pouco nas traduções dos indivíduos ou dos setores sociais

ouropretanos. Por isso, nos questionamos: a idéia de coexistência entre o antigo e o novo

identificada nas diretrizes encaminhadas pela câmara municipal ao engenheiro João Braksley,

em 1893, continuou sendo defendida? Ou será que, ao contrário, chegou-se a constituir a

defesa de uma visão “progressista” contraposta aos desejos disseminados pelos grupos

intelectuais quanto a preservação e conservação do antigo núcleo de Ouro Preto?vii

As pesquisas de Rodrigo Meniconi e Caion Natal avançaram quanto ao preenchimento da

lacuna historiográfica sobre o período, nos propomos nesse trabalho contribuir para esse

esforço e realizar uma investigação sobre esse processo de reterritorialização (Ortiz, 1996;

Leppeti, 2001), utilizando fontes que nos aproximem um pouco mais das recepções dos

habitantes e do cotidiano da cidade.

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i O trabalho de Rodrigo Meniconi não se prende aos marcos estabelecidos no texto de Caion Natal (1891-1933), já que a sua meta é investigar os alcances e os limites das políticas de preservação e conservação experimentadas em Ouro Preto ao longo do século XX. ii Cada localidade foi estudada por um engenheiro designado por Aarão Reis. Várzea do Marçal foi estudada por José de Carvalho Almeida; Belo Horizonte, por Samuel Gomes Pereira; Barbacena, por Manoel da Silva Couto; Juiz de Fora, por Eugênio de Barros Raja Gabaglia; Paraúna, por Luiz Martinho de Moraes. As análises das condições de salubridade foram realizadas pelo médico sanitarista J. R. Pires de Almeida. A fim de garantir a “isenção” e o caráter técnico dos serviços, Aarão Reis buscou os seus assistentes na Escola Politécnica do Rio (Meniconi, 1999). iii A Belle Époque “(...) se caracteriza pela expressão do grande entusiasmo advindo do triunfo da sociedade capitalista nas últimas décadas do século XIX e primeiras do século XX, momento em que se notabilizaram as conquistas materiais e tecnológicas, ampliaram-se as redes de comercialização e foram incorporadas à dinâmica da economia internacional vastas áreas do globo antes isoladas (Follis, 2004).” iv APMOP. Edital sobre terrenos foreiros. Códice 0965. Livro de Registros e Portarias 1892-1893. v Entre o final do XIX e as três primeiras décadas do XX, enquanto esfriavam as expectativas de grandes investimentos na extração de ouro na sede de Ouro Preto, animavam-se os investimentos na produção do ferro e na exploração de outros minerais no município: manganês, bauxita etc. A inauguração da Usina Esperança no Distrito de Itabira do Campo (atual município de Itabirito), em 1888, e da Usina Wigg no Distrito de Miguel Burnier, durante o início da República, exemplificam essas novas apostas do município de Ouro Preto. Na sede da antiga capital a Fábrica de Tecidos de São José, inaugurada na última década do XIX, tornou-se o principal empreendimento local até a inauguração da Eletro Química Brasileira S.A, em 1933, construída na região de Saramenha. vi Getúlio Vargas, com apenas 15 anos de idade, e seus irmãos estavam entre os estudantes que se dirigiram para Ouro Preto no final do século XIX. O envolvimento de seus irmãos numa briga que terminou com a morte do estudante paulista Carlos de Almeida Prado Júnior, em 1897, precipitou a sua volta e de seus irmãos para o Rio Grande do Sul (Jorge,1986).

vii A fim de trabalhar essas questões, a pesquisa aqui apresentada elegeu como recorte temporal os anos que

delimitam o anúncio da mudança da capital e a publicação do decreto de tombamento de Ouro Preto como “monumento nacional”. Para esse empreendimento destacamos como fontes centrais a documentação produzida pela Câmara Municipal de Ouro Preto (atas das sessões do plenário, posturas municipais, livros de registros de indústrias e profissões e projetos referentes ao espaço urbano); as edições da Revista do Arquivo Público Mineiro publicadas nesse período; os jornais e revistas diversos produzidos e divulgados na sede de Ouro Preto; os textos autobiográficos escritos por atores sociais que viveram na cidade; e o conjunto de imagens fotográficas pertencente ao Acervo fotográfico do Núcleo de Mentalidade e Memória IFAC/UFOP, que retrata Ouro Preto entre o final do século XIX e a primeira metade do XX.

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Annuario Estatistico de Minas Gerais de 1921, Anno I, Belo Horizonte: Imprensa Oficial. 1921

Page 14: Artigo de kleverson teodoro ufop

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Manuscritos.

Edital sobre terrenos foreiros. Códice 0965. Livro de Registros e Portarias 1892-1893. Arquivo Público Municipal de Ouro Preto.

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