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    A certeza da Salvação

    Saulo Vilela

    20 de abril de 2016

    Resumo

    Vida após a morte é um assunto que interessa a todos. E salvação, vida eterna é o assuntoque tange todos os que refletem sobre isso. O objetivo desse artigo é expor as principais visões

    cristãs sobre a salvação, focando na certeza da mesma. Será que é possível ter certeza da sua

    salvação? Será que alguma tradição cristã fala sobre isso? Exponho assim as visões Católica,

    Reformada e Evangélica, tirando conclusões sobre a biblicidade destas e, ao mesmo tempo,

    comentando sobre o bem ou mal que tal visão gera no indivíduo

    Palavras-chaves: Catolicismo. Reforma. Salvação. Evangelicalismo.

    1 Introdução

    Vida após a morte é um assunto que, definitivamente, interessa a qualquer

    pessoa, seja ela cristã, islâmica ou mesmo atéia, pois, mesmo para aquele que não crê

    que haja qualquer tipo de continuação para essa vida, só o fato de negar tal coisa, já

    demonstra que, em algum momento de sua vida, seu interesse foi despertado para

    esse assunto para que ele pudesse formular algum tipo de opinião.

    Para aqueles que creem em Deus, que seguem uma religião, tal assunto se tornaainda mais interessante, principalmente porque, para a grande maioria dos religiosos,

    se não todos, a vida não se resume a somente essa terra, somente essa existência,

    mas que, antes, vai além, nos traz uma promessa, seja ela de uma reencarnação ou

    de um paraíso. O ponto é que, todas elas tratam de algum tipo de salvação.

    Para nós, cristãos, a salvação está ligada à promessa de vida eterna, a promessa

    de que seremos salvos da ira vindoura de Deus e que, a partir de Jesus Cristo, a partir

    do sacrifício na Cruz, nossos pecados estão perdoados e agora estamos hábeis para

    receber a vida eterna, receber a salvação. Esse quesito é indiscutível para aquelesque se dizem cristãos. Inclusive, negar tal forma de salvação é negar a essência do

    cristianismo em si. Mais do que qualquer prática, o reconhecimento de que a salvação

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    só vem por meio de Jesus Cristo é o que define, em primeira instância, uma religião

    como Cristã.

    Mas, assim como existem diferentes formas de expressão de cristianismo, tais

    quais o catolicismo, o evangelicalismo e a fé reformada, por exemplo; assim tambémexistem diferentes perspectivas quanto à essa salvação que tanto se prega. Para alguns,

    existe a certeza que essa já está garantida pelo sacrifício de Jesus. Para outros a obra

    de Cristo precisa ser complementada com alguma outra obra. Tais ensinamentos sobre

    a doutrina da salvação refletem, diretamente, na forma como o indivíduo enxerga a sua

    vida aqui. Faz com que aquele que, um dia foi salvo, ou ao menos considerado salvo,

    se sinta completamente confortável com sua garantia, tendo certeza sobre isso, ou,

    que ele viva em ansiedade e em constante vigilância do que fazer ou como fazer para

    tentar garantir a sua salvação eterna.É por conta da seriedade desse assunto, de como pode ser reconfortante ou

    desesperadora a perspectiva de salvação é que escrevi esse pequeno ensaio. Será

    que podemos ter certeza da nossa salvação? Será que estamos garantidos? Ou será

    que temos que fazer alguma coisa que vá nos garantir vida eterna?

    2 Perspectiva Católica Romana

    Nós podemos chegar ao conhecimento da verdade (1 Tim 3,15) ( Ma-teus 16,18) pelos Sacramentos, onde recebemos as graças como umpresente grátis. Mas depois temos que cooperar com essa graça, etemos que continuar trabalhando para nos salvar. “Assim meus carís-simos, vós que sempre fostes obediente, trabalhai na vossa salvaçãocom temor e tremor. . . (Filipenses 2,12). Como pecadores nós não esta-mos seguros de nossa salvação. Mas os cristãos que fielmente vivemos Sacramentos, Canais da graça de Deus sem se render, podem teresperança na salvação.1

    Esse paragráfo resume, de maneira sucinta aquilo que, em geral, a igreja

    católica entende quanto à garantia da salvação e, consequentemente, à certeza que o

    crente não terá, quando ele enxerga a salvação dessa perspectiva.

    Eles não apenas dizem que a salvação pode ser perdida, que alguém não pode

    ter certeza absoluta que será salvo, antes dizem que o indivíduo pode apenas ter

    esperança que tal salvação acontecerá. E eles o fazem se utilizando de diferentes

    textos bíblicos para tentar provar o seu ponto de vista.1 MOURA, Jaime Francisco de. Nós somos salvos de uma vez por todas? 2008. Disponível em . Acesso em: 13 de Abr. 2016.

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    Um dos exemplos de tal argumento seria o uso do texto de Filipenses 3.11-14,

    que na versão Ave Maria2 diz:

    Com a esperança de conseguir a ressurreição dentre os mortos nãopretendo dizer que já alcancei (esta meta) e que cheguei à perfeição.Não. Mas eu me empenho em conquistá-la, uma vez que tambémeu fui conquistado por Jesus Cristo. Consciente de não tê-la aindaconquistado, só procuro isto: prescindindo do passado e atirando-meao que resta para frente. Persigo o alvo, rumo ao prêmio celeste, aoqual Deus nos chama, em Jesus Cristo3

    O argumento católico diz que esse perseguir que Paulo coloca seja, justamente,

    a perseguição da salvação, chegando ao ponto de dizer que o próprio apóstolo Paulo

    não tinha certeza da sua salvação, mas que antes, lutava e buscava, apenas tendoesperança da mesma.

    Outro argumento lançado pelos católicos diz respeito à todas as passagens que

    nos mandam ser vigilantes ou mesmo perseverar até o fim (Ex. Lucas 9,23-24; Gálatas

    6,9; Mateus 25,1-13). Dizendo com isto que é essa perseverança que gera em nós a

    salvação. E que, na verdade, o sacrifício de Cristo não foi suficiente para completar a

    obra de salvação nas nossas vidas, antes é necessário que eu persevere, que eu vigie

    e que eu faça boas obras a fim de conseguir, a fim de alcançar a minha salvação. Mas

    ainda assim, esta não será garantida, eles dizem que eu tenho a possibilidade, aesperança de salvação, mas nunca a certeza.

    O próprio Dom Helder, bispo da igreja católica, numa entrevista à Revista Veja

    em 1985, ele foi perguntado se tinha certeza de sua salvação, sua resposta foi:

    Essa certeza ninguém pode ter. Eu tenho é uma grande esperança,porque fui chamado à vida pelo Criador, porque fui remido pelo amor dofilho de Deus e porque sou acompanhado pelo amor do Espírito Santo.4

    Assim, se um bispo importante da igreja católica não tem a certeza da suasalvação, que dirá um membro comum?

    Tal mentalidade gera, certamente, uma ansiedade no coração daquele que

    crê dessa maneira. Trazendo, ao invés de paz, como a própria bíblia nos promete, muita

    angústia no coração. Pois, afinal, não importa o que eu faça, se eu não tenho a certeza

    de que alguma coisa me garante a salvação, eu posso acabar distante de Deus.2 A Bíblia Sagrada - Ave Maria (popularmente conhecida como Bíblia da Ave Maria) é uma versão

    da Bíblia cristã publicada pela Editora Ave Maria em 1959, traduzida do grego e hebraico, pormonges beneditinos de Maredsous (Bélgica).[1] Foi considerada uma das melhores traduções do

    mundo na época e em sua primeira edição teve uma tiragem de 42.000 exemplares. É a traduçãomais popular entre os católicos no Brasil. Disponível em

    3 Bíblia Almeida Revista e Atualizada4 HELDER PESSOA CÂMARA. A despedida do pastor. Recife: 1985. Revista Veja nº 867

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    3 A perspectiva Reformada

    Antes de falar sobre a perspectiva reformada, é preciso delimitar de quem são

    estes. Para fins didáticos, não vou me ater a tal discussão, antes, quando neste artigo

    for mencionada a visão reformada de um assunto, entenda que se trata daqueles que

    entendem a Confissão de Fé de Westminster e seus catecismos como exposição

    fiel das escrituras. Aos que divergem em pontos não essenciais, como os Batistas

    Reformados, ainda assim os consideraremos reformados.

    Na Confissão de Fé de Westminster temos um capítulo inteiro dedicado somente

    à esse tópico, a Certeza da Salvação. A primeira seção do capítulo 13, nos resume de

    maneira clara tal doutrina:

    Ainda que os hipócritas, bem como outras pessoas não regeneradas,inutilmente se enganem com falsas esperanças e carnal presunçãode serem alvos do favor divino e em estado de salvação, esperançaque perecerá, contudo os que crêem realmente no Senhor Jesus eo amam sinceramente, envidando todo esforço por andar em toda sãconsciência diante dele, podem nesta vida estar plenamente certos deque estão em estado de graça e podem regozijar-se na esperança daglória de Deus, esperança esta que jamais os envergonhará.5

    Diametralmente oposta a perspectiva Católica Romana, todo crente, não so-

    mente pode, mas deve ter a certeza da sua salvação. Isso se dá por uma razão muitosimples: Na perspectiva reformada, a salvação não é baseada em obras, mas somente

    em uma Obra, a saber, a obra de Cristo na Cruz. Portanto, não importa o que alguém

    faça ou deixe de fazer, se a morte de Cristo foi eficaz para esse indivíduo, este será

    salvo. É preciso ressaltar que, aquele que há de ser salvo, esse demonstrá sinais

    visíveis dessa salvação, como o seu bom testemunho, por exemplo.

    Os argumentos reformados não se baseiam apenas em seus documentos histó-

    ricos mas, principalmente, se baseiam em argumentos bíblicos. Uma das passagens

    mais contundentes para com a certeza da salvação se encontra em Romanos 8.31-39:

    31 Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quemserá contra nós? 32 Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes,por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente comele todas as coisas? 33 Quem intentará acusação contra os eleitosde Deus? É Deus quem os justifica. 34 Quem os condenará? É CristoJesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direitade Deus e também intercede por nós. 35 Quem nos separará do amorde Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou

    nudez, ou perigo, ou espada? 36 Como está escrito: Por amor de ti,somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas

    5 Confissão de Fé de Westminster, Capítulo XVII, Seção 1

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    para o matadouro. 37 Em todas estas coisas, porém, somos mais quevencedores, por meio daquele que nos amou. 38 Porque eu estoubem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem osprincipados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes,

    39 nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criaturapoderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nossoSenhor.  6

    Esse é apenas uma dentre várias passagens bíblicas que falam que a nossa

    salvação está garantida. Existem várias outras passagens que certificam ao crente

    a salvação, mas somente com esta já se torna praticamente impossível negar que

    teríamos sequer a chance de perder a salvação.

    Portanto, para aqueles que seguem a perspectiva reformada, estes não tem

    problema algum quanto à perder sua salvação e, portanto, não andam ansiosos ou

    mesmo com medo da morte, pois tem certeza que, quando Cristo voltar ou se por meio

    da morte deixarem essa vida, tem garantida a sua salvação, a sua vida eterna.

    4 O Evangelicalismo hoje

    Assim como para os reformados, é preciso delimitar sobre quem estamos falando

    quando chamamos de ”Evangélico“ ou ”Evangelical“. E assim, também, não pretendo

    discutir aqui tal assunto, antes, Evangélicos são aqueles que não vem de uma tradiçãoreformada, mas que ainda seguem a bíblia como regra de fé e prática. São aqueles

    que não adotam em sua teologia a visão de Calvino, antes, preferem a interpretação

    arminiana da Palavra.

    Se compreendemos que os evangélicos, em geral, seguem a interpretação

    arminiana da bíblia, podemos, observando como se dá a salvação nessa teologia,

    perceber se o crente pode, ou não, ter certeza que, no último dia, será salvo. Ou

    mesmo se ele é salvo hoje, se ele pode ter a certeza que, se morrer hoje, por exemplo,

    irá, de fato, para o céu.Na teologia arminiana, temos os famosos 5 pontos do arminianismo, são eles: A

    Vontade Livre, Eleição Condicional, Expiação Universal, Graça pode ser impedida e O

    homem pode cair da Graça7. Para resumir os 5 pontos, poderíamos dizer que o homem,

    por sua própria vontade escolhe a Deus e que este não o predestina, antes, somente

    pré-conhece estes. Sustentam que Deus morreu por todos, sem exceção, tornando

    a salvação possível àqueles que a escolherem e que Deus não interfere na vontade

    do homem, antes, como dito inicialmente, sua vontade é inteiramente livre. Por fim, já

    6 Bíblia Almeida Revista e Atualizada7 SPENCER, Duane Edward. TULIP. 1. ed. Santa Catarina: Casa Editora Presbiteriana, 1992. p. 11

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    que é o próprio homem que escolhe, se torna possível cair da graça, ou seja, perder a

    salvação se este deixar de escolher à Deus, seja em palavras ou em ações.

    Assim, se o homem pode cair da graça, se o homem, que tem uma natureza

    altamente pecaminosa pode, por alguma obra má que ele fizer perder a salvação, estateologia se baseia, não somente na obra salvífica de Cristo, antes, tem como base as

    próprias obras humanas. É claro que eles não chegam ao ponto de dizer que o homem

    pode se salvar sozinho, mas dizem, sim, que existe alguma participação do homem

    nesse processo, ou seja, a salvação do homem depende de Deus, mas também de

    alguma obra humana.

    Portanto, se o homem pode, por algum pecado, perder a salvação, como este

    pode ter certeza que está salvo hoje? E se este cometeu algum pecado em sua mente

    e não teve tempo de se arrepender? Se a obra de salvação depende, em alguma partedo homem, então se torna impossível ter certeza absoluta que esta ocorrerá, pois

    ”Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto;

    quem o conhecerá? “8.

    É interessante percebermos o quão próxima da teologia católica essa perspec-

    tiva nos traz. A salvação católica, assim como a arminiana depende de obras somadas

    a ação de Cristo na cruz. E, em ambas, é possível ”Cair da Graça“, perder a salvação.

    Tudo isso acaba gerando no homem uma ansiedade sem precedentes, sua vida passa

    a ser pautada, não com cumprir as ordens de Cristo por amor a este, antes, ele passaa cumprir sua vontade buscando, de alguma forma, merecer a salvação. Além de

    desconsiderar várias passagens bíblicas para poder sustentar tal opinião.

    5 Conclusão

    Assim, a perspectiva reformada apresentada aqui, não só é a mais bíblica,

    interpretando os textos de maneira mais coerente com a bíblia como um todo, mas

    também é a única visão que traz ao homem a certeza plena de que este é salvo.Consequentemente, aqueles que buscam, tanto estudar a bíblia como um todo, quanto

    aqueles que buscam uma visão que traga mais conforto nesse assunto, vão encontrar

    na Teologia reformada lugar certo.

    8 Biblia Almeida Revista e Atualizada. Jeremias 17.9

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