artigo analise e expressao textual
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SEMIÁRIDO: O PROBLEMA NÃO É A SECA1
Resumo: Este trabalho tem como objetivo principal fazer uma mediação entre a região
Semiárida e o papel que o Engenheiro Agrônomo nela representa. Essa região é caracterizada pela ocorrência do bioma Caatinga, que forma o sertão. O índice pluviométrico nesta região fica em torno dos 700 mm por ano. O solo é muito pedregoso e não consegue absorver água. A economia se baseia em programas sociais e atividades relacionadas à agricultura, movimentando assim o comércio. A seca é um problema antigo que assombra os nordestinos, porém o Nordeste tem uma boa quantidade de reservatórios que não são aproveitados, impedindo assim a distribuição dessa água aos habitantes dessa localidade. Não é possível acabar com a Seca, e sim conviver com ela. O engenheiro Agrônomo tem papel fundamental no Semiárido pois o mesmo está apto a desenvolver técnicas para benefício do pequeno agricultor, aumentando assim a sua produção e produtividade no campo.
Palavras-chave: Caatinga, Convivência, Engenheiro Agrônomo, Semiárida, Sertão.
Resumen: Este trabajo tiene como objetivo hacer una comparación entre la región semiárida
y el papel que el agrónomo que es. Esta región se caracteriza por la aparición del bioma Catinga, que forma el interior del país. La precipitación en esta región es de alrededor de 700 mm por año. El suelo es muy rocosa y no puede absorber el agua. La economía se basa en programas sociales y actividades relacionadas con la agricultura, desplazando así el comercio. La sequía es un problema antiguo que persigue el noreste, pero el Noreste tiene una buena cantidad embalses que no se utilizan, evitando de este modo la distribución de esta agua a los habitantes de esta localidad. No se puede acabar con la sequía, pero vivir con ella. El agrónomo tiene un papel fundamental en el semiárido, ya que es capaz de desarrollar técnicas para el beneficio de los pequeños agricultores, lo que aumenta la producción y la productividad en el campo.
Palabras clave: Catinga, la convivencia, Ingeniero agrónomo, semiárido, Hinterland.
1. INTRODUÇÃO
O semiárido nordestino tem como marca a frequente seca. De acordo com Coelho
(2006), o semiárido sempre teve eventos grandiosos de escassez, porém, não é rara
amplas inundações. Esses episódios estão associados a produção agropecuária, se
responsabilizando pelo sucesso ou pelo fracasso dessa importante atividade. O clima
quente e seco predominante na região interfere nas massas de ar atuantes na
1 Trabalho apresentado como requisito parcial de avaliação do componente curricular Análise e Expressão Textual, ministrado pela Professora Edilane Abreu Duarte, no Curso de Engenharia Agronômica da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, no semestre 2015.2. ² Discente da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias – DCHT, Campus XXII – Euclides da Cunha/Bahia. Email: [email protected]. ³ Professora Assistente da Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XXII - Mestre em Literatura e Diversidade Cultural pela Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS.
Raví Emanoel de Melo² Edilane Abreu Duarte³
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localidade, essas massas adentram o Nordeste com pouca força ocasionando assim
uma variação entre o volume das chuvas e o intervalo de tempo da mesma. De acordo
com dados da Fundação Joaquim Nabuco, no semiárido chove pouco, as
precipitações variam entre 500 e 800 mm por ano. Contudo, a seca do Nordeste não
é somente caracterizada através do baixo volume de chuva, e sim da distribuição da
mesma.
Outro fator importante para caracterizar o Nordeste é o relevo, que possui uma forte
presença de depressões. De acordo com Silva (2000), esta região apresenta planaltos
muito abertos pela menor resistência a erosão de rochas, sendo caracterizada por ter
um relevo plano e ondulado. O solo é pedregoso e pouco profundo. A caatinga é o
ecossistema que prevalece na região, é marcada por tolerar e se adaptar às condições
do clima na localidade, sua vegetação é mista de árvores e arbustos (COELHO, 2006).
O nome Caatinga tem origem tupi-guarani e significa “floresta branca”, um retrato
típico da vegetação onde, durante a seca, as plantas perdem suas folhas para reduzir
a perda de água e os troncos adquirem um tom branco-acinzentado (ISA, 2008). Também se acha nesta região algumas áreas que podem ser chamadas de
privilegiadas com presença de serras e de elevações que causam o aparecimento de
matas úmidas.
A economia nesta localidade é composta em expressiva parte por atividades
relacionadas a agricultura, cita-se com maior ênfase a criação de gado, ovinos e
caprinos. Planta-se também muitas culturas resistentes a falta d’ água, como a
carnaúba, palma forrageira. A produção de grãos é de extrema importância
destacando o cultivo de feijão que predomina na cidade de Euclides da Cunha – Bahia,
movimentando assim, o seu comércio. Existem algumas políticas públicas como o
bolsa família, que tem como objetivo buscar e garantir a essas famílias o direito à
alimentação e o acesso à educação e à saúde; a Garantia Safra que segundo o
Ministério do Desenvolvimento Agrário é uma ação do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar, tendo como objetivo o pagamento de um
benefício no valor de R$ 850,00 para os agricultores familiares que se localizam em
municípios que estão sujeitos a perdas de safra devido ao déficit hídrico ou ao excesso
de chuvas.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Nordeste possui
uma população descrita em 47 milhões de habitantes, dentre esses, 17 milhões vivem
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na região semiárida. Estudos realizados pelo próprio instituto, sobre a distribuição de
chuvas no globo terrestre atestam que essa aridez é determinada pelo processo de
circulação atmosférica global, externo a região, estabelecido possivelmente no final
da era glacial, com efeitos avassaladores; acrescenta-se nesta pesquisa realizada
pelo instituto, que o homem acaba sendo vítima dessa aridez, pois, muitos realizam
atividades agropecuárias que exigem um ambiente favorável.
Entretanto, para suprir as necessidades dos agricultores que habitam no semiárido e
da própria região, é necessária a contribuição tanto do governo, quanto de
profissionais habilitados e comprometidos com a situação, tendo em vista o
desenvolvimento de técnicas que irão contribuir com o desenvolvimento do semiárido.
Acredita-se que o governo tem um papel importante que vai muito além de programas
sociais para benefício dos nordestinos, e sim de implantar cursos de acordo com a
necessidade de cada região, cidades; cursos estes que visam a melhoria e um contato
maior junto à população. Um exemplo prático disso é o da citada cidade de Euclides
da Cunha – Bahia, na qual foi implantado um curso de Engenharia Agronômica para
atender as demandas da localidade, formando, posteriormente profissionais aptos a
trabalhar e ajudar na evolução da região.
Na prática, o Engenheiro Agrônomo é o profissional mais indicado para este contato
direto com o pequeno agricultor, que é maioria na região do semiárido. Neste contexto,
este profissional pode auxiliar no aprimoramento de técnicas já existentes que
aumente a produção e a produtividade no campo, orientando assim o agricultor no
desenvolvimento correto dessas práticas. Este profissional tem que estar acima de
tudo bem próximo do agricultor, entendendo as suas legítimas necessidades e
levando dados de qualidade para ser reconhecido pelo mesmo e por toda a cadeia
que cerca o negócio (LEUZINGER, 2015). A relação com o pequeno agricultor é bem
positiva, de acordo com Ferronatto (2015), os agricultores compreendem a função dos
agrônomos e sabem que estão ali para ajudar no desafio de produzir com qualidade
e principalmente respeito ao meio ambiente. Respeito esse que fortalece a confiança
entre as partes. Para Lopes (2016), a frequente busca de soluções, inovações
tecnológicas e a pesquisa são indispensáveis para enfrentar os desafios do presente
e do futuro dessas regiões e o agrônomo é o profissional mais indicado para essa
missão.
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2. DESENVOLVIMENTO
O Semiárido é visto principalmente por outras regiões como a “região da seca”, o lugar no qual os moradores sofrem pela escassez, mas, acredita-se que o problema no semiárido não é a escassez, pois, como já citado anteriormente, em algumas partes do semiárido chega a chover 800 mm por ano. Por maior que seja a evaporação e por mais que açudes sequem, a região tem bastante água, sendo esta satisfatória para o abastecimento do povo nordestino (PENA, 2015).
De acordo com Suassuna, o problema não é falta de recursos naturais, e sim da
distribuição que é irregular. O Nordeste brasileiro possui o maior volume de água
represado em regiões semiáridas do mundo. São 37 bilhões de metros cúbicos,
estocados em cerca de 70 mil represas (SUASSUNA, 2012). Água é o que não falta
para os nordestinos, o que está faltando é uma modelo de política lógica e coerente
para que esses volumes sejam de fato distribuídos corretamente e assim atenda às
necessidades que a população tanto anseia.
Falando em seca e em Nordeste, vale ressaltar a transposição do Rio São Francisco,
que é um projeto de deslocamento de algumas partes das águas do rio. É nomeado
pelo Governo Federal como “Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias
Hidrográficas do Nordeste Setentrional”. O projeto é fruto de uma ideia que surgiu na
época do Brasil Império e visa o abastecimento de 12 milhões de pessoas no Nordeste
Setentrional através das águas do Rio São Francisco (SAKAMOTO, 2012). Com um
investimento de aproximadamente R$ 8,2 bilhões, hoje as obras se encontram
praticamente paradas e em alguns trechos os canais apresentam rachaduras feitas
ao longo do tempo. O projeto é inútil tendo em vista os volumes de água que existem
nas represas e açudes do Nordeste. Pela forma que o projeto foi exposto a sociedade
fica clara a intenção das autoridades, que visa o benefício do grande capital, sobretudo
os irrigantes, as indústrias e as empreiteiras (SAKAMOTO, 2012). Nenhum agricultor,
que hoje, recebe água do carro pipa receberá água da transposição desse rio, pois a
mesma escoará em grandes rios indo para grandes barragens para posteriormente
ser utilizada pelo agronegócio (GUIMARÃES, 2015). Mais uma vez o dinheiro
corrompe a dignidade e o suor de quem ainda acredita em um Brasil melhor.
No entanto, existem algumas alternativas que ainda podem salvar a região e garantir
o seu desenvolvimento. Para isso, a Articulação do Semiárido (ASA) utiliza de
tecnologias que em termos de acesso a água, a população mais carente poderá se
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beneficiar, exemplos práticos disso é o uso de cisternas rurais, barragens
subterrâneas, barreiros, trincheiras, programa duas águas e uma terra, mandalas,
entre outras. Porém, o Governo Dilma, mudou completamente a política de ajuda
praticada pela ASA através de um projeto “Um Milhão de Cisternas para o Semiárido”
acelerou-se a produção de cisternas (caixas d’água que guardam água da chuva),
sendo assim as caixas de cimento foram substituídas por Polietileno, que são
facilmente deformadas pois o calor na região é muito forte, além de serem muito mais
caras que as de cimento, outro fator negativo é não utilizar mão-de-obra local
ocasionando a queda na geração de renda e a manutenção é muito mais complexa
que as de cimento. As organizações sociais que defendem o agricultor criticaram e
criticam a decisão do governo questionando os benefícios que os políticos levam com
esses “programas sociais”. A Polícia Federal e a Controladoria Geral da União
detectaram um desvio de R$ 312 milhões em verbas do Departamento Nacional de
Obras contra as Secas (DNOCS), dinheiro este que deveria estar sendo utilizado para
diminuir o impacto da estiagem (SAKAMOTO, 2012). Como já citado o problema
encontrado aqui não é a falta de recursos e sim da distribuição do mesmo, distribuição
de água, de decisões, de respeito e acima de tudo, de cidadania. Falta essa causada
pelas novas políticas de “desenvolvimento” que são feitas com o lema de progresso,
mas que apenas atrasa o Nordeste.
Outro problema frequente no Semiárido é a ausência da tecnologia passada ao
agricultor, que acaba sendo um fator primordial para que o mesmo realize uma
agricultura de baixo nível tecnológico, e também de uma assistência especializada ao
seu perfil, que iria contribuir para o aumento da produtividade em sua propriedade. A
questão é que, no semiárido existem tecnologias que podem e devem ajudar o
agricultor a conseguir uma maior produção e, assim elevar a renda em sua
propriedade. A assistência ao agricultor no Semiárido é feita em boa parte pelo técnico
em agropecuária, pois a profissão do engenheiro agrônomo está sofrendo uma queda,
por ser um trabalho em que o custo é mais elevado quando comparado ao técnico,
porém, o técnico não traz a bagagem teórica que um agrônomo traz, colocando em
risco o trabalho a ser realizado.
O engenheiro agrônomo pode melhorar a convivência no semiárido através de
algumas tecnologias, um exemplo bem prático para a região é a produção de
mamona, pois, tem um baixo custo de produção, obviamente resistente a seca que
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como já falado afeta o semiárido; porém, para adquirir um bom dinheiro com a
produção de mamona tem que se atentar a disponibilidade de máquinas e o
abastecimento de sementes em abundância e em boa condição ao pequeno produtor.
Se tratando de máquinas, até existem no mercado, mas, são muito caras e
inacessíveis para os pequenos agricultores. Diante desse cenário é admissível que se
desenvolva máquinas que realmente são voltadas a agricultura familiar, e que sejam
tão boas quanto as existentes no mercado, esse desenvolvimento de tecnologias é
também papel do engenheiro agrônomo.
Segundo o Governo Federal, a expansão da cultura cresceu, pois, o mesmo apoiou a
produção, criando em 2004, o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel
(PNPB), neste programa observa-se o aumento crescente de produção e
produtividade, no entanto, faltam estudos mais aprofundados no que diz respeito a
maquinas com funções especificas ao que está sendo tratado e tecnologias pós
colheita que são destinadas a agricultura familiar, melhorando assim a qualidade de
vida, consequente do aumento de renda.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que a região Semiárida tem um alto potencial hídrico que é ofuscado pelos
políticos que não realizam políticas públicas eficientes para beneficiar quem realmente
precisa. O Engenheiro agrônomo tem papel fundamental no que diz respeito a
convivência no Semiárido, pois o mesmo auxilia o pequeno agricultor através de
tecnologias para assim aumentar a produção e a produtividade no campo, sendo
necessária a atualização contínua desse profissional tão importante para o
desenvolvimento da região Nordeste. Portanto, precisa-se ter em mente que não é
possível acabar com a seca, mas, têm-se que aprender a conviver com a mesma.
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