artigo científico - acne e dieta - verdade ou mito

9
An Bras Dermatol. 2010;85(3):346-53. Acne e dieta: verdade ou mito? * Acne and diet: truth or myth? Adilson Costa 1 Denise Lage 2 Thaís Abdalla Moisés 3 Resumo: Nos últimos 50 anos, foram publicados inúmeros estudos com a finalidade de comprovar se a dieta está relacionada à etiologia da acne. Embora existam estudos antigos, que são bem difundidos entre os dermatologistas e negam a associação entre acne e dieta, seu delineamento científico é pobre. Recentemente, novos artigos demonstraram evidências contrárias às publicações anteriores. Sendo assim, os autores realizaram esta revisão bibliográfica com o intuito de averiguar se a dieta influencia direta ou indi- retamente um ou mais dos quatro pilares etiopatogênicos fundamentais da acne: (1) hiperproliferação dos queratinócitos basais, (2) aumento da produção sebácea, (3) colonização pelo Propionibacterium acnes e (4) inflamação. Palavras-chave: Acne vulgar; Dieta; Índice glicêmico Abstract: Numerous studies were published over the last 50 years to investigate whether diet is associat- ed with the etiology of acne. Although older studies well known by dermatologists that refute the associ- ation between acne and diet exist, their scientific foundation is weak. New articles have recently brought to light evidence contrary to previous findings. Therefore, we would like to investigate whether diet, directly or indirectly, influences one or more of the four fundamental etiopathogenic pillars of acne: (1) hyperproliferation of basal keratinocytes, (2) increase of sebaceous production, (3) colonization by Propionibacterium acnes, and (4) inflammation. Keywords: Acne vulgaris; Diet; Glycemic index Aprovado pelo Conselho Editorial e aceito para publicação em 21.09.2009. * Trabalho realizado no Serviço de Dermatologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) - Campinas (SP), Brasil. Conflito de interesse: Nenhum / Conflict of interest: None. Suporte financeiro: Nenhum / Financial funding: None. 1 Dermatologista; mestre em Dermatologia pela Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina; coordenador dos Setores de Acne, Cosmiatria, Dermatologia da Gravidez e Pesquisa Clínica em Dermatologia do Serviço de Dermatologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) - Campinas (SP), Brasil. 2 Ex-Residente em Dermatologia do Serviço de Dermatologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) - Campinas (SP), Brasil. 3 Residente em Dermatologia do Serviço de Dermatologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) - Campinas (SP), Brasil. ©2010 by Anais Brasileiros de Dermatologia 346 REVISÃO INTRODUÇÃO Há muitas décadas, alguns trabalhos tentam con- firmar uma teoria antiga, envolta por muitos mitos e crendices populares: a associação entre acne e dieta. 1-3 A acne vulgar é dermatose crônica. Doença do folículo pilossebáceo, ela tem quatro fatores etiopato- gênicos fundamentais: hiperprodução sebácea, hiper- queratinização folicular, aumento da colonização por Propionibacterium acnes e inflamação dérmica peri- glandular. Ocorre em todas as raças, embora seja menos intensa em orientais e negros. 4-6 A prevalência geral da acne varia entre 35% e 90% nos adolescentes; no ocidente, é de 79% a 95% nessa mesma faixa etária. 7 Observa-se, frequentemen- te, que a acne acomete 95% dos meninos e 83% das meninas com 16 anos de idade e pode chegar a 100% em ambos os sexos. 8-10 Seu aparecimento e prevalência são maiores entre os pacientes do sexo masculino, graças à influência androgênica. 11,12 É doença que sofre importante impacto genético, o qual se dá, somente, sobre o controle hormonal, a hiperqueratinização foli- cular e a secreção sebácea. 12,13 Quanto à teoria da associação de fatores ambien- tais e acne, o sebo talvez seja o componente mais afeta- do. Nessa situação, um possível estado hiperinsulinê- mico, associado à presença secundária do fator de cres- cimento insulina-símile 1 (IGF-1), estimularia a síntese de andrógenos por vários tecidos do corpo, os quais, sabidamente, estimulam a produção de sebo. 3,14

Upload: thiago-f-thoresen

Post on 02-Jan-2016

198 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Artigo Científico - Acne e Dieta - Verdade ou Mito

An Bras Dermatol. 2010;85(3):346-53.

Acne e dieta: verdade ou mito?*

Acne and diet: truth or myth?

Adilson Costa 1 Denise Lage 2

Thaís Abdalla Moisés 3

Resumo: Nos últimos 50 anos, foram publicados inúmeros estudos com a finalidade de comprovar se adieta está relacionada à etiologia da acne. Embora existam estudos antigos, que são bem difundidos entreos dermatologistas e negam a associação entre acne e dieta, seu delineamento científico é pobre.Recentemente, novos artigos demonstraram evidências contrárias às publicações anteriores. Sendo assim,os autores realizaram esta revisão bibliográfica com o intuito de averiguar se a dieta influencia direta ou indi-retamente um ou mais dos quatro pilares etiopatogênicos fundamentais da acne: (1) hiperproliferação dosqueratinócitos basais, (2) aumento da produção sebácea, (3) colonização pelo Propionibacterium acnes e(4) inflamação.Palavras-chave: Acne vulgar; Dieta; Índice glicêmico

Abstract: Numerous studies were published over the last 50 years to investigate whether diet is associat-ed with the etiology of acne. Although older studies well known by dermatologists that refute the associ-ation between acne and diet exist, their scientific foundation is weak. New articles have recently broughtto light evidence contrary to previous findings. Therefore, we would like to investigate whether diet,directly or indirectly, influences one or more of the four fundamental etiopathogenic pillars of acne: (1)hyperproliferation of basal keratinocytes, (2) increase of sebaceous production, (3) colonization byPropionibacterium acnes, and (4) inflammation.Keywords: Acne vulgaris; Diet; Glycemic index

Aprovado pelo Conselho Editorial e aceito para publicação em 21.09.2009. * Trabalho realizado no Serviço de Dermatologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) - Campinas (SP), Brasil.

Conflito de interesse: Nenhum / Conflict of interest: None.Suporte financeiro: Nenhum / Financial funding: None.

1 Dermatologista; mestre em Dermatologia pela Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina; coordenador dos Setores de Acne, Cosmiatria, Dermatologia da Gravidez e Pesquisa Clínica em Dermatologia do Serviço de Dermatologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) - Campinas (SP), Brasil.

2 Ex-Residente em Dermatologia do Serviço de Dermatologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) - Campinas (SP), Brasil.3 Residente em Dermatologia do Serviço de Dermatologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) - Campinas (SP), Brasil.

©2010 by Anais Brasileiros de Dermatologia

346 REVISÃO

INTRO DU ÇÃO Há mui tas déca das, alguns tra ba lhos ten tam con -

fir mar uma teo ria anti ga, envol ta por mui tos mitos ecren di ces popu la res: a asso cia ção entre acne e dieta.1-3

A acne vul gar é der ma to se crô ni ca. Doença dofolí cu lo pilos se bá ceo, ela tem qua tro fato res etio pa to -gê ni cos fun da men tais: hiper pro du ção sebá cea, hiper -que ra ti ni za ção foli cu lar, aumen to da colo ni za ção porPropionibacterium acnes e infla ma ção dér mi ca peri -glan du lar. Ocorre em todas as raças, embo ra sejamenos inten sa em orien tais e negros.4-6

A pre va lên cia geral da acne varia entre 35% e90% nos ado les cen tes; no oci den te, é de 79% a 95%nessa mesma faixa etá ria.7 Observa-se, fre quen te men -te, que a acne aco me te 95% dos meni nos e 83% das

meni nas com 16 anos de idade e pode che gar a 100%em ambos os sexos.8-10 Seu apa re ci men to e pre va lên ciasão maio res entre os pacien tes do sexo mas cu li no,gra ças à influên cia andro gê ni ca.11,12 É doen ça que sofreimpor tan te impac to gené ti co, o qual se dá, somen te,sobre o con tro le hor mo nal, a hiper que ra ti ni za ção foli -cu lar e a secre ção sebá cea.12,13

Quanto à teo ria da asso cia ção de fato res ambien -tais e acne, o sebo tal vez seja o com po nen te mais afe ta -do. Nessa situa ção, um pos sí vel esta do hipe rin su li nê -mi co, asso cia do à pre sen ça secun dá ria do fator de cres -ci men to insu li na-sími le 1 (IGF-1), esti mu la ria a sín te sede andró ge nos por vários teci dos do corpo, os quais,sabi da men te, esti mu lam a pro du ção de sebo.3,14

Page 2: Artigo Científico - Acne e Dieta - Verdade ou Mito

Com base nos dados exis ten tes na lite ra tu ra,que ligam a acne vul gar à ali men ta ção, os auto resescre ve ram este arti go de revi são a fim de des ven daras incóg ni tas que per meiam o tema.

Indício nº 1: Obesidade e acne: não é uma ques -tão do quan to, mas do que se come

Embora sem com pro va ção con cre ta, mui taspes soas têm a impres são de que acne e obe si da de serela cio nam. Um gran de estu do ava liou 2.720 mili ta resrecru ta dos por obe si da de e acne e notou-se tal asso -cia ção ape nas em dois indi ví duos, com ida des entre20 e 40 anos, e nenhu ma asso cia ção entre os que tinham entre 15 e 19 anos. Isso suge re que a acne,numa popu la ção mais jovem, possa estar rela cio na daa outros fato res além da obe si da de e da resis tên ciainsu lí ni ca.15

Em um recen te estu do rea li za do com gêmeos,sendo 458 deles mono zi gó ti cos e 1.099 dizi gó ti cos,não houve dife ren ça sig ni fi ca ti va no qua dro de acneentre os gêmeos em rela ção ao peso, ao índi ce demassa cor po ral, aos níveis de coles te rol, aos tri gli cé ri -des e ao nível de gli co se no san gue.16

Com base nos dois tra ba lhos acima, cabe afir -mar: não é o quan to se come, mas o que se come queafeta o qua dro de acne.

Indício nº 2: Ocidentalização die té ti ca e o sur gi -men to da acne

Em um estu do no qual se ava lia ram mais de1.200 indi ví duos de duas socie da des não oci den ta li za -das (os ilhéus Kitavan, de Papua-Nova Guiné, e ospovos Ache, do Paraguai), atri bui-se a ausên cia deacne nes sas popu la ções ao seu padrão ali men tar. Emsuas die tas há, subs tan cial men te, baixo índi ce gli cê mi -co em com pa ra ção com as die tas oci den tais.7 Emestu dos epi de mio ló gi cos com a popu la ção de esqui -mós Inuit, detec tou-se que os mes mos não apre sen ta -vam tal der ma to se até a intro du ção dos hábi tos ali -men ta res oci den ta li za dos.17

Outros estu dos, rea li za dos com popu la ções que viviam em vilas de área rural, como as resi den tes doQuênia, de Zâmbia e de Bantu, no Sul da África, con cluí -ram que esses povos apre sen ta vam, sig ni fi ca ti va men te,menos acne do que seus des cen den tes que migra rampara os Estados Unidos, ou seja, a par tir do momen toda oci den ta li za ção des tes.18-20

Com tais acha dos epi de mio ló gi cos, pos tu la-se,então, que, ao con trá rio da ali men ta ção cul tu ral des sespovos, o con su mo fre quen te de car boi dra to de alto índi -ce gli cê mi co pode, repe ti da men te, expor ado les cen tes àhipe rin su li ne mia aguda que, em con se quên cia, influen ciano cres ci men to epi te lial foli cu lar, na que ra ti ni za ção e,tam bém, na secre ção sebá cea.7

Indício nº 3: Nutrição como ace le ra dor da matu -ra ção sexual e desen ca dean te da acne

A melho ra da nutri ção popu la cio nal tem sidoasso cia da à matu ra ção sexual pre co ce e ao desen vol vi -men to da acne em jovens. Estudos demons tram queado les cen tes com hábi tos de inges tão de ali men toscom baixo índi ce gli cê mi co apre sen tam atra so namenar ca, seme lhan te ao que ocor re em atle tas e bai la -ri nas.21 Em 1970, a pri mei ra menar ca ocor ria por voltados 12 anos, ao passo que, em 1835, era em torno dos16 anos de idade.22

Em um estu do de coor te lon gi tu di nal, comdura ção de cinco anos, em que foram incluí das 871meni nas, con cluiu-se que o qua dro come do nia nograve foi mais pre va len te em meni nas com menar capre co ce e com altos níveis de dii droe pian dros te ro -na.23 Demonstrou-se, tam bém, que a pre co ci da de dodesen vol vi men to da acne come do nia na pode ser o melhor pre di tor, no futu ro, da gra vi da de da doen ça. Apre va lên cia e o prog nós ti co da acne se cor re la cio namcom a matu ra ção sexual. Embora Cordain et al.7 não tenham rela ta do nada a esse res pei to, pode riam osindi ví duos de Kitavan ou Aché não apre sen tar acnedevi do à matu ra ção sexual mais tar dia, secun dá ria ao padrão ali men tar orto do xo a que os mes mos estãosujei tos?24

Indício nº 4: Influência da hipe rin su li ne mia na con -cen tra ção de andró ge nos e na pro du ção sebá cea

A hipe rin su li ne mia, por meio do aumen to dos níveis de andró ge nos, esti mu la a pro du ção sebá cea,que tem papel fun da men tal na acne. Uma res tri çãocaló ri ca extre ma dimi nui dras ti ca men te a taxa deexcre ção sebá cea, a qual se rever te com a ado ção deuma dieta nor mal.25

A hipe rin su li ne mia influen cia a con cen tra çãocir cu lan te do IGF-1 e da pro teí na liga do ra do fator decres ci men to seme lhan te à insu li na-3 (IGFBP-3), osquais agem dire ta men te na pro li fe ra ção dos que ra ti nó -ci tos e na apop to se. Em um esta do hipe rin su li nê mi co,ele vam-se as taxas de IGF-1, enquan to se dimi nui a deIGFBP-3, levan do a um dese qui lí brio que cul mi na nahiper pro li fe ra ção dos que ra ti nó ci tos.26 O IGF-1 pare ce mediar fato res come do gê ni cos, como andró ge nos,hor mô nio de cres ci men to e gli co cor ti cói des. Em estu -do huma no, demons trou-se que o andró ge no endó ge -no aumen ta os níveis séri cos de IGF-1, assim como osde IGF-1 aumen tam os de andró ge nos; esta be le ce-se,então, um cír cu lo vicio so que, em últi ma ins tân cia,acar re ta um aumen to na pro du ção de sebo.27,28

Indício nº 5: O leite como estí mu lo à acneUma exce ção à evi dên cia da dieta de alto índi ce

gli cê mi co é a inges tão de deri va dos do leite. Apesar depos suí rem baixo índi ce gli cê mi co, eles indu zem, para -

Acne e dieta: verdade ou mito? 347

An Bras Dermatol. 2010;85(3):346-53.

Page 3: Artigo Científico - Acne e Dieta - Verdade ou Mito

do xal men te, ao aumen to dos níveis de IGF-1, favo re -cen do o sur gi men to e/ou agra va men to da acne, o quepar ti cu lar men te maior quan do da inges tão de leitedes na ta do. Isso demons tra que essa asso cia ção não sedeve ao con teú do de gor du ra no leite, refor çan do ateo ria dos níveis de IGF-1.27,28

Além do poder acne gê ni co por meio do IGF-1,o leite con tém estró ge no, pro ges te ro na, pre cur so resandró ge nos (como andros te ne dio na e sul fa to de dii -droe pian dros te ro na) e este roi des 5α-redu ta se-depen -den tes (como 5α-andros te ne dio na, 5α-preg no na dio -na e dii dro tes tos te ro na), alguns dos quais estão impli -ca dos na come do gê ne se.29

O leite é enri que ci do de outras molé cu las bioa -ti vas que agem na uni da de pilos se bá cea, tais como gli -co cor ti coi des, fator de trans for ma ção de cres ci men to-β (TGF-β), pep tí deos hor mo nais seme lhan tes à tireo -tro pi na e com pos tos seme lhan tes a opiá ceos.Especula-se que o pro ces sa men to do leite des na ta doalte re a bio dis po ni bi li da de des sas molé cu las bioa ti vasou a inte ra ção das mes mas com as pro teí nas de liga -ção. Sendo assim, é pos sí vel que o balan ço dos cons -ti tuin tes hor mo nais do leite des na ta do este ja alte ra do,cul mi nan do em maior come do gê ne se.29 Além disso,para simu lar a con sis tên cia do leite inte gral, pro teí nasdo soro do leite, espe cial men te, a α-lac toal bu mi na,são acres cen ta das à fór mu la do leite des na ta do e combaixo teor de gor du ra, o que tam bém pare ce desem -pe nhar papel impor tan te na come do gê ne se.27, 28

É sabi do que a inges tão de iodo pode exa cer bara acne. Outro argu men to que ajuda a refor çar a hipó -te se da asso cia ção entre o con su mo de leite e o qua -dro de acne é a de que o iodo con ti do no leite podeestar envol vi do na etio lo gia dessa der ma to se:30 ele édecor ren te da suple men ta ção da dieta ofe re ci da aosani mais e do uso de solu ções à base de iodo nos equi -pa men tos de orde nha.31

O que ajuda a refor çar a rela ção do con teú do iodí -ni co do leite com a acne é o resul ta do de um estu do emque 1.066 ado les cen tes foram ava lia dos por meio deques tio ná rio cujo obje ti vo era deter mi nar se os níveis deiodo encon tra dos na água ou no sal podem afe tar a pre -va lên cia ou a gra vi da de da acne. A popu la ção esco lhi dahabi ta va três regiões dis tin tas da Carolina do Norte: cos -tei ra, mon ta nho sa e uma inter me diá ria. Conclui-se que,nos pacien tes que viviam na região cos tei ra, com hábi tosde maior con su mo de sal, a pre va lên cia de acne grave(cís ti ca e que evo luía para cica tri zes) foi maior. 32

Recomenda-se, por tan to, como parte fun da -men tal à tera pêu ti ca da acne, que se evite a inges tãode lati cí nios e car boi dra tos com alto índi ce gli cê mi co,pois, assim, pos tu la-se con se guir dimi nuir os níveis deIGF-1, o qual age, siner gi ca men te com a dii dro tes tos -te ro na, na uni da de pilos se bá cea de indi ví duos gene ti -ca men te pre dis pos tos.33

Indício nº 6: Evidência cor ro bo ra ti va entre ometa bo lis mo da insu li na e a acne

Acne é uma das carac te rís ti cas clí ni cas da sín -dro me do ová rio poli cís ti co (SOP), que cursa, fre -quen te men te, com obe si da de, hipe rin su li ne mia,resis tên cia à insu li na e hipe ran dro ge nis mo. Taispacien tes apre sen tam altos níveis de andró ge nos,IGF-1 e baixa con cen tra ção das glo bu li nas liga do rasaos hor mô nios sexuais (SHBG).3

Tanto a insu li na quan to o IGF-1 esti mu lam asín te se de andró ge nos ova ria no e tes ti cu lar; alémdisso, ini bem a sín te se hepá ti ca das SHBG e, por tan -to, aumen tam a bio dis po ni bi li da de dos andró ge nosteci duais cir cu lan tes. Altas con cen tra ções de andró ge -nos, insu li na e IGF-1 podem estar asso cia das com aacne da mulher adul ta.3

Os níveis de andró ge no podem ser mini mi za dospela dimi nui ção da resis tên cia à insu li na, seja pelaperda de peso, seja pelo uso de medi ca men tos. A met -for mi na e a pio gli ta zo na não ape nas dimi nuem a resis -tên cia à insu li na, mas, tam bém, redu zem os níveis dehor mô nio adre no cor ti co tró pi co, esti mu la dor deandró ge nos nas mulhe res com SOP; a cor re ção des sasalte ra ções fisio ló gi cas pode ser tera pêu ti ca nos pacien -tes com acne.33,34

Indício nº 7: Benefício clí ni co da acne com dietade baixo índi ce gli cê mi co

O meca nis mo pre ci so pelo qual o índi ce gli cê -mi co influen cia a com po si ção do sebo é des co nhe ci -do. Sabe-se que, para sin te ti zar lípi des, as glân du lassebá ceas pre ci sam de ener gia, que pode ser adqui ri dapela betao xi da ção dos áci dos gra xos e/ou pelo cata bo -lis mo da gli co se.35 Para Downine e Kaealey, o padrãode sín te se de lipí dios é man ti do pelo gli co gê nio endó -ge no, um impor tan te pro ve dor de NADPH para a sín -te se de tri gli cé ri des. Assim, é pos sí vel que a inges tãode ali men tos com baixo índi ce gli cê mi co possa alte raros esto ques de gli co gê nio nas glân du las sebá ceas,poden do ser fator limi tan te na lipo gê ne se sebá cea.35,36

Supõe-se que ali men tos com baixo índi ce gli cê -mi co influen ciem a com po si ção sebá cea por meio deefei tos meta bó li cos e/ou, secun da ria men te, dos níveishor mo nais de tes tos te ro na livre e andró ge nos.Evidências demons tram que a dieta à base de baixoíndi ce gli cê mi co pode dimi nuir os esto ques de gli co -gê nio nos teci dos cor po rais (mús cu lo e fíga do), sendofator limi tan te na lipo gê ne se sebá cea. Além disto, essadieta pode redu zir a bio dis po ni bi li da de da tes tos te ro -na e a con cen tra ção do sul fa to de dii droe pian dros te -ro na. Como a pro du ção de sebo é con tro la da pelosandró ge nos, a redu ção dos mes mos pode alte rar acom po si ção sebá cea.37

Como será visto no Indício nº 8, pres su põe-seque uma dieta de baixo índi ce gli cê mi co alte re a rela -

348 Costa A, Lage D, Moisés TA

An Bras Dermatol. 2010;85(3):346-53.

Page 4: Artigo Científico - Acne e Dieta - Verdade ou Mito

Acne e dieta: verdade ou mito? 349

An Bras Dermatol. 2010;85(3):346-53.

ção entre os áci dos gra xos monoin sa tu ra dos (Mufas)e satu ra dos (SFAs), haven do um meca nis mo pro te torcon tra a acne.37

Supõe-se, assim, que a ali men ta ção com baixoíndi ce gli cê mi co possa influen ciar a pro du ção sebá cea viamodu la ção sin cro ni za da de andró ge nos e dos esto quesde gli co gê nio, con for me demons tra do na figu ra 1.7, 35-41

O con tra pon to desta teo ria é um único estu dopubli ca do, de Kaymak,42 que mos trou que o índi ce gli -cê mi co da dieta, o peso gli cê mi co e os níveis de insu -li na não têm papel na pato gê ne se da acne dos pacien -tes jovens. Porém, tal estu do é muito cri ti ca do, pois éo único que vai na con tra mão do posi cio na men to dosestu dio sos do assun to.

Indício nº 8: Antiacnegicidade median te a modu -la ção die té ti ca do meta bo lis mo de áci dos gra xos

O sebo huma no é com pos to, prin ci pal men te, portri gli cé ri des (40%-60%), cerí deos (19%-26%), esca le no(11%-15%) e peque na quan ti da de de coles te rol e ésterde coles te rol.43-45 Presume-se que a fra ção de tri gli cé ri desdo sebo seja res pon sá vel pelo desen vol vi men to da

acne.46,47 Bactérias podem hidro li sar os tri gli cé ri des sebá -ceos,48 libe ran do áci dos gra xos que podem pene trar napare de foli cu lar e ser incor po ra dos ao meta bo lis mo daepi der me ao redor. Contudo, o efei to hiper que ra tó si copode não ser carac te rís ti ca de todos os áci dos gra xos,como suge re recen te evi dên cia de que ape nas os Mufasesti mu lam mudan ças mor fo ló gi cas, o que não é vistocom os SFAs.37

Os Mufas são com pos tos, prin ci pal men te, porácido sapiê ni co (16:1 Δ6), que pro vém da Δ6 desa tu -ra ção do ácido pal mí ti co (16:0), um ácido SFA.49 Aexpres são da Δ6-desa tu ra se e o resul tan te acú mu lo deácido sapiê ni co no sebo pare cem ser fato res impor -tan tes na lipo gê ne se sebá cea.50,51 Apoio para essa asso -cia ção sur giu da obser va ção de que ratos com defi -ciên cia da expres são Δ9-desa tu ra se, que é equi va len teà Δ6-desa tu ra se em huma nos, apre sen ta vam hiplo pla -sia de glân du las sebá ceas.52

Recentemente, demons trou-se que a apli ca çãotópi ca de áci dos gra xos insa tu ra dos induz à que ra ti ni -za ção anor mal e à hiper pla sia epi dér mi ca. Em con tras -te, os tri gli cé ri des e os SFAs não afe ta ram a mor fo lo giada pele. Além disso, os áci dos gra xos insa tu ra dosaumen ta ram a con cen tra ção de cál cio nos que ra ti nó -ci tos, tanto in vivo quan to in vitro.46 Esses resul ta dossuge rem que os áci dos gra xos insa tu ra dos pos samaumen tar a con cen tra ção de cál cio nos que ra ti nó ci -tos, cul mi nan do na que ra ti ni za ção foli cu lar anor mal.46

Posteriormente, um estu do con fir mou a teo ria deque os Mufas são, real men te, os áci dos gra xos cul pa dospela que ra ti ni za ção anor mal e hiper pla sia epi dér mi ca.Voluntários clí ni cos foram divi di dos em dois gru pos:um inge riu dieta com baixo peso gli cê mi co e o outro foiorien ta do a incluir car boi dra tos regu lar men te nas refei -ções. O pri mei ro grupo demons trou melho ra sig ni fi ca ti -va men te maior no total de lesões quan do com pa ra do aogrupo-con tro le. Embora não se tenha detec ta do umefei to da inter ven ção die té ti ca na saída do sebo ou nacom po si ção indi vi dual dos áci dos gra xos, obser vou-seaumen to da rela ção SFA/Mufa. É inte res san te obser varque essas mudan ças se cor re la cio na ram com a melho rana acne, suge rin do que a desa tu ra ção dos áci dos gra xospossa ter um papel no desen vol vi men to da acne.37

Embora os áci dos gra xos essen ciais (AGE), prin -ci pal men te, o ácido lino lei co, desem pe nhem papelimpor tan te na fisio pa to ge nia da acne, um estu do-pilo -to com uti li za ção de uma suple men ta ção die té ti ca com3g diá rios de AGE (áci dos lino lei co, lino lê ni co e gama -li no lê ni co), por três meses, não resul tou em melho raclí ni ca da acne. Entretanto, houve redu ção quan ti ta ti vado tama nho das glân du las sebá ceas, visua li za da porbióp sias cutâ neas com punch, após três meses inin ter -rup tos de uso do pro du to, o que suge re um pos sí velbene fí cio des ses pro du tos com o ajus te da dose e otempo de tera pêu ti ca.53

Dieta de baixoíndice glicêmico

Diminuição doefeito supressivona produção da

SHBG

Diminuição daprodução de

SHBG insulina-mediada

Diminuição daoxidação de car-

boidratos e da sín-tese de glicogênio

Diminuição dabiodisponibilidade

de andrógenes

Diminuição daconversão peri -

férica de DHEA-S

Diminuição da produção Sebácea

andrógeno-mediada

Diminuição daatividade da 6-

desaturase

Aumento da taxa deSFA/Mufa

Aumento da taxa 6de 16:0/16:1

Diminuição da produção Sebácea

glicogênio-mediada

Diminuição doconteúdo deglicogênio

FIGURA 1: Antiacnegicidade da dieta de baixo índice glicêmico

Adaptado e traduzido de Smith RN, Braue A, Varigos GA, Mann NJ.The effect of a low glycemic load diet on acne vulgaris and the

fatty acid composition of skin surface triglycerides. J Dermatol Sci. 2008; 50(1):41-52.

Page 5: Artigo Científico - Acne e Dieta - Verdade ou Mito

350 Costa A, Lage D, Moisés TA

An Bras Dermatol. 2010;85(3):346-53.

Um bom indí cio para a uti li za ção de uma dietarica em áci dos gra xos é o fato de que a ali men ta ção ébem conhe ci da por ser um modu la dor da res pos tainfla ma tó ria sis tê mi ca. Um dos mais impor tan tes fato -res die té ti cos que influen ciam a infla ma ção é a inges -tão rela ti va de áci dos gra xos poliin sa tu ra dos (Pufas)ω-6 e ω-3.54 A dieta oci den tal típi ca man tém con cen -tra ção sig ni fi ca ti va men te maior de ω-6, à custa demenor con cen tra ção de ω-3, por causa da pre do mi -nân cia de ω-6 na maio ria dos óleos vege tais e ali men -tos pro ces sa dos fei tos com esses óleos.54

Com base nessa evi dên cia, Kris-Etherton obser -vou que a taxa de ω-6/ω-3 é de 10:1 nas die tas oci den -ta li za das e de 2:1 a 3:1 nas não oci den ta li za das.55,56 Ocon su mo de dieta com Pufa ω-3 pode ser tera pêu ti codevi do à sua capa ci da de de supri mir a pro du ção decito ci nas infla ma tó rias. Isso é visto na inges tão suple -men tar de áci dos gra xos ω-3, a qual demons tra supri -mir IL-1β,57-60 IL-1α,57-62, fator de necro se tumo ral-α,57-62

IL-6,58,60,62 e IL-8.62 A supres são de IL-1α pela dieta comω-3 pode influen ciar posi ti va men te a dife ren cia ção doscor neó ci tos pela pre ven ção ou ate nua ção da hiper cor -ni fi ca ção que ocor re duran te a micro co me do gê ne se.59

Indício nº 9: Papel pro te tor de uma dieta rica emzinco e vita mi na A

Por longo tempo, vita mi na A e zinco têm seu usodifun di do e pro te gi do por vários auto res no tra ta men -to da acne, por seus res pec ti vos efei tos ini bi do res nacome do gê ne se.63 Tal bene fí cio foi rejei ta do por muitotempo, até que Michaëlsson64 rea li zou um estu do naten ta ti va de pro var o efei to bené fi co da vita mi na A e dozinco na acne. Realizou-se aná li se das con cen tra çõessan guí neas de pro teí na liga do ra do reti nol (o reti nol,em últi ma aná li se, pro vém do meta bo lis mo teci dual davita mi na A inge ri da na dieta) e de zinco em 173 pacien -tes com acne e em grupo-con tro le. Os pacien tes comacne reve la ram níveis infe rio res de ambos e estes erammeno res ainda nos que apre sen ta vam acne grave. Talacha do, por tan to, con fir ma o papel rele van te da vita mi -na A e do zinco na etio lo gia da acne.

Outro dado notó rio, que subs tan cia tal rela ção,é o fato de que die tas com bai xos teo res de zinco pio -ram ou ati vam a acne, espe cial men te, com rea çõespus tu lo sas. Tal situa ção é obser va da em diver sos rela -tos de exa cer ba ção da acne com admi nis tra ção dedieta paren te ral com bai xos teo res de zinco.65

Indício nº 10: Chocolate – um ino cen te equi vo ca -da men te cul pa do?

Chocolate tem sido espe cial men te incri mi na docomo fator agra van te no qua dro de acne. Pacientesrefe rem, com fre quên cia, o sur gi men to de pús tu lasapós pou cos dias da inges tão de tal ali men to.44 Poresse moti vo, mui tos nos pro cu ram em nos sos con sul -

tó rios, cobran do-nos uma posi ção cien tí fi ca a res pei -to. O que dizer, então?

Em 1969, 65 indi ví duos foram sub me ti dos àinges tão diá ria de uma barra de 112 gra mas de cho co -la te, rica em licor de cho co la te e man tei ga de cacau,por qua tro sema nas; após esse perío do, tro ca va-se oregi me por barra-con tro le, de mesmo peso, sem licorde cho co la te e man tei ga de cacau, por mais qua trosema nas. As lesões foram clas si fi ca das no iní cio e nofinal do estu do em três cate go rias: pio ra das (as lesõesaumen ta ram em 30% no final do estu do), melho ra das( lesões dimi nuí ram em 30% no final do estu do), inal -te ra das (as lesões se modi fi ca ram menos de 30%).Como não houve dife ren ça sig ni fi can te entre inges tãodas bar ras de cho co la te e das bar ras-con tro le nas trêscate go rias de clas si fi ca ção das lesões, os auto res con -cluí ram que “a inges tão de gran des quan ti da des decho co la te não inter fe re no curso da acne vul gar ou nacom po si ção do sebo”.1

Para Cordain et al.,3 o estu do acima faz uma con -clu são equi vo ca da. Na barra-con tro le, o cacau, na formade man tei ga e licor, foi subs ti tuí do por gor du ra vege talhidro ge na da (28% do peso). Além do mais, tanto a barramodi fi ca da quan to a barra-con tro le apre sen ta vam altascon cen tra ções de sucro se (53% e 44,3% do peso, res -pec ti va men te), o que pre dis põe à hiper gli ce mia e àinsu li ne mia, fato res envol vi dos no meca nis mo dedesen vol vi men to de acne. Logo, para esses auto res,3 oresul ta do do estu do não pode gene ra li zar e pres su porque o cho co la te não está asso cia do à acne, já que, na suamanu fa tu ra, estão incluí dos outros ingre dien tes quepode riam estar impli ca dos na etio lo gia da acne.

Em outro estu do, con du zi do por Anderson,2

pacien tes que diziam não tole rar inges tão de cho co la -te, por pio rar o seu qua dro acnei co, foram sele cio na -dos. Tais pacien tes fize ram inges tão de gran de quan ti -da de de cho co la te por sete dias con se cu ti vos e nenhu -ma modi fi ca ção na quan ti da de ou qua li da de da acnefoi nota da. Infelizmente, nenhu ma con ta gem de lesãopré-expe ri men tal ou pós-expe ri men tal foi rela ta da,não houve grupo-con tro le nem aná li se esta tís ti ca doestu do e, em com pa ra ção com o estu do de refe rên cia,o tempo de aná li se de inges tão de cho co la te foi muitoredu zi do (uma e qua tro sema nas, res pec ti va men te).

Embora com con clu sões dis pa ra ta das, a teo ria darela ção da acne com o cho co la te é quase que total men -te con fir ma da pelos acha dos clí ni cos obti dos por estu -dos bem dese nha dos e con du zi dos com exce lên cia porgru pos de estu dos em nutri ção e nutro lo gia.

Em um estu do rea li za do por cien tis tas aus tra lia -nos, com pa rou-se o per fil plas má ti co após a inges tãode ali men tos à base de cho co la te com os mes mos ali -men tos sem esse pro du to. Surpreendentemente,detec tou-se um aumen to na insu li ne mia pós-pran dialem adul tos jovens magros que fize ram uso dos pro du -

Page 6: Artigo Científico - Acne e Dieta - Verdade ou Mito

Acne e dieta: verdade ou mito? 351

An Bras Dermatol. 2010;85(3):346-53.

tos acho co la ta dos (média 28% maior); os maio resíndi ces ocor re ram com o leite acho co la ta do (média48% maior que o leite não acho co la ta do) e com osenri que ci dos com cho co la te negro, em com pa ra çãocom o bran co (13% maior).66

A expli ca ção para os acha dos do grupo aus tra -lia no pode ser o fato de que o cho co la te é rico emcom pos tos bio lo gi ca men te ati vos, como cafeí na, teo -bro mi na, sero to ni na, feni le ti la mi na, tri gli cé ri des e áci -dos gra xos cana bioi des-like, os quais aumen tam asecre ção, bem como a resis tên cia peri fé ri ca à insu li -na.67,68 Além disso, os ami noá ci dos pre sen tes no cho co -la te (como a argi ni na, a leu ci na e a feni la la ni na) sãoextre ma men te insu li no tró pi cos quan do inge ri dos comcar boi dra tos;69,70 outros ami noá ci dos (vali na, lisi na eiso leu ci na), encon tra dos em outros tipos de ali men -tos, prin ci pal men te, os ricos em lac to se, podem gerar,tam bém, tal com por ta men to plas má ti co.71

Com base no expos to acima, não seria imper ti -nên cia suge rir que a inges tão de ali men tos à base decho co la te pode, sim, ter rela ção com o qua dro clí ni coda acne vul gar. Um dado rele van te mere ce ser res sal -ta do: as bar ras de cho co la te comer ciais, espe cial men -te, as que apre sen tam teor lác teo ele va do, têm gran -des quan ti da des de car boi dra tos (açú ca res refi na dos,por tan to, pos suem ele va do índi ce gli cê mi co), osquais aumen tam as taxas plas má ti cas pós-pran diais deIGF e da pro teí na liga do ra de IGF (IGFBP), assu min -do, tam bém, um per fil insu li no tró pi co.3,26-29,33,71,72 Aos

que se con ven ce ram do papel come do gê ni co dos ali -men tos com alto índi ce gli cê mi co fica a suges tão deobser var.

CON CLU SÃONos últi mos 37 anos, mui tos estu dos foram rea -

li za dos sobre a influên cia da dieta na pato gê ne se daacne, com indí cios de que a ali men ta ção, de fato,pode influen ciar o qua dro dessa der ma to se.73 Noentan to, faz-se neces sá ria a publi ca ção de estu dosinter ven cio nis tas, ran do mi za dos, com grupo-con tro -le, duplo-cego, nos quais se ava liem múl ti plos fato resnutri cio nais.

Como ponto de par ti da, preo cu pa dos emdetec tar a influên cia do padrão ali men tar sobre a acnevul gar, há uma ten dên cia a tes tar hábi tos ali men ta resde povos não oci den ta li za dos que, sabi da men te, nãotêm acne.17-20,32 Em seus padrões ali men ta res, não seencon tram ali men tos pro ces sa dos, lati cí nios, açú ca rese óleos refi na dos, sendo eles à base, prin ci pal men te,de ali men tos fres cos, fru tas, vege tais, carne, fran go efru tos do mar gre lha dos.17-20,32

Com base nos recen tes rela tos cien tí fi cos, umaafir ma ção vem se tor nan do cada vez mais acei ta: hámenor inci dên cia de acne em socie da des não oci den ta li -za das, que é aumen ta da quan do da ado ção de die tas oci -den tais. Portanto, pare ce aos auto res deste estu do quefato res étni cos não são os úni cos impli ca dos na etio lo giada acne, refor çan do a hipó te se dessa rela ção.7 ❑

REFERÊNCIAS1. Fulton JE, Plewig G, Kligman AM. Effect of chocolate

on acne vulgaris. JAMA. 1969;210:2071-4.2. Anderson PC. Foods as the cause of acne. Am Fam

Physician. 1971;3:102-3.3. Cordain L. Implications for the role of diet in acne.

Semin Cutan Med Surg. 2005;24:84-91.4. Winston MH, Shalita AR. Acne vulgaris. Pathogenesis

and treatment. Pediatr Clin North Am. 1991;38:889-903.

5. Steiner D. Acne na mulher. Rev Bras Med. 2002;59:135-9.6. Steiner D, Bedin V, Melo JSJ. Acne vulgar. Rev Bras

Med. 2003;60:489-95.7. Cordain L, Lindeberg S, Hurtado M, Hill K, Eaton SB,

Brand-Miller J. Acne vulgaris: a disease of Western civilization. Arch Dermatol. 2002;138:1584-90.

8. Stathakis V, Kilkenny M, Marks R. Descriptive epidemiology of acne vulgaris in the community. Australas J Dermatol. 1997;38:115-23.

9. Namazi MR. Further insight into the pathomecanism of acne by considering the 5-alpha-reductase inhibitory effect of linoleic acid. Int J Dermatol. 2004;43:701-2.

10. Burton JL. Dietary fatty acids and inflammatory skin disease. Lancet. 1989;1:27-31.

11. Dreno B, Poli F. Epidemiology of acne. Dermatology. 2003;206:7-10.

12. Sobral Filho JF, Nunes Maia HGS, Fonseca ESVB, Damião RS. Aspectos epidemiológicos da acne vulgar em universitários de João Pessoa - PB. An Bras Dermatol. 1993;68:225-8.

13. Sobral Filho JF, Silva CNA, Rodrigues JC, Rodrigues JLTD, Aboui-Azouz M. Avaliação da herdabilidade e concordância da acne vulgar em gêmeos. An Bras Dermatol. 1997;72:417-20.

14. Edmondson SR, Thumiger SP, Werther GA, Wraight CJ. Epidermal homeostasis: the hole of the growth hormone and insulin-like growth factor systems.

Page 7: Artigo Científico - Acne e Dieta - Verdade ou Mito

352 Costa A, Lage D, Moisés TA

An Bras Dermatol. 2010;85(3):346-53.

Endocr Rev. 2003;24:737-64.15. Bourne S, Jacobs A. Observations on acne, seborrhea,

and obesity. Br Med J. 1956;1:1268-70.16. Wolf R, Matz H, Orion E. Acne and diet. Clinics in

dermatology. 2004;22:387-93.17. Schaefer O. When the Eskimo comes to town. Nutr

Today. 1971;6:8- 16.18. Verhagen A, Koten J, Chaddah V, Patel RI. Skin diseases

in Kenya. A clinical and histopathological study of 3,168 pacients. Arch Dermatol. 1968;98:577-86.

19. Ratnam A, Jayaraju K. Skin disease in zambia. Br J Dermatol. 1979;101:449-53.

20. Park R. The age distribuition of common skin disorden in the Bantu of Pretoria, Transvaal. Br J Dermatol. 1968;80:758-61.

21. Frisch R, Wyshak G, Vicent L. Delayed menarche and amenorrhea in ballet dancers. N England J Med. 1980;303:17-19.

22. Frisch R. Weight at menarche: similarity for well- nourished and undernourished girls at differing ages, and evidence for historical constancy. Pediatrics. 1972;50:445-50.

23. Lucky AW, Biro FM, Huster GA, Leach AD, Morrison JA, Ratterman J. Acne vulgaris in prememarchal girls. Arch Dermatol. 1994;130:308-14.

24. Thiboutot DM, Strauss JS. Diet and acne revisited. Arch Dermatol. 2002;138:1591-2.

25. Downing D, Strauss J, Pochi P. changes in skin surface lipid composition induced by severe caloric restriction in man. Am J Clin Nutr. 1972;25:365-7.

26. Ludwig DS. The glycemic index: physiological mechanism relating to obesity, diabetes, and cardiovascular disease. JAMA. 2002;8:2414-23.

27. Adebamowo CA, Spiegelman D, Danby FW, Frazier AL, Willett WC, Holmes MD. High school dietary dairy intake and teenage acne. J Am Acad Dermatol. 2005;52:207-14.

28. Adebamowo CA, Spiegelman D, Berekey CS, Danby FW, Rockett HH, Colditz GA, et al. Milk consumption and acne in adolescents girls. Dermatol Online J. 2006;3012:1.

29. Danby FW. Acne and milk, the diet myth, and beyond. J Am Acad Dermatol. 2005; 52:360-2.

30. Hitch JM. Acneiform eruptions induced by drugs and chemicals. JAMA. 1967; 200:879-80.

31. Pennington JAT. Iodine concentrations in US milk: variation due to time, season, and region. J Dairy Sci. 1990;73:3421-7.

32. Hitch JM, Greenburg BG. Adolescent acne and dietary iodine. Arch Dermatol. 1961;84:898-911.

33. Arslanian SA, Lewy V, Danadian K, Saad R. Metformin therapy in obese adolescents with polycystic ovary syndrome and impaired glucose tolerance: amelioration of exaggerated adrenal response to adrenocorticotropin with reduction of insulinemia/insulin resistance. J Clin Endocrinol Metab. 2002;87:1555-9.

34. Guido M, Romualdi D, Suriano R, Giuliani M, Costantini B, Apa R, et al. Effect of pioglitazone treatment on the adrenal androgen response to

corticotrophin in obese patients with polycystic ovary syndrome. Hum Reprod. 2004;19:534-9.

35. Downie M, Guy R, Kealey T. Advances in sebaceous gland research: potential new approaches to acne management. Int J Cos Sci. 2004;26:291-311.

36. Downie M, Kealey T. Human sebaceous glands engage in aerobic glycolysis and glutaminolysis. Br J Dermatol. 2004;151:320-7.

37. Smith RN, Braue A, Varigos GA, Mann NJ. The effect of a low glycemic load diet on acne vulgaris and the fatty acid composition of skin surface triglycerides. J Dermatol Sci. 2008;50:41/52.

38. Downie M, Kealey T. Human sebaceous glands engage in aerobicglycolysis and gutaminolysis. Br J Dermatol. 2004;151:320-7.

39. Brand Miller J, Holt S, Pawlak D, McMillan J. Glycemic index and obesity. Am Clin Nutr. 2002;76(Suppl 2):2815-55.

40. Kiens B, Richter E. Types of carbohydrate in an ordinary diet affect insulin action and muscle substrates in humans. Am Clin Nutr. 1996;63:47-53.

41. Treloar V, Logan AC, Dandy FW, Cordain L, Mann NJ. Comment on acne and glycemic index. J Am Acad Dermatol. 2008;58:175-7.

42. Kaymak Y, Adisen E, Ilter N, Bideci A, Gurler D, Celik B. Dietary glycemic index and glucose, insulin, insulin-like growth factor-I, insulin-like growth factor binding protein 3, and leptin levels in patients with acne.J Am Acad Dermatol. 2007;57:819-23.

43. Downing D, Strauss J, Pochi P. Variability in the chemical composition of human skill surface lipids. J Invest Dermatol. 1969;53:322-7.

44. Kellum R. Human sebaceous gland lipids. Arch Derrnatol. 1967;95:218-20.

45. Greehen R, Downing D, Pochi P, Strauss J. Anatomical variation in the amount and composition of human skin surface lipid. J Invest Dermatol. 1970;54:240-7.

46. Katsuda Y, lida T, Inomala S, Denda M. Unsatured fatty acids induce calium inlux into keratinocytes and cause abnormal differentiation of epidermis. J. Invest Dermatol. 2005;124:1008-13.

47. Nicolaides N. Skin lipids: their biochemical uniqueness. Science. 1974;62:332-5.

48. Shalita A. Genesis of free fatty. J Invest Dermatol. 1974;62:332-5.

49. Stewart M, Grahek M, Cambier L, Wertz P, Downing D. Dilutional effect of increased sebaceous gland activity on the proportion in linoleic acid in sebaceous was esters in epidermal acylceramids. J Invest Dermatol. 1986;87:733-6.

50. Mac Donald I. Changes in the fatty acid composition of sebum associated with high carbohydrates diets. Nature. 1964;203:1067-8.

51. Mac Donald I. Dietary carbohydrates and skin lipids. Br J Dermatol. 1967;79:119-21.

52. Zheng Y, Eilertsen K, Ge L, Zhang L, Sundberg J, Prouty S, et al. Scd1 is expressed in sebaceous glands and is disrupet in the asebia mouse. Nat Genet. 1999;23:268-70.

53. Costa A, Alchorne M, Michalany N, Lima H. Acne vulgar:

Page 8: Artigo Científico - Acne e Dieta - Verdade ou Mito

Acne e dieta: verdade ou mito? 353

An Bras Dermatol. 2010;85(3):346-53.

estudo piloto de avaliação do uso oral de ácidos graxos essenciais por meio de análises clínica, digital e histopatológica. An Bras Dermatol. 2007;82:129-34.

54. Simopoulos AP. Omega-3 fatty acids in inflammation and autoimmune diseases. J Am Coll Nutr. 2002;21:495-505.

55. Kris-Etherton PM, Taylor DS, Yu-Poth S, Huth P, Moriarty K, Fishell V, et al. Polyunsaturated fatty acids in the food chain in the United States. Am J Clin Nutr. 2000;71(Suppl):179S-88S.

56. Cordain L, Watkins BA, Florant GL, Kelher M, Rogers L, Li Y. Fatty acid analysis of wild ruminant tissues: evolutionary implications for reducing diet-related chronic disease. Eur J Clin Nutr. 2002;56:181-91.

57. Endres S, Ghorbani R, Kelley VE, Georgilis K, Lonnemann G, van der Meer JW, et al. The effect of dietary supplementation with n-3 polyunsaturated fatty acids on the synthesis of interleukin-1 and tumor necrosis factor by mononuclear cells. N Engl J Med. 1989;320:265-71.

58. Meydani SN, Endres S, Woods MM, et al: Oral (n-3) fatty acid supplementation suppresses cytokine production and lymphocyte proliferation: comparison between young and older women. J Nutr. 1991;121:547-55.

59. James MJ, Gibson RA, Cleland LG. Dietary polyunsaturated fatty acids and inflammatory mediator production. Am J Clin Nutr. 2000;71:343S-8S.

60. Mayer K, Meyer S, Reinholz-Muhly M, Maus U, Merfels M, Lohmeyer J, et al. Short-time infusion of fish oil-based lipid emulsions, approved for parenteral nutrition, reduces monocyte proinflammatory cytokine generation and adhesive interaction with endothelium in humans. J Immunol. 2003;171:4837-4843.

61. Zhao Y, Joshi-Barve S, Barve S, Chen LH. Eicosapentaenoic acid prevents LPS- induced TNF-alpha expression by preventing NF-kappaB activation. J Am Coll Nutr. 2004;23:71-78.

62. Trebble T, Arden NK, Stroud MA, et al: Inhibition of tumour necrosis factor- alpha and interleukin 6 production by mononuclear cells following dietary fish-oil supplementation in healthy men and response to antioxidant co-supplementation. Br J Nutr. 2003;90:405-12.

63. Michaëlsson G. Diet and acne. Nutr Rev. 1981;39:104-6. 64. Michaëlsson G, Juhlin L, Vahlquist A. Effect of Oral Zinc

and Vitamin A in Acne. Arch. Dermatol. 1977;113:312-36.

65. van Vloten WA, Bos LP. Skin lesions in acquired zinc deficiency due to parenteral nutrition. Dermatologica.1978;156:175-83.

66. Brand-Miller J, Holt SHA, de Jong V, Petocz P. Cocoa powder increases postprandial insulinemia in lean young adults. J Nutr. 2003;133:3149-52.

67. Herraiz T. Tetrahydro-_-carbolines, potential neuroactive alkaloids, in chocolate and cocoa. J Agric Food Chem. 2000;48:4900-4.

68. Bruinsma K, Taren D. Chocolate: food or drug? J Am Diet Assoc. 1999;99:1249-56.

69. van Haeften T, Voetberg G, Gerish J, van der Veen E. Dose-response characteristics for arginine-stimulated insulin secretion in man in influence of hyperglycemia. J Clin Endocrinol Metab. 1989;69:1059-64.

70. van Loon L, Saris W, Verhagen H, Wagenmakers AJM. Plasma insulin responses after ingestion of different amino acid or protein mixtures with carbohydrate. Am J Clin Nutr. 2000;72:96-105.

71. Nilsson M, Stenberg M, Andres HF, Holst JJ, Björck IME. Glycemia and insulinemia in healthy subjects after lactose-equivalent meals of milk and other food proteins: the role of plasma amino acids and incretins. Am J Nutr. 2004;80:1246-53.

72. Brand-Miller JC, Liu V, Petocz P, Baxter RC. The glycemic index of foods influences postprandial insulin-like growth factor-binding protein responses in lean young subjects. Am J Clin Nutr. 2005;82:350-4.

73. Costa A, Alchorne MMA, Goldschmidt MCB. Fatores etiopatogênicos da acne vulgar. An Bras Dermatol. 2008;83:451-9

Como citar este artigo/How to cite this article: Costa A, Lage D, Moisés TA. Acne e dieta: verdade ou mito? AnBras Dermatol. 2010;85(3):346-53.

Endereço para correspondência / Mailing Address:Adilson CostaRua Original, 219 - Vila Madalena05435 050 São Paulo - SP

Tel./Fax: 11 3034 1170 11 3034 1932e-mail: [email protected]

Page 9: Artigo Científico - Acne e Dieta - Verdade ou Mito

An Bras Dermatol. 2012;87(5):806.

806 Correspondência

Dear Dr. Ana Maria Tchornobay,In reference to the comments made, in para-

graph 7, page 267, and in figure 1, changes such asonycholisis, splinter hemorrhages, subungueal hyper-keratosis and oil drop originate in the nail bed; otherchanges originate in the nail matrix. I’d like to kindlyrequest that the readers reconsider the errata in refe-rence to this paragraph and figure. However, I agree

Reply

Maira Mitsue Mukai 1

1 Assistant Professor of Dermatology, Federal University of Parana (UFPR) – Curitiba (PR), Brazil.

©2012 by Anais Brasileiros de Dermatologia

that the term nail bed, rather than nail plate, is moreappropriate. I’d like to thank you for pointing thisout, which led to the correction of the mistake.

Sincerely,Maira Mitsue Mukai

ErratumErrata

This erratum refers to the article Acne and diet:truth or myth? An Bras Dermatol. 2010;85(3):346-53.Figure 1 was published without the subtitle. Followsthe missing information:

Adapted and translated from Smith RN, BraueA, Varigos GA, Mann NJ. The effect of a low glycemicload diet on acne vulgaris and the fatty acid composi-tion of skin surface triglycerides. J Dermatol Sci.2008;50(1):41-52.