artigo - a cláusula de bonificação

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A Cláusula de Bonificação.  A cláusula de bonificação para pagamento do aluguel no dia convencionado é inovação utilizada hoje em grande escala nos contratos de locação de imóvel e desperta grandes debates doutrinários e jurisprudências. Aqueles que não a admite pondera tratar-se de multa disfarçavel impossibilitando por conseguinte sua cumulação com outra espécie de cláusula penal e limitando-a ao patamar de dez por cento sobre o valor do débito. Não tenho dúvidas que trata-se de condição perfeitamente legal e enquadrada dentro dos limites da autonomia da vontade. porquanto conforme SILVIO RODRIGUES, o contrato vincularia as partes que só se libertariam através do distrato, ou da impossibilidade da prestação provocada por caso fortuito ou de força maior. Forçoso é convir, de outra parte, que cláusulas assemelhadas têm sido vulneradas, num ou noutro caso, ao se vislumbrar, no respectivo conteúdo, a consagração de cláusula penal, ou de multa moratória às avessas; sem embargo, já se decidiu, conforme acórdãos de vários tribunais do país, que “a chamada bonificação por pagamento em dia, comumente convencionada em contratos de locação, é perfeitamente lícita. Não mascara fraude à lei, mas apenas reforça o princípio de que ao locatário não é dado estar em mora ( CC, art. 1.192, II ). Só incide quando o locativo é satisfeito a tempo e hora não apresentando característica de cláusula penal, cuja incidência, ao contrário, só se opera se descumprido o contrato” ( A. 137.639, 2ª C., rel. Ferreira de Castro, j. 2 6.10.81 - REPERTÓRIO JURISPRUDENCIAL DA LEI DO INQUILINATO, ed. Jurídica Brasileira, 1ª ed., p.170. É certo que não se admitirá excessos, porém situando-se a bonificação no patamar de vinte por cento estar-se-á diante de um valor pe rfeitamente razoável a motivar o locatário no cumprimento de sua obrigação primária que é de pagar o aluguel no vencimento. Argumentações contrárias de que o Código de Defesa do Consumidor – Lei 8.078/90 - estaria impedindo tal aplicação, não resiste ao simples raciocínio de que na hierarquia das lei, tanto esta como a do Inquilinato – Lei 8.245/91 – situam-se no mesmo patamar, não havendo nesta última qualquer impedimento a fixação da bonificação, além ainda de sua vigência posterior àquela referente ao consumidor. A matéria é controvertida e em sede de Superior Tribunal de Justiça nada ainda foi decidido. Portanto, diante da controvérsia deve-se insistir na sua manutenção com a ciência daqueles que aderem a esta cláusula que tal mister poderá ser objeto de final decisão pela justiça. A Cláusula de bonificação e a uniformalização de jurisprudên cia  A cláusula de bonificação decorre da livre convenção do valor do aluguel, significando um manifesto incentivo ao locatário para o pagamento rigorosamente em dia do valor do aluguel. Não há óbice legal ao estabelecimento de tal bonificação ou benefício, sendo que o valor locatício é o acordado sem o desconto, fazendo jus à benesse somente aquele que quita até o vencimento o aluguel devido. A questão tem sido sistematicamente debatida nos tribunais do país, entendendo alguns que se trata de multa disfarçada, outros que não, na medida em que o artigo 17 da lei 8245/91 admite a livre convenção do aluguel. Na prática se estabelece o valor do aluguel líquido em “x” e caso o mesmo seja pago no vencimento terá uma redução de “y”. Atualmente já não existe mais dúvida a respeito do tema. A cláusula de bonificação é perfeitamente válida, porém o desconto não poderá ser superior a 10% (dez por cento), tão pouco poderá ser exigido a multa moratória de idêntico percentual quando

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7/14/2019 Artigo - A Cláusula de Bonificação

http://slidepdf.com/reader/full/artigo-a-clausula-de-bonificacao 1/2

A Cláusula de Bonificação.

 

A cláusula de bonificação para pagamento do aluguel no dia convencionado éinovação utilizada hoje em grande escala nos contratos de locação de imóvele desperta grandes debates doutrinários e jurisprudências. Aqueles que não aadmite pondera tratar-se de multa disfarçavel impossibilitando porconseguinte sua cumulação com outra espécie de cláusula penal e limitando-aao patamar de dez por cento sobre o valor do débito. Não tenho dúvidas quetrata-se de condição perfeitamente legal e enquadrada dentro dos limites daautonomia da vontade. porquanto conforme SILVIO RODRIGUES, o contratovincularia as partes que só se libertariam através do distrato, ou daimpossibilidade da prestação provocada por caso fortuito ou de força maior.Forçoso é convir, de outra parte, que cláusulas assemelhadas têm sidovulneradas, num ou noutro caso, ao se vislumbrar, no respectivo conteúdo, aconsagração de cláusula penal, ou de multa moratória às avessas; semembargo, já se decidiu, conforme acórdãos de vários tribunais do país, que “achamada bonificação por pagamento em dia, comumente convencionada emcontratos de locação, é perfeitamente lícita. Não mascara fraude à lei, mas

apenas reforça o princípio de que ao locatário não é dado estar em mora( CC, art. 1.192, II ). Só incide quando o locativo é satisfeito a tempo e horanão apresentando característica de cláusula penal, cuja incidência, aocontrário, só se opera se descumprido o contrato” ( A. 137.639, 2ª C., rel.Ferreira de Castro, j. 26.10.81 - REPERTÓRIO JURISPRUDENCIAL DA LEI DOINQUILINATO, ed. Jurídica Brasileira, 1ª ed., p.170. É certo que não seadmitirá excessos, porém situando-se a bonificação no patamar de vinte porcento estar-se-á diante de um valor perfeitamente razoável a motivar olocatário no cumprimento de sua obrigação primária que é de pagar o aluguelno vencimento. Argumentações contrárias de que o Código de Defesa doConsumidor – Lei 8.078/90 - estaria impedindo tal aplicação, não resiste aosimples raciocínio de que na hierarquia das lei, tanto esta como a do

Inquilinato – Lei 8.245/91 – situam-se no mesmo patamar, não havendonesta última qualquer impedimento a fixação da bonificação, além ainda desua vigência posterior àquela referente ao consumidor. A matéria écontrovertida e em sede de Superior Tribunal de Justiça nada ainda foidecidido. Portanto, diante da controvérsia deve-se insistir na sua manutençãocom a ciência daqueles que aderem a esta cláusula que tal mister poderá serobjeto de final decisão pela justiça.

A Cláusula de bonificação e a uniformalizaçãode jurisprudência

 

A cláusula de bonificação decorre da livre convenção do valordo aluguel, significando um manifesto incentivo ao locatáriopara o pagamento rigorosamente em dia do valor do aluguel.Não há óbice legal ao estabelecimento de tal bonificação oubenefício, sendo que o valor locatício é o acordado sem odesconto, fazendo jus à benesse somente aquele que quitaaté o vencimento o aluguel devido. A questão tem sidosistematicamente debatida nos tribunais do país, entendendoalguns que se trata de multa disfarçada, outros que não, namedida em que o artigo 17 da lei 8245/91 admite a livreconvenção do aluguel. Na prática se estabelece o valor doaluguel líquido em “x” e caso o mesmo seja pago novencimento terá uma redução de “y”. Atualmente já nãoexiste mais dúvida a respeito do tema. A cláusula debonificação é perfeitamente válida, porém o desconto nãopoderá ser superior a 10% (dez por cento), tão pouco poderáser exigido a multa moratória de idêntico percentual quando

7/14/2019 Artigo - A Cláusula de Bonificação

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o contrato contiver tal cláusula. Ou seja, o locador deveoptar entre a cláusula de bonificação e a multa moratória.Nunca as duas alternativas juntas. O Tribunal de Alçada doEstado do Paraná, nos últimos anos recebeu centenas deprocessos cuja tema do debate era exatamente a validade ounão desta cláusula. A princípio entendeu que dentro daliberdade de se contratar, perfeitamente lícita era tal cláusula

porquanto inserida dentro do direito pessoal de cada um.Porém, após alguma relutância, o Centro de Estudos doTribunal de Alçada do Paraná, buscando a uniformização da

 jurisprudência, realizou pesquisa e debate entre os membrosdesta Corte sobre o posicionamento adotado nas teses

 jurídicas peculiares às Câmaras Cíveis, bem como sobredúvida de competência, cujos trabalhos resultaram naaprovação de Enunciados. A reunião de aprovação foirealizada em 26 de setembro de 2002, ficando decidido oseguinte a respeito do referido tema: “Enunciado nº º 13.Inadmissível a cumulação de cobrança do aluguel com perdade desconto pontualidade ou taxa de bonificação e multa

contratual. Prevalece a penalidade de menor valor em casode cumulação.” Portanto, no âmbito do Estado do Paraná aquestão acha-se uniformizada. Não será possível subsistir acláusula de bonificação e a multa moratória em conjunto. Oué uma, ou é outra.