artífices e testemunhas da paz entre tod@s

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    Artfices e testemunhas da pazArtfices e testemunhas da pazArtfices e testemunhas da pazentre tod@sentre tod@sentre tod@s

    PAX CHRISTI PORTUGAL

    LisboaDezembro de 2012

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    Artfices e testemunhas da paz

    entre tod@s

    CONTRIBUTOS PARA A CELEBRAO DO 46 DIA MUNDIAL DA PAZ

    1 DE J ANEIRO 2013

    PAX CHRISTI PORTUGAL

    LisboaDezembro de 2012

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    Artfices e testemunhas da paz entre tod@s. Contributos para a Celebrao do 46 DiaMundial da Paz. 1 de Janeiro 2013

    Produzido por: Pax Christi Portugal

    Dezembro de 2012

    Disponvel on-line em: http://www.paxchristiportugal.net

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    EM JEITO DE INTRODUO A Paz, como a guerra, depende de ti! (D. Antnio Ferreira Gomes) ........................... 7

    MENSAGEM PARA A CELEBRAO DO 46 DIA MUNDIAL DA PAZ Bem-aventurados os obreiros da paz (Bento XVI) ...................................................... 9

    TEXTOS PARA REFLEXO Quando desobedecer preciso (Aristides de Sousa Mendes) .................................. 17

    Do sonho realidade (Nelson Mandela) .................................................................. 19

    Deixem soar o Sino da Liberdade (Martin Luther King, Jr.) ....................................... 21

    Livre para Pensar e para Falar (Aung San Suu Kyi) .................................................... 23

    Enfrentar o deserto inevitvel (Dom Hlder Cmara) ........................................... 25

    SUGESTES PARA A CELEBRAO DO DIA MUNDIAL DA PAZ 2013 Coletnea de Oraes ............................................................................................... 27

    Sugestes para assinalar o Dia Mundial da Paz e usar o tema ................................. 29

    Ideias para trabalhar com crianas ........................................................................... 32

    Para aprofundar ........................................................................................................ 33

    TEMAS DAS MENSAGENS PARA O DIA MUNDIAL DA PAZ (1968-2013) ............................. 35

    SUMRIO

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    Vivemos habitualmente num alibi to fcilcomo falso, numa alienao tranquilizante deconscincia: a Paz depende de todos osoutros, dos exrcitos ou dos governos, dasNaes Unidas ou das naes nacionalistasdesunidas, dos papas ou dos bispos, dos pol-ticos ou dos economistas, dos mass media oudos educadores, de todos enfim, menos daminha honesta e pacfica pessoa, sentada aocanto da minha lareira ou a cultivar o meu

    jardim Pois bem: a Paz e tambm consequente-mente a guerra depende de ti. De ti, multi-plicado evidentemente por milhes. Mas,cuidado, no vs j alienar-te nos milhes,alienar-te agora nos milhes de boas pessoas tua imagem, como antes nos governos ounos exrcitos ou nos bispos!...De ti, de cada indivduo, multiplicado por

    milhes, sem dvida. Mas, se no desmultipli-camos esses milhes, se no reduzimos essasmassas humanas s unidades, ao indivduo, conscincia humana, responsabilidade pes-soal, numa palavra, se no responsabilizamoso coletivo, para que falar aqui, para que falarem Igreja inerme, para que tratar de f e demoral?!Mens agitat molem uma inteligncia ou umaconscincia pessoal pode agitar a massa; masa massa, por si, no tem inteligncia nem

    conscincia, no capaz de f nem de moral.Intil falar s massas: e, neste sentido, intilfalar aos exrcitos ou aos governos, rgos ouexpresso das massas Com um Pascal ou um S. Agostinho, digamo-nos a ns mesmos, cheios de toda a possvelconvico, razo e eficcia: a primeira obriga-o moral do homem esforar-se por pen-sar, e pensar bem, amar muito a sua pobreinteligncia. Este amor e esta obrigao tra-duzem-se para ns, neste momento e quantoa este problema, numa constatao moral,que resulta num imperativo categrico: a Paz,como a guerra, a guerra, como a Paz, depen-de de ti!Para comearmos por onde Paulo VI termina,falemos direta e imediatamente aos nossosirmos na f e na caridade. No temos ns,porventura, possibilidades nossas, originais e

    sobre-humanas, com que concorrer, junta-mente com os outros promotores da Paz,para tornar vlido o seu esforo, o esforocomum?... Quem, mais do que ns, cristos,estar obrigado a ser, com as palavras e como exemplo, mestre da Paz mediante a inser-o da causalidade humana na causalidadedivina, disponvel invocao das nossaspreces? () A Paz e portanto a guerra depende de ti,cristo, que fazes do teu Deus objeto de con-

    EM JEITO DE INTRODUO A Paz, como a guerra, depende de ti!*

    * D. ANTNIO FERREIRA GOMES Homilias da Paz (1970-1982). Porto: Fundao Spes, 1999, p. 71-74.

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    sumo e que, esquecido de quo perigoso falar de Deus (Orgenes) usas e abusas do Santo Nome de Deus em vo. A Paz e portanto a guerra depende de ti,cristo, que continuas a viver no tempo men-tal do Antigo Testamento, ou do Impriosacral pago, e adorar o Deus Sabaot, o Deusdos exrcitos ou o Forte da montanha, por-ventura o deus Marte, em vez de Deus-Paiuniversal, revelado em Cristo.A Paz e portanto a guerra depende de ti,cristo, se esqueces cuidadosamente que, emcivilizao crist, s Cristo pode salvar-nos,isto , que s a impotncia de Deus, no Seu

    Cristo-Jesus, nos ajuda (Bonhoeffer), s ela verdadeiramente salvadora da pessoa, e civili-zacional das mentalidades, e civilizadora dospovos.A Paz e portanto a guerra depende de ti,cristo, se tornas a Cruz, sinal supremo deresgate, paz e reconciliao, dos indivduos edos povos, como guio de cruzadas, comoaliada natural da espada e lbaro de conquis-

    tas ou pacificaes violentas. () A Paz e portanto a guerra depende de ti,cristo, se proclamas e crs porventura oCredo, mas no crs, com f crist e teologal,nas Bem-aventuranas, nem portanto na Cruzredentora.A Paz e portanto a guerra depende de ti,cristo, se proclamas a tua f catlica e triun-fal, mas no crs, com f teologal crist

    (embora porventura admitas que isso possaser msica celestial), no crs que so bem -aventurados os mansos, os quais finalmentepossuiro a terra, que so bem -aventu-rados os esfomeados e sedentos de justia,porque sero saciados, que so bem -aven-turados os misericordiosos, os puros de cora-o, os obreiros da paz, os quais obteromisericrdia, vero a face de Deus e serochamados Seus filhos. () A Paz e portanto a guerra depende de ti,cristo, se crs e difundes o bom-senso de

    que a moral crist vale no foro da conscincia, talvez muito boa para salvar a tua preciosaalminha, mas pouco vale para com o prximoe nada para com a comunidade humana,sobretudo se sociedade poltica, nacional ou

    internacional; que essa ter outro Evangelho,seja o de Maquiavel ou de Satan.

    A Paz e portanto a guerra depende de ti,cristo, se instrumentalizas o Evangelho, semediatizas o Reino de Deus aos reinados doscsares, se condicionas o Verbo de Deus ra-zo ou razes humanas, se pes a F ao servi-o dos interesses, individuais ou coletivos, sefazes da Moral crist universal uma moral

    limitada pelas fronteiras da nao, ou do es-tado ou da classe, se voltas ao deus da triboou do imprio, em suma e para hoje, se fazesdo Evangelho instrumento ao servio quer darevoluo social quer da conservao social.

    A Paz e portanto a guerra depende de ti,cristo portugus, se curas converter o Evan-gelho ou pregar outro Evangelho , que noo de Cristo, e exiges que continuem a consi-

    derar-te catlico e dos melhores (que, se noo fores e o admites, nada teramos direta-mente a dizer-te): que consideres os LusadasEvangelho da Ptria muito bem, nadatemos a opor (embora a mentalidade funda-mental do pico, mesmo j para o seu tempo,fosse arcaizante e antes medieval que renas-cente), mas, para o cristo, no pode ser esseevangelho particular a julgar o nico Evange-lho, antes tem de ser por este interpretado e julgado.A Paz e portanto a guerra depende de ti,cristo, se crs e proclamas ou fazes crer queo cristianismo, por ser um facto de conscin-cia, no mais que isso e que, portanto, Igreja s podem interessar as almas (desen-carnadas!) e no as sociedades, ou que umestado comum de perdio pode ser, para aconsiderao da Igreja, igual ao estado desalvao, e por conseguinte o seu ministriopastoral nada tem a ver com isso

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    1. CADA ANO NOVO traz consigo a expecta-tiva de um mundo melhor. Nesta perspeti-va, peo a Deus, Pai da humanidade, quenos conceda a concrdia e a paz a fim deque possam tornar-se realidade, paratodos, as aspiraes duma vida feliz e prs-pera. distncia de 50 anos do incio do ConclioVaticano II, que permitiu dar mais fora misso da Igreja no mundo, anima consta-tar como os cristos, Povo de Deus emcomunho com Ele e caminhando entre oshomens, se comprometem na histria com-partilhando alegrias e esperanas, tristezase angstias,[1] anunciando a salvao deCristo e promovendo a paz para todos.Na realidade o nosso tempo, caracterizadopela globalizao, com seus aspetos positi-vos e negativos, e tambm por sangrentosconflitos ainda em curso e por ameaas deguerra, requer um renovado e concordeempenho na busca do bem comum, dodesenvolvimento de todo o homem e dohomem todo.Causam apreenso os focos de tenso econflito causados por crescentes desigual-

    dades entre ricos e pobres, pelo predom-nio duma mentalidade egosta e individua-lista que se exprime inclusivamente por umcapitalismo financeiro desregrado. Alm devariadas formas de terrorismo e criminali-dade internacional, pem em perigo a pazaqueles fundamentalismos e fanatismosque distorcem a verdadeira natureza dareligio, chamada a favorecer a comunhoe a reconciliao entre os homens.E no entanto as inmeras obras de paz, deque rico o mundo, testemunham a voca-o natural da humanidade paz. Em cadapessoa, o desejo de paz uma aspiraoessencial e coincide, de certo modo, com oanelo por uma vida humana plena, feliz ebem sucedida. Por outras palavras, o dese- jo de paz corresponde a um princpio moral

    fundamental, ou seja, ao dever-direito deum desenvolvimento integral, social, comu-nitrio, e isto faz parte dos desgnios queDeus tem para o homem. Na verdade, ohomem feito para a paz, que dom deDeus.Tudo isso me sugeriu buscar inspirao,para esta Mensagem, s palavras de Jesus

    MENSAGEMMENSAGEMPARAPARA AA CELEBRAOCELEBRAO DODO 46 DIA MUNDIAL46 DIA MUNDIALDADA PAZPAZ

    BEM-AVENTURADOS OS OBREIROS DA PAZ*

    * http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_mes_20121208_xlvi-world-day-peace_po.html .

    [1] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporneo Gaudium et spes, 1.4.

    http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_mes_20121208_xlvi-world-day-peace_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_mes_20121208_xlvi-world-day-peace_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_mes_20121208_xlvi-world-day-peace_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_mes_20121208_xlvi-world-day-peace_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_mes_20121208_xlvi-world-day-peace_po.html
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    Cristo: Bem-aventurados os obreiros dapaz, porque sero chamados filhos deDeus (Mt 5, 9).

    A bem-aventurana evanglica

    2. As bem- aventuranas proclamadas porJesus (cf. Mt 5, 3-12; Lc6, 20- 23) so pro-messas. Com efeito, na tradio bblica, abem-aventurana um gnero literrio quetraz sempre consigo uma boa nova, ou sejaum evangelho, que culmina numa promes-sa. Assim, as bem-aventuranas no someras recomendaes morais, cuja obser-vncia prev no tempo devido um tempolocalizado geralmente na outra vida umarecompensa, ou seja, uma situao de feli-cidade futura; mas consistem sobretudo nocumprimento duma promessa feita a quan-tos se deixam guiar pelas exigncias daverdade, da justia e do amor. Frequente-mente, aos olhos do mundo, aqueles queconfiam em Deus e nas suas promessasaparecem como ingnuos ou fora da reali-

    dade; ao passo que Jesus lhes declara que j nesta vida e no s na outra se daroconta de serem filhos de Deus e que, desdeo incio e para sempre, Deus est totalmen-te solidrio com eles. Compreendero queno se encontram sozinhos, porque Deusest do lado daqueles que se comprome-tem com a verdade, a justia e o amor.Jesus, revelao do amor do Pai, no hesitaem oferecer-Se a Si mesmo em sacrifcio.Quando se acolhe Jesus Cristo, Homem-Deus, vive-se a jubilosa experincia de umdom imenso: a participao na prpria vidade Deus, isto , a vida da graa, penhorduma vida plenamente feliz. De modo par-ticular, Jesus Cristo d-nos a paz verdadei-ra, que nasce do encontro confiante dohomem com Deus.A bem-aventurana de Jesus diz que a paz, simultaneamente, dom messinico eobra humana. Na verdade, a paz pressupeum humanismo aberto transcendncia;

    fruto do dom recproco, de um mtuo enri-quecimento, graas ao dom que provm deDeus e nos permite viver com os outros epara os outros. A tica da paz uma ticade comunho e partilha. Por isso, indis-

    pensvel que as vrias culturas de hojesuperem antropologias e ticas fundadassobre motivos terico-prticos meramentesubjetivistas e pragmticos, em virtude dosquais as relaes da convivncia se inspi-ram em critrios de poder ou de lucro, osmeios tornam-se fins, e vice-versa, a cultu-ra e a educao concentram-se apenas nosinstrumentos, na tcnica e na eficincia.Condio preliminar para a paz o desman-telamento da ditadura do relativismo e daapologia duma moral totalmente autno-ma, que impede o reconhecimento de quoimprescindvel seja a lei moral natural ins-crita por Deus na conscincia de cadahomem. A paz construo em termosracionais e morais da convivncia, fundan-do-a sobre um alicerce cuja medida no criada pelo homem, mas por Deus. Como

    lembra o Salmo 29, o Senhor d fora aoseu povo; o Senhor abenoar o seu povocom a paz (v. 11).

    A paz: dom de Deus e obra dohomem

    3. A paz envolve o ser humano na sua inte-gridade e supe o empenhamento da pes-

    soa inteira: paz com Deus, vivendo con-forme sua vontade; paz interior consigomesmo, e paz exterior com o prximo ecom toda a criao. Como escreveu o BeatoJoo XXIII na EncclicaPacem in terris cujocinquentenrio ter lugar dentro de poucosmeses , a paz implica principalmente aconstruo duma convivncia humanabaseada na verdade, na liberdade, no amore na justia.[2] A negao daquilo que cons-

    titui a verdadeira natureza do ser humano,nas suas dimenses essenciais, na suacapacidade intrnseca de conhecer a verda-

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    de e o bem e, em ltima anlise, o prprioDeus, pe em perigo a construo da paz.Sem a verdade sobre o homem, inscritapelo Criador no seu corao, a liberdade eo amor depreciam-se, a justia perde a

    base para o seu exerccio.Para nos tornarmos autnticos obreiros dapaz, so fundamentais a ateno dimen-so transcendente e o dilogo constantecom Deus, Pai misericordioso, pelo qual seimplora a redeno que nos foi conquistadapelo seu Filho Unignito. Assim o homempode vencer aquele germe de obscureci-mento e negao da paz que o pecado

    em todas as suas formas: egosmo e violn-cia, avidez e desejo de poder e domnio,intolerncia, dio e estruturas injustas.A realizao da paz depende sobretudo doreconhecimento de que somos, em Deus,uma ni ca famlia humana. Esta, comoensina a Encclica Pacem in terris, estestruturada mediante relaes interpes-soais e instituies sustentadas e animadas por um ns comunitrio, que implicauma ordem moral, interna e externa, naqual se reconheam sinceramente, comverdade e justia, os prprios direitos e osprprios deveres para com os demais. Apaz uma ordem de tal modo vivificada eintegrada pelo amor, que se sentem comoprprias as necessidades e exignciasalheias, que se fazem os outros compartici-pantes dos prprios bens e que se estende

    sempre mais no mundo a comunho dosvalores espirituais. uma ordem realizadana liberdade, isto , segundo o modo quecorresponde dignidade de pessoas que,por sua prpria natureza racional, assu-mem a responsabilidade do prprio agir.[3]A paz no um sonho, nem uma utopia; apaz possvel. Os nossos olhos devem verem profundidade, sob a superfcie das apa-

    rncias e dos fenmenos, para vislumbraruma realidade positiva que existe nos cora-es, pois cada homem criado imagemde Deus e chamado a crescer contribuindopara a edificao dum mundo novo. Na

    realidade, atravs da encarnao do Filho eda redeno por Ele operada, o prprioDeus entrou na histria e fez surgir umanova criao e uma nova aliana entreDeus e o homem (cf. Jr 31, 31-34), ofere-cendo-nos a possibilidade de ter um cora-o novo e um esprito novo (cf. Ez36,26).Por isso mesmo, a Igreja est convencidade que urge um novo anncio de Jesus

    Cristo, primeiro e principal factor do desen-volvimento integral dos povos e tambmda paz. Na realidade, Jesus a nossa paz, anossa justia, a nossa reconciliao(cf. Ef 2,14; 2 Cor 5, 18). O obreiro da paz,segundo a bem-aventurana de Jesus, aquele que procura o bem do outro, o bempleno da alma e do corpo, no tempo pre-sente e na eternidade.A partir deste ensinamento, pode-se dedu-zir que cada pessoa e cada comunidade religiosa, civil, educativa e cultural cha-mada a trabalhar pela paz. Esta consiste,principalmente, na realizao do bemcomum das vrias sociedades, primrias eintermdias, nacionais, internacionais e amundial. Por isso mesmo, pode-se suporque os caminhos para a implementao dobem comum sejam tambm os caminhos

    que temos de seguir para se obter a paz.

    Obreiros da paz so aqueles queamam, defendem e promovem avida na sua integridade

    4. Caminho para a consecuo do bemcomum e da paz , antes de mais nada, orespeito pela vida humana, considerada na

    [2] Cf. Carta enc. Pacem in terris (11 de Abril de 1963): AAS55 (1963), 265-266.7.

    [3] Cf.ibidem: o. c., 266.9.

    http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_mes_20121208_xlvi-world-day-peace_po.html#_ftnref3http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_mes_20121208_xlvi-world-day-peace_po.html#_ftnref3http://www.vatican.va/holy_father/john_xxiii/encyclicals/documents/hf_j-xxiii_enc_11041963_pacem_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/john_xxiii/encyclicals/documents/hf_j-xxiii_enc_11041963_pacem_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/john_xxiii/encyclicals/documents/hf_j-xxiii_enc_11041963_pacem_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_mes_20121208_xlvi-world-day-peace_po.html#_ftnref3
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    multiplicidade dos seus aspetos, a comearda conceo, passando pelo seu desenvol-vimento at ao fim natural. Assim, os ver-dadeiros obreiros da paz so aqueles queamam, defendem e promovem a vida

    humana em todas as suas dimenses: pes-soal, comunitria e transcendente. A vidaem plenitude o pice da paz. Quem dese- ja a paz no pode tolerar atentados e cri-mes contra a vida.Aqueles que no apreciam suficientementeo valor da vida humana, chegando a defen-der, por exemplo, a liberalizao do aborto,talvez no se deem conta de que assim

    esto a propor a prossecuo duma pazilusria. A fuga das responsabilidades, quedeprecia a pessoa humana, e mais ainda oassassinato de um ser humano indefeso einocente nunca podero gerar felicidadenem a paz. Na verdade, como se pode pen-sar em realizar a paz, o desenvolvimentointegral dos povos ou a prpria salvaguardado ambiente, sem estar tutelado o direito vida dos mais frgeis, a comear pelos nas-

    cituros? Qualquer leso vida, de modoespecial na sua origem, provoca inevitavel-mente danos irreparveis ao desenvolvi-mento, paz, ao ambiente. To-pouco justo codificar ardilosamente falsos direitosou opes que, baseados numa viso redu-tiva e relativista do ser humano e com ohbil recurso a expresses ambguas ten-dentes a favorecer um suposto direito aoaborto e eutansia, ameaam o direitofundamental vida.Tambm a estrutura natural do matrim-nio, como unio entre um homem e umamulher, deve ser reconhecida e promovidacontra as tentativas de a tornar, juridica-mente, equivalente a formas radicalmentediversas de unio que, na realidade, a pre- judicam e contribuem para a sua desestabi-lizao, obscurecendo o seu carcter pecu-liar e a sua insubstituvel funo social.

    Estes princpios no so verdades de f,nem uma mera derivao do direito liber-dade religiosa; mas esto inscritos na pr-pria natureza humana sendo reconhec-veis pela razo e consequentemente

    comuns a toda a humanidade. Por conse-guinte, a ao da Igreja para os promoverno tem carcter confessional, mas dirige-se a todas as pessoas, independentementeda sua filiao religiosa. Tal ao aindamais necessria quando estes princpiosso negados ou mal entendidos, porqueisso constitui uma ofensa contra a verdadeda pessoa humana, uma ferida grave infligi-da justia e paz.Por isso, uma importante colaborao paraa paz dada tambm pelos ordenamentos jurdicos e a administrao da justia quan-do reconhecem o direito ao uso do princ-pio da objeo de conscincia face a leis emedidas governamentais que atentemcontra a dignidade humana, como o abortoe a eutansia.Entre os direitos humanos basilares mesmopara a vida pacfica dos povos, conta-se odireito dos indivduos e comunidades liberdade religiosa. Neste momento histri-co, torna-se cada vez mais importante queeste direito seja promovido no s negati-vamente, como liberdade de por exem-plo, de obrigaes e coaes quanto liberdade de escolher a prpria religio,mas tambm positivamente, nas suas

    vrias articulaes, como liberdade para :por exemplo, para testemunhar a prpriareligio, anunciar e comunicar a sua doutri-na; para realizar atividades educativas, debeneficncia e de assistncia que permitemaplicar os preceitos religiosos; para existir eatuar como organismos sociais, estrutura-dos de acordo com os princpios doutrinaise as finalidades institucionais que lhe soprprias. Infelizmente vo-se multiplican-do, mesmo em pases de antiga tradiocrist, os episdios de intolerncia religio-

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    e da lgica do dom. [5] Concretamente naatividade econmica, o obreiro da paz apa-rece como aquele que cria relaes delealdade e reciprocidade com os colabora-dores e os colegas, com os clientes e os

    usurios. Ele exerce a atividade econmicapara o bem comum, vive o seu compromis-so como algo que ultrapassa o interesseprprio, beneficiando as geraes presen-tes e futuras. Deste modo sente-se a traba-lhar no s para si mesmo, mas tambmpara dar aos outros um futuro e um traba-lho dignos.No mbito econmico, so necessrias

    especialmente por parte dos Estados polticas de desenvolvimento industrial eagrcola que tenham a peito o progressosocial e a universalizao de um Estado dedireito e democrtico. Fundamental eimprescindvel tambm a estruturaotica dos mercados monetrio, financeiro ecomercial; devem ser estabilizados emelhor coordenados e controlados, demodo que no causem dano aos mais

    pobres. A solicitude dos diversos obreirosda paz deve ainda concentrar-se commais determinao do que tem sido feitoat agora na considerao da crise ali-mentar, muito mais grave do que a finan-ceira. O tema da segurana das provisesalimentares voltou a ser central na agendapoltica internacional, por causa de crisesrelacionadas, para alm do mais, com asbruscas oscilaes do preo das matrias-primas agrcolas, com comportamentosirresponsveis por parte de certos agenteseconmicos e com um controle insuficientepor parte dos Governos e da comunidadeinternacional. Para enfrentar semelhantecrise, os obreiros da paz so chamados atrabalhar juntos em esprito de solidarieda-de, desde o nvel local at ao internacional,

    com o objetivo de colocar os agricultores,especialmente nas pequenas realidadesrurais, em condies de poderem realizar asua atividade de modo digno e sustentveldos pontos de vista social, ambiental e

    econmico.

    Educao para uma cultura da paz:o papel da famlia e das institui-es

    6. Desejo veementemente reafirmar que osdiversos obreiros da paz so chamados acultivar a paixo pelo bem comum da fam-

    lia e pela justia social, bem como o empe-nho por uma vlida educao social.Ningum pode ignorar ou subestimar opapel decisivo da famlia, clula bsica dasociedade, dos pontos de vista demogrfi-co, tico, pedaggico, econmico e poltico.Ela possui uma vocao natural para pro-mover a vida: acompanha as pessoas noseu crescimento e estimula-as a enriquece-

    rem-se entre si atravs do cuidado recpro-co. De modo especial, a famlia crist guar-da em si o primordial projeto da educaodas pessoas segundo a medida do amordivino. A famlia um dos sujeitos sociaisindispensveis para a realizao duma cul-tura da paz. preciso tutelar o direito dospais e o seu papel primrio na educaodos filhos, nomeadamente nos mbitosmoral e religioso. Na famlia, nascem ecrescem os obreiros da paz, os futuros pro-motores duma cultura da vida e doamor. [6]Nesta tarefa imensa de educar para a paz,esto envolvidas de modo particular ascomunidades dos crentes. A Igreja tomaparte nesta grande responsabilidade atra-vs da nova evangelizao, que tem como

    [5] Cf. ibid., 34.36: o. c., 668-670.671-672.15.

    [6] Cf. Joo Paulo II,Mensagem para o Dia Mundial da paz de 1994 (8 de Dezembro de 1993): AAS86 (1994), 156-162.17.

    http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_mes_20121208_xlvi-world-day-peace_po.html#_ftnref6http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_mes_20121208_xlvi-world-day-peace_po.html#_ftnref6http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/messages/peace/documents/hf_jp-ii_mes_08121993_xxvii-world-day-for-peace_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/messages/peace/documents/hf_jp-ii_mes_08121993_xxvii-world-day-for-peace_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_mes_20121208_xlvi-world-day-peace_po.html#_ftnref6
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    pontos de apoio a converso verdade eao amor de Cristo e, consequentemente, orenascimento espiritual e moral das pes-soas e das sociedades. O encontro comJesus Cristo plasma os obreiros da paz,

    comprometendo-os na comunho e nasuperao da injustia.Uma misso especial em prol da paz desempenhada pelas instituies culturais,escolsticas e universitrias. Delas serequer uma notvel contribuio no spara a formao de novas geraes delderes, mas tambm para a renovao dasinstituies pblicas, nacionais e interna-

    cionais. Podem tambm contribuir parauma reflexo cientfica que radique as ativi-dades econmicas e financeiras numa sli-da base antropolgica e tica. O mundoatual, particularmente o mundo da poltica,necessita do apoio dum novo pensamento,duma nova sntese cultural, para superartecnicismos e harmonizar as vrias tendn-cias polticas em ordem ao bem comum.Este, visto como conjunto de relaes inter-

    pessoais e instituies positivas ao serviodo crescimento integral dos indivduos edos grupos, est na base de toda a verda-deira educao para a paz.

    Uma pedagogia do obreiro da paz

    7. Concluindo, h necessidade de propor epromover uma pedagogia da paz. Esta

    requer uma vida interior rica, refernciasmorais claras e vlidas, atitudes e estilos devida adequados. Com efeito, as obras depaz concorrem para realizar o bem co mume criam o interesse pela paz, educandopara ela. Pensamentos, palavras e gestosde paz criam uma mentalidade e uma cul-tura da paz, uma atmos fera de respeito,honestidade e cordialidade. Por isso,

    necessrio ensinar os homens a amarem-see educarem-se para a paz, a viverem maisde benevolncia que de mera tolerncia.Incentivo fundamental ser dizer no vingana, reconhecer os prprios erros,

    aceitar as desculpas sem as buscar e, final-mente, perdoar ,[7] de modo que os errose as ofensas possam ser verdadeiramentereconhecidos a fim de caminhar juntos paraa reconciliao. Isto requer a difuso dumapedagogia do perdo. Na realidade, o malvence-se com o bem, e a justia deve serprocurada imitando a Deus Pai que amatodos os seus filhos (cf. Mt 5, 21- 48). umtrabalho lento, porque supe uma evoluoespiritual, uma educao para os valoresmais altos, uma viso nova da histriahumana. preciso renunciar paz falsa,que prometem os dolos deste mundo, eaos perigos que a acompanham; refiro-me paz que torna as conscincias cada vezmais insensveis, que leva a fechar-se em simesmo, a uma existncia atrofiada vividana indiferena. Ao contrrio, a pedagogia

    da paz implica servio, compaixo, solida-riedade, coragem e perseverana.Jesus encarna o conjunto destas atitudesna sua vida at ao dom total de Si mesmo,at perder a vida (cf. Mt 10, 39; Lc 17,33; Jo 12, 25). E promete aos seus discpu-los que chegaro, mais cedo ou mais tarde,a fazer a descoberta extraordinria de quefalamos no incio: no mundo, est presenteDeus, o Deus de Jesus Cristo, plenamentesolidrio com os homens. Neste contexto,apraz-me lembrar a orao com que sepede a Deus para fazer de ns instrumen-tos da sua paz, a fim de levar o seu amoronde h dio, o seu perdo onde h ofen-sa, a verdadeira f onde h dvida. Pornossa vez pedimos a Deus, juntamente como Beato Joo XXIII, que ilumine os respon-

    [7] Bento XVI,Discurso por ocasio do Encontro com os membros do Governo, das instituies da Repblica, com oCorpo Diplomtico, os lderes religiosos e representantes do mundo da cultura (Baabda- Lbano, 15 de Setembro de2012): LOsservatore Romano (ed. port. de 23/IX/ 2012), 7.18.

    http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_mes_20121208_xlvi-world-day-peace_po.html#_ftnref7http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_mes_20121208_xlvi-world-day-peace_po.html#_ftnref7http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2012/september/documents/hf_ben-xvi_spe_20120915_autorita_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2012/september/documents/hf_ben-xvi_spe_20120915_autorita_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2012/september/documents/hf_ben-xvi_spe_20120915_autorita_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2012/september/documents/hf_ben-xvi_spe_20120915_autorita_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_mes_20121208_xlvi-world-day-peace_po.html#_ftnref7
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    sveis dos povos para que, junto com asolicitude pelo justo bem-estar dos pr-prios concidados, garantam e defendam odom precioso da paz; inflame a vontade detodos para superarem as barreiras que

    dividem, reforarem os vnculos da carida-de mtua, compreenderem os outros eperdoarem aos que lhes tiverem feito inj-rias, de tal modo que, em virtude da suaao, todos os povos da terra se tornemirmos e floresa neles e reine para semprea to suspirada paz.[8]Com esta invocao, fao votos de quetodos possam ser autnticos obreiros e

    construtores da paz, para que a cidade dohomem cresa em concrdia fraterna, naprosperidade e na paz.

    Vaticano, 8 de Dezembro de 2012.

    [8] Cf. Carta enc. Pacem in terris (11 de Abril de1963): AAS55 (1963), 304.19.

    Queridos amigos, vejo emvs as sentinelas da

    manh (cf. Is 21, 11-12),nesta alvorada do tercei-ro milnio. () Hojeencontrais-vos reunidosaqui para afirmar que,no novo sculo, no vosprestareis a ser instru-mentos de violncia e dedestruio; defendereis apaz, custa da prpriavida se for necessrio.No vos conformareiscom um mundo onde

    outros seres humanosmorrem de fome, conti-nuam analfabetos, notm trabalho. Vs defen-dereis a vida em todas asetapas da sua evoluo

    terrena, esforar-vos-eiscom todas as vossas for-as por tornar esta terracada vez mais habitvelpara todos.

    JOO PAULO IIViglia de Orao: XV Jornada Mundial da Juventude,

    Tor Vergata, 19 de Agosto de 2000

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    Reconhecido diplomata, desempenhava funes de cnsul de Bordus em Franaquando teve incio a Segunda Guerra Mundial. Concedeu contra a vontade deSalazar cerca de trinta mil vistos a refugiados, dos quais dez mil a refugiados deconfisso judaica. Pelas suas aes em Bordus, devido s quais morreu na mis-ria, foi condecorado a ttulo pstumo com a Cruz de Mrito pela Repblica Portu-guesa (1998).

    TEXTOSTEXTOSPARA REFLEXOPARA REFLEXO

    QUANDO DESOBEDECER PRECISO Aristides de Sousa Mendes

    (19 de Julho de 1885 3 de Abril de 1954)

    Aristides de Sousa Mendes, ex-cnsul dePortugal em Bordus, lugar de que foi des-

    titudo pelo Ministrio dos Negcios Estran-geiros, por motivo de ter, com desobedin-cia s instrues vigentes, dado vistos empassaportes a milhares de estrangeiros queprocuravam no nosso pas abrigo e segu-rana contra a ameaa e o perigo dos exr-citos alemes, ento em via de ocupaototal do sudoeste da Frana vem, no exerc-cio do seu direito de reclamao garantidono n. 18 do art. 8 da Constituio Polti-ca da Repblica Portuguesa, apelar para aAssembleia Nacional, como encarregadapela mesma Constituio de Vigiar pelocumprimento das suas disposies e dasleis da Nao ( Art. 91, n. 2) com osseguintes fundamentos:Tendo-lhe sido enviadas instrues peloMinistrio dos Negcios Estrangeiros sobreos vistos em passaportes, essas instrues

    continham na primeira alnea a proibioabsoluta de os dar aos Israelitas sem discri-minao de nacionalidade.

    Tratando-se de milhares de pessoas dereligio judaica, pertencentes a todos os

    pases invadidos, j perseguidas na Alema-nha e noutros pases seus forados aderen-tes, entendeu o reclamante que no deviaobedecer quela proibio por a considerarinconstitucional em virtude do disposto noart. 8. n. 3, da mesma Constituio quegarante a liberdade e a inviolabilidade decrenas, no permitindo que ningum sejaperseguido por causa delas, nem que nin-gum seja obrigado a responder acerca dareligio que professa, medida que alis selhe tornava necessria para saber a religiodos impetrantes e assim negar-lhes ouconceder-lhes o visto.Nestes termos, se o reclamante no obede-ceu ordem recebida do Ministrio dosNegcios Estrangeiros, no fez mais queresistir, nos termos do n. 18, do mesmoart. 8, da Constituio, a uma ordem que

    infringia manifestamente as garantias indi-viduais, no legalmente suspensas nessaocasio. (Art. 8., n. 19).

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    E no se pretenda que a inviolabilidade decrenas no constitui, segundo a Constitui-o, um direito para os estrangeiros visa-dos, com o fundamento de no se acharemresidindo em Portugal, nico caso em que

    poderiam ter os mesmos direitos que osnacionais ( nico, art. 7), pois no setrata, no caso presente, dum direito dosestrangeiros, mas um dever dos funcion-rios portugueses que, nem em Portugalnem nos seus Consulados, que so tambmterritrio portugus, podero, sem quebrade letra da Constituio esobretudo do seu espri-to, interrogar seja quemfor sobre a religio pro-fessada, para lhe negarqualquer ato da sua com-petncia, o que a admitir-se significaria a maisodiosa perseguio reli-giosa, mormente quandose impunha o direito deasilo que todo o pas civi-

    lizado sempre tem reco-nhecido e praticado emocasies de guerra, ou decalamidades pblicas.Espera, pois, o reclaman-te que a AssembleiaNacional, na sua altafuno de vigiar pelocumprimento da lei (), haja por bemdeclarar nula a pena que lhe foi impostapor motivo da desobedincia s instruescitadas, exigindo a respetiva responsabili-dade quele ou queles funcionrios que,dando-lhe a referida ordem, atentaramcontra a Constituio e o regmen Polticoestabelecido, (art. 115., n. 2) reconhe-cendo-lhe o direito a reparaes materiaise morais, pelo prejuzo que lhe foi causadopelo processo disciplinar que lhe foi instau-

    rado e se acha arquivado no Ministrio dosNegcios Estrangeiros (art.8., n.18).No alegou na resposta que deu no mesmoprocesso disciplinar estas circunstncias,pelo motivo de, lavrando a guerra na Euro-pa, no querer dar publicidade e relevo auma atitude por parte de funcionrios doEstado, que sobre ser inconstitucional,poderia ser interpretada como colaboraona obra de perseguio do governo Hitle-riano contra os judeus, o que representariauma quebra da neutralidade adotada pelo

    governo.No pode, porm, supor-

    tar a evidente injustiacom que foi tratado econduziu ao absurdo, aque pede seja posto rpi-do termo, de o reclaman-te ter sido severamentepunido por factos por quea Administrao tem sidoelogiada, em Portugal eno estrangeiro, manifes-tamente por engano, poisos encmios cabem aopas e sua populaocujos sentimentos altrus-tas e humanitrios tive-ram larga aplicao eretumbncia universal, justamente devido

    desobedincia do reclamante.

    Em resumo, a atitude do Governo Portu-gus foi inconstitucional, antineutral e con-trria aos sentimentos de humanidade e,portanto, insofismavelmente contra aNao.

    Realmente desobedeci, mas a

    minha desobedincia no medesonra. No cumpri instruesque significavam, a meu ver,

    perseguio a verdadeirosnufragos que procuravam atodo o custo salvar-se da sanhahitleriana. Acima dessasinstrues, estava para mim a leide Deus e foi essa que eu procurei

    cumprir, sem hesitaes, nemcobardias de poltro. Overdadeiro valor da religiocrist, est no amor do prximo,e eu, sendo cristo, no podia

    fugir do seu imprio.Carta ao Dr. Palma Carlos. 17 de Julho 1941

    Reclamao de Aristides de Sousa Mendes Assembleia Nacional. 10 de Dezembro 1945. In ASSOR, Miriam Aristi-des de Sousa Mendes: Um Justo contra a corrente. Lisboa: Guerra e Paz, 2009, p. 128-129.

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    Advogado e lder poltico sul-africano nascido em Transkei, frica do Sul, NelsonRolihlahla Mandela, considerado um guerreiro em luta pela liberdade, foi galardoa-do com o Prmio Nobel da Paz em 1993, dividido com Frederik Willem de Klerk, pelosesforos desenvolvidos no sentido de estabelecer a democracia, acabando com oregime de segregao racial.

    DO SONHO REALIDADENelson Mandela

    (18 de Julho de 1918 )

    Hoje, atravs da nossa presena aqui e dascelebraes que tm lugar noutras partesdo nosso pas e do mundo, conferimos

    glria e esperana liberdade recm-conquistada.Da experincia de um extraordinrio desas-tre humano que durou demais, deve nasceruma sociedade da qual toda a humanidadese orgulhar.Os nossos comportamentos dirios comosul-africanos comuns devem dar azo a umarealidade sul-africana que reforce a crena

    da humanidade na justia, fortalea a suaconfiana na nobreza da alma humana ealente as nossas esperanas de uma vidagloriosa para todos.Devemos tudo isto a ns prprios e aospovos do mundo, hoje aqui to bem repre-sentados. (...)*A+ unio espiritual e fsica que partilhamoscom esta ptria comum explica a profundador que trazamos no nosso corao quan-do vamos o nosso pas despedaar-se numterrvel conflito, quando o vamos despre-

    zado, proscrito e isolado pelos povos domundo, precisamente por se ter tornado asede universal da perniciosa ideologia e

    prtica do racismo e da opresso racial.Ns, o povo sul-africano, sentimo-nos reali-zados pelo facto de a humanidade nos terde novo acolhido no seu seio; por ns,proscritos at h pouco tempo, termosrecebido hoje o raro privilgio de acolher-mos as naes do mundo no nosso prprioterritrio.Agradecemos a todos os nossos distintos

    convidados internacionais por terem vindotomar posse, juntamente com o nossopovo, daquilo que , afinal, uma vitriacomum pela justia, pela paz e pela digni-dade humana.Acreditamos que continuaro a apoiar-nos medida que enfrentarmos os desafios daconstruo da paz, da prosperidade, dademocracia e da erradicao do sexismo e

    do racismo.Apreciamos sinceramente o papel desem-penhado pelas massas do nosso povo e

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    pelos lderes das suas organizaes demo-crticas polticas, religiosas, femininas, de juventude, profissionais, tradicionais eoutras para conseguir este desenlace. Omeu segundo vice-presidente o distinto

    F.W. de Klerk, um dos mais eminentes.Tambm gostaramos de prestar homena-gem s nossas foras de segurana, a todasas suas patentes, pelo destacado papel quedesempenharam para garantir as nossasprimeiras eleies democrticas e a transi-o para a democracia, protegendo-nos dasforas sanguinrias que ainda se recusam aver a luz.

    Chegou o momento de sarar as feridas.Chegou o momento de transpor os abismosque nos dividem.Chegou o momento de construir.Conseguimos finalmente a nossa emancipa-o poltica. Comprometemo-nos a libertartodo o nosso povo do continuado cativeiroda pobreza, das privaes, do sofrimento,da discriminao sexual e de quaisqueroutras.Conseguimos dar os ltimos passos emdireo liberdade em condies de pazrelativa. Comprometemo-nos a construiruma paz completa, justa e duradoura.Triunfmos no nosso intento de implantar aesperana no corao de milhes de com-patriotas. Assumimos o compromisso deconstruir uma sociedade na qual todos ossul-africanos, quer sejam negros ou bran-cos, possam caminhar de cabea erguida,sem receios no corao, certos do seu ina-lienvel direito a dignidade humana: umanao arco-ris, em paz consigo prpria ecom o mundo.Como smbolo do seu compromisso derenovar o nosso pas, o novo governo provi-srio de Unidade Nacional abordar, com

    maior urgncia, a questo da amnistia paravrias categorias de pessoas que se encon-tram atualmente a cumprir penas de pri-so.Dedicamos o dia de hoje a todos os heris eheronas deste pas e do resto do mundoque se sacrificaram de diversas formas ederam as suas vidas para que ns pudsse-mos ser livres.Os seus sonhos tornaram-se realidade. Asua recompensa a liberdade.Sinto-me simultaneamente humilde e ele-vado pela honra e privilgio que o povo dafrica do Sul me conferiu ao eleger-meprimeiro Presidente de uma frica do Sulunida, democrtica, no racista e no sexis-ta. (...)Mesmo assim, temos conscincia de que ocaminho para a liberdade no fcil.Sabemos muito bem que nenhum de nspode ser bem-sucedido agindo sozinho.Por conseguinte, temos que agir em con- junto, como um povo unido, pela reconci-liao nacional, pela construo da nao,pelo nascimento de um novo mundo.Que haja justia para todos.Que haja paz para todos.Que haja trabalho, po, gua e sal paratodos.Que cada um de ns saiba que o seu corpo,a sua mente e a sua alma foram libertados

    para se realizarem.Nunca, nunca e nunca mais voltar estamaravilhosa terra a experimentar a opres-so de uns sobre os outros, nem a sofrer ahumilhao de ser a escria do mundo.O sol nunca se por sobre um to gloriosofeito humano.Que reine a liberdade. Que Deus abenoefrica!

    Discurso de Nelson Mandela no dia de tomada de posse como Presidente Eleito da frica do Sul. 10 de Maio de 1994.Discurso original em:http://db.nelsonmandela.org/speeches/pub_view.asp?pg=item&ItemID=NMS176&txtstr=1994 .

    http://db.nelsonmandela.org/speeches/pub_view.asp?pg=item&ItemID=NMS176&txtstr=1994http://db.nelsonmandela.org/speeches/pub_view.asp?pg=item&ItemID=NMS176&txtstr=1994http://db.nelsonmandela.org/speeches/pub_view.asp?pg=item&ItemID=NMS176&txtstr=1994
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    Pastor da Igreja Baptista e ativista poltico norte-americano, nascido em Atlan-ta, Gergia, Martin Luther King, Jr. foi um dos principais lderes do movimentoamericano pelos direitos civis e defensor da resistncia no-violenta contra aopresso racial. Aps organizar o famoso boicote ao transporte pblico emMontgomery (Alabama), em 1955, foi escolhido para lder do movimento a favor dos direitos civis das minorias. Em 28 de Agosto de 1963, dirigiu a histri-ca marcha para Washington, onde pronunciou o famoso discurso I have aDream (Eu tenho um sonho). Em 1964, pouco antes do seu assassinato, em

    Memphis, Tennessee, foi galardoado com o Prmio Nobel da Paz.

    DEIXEM SOAR O SINO DA LIBERDADEMartin Luther King, Jr.

    (15 de Janeiro de 1929 4 de Abril de 1968)

    Sinto-me feliz por estar hoje aqui convosconaquela que ir ficar na histria da nossanao como a maior manifestao pelaliberdade.H um sculo, um grande Americano, a cujasombra simblica nos acolhemos hoje,assinou a Proclamao de Emancipao.Essa proclamao de extraordinria impor-

    tncia foi como um grande farol que veioiluminar a esperana de milhes de escra-vos negros, que ardiam nas chamas daasfixiante injustia. Foi como uma aurora jubilosa que vinha pr fim longa noite doseu cativeiro.

    Mas, cem anos volvidos, o Negro ainda no livre. Cem anos volvidos, a vida do Negrocontinua a ser desgraadamente tolhidapelas algemas da segregao e pelas grilhe-tas da discriminao. Cem anos volvidos, oNegro vive numa ilha deserta de pobreza

    no meio dum vasto oceano de prosperida-de material. Cem anos volvidos, o Negrocontinua confinado aos cantos da socieda-de americana e sente-se exilado na suaprpria terra.

    Por isso viemos aqui hoje denunciar umasituao vergonhosa. ()

    Viemos tambm a este lugar sagrado paralembrar Amrica a grande urgncia dahora presente. No podemos continuar adar-nos ao luxo de adiar ou tomar o tran-quilizante que o gradualismo. Chegou ahora de cumprir as promessas da democra-cia. Chegou a hora de sair do negro e ridovale da segregao para a estrada soalheirada justia social. Chegou a hora de arrancara nossa nao s areias movedias da injus-

    tia racial e implant-la no rochedo slidoda fraternidade. Chegou a hora de fazer da

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    justia uma realidade para todos os filhosde Deus. (...)

    No haver sossego nem tranquilidade naAmrica enquanto o Negro no vir garanti-dos os seus direitos de cidadania. Os turbi-lhes da revolta iro continuar a abalar osalicerces da nossa nao at que nasa odia radioso da justia.Mas h uma coisa que eu posso dizer aomeu povo, que se mantm firme no limiaracolhedor de acesso ao palcio da justia:no processo de conquista do lugar a quetemos direito, importa que no cometamosactos condenveis. No podemos saciar a

    nossa sede de liberdade bebendo do cliceda acrimnia e do dio. Temos de travar anossa batalha mantendo-nos sempre numplano elevado de dignidade e disciplina.No podemos consentir que o nosso pro-testo criativo degenere em violncia fsica.Sistematicamente, temos de nos erguer altura majestosa da resposta fora fsicapela fora anmica. (...)

    H quem pergunte aos militantes dos direi-tos civis: Quando que vos ireis dar porsatisfeitos? No iremos dar-nos por satis-feitos enquanto o Negro for vtima doshorrores inenarrveis da brutalidade poli-cial. No iremos dar-nos por satisfeitosenquanto os nossos corpos, pesados dafadiga e da viagem, no puderem encontrarpousada nos motis das estradas e noshotis das cidades. No podemos dar-nospor satisfeitos enquanto o essencial damobilidade do Negro for de um guetopequeno para outro maior. No iremos dar-nos por satisfeitos enquanto os nossosfilhos se virem espoliados da sua identida-de e privados da sua dignidade por tabule-tas em que se l S Para Brancos. Nopodemos dar-nos por satisfeitos enquanto

    um Negro do Mississippi no puder votar eum Negro de Nova Iorque achar que notem razes para votar. No, no, no nosdamos nem daremos por satisfeitosenquanto a equidade no jorrar como urna

    fonte e a justia como corrente que noseca. (...)Digo-vos hoje, meus amigos: mesmo quetenhamos de enfrentar as dificuldades dehoje e de amanh, eu ainda tenho umsonho. Um sonho que mergulha profunda-mente as suas razes no sonho americano.Tenho um sonho de que um dia esta naose ir erguer e viver o significado autntico

    do seu credo temos por verdades evi-dentes que todos os homens foram criadosiguais. () Tenho um sonho de que os meus quatro filhospequenos iro um dia viver num pas em queno sero julgados pela cor da sua pele massim pelo contedo do seu carcter.Eu hoje tenho um sonho! () Tenho um sonho de que um dia todo o valeser exaltado, e todo o monte e todo oouteiro sero abatidos: e o que est torcidose endireitar, e o que spero se aplai-nar. (...) esta a nossa esperana. esta a f que euvou levar comigo no meu regresso ao Sul.Com esta f seremos capazes de talhar damontanha do desespero um calhau deesperana.

    Com esta f seremos capazes de transfor-mar as estridentes desafinaes da nossanao numa bela sinfonia da fraternidade.Com esta f seremos capazes de trabalharlado a lado, rezar lado a lado, lutar lado alado, ir para a priso lado a lado, bater-nospela liberdade lado a lado, com a certezade que um dia seremos livres. (...)

    Discurso pronunciado na escadaria do Monumento a Lincoln, em Washington, aps a Marcha para Washington porEmprego e Liberdade. In CARSON , Clayborne (Org.) Eu tenho um sonho: A Autobiografia de Martin Luther King.Lisboa: Editorial Bizncio, 2003, p. 249-259. Discurso original em:http://www.thekingcenter.org/archive/document/i-have-dream-1 .

    http://www.thekingcenter.org/archive/document/i-have-dream-1http://www.thekingcenter.org/archive/document/i-have-dream-1http://www.thekingcenter.org/archive/document/i-have-dream-1http://www.thekingcenter.org/archive/document/i-have-dream-1http://www.thekingcenter.org/archive/document/i-have-dream-1
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    Dia Mundial da Paz 2013 -23

    Filha do heri nacional da Birmnia, Aung San, assassinado quando ela tinha apenasdois anos, depois de fazer os seus estudos em Rangun, Deli e na universidade deOxford, trabalhou nas Naes Unidas em Nova Iorque e no Buto. O seu regresso Birmnia, em 1988, coincidiu com o eclodir de uma revolta espontnea contra vinte eseis anos de represso poltica e declnio econmico. Aung San Suu Kyi rapidamente serevelou a lder natural e mais eloquente do movimento, e o partido que fundou obteveuma vitria colossal nas eleies de Maio de 1990. Em Julho de 1989, foi posta sob

    priso domiciliria. Em 1990, foi galardoada com o Prmio para os Direitos Humanos Thorolf Rafto,da Noruega, e o Prmio Sakharov para a liberdade de Pensamento do Parlamento Europeu, e, em1991, com o Prmio Nobel da Paz.

    LIVRE PARA PENSARE PARA FALAR Aung San Suu Kyi(19 de Junho de 1945 )

    A guerra no o nico campo onde a paz conseguida atravs da morte. Onde querque o sofrimento seja ignorado, haversementes de conflito, pois o sofrimentodegrada, amargura e enfurece.Um aspeto positivo de viver em isolamentofoi eu ter tempo de sobra para refletirsobre o significado de palavras e preceitos

    que tinha conhecido e aceite toda a minhavida. Como budista, eu tinha ouvido falarde dukha, geralmente traduzido por sofri-mento, desde que era criana. (...) Noentanto, foi apenas durante os meus anosde priso domiciliria que investiguei anatureza dos seis grandes dukha. Estes so:ser concebido, envelhecer, adoecer, mor-rer, separar-se daqueles que se ama, serforado a viver com aqueles que no seama. Examinei cada um dos seis grandessofrimentos, no no mbito religioso, mas

    no contexto das nossas vidas comuns, quo-tidianas. () Intrigaram-me especialmenteos ltimos dois tipos de sofrimento: sepa-rar-se daqueles que se ama e ser forado aviver com aqueles que no se ama. ()Pensei em prisioneiros e refugiados, nostrabalhadores migrantes e vtimas de trficode seres humanos, naquela grande massa de

    desenraizados que foram arrancados s suascasas, separados das suas famlias e amigos,forados a viver as suas vidas entre estra-nhos que nem sempre so acolhedores . () Tenho a sorte de viver numa poca em queo destino dos prisioneiros de conscinciade qualquer lugar se tornou preocupaodos povos em todos os lugares, uma pocaem que democracia e direitos humanos soamplamente, mesmo se no universalmen-te, aceites como inerentes a todos. Quan-tas vezes, durante os meus anos em priso

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    domiciliria fui buscar foras s minhaspassagens favoritas do prembulo da De-clarao Universal dos Direitos Humanos:.....o desconhecimento e o desprezo dosdireitos do homem conduziram a atos debarbrie que revoltam a conscincia daHumanidade e que o advento de um mun-do em que os seres humanos sejam livresde falar e de crer, libertos do terror e damisria, foi proclamado como a mais altainspirao do homem;..... essencial a proteo dos direitos dohomem atravs de um regime de direito,para que o homem no seja compelido, em

    supremo recurso, revolta contra a tiraniae a opresso...Se me perguntam por que estou a lutarpelos direitos humanos na Birmnia aspassagens acima daro a resposta. Se meperguntam por que estou a lutar pelademocracia na Birmnia, porque acreditoque as instituies e as prticas democrti-cas so necessrias para a garantia dos

    direitos humanos.Durante o ano passado, houve sinais deque os esforos daqueles que acreditam nademocracia e nos direitos humanos come-am a dar frutos na Birmnia. Houvemudanas em sentido positivo; foramdados passos no sentido da democratiza-o. Se eu defendo um otimismo cauteloso,no porque no tenho f no futuro, masporque no quero encorajar uma f cega.Sem f no futuro, sem a convico de queos valores democrticos e os direitoshumanos fundamentais no so apenasnecessrios, mas possveis para a nossasociedade, o nosso movimento no poderiater sido sustentado ao longo dos anos dedestruio. Alguns dos nossos guerreiroscaram no seu posto, alguns abandonaram-nos, mas um ncleo dedicado manteve-se

    forte e comprometido. s vezes, quandopenso nos anos que passaram, fico espan-tada como muitos permaneceram firmesnas mais difceis circunstncias. A sua f nanossa causa no cega, baseada numa

    avaliao clara sobre os seus prpriospoderes de resistncia e um profundo res-peito para as aspiraes do nosso povo. por causa das mudanas recentes no meupas que estou aqui hoje convosco, e estasmudanas aconteceram por vossa causa ede outros amantes da liberdade e da justi-a, o que contribuiu para uma conscinciaglobal da nossa situao. Restam ainda ()

    prisioneiros [de conscincia] na Birmnia. de recear que, porque os detidos maisconhecidos foram libertados, os restantes,os desconhecidos, sero esquecidos. Euestou aqui porque fui prisioneiro de cons-cincia. Enquanto olham para mim e meescutam, por favor, recordem a verdade,muitas vezes repetida, de que um prisionei-ro de conscincia j demais. Aqueles queainda no foram libertados, aqueles que

    ainda no tiveram acesso aos benefcios da justia no meu pas so muitos mais do queum. Por favor, recordem-nos e faam o quefor possvel para tornar a sua libertaoefetiva, rpida e incondicional. () Em ltima anlise, o nosso objetivo deveser o de criar um mundo livre de refugia-dos, de sem-abrigo, de desesperados, ummundo em que cada esquina um verda-

    deiro santurio, onde os habitantes tm aliberdade e a capacidade de viver em paz.Cada pensamento, cada palavra e cadaao que contribuem para a esperana e obem um contributo para a paz. Todos ecada um de ns so capazes de dar essecontributo. Juntemos as mos para criarum mundo pacfico onde possamos dormirem segurana e acordar com felicidade.

    Discurso pronunciado na aceitao do Prmio Nobel da Paz atribudo em 1991. 16 de Junho de 2012. Discurso original:http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/1991/kyi-lecture_en.html .

    http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/1991/kyi-lecture_en.htmlhttp://www.nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/1991/kyi-lecture_en.htmlhttp://www.nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/1991/kyi-lecture_en.htmlhttp://www.nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/1991/kyi-lecture_en.html
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    Dia Mundial da Paz 2013 -25

    Dom Hlder Pessoa Cmara foi ordenado bispo, aos 43 anos de idade, no dia20 de Abril de 1952. No dia 12 de Maro de 1964 foi designado para Arcebispode Olinda e Recife, Pernambuco, mnus que exerceu at 2 de Abril de 1985.Destacou-se na defesa dos direitos humanos e polticos no Brasil, de modo particular durante os chamados anos de chumbo. Foi perseguido pela ditadurabrasileira de 1964. Corajoso, nunca se calou.

    ENFRENTAR O DESERTO INEVITVELDom Helder Cmara

    (7 de Fevereiro de 1909 27 de Agosto de 1999)

    bom que ningum se iluda, ningum aja

    de maneira ingnua: quem escuta a voz deDeus e faz a sua opo interior e arranca-sede si e parte para lutar pacificamente porum mundo mais justo e mais humano, nopense que vai encontrar caminho fcil,ptalas de rosas debaixo dos ps, multi-des escuta, aplausos por toda a parte e,permanentemente, como proteo decisi-va, a Mo de Deus. Quem se arranca de si eparte como peregrino da justia e da paz,prepare-se para enfrentar desertos.Os grandes e poderosos desaparecem,cortam toda e qualquer ajuda, passam arepreslias. No raro financiam campanhas,que se tornaro tanto mais rudes, difama-doras e caluniosas quanto mais sentiremperigo vista.Terrvel que os pequenos tendem a inti-midar-se. Quem vive em dependncia totalquanto a casa e emprego; quem sabe queos grandes tm tudo na mo (manobram

    homens e acontecimentos com incrvel

    facilidade) pensa na prpria situao e,sobretudo, pensa na famlia e teme! A rea-o natural e compreensibilssima fugir.Ficam os menos dependentes ou os maisconscientizados, dispostos ao que der evier.Chega um instante em que se olha em voltae tem-se a impresso de ser um amigoincmodo: amigo que cria m vontade e

    suspeita para quem o recebe; amigo dese- jado no ntimo mas temido pelas inter-pretaes dadas ao gesto de receber al-gum mal visto, mal julgado, tido comoperigoso...Tem-se a impresso de falar no deserto.Tem-se a sensao de que vm falando nodeserto todos os que, atravs dos sculos,se preocupam com a justia. As injustiasse alastram e se aprofundam. Cobrem maisde dois teros da terra. S as pedras escu-tam. Ou homens de corao de pedra.

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    O cansao vai passando do corpo alma. Ecansao de alma no tem comparao comos mais pesados e terrveis cansaos docorpo...Impresso de deserto em volta, enquantoos olhos atingem. Areia fofa na qual aspernas se enterram at aos joelhos, tornan-do a caminhada penosssima. Tempestadede areia vidrenta e quente, machucando orosto, entrando olhos e ouvidos adentro...Chega-se ao auge do sofrimento: desertoexterior, deserto dentro de si, impresso deabandono pelo prprio Pai: Meu Pai, meuPai, porque me abandonaste?!

    Quem no confia na prpria fora: quem seprotege contra toda e qualquer amargura;quem se mantm humilde; quem se sabenas mos de Deus; quem no deseja senoparticipar na construo de um mundomais justo e mais fraterno, no desanima,no perde a esperana. E sente, invisvel, asombra protetora do Pai!

    No me cansarei de repe-

    tir sonhos que eu desejose tornem sonhos detodos ns, para que, semdemora, se transformemem maravilhosa reali-dade: sonhemos com o final

    das guerras! Um dia,vencer o bom senso eo Homem deixar depreparar a destruiototal da vida na Terra...

    sonhemos com umMundo mais justo e mais

    humano, sem Vencidos,nem Vencedores; semOprimidos, nem Opres-sores...

    Esprito de Deus, enviasonhos ao Homem! Nosonhos enganosos, aliena-dos e alienantes. Enviasonhos, belos sonhos que,amanh, se transformemem realidade!...

    DOM HLDER C MARA Um Olhar sobre a Cidade.5 ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1979

    DOM HLDER C MARA O Deserto frtil. Rio de Janeiro:Ed. Civilizao Brasileira, 1976, p. 39-41.

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    Dia Mundial da Paz 2013 -27

    SENHOR, PEDIMOS-TE PAZ Senhor, pedimos-tePaz para aqueles que choram em silncio;Paz para aqueles que no podem falar;Paz quando a esperana parece desaparecer.No meio da ira, da violncia e da deceo,No meio de guerras e destruio da terra:Senhor, mostra-nos a tua luz na escurido.Senhor, pedimos-te

    Paz para aqueles que levantam a sua vozpara a exigir,Paz quando h muitas pessoas que no queremouvir falar dela,Paz enquanto encontramos o caminhopara a justia.

    Conselho Mundial de Igrejas

    ORAO DE PAULO VI PELA PAZ Senhor, Deus da paz,ns Te damos graas pelos desejos,pelos esforos e pelas realizaesque o teu Esprito de paz tem suscitadono nosso tempo,para substituir o dio pelo amor,a desconfiana pela compreenso,a indiferena pela solidariedade.Abre ainda mais o nosso espritos exigncias concretas do amor de todosos nossos irmos,

    para que possamos sermais construtores de paz.Por Cristo, na unidade do Esprito Santo.

    COLETNEA DE ORAES

    ORAO PELA PAZ Senhor,fazei de mim um instrumento da vossa paz:onde houver dio, que eu leve o amor;onde houver ofensa, que eu leve o perdo;onde houver discrdia, que eu leve a unio;

    onde houver dvida, que eu leve a f;onde houver erro, que eu leve a verdade;onde houver desespero, que eu leve a esperana; onde houver tristeza, que eu leve a alegria;onde houver trevas, que eu leve a luz.Senhor, fazei que eu procure mais:consolar, que ser consolado,compreender que ser compreendido,amar que ser amado.Pois dando que se recebe, perdoando que se perdoado,e morrendo que se ressuscita para a vida eterna !

    Orao atribuda a S. Francisco de Assis

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    28 - Artfices e testemunhas da paz entre tod@s

    APAZ SEM VENCEDOR E SEM VENCIDOS

    Dai-nos Senhor a paz que vos pedimosA paz sem vencedor e sem vencidosQue o tempo que nos deste seja um novoRecomeo de esperana e de justia

    Dai-nos Senhor a paz que vos pedimosA paz sem vencedor e sem vencidosErguei o nosso ser transparnciaPara podermos ler melhor a vidaPara entendermos vosso mandamentoPara que venha a ns o vosso reinoDai-nos Senhor a paz que vos pedimosA paz sem vencedor e sem vencidosFazei Senhor que a paz seja de todosDai-nos a paz que nasce da verdadeDai-nos a paz que nasce da justiaDai-nos a paz chamada liberdadeDai-nos Senhor a paz que vos pedimosA paz sem vencedor e sem vencidos

    Sophia de Mello Breyner Andresen

    ORAO DO PERDO Senhor, no vos lembreis s

    dos homens e mulheres de boa vontade,mas tambm dos de m vontade.No vos lembreis s dos muitossofrimentos que nos infligiram,lembrai-vos dos frutos que alcanamosgraas a esses momentos de sofrimento:a nossa camaradagem, a nossa lealdade,a nossa humildade, a fortaleza,a generosidade, a grandeza de coraoque da brotaram; e quando eles vierema julgamento, que todos os frutos gerados

    em ns, sejam o seu perdo.Orao encontrada num fragmento de papel junto ao corpo de

    uma criana no campo de concentrao de Ravensbruck,no final da II Guerra Mundial

    SE ISTO UM HOMEM Vs que viveis tranquilosNas vossas casas aquecidas,Vs que encontrais regressando noiteComida quente e rostos amigos:

    Considerai se isto um homemQuem trabalha na lama

    Quem no conhece a pazQuem luta por meio poQuem morre por um sim ou por um no.Considerai se isto uma mulher,Sem cabelo e sem nomeSem mais fora para recordarVazios os olhos e frio o regaoComo uma r no Inverno.

    Meditai que isto aconteceu:Recomendo-vos estas palavras.Esculpi-as no vosso coraoEstando em casa, andando pela rua,Ao deitar-vos e ao levantar-vos;Repeti-as aos vossos filhos.

    Primo Levu

    Q UE A PAZ GERMINE Que a paz germine para o povo da Sria,profundamente ferido e dividido por um conflitoque no poupa sequer os inermes, ceifandovtimas inocentes.Que a paz germine na Terra onde nasceu oRedentor; que Ele d aos Israelitas ePalestinianos a coragem de pr termo a tantos,demasiados, anos de lutas e divises e

    empreender, com deciso, o caminho dasnegociaes.Que a paz germine nos pases do norte de frica,em profunda transio procura de um novofuturo, que os cidados construam, juntos,sociedades baseadas na justia, no respeito daliberdade e da dignidade de cada pessoa.Que a paz germine no vasto continente asitico.Jesus Menino olhe com benevolncia para osnumerosos povos que habitam naquelas terras e,

    de modo especial, para quantos creem nEle. Que o Natal de Cristo favorea o retorno da pazao Mali e da concrdia Nigria, onde horrendosatentados terroristas continuam a ceifar vtimas,nomeadamente entre os cristos.Que o Redentor proporcione auxlio e confortoaos prfugos do leste da Repblica Democrticado Congo e conceda paz ao Qunia, ondesangrentos atentados se abateram sobre apopulao civil e os lugares de culto.

    Da Mensagem Urbi et Orbi . 25 de Dezembro de 2012

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    Dia Mundial da Paz 2013 -29

    Para alm de uma Eucaristia pela paz, pode-se organizar uma paraliturgia pela paz, umaviglia da paz ou outro tipo de evento baseado no tema: Bem-aventurados os obreiros da paz.

    PROPOSTAS PARA ATIVIDADES*

    As atividades aqui propostas podem ser realizadas com pessoas de todas as idades desdeque o animador adapte a linguagem de acordo com as caractersticas dos elementos dogrupo.

    A. Prmio da Paz da Parquia/Bairro/Associao **

    Porque no criar/organizar um prmio anual da paz na parquia, bairro ou associao?Jesus, Gandhi, Madre Teresa de Calcut, Martin Luther King e outros, so reconhecidoscomo grandes construtores da paz, mas no nosso meio, entre ns, existem construtores dapaz e o seu testemunho e trabalho tambm devem ser celebrados.

    Quais podero ser os critrios de base para atribuio do prmio?

    Talvez seja necessrio criar um regulamento comeando por algo como: O prmioda paz da parquia/associao/bairro pretende reconhecer as seguintes obras/ atitudes que contribuem para a construo da paz...

    Quais as normas para apresentao de candidaturas? Como sero apreciadas? Que tipo de cerimnia ou liturgia poder ser organizada para a entrega do prmio? O que constituir o prmio? (Uma pea de artesanato local que contribua para o

    desenvolvimento de um projeto, qualquer coisa de diferente mas que exprima asolidariedade).

    * Outras atividades em Cultivemos a Paz. Folhas Temticas e de Actividades sobre a Paz para Educadores e Animado-res. Lisboa: Pax Christi Seco Portuguesa, 2003.

    ** Adaptada da publicao da Pax Christi UK,Peace Sunday 2013.

    SUGESTES PARA ASSINALAR O DIA MUNDIALDA PAZE USAR O TEMA

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    B. Cinema/Vdeo Construtores da Paz

    Escolha um filme sobre a vida e obra de um construtor da paz: existem vrios, como Gan-dhi, Aristides de Sousa Mendes, etc. Organize uma sesso de cinema na sua Parquia, nasua casa, ou noutro local (ou v mesmo ao cinema) e depois prepare algumas questes que

    sirvam para lanar um debate sobre o filme visionado.Por exemplo:

    Quais as cenas do filme que mais impressionaram? Porqu? Quais as atitudes do personagem principal que mais testemunharam o seu empe-

    nho na construo da paz? O que pode cada um de ns fazer para construir a paz no nosso bairro, na nossa

    cidade, na nossa vida?

    C. O que preciso fazer para ser construtor da paz?*

    Seguem-se cinco propostas elaboradas pelo jesuta John Dear. Estas podem ser utilizadascomo base para um debate, convidando as pessoas a refletir sobre como se veem j inclu-das nestas formas de estar ou se j conseguem identificar estes valores e aes em prticana sua comunidade, na sociedade, ou na Igreja.Podem servir ainda para criar uma exposio ilustrando os textos com imagens de pessoasenvolvidas nestes aspetos da construo da paz.

    1. Devemos contemplar a paz e a no violncia. Precisamos de permitir que o Deus daPaz nos desarme, nos liberte da raiva, da amargura e da vingana. Para isto precisa-mos de pedir ajuda a Jesus.

    2. Temos que ser ativistas da paz e da no violncia. Nenhum de ns pode fazer tudo,mas cada um de ns pode fazer qualquer coisa: escolha um problema ou uma causae atue.

    3. Devemos ser alunos e professores da paz e da no violncia. Estudemos a vida eobra dos grandes obreiros/praticantes: Jesus, Gandhi, Martin Luther King... Como que eles ensinavam a paz? Ser que ns ensinamos a paz nas nossas escolas e par-quias tal como o fazemos com a leitura, a escrita e o catecismo?

    4. Devemos ser profetas da paz e da no violncia. No sentido Bblico original: escutan-do o Deus da paz e saindo para uma cultura de guerra e violncia a apregoar aquiloque o Deus da paz quer que seja dito.

    5. Devemos ser visionrios da paz e da no violncia. Somos os novos abolicionistas(como aqueles que aboliram a escravatura) com uma viso do mundo sem guerra,sem armas nucleares, sem violncia. Parte do nosso trabalho consiste em ajudar osoutros a imaginar um mundo assim.

    * Adaptada da publicao da Pax Christi UK,Peace Sunday 2013.

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    D. Construir a paz pela Reconciliao *

    Neste exerccio procura-se apresentar a reconciliao como meio para a construo da paz.Levando os participantes a refletir sobre as necessidades das pessoas e grupos em conflito, vercomo se pode fazer a abordagem do momento ps-conflito tendo em conta aquelas neces-

    sidades.1. O animador organiza com os participantes um exerccio de dramatizao a partir de

    uma situao de conflito conhecida pelo grupo. A situao pode envolver um pre-conceito sectrio, uma questo de cidadania, as relaes entre os sexos, o estatutofamiliar, ideias polticas, etc. Este exerccio deve permitir aos participantes apresen-tar vrios argumentos sobre a questo e discuti-los em conjunto. Interromper oexerccio nesta fase.

    2. Pedir aos participantes que deem ideias sobre a forma como se poder construir apaz na situao em questo.

    3. Deve ser dado relevo especial s respostas que coincidam com dois domnios essen-ciais: a necessidade de estabelecer uma melhor forma de comunicar uns com osoutros sobre questes importantes (comunicao e contacto) e a necessidade derecomear a trabalhar em conjunto num projeto positivo (elaborar um objetivocomum que s possa ser atingido trabalhando juntos). Uma terceira ideia a seradiantada: devem ser apresentadas e aceites desculpas, o que leva perspetiva dareconciliao.

    4. Elaborar uma lista de acontecimentos conflituosos que tenham surgido na comuni-dade, no pas ou no mundo durante os ltimos meses. Pedir aos participantes que

    apliquem o processo de reconciliao, abordado no ponto anterior, a um ou vriosdestes conflitos. Finalmente, poder avanar-se tentando encontrar um compromis-so aceitvel para as duas partes em conflito.

    5. Perguntar aos participantes o que deve passar-se para que duas partes em conflitose reconciliem, de modo a que sigam a seguinte ordem de etapas do processo dereconciliao:a) cada uma das partes deve poder exprimir os seus sentimentos de clera, de

    frustrao, de dor e de ofensa (formulao);b) cada uma das partes deve perceber que a outra parte escuta e compreende

    aquilo que exprime (presena);c) cada uma das partes deve ver que a outra parte assume a responsabilidade das

    consequncias dos seus atos;d) cada uma das partes deve renunciar ao direito de vingana ou de punio contra

    a outra parte;e) encontrar um compromisso aceitvel pelas duas partes.

    6. O animador d exemplos da maneira como cada pessoa, cada participante, podedesempenhar um papel na realizao de processos de reconciliao.

    * Adaptado de Cultivemos a Paz. Folhas Temticas e de Actividades sobre a Paz para Educadores e Animadores.Lisboa: Pax Christi Seco Portuguesa, 2003. A Pax Christi dispe de vrias publicaes e materiais que poderoajudar na escolha e realizao deste exerccio.

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    Construtor da Paz ou Destruidor da Paz**

    Objetivo: Explorar o significado da Paz e como podemos constru-la.

    Material necessrio: Uma taa ou uma caixa grande; pedaos de papel coloridos com pala-vras escritas para colocar dentro da taa ou caixa; duas folhas grandes de papel, uma com ottulo Construtor da Paz e outra com Destruidor da Paz .

    Desenrolar do Exerccio

    1. Convide cada criana a tirar um papel da caixa ou taa e a ler a palavra que esteja escri-ta. Pergunte: Onde deve ser colocada essa palavra? Em que folha?Depois de colados os papis com as palavras, convide as crianas a acrescentaremoutras palavras.Quando as folhas estiverem cheias, pea s crianas que leiam com ateno todas aspalavras numa e noutra e verifiquem se esto satisfeitas com a sua distribuio entreas duas. O que seria necessrio para transformar um Destruidor da Paz num Constru-tor da Paz?

    2. PAZ uma palavra muito importante. Recorde s crianas todas as vezes que estapalavra pronunciada durante a Eucaristia (por ex.: A paz esteja convosco; o abra-o da paz; Ide em paz). O que que Deus nos quer transmitir sobre a paz? Porque partilhamos a paz antes daComunho? Porque que Deus nos envia em paz? Guardamos esta paz para ns oupartilhamos com os outros?

    3. Convide depois as crianas a escreverem oraes pela paz, para serem utilizadasdurante a Eucaristia. Convide-as a explicar o que significa serConstrutor da Paz eDestruidor da Paz, e como Jesus nos ajuda a ser Construtores da Paz.

    IDEIAS PARA TRABALHAR COM CRIANAS*

    * Para mais atividades ver Com as Crianas Construir a Paz. Caderno de fichas para Professores e Animadores degrupos de crianas com idades entre os 6 e os 13 anos . Lisboa: Pax Christi Seco Portuguesa, 1995.

    Adaptada da publicao da Pax Christi UK, Peace Sunday 2013.

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    Cultivemos a Paz. Folhas Temticas e de Atividades sobre a Paz para Educadores e Animadores

    Na senda da celebrao do Ano Internacional da Cultura de Paz (2000), surgiramestas folhas temticas e de atividades, a que apelidmos de Cultivemos a Paz . Foiseu objetivo proporcionar, mensalmente, algum material de reflexo e sugestes de

    atividades simples que pudessem ser realizadas em grupo, a todos quantos preten-dam trabalhar para a construo da paz, nomeadamente educadores e animadores.Ao longo de 12 meses foram saindo, mais ou menos regularmente, 12 temas parareflexo inspirados nas oito esferas de ao apontadas pela Declarao e Programade Ao sobre uma Cultura de Paz das Naes Unidas (resoluo A/53/243, de 13 deSetembro de 1999): Cultura de paz atravs da educao; Desenvolvimento econmi-

    co e social sustentvel; Respeito por todos os direitos humanos; Igualdade entre homem e mulher;Participao democrtica; Compreenso, tolerncia e solidariedade; Comunicao participativa e livrecirculao de informao e conhecimentos; Paz e segurana internacionais. Eis agora todo esse mate-rial reunido numa nica publicao. 82 pgs. a cores. A4; 2003 - 10,00. Tambm disponvel em CD - 5,00.

    Era uma vez um conflito. A resoluo de conflitos para todas as idades

    Os contos de fadas so como um espelho para muitos dos problemas contempor-neos. Se os analisarmos cuidadosamente, encontramos reflexos de conflito tnico,crime, problemas de dvidas, expanso urbana, desagregao familiar, pobreza,cimes e intolerncia. Nesta brochura, Era uma vez um conflito. A resoluo deconflitos para todas as idades , o ngulo sob o qual apresentado cada exerccio deresoluo de conflitos no pretende ser a verdade da histria original. apenasum dos cenrios possveis, escolhido para exemplificar alguns dos problemas queencontramos hoje. As histrias foram adaptadas, para mostrar como que as coisas

    poderiam ter sido encaradas do ponto de vista das personagens menos simpticas.Esta brochura no pretende ser um manual de resoluo de conflitos, so apenas feitas algumaspropostas de exerccios prticos e fornecidas as regras e tcnicas bsicas da resoluo de conflitos e damediao. 32 pgs. A5; Janeiro 2008 - 2.00 .

    Gesto de Conflitos. Um Incentivo para uma Melhor Compreenso

    Durante a Semana da Paz, celebrada entre 17 de Setembro e 3 de Outubro de 1993,a Pax Christi Flamenga, juntamente com outras Organizaes de Paz, pretenderampr em destaque o tema do conflito. O slogan No evites o conflito constituiu umapelo para que cada pessoa aprenda a lidar com os conflitos. Esta brochura, Gesto

    de Conflitos. Um Incentivo para uma Melhor Compreenso , resultado dessa sema-na, contm algumas informaes bsicas sobre gesto de conflitos e pretende serum contributo para aqueles que desejem estudar com maior profundidade esteassunto fascinante e simultaneamente to complexo. 36 pgs. A5; Janeiro 2008 - 2.00 .

    Estas e outras publicaes podem ser solicitadas atravs do e-mail: [email protected].

    Mais informaes em: http://www.paxchristiportugal.net.

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    Dia Mundial da Paz 2013 -35

    PAULO VI1968: O 1 de Janeiro: Dia Mundial da Paz 1969: A promoo dos direitos do homem,

    caminho para a paz1970: Educar- se para a paz atravs da

    reconciliao1971: Todo o homem meu irmo 1972: Se queres a paz, trabalha pela justia 1973: A paz possvel 1974: A paz tambm depende de ti 1975: A reconciliao, caminho para

    a paz1976: As verdadeiras armas da paz

    1977: Se queres a paz, defende a vida

    1978: No violncia, sim paz

    JOO PAULO II1979: Para alcanar a paz, educar para

    a paz1980: A verdade, fora da paz 1981: Para servir a paz, respeita a

    liberdade1982: A paz: dom de Deus confiado aos

    homens1983: O dilogo para a paz, um desafio para o

    nosso tempo1984: De um corao novo nasce a paz 1985: A paz e os jovens caminham juntos

    1986: A paz um valor sem fronteiras. Norte-Sul, Leste-Oeste: uma s paz

    1987: Desenvolvimento e solidariedade, chavesda paz

    1988: Liberdade religiosa, condio para aconvivncia pacfica

    1989: Para construir a paz, respeitar asminorias

    1990: Paz com Deus criador, paz com toda acriao

    1991: Se queres a paz, respeita a conscinciade cada homem

    1992: Os crentes unidos na construo da paz 1993: Se procuras a paz, vai ao encontro dos

    pobres1994: Da famlia nasce a paz da famlia humana 1995: Mulher: educadora de paz

    1996: Dmos s crianas um futurode paz1997: Oferece o perdo, recebe a paz 1998: Da justia de cada um nasce a paz para

    todos1999: No respeito dos direitos humanos o

    segredo da verdadeira paz2000: Paz na terra aos homens, que Deus

    ama! 2001: Dilogo entre as culturas para uma

    civilizao do amor e da paz2002: No h paz sem justia, no h justia

    sem perdo2003: Pacem in terris: um compromisso

    permanente2004: Um compromisso sempre actual: educar

    para a Paz2005: No te deixes vencer pelo mal, vence

    antes o mal com o bem

    BENTO XVI2006: Na verdade, a paz

    2007: A pessoa humana, corao da paz2008: Famlia humana, comunidade

    de paz2009: Combater a pobreza, construir a paz2010: Se quiseres cultivar a Paz, preserva a Criao2011: Liberdade Religiosa, Caminho para a Paz2012: Educar os jovens para a justia e a paz2013: Bem-aventurados os Obreiros da Paz

    TEMAS DAS MENSAGENS PARA O DIA MUNDIAL DA PAZ

    (1968-2013)

  • 8/13/2019 Artfices e testemunhas da paz entre tod@s

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