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1 SIGNOS, SIGNIFICADOS E SIGNIFICAÇÕES DO CONCEITO DE VIDA: Algumas Implicações Para o Ordenamento Jurídico. Helio Fernando de Oliveira Junior 1 Cristiane Lordeiro de Lima Antunes 2 1 Mestre em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor de Bioética no Curso de Direito da União Latino Americana de Tecnologia (ULT - Jaguariaíva) 2 Graduada em Direito pela União Latino Americana de Tecnologia (ULT-Jaguariaíva) Resumo: Na contemporaneidade, a falta de conceituação ou seu mau uso é um dos fatores que tem dificultado a aplicação do direito. A não utilização de conceitos precisos dificulta ainda mais sua aplicação. É imprescindível ao Bacharel em Direito que tenha sempre em mente os diferentes sentidos das palavras e como essas diferenças afetam todos os conceitos do mundo jurídico. Este trabalho objetivou categorizar os conceitos de vida e trazer uma reflexão acerca da importância de se conceituar. Apresenta-se na forma de uma pesquisa quali- quantitativa de como os bacharéis em direito entendem o conceito de vida. As análise foram efetudas com auxílio do sofware NUD.IST e aplicado estatística analítico descritiva (Teste t-sudent com p<0,05). A análise dos dados permitiu verificar que bacharéis em direito apresentam, dificuldade em argumentar sobre o conceito de vida, não sendo em sua maioria elucidativos, contudo, outras percepções também estão

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Page 1: Artigo Cij Cris Helio

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SIGNOS, SIGNIFICADOS E SIGNIFICAÇÕES DO CONCEITO DE VIDA:

Algumas Implicações Para o Ordenamento Jurídico.

Helio Fernando de Oliveira Junior1

Cristiane Lordeiro de Lima Antunes2

1 Mestre em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Professor de Bioética no Curso de Direito da União Latino Americana de Tecnologia

(ULT - Jaguariaíva)

2 Graduada em Direito pela União Latino Americana de Tecnologia (ULT-Jaguariaíva)

Resumo: Na contemporaneidade, a falta de conceituação ou seu mau uso é um dos fatores que tem dificultado a aplicação do direito. A não utilização de conceitos precisos dificulta ainda mais sua aplicação. É imprescindível ao Bacharel em Direito que tenha sempre em mente os diferentes sentidos das palavras e como essas diferenças afetam todos os conceitos do mundo jurídico. Este trabalho objetivou categorizar os conceitos de vida e trazer uma reflexão acerca da importância de se conceituar. Apresenta-se na forma de uma pesquisa quali-quantitativa de como os bacharéis em direito entendem o conceito de vida. As análise foram efetudas com auxílio do sofware NUD.IST e aplicado estatística analítico descritiva (Teste t-sudent com p<0,05). A análise dos dados permitiu verificar que bacharéis em direito apresentam, dificuldade em argumentar sobre o conceito de vida, não sendo em sua maioria elucidativos, contudo, outras percepções também estão presentes em seus discursos, como as de ordem teológica, legalista e antropocêntrica. Pela inviolabilidade da dignidade da pessoa humana, é possível concluir pela necessidade de introduzir novas reflexões para a formação de um arcabouço conceitual cada vez mais consistente.

Palavras-Chave. Conceito de vida. Dignidade da pessoa humana. Legislação. Vida

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Résumé : À la contemporanéité, la manque de conceptualization ou sa mauvaise utilisation est-elle un des points qui difficulte l’aplication du Droit. Ne pas utiliser les concepts apropriés entrave plus leur aplication. Il est impératif au Bachelier en Droit avoir conscience des différents sens des mots et comment celles agissent sur tous les concepts du champ juridique. Ce travail s’aggit-il de categorizer les concepts de la vie et proumouvoir une réflexion à propos de l’importance de se conceptuer. Il est presenté dans le domaine d’une recherche quali-quantitative sur comment les bachelier en droit comprendent les concepts de vie. Les analyses ont été efectuées avec l’aide du logiciel NUD.IST et elles ont souffert l’aplication de la statistique analitique descriptive (Teste t-sudent com p<0,05). L’analyse des données a permi vérifier que les bachelier en droit présentent difficultés pour argumenter sur le concept de la vie, la plupart n’est-elle pas claire ; toutefois, des autres perceptions sont aussi presentées dans leurs discours, comme celle d’ordre teologique, legal et antropocentrique. Pour l’inviolabilité de la dignité de l’être humain, c’est possible conclure la necessite d’introduire des nouvelles réflexions à la formation d’un canevas conceptuel chaque foi plus épais.

Mots-clés : Concept de vie. Dignité de l’être humain. Législation. Vie.

Sumário: 1 Introdução - 2 Revisão de literatura - 3 Material e métodos - 4 Resultados e discussões - 4.1 Resultados - 4.1.1 Concepção biológica - 4.1.2 Concepção legalista - 4.1.3 Concepção antropocêntrica - 4.1.4 Concepções teocêntricas - 4.1.5 Concepção integradora - 4.1.6 Concepções não-elucidativas - 4.2 Discussões - 5 Conclusões - Referências bibliográficas.

1 INTRODUÇÃO

O ímpeto de conhecer relaciona-se ao impulso para descobrir, desvelar

obscuridades, revelar pequenos instantâneos da vida ou grandes painéis da

natureza e das sociedades. Questões pontuais do cotidiano ou a imensidão espaço-

temporal do universo e toda a problemática que permeia esses dois polos são o

objeto dessa busca que está intimamente ligada às pequenas e grandes

necessidades humanas e aos nossos desejos de satisfazer carências. O paradigma

da ciência moderna, assentado na razão, na divisão/análise e na máxima “conhecer

para controlar”, reduziu os problemas e suas respostas a modelos para a ação

transformadora sobre a natureza e controladora da sociedade, produzindo

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conhecimentos disciplinares e com alto nível de especialização. Separar e reduzir

têm sido máximas do paradigma moderno1.

Como conhecer e como agir nessa realidade? Como perceber as tantas

bifurcações que aparecem em nossas vidas, seus feixes de possibilidades? Como

escolher caminhos? A perspectiva da complexidade tem sido apontada como

alternativa para lidar com as incertezas do mundo contemporâneo.

Para além de ser um conhecimento que envolve problemas e diálogos multi,

inter e transdisciplinares, esse ponto de vista parte de uma sociedade e natureza

complexas, que lançam o desafio do desenvolvimento de modos de conhecer menos

reducionistas.

Os limites do conhecimento disciplinar se fazem sentir especialmente quando

os problemas a resolver envolvem objetos complexos, como a sociedade, e quando

a redução da complexidade impede o desvelamento e a solução do problema. O

paradigma da ciência moderna sempre se demonstrou inadequado para a análise da

sociedade e seus problemas, seja pela problemática da relação sujeito/objeto, seja

pela sua linearidade e determinismo.

O direito à vida, considerado um dos direitos humanos por todas as

declarações internacionais, surge como o mais importante deles, por ser

pressuposto indispensável para aquisição e o exercício de todos os demais direitos,

todavia e de suma importância entender o que e quando começa. E de grande

importância entender para logo haver a devida proteção.

Surge então à necessidade de conceituarmos vida para além das fronteiras

disciplinares, não necessariamente onde ela começa, mas o que de fato é vida.

Contudo uma precisa apreciação do bem jurídico mais importante, ou seja, a vida

humana demanda, antes de tudo, sua consideração ao lado de outros valores

constitucionais fundamentais.

1 BAUMGARTEN, M.; TEIXEIRA, A. N; LIMA, G. Sociedade e conhecimento: novas tecnologias e desafios para a produções de conhecimento nas ciências sociais. Soc. estado., Brasília, v. 22, n. 2, Ago. 2007 .

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O objetivo desse trabalho e trazer uma reflexão sobre a importância de

entender os conceitos com a finalidade de proporcionar reflexões para que o

conhecimento seja pautado em concepções de um pensamento complexo. Essas

reflexões são elaboradas a partir de uma série de inferências teóricas e análises

quali-quantitativas.

Portanto a proposta é uma discussão acerca dos, seus conceitos e uma

abordagem jurídica a respeito do princípio constitucional de dignidade da pessoa

humana.

Ao longo deste texto é apresentado uma pesquisa de campo com acadêmicos

e bacharéis em Direito do Sul do Brasil (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do

Sul), com objetivo de analisar o entendimento do conceito de vida, com relação a

categorias elaboradas pelos autores.

Consideramos o conhecimento científico da mesma forma que Gramsci2 como

uma categoria histórica e, como tal, é movimento em contínua evolução que

condiciona a cognoscibilidade ao desenvolvimento dos instrumentos físicos e da

inteligência histórica dos cientistas individuais, dessa forma fica claro a não

pretensão de esgotar o tema ao categoriza-lo, mas apenas abrir novas perspectivas

no entendimento jurídico.

2 REVISÃO DE LITERATURA

Nenhuma ciência se apresenta como puro sistema de objetividade e sim

decorrem sempre de práticas, técnicas hipóteses, num incessante trabalho de

revisão dos conhecimentos. Há níveis de objetividade, há acordos de grupos

ideologicamente dessemelhantes quanto aos mesmos conhecimentos teóricos, mas

há também processos historicamente condicionados que permitem que cada ciência

se desenvolva3.

2 GRAMSCI, A. A concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

3 VÉDRINE, H. As filosofias da história. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.

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Entretanto, natureza e sociedade nunca deixaram de ser complexas e o

mundo atual é a expressão dessa complexidade – os problemas que se nos

apresentam são multidimensionais e as contradições se avolumam. O ser humano,

por suas próprias mãos alienadas da natureza (que não deixa por isso de integrar),

passou a ameaçá-la de forma perigosa para a sua própria espécie e para todas as

outras. Os laços de solidariedade humana tornam-se frágeis, desfazem-se e

contradições irredutíveis emergem no cotidiano natural e social4.

Saussure5 define o signo como a união do sentido e da imagem acústica. O

que ele chama de “sentido” é a mesma coisa que conceito ou idéia, isto é, a

representação mental de um objeto ou da realidade social em que nos situamos,

representação essa condicionada pela formação sociocultural que nos cerca desde

o berço. Em outras palavras, para Saussure, conceito é sinônimo de significado

(plano das ideias), algo como o lado espiritual da palavra, sua contraparte inteligível,

em oposição ao significante (plano da expressão), que é sua parte sensível. Por

outro lado, a imagem acústica “não é o som material, coisa puramente física, mas a

impressão psíquica desse som”. Melhor dizendo, a imagem acústica é o significante.

Com isso, temos que o signo linguístico é “uma entidade psíquica de duas faces”,

semelhante a uma moeda.

Os dois elementos – significante e significado – constituem o signo

“estão intimamente unidos e um reclama o outro”. São interdependentes e

inseparáveis, pois sem significante não há significado e sem significado não existe

significante.

A Principio é de suma importância identificar os objetivos de se conceituar,

contudo o mais importante é saber o que e conceito, tendo claro que para que se

identifique a forma que um objeto ou palavra se apresenta e necessário o contexto

em que se apresenta.

É possível dizer que qualquer objeto, som, palavra capaz de representar outra

coisa constitui signo. Na vida moderna, todos nós dependemos do signo para

4 BAUMGARTEN, M. Sociedade e conhecimento: ordem, caos e complexidade. Sociologias, v. 8, n. 15, p. 16-23, 2006.

5 SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. 30. ed. São Paulo: Cultrix. 2001.

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vivermos e interagirmos com o meio no qual estamos inseridos. Para o homem

comum, a noção de signo e suas relações não são importantes do ponto de vista

teórico, mas ele os entende de maneira prática e precisa. A utilidade do signo vai

além do que imaginamos: ao dirigirmos, por exemplo, precisamos constantemente

ler e analisar discursos transmitidos pelas placas de trânsito, pelas luzes do

semáforo, pelas reações do veículo ao meio ambiente etc. O homem intelectualizado

não vive sem o signo, precisa dele para entender o mundo, a si mesmo e às

pessoas com as quais mantém relações humanas6.

As noções de signo são muito mais amplas e discutíveis do que podemos

imaginar; todavia, no presente trabalho nos limitaremos à análise de algumas

considerações referentes ao signo linguístico que, doravante, constituirá o nosso

principal objeto de estudo.

Segundo Lopes7 [...] para que uma língua cumpra seus fins, é necessário que

os membros destas comunidades, que compartilham as mesmas experiências

coletivas, se coloquem previamente de acordo quanto ao sentido que vão dar as

partes da corrente sonoras que imitem e ouvem. Em outras palavras e preciso que

concordem em atribuir determinados conjuntos fônicos, produzidos em certas

situações, o poder de traduzir um determinado elemento de sua experiência

histórica.

Dentre as coisas mais difíceis em que podemos fazer esta a dificuldade de

definir claramente certos objetos ou definir em conceito uma coisa ou situação.

Quando tentamos pensar em um conceito nem sempre e fácil, pois, nossas mentes

estão repletas de idéias que podem deturpar a realidade dos fatos, as idéias são

frutos de nossas experiências ao longo da vida, por isso cada pessoa pode construir

seu próprio conceito seja ele como for. Imagino que as grandes invenções surgem

porque pessoas normais enxergam maneiras diferentes de fazer coisas novas,

coisas estas que ninguém ate então haviam pensado, por isso são chamadas de

invenções, novidade.

6 SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. 30. ed. São Paulo: Cultrix. 2001.

7 LOPES. E. Fundamentos de linguística contemporânea. Cultrix, 1995.

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Euclides citado por Bicudo8 diz que: “definir um conceito significa de explicá-lo

em termos de outros conceitos já definidos, e demonstrar uma proposição

equivalente a argumentar pela sua veracidade usar as regras de inferência validas

fornecidas pela lógica, com base em proposições anteriormente demonstradas”.

Se tomarmos por base o trecho acima de Euclides, devemos entender que

jamais haverá um conceito puro, pois todos os conceitos virão carregados de

pessoalidade, tendo em vista que todas as pessoas carregam em si uma grande

carga de realidade e de vivencia distintas e nunca uma pessoa vai ser igual a outra,

desta forma estes vão se tornar o resultado de suas próprias convicções, estando

assim o mesmo repleto de marcas de seu autor. Portanto podemos dizer com

habitual certeza que um conceito nunca será puro por si só.

E continua: ” [...] no caso de definição, os dicionários oferecem uma definição

de circulo vicioso, um termo e definido em função do outro, e este outro em função

daquele9.[...]

De acordo com o Dicionário Aurélio10. Conceito é “Formação de uma idéia por

palavras; definição”. Conceito (do latim conceptus, do verbo concipere, que significa

"conter completamente", "formar dentro de si")

Podemos dizer também como sendo aquilo que a mente concebe ou entende,

como realidadade abstrata, fruto da junçao de experiencias que tivemos ou que nos

foi passada como ensinamento ou liçoes sejam elas boas ou ruins.

Segundo BECKER MACIEL11

o conceito é um conteúdo mental, elaborado a partir da síntese das características de fenômenos do mundo real ou imaginário,

8 BICUDO, I. O Primeiro Livro dos ELEMENTOS de Euclides. Natal: Editora da SBHMat, 2001.

9 Ibid.

10 HOLANDA, A. B. Dicionário Aurélio Escolar da Língua Portuguesa, 1 ed., Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1988.

11 BECKER MACIEL, A. M. Para o reconhecimento da especificidade do termo jurídico. Porto Alegre, 2001. 258 f. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.

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empiricamente apreendidos, devidamente despojados de marcas individualizantes. O conceito é identificado por um símbolo, o signo lingüístico, posicionado, de acordo com os traços temáticos que carregam, na estrutura de conhecimento da área temática, a árvore de domínio [...]

Tratar de tal e assunto e de suma importância pro Direito, tendo em vista que

todo ele e formado por detalhes linguísticos formais, com qual muitas vezes só

podem ser entendidos por quem tem convivência no meio jurídico. Fazendo, muitas

vezes com que o judiciário se torne um ambiente seleto, quando que deveria ser

aberto e democrático.

Quando se questiona a relação entre direito e linguagem, aponta-se para o

fato que a linguagem jurídica possui um caráter verdadeiramente ideológico. Diz-se

que na base de determinada interpretação de texto normativo encontra-se, muitas

vezes, a pretensão de identificar as idéias como valorativas e que, em se tratando

de juízos valorativos, o interprete ao recorrer ás definições reais, propõe, um termo

de essência, aquilo que reputa importante para o pondo de vista pratico, operando-

se em mecanismo de projeção ativada com objetivo de transformar a objetividade de

posição sustentada em possibilidades objetiva12 [...]

E o direito histórico não se revela nos códigos e nas leis, pois estes

elementos normativos precisam ser compreendidos como parte de uma tradição

jurídica que os conforma. Assim, a unidade do sistema jurídico não podia ser

encontrada na própria lei, mas nos elementos que a formam, ou seja, nos conceitos

jurídicos estratificados em uma determinada tradição13.

Enumeras vezes, deparamos diante de questionamentos e debates sobre o

Princípio Constitucional da Igualdade; discussões estas, em que as partes, dentre

outras questões, indaga-se sobre o conceito e a aplicabilidade deste princípio.

12 DUARTE, Lisa Bastos. Hermenêutica Jurídica – uma análise de temas emergentes. Canoas: ULBRA, 2004, 208 p.

13 COSTA, Alexandre Araújo Costa. Direito e Método: diálogos entre a hermenêutica filosófica e a jurídica. 2008. Tese de Doutoramento – Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade de Brasília, DF, 2008.

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A priori destacamos Miguel Reale14 descreve o seguinte: “princípios são, pois,

verdades ou juízos fundamentais, que servem de alicerce ou de garantia de certeza

a um conjunto de juízos, ordenados em um sistema de conceitos relativos à dada

porção da realidade”. Às vezes também se denominam princípios certas proposições

que, apesar de não serem evidentes ou resultantes de evidências, são assumidas

como fundantes da validez de um sistema particular de conhecimentos, como seus

pressupostos necessários.

Corroborando ainda, podemos citar a lição de Celso Antônio Bandeira de

Mello de que "princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema,

verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes

normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para a sua exata

compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do

sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico... A

desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento

obrigatório, mas a todo sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade

ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque

representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores

fundamentais, contundente irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua

estrutura mestra15 [...]

De acordo com as duas citações acima disposta temos claro que os princípios

estão acima das normas, podendo ate ser categóricos em dizer que todas as

normas deveriam vir dos princípios. Com relação aos princípios a que estamos

tratando, vejamos o que a Constituição Federal de 198816 nos mostra.

Prescreve o caput do art. 5º da nossa Constituição Federal de 1988: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à igualdade, a segurança e a propriedade, [...]".

14 REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.

15 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo, 15ª ed. São Paulo: Malheiros,2003

16 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.

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O texto Constitucional é claro com relação à igualdade a que busca pra todos,

sem fazer qualquer distinção nem separação de qualquer natureza, seja para

brasileiros ou estrangeiros.

A interpretação desse princípio deve levar em consideração a existência de

desigualdades de um lado, e de outro, as injustiças causadas por tal situação, para,

assim, promover-se uma tão sonhada igualdade. O artigo constitucional que por um

lado representa promessa legislativa de busca da igualdade, mas não resolve o

problema nem de longe. Sua razão de existir esta fundada no grande desejo que o

legislador tem de firmar a busca pela igualdade, contudo tal mudança não depende

unicamente de Leis, mas também da consciência dos cidadãos, mudança esta que

só vem com educação e plena e efetiva participação popular.

Toda decisão deve partir de um estudo profundo do objeto a ser tutelado, o

conhecimento, entre seus estágios de formação, passa pelo deixar conhecer é o que

se pode dizer sujeito cognocente e cognoscível. Assim, o conhecimento científico é

conceitual, ou seja, significa que objeto é apreendido, posto ao conhecimento, é

idealizado conceitualmente quando sujeito capta o objeto, é apresentada ao sujeito

de forma de conceito.

A lógica é simples, quando não se apreende um objeto em sua plenitude, não

o conhece direito, tal realidade gera consequentemente uma falta de compromisso

real e sério com o objeto do estudo e esta falta de compromisso traz a relativização

do objeto por influência do conhecimento do senso comum17.

De outro lado o que se observa é uma relativização dos conceitos mais

básicos de nosso direito, o direito a vida e a dignidade de vida. Entendemos que se

tais conceitos não forem apreendidos em sua totalidade, todos os demais conceitos

serão relativizados e errados, uma vez que os referidos conceitos são as bases

fundantes de todo o sistema jurídico. Ainda mais porque no direito de um modo

geral, nas categorias gerais, tudo que se exige não é separar conceitos e sim

distingui-los sem separá-los.

17 DELBEN, A. C.; FREIRE, D. L. A dignidade como um conceito de vida. In. XVIII CONGRESSO NACIONAL DO CONPEDI, 2009. Anais ... São Paulo, 2009. p. 371-396

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Falar em dignidade da pessoa humana, não e missão fácil muito embora seja

amplamente trabalhada por diversos autores, mas sempre será pauta para novas é

recentes formas de trabalho.

Todavia e preciso deixar bem claro que a dignidade da pessoa humana esta

presente em quase todos os temas, mas não de uma maneira técnica, matemática,

mas apresentando-se como um principio variável. Muitos podem achar que a

dignidade da pessoa humana é uma só, mas e preciso acreditar que ela e mutável,

pois pode mudar de acordo com o sexo, religião, situação financeira, raça, povo e

variando ate com o tempo, tendo em vista que a sociedade ta em constante

transformação alterando assim o que se entende por respeito à dignidade.

Se dignidade é principalmente o respeito à diversidade, não se pode ter

dignidade onde tem pré-conceitos e qualquer forma de tratamento desigual na forma

á impedir qualquer pessoa de ter acesso aos seus direitos ainda que básicos, não

podemos falar em dignidade enquanto pessoas comem lixo e são escravizadas,

enquanto outras comem ouro e escravizam.

Cabe ressaltar a importância da proteção a vida e a dignidade de forma

normativa que para Maria Helena Diniz18:

O direito a vida, pode ser essencial ao ser humano, condiciona os demais direitos de personalidade. A constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, caput, assegura a inviolabilidade do direito a vida, sou seja a integralidade existencial, conseqüentemente, á vida e um bem jurídico tutelado como direito fundamental básico desde a concepção, momento especifico, comprovado cientificamente da formação da pessoa.

O próprio texto acima faz apanhado no que se refere à dignidade e todos os

demais que estão quase que sub-rogados a ele, sendo que o principio da dignidade

pode ser encontrado e servir de parâmetro para todos os demais.

Algo parecido com o que aconteceu, a partir dos anos 70, com relação ao

conceito de “razão” – e que foi indicado pela expressão “crise da razão” – parece

estar ocorrendo com relação ao conceito “vida” e ao seu uso, que acompanha as

18 DINIZ, M. H. Estado atual do Biodireito São Paulo: Ed. Saraiva , 2010.

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práticas tornadas possíveis pela vigência do paradigma biotecnocientífico no campo

das ciências e das práticas em saúde. Por paradigma biotecnocientífico entendemos

o conjunto de ferramentas teóricas, técnicas, industriais e institucionais que visam

entender e transformar seres e processos vivos, de acordo com necessidades

e/desejos de saúde e visando a um genérico bem-estar de indivíduos e populações

humanas19

Seguindo esta linha de raciocínio tanto é difícil definir o inicio da vida, tema

este amplamente trabalhado imagina então como será árdua esta proposta de definir

a “vida”20 ou mesmo “morte21”, tema este ate então nunca antes dito ou trabalhado.

Para se ter um exemplo da importância da construção jurisprudencial, nos

tribunais superiores, destacamos o recente julgamento da Ação Direta de

inconstitucionalidade - ADI nº 3510 que tratou acerca da constitucionalidade do uso

de células-tronco embrionárias em pesquisas, e o futuro julgamento da Arguição de

Descumprimento de Preceito Fundamental - ADPF nº 54, que tratará acerca da

possibilidade de antecipação terapêutica do parto de fetos anencéfalos.

A quase totalidade dos doutrinadores destaca a importância do princípio da

dignidade da pessoa humana na construção de um conceito apropriado de vida

humana, assim como de um bom encaminhamento bioético para lidar com as

questões que envolvem a vida humana.

Todavia, quando se fala em dignidade da pessoa humana, questiona-se se o

termo “pessoa” viria justamente a indicar que apenas os entes que possuem as

características suficientes para receber tal qualidade seriam ou não realmente digno.

Mister seja feita uma análise em que consiste pessoa humana e se há diferenças

entre esta e os demais seres humanos a fim de adentrar-se em considerações

acerca do direito à vida.

A necessidade de clarificar-se o conceito de pessoa humana em relação às

questões bioéticas se demonstra cada vez mais, não só no meio acadêmico, mas 19SCHARAMM, F. R. O uso problemático do conceito ‘vida’ em bioética e suas interfaces com a práxis biopolítica e os dispositivos de biopoder. Revista Bioética 2009 17 (3): 377 - 38920 SILVA, P. R.; ANDRADE M. B. ; CALDEIRA, A. M. High scholl biology teacher`s conception of the concept of life. In. VII ENPC, 2009. Anais ... Florianópolis, 2009.

21 AZEREDO, N. S. G. O acadêmico de medicina frente a morte: questões para (re)pensar a formação. Porto Alelre, 2007. 115 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Médicas) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.

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em relação a toda sociedade. Questões como saber a partir de que momento do seu

desenvolvimento o ser humano é pessoa, bem como as conseqüências desta

decisão, são pertinentes a todo indivíduo que compõe ou mesmo que pode vir a

compor uma dada sociedade.

Isto porque ao se tratar de vida humana, da qualidade de vida humana

considerada digna e de dignidade da pessoa humana, deve-se entender

necessariamente, por exigência lógica, a quem se referem estes qualificativos, ou

seja, se são pertinentes a todos os seres humanos ou apenas àqueles seres

humanos que podem ser chamados pessoas humanas.

Abbagnano22 estabelece dois sentidos para a palavra pessoa. Num sentido

mais comum, significaria o homem em suas relações com o mundo ou consigo

mesmo, ao passo que, num sentido mais geral, tratar-se-ia de palavra aplicada a

Deus além do homem, tendo em vista ambos como sujeitos de relações.

Assim, segundo o relatório e voto do relator, Ministro Carlos Britto: nossa

Magna Carta não diz quando começa a vida humana. Não dispõe sobre nenhuma

das formas de vida humana pré-natal. Quando fala da “dignidade da pessoa

humana” (inciso III do art. 1º), é da pessoa humana naquele sentido ao mesmo

tempo notarial, biográfico, moral e espiritual (o Estado é confessionalmente leigo,

sem dúvida, mas há referência textual à figura de Deus no preâmbulo dela mesma,

Constituição). E quando se reporta a “direitos da pessoa humana” (alínea b do inciso

VII do art. 34), “livre exercício dos direitos (...) individuais” (inciso III do art. 85) e até

dos “direitos e garantias individuais” como cláusula pétrea (inciso IV do § 4º do art.

60), está falando de direitos e garantias do indivíduo-pessoa. Gente. Alguém.23

A vida humana não se resume ao mero aspecto biológico. É uma realidade

multimensional, englobando aspectos espirituais, sócias, culturais e, principalmente,

pessoais. A pessoa humana, pelo fato de ter um valor agregado ao longo de seu

desenvolvimento, possui importância superior ao da mera vida humana biológica,

podendo, inclusive, dependendo das circunstâncias, decidir se deseja viver ou não

sob condições indignas.

22 ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestra Jou, 1970;

23 BRASIL.Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Incontitucionalidade 3.510-0. Relator: Ministro Carlos de Brito.

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O direito tem por objetivo de proteção de bens dos quais o mais importante e

a proteção a vida que é o maior bem a ser protegido. Contudo este trabalho nos

mostra a grande dificuldade que encontramos em conceituar o que para o direito e

de suma importância como definir seu objeto de proteção, para que possa ser

amplamente protegido, isto acontece em todas as áreas do direito.

Indagar um conceito de Direito implicará, sempre, em buscar compreender

muitas questões às quais o tema invariavelmente conduz e verificar a relação que

elas guardam entre si. Quando muito, se poderá reduzir as inúmeras questões

recorrentes a um mínimo dentre elas às de incidência mais freqüente, em direção às

quais o exame do tema sempre conduz, a fim de que se possa estudá-las

particularmente.

O direito não consegue dar conta de definir vida, como consegue por exemplo

definir: Propriedade, contratos e outras relações que são de grande relevância para

melhor aplicabilidade do direito ou na busca da melhor aplicabilidade das relações

jurídicas.

O direito humano à vida compreende um princípio em virtude do qual todo

ser humano tem como direito inalienável a que sua vida seja respeitada, segundo o

qual nenhum ser humano haverá de ser privado arbitrariamente de sua vida.Apesar

da dificuldade para a conceituação de vida, têm surgido dentro da Biologia Teórica

propostas de definições de vida que funcionam como uma rede conceitual

integradora de diversos conceitos e que não se limitam apenas à elaboração de uma

lista de características. Entre as definições de vida teoricamente fundamentadas

estão: a vida como autopoiese2425; a vida como seleção de replicadores26; a vida

como interpretação de signos27; e a vida como sistemas autônomos com evolução

aberta28.24 MATURANA,H. R.; VARELA, J.. Autopoiesis and Cognition. Dordrecht: D. Reidel. Publishing Company. 1973.25 ________. A árvore do conhecimento.São Paulo: Palas Athena, 2001. 288p.26 EMMECHE, C.; EL-HANI, C. N. Definindo vida. Pp. 31-56, in: EL-HANI, Charbel Niño & VIDEIRA, Antonio Augusto Passos (orgs). O que é vida? Para entender a Biologia do século XXI. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000.

27 EMMECHE, C.; EL-HANI, C. N. Definindo vida. Pp. 31-56, in: EL-HANI, Charbel Niño & VIDEIRA, Antonio Augusto Passos (orgs). O que é vida? Para entender a Biologia do século XXI. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000.

28 RUIZ-MIRAZO, K.; PERETÓ, J.; MORENO, A.. A universal definition of life: autonomy and open-ended evolution. Origins of Life and Evolution of the Biosphere 34: 323-346, 2004.

Page 15: Artigo Cij Cris Helio

15

Aqui temos uma missão muito difícil, trata de conceituar o que seria vida,

todavia isso não e nada fácil, pois tratar do tema implica em tratarmos de forma

básica, pois se visto amplamente tomaria um espaço neste trabalho a que não lhe

pertence. No entanto vamos tratar de forma superficial, mas que possa trazer uma

luz diante das dos grandes questionamentos aqui tratados.

3 MATERIAL E METODOS

A metodologia utilizada é classificada por MARCONI; LAKATOS29, e

SEVERINO30 como quali-quantitativa que considera a existência de uma relação

dinâmica entre mundo real e sujeito. É descritiva e utiliza o método indutivo. O

processo é o foco principal.

A coleta de dados foi realizada utilizando questionários constituídos por uma

série ordenada de perguntas, que indagavam diretamente sobre o conceito de vida.

Foram utilizadas apenas questões abertas que permitiram ao informante responder

livremente, usando linguagem própria e emitir opiniões.

Os questionários foram encaminhados através de lista de email de grupos de

pesquisas, as pesquisas on-line são consideradas muito semelhantes

metodologicamente às pesquisas realizadas utilizando questionários auto-

preenchidos ou por telefone, diferindo apenas na maneira como são conduzidas.

Geralmente são usados dois meios para esse tipo de pesquisa, ou são conduzidas

em uma página na Internet, ou com o uso do e-mail, sendo que na primeira o

instrumento de coleta de dados deve ser postado na rede para que os usuários

acessem e respondam-no, já na segunda opção o instrumento é enviado para o

endereço, essa forma de pesquisa é validade por autores como ILIEVA; BARON;

HEALEY31.

29LAKATOS, E.; MARCONI, M. A.. Metodologia do trabalho cientifico: procedimentos básicos, pesquisa bibliografia, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 6. ed. 7. reimpr. São Paulo: Atlas, 2006.

30 SEVERINO,A. J.. Metodologia do trabalho científico. 22a ed. São Paulo: Cortez, 2002

Page 16: Artigo Cij Cris Helio

16

Para a análise dos dados qualitativaos, utilizou-se o programa de computação

NUD.IST um programa australiano que garante uma análise mais abrangente das

descrições de campo porque nenhum conjunto de dados fica perdido e,

consequentemente, não incluído na análise. O NUD.IST não executa nenhum tipo

de análise, mas facilita a organização dos dados coletados de modo a prepará-los

para a interpretação.

Como método estatístico foi utilizada a Estatística Analítico Descritivo (Teste

t-sudent com p<0,05), utilizando do programa Assistat, conferindo assim uma alta

confiabilidade nos dados apresentados, ressalta-se que os valores aritméticos não

apresentaram discordâncias com os valores após análise estatística.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 RESULTADOS

Para analise das concepções, foram elaboradas categorias, a partir de

Reigota32 e Grün33, dividindo o entendimento de Vida em 6 visões distinta:

Concepção biológica: Levam em conta essencialmente os aspectos

biológicos da vida, ou seja, a vida é vista somente como um aspecto natural

biológico, que deve ser preservado.

Concepção legalista: Levam em conta essencialmente os aspectos legais da

vida, ou seja, a vida é vista somente como um aspecto normativo, regido por leis,

que deve ser preservado.

31 ILIEVA, J.; BARON, S.; HEALEY, N. M. Online surveys in marketing research: pros and cons. International Journal of Marketing Research, 2002.

32 REIGOTA, M. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Coleção: Primeiros Passos) 62p

33 GRUN, M. Ética e educação ambiental: a conexão necessária. Campinas, SP: Papirus.

Page 17: Artigo Cij Cris Helio

17

Concepção integradora: Incluem na definição de vida tanto os aspectos

biológicos como os jurídicos e filosóficos. Aqui a vida é apontada como natural, mas

incluindo também seus aspectos outros aspectos de interação.

Concepção antropocêntrica: Onde se encontram indícios de uma percepção

de vida sob uma perspectiva antropocêntrica. A origem dessa visão foi gestada na

ética antropocêntrica humanista e no pensamento cartesiano, que situa o homem

fora do ambiente natural. Nesta visão antropocêntrica: o homem é o centro de tudo,

e por causa dele se explica e justifica as suas ações.

Concepções teocêntricas: Onde a percepção de vida esta centrada no

divino, no religioso.

Concepções não-elucidativas: Quando se apresenta dificuldade para

expressar suas idéias a respeito do meio ambiente, fornecendo respostas evasivas e

confusas. 

Dos 270 questionários encaminhados no mês de Junho de 2012, foram

recebidos 226 (61,2%) divididos nos estados de Paraná, Santa Catarina e Rio

Grande do Sul (Figura 1).

FIGURA 1 – Mapa destacando os estados estudados

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18

Fonte: Os autores.

4.1.1 Concepção Biológica

Levam em conta essencialmente os aspectos biológicos da vida, ou seja, a

vida é vista somente como um aspecto natural biológico, que deve ser preservado.

“A vida é tudo que é vivo e tem necessidades biológicas [...]

“O conceito de vida se baseia no fato de uma pessoa que no nascer

apresenta um correto funcionamento dos órgãos vitais [...]

“ Período compreendido entre o nascimento do individuo até o momento de

sua morte.”

4.1.2 Concepção Legalista

Levam em conta essencialmente os aspectos legais da vida, ou seja, a vida é

vista somente como um aspecto normativo, regido por leis, que deve ser preservado.

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19

“O nascituro é sujeito de direitos e cabe não só a legislação mas ao ser

humano protegê-lo[...]

“Vida é a situação que nos impulsiona para as chamadas regras e normas

constituídas [...]

“Vida é receber uma qualidade de vida digna, ser respeitado, e com seus

direitos fundamentais garantidos. Também vida é sonhos, pois não existe vida sem

sonhos”

“O maior dos direitos dos indivíduos, protegido por todas as legislações [...]

4.1.3 Concepção Antropocêntrica

Onde se encontram indícios de uma percepção de vida sob uma perspectiva

antropocêntrica. A origem dessa visão foi gestada na ética antropocêntrica

humanista e no pensamento cartesiano, que situa o homem fora do ambiente

natural. Nesta visão antropocêntrica: o homem é o centro de tudo, e por causa dele

se explica e justifica as suas ações.

“Vida é vivermos em sociedade harmonicamente, ter convivência com toda

humanidade [...]

“A vida se resume em dar o melhor de si para proporcionar o melhor para sua

família [...]

“[...] é prerrogativa de todo cidadão á ser defendido pelo Estado [...]

4.1.4 Concepções Teocêntricas

Onde a percepção de vida esta centrada no divino, no religioso.

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20

“A vida é um dom supremo a qual somente o Criador ‘Deus’ pode nos dar e

tirar [...]”

“[...] vida é um direito concebido por Deus, uma bênção divina [...]”

“Vida esta acima de tudo é um presente de Deus que cada ser tem [...]”

“A vida é um dom de Deus [...]”

4.1.5 Concepção Integradora

Incluem na definição de vida tanto os aspectos biológicos como os jurídicos e

filosóficos. Aqui a vida é apontada como natural, mas incluindo também seus

aspectos outros aspectos de interação.

“É o bem maior do ser humano, sendo o direito maior previsto na Constituição

Federal, tendo varias idéias de concepção, de seu inicio [...]

“[...] tenho que vida é você viver, com dignidade dentro de uma sociedade que

tenha regras determinadas positivamente, proporcionando todas as condições para

existência [...]

“Embora possa imaginar que seja fácil definir o conceito de vida, quando

surge a necessidade de conceituá-la surge inúmeras idéias do que possa ser vida. A

vida começa com a concepção ou melhor desde o momento em que o óvulo e

fecundado [...]

4.1.6 Concepções não-elucidativas

Quando se apresenta dificuldade para expressar suas idéias a respeito do

meio ambiente, fornecendo respostas evasivas e confusas. 

Page 21: Artigo Cij Cris Helio

21

“vida é existência”

“Vida é poder realizar, fazer tudo aquilo para preservá-la e deixá-la mais

preciosa [...]

“A vida não se resume somente em estar vivo, mas em poder viver [...]”

“A vida é muito bela para aproveitar com coisas desnecessárias [...]”

4.2 DISCUSSÕES

Observando a figura 2 revela-se a dificuldade em acadêmicos e bacharéis em

Direito em expressar conceitualmente vida, com valores expressivos para a

categoria na-elucidativa (39,32). Como já mencionado anteriormente, os dados

apresentados foram analisados aplicadando-se estatística analítico descritiva (Teste

t-sudent com p<0,05), que demonstraram a mesma significância nos valores

numéricos e estatísticos.

FIGURA 2 – Análise comparativa das categoria conceituais.

Fonte: Os autores.

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22

A comparação dos os resultados com outros autores torna-se bastante

complexo, tendo em vista que aqui propõe-se uma nova categorização.

Silva; Andrade; Caldeira34 estudando concepções de vida com profissionais

da área de Biológicas, apresentando categorias que se assemelham apenas a

teocêntrica (Categoria B – Vida como criação divina), obtém 25% de respostas a

esse item, enquanto em nosso trabalho 14,53%.

Azeredo35, com pesquisas na área da saúde, relacionando vida e morte,

apresenta também categoria que se aproxima a teocêntrica (Categoria – A fé e a

morte), com um total de 29.7%.

Analisando as ideias de complexidade propostas por Vedrine36 e de signo por

Saussere37, fica claro a interdependência do signo com aquele que faz sua leitura, o

que corrobora com a diversidade de compreensões obtidas nessa pesquisa.

Lopes38 considera que essa diversidade deveria ser menor em grupo mais

distindo, como os bachereis em Direito, considerando as experiências coletivas que

são comuns nessa formação, talvez seja necessário uma análise detalhada da

participação dos currículos na formação de conceitos para responder a essa

indagação.

Finalizando, com Delben; Freire39, que tentam demonstrar que essa

relativização em conceitos, pode estar relacionada a uma falta de compromisso, que

acarreta em deixar o científico, e procurar explicar o mundo pelo senso comum.

34 SILVA, P. R.; ANDRADE M. B. ; CALDEIRA, A. M. High scholl biology teacher`s conception of the concept of life. In. VII ENPC, 2009. Anais ... Florianópolis, 2009.

35 AZEREDO, N. S. G. O acadêmico de medicina frente a morte: questões para (re)pensar a formação. Porto Alelre, 2007. 115 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Médicas) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.

36 VÉDRINE, H. As filosofias da história. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.

37 SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. 30. ed. São Paulo: Cultrix. 2001.

38 LOPES. E. Fundamentos de linguística contemporânea. Cultrix, 1995.

39 DELBEN, A. C.; FREIRE, D. L. A dignidade como um conceito de vida. In. XVIII CONGRESSO NACIONAL DO CONPEDI, 2009. Anais ... São Paulo, 2009. p. 371-396

Page 23: Artigo Cij Cris Helio

23

5 CONCLUSÕES

Analisando os desdobramentos dessa pesquisa observa-se a dinâmica que é

dada a esse “signo”, com diversos “significados” e “significações”

Com relação às categorias conceituais proposta, predomina a categoria não-

elucidativa, o que demonstra a dificuldade em conceituar de forma ampla e abstrata

vida.

Essas conclusões, todavia, não podem ficar restritas somente à informação

aceita passivamente, mas por intermédio de trabalhos multi e interdisciplinares e nos

novos conceitos de diálogos de sabres, proporcionar reflexões para a (re)elaboração

e garantir as condições propícias à extensão dessas significações.

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