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INSTITUTO DE CONTROLE DO ESPAÇO AÉREO DIVISÃO DE ENSINO ARTIGO CIENTÍFICO LEVANTAMENTO ESTATÍSTICO DO IMPACTO DA FUMAÇA NAS OPERAÇÕES AÉREAS DO AERÓDROMO DE PORTO VELHO, DURANTE OS MESES DE AGOSTO E SETEMBRO, NO PERÍODO DE 2003 A 2012. Título do Trabalho ALEX BRITO DE MELO 2º Ten QOEMet NOME DO ALUNO PAULO ROBERTO BASTOS DE CARVALHO MAJ QOEMet NOME DO ORIENTADOR CLIMATOLOGIA LINHA DE PESQUISA MET001/13 Curso e Ano

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INSTITUTO DE CONTROLE DO ESPAÇO AÉREO

DIVISÃO DE ENSINO

ARTIGO CIENTÍFICO

LEVANTAMENTO ESTATÍSTICO DO IMPACTO DA FUMAÇA NAS

OPERAÇÕES AÉREAS DO AERÓDROMO DE PORTO VELHO,

DURANTE OS MESES DE AGOSTO E SETEMBRO, NO PERÍODO

DE 2003 A 2012.

Título do Trabalho

ALEX BRITO DE MELO – 2º Ten QOEMet

NOME DO ALUNO

PAULO ROBERTO BASTOS DE CARVALHO – MAJ QOEMet

NOME DO ORIENTADOR

CLIMATOLOGIA

LINHA DE PESQUISA

MET001/13

Curso e Ano

2

ARTIGO CIENTÍFICO

LEVANTAMENTO ESTATÍSTICO DO IMPACTO DA FUMAÇA NAS

OPERAÇÕES AÉREAS DO AERÓDROMO DE PORTO VELHO,

DURANTE OS MESES DE AGOSTO E SETEMBRO, NO PERÍODO DE

2003 A 2012.

TÍTULO

CLIMATOLOGIA

LINHA DE PESQUISA

01/JULHO/2013

DATA

MET001/2013

CURSO

Este documento é o resultado dos trabalhos do aluno do Curso de

Especialização em Meteorologia Aeronáutica do ICEA. Seu conteúdo reflete a

opinião do autor, quando não for citada a fonte da matéria, não representando,

necessariamente, a política ou prática do ICEA e do Comando da Aeronáutica.

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RESUMO

Devido às queimadas na região de Porto Velho, foi necessário fazer um levantamento da influência da fumaça na operacionalidade do aeródromo de Porto Velho (SBPV). Desta forma, buscou-se fazer um levantamento estatístico da ocorrência de fumaça em um período de amostragem de dez anos (2003-2012). Desse levantamento constatou-se que o mês de agosto e setembro concentram os maiores registros desse fenômeno. Pela coleta de informação de visibilidade e de tempo presente do METAR de SBPV, foram identificados a visibilidade média de 3400 m nas horas sob a influência de fumaça. Quanto ao impacto operacional, verificou-se que em 63% das horas o aeródromo operou por instrumentos e em 3,8% se manteve fechado (operações suspensas). Logo, a fumaça por ser considerada uma prática antropogênica, é classificada, portanto, como um fenômeno imprevisível, que compromete a segurança de pousos e decolagens, o gerenciamento e a economia de voo. Palavras-Chave: Fumaça. Visibilidade. Operacionalidade

ABSTRACT

Due to the burned in the region of Porto Velho, was necessary to survey the influence of smoke on the operation of the aerodrome Porto Velho (SBPV). Therefore, we sought to make a statistical survey of the occurrence of smoke in a ten-year sample period (2003-2012). In this survey it was found that the month of August and September concentrated the highest records of this phenomenon. By information collection of visibility and present time in the METAR SBPV, were identified a visibility average of 3400 m in the hours under the influence of smoke. As for the operational impact, it was verified that 63% of the hours the aerodrome has operated by instruments and 3,8% remained closed (suspended operations). Therefore, it is considered the smoke an anthropogenic practice and it classified as an unpredictable phenomenon, that compromises security, at takeoffs and landings, management and the economy of flight. Keywords: Smoke. Visibility. Operability

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1. INTRODUÇÃO

Anualmente são queimados milhares de hectares de floresta por todo país,

atingindo os céus com espessas camadas de fumaça. No período de seca esse

problema se agrava, pois as chuvas nesta época do ano ficam abaixo da média. Tal

período de ocorrência coincide com o período de inverno e início da primavera,

apresentando predomínio de condições de forte estabilidade atmosférica,

propiciando condições favoráveis para a permanência da fumaça. O problema se

repete principalmente nos meses de agosto e setembro, bimestre em que ocorre um

aumento no número de queimadas registradas na região norte do país, segundo o

site de pesquisas Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Na figura 1, observa-se a quantidade de precipitação nos meses de agosto e

setembro, do período de 2003 a 2012 caracterizando um período mais seco com

baixo índice pluviométrico quando comparado aos outros meses do ano. Esses

dados de precipitação foram disponibilizados pelo ICEA e são oriundos de registros

meteorológicos de superfície do aeródromo de Porto Velho.

Fig. 1 – Gráfico de precipitação mensal Fonte: ICEA

O material particulado presente na fumaça associado a outros gases, como o

dióxido de carbono, intensifica e torna o ar mais denso e menos transparente a luz

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solar. Na figura 2, pode-se observar a ocorrência da fumaça na área urbana da

cidade de Porto Velho com características bem marcantes para esse tipo de

fenômeno.

Fig. 2 - Foto da ocorrência de fumaça no centro urbano de Porto Velho Fonte: http://www.gentedeopiniao.com.br/fotos/Image/fumacaRO.jpg (acesso em: 04 de abril de 2013)

A inserção de grande quantidade de fumaça na atmosfera impacta na

operacionalidade de aeroportos influenciando setores importantes do país, como o

transporte aéreo. A fumaça age como um obscurecedor de visibilidade que restringe

significativamente as operações do aeródromo, trazendo transtornos aos pousos e

decolagens das aeronaves, ocasionando atrasos e até mesmo cancelamentos. Esse

fenômeno restritor de visibilidade impacta as operações aéreas e ainda não tem a

mesma importância e relevância acadêmica que o nevoeiro, porém, sua

persistência, intensidade e consequências fazem com que mereça ser mais

investigada pela comunidade científica.

Com isso, a motivação do presente trabalho decorre da necessidade de se

verificar por meio de um levantamento estatístico o impacto da fumaça nas

operações aéreas do aeródromo de Porto Velho, para um período de dez anos (2003

a 2012). Cabe ressaltar, que aeroporto da cidade de Porto Velho tem sua

importância, pois é considerado o 3º mais movimentado da região norte. Essa

movimentação se deve ao tráfego de aeronaves civis, e bem como as militares, que

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pela existência da Base Aérea de Porto Velho, presta fundamental apoio às

fronteiras do país.

Fig. 3 – Vista aérea do Aeroporto Internacional de Porto Velho Fonte: http://maps.google.pt (acesso em: 25 de abril de 2013)

A visibilidade horizontal é um parâmetro registrado em Estações

Meteorológicas de Superfície (EMS), localizadas em aeródromos, com o objetivo de

garantir segurança aos procedimentos de aproximação, pouso e decolagem.

Quando há restrição de visibilidade horizontal à superfície, principalmente sobre as

pistas do aeródromo, as operações de pouso e decolagem ficam comprometidas,

principalmente quando atinge os valores mínimos de operação de pouso ou

decolagem.

A redução da visibilidade pode ser reconhecida como um indicador de

poluição do ar, sendo que, tal parâmetro meteorológico tem no espalhamento da

radiação óptica seu determinante primário, segundo McCartney et al (1976, apud

ANDRADE, 2001).

Já segundo Iqbal (1983, apud ANDRADE, 2001), os aerossóis são partículas

sólidas ou líquidas que permanecem suspensas no ar e movimentam-se até certos

níveis da atmosfera. Tais partículas podem ser de origem terrestre (decorrentes de

fumaça industrial, poeira, erupção vulcânica, fogos em florestas, etc.), oceânica e

extraterrestre.

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Ambos os autores acima citam os aerossóis, um salientando sobre a sua

origem e outro os caracterizando como um indicador de poluição do ar e restritor de

visibilidade. Portanto, nota-se que a visibilidade horizontal está estreitamente

relacionada com os aerossóis independente de sua origem.

Nesse estudo, foram focados os meses de agosto e setembro, pois segundo

levantamento estatístico do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),

nesses meses é que se concentram o maior número de casos de focos de incêndio.

Na figura 4, pode ser observada uma estatística com a comparação mês a mês do

período de 2006 a 2013 do total de focos ativos no Brasil, conforme as informações

fornecidas no site do INPE. É importante observar, que há uma correlação das

figuras 1 e 4, principalmente para região norte, pois o predomínio de focos de

incêndio em agosto e setembro coincide com o período de menor índice

pluviométrico na região, figura 1, com exceção de agosto e setembro de 2009 que

apresentou um índice pluviométrico acima da média para o mesmo bimestre nos

anos anteriores.

Fig. 4 – Número de focos de incêndio ativos no Brasil Fonte: http://www.inpe.br/queimadas/estatisticas.php

Em uma primeira investigação dos dados de Porto Velho, é possível se ter

uma visão do comportamento climatológico da operacionalidade do aeródromo

tendo como base as normais climatológicas de visibilidade no período de 1988 a

1997. Na figura 5, observou-se que as maiores ocorrências de mínimos

meteorológicos para voo visual em função da visibilidade restrita ocorreram nos

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meses de agosto e setembro corroborando também com a correlação já existente

entre o elevado número de focos ativos (figura 4) e o baixo índice pluviométrico

(figura 1) para o bimestre. É importante frisar, que nem todas as ocorrências de

visibilidade restrita mostradas na figura 5 se confirmam em função da fumaça,

porém, as figuras 1 e 4 dão indícios que o tempo presente predominante para o

bimestre em estudo é a fumaça.

Fig. 5 - Ocorrências de mínimos meteorológicos para voo visual no Aeródromo de Porto Velho Fonte: ICEA

Nesse trabalho, foram verificadas todas as observações de superfície de

Porto Velho (METAR), nos meses de agosto e setembro para o período de 2003 a

2012, com o intuito de verificar e analisar as horas de ocorrência de fumaça e

estimar seu impacto na operacionalidade do aeródromo de Porto Velho.

1.1 Objetivo geral

- Determinar a frequência de ocorrência de fumaça, registrados em boletins

meteorológicos para a aviação - METAR, no aeródromo, por meio de um

levantamento estatístico objetivando a determinação de quanto a fumaça impacta as

operações de pousos e decolagens.

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1.2 Questão Norteadora

- No período de 2003 a 2012 houve ocorrência de fumaça no aeródromo de Porto

Velho que impactasse as operações aéreas (pousos e decolagens)?

1.3 Objetivos Específicos

- Coletar dados observacionais de superfície (METAR) como visibilidade e tempo

presente (fumaça) do aeródromo de Porto Velho, no período de 2003 a 2012;

- Analisar uma série histórica de informações meteorológicas (METAR) dos meses

de agosto e setembro, no período de 2003 a 2012 associando o impacto às

operações de pousos e decolagens no aeródromo de Porto Velho, provenientes da

ocorrência de fumaça;

- Analisar os valores de visibilidade durante os eventos de fumaça comparando-os

com os parâmetros de operação (instrumento e fechado) do aeródromo de Porto

Velho;

1 REFERENCIAL TEÓRICO

Para o referido trabalho, foram consideradas Cartas de Aproximação por

Instrumentos (IAC) do aeródromo de Porto Velho com intuito de se identificar os

parâmetros para operação Very High Frequency Omnirange (VOR), Instrument

Landing System (ILS) e fechamento do aeródromo. Neste trabalho, considerou-se o

aeródromo como categoria A com todos os equipamentos pertinentes em

funcionamento. No caso do aeródromo de Porto Velho, a operação é considerada

visual quando a visibilidade é maior ou igual a 5000 m, ou seja, nesse caso o piloto

não depende dos instrumentos da pista para manobras de pouso e decolagem. Já

para a operação por instrumentos (VOR), ocorre quando a restrição de visibilidade

se mantém entre os valores ≥ 1600 m e < 5000 m, nesse caso, portanto, o piloto

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depende dos auxílios dos instrumentos da pista para manobras de aproximação de

pouso e decolagem. Contudo, quando aos valores de visibilidade estão entre ≥ 1200

m e < 1600 m , a operação do aeródromo passa a ser operacionalizada pelo ILS. O

ILS constitui um sistema baseado na transmissão de sinais de rádio que são

recebidos, processados e apresentados nos instrumentos de bordo. A aproximação

ILS é também chamada de “Aproximação de Precisão” (Precision Approach), por

contar com as informações do localizador em VHF (Very High Frequency) e do Glide

Slope em UHF (Ultra High Frequency), fornecendo informações para o alinhamento

com o eixo da pista e com a trajetória correta de planeio para o pouso. Apesar de

ser um equipamento de grande valia para as operações do aeródromo, deve-se

considerar que nem todas as aeronaves possuem essa tecnologia e estão

homologadas para operar ILS. Outro fator importante também a se considerar, é a

habilitação do piloto, pois este deve ser homologado para o uso do equipamento.

Para os casos em que os valores de visibilidade são menores que 1200 m, o

aeródromo é considerado fechado, ou seja, as operações de pouso e decolagem do

aeródromo são suspensas. Nesta situação de fechado, os limites de segurança para

operações aéreas ficam comprometidos o que justifica a suspensão completa das

atividades relacionadas com o trafego aéreo.

No manual MCA105-2, a visibilidade é definida para fins aeronáuticos como

a maior distância em que um objeto de dimensões apropriadas pode ser visto e

identificado, quando observado de encontro a um fundo brilhante; ou a maior

distância em que luzes na vizinhança podem ser vistas e identificadas, quando

observadas de encontro a um fundo escurecido.

Essas definições referentes à Meteorologia Aeronáutica seguem os padrões

e normas estabelecidas pela Organização Internacional de Aviação Civil (OACI).

Esta tem como objetivo prestar serviços aos usuários e tem como atividade o apoio

à navegação aérea em geral. A responsabilidade pela prestação do serviço de

Meteorologia Aeronáutica está a cargo do Comando da Aeronáutica, sendo o

Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) a organização responsável

pela execução e cumprimento das normas estabelecidas pela OACI, anexo 3 (três),

nos assuntos ligados à Meteorologia Aeronáutica.

Portanto, segundo o anexo 3 da OACI, a fumaça é definida como sendo um

obscurecedor e classificada como um litometeoro. Ainda segundo a OACI, a fumaça

tem como definição a suspensão no ar de pequenas partículas produzidas por

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combustão, que reduzem a visibilidade horizontal, fator importante para as

operações aéreas.

2 METODOLOGIA

Este trabalho usou técnicas de pesquisa exploratória com levantamento de

dados estatísticos e descritivos, com desenvolvimento em duas partes

correlacionadas: uma teórica e outra prática com exposição de gráficos. Uma grande

parcela da pesquisa foi bibliográfica, utilizando-se de fontes, principalmente,

secundárias, e teve como objetivo investigar dados de ocorrência de fumaça de um

período de dez anos (2003 a 2012) do aeródromo de Porto Velho, nos meses de

agosto e setembro e estimar o impacto na sua operacionalidade. Segundo Gil

(2007), levantamento estatístico nesse tipo de estudo pode ser identificado como

pesquisa exploratória. Também foram consultados os documentos internacionais da

OACI e as instruções e manuais do Comando da Aeronáutica que tratam do tema

pesquisado.

No trabalho verificou-se a análise de dados observacionais de superfície

registrados em boletins meteorológicos para a aviação - Meteorological Aerodrome

Report (METAR) da localidade em questão, especificamente os grupos de

visibilidade e tempo presente fumaça, obtidos do site oficial de meteorologia do

Comando da Aeronáutica (REDEMET). Esses valores de visibilidade e tempo

presente (fumaça) foram extraídos do METAR, levando em consideração uma série

histórica de registros desse aeroporto dos últimos dez anos, de 2003 a 2012. A

análise concentrou-se nos meses de agosto e setembro, levando em conta a

ocorrência ou não do fenômeno fumaça. Nos casos positivos da ocorrência desse

fenômeno, as horas foram somadas e computadas como “horas de ocorrência”

levando em conta os valores de visibilidade na operacionalidade do aeródromo no

momento do evento.

Após a análise e cruzamento de dados observacionais de superfície registrados em

boletins meteorológicos para a aviação, METAR, com os parâmetros operacionais do

aeroporto obtidos na carta IAC do aeródromo, os resultados foram expostos na

forma de gráficos, mencionando o impacto da fumaça nas operações do aeródromo

em questão. O objetivo foi mostrar a relevância que o fenômeno fumaça tem para as

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atividades aéreas do Aeroporto Internacional de Porto Velho, alertando os pilotos o

quanto a fumaça causa impacto e transtornos à navegação aérea.

3 APRESENTAÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS

3.1 ANÁLISE DOS DADOS

Nesse trabalho, foram verificadas todas as observações de superfície de Porto

Velho (METAR), nos meses de agosto e setembro para o período de 2003 a 2012,

com o intuito de verificar e analisar as horas de ocorrência de fumaça e estimar seu

impacto na operacionalidade do aeródromo de Porto Velho.

Para o bimestre referenciado sob a influência de fumaça, no espaço amostral

de dez anos de estudo, observou-se uma média de 3400 m para o valor de

visibilidade horizontal, figura 6, cujo valor corresponde à operação por instrumentos

(VOR). Nesse tipo de operação o piloto aumenta o seu nível de alerta, tornando-se

mais dependente dos equipamentos e ciente do quanto é estressante pilotar sob a

influência de fumaça.

Fig. 6 – Média das visibilidades mês a mês sob a influência de fumaça Fonte: Autor

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Os dados, na figura 7, revelam um número significativo correspondente ao

número de horas de ocorrências de fumaça, no total de 2854 h (19,4%) sob a sua

influência. Considerou-se o espaço temporal de 14640 h contemplando todas as

horas dos bimestres elencados no trabalho para o período de dez anos.

Fig. 7 - Ocorrências de fumaça no Aeródromo de Porto Velho Fonte: Autor

Na figura 7, nota-se que o bimestre de 2005 e o bimestre de 2010 têm um

valor equivalente em números de ocorrências de fumaça (707 h e 700 h), porém o

mês de agosto de 2010 se destaca pelo número de horas de ocorrência de fumaça.

Uma grande variabilidade anual das ocorrências foi observada, o que pode ser

explicado pelas condições climáticas e as queimadas, as quais dependem de

fatores socioeconômicos e de campanhas de prevenção e controle. A partir de 2006,

houve uma relativa queda nos casos de fumaça, ocorrendo um pico em setembro de

2007. Em 2008, a quantidade de horas, 193 h, caiu drasticamente chegando ao

valor de uma ocorrência no ano de 2009. Neste ano de 2009, houve um aumento

considerável da quantidade de precipitação, o que pode ter contribuído para queda

brusca de total de horas de fumaça. Em 2010, as ocorrências voltaram com muita

intensidade, com pelo menos 700 horas de fumaça concentradas nos meses de

agosto e setembro corroborando com maiores impactos ao trafego aéreo local no

que tange a restrição de visibilidade. Em 2011 e 2012 os números de ocorrências

voltaram a cair apresentando uma média muito abaixo dos anos anteriores.

Numa visão global dos resultados, a figura 8, realça em termos aproximado de

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percentagens, o número total de horas em dez anos e as frações referentes a cada

tipo de operação do aeródromo sob a influência de fumaça. As parcelas da figura

referentes a influência da fumaça representam aproximadamente em percentagem

19,4%, o que configura um expressivo valor, cerca de 1/5, no contexto de 14640 h

referentes aos bimestres no período de estudo. Para a aviação, o fechamento do

aeródromo, assim como sua operação por instrumentos, seja ela VOR ou ILS,

trazem transtornos ao tráfego aéreo, despertando a preocupação quanto à restrição

de visibilidade por fumaça.

Fig. 8 – Percentagens do tipo de operação do aeródromo sob a influência da fumaça no universo de 14640 horas Fonte: Autor

Já a figura 9, detalha para o período de estudo, o funcionamento operacional

do aeródromo de Porto Velho sob a influência da fumaça, mostrando ano a ano a

porcentagem de horas para cada tipo de operação. Para elaboração dessa figura,

foram considerados os parâmetros de operação do aeródromo, extraídos das cartas

IAC. Consideraram-se como operação visual valores de visibilidade igual a 5000 m

desde que essa visibilidade contemple a ocorrência de fumaça. Segundo as normas

de confecção do METAR, o tempo presente “FU” só é incluído no código quando a

visibilidade for menor ou igual a 5000 m. Portanto, para a operação visual foram

considerados os METAR que apresentavam no código a fumaça e visibilidade igual

a 5000 m.

Na figura 9, considerou-se para o período de dez anos, bimestres

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independentes, aonde cada bimestre representa uma porcentagem de 100%. O

somatório das porcentagens no bimestre referentes a cada tipo de operação

representa a porcentagem de horas sob a influência de fumaça. A porcentagem

restante, a complementar aos 100 %, refere-se a outros fenômenos diferentes da

fumaça, ocorrendo restrição ou não.

Em 2010, como ressaltado na figura 9, foi o ano mais critico para operação

do aeródromo, pois foi o ano que mais impactou as operações de pouso e

decolagem, fechando durante 3,5% das horas (51 h) do bimestre, o que

corresponde a aproximadamente dois dias de ausência total de tráfego aéreo no

aeródromo durante um bimestre.

Fig. 9 – Percentagens do total de horas de cada tipo de operação por bimestre Fonte: Autor

Em uma representação mais restrita da influência da fumaça no aeródromo de

Porto Velho, figura 10, foram analisadas 2854 h sob a influência de fumaça nos

meses de agosto e setembro durante o período de 2003 a 2012. Verificou-se o

quanto a fumaça impacta e promove mudanças no tipo de operação do aeródromo

de Porto Velho, considerado o 3ª aeródromo mais movimentado da região norte do

Brasil.

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Fig. 10 – Percentagens aproximadas do tipo de operação do aeródromo sob a influência de fumaça no universo de 2854 h

Fonte: Autor

Ainda em relação a figura 10 como detalhado, em 52,4% dos casos o

aeródromo operou por instrumentos (VOR) com visibilidade oscilando entre ≥ 1600

m e < 5000 m, o que corresponde a 1499 horas de operação VOR, fazendo com

que o piloto dependesse exclusivamente dos auxílios e dos instrumentos presentes

no aeródromo para se efetuar manobras seguras de aproximação como pouso e

decolagem. Já na operação ILS, representando uma restrição maior, o aeródromo

operou 6,8% das horas (192 h) sob a influência de fumaça. Embora os outros tipos

de operações contemplem as maiores porcentagens sob a influência de fumaça, em

3,8% (109 h) dos casos houve o fechamento por instrumentos do aeródromo, o que

significa a suspensão das operações e comprometimento da rotina de pousos e

decolagens.

CONCLUSÃO

Com as constantes queimadas na região de Porto Velho, fez-se necessário

verificar o impacto da influência da fumaça na operacionalidade do aeródromo de

Porto Velho (SBPV). Desta forma, fez-se um levantamento estatístico desse impacto

nas operações aéreas durante os meses de agosto e setembro, no período de 2003

a 2012. Nesse bimestre foram contabilizadas todas as ocorrências mensais de

fumaça juntamente com suas respectivas visibilidades, evidenciando que a fumaça

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interfere na operacionalidade do aeródromo. nnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn

No estudo dos dez anos, referenciando o bimestre, agosto e setembro, foram

analisados 14640 h de informações meteorológicas – METAR. Dessa análise, 2854

h foram sob a influência da fumaça identificando-se uma predominância média da

visibilidade de 3400 m, cujo valor é corresponde a operação por instrumentos

(VOR).

Durante o estudo foi obtido para restrição abaixo de 5000 m a porcentagem de

63% do total de horas do aeródromo sob a influência de fumaça, sendo que 52,4%

(1499 h) operou VOR, 6,8% (192 h) ILS e 3,8% (109 h) ficou abaixo dos mínimos

por instrumentos, ou seja, fechado (operações suspensas).

Vale salientar que com apenas as informações meteorológicas (METAR) os

aeronavegantes não tem a ciência do quanto a fumaça impacta e causa transtornos,

portanto, o escopo do trabalho leva em consideração essa estatística até então

desconhecida e aparentemente sem muita representividade.

Para trabalhos futuros, sugere-se dar continuidade ao estudo do impacto

causado pela fumaça, estendendo-se a pesquisa a outros aeródromos presentes em

áreas caracterizadas por grande quantidade de focos de incêndio.

Logo, a fumaça por ser considerada uma prática antropogênica, é

classificada, portanto, como um fenômeno imprevisível que compromete a

segurança no pouso e decolagem, o gerenciamento e a economia do voo, devendo

ser levado muito a sério no que tange a navegação aérea em geral como mostrado

no desenvolvimento do trabalho.

REFERÊNCIAS

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