artigo de fabrício silveira

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São Paulo, março/2003 n. 02 CISC Centro Interdisciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia GhrebhRevista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia issn 16799100 Ghrebhn. 02 82 O PARQUE DOS OBJETOS MORTOS Por uma arqueologia da materialidade das mídias por Fabrício Silveira 1 Resumo: Partindo de LéviStrauss, recorrendo também a Bauman, Bourdieu, de Certeau e Benjamin, o texto discute a obsolescência material dos objetos midiáticos. Só uma arqueologia das tecnologias de inscrição ainda a ser formulada poderia dar conta de um amplo imaginário social (repleto de sentidos culturais e afetivos) impresso na materialidade obsoleta dos meios de comunicação. A discussão complementase com a observação etnográfica (construída no recurso aos registros fotográficos, aos diários de campo e às entrevistas abertas) realizada, durante o ano de 2000, numa comunidade da periferia de Porto Alegre RS organizada em função do trabalho de processamento e reciclagem de lixo. Neste contexto, o Galpão de Reciclagem pareceunos o local apropriado para ancorarmos a discussão sobre o descarte e a obsolescência material dos suportes midiáticos. Assim, através de imagens e falas registradas pontualmente, tematizase o fim da linha e a aceleração do consumo dos objetos técnicocomunicacionais na sociedade contemporânea. Abstract: Starting from LéviStrauss, and then Bauman, Bourdieu, de Certeau and Benjamin, the text considers the material obsolescence of the midiatic objects. Only an archeology of the inscription tecnologies still to be formulated could keep track of a huge social imaginary ( full of cultural and affectionate meanings) printed in the obsolete materiality of the means of communication. 1 Fabrício Silveira é bacharel em Comunicação Social (habilitação em Jornalismo) pela UFSM; defendeu o mestrado em Comunicação e Informação na UFRGS, com a dissertação "O Universo como Espelho. Um ensaio sobre etnografia e reflexividade nos estudos de recepção". Atualmente cursa o doutorado em Comunicação na Universidade do Vale do Rio dos Sinos. É professor das disciplinas de Sociologia da Comunicação, Teoria da Comunicação e Mídia e Cultura na mesma universidade. Nos últimos anos têm participado de congressos e fóruns acadêmicos do campo da Comunicação, atuado como pesquisadorassistente no projeto "Multiculturalismo e Esfera Midiática: a (re)descoberta dos 500 anos na mídia brasileira", desenvolvido na mesma instituição, e publicado artigos em revistas nacionais especializadas na área.

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    Ghrebhn.02 82

    OPARQUEDOSOBJETOSMORTOS

    Porumaarqueologiadamaterialidadedasmdias

    porFabrcioSilveira1

    Resumo:

    PartindodeLviStrauss,recorrendotambmaBauman,Bourdieu,deCerteaueBenjamin,otextodiscuteaobsolescnciamaterialdosobjetosmiditicos.Sumaarqueologiadas tecnologiasdeinscrio aindaaser formulada poderiadarcontadeumamplo imaginriosocial (repletodesentidos culturaiseafetivos) impressonamaterialidadeobsoletadosmeiosde comunicao.Adiscusso complementase com a observao etnogrfica (construda no recurso aos registrosfotogrficos, aos dirios de campo e s entrevistas abertas) realizada, durante o ano de 2000,numa comunidade da periferia de Porto Alegre RS organizada em funo do trabalho deprocessamentoereciclagemdelixo.Nestecontexto,oGalpodeReciclagempareceunosolocalapropriadoparaancorarmosadiscussosobreodescarteeaobsolescnciamaterialdossuportesmiditicos.Assim,atravsdeimagensefalasregistradaspontualmente,tematizaseofimdalinhaeaaceleraodoconsumodosobjetostcnicocomunicacionaisnasociedadecontempornea.

    Abstract:

    Starting from LviStrauss, and then Bauman, Bourdieu, de Certeau and Benjamin, the textconsidersthematerialobsolescenceofthemidiaticobjects.Onlyanarcheologyoftheinscriptiontecnologies stilltobe formulated couldkeeptrackofahugesocial imaginary (fullofculturalandaffectionatemeanings)printed in theobsoletematerialityof themeansofcommunication.

    1FabrcioSilveirabacharelemComunicaoSocial (habilitaoem Jornalismo)pelaUFSM;defendeuomestrado em Comunicao e Informao naUFRGS, com a dissertao "OUniverso como Espelho.Umensaio sobre etnografia e reflexividade nos estudos de recepo". Atualmente cursa o doutorado emComunicao na Universidade do Vale do Rio dos Sinos. professor das disciplinas de Sociologia daComunicao, Teoria da Comunicao eMdia e Cultura namesma universidade.Nos ltimos anos tmparticipado de congressos e fruns acadmicos do campo da Comunicao, atuado como pesquisadorassistente no projeto "Multiculturalismo e Esfera Miditica: a (re)descoberta dos 500 anos na mdiabrasileira",desenvolvidonamesma instituio,epublicadoartigosemrevistasnacionaisespecializadasnarea.

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    The discussion is complemented with the etnographic observation ( built up around photoregisters,fielddiariesandopeninterviews)performedduringtheyearof2000,inacommunityintheoutskirtsofPortoAlegre,RS,organizedaroundtheworkofprocessingandrecyclingwaste.Inthis context, the "Recycling Shed"was seen as the idealplace to shelter thediscussionon thediscardingandmaterialobsolescenceof themidiaticholders.Therefore, through theaccuratelyrecorded imagesandspeeches ithasbeenbroughtoutthethemeoftheendofthe lineandtheaccelerationoftheconsumingoftecnocommunicativeobjectsinthesocietytoday.

    "Valeapenaemcertashorasdodiaoudanoiteobservarobjetosteisemrepouso:rodas

    queatravessaramempoeiradaselongasdistncias,comsuaenormecargadeplantaes

    ou minrio; sacos de carvo; barris; cestas; os cabos e as alas das ferramentas de

    carpinteiro...Assuperfciesgastas,ogastoinflingidopormoshumanas,asemanaess

    vezestrgicas,semprepatticas,dessesobjetosdorealidadeummagnetismoqueno

    deveriaserridicularizado.Podemospercebernelesnossanebulosa impureza,aafinidade

    porgrupos,ousoeaobsolescnciadosmateriais,amarcadeumamooudeump,a

    constnciadapresenahumanaquepermeia todaasuperfcie.Estaapoesiaquens

    buscamos".PaixeseImpressesPabloNeruda"(PaixeseImpressesPabloNeruda)

    1.(Oimaginriododesmanche2)

    2 Nestestermos,TeixeiraCoelhoevocacertostraose/ouvciosdecarterdaproduoedacenaculturaisbrasileirasdasltimasdcadas."Maisamplamente,esseimaginriododesmancheestenraizadonodesejode destruio, a sobreporse ao de construo", afirma ele. Apesar do contexto restrito em que empregada originalmente, a expresso pode referir exatamente s questes e aos temas tratados aqui.Assim, justificase a apropriao. Cf.: COELHO, Teixeira. Moderno PsModerno. Modos & verses. SoPaulo:Iluminuras,1995,3ed.

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    Profundamente desencantado diante da lgica artificiosa, do racionalismo jurdico e

    formalista com os quais intencionamos imobilizar e apreender (reduzindo portanto) a

    complexidade dos fatos sociais, Claude LviStrauss encerra Tristes Trpicos fazendo

    menonecessidadedeforjarmos,paraalmdameraencenaolivresca,paraalmde

    qualquer intelectualismo blas, um olhar refinado (terica emetdicamente) sobre os

    sentidosculturaisdadissipao,sobreorumoinevitveleoritmovertiginosodotempo,

    sobreoandar inclementedahistria,responsvelpelodesgastede instituieseformas

    de sociabilidade,pela reconfiguraopermanentedevalores,hbitoseprticas sociais,

    pelaeterna transitoriedadedeesquemasexplicativosematerialidadesdomundo.Uma

    'antropologia do valor entrpico' vinha ali sugerida3. Segundo ele (1999: 391), "(...) a

    civilizao, tomada em seu conjunto, pode ser descrita como um mecanismo

    fantasticamente complexo no qual ficaramos tentados a enxergar a oportunidade que

    nossouniversotemdesobreviver,sesua funono fosse fabricaraquiloqueos fsicos

    chamamdeentropia (...)".Econtinua:"maisdoqueantropologia, teriaqueseescrever

    'entropologia', nome de uma disciplina dedicada a estudar em suas mais elevadas

    manifestaes esse processo de desintegrao" (LviStrauss, 1999: 391). Vencendo o

    3 Otrechoexato,emtodasuaextenso,oseguinte:"Omundocomeousemohomemeseconcluirsemele.Asinstituies,osusoseoscostumes,quetereipassadominhavidaainventariareacompreender,soumaeflorescnciapassageira(...).Oesforodohomemmesmocondenadoodeseoporinutilmenteaumadecadnciauniversal;estemesmohomemaparececomoumamquina,talvezmaisaperfeioadadoque as outras, trabalhando para a desagregao de uma ordem original e precipitando uma matriaorganizada de forma poderosa numa inrcia cada vez maior e que um dia ser definitiva. Desde quecomeoua respirarea sealimentar,ata invenodosengenhosatmicose termonucleares,passandopela descoberta do fogo e salvo quando ele prprio se reproduz , a nica coisa que fez foi dissociartranqilamente bilhes de estruturas para reduzilas a um estado em que no so mais capazes deintegrao.Porcerto,construiucidadesecultivoucampos;mas,quandosepensabem,essesobjetossoelesprpriosmquinasdestinadasaproduzir inrcianumritmoenumaproporo infinitamentemaioresqueadosedeorganizaoqueimplicam.Quantoscriaesdoespritohumano,seusentidosexisteemrelaoaele,eseconfundirocomadesordemtologoeletenhadesaparecido"(LviStrauss,1999:390391).Precisamente,aspalavrasdeLviStrausssoapresentadasaquicomoobjetivodetrazerlembranaoestilodoautor,justificaroprofundodesencantoqueatribumosinicialmenteaotextoeindicarnososrumosdaargumentaomasesclarecertambmaquiloquechamamosdesentidosculturaisdadissipao.

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    horrorsviagens("odeioasviagenseosexploradores",diziaeleaoprincipiarosrelatos),

    procurando encontrar o homem arquetpico, imerso num estado original, conservado

    numa natural autenticidade, o etngrafo francs acaba prostrado diante da histria,

    impotentediantedasorigensirrecuperveis.

    Hoje,aresignaopoticadeTristesTrpicosaevidnciaclaratantodeumaestratgia

    epistemolgica (o programtico ahistoricismo estruturalista) quanto de um estilo

    discursivo(porvezesindissociveldeummtodo).SegundoCliffordGeertz,porexemplo,

    aetnografiadeLviStraussentreos ndiosbrasileirosconstrisenumaengenhosasrie

    de textualidades sobrepostas e articuladas4. Ainda que possa ser tomada como mero

    argumento retrico5, numa plida e difusa aluso quilo que Malinowski chama de o

    impondervel(aimpoderabilia)dotrabalhoetnogrfico,aindaquepossaprotegersenum

    esmerado e sempre ambguo cruzamento de matrizes textuais, gneros e estilos

    discursivos, ou mesmo que venha a esquivarse continuamente na forma de uma

    metafsicaformalistadoser(comodisseGeertz),aestupefaodeLviStraussdiantedo

    4 ParaGeertz (1989), Tristes Trpicos apresentase como: 1) um livro de viagens, quase como um guiaturstico;2)umamonografiaetnogrficaempenhadana construodeuma scienzanuova;3)umensaiofilosficoemdilogontimocomRousseauotemado'contratosocial'eainsistncianum'discursosobreasorigens',obstinadonaprocurado 'homemdohomem',antesdo 'homemartificialdasociedade';4)umpanfletoreformista,atacandopermanentementeoexpansionismoeuropeu;e,ainda,5)umaobraliterria,serviodeumacausaliterriaassumida."Loquedesemboca,sisepuededecirquedesembocaenalgo,enunametafsica formalista del ser, nunca enunciada pero siempre insinuada, nunca escrita pero siempreexhibida",dizGeertz(1989:55).

    5Ao contrrioda antropologia funcionalistabritnica, representadaporMalinowski eRadcliffeBrown, aantropologia francesa, ilustradaaquiporLviStrauss,declaradamentemais textualista (maissimbolista,diriaGeertz).Comumente, tais relatosetnogrficos comoTristesTrpicos somenos translcidos,nosentidodequenoremetemtranqilaediretamentessituaeseaoscontextosreferidos(ou,nostermosde Jakobson,poucoenfatizandoa funo referencialda linguagem),chamandoateno sobre siprpriosenquanto textos e efeitos de discurso; enquanto estratgias retricas de seduo e convencimento,portanto.Cf.:GEERTZ,1989.

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    carter inexorvel do desgaste, da perda e da obsolescncia dos sentidos sociais, da

    impermannciade suasmaterialidadese instituies, constantemente retomada de

    modoerrticoedisperso,digasenosanosrecentesdasCinciasSociais.

    A impresso incmoda desta dissipao demnio no exorcizado , comparece

    intermitentemente em recantos distintos do largo espao acadmico, fundando

    diagnsticosno s tericoepistemolgicosabstratos (o insistentedebate sobreaps

    modernidadeeostemasquesearrastamesedesdobramapartirdaofimdasgrandes

    narrativas, o fim da histria, a runa dos imperativos categricos, etc), mas tambm

    sociolgicos,maisimplicadosesentidosnaefetividadedavidasocial(afalnciadoespao

    pblico e de boa parte da "mitologia" da sociedade moderna: a fbrica fordista, a

    burocraciaweberiana[etambmkafkiana],opanpticodeBentham/Foucault,o"Grande

    Irmo" deOrwell) ou ainda em tons "culturalistas" (o fim da arte e das vanguardas, o

    desaparecimentodasmoldurasedossuportes,amortedoautoretantasoutrasmortes

    anunciadas...).

    AlmdeLviStrauss,aindaoutrosnomes(tovariadosquantoseusrecorteseintenes

    detrabalho)poderiamser listadosaquinaalusogenricaaoqueviemoschamandode

    sentidos culturais da dissipao. Recentemente, por exemplo, o socilogo polons

    ZygmuntBauman(2001)afirmouque,desdeocomeo,nossamodernidadeconfigurouse

    como um "processo de liquefao". "No foi o 'derretimento dos slidos' seu maior

    passatempoesuamaiorrealizao?",perguntaele (2001:09).A"solidez"eo"peso",o

    carter "sistmico" e "condensado" de nossa modernidade so reconvertidos numa

    contemporaneidade "lqida" e "fluda". Individualizada, em alguma medida orientada

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    contra o Social6 as partes antes do todo , nossa atualidade "leve" e "reticulada",

    distribuiseem"redes",emfrancaoposiosorganizaes"sistmicas",controladorase

    projetivas,devastadaspelavelocidadedotempo.

    Segundo Bauman, o signo da precariedade e amarca indelvel do descarte, a eroso

    profundaegeneralizadadaquiloquenosfezModernos,definemoquadrodasvivnciase

    oimaginriosocialcontemporneos.

    Ostericosfrancesesfalamdeprcarit,osalemes,deUnsicherheiteRisikogesellschaft,

    ositalianos,deincertezzaeosinglesesdeinsecuritymastodostmemmenteomesmo

    aspectodacondiohumana,experimentadadevriasformasesobnomesdiferentespor

    todooglobo (...).O fenmenoque todosestes conceitos tentam captarearticulara

    experincia combinada da falta de garantias (de posio, ttulos e sobrevivncia), da

    incerteza(emrelaosuacontinuaoeestabilidadefutura)edeinsegurana(docorpo,

    doeuedesuasextenses:posses,vizinhana,comunidade)(Bauman,2001:184).

    Anos antes de Bauman, Michel de Certeau, discutindo as invenes e os rudos das

    prticascotidianas,opodereacapacidadecriativadohomemordinrio,discutindoenfim

    as pequenas estratgias de resistncia s lgicas do automatismo e da razo tcnica

    processadasnodiaadia(oatodecomereogestodeescrever,asformasdeconsumire

    passear pela cidade apropriandose do espao urbano etc), se refere ao perecvel e s

    formasdemorrero"inominvel",diziaele.Amortedoshomens(mastambmamorte

    dascoisas,daspocasedosgruposhumanos)pensadanassuasrelaescomaescrita,

    6Aqui,representativaafrasedeMargarethThatcher,pronunciadaemalgummomentopoucoprecisonosanos80:"Asociedadenoexiste.Oqueexistesocidadosesuasfamlias".

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    os registros, a memria, o trabalho e a sexualidade7. Para de Certeau (2000: 302),

    "somente o fim de uma poca permite enunciar o que a fez viver, como se lhe fosse

    precisomorrerparatornarseumlivro".

    Noutrocontextoenoutrasintencionalidades,menossujeitoaoencantomicrosociolgico

    ealgopopulistadeMicheldeCerteauouentoparadoxalmetafsicaestruturalistade

    LviStrauss, Pierre Bourdieu tambm evoca essa desestruturao da existncia. Em

    dezembrode1997,intervindonumencontrodetrabalhadoresrealizadoemGrenobleFR

    e assumindo um posicionamento polticopropositivo, mais do que propriamente

    analtico ou explicativo (como emBauman),Bourdieu referiuse, empoucas pginas,

    "degradaodetodarelaocomomundoe,comoconseqncia,comotempoecomo

    espao" (1998: 120). Fortemente orientado contra ummodelo econmico, este texto

    intervenodeBourdieucujottulosintomtico:"Aprecariedadeesthojeportodaa

    parte" empregado por Bauman em vrios momentos da discusso sobre a

    "modernidadelqida".

    Entretanto, apesar das infindveis aparies, bem postas todas as parcialidades e

    enquadramentos que recebe no campo vasto das Cincias Sociais (a alguns dos quais

    recorremos aqui na inteno clara e nica de evidenciar um contexto genrico de

    discusso e dar forma e partida a um problema, os quais acolhem plenamente

    pontualidadesmaioresemaispertinentesaocampodaComunicao),esteimaginriodo

    desmanchevisibilizase(sintetizase,poderamostambmdizer)numaimagemdefinitiva,

    tobelaquantodesconfortvel,perturbadaecndida,tobempercebidaedescritapor

    7LuceGirard,noprefciodeAInvenodoCotidiano.1.Artesdefazer(DeCerteau,2000,5ed.),afirmaqueFreud,maisdoqueFoucault,BourdieuouLviStrauss,foioautorqueinfluencioumaisprofundamenteotrabalhodedeCerteau.InflunciatalvezscomparveladofilsofoinglsdeorigemaustracaLudwigWittgenstein.

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    WalterBenjamin:ele temo rostovoltadoparaopassado.Ondediantedensaparece

    umasriedeeventos,elevumacatstrofenica,quesemcessaracumulaescombros

    sobreescombros,arremessandoosdiantedosseusps.Elebemquegostariadepoder

    parar,deacordarosmortosedereconstruirodestrudo.Masumatempestadesoprado

    Paraso,aninhandoseemsuasasas,eelatofortequeelenoconseguemaiscerrlas.

    Essa tempestade impeleo incessantemente para o futuro, ao qual ele d as costas,

    enquanto omonte de escombros cresce ante ele at o cu.Aquilo que chamamos de

    Progressoessatempestade(BenjamininKothe,1991:158159)8.

    TratasedoAnjodaHistria,oAngelusNovusdePaulKlee....

    No contexto portanto do que nos parece uma marca profunda, um saudvel

    reconhecimentode limitesouumamelanclicadeclaraode inaptidodopensamento

    sociolgico contemporneo, interessanos, mais aplicadamente, inserir o tema da

    materialidadedasmdias.Dequeformaoimaginriododesmanche(jevocado)talvez

    nosso principal "malestar" corporalizase nos objetos comunicacionais, deixando

    entrever a a cena das culturas (os hbitos de consumo, as afinidades dos grupos, o

    sistema dos valores, etc)? Afetada pela natural e irrevogvel degenerescncia das

    tecnologiasmiditicas,pelasoscilaes,demandas enovidadesdemercado, a reflexo

    sobre as mdias no deveria apresentarse, forte e permanentemente, como uma

    arqueologiadosmeiosderegistro?Omovimentodestacontnua"'precarizao'material"

    (naexpressodeBourdieu)noinsuficientementeconsideradonocampoacadmicoda

    Comunicao?possvelumacrticacultural(ouumasociologiadacultura)construdaem

    8Otemadoprogresso,referidoaquiporBenjamin,largamentediscutidoporBauman,nocontextoda"modernidadelqida":sejaoprogressomaterialviatrabalho,sejaentendidocomo"emancipao"(nanoocaraTeoriaCrticafrankfurtiana).ParaBauman,"ofundamentodafnoprogressohojevisvelprincipalmenteporsuasrachadurasefissuras"(2001:153).

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    funodanaturezaobjetualdossuportestcnicomiditicosemdesuso,confinandolhes,

    quase forosamente,num"camponohermenutico" (avessoaoprimadodocontedo

    sobre as formas materiais da comunicao, alheio determinao da escrita sobre a

    escritura[criture]comoemDerrida)?possvelentenderosmeios(etodosossentidos

    sociais a eles vinculados) fora de suas situaes habituais de uso, flagrandoos

    materialmente, expostos, por exemplo, nas vitrines das lojas de eletrodomsticos, nos

    museus de comunicao, nas lojas de objetos usados, nos catlogos das grandes

    magazinesencartadosnos jornaisdominicaisouentonosdepsitosde lixonaperiferia

    dosgrandescentrosurbanos...)?Dequemodooconsumo,asformasdeinteraosociale

    oshbitosculturaissoevocadoseseexpemfisicamentenestesespaos?...

    Aindaquepareaarbitrrioeparcial,opercursoargumentativoadotadoataqui(quevai

    de LviStrauss a Bourdieu, passando por Bauman e de Certeau, para culminar em

    Benjamin)indicaumaatitudeeumasriedecompromissosepistemolgicos;maisdoque

    isso,demarcaumazonadeproblematizaoedeprocedimentostericointerpretativos,

    nointeriordaqualtalvezpossamosreferiraociclodevidatil,circulaoeaostrnsitos

    sciohistricos dos objetos tcnicos e dos suportes materiais da comunicao. As

    contribuies tericas relativas materialidade dasmdias ou semntica geral dos

    objetos sero acolhidas portanto no seio de uma perspectiva scioantropolgica

    nominalmentejdemarcada.

    Ensaiandoentoumaantropologiadastecnologiasdeinscrio,capazdeevidenciarquea

    conscinciaeamemriadepositamsenas coisas eno snasmentes equeo real

    residesobretudonaimpurezapermeadadomaterialenoapenasnapurezaimaculada

    das idias , interessanos tomar de LviStrauss a disposio etnogrfica (e foto

    etnogrfica), bem como, justamente, o risco e a inventividade de um olhar complexo:

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    entre o desencantometafsico e a vocao emprica, a liberdade potica e a inteno

    sistemtica;deBourdieuededeCerteaudesteltimoprincipalmente,interessanosa

    possibilidade de uma teorizao sobre as prticas (mais restritamente, sobre os usos

    locais e cotidianos dos objetos na cultura); de Bauman, importa a essnciamesma da

    argumentao sobre a "modernidade lqida": hoje, os tempos e os homens, seus

    humores e seus produtos, encontramse carregados de fluidez e transitoriedade os

    objetos comunicacionais, por certo, acomodam e refletem tais presses; de Benjamin,

    maisdoqueastesessobreahistria, interessamsobretudoas"iluminaesprofanas"9.

    Assim,talvezsejapossvel,notrajetoantropolgico10daofertaaodescarte,norastrodo

    reaproveitamentoedareversibilidadedosmateriaisdaculturamiditica,flagrarnosa

    histria dosmeios e dos grupos humanos que os engendram e que com eles, ou em

    funo deles, convivem "a constncia da presena humana que permeia todas as

    superfcies",mastambmoconsumo,osprpriosmodosdeempregodessesmeios,os

    avanos da tcnica atrelados a formas de sociabilidade, possibilidades interacionais e

    culturais(umamplosensoriumeumimaginriosocialassociadosaosmeios),quesefixam

    e se acumulam, apesar da transitoriedade e da impermanncia dosmateriais que lhes

    corporalizam.ParafraseandoNeruda, "estaaantropologiaquensbuscamos".Numa

    poca em que as tecnologias do virtual seduzem tanto, talvez seja estimulante e

    9 SegundoBenjamin,apassividadeeaabstratividade presentesdemodosdiversostantonaembriaguezquanto na "iluminao religiosa" s podem ser superadas autntica e criadoramente na "iluminaoprofana", de inspirao materialista e antropolgica. Esse carter, materialista e antropolgico, queBenjamin atribui s "iluminaes profanas", nos interessa aqui particularmente. Cf.: KONDER, Leandro.WalterBenjamin.Omarxismodamelancolia.RiodeJaneiro:CivilizaoBrasileira,1999.

    10 Cf.verbeteTrajetoantropolgico,noDicionrioCrticodePolticaCultural,deTeixeiraCoelho(SoPaulo:Iluminuras,1999,2ed):"Osentidodeumimaginrioformaseaolongodeumpercursoentre,deumlado,asformasuniversaise invariantesdogenushomoesuasformas localizadas,bemcomo,deoutro,entreaesferadesuainserofsicanomundoeaesferadosdiscursossobreessainsero.Aessepercursosedonomedetrajetoantropolgico"(p.356).

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    Ghrebhn.02 92

    provocativoumchamamentosmaterialidadesmenosprezadasdomundoefetivamente

    vivido.Restaentocomporeproblematizarumarpidacartografiadosespaosedas

    inseres dos objetos nos enquadramentos da cultura. 2. (O mundo dos objetos. A

    materialidadedasmdias)

    Maisdoqueumrepertriocomumdesignosesignificados,ritos,prticasesituaes

    tpicas,aculturapodeserentendidatambmcomoummundodeobjetos11.Acirculao

    debenseprodutosmateriaisemfunodosquaisseorganizamasdiferenasdegrupo,

    sedispemhierarquias,seafirmamasidentidadesetranscorreatradioeamemriade

    um povo uma instituio social largamente trabalhada pelo conhecimento scio

    antropolgico.DesdeMalinowski(comainvestigaosobreokula12trobriands)eMarcel

    Mauss(noensaiosobreaddivaeopotlach13),asdimensesdeumaculturamaterialou

    de nossa existnciamaterial, num termo que remetemais facilmente aomaterialismo

    histricomarxista(casosejanecessrioaludirmosaquiaocontraponto infraestruturale

    maisduramentesociolgicodadiscusso)sempre interessouAntropologia(ouauma

    sociologiada cultura). Segundo JeanBaudrillard,o estudoda retrica eda sintaxedos

    11SegundoAbrahamMoles(1972),teramosquatroclasses(intercambiveis)deobjetos:objetosdearte,objetosutilitrios,objetostcnicoseobjetossemutilidade.

    12 ConformeMalinowski,okulaumaextensaformadecomrcio intertribalpraticadanum largoaneldeilhas localizadas ao norte e a leste do extremo oriental daNova Guin. Em parte comercial, em partecerimonial,umatrocaempreendidacomoumfimemsimesmaparasatisfaodeumprofundodesejodeposse.Cf.:"Aspectosessenciaisda instituiokula"e"Osignificadodokula",reunidosporEuniceRibeiroDurhamemMalinowski(SoPaulo:Editoratica,1986,ColeoGrandesCientistasSociais).

    13 PraticadoporcertastribosdonoroestedosEstadosUnidosedoCanad,opotlachumacerimniaritualnaqualoshomensdacomunidadetrocampresentescomoformade indicarseusstatussocialemrelaoaos demais. Tratase de uma forma de bravata, com a inteno de demonstrar o quanto se rico egeneroso.Oscontemplados,porsuavez,sentemsenocompromissoderetribuiropresenterecebidooualgoaindamelhoremaisvalioso emalgummomentonofuturo,comoformaderecuperaroprestgioealcanarumaprojeosocialmaior.

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    objetosumasociologiadosobjetos,portantoindicaobjetivoselgicassociais."Aquilo

    dequeeles [osobjetos]nos falamnodetal formadousurioedeprticastcnicas,

    massimdepretenso(...)ederesignao,demobilidade(...)edeinrcia,deaculturao

    edeenculturao,deestratificaoedeclassificaosocial" (Baudrillard,1972:54).Da

    mesma forma, AbrahamMoles (1972) tambm assegura que o inventrio dos objetos

    possudosna esferapessoal esclarece tantoodesenvolvimentoda sociedadequantoo

    lugardo indivduonestasociedade.Bensmateriaiseobjetospossudosnosdoacessoa

    campos14,prticase lgicasculturais.Seosfatossociaispassaramaserestudadoscomo

    coisas(nasociologiafundadoradeDurkheim),tambmascoisas(objetosmanufaturados,

    instrumentos de caa, peas do vesturio, objetos rituais e demais utenslios) sempre

    figuraram,complementarmente,comofatossociais.

    Entretanto, embora vital compreenso no s das sociedades "primitivas" e pr

    capitalistas(comoemMalinowskieMauss),mastambmaoentendimentodasculturase

    das formas sociais contemporneas conforme Moles, o fervilhar15 de objetos

    caracterstico de nossa atualidade social , ainda assim, freqentemente, omundo dos

    14 O termo campoempregadoaqui livremente, sem fazer refernciadiretaao sentidoqueadquirenasociologia de Pierre Bourdieu. Entretanto, resta a especulao: para Bourdieu, o conceito de campo entendido como um espao em que se processam certas lutas simblicas, em que so disputadosdeterminados capitais (no s econmicos mas tambm culturais e sociais), um espao em quedeterminadosatoresseconfrontamembuscade legitimidadeereconhecimentosocial,umespaoquepossui instituies, tenses, prticas, procedimentos e processos caractersticos, acordados e aceitostacitamente.Umcampo,agoraentonosentidobourdieano,noseriacaracterizadotambmpelotrnsito,pela circulao e pela presena intensa (sempre tendencialmente aferida) de determinados conjuntos,gruposetiposdeobjetos?

    15 Para Moles (1972), esta proliferao excessiva de objetos em nossa contemporaneidade se deveprincipalmente:1)aodesenvolvimentoda tendnciaaquisio oprprioBenjamin,noclssicoensaiosobre a reprodutibilidade tcnica, j havia comentado que, "a cada dia que passa, mais se impe anecessidade de apoderarse dos objetos" ; 2) serializao da produo (tributria tambm daindustrializaoedas tecnologiasde reproduodosprodutosculturais)e3)aoconsumoconspcuo,queligaprogressivamenteostatussocialpossedebens.

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    objetos(osistemaouamoraldosobjetoscomoquerBaudrillard)duramenteapartado

    dasvivnciassubjetivaseviciosamentedissociadodasexperincias individuais.Segundo

    PeterStallybrass,porexemplo,osujeitomodernoainda,em largamedida,constitudo

    atravs da denegao do objeto. "A oposio radicalmente desmaterializada entre o

    'indivduo'e suas 'posses' (...)umadasoposies ideolgicas centraisdas sociedades

    capitalistas"(Stallybrass,1999:5859).

    Atualmente,noseiodasCinciasSociaisaindarestariaespao(haveriaaindademandade

    investigao)paraabordagensque,comoostrabalhospioneirosdeMausseMalinowski,

    reexaminassemosinvestimentoseasafetaesrecprocasentregruposeindivduos,de

    um lado, e, de outro, posses materiais e objetos industriais, tcnicos, utilitrios ou

    culturais.NacitadaanlisedeMauss,ascoisaspresenteadas(nopotlach)noso"coisas

    indiferentes",mastmum"nome,umapersonalidadeeumpassado".Assim,aindaseria

    produtivodramatizarasrelaesentresujeitoseobjetos,comofazoprprioStallybrass

    emtornodocasacodeMarx.Segundoele(1999),apartirdassucessivas idasevindas

    daquele casaco s lojas de penhor conhecida a penria em que viveu por longos

    perodosafamliaMarx!queformuladaadiscussosobreofetichismodamercadoriae

    sopropostasasnoesdevalordetrocaevalordeuso.DizStallybrass(1999:6566):

    O casaco de inverno de Marx estava destinado a entrar e a sair da loja de penhores

    durante todo os anos 1850 e o incio dos anos 1860. E seu casaco determinava

    diretamente que trabalho ele podia fazer ou no. Se seu casaco estivesse na loja de

    penhoresduranteoinverno,elenopodiairaoMuseuBritnico.Seelenopudesseirao

    MuseuBritnico,elenopodia realizarapesquisaparaOCapital.As roupasqueMarx

    vestia determinavam assim o que ele escrevia. Existe, aqui, um nvel vulgar de

    determinaomaterialquedifcilatdeconsiderar,emboraasconsideraesmateriais

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    vulgares fossem precisamente aquilo que Marx estava discutindo: todo o primeiro

    captulodeOCapitaltraaasmigraesdeumcasaco,vistocomomercadoria,nointerior

    domercadocapitalista.

    alguma distncia dos Estudos Culturais, onde se coloca com serenidade a inusitada

    histriadevidadocasacodeMarx,otericoalemoFriedrichKittler,no livroDiscourse

    Networks1800/1900 (citado tambmporGumbrecht [1998b]eFelinto [2001]) fazuma

    especulao interessante: segundo ele, certas idias de Friedrich Nietzche foram

    suscitadas pela forma arredondada da mquina de escrever com a qual o filsofo

    trabalhava.Nietzche fora influenciadopelomovimento corporal impostopelamquina.

    Devido talvez progressiva cegueira que o dominava, o filsofo tornouse um dos

    primeiros a adotar a nova ferramenta. Em uma de suas correspondncias, Nietzche

    afirmava: "nossos materiais de escrita contribuem com sua parte para nosso

    pensamento".Tal sensibilidadematerialidadedosobjetos (evidentenocasodeMarx)

    ou,maisprecisamente,corporalidadedasmdias(comonocasodeNietzche)discutida

    mais longamente por Pierpaolo Antonello no livro Interseces: a materialidade da

    comunicao(organizadoporJooCzardeCastroRocha).Pesquisandoaadesodeum

    grupodeescritoresitalianosaosnovossuportesinformticosdaescrita,Antonello(1998)

    afirma que no s os hbitos de textualizao, mas tambm os estilos literrios so

    afetadosecondicionadospelamaterialidadedos suportes tcnicomiditicos.Oescritor

    colombianoGabrielGarciaMrquez,porexemplo,ementrevistapara IreneBignardi,no

    jornal italianoPanorama,em25/10/92,declarou:"Seeu tivesseumMacintoshdesdeo

    inciodeminhacarreirateriaescritounscem livrosamaisdoque fizetodosmaisbem

    elaborados.Emrelaotcnicadaescrita,ocomputadorumaverdadeirabeno".De

    suagerao,GarciaMrquez foiumdosescritoresquemais cedoemaisprontamente

    acolheuanovamdia.ParaAntonello,ocomputadorpermiteum ritmoqueaproximao

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    atodeescreverdoprpriofluxodaconscincia;comoprocessadordigital,encontramos

    maiortransparnciaentreotextoeaquiloquedesejamosdizer.Segundoele,estaramos

    diantede"umtipodeexperinciaquepoderamosdenominarintrasomtica"(Antonello,

    1998:201).

    Na rea acadmica da Comunicao, alm dos trabalhos que gravitam em torno do

    terico alemo Hans Ulrich Gumbrecht (exdiscpulo de Hans Robert Jauss e um dos

    principais fomentadoresdaestticada recepo)equehoje convergemno sentidoda

    elaborao de uma teoria das materialidades da comunicao, o interesse pela

    corporalidadeepelafisicalidadedossuportesmiditicospareciajhaverseinsinuado,por

    exemplo,emBenjamin(nodebatesobreareprodutibilidadetcnica),oumesmo,etalvez

    mais fortemente,emMcLuhan (na idiados"meioscomoextensesdohomem"ouno

    deflagradobordo"themediumisthemessage").

    Semrecuperaremprofundidadecadaumadestasperspectivasdetrabalhomantendoas

    numhorizontederecursostericoseheursticos,mencionandoastambmcomondices

    da pertinncia da discusso , interessanos amarrar a materialidade das mdias ao

    fantasmadodesmanche,cogitandoentoapossibilidadedeuma"sociologiadacultura

    cujo foco seja anaturezaobjetualdos suportes tcnicomiditicosemdesuso"ouuma

    "antropologiadastecnologiasdeinscrio";ouainda,efinalmentevoltandoatermosj

    empregados,uma"arqueologiadosmeiosderegistro".

    Imaginadadestaforma,umasociologiadaculturaquesecoloqueprocuradestesnexos

    afetivos,destaslgicas(ouilgicas)dedependnciaeassociaoentresujeitoseobjetos

    nos faria inevitavelmente misturar as almas nas coisas e as coisas nas almas. 3. (O

    contextoemprico)

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    Ghrebhn.02 97

    Este chamamento materialidade das mdias (que coloca, compulsoriamente, como

    grandepanode fundo ou como grandepontode fuga o fantasmadodesmanchee

    aindaoutrossubtemas,apenascircunstancialmenteacessriosesecundrios,taiscomo

    oscircuitoseosritmosdoconsumodosobjetosedosprodutosmiditicos,oavanoea

    proliferaodatcnicadosmeios,etc16)sednosentidodereferendarumconjuntode

    observaeseregistrosetnogrficos(acimadetudofotoetnogrficos)desenvolvidosno

    mbitodoprojeto"Multiculturalismoeesferamiditica:a(re)descobertados500anosna

    mdia brasileira"17. Aqui, nos apropriamos daqueles dados conferindolhes

    encaminhamentos analticos e problematizandoos de forma diversa daquela para os

    quaisforaminicialmenteproduzidos.Assim,osmesmosdadosdecampososubmetidos,

    leaqui,a leiturasdistintas (aindaquemovidaspelomesmoviscomunicacional,pela

    mesma inteno antropolgica e pela mesma preocupao com a cultura: l, as

    possibilidades de apario de uma suposta cultura brasileira; aqui, a possibilidade de

    pensarmos prticas e imaginrios sociais genricos, contextos sciohistricos mais

    amplos,apartirdeumaculturadosobjetos,maisprecisamenteapartirdeumconjunto

    de formas materiais: os instrumentos tcnicos de registro, representao e interao

    socialmediada).

    Desdejulhode2000,noandamentodoprojetocitado,vemsendorealizadaumasriede

    observaesde campo (entradasetnogrficas,entrevistaspontuaiseemprofundidade,

    16 Da mesma forma, as discusses sobre a possibilidade de uma esttica do lixo ou de uma estticafotogrficadolixocertamentepoderiamaquiaparecer;ou,ainda,adiscussosociolgicasobrereciclagem(comoalternativadetrabalho,economiainformal,estratgiadeinclusosocial,prticaecolgica,etc)."

    17 Oprojeto"Multiculturalismoeesferamiditica:a(re)descobertados500anosnamdiabrasileira"vemsendodesenvolvidodesdeagostode1999 junto linhadepesquisaMdiaseProcessosScioCulturaisdoProgramadePsGraduaoemCinciasdaComunicao Unisinos.ContaaindacomaparticipaodosprofessoresDr.PedroGilbertoGomes,Dra.DeniseCogo,Dr.AntnioFaustoNetoebolsistasde iniciaocientfica.OprojetorecebefinanciamentosdoCNPq,FapergseUnisinos."

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    histriasdevidaeregistrosfotoevideogrficos)numacomunidadedaperiferiadePorto

    Alegre,umaviladereassentamentodaantigaVilaCaiCai,localizadaat1995naAv.Beira

    RioprximoaoEstaleiroSeatualmenterealocadanobairroCavalhada,nazonasulda

    cidade.Residemnolocalcercade250famlias.

    Nestacomunidade,oLoteamentoCavalhada,encontraseumadasdezesseisunidadesde

    reciclagem de lixo da cidade de Porto Alegre. Em torno deste espao

    'institucional'/instituinte se constrem disputas simblicas, erigemse hierarquias e

    ordenaes,fundamsesistemasdelegitimao.Dealgummodo,oGalpodeReciclagem

    de Lixo funciona, naquele contexto, para aqueles atores, como "espao de distino",

    regulando e filtrando apropriaes da cultura, dispondo hierarquias, valores e capitais

    (econmicos, simblicos e culturais). Trabalham na triagem do lixo 44 recicladores, 13

    homense31mulheres,todosresidentesnoLoteamento.

    As discusses iniciadas aqui sobre os vnculos entre uma certa "memria social" e o

    descarte,amortenaturalizadadosobjetostcnicosderegistroe informaosedevem

    sobservaesesanotaesdecamporelativasaotrabalhocomo lixoprocessadono

    LoteamentoCavalhada.Almdas fotografiasdeMirelaKruelBilhar18,quenosafetame

    nos interessam mais diretamente, seguese um rpido trecho dos dirios de campo,

    apresentado unicamente na medida em que compe uma cena, conferindo alguns

    sentidosemaiorconvicodocumentalaoconjuntodosdadosapresentados:23dejunho

    de2000LoteamentoCavalhada/MorrodoOssoPortoAlegre

    18 Mirela Kruel Bilhar acadmica do curso de Comunicao Social (UNISINOS), vinculada ao projeto"MulticulturalismoeEsferaMiditica:a(re)descobertados500Anosnamdiabrasileira",desenvolvidonamesmauniversidade."

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    Ghrebhn.02 99

    OGalpo inacreditvel.Boapartedo lixodaclassemdiadePortoAlegre termina l,

    sendo meticulosamente separado pelas mos sem luvas de uma dezena de mulheres

    jovens.Algumasdelas falamao telefonecelularenquantocolocamgarrafasplsticasde

    umlado,papisdeoutro,latasdecervejadeoutro,atencontraremoscacosdevidro.A

    paisagem doGalpo um incrvel jogo de cores, cheiros e rtulos: o fim da linha do

    consumo19.

    Esclarecidosentoocontextogenricodadiscusso,indicadoumgrupoderefernciase

    orientaestericas(configuradorasdeumolharsobreosobjetosmiditicos)eapontada

    tambmaprocednciadomaterialempricoquetomamoscomopretextoeprovocao,

    restaencaminharumaleiturapossveldeumimaginriosocialimpressonamaterialidade

    recusadadasmdias.4.(Oparquedosobjetosmortos)

    Apassagemcruaeinvencveldotempo,aefemeridade"moderna"dosobjetos,"ofimda

    linhado consumo" a imagemmesmadoperecimento ,aludidasgenricaeum tanto

    metaforicamentenameno inicialao imaginriododesmanche,aparecemnodepsito

    dereciclagemdoLoteamentoCavalhadaemtodasuadramatizaoeopulnciamaterial.

    Diariamente,cercadeumatoneladadolixodePortoAlegredescarregadoeprocessado

    nolocal.Juntoaosmontesdegarrafasplsticas,alimentosemdecomposioetodasorte

    de dejetos, inevitvel, constante e chamativa a presena de velhos aparelhos de

    televiso,fitasdevdeocassete,mquinasdeescreverevinisantigos.Passearnoparque

    dosobjetosmortosdefrontarsecomumamemriasocialimpregnadanamaterialidade

    19 Osdiriosdecampo,produzidosjuntamentecomoutrosdadosetnogrficos,relatamoutrassequnciaseoutraspassagens,apresentamtranscriesdeentrevistasrealizadascommoradoresdo local,referindoseportantodeoutrastantasformassatividadesdoGalpodeReciclagemdeLixo.Otrechoaquiapresentadoilustraadequadamenteaproblematizaopontualquevemsendoconstruda,semdisperslaporoutrosencaminhamentos(talvezmaissociolgicosouatmesmopolticos)."

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    decompostadascoisas;domesmomodo,fechasediantedensavidamdiadosobjetos

    (sempre progressivamente encurtada) e um ciclo ou processo produtivoindustrial

    espiralado(produoconsumodescartecoletareciclagem[re]produo).

    SegundooantroplogogachoRubenOliven(inAchutti,1997:07),"o lixonosdizmuito

    sobre uma sociedade, (...) nos conta o que diferentes grupos sociais consomem, mas

    acimade tudoaquiloqueeles jogam fora".ParadeCerteau,o trabalhocom sucataou

    com produtos anlogos constitui uma interessante estratgia cotidiana, plena de

    criatividade e resistncia. Sem dvida, seria preciso estudar estas tticas de combate,

    "igualmentesuspeitas,reprimidasoucobertascomosilncio"(deCerteau,2000:8.Estes

    materiais indicariam no s uma historicidade social (onde os procedimentos de

    fabricao e os interesses de mercado aparecem como quadros normativos), mas

    figurariam tambmcomo instrumentosmanipulveisporusurios (evocando formasde

    convvioesociabilidade,aludindoainvestimentossubjetivoscriativos,afetivos,culturais

    projetadosnosobjetos).Seriapossvelrecuperarahistriadevidadessesmateriais(num

    procedimentosimilarqueleadotadonocurtaIlhadasFlores,dogachoJorgeFurtado)?

    Seriapossvel recuperar as vivnciase as situaes sociais associadas aessesobjetos

    mapearomomentotenroeeufricodaaquisiodoaparelho,ossucessivoserotineiros

    anosdeuso,a indiferenadodescarteeasubstituiopelanovidadeaprimorada?Seria

    esta uma das verses (talvez operacionalizveis) daquela 'entropologia' solicitada por

    Claude LviStrauss?Quememriasemarcoshistricos (individuaise/ou sociais) foram

    impressosporessesobjetosmiditicosatualmenteemdesuso?

    Adimensodadurabilidadedosprodutos tcnicosdo consumo e associada a ela a

    flagrante e excessivamobilidade dos signos de status social so salientes no contexto

    emprico visitado. interessante observar, no s no conjunto dos moradores do

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    Loteamento, mas tambm, e principalmente, entre os prprios recicladores de lixo, a

    profuso de aparelhos de telefonia celular e omodo efusivo e pouco discreto com os

    quais soempregados (inclusiveduranteomanuseiodo lixo).O temadadurabilidade,

    aqui colocado, reincidente na discusso de Bauman sobre a modernidade lqida.

    Segundo ele, "a produo demercadorias como um todo substitui hoje 'omundo dos

    objetosdurveis'pelos 'produtosperecveisprojetadospara aobsolescncia imediata'"

    (Bauman, 2001: 100). Particularmente, os objetos comunicacionais encontrados no

    DepsitodeLixodoLoteamentoCavalhadaparecemsentir,aomenosemalgumamedida,

    o impacto desta obsolescncia "cultural" ou "simblica", para alm da prpria

    obsolescnciamaterialou funcional.ParaBauman (2001:146),atualmente, "manteras

    coisasporlongotempo,almdeseuprazode'descarte'ealmdomomentoemqueseus

    'substitutosnovoseaperfeioados'estiverememoferta(...)sintomadeprivao.Uma

    vez que a infinidade de possibilidades esvaziou a infinitude do tempo de seu poder

    sedutor, a durabilidade perde sua atrao e passa de um recurso a um risco". A

    capacidadededescartarenomaisdepossuirobjetosparecereconfigurarossistemas

    de atribuio e aquisio de status social, legitimidade e capitais simblicos. E que a

    substituioseja toamplae irreversvelquantoconstanteeveloz!Bauman (2000:21),

    maisumavez,fazilustraesesclarecedoras:

    Rockefeller pode ter desejado construir suas fbricas, estradas de ferro e torres de

    petrleo altas e volumosas e serdonodelas porum longo tempo (pela eternidade, se

    medirmos o tempo pela durao da prpria vida ou pela da famlia). Bill Gates, no

    entanto,nosente remorsosquandoabandonapossesdequeseorgulhavaontem;a

    velocidadeatordoantedacirculao,dareciclagem,doenvelhecimento,doentulhoeda

    substituioquetraz lucrohoje noadurabilidadeeconfiabilidadedoproduto.Numa

    notvelreversodatradiomilenar,soosgrandesepoderososqueevitamodurvele

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    desejamotransitrio,enquantoosdabasedapirmidecontratodasaschanceslutam

    desesperadamente para fazer suas frgeis, mesquinhas e transitrias posses durarem

    mais tempo.Os dois se encontram hoje em dia principalmente nos lados opostos dos

    balcesdasmegaliquidaesoudevendasdecarrosusados.

    Assim,asmaterialidadescontemporneas e juntocomelasosprodutoseos suportes

    miditicosdenossotempoparecemhiperfragilizadas(os)diantedoritmoimperturbvel

    dodescarte.Numuniversodepoucasalternativas,restanosotrabalhopaciente,irnicoe

    meticuloso do luto. .

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