artífices da cidadania

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ARTÍFICES DA CIDADANIA

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Artífices da cidadania

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Page 1: Artífices da cidadania

A R T Í F I C E S D A C I D A D A N I A

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Page 2: Artífices da cidadania

universidade estadual de campinas

Reitor Fernando Ferreira costa

coordenador Geral da universidade edgar Salvadori de decca

conselho editorial

PresidentePaulo Franchetti

Alcir Pécora – christiano Lyra FilhoJosé A. R. Gontijo – José Roberto Zan

Marcelo Knobel – Marco Antonio ZagoSedi Hirano – Silvia Hunold Lara

comissão editorial da coleção Várias Histórias

Fernando Teixeira da Silva (coordenador) Jefferson cano – Margarida de Souza Neves

Sueann caulfield – Alcir Pécora

conselho consultivo da coleção Várias Histórias

Silvia Hunold Lara – Sidney chalhoubMaria clementina Pereira cunha – Robert Wayne Andrew Slenes

claudio Henrique de Moraes Batalha – Michael Hall

consultoria deste volumeclifford Andrew Welch – Keila Krinberg

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Page 3: Artífices da cidadania

Marcelo Mac Cord

A R T Í F I C E S D A C I D A D A N I AM u T u A l I S M o , E D u C A ç ã o E T R A b A l h o

N o R E C I F E o I T o C E N T I S TA

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Page 4: Artífices da cidadania

Índices para catálogo sistemático:

1. Liceu de Artes e Ofícios (Recife, pe) 334.7 2. Mutualismo 334.7 3. ensino profissional 321.425

copyright © by Marcelo Mac cordcopyright © 2012 by editora da unicamp

Nenhuma parte desta publicação pode ser gravada, armazenada em sistema eletrônico, fotocopiada, reproduzida por meios mecânicos

ou outros quaisquer sem autorização prévia do editor.

isbn 978-85-268-0987-1

M137a Mac cord, Marcelo.Artífices da cidadania: mutualismo, educação e trabalho no Recife oito-

centista / Marcelo Mac cord. – campinas, sp: editora da unicamp, 2012.

1. Liceu de Artes e Ofícios (Recife, pe). 2. Mutualismo. 3. ensinoprofissional. I. Título.

cdd 334.7 321.425

ficha catalográfica elaborada pelosistema de bibliotecas da unicamp

diretoria de tratamento da informação

editora da unicampRua caio Graco Prado, 50 – campus unicamp

cep 13083-892 – campinas – sp – BrasilTel./Fax: (19) 3521-7718/7728

www.editora.unicamp.br – [email protected]

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990. em vigor no Brasil a partir de 2009.

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C o l E ç ã o V á R I A S h I S T ó R I A S

A coleção Várias Histórias divulga pesquisas recentes sobre a diversi­dade da formação cultural brasileira. Ancoradas em sólidas pesquisas em pí­ricas e focalizando práticas, tradições e identidades de diferentes grupos sociais, as obras publicadas exploram os temas da cultura a partir da pers­pectiva da história social. O elenco resulta de trabalhos individuais ou coletivos ligados aos projetos desenvolvidos no centro de Pesquisa em História Social da cultura do Instituto de Filosofia e ciências Humanas da Unicamp (www.unicamp.br/cecult).

V o l u m e s p u b l i c a d o s

1 – Elciene Azevedo. Orfeu de carapinha. A trajetória de Luiz Gama na imperial cidade de São Paulo.

2 – Joseli Maria Nunes Mendonça. Entre a mão e os anéis. A Lei dos Sexa­ge nários e os caminhos da abolição no Brasil.

3 – Fernando Antonio Mencarelli. Cena aberta. A absolvição de um bilontra e o teatro de revista de Arthur Azevedo.

4 – Wlamyra Ribeiro de Albuquerque. Al gazarra nas ruas. Come mo rações da Independência na Bahia (1889­1923).

5 – Sueann Caulfield. Em defesa da honra. Moralidade, moder nidade e nação no Rio de Janeiro (1918­1940).

6 – Jaime Rodrigues. O infame comércio. Propostas e experiên cias no final do tráfico de africanos para o Brasil (1800­1850).

7 – Carlos Eugênio Líbano Soares. A capoeira escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro (1808­1850).

8 – Eduardo Spiller Pena. Pajens da casa imperial. Jurisconsul tos, es cravidão e a Lei de 1871.

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9 – João Paulo Coelho de Souza Rodrigues. A dança das cadeiras. Literatura e política na Academia Brasileira de Letras (1896­1913).

10 – Alexandre Lazzari. Coisas para o povo não fazer. Carnaval em Porto Alegre (1870­1915).

11 – Magda Ricci. Assombrações de um padre regente. Diogo Antô nio Feijó (1784­1843).

12 – Gabriela dos Reis Sampaio. Nas trincheiras da cura. As di fe rentes medi­cinas no Rio de Janeiro imperial.

13 – Maria Clementina Pereira Cunha (org.). Carnavais e outras f(r)estas. Ensaios de história social da cultura.

14 – Silvia Cristina Martins de Souza. As noites do Ginásio. Teatro e tensões culturais na Corte (1832­1868).

15 – Sidney Chalhoub, Vera Regina Beltrão Marques, Gabriela dos Reis Sam paio e Carlos Roberto Galvão Sobrinho (orgs.). Artes e ofícios de curar no Brasil. Capítulos de história social.

16 – Liane Maria Bertucci. Influenza, a medicina enferma. Ciência e práticas de cura na época da gripe espanhola em São Paulo.

17 – Paulo Pinheiro Machado. Lideranças do Contestado. A for mação e a atuação das chefias caboclas (1912­1916).

18 – Claudio H. M. Batalha, Fernando Teixeira da Silva e Ale xan dre Fortes (orgs.). Culturas de classe. Identidade e diversidade na formação do operariado.

19 – Tiago de Melo Gomes. Um espelho no palco. Identidades sociais e massi­ficação da cultura no teatro de revista dos anos 1920.

20 – Edilene Toledo. Travessias revolucionárias. Ideias e militantes sin dicalistas em São Paulo e na Itália (1890­1945).

21 – Sidney Chalhoub, Margarida de Souza Neves e Leonardo Affonso de Miranda Pereira (orgs.). História em cousas miúdas. Capítulos de história social da crônica no Brasil.

22 – Silvia Hunold Lara e Joseli Maria Nunes Mendonça (orgs.). Direitos e justiças no Brasil. Ensaios de história social.

23 – Walter Fraga Filho. Encruzilhadas da liberdade: histórias de escravos e libertos na Bahia (1870­1910).

24 – Joseli Maria Nunes Mendonça. Evaristo de Moraes, tribuno da Re­pública.

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25 – Valéria Lima. J.­B. Debret, historiador e pintor: a viagem pitoresca e his­tórica ao Brasil (1816­1839).

26 – Larissa Viana. O idioma da mestiçagem: as irmandades de pardos na América Portuguesa.

27 – Fabiane Popinigis. Proletários de casaca: trabalhadores do comércio carioca (1850­1911).

28 – Eneida Maria Mercadante Sela. Modos de ser, modos de ver: viajantes europeus e escravos africanos no Rio de Janeiro (1808­1850).

29 – Marcelo Balaban. Poeta do lápis: sátira e política na trajetória de Angelo Agostini no Brasil Imperial (1864­1888).

30 – Vitor Wagner Neto de Oliveira. Nas águas do Prata: os trabalhadores da rota fluvial entre Buenos Aires e Corumbá (1910­1930).

31 – Elciene Azevedo, Jefferson Cano, Maria Clementina Pereira Cunha, Sidney Chalhoub (orgs.). Trabalhadores na cidade: cotidiano e cultura no Rio de Janeiro e em São Paulo, séculos XIX e XX.

32 – Elciene Azevedo. O direito dos escravos: lutas jurídicas e abolicionismos na província de São Paulo.

33 – Daniela Magalhães da Silveira. Fábrica de contos: ciência e literatura em Machado de Assis.

34 – Ricardo Figueiredo Pirola. Senzala insurgente: malungos, parentes e rebeldes nas fazendas de Campinas (1832).

35 – Luigi Biondi. Classe e nação: trabalhadores e socialistas italianos em São Paulo, 1890­1920.

36 – Marcelo Mac Cord. Artífices da cidadania: mutualismo, educação e tra­balho no Recife oitocentista.

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Igor, meu filho, mais uma vez dedico a você meus esforços.

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a g r a d e c i m e n t o

Artífices da cidadania é fruto de um trabalho longo, instigante e prazeroso. Os anos que dediquei à minha tese de doutorado, que foi financiada pelo cNPq, permitiram que conhecesse um grupo muito especial de trabalhadores livres e de cor. É bom comparti­lhar com o público as histórias desses artesãos, que, no Recife oitocentista, lutaram contra uma série de estigmas e por uma vida mais próspera. Para tanto, a ferramenta desses homens era a ins­trução e a valorização de seu trabalho, livre e qualificado, em uma sociedade escravista. Reconstruir o cotidiano desses artífices exi­giu amadurecimento intelectual e excelente orientação acadê mica, é verdade. Entretanto, no processo de doutoramento, muito de minha experiência individual foi acionada para costurar e analisar as fontes. Revisitei parte de minha adolescência como aprendiz de meu pai, mecânico de refrigeração, como aluno de escola pro­fissionalizante e como menino que, nos subúrbios cariocas, sonha­va com um futuro melhor por meio da educação. Ao contar as vivências das pessoas que povoam este livro, reorganizei minhas próprias memórias. Por causa de tudo isso, é à Vida que faço o primeiro agradecimento.

Silvia Lara, contudo, merece agradecimento especial. O livro é fruto de seus ensinamentos sobre o ofício de historiador. O apren dizado foi iniciado há 14 anos, quando resolveu orientar mi­nha primeira pesquisa no mestrado. Agradeço por todos os seus toques acadêmicos, pela seriedade nos compromissos profissionais e pelas oportunidades no cecult. Entretanto, o maior agradeci­mento não passa por questões teóricas, metodológicas ou histo­riográficas. Ao me aceitar por duas vezes como orientando, Silvia Lara permitiu que eu continuasse sonhando com um futuro melhor para mim e toda minha família. O trabalho que entrego aos leito­

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res também é tributário das colaborações de Sidney chalhoub, que, com extrema boa vontade e acuidade, marcou presença em todas as minhas bancas de qualificação e defesa. claudio Batalha, por sua vez, foi um dos maiores incentivadores da pesquisa que gerou esta publicação. Desde o momento em que este trabalho era apenas um projeto de doutorado, e na defesa da tese inclusive, suas dicas foram muito importantes para que amadurecesse meus argumentos e resolvesse problemas. A arguição de outros dois importantes professores também colaborou com a produção de Artífices da cidadania. Obrigado, Marc Hoffnagel, querido amigo que conquistei com o passar dos anos, e Maria Lucia Gitahy.

A publicação deste livro também deve agradecimentos espe­ciais a outros dois grupos de historiadores, que, em diferentes ocasiões, avaliaram a tese que defendi no Programa de Pós­Gra­duação em História Social da Unicamp. No primeiro deles, en­contramos Maria Elizabeth Brêa Monteiro, Ana Maria Mauad, Tânia Maria Tavares Bessone da cruz Ferreira, Sonia cristina Lino e Paulo Knauss. Em 2009, eles compuseram a banca do Prêmio Arquivo Nacional e concederam uma menção honrosa à minha pesquisa — quinta colocação. Por mais que somente os três pri­meiros coloca dos tivessem direito à publicação, a chancela daque­les profissionais foi muito importante para estimular, em mim, a crença de que as experiências dos artífices pernambucanos era algo que valia a pena ser divulgado para um público mais amplo. O segundo grupo de historiadores, por sua vez, é formado por Keila Grinberg e clifford Andrew Welsh. O julgamento de ambos foi determinante para que minha investigação fosse publicada na coleção Várias Histórias, pois compuseram a banca do concurso de 2011. Generosamente, Keila e clifford concederam ao meu tra­balho a primeira colocação.

No cecult, certamente, a publicação deste livro contou com o apoio da sempre atenta Flávia Peral, colega de trabalho que, com o passar dos anos, conquistou todo meu respeito e minha admiração. Fernando Teixeira Silva é outro colega que merece menção neste agradecimento, pois, com seu bom humor e reconhecida compe­tência, ajudou nas revisões acadêmica e técnica dos originais que

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foram enviados à Editora da Unicamp. Aos funcionários e gestores desse órgão universitário também agradeço pelo incansável tra­balho com o Artífices da cidadania. Na cidade de campinas, o esteio afetivo que ampara esta publicação também foi forjado a partir de minhas experiências no cecult. Nesse grupo de pesquisa construí uma família muito especial, que é formada por companheiros de pós­graduação que apoiaram a escrita de cada linha deste trabalho, torceram por mim e ainda permitiram que encontrasse novos sentidos para a amizade — que “nem mesmo a força do tempo irá destruir”, como canta o grupo Fundo de Quintal. Abraços frater­nais para os malungos carlos Eduardo Moreira de Araújo, Robé­rio Santos Souza, Jonis Freire e Karoline carula.

Direta ou indiretamente, os pernambucanos ajudaram muito na construção do Artífices da cidadania. Na Universidade Federal de Pernambuco, agradeço especialmente a Marcus carvalho, his­toriador fundamental em minha formação, e Marc Hoffnagel. Naquele espaço acadêmico, ainda destaco Suzana cavani Rosas, Sylvana Brandão e Levi Rodrigues. No Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, sou grato aos confrades Galvão, Reinaldo e Severo. Na Assembleia Legislativa de Pernam­buco, a João, Marquinho e cíntia. No Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano, ao incansável Hildo. No Arquivo Geral do Tribunal de Justiça de Pernambuco, à grande amiga e sempre solidária Rejane. Na Universidade católica de Pernambuco, Jayse, Arlete, Poly e Mestrinho. Agradeço também às equipes da Bi­blioteca Pública de Pernambuco, da Fundação Joaquim Nabuco, do Instituto Brennand, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, do Gabinete Português de Leitura e do Ar quivo Geral da Faculdade de Direito do Recife. Em todos esses espaços, seus acervos foram franqueados com presteza. Peter Beattie, An­dréa Bonfim, Maria Emília Vasconcelos dos Santos, Flávio de Sá Neto, Bruno câmara, Pablo Porfírio, celso castilho, Humberto Mi randa e Juliana Andrade, valeu pelas conversas e pelas dicas. Marcio Remigio, Izaildo e Iranildo Alves de Oliveira, Ronaldo Moura, Eduardo Holanda, Joilton Junior, Douglas Devaldo, Ri­cardo Silva, Nilton Junior, Mozart Amorim e camila “Munita”

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Santos, muito obrigado pelo apoio afetivo na cEU–M. Vocês sabem que grandes desafios foram superados porque pude contar com sua solidariedade.

No Rio de Janeiro também existem pessoas e instituições a que sou grato. As pesquisas no Arquivo Nacional foram facilitadas com as muitas ajudas de Sátiro e Joyce. Na Biblioteca Nacional, foram fundamentais as consultas junto às divisões de Iconografia e Obras Raras. No Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Pedro Tórtima ajudou a desbravar o acervo da instituição. Entre os meus velhos amigos, valeram os mais diversos incentivos de Tadeu Renato Mendonça, Antônio Leal, Marcelo Oliveira, Rei­naldo “Ovo”, Leonardo Bahiense, Gisele cunha e Eduardo caval­cante. O obrigado mais especial, contudo, vai para minha família, que sempre buscou amenizar as dificuldades que enfrentei no processo de doutoramento. Margarida, minha mãe, talvez sem saber exatamente o que isso significa, é uma das principais res­ponsáveis por minha trajetória acadêmica. Nos momentos em que não pude cuidar de meu filho, por conta das inúmeras e longas viagens ao Recife e a campinas, foi ela que assumiu parte da mis­são. Igor, como você já sabe, dedico a você muito mais que este livro. Dedico minha Vida.

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No final, carpinteiro de mim!

Raul Seixas e Marcelo Nova

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s u m á r i o

lista de Figuras, gráFicos, mapas e Quadros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

preFácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

introduÇÃo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

1 inteligÊncia e progresso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

2 “moralidade” e aperFeiÇoamento da mÃo de obra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .109

3 noVos rumos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175

4 abalos na obra institucional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .243

5 uma sociedade imperial e um liceu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 327

conclusÃo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 407

Fontes e bibliograFia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 413

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l i s t a d e F i g u r a s , g r á F i c o s , m a p a s e Q u a d r o s

Figuras

1 Negros serradores de tábuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

2 Rua da cruz (c. 1863) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

3 charles Dupin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

4 Panorama da freguesia de São José (1856) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129

5 Desembarque de SS. MM. D. Pedro II e D. Teresa cristina

em Recife (PE, 22/11/1859) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149

6 Praça da Boa Vista (c. 1863) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 260

7 Rua Nova (c. 1865) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 296

8 campo das Princesas (c. 1875) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 337

9 Palacete do Lyceu de Artes e Officios — Projecto

modificativo, 1877 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 383

10 Palacete do Liceu de Artes e Ofícios do Recife (1880) . . . . . . . . . . . . . . 384

11 Membros da Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais

no Palacete do Liceu de Artes e Ofícios do Recife (1880) . . . . . . . . 406

Gráficos

1 Média de idade dos sócios na década de 1840 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

2 Proporção de carpinas e pedreiros no corpo social da

Sociedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

3 Matrículas nas aulas da Sociedade entre 1858 e 1874. . . . . . . . . . . . . . . . . . 347

4 Matrículas nas aulas da Sociedade entre 1858 e 1878. . . . . . . . . . . . . . . . . . 371

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Mapas

1 Mancha urbana do Recife em 1865 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 299

2 Mancha urbana do Recife em 1876 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 300

Quadros

1 Os sócios pioneiros em 1841 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

2 Os outros sete sócios em 1841 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

3 características dos sócios na década de 1840 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

4 características dos sócios na década de 1850 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134

5 características dos 67 sócios encontrados em 1861 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180

6 Os sócios pioneiros e fundadores na diacronia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182

7 características dos 20 sócios efetivos matriculados em

1862 e 1863 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191

8 Eleições para a mesa regedora da Irmandade de São José

do Ribamar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253

9 características dos 36 sócios efetivos encontrados no

final de 1870 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 330

10 características dos 105 sócios efetivos matriculados entre

1871 e 1874 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 343

11 Mesas diretoras da Imperial Sociedade dos Artistas

Mecânicos e Liberais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 355

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Nas últimas décadas, a história social tem procurado caminhos alternativos, para aprofundar o conhecimento das experiências de vida dos trabalhadores. Ao longo do século XX, dois movimentos relativamente independentes foram decisivos para delinear e dar força a essa busca. De um lado, as propostas profundamente huma­nistas do grupo dos Annales, lançadas no final dos anos 1920, am­pliaram­se consideravelmente no pós­guerra e ganharam escala internacional a partir dos anos 1960. Por conta delas, no lugar da história política ou do Estado, de alguns indivíduos ou das elites, os historiadores passaram a se interessar pelo estudo da sociedade e dos grupos sociais, pelo escrutínio dos aspectos da vida coti diana, da cultura e das mentalidades. Novas fontes e novos procedimen­tos analíticos foram incorporados às lides historiográficas, am­pliando a capacidade de recuperar aspectos da vida humana no passado até então descartados como insignificantes.

De outro lado, o questionamento do stalinismo empreen dido por diversos grupos da esquerda, no final dos anos 1950, levou a mudanças importantes no terreno da produção acadêmica de ins­piração marxista. criticando a rigidez dos modelos genera lizantes e o primado simplista da economia, outro grupo de historiadores procurou conhecer o mundo dos trabalhadores para além da his­tória dos sindicatos, partidos operários e movimentos de reivindi­cação ou protesto. Também eles se debruçaram sobre os valores, as tradições e as ideias que informavam as ações e as reações dos homens e mulheres do passado. De modo diferente, no entanto, a cultura para eles não era mais um objeto de estudo que se somava a tantos outros nem era entendida como algo genérico, que abar­cava toda a sociedade, desde césar ao último soldado de suas le­giões, como disse um dia Jacques Le Goff. concebida como parte

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constitutiva das relações sociais, ela era ao mesmo tempo expres­são das desigualdades e, nas suas variadas formas, elemento im­portante da formação das identidades sociais. No plural, os va lores herdados, os costumes, os comportamentos, as formas de sentir e pensar apareciam associados aos interesses dos grupos sociais: inseparáveis do modo como as pessoas compreendiam o mundo em que viviam e como, nele, agiam e projetavam suas ações, tor­naram­se elementos importantes das investigações na área da his­tória social. O alargamento das fontes também aqui se fez pre sente e necessário, mas a contribuição mais importante dada por esses historiadores foi a necessidade de examinar os contextos em que os documentos históricos foram produzidos e entendê­los como parte das lutas sociais que registravam.

Distantes em suas origens e propostas, mas muitas vezes con­vergentes e mesmo combinados, esses dois movimentos histo­riográficos fizeram com que os valores, as ideias e os sentimentos experimentados no passado passassem a ter lugar na história. O grande desafio, ao investigar essas novas dimensões da experiência humana, tem sido o de lembrar sempre que elas também variam e se transformam, e que não há características imutáveis, ine rentes ao todos os homens. Os valores e os sentimentos, as ideias e a cultura mudam ao longo do tempo e também são diferentes numa mesma sociedade.

Para saber mais detalhadamente como isso acontece e como a cultura se relaciona com os vários aspectos que compõem a ex­periência humana, novas possibilidades de investigação histó rica foram ensaiadas a partir dos anos 1980. Experimentou­se re duzir a escala das investigações e focalizar eventos aparentemente banais ou a vida em lugarejos específicos, por exemplo, a fim de in terrogar um grande volume de fontes, em busca do nexo entre todos os elementos que compunham uma experiência histórica determi­nada, no tempo e no espaço. Recorreu­se ainda a descri ções den­sas da vida cotidiana, com o objetivo de apreender o modo como certos comportamentos coletivos foram forjados e se consolida­ram, organizando as atitudes individuais. Muitas vezes, as trajetó­rias pessoais serviram de fio condutor para percorrer as profun­

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dezas das relações sociais, permitindo outro olhar sobre os even­tos e nova percepção do desenrolar dos acontecimentos.

A historiografia brasileira participou ativamente desses mo­ vimentos. Os que se dedicam à história social do trabalho e dos trabalhadores, em particular, formataram suas pesquisas em um diálogo constante com os desdobramentos dessas vertentes his­toriográficas, em especial com aquela desenvolvida pela chamada his tória social inglesa. Os estudos sobre os movimentos operá rios, sobre a vida dentro e fora das fábricas modificaram­se profunda­mente. Também os estudos sobre a experiência escrava redimen­sionaram­se, especialmente a partir do final da década de 1980: deixaram de lidar apenas com os números do tráfico, com a pro­dução nos engenhos, minas e fazendas de café ou com as caracte­rísticas gerais do sistema escravista, para incorporar também o modo de vida, as formas de organização, as ações, as expectativas e as reações dos escravos. centrada na experiência dos sujeitos, a história da escravidão e do trabalho livre no Brasil passou a ser feita com um volume muito maior de fontes, incorporando a visão que os escravos, libertos e livres tinham do mundo em que viviam.

Na área da história da escravidão, dimensões até então igno­radas ou subestimadas da experiência escravista ganharam relevo e novas indagações levaram a novas pesquisas. Um campo que cresceu muito foi o dos estudos sobre o trabalho livre, durante e imediatamente depois da escravidão — tanto daqueles que, liber­tos ou livres, viveram em um mundo escravista, quanto dos que, depois do 13 de Maio de 1888, lidavam com os costumes, valores e práticas que conformavam relações de trabalho recentemente abolidas. Hoje se sabe muito mais do que se sabia há 50 anos a res peito das várias modalidades de alforria, dos destinos dos al­forriados, do modo como os escravos conseguiam construir ca­minhos diversos para a liberdade e, uma vez livres, organizavam suas vidas. Também sabemos muito mais sobre o período eferves­cente que se seguiu à Abolição, em que ex­senhores e ex­escravos tinham expectativas tão diversas sobre as formas de organizar o trabalho e suas próprias vidas. Não se trata apenas de um volume maior de pesquisas realizadas, mas de um jeito diferente de abor­

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dar temas e questões, e de buscar novos caminhos e abordagens, compulsando fontes as mais diversas.

Artífices da cidadania, de Marcelo Mac cord, é um bom exem­plo dessa nova produção historiográfica que se desenvolveu no Brasil nas últimas décadas. Não por acaso, para estudar o Brasil oitocentista, ele escolheu seguir um grupo de artífices especiali­zados, homens livres de pele escura, que trabalhavam no ramo das edificações. Membros da Irmandade de São José do Ribamar, no Recife, que congregava pedreiros, carpinteiros, marceneiros e tanoeiros, esses homens mantinham controle sobre a formação desses artesãos, sobre os requisitos para o exercício de seus ofícios e sobre o próprio mercado de trabalho. Quando a constituição de 1824 extinguiu as corporações de ofício, eles mantiveram seus costumes e formas de organização e foi com base neles que fun­daram uma sociedade laica, batizada Sociedade das Artes Mecâni­cas, que passou a cumprir aqueles objetivos.

A história que esse livro conta é a da formação e do desen­volvimento dessa Sociedade — não uma história da instituição, mas dos homens que a formaram e dos motivos que os levaram a modificá­la ao longo do tempo. Suas páginas narram como eles conseguiram defender seus interesses e lutaram para fazer crescer a entidade que os congregava, como brigaram entre si e com an­tigos aliados, e buscaram apoios externos para sobreviver e levar adiante seus ideais. Narram também a história de uma família, a do mestre carpina José Vicente Ferreira Barros — o idealizador da Sociedade — e de seus filhos e companheiros.

Assim, seguindo as lições de Marc Bloch, Marcelo Mac cord prestou atenção aos homens, no plural, produzindo uma narrativa em que podemos reconhecer gente de carne e osso, com valores e expectativas que moldavam suas vidas familiar, social, política e profissional. Seguindo as lições de Edward P. Thompson, prestou atenção ao fato de que essas ideias e esses valores não eram únicos naquele mundo: os sentimentos de orgulho, dignidade, precisão e inteligência que governavam suas vidas profissionais tinham que lidar com as ideias de “progresso” e “civilização” que eram apregoa­das em várias situações por políticos e administradores. Longe de

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uma análise maniqueísta, o texto explora justamente o modo como aqueles homens se posicionaram em um mundo que se trans­formava rapidamente, dialogando com princípios liberais e expe­riências europeizantes, fazendo alianças e enfrentando rivalidades internas, para defender o que mais prezavam: a formação pessoal, o ensino artesanal e um modo de trabalhar e organizar o trabalho.

Ao seguir esses trabalhadores e suas instituições ao longo do tempo, Marcelo Mac cord teve que lidar com diversos eventos e fenômenos que fazem parte da história pernambucana e da cidade do Recife, onde eles viviam. A mudança das conjunturas, as modi­ficações sociais e políticas mais amplas acompanham a análise das alterações internas da Sociedade: fazem parte dela tanto quanto as escolhas feitas pelos seus diversos membros e por José Vicente Ferreira Barros e seus filhos, em particular. Exatamente por isso, esse livro apresenta uma contribuição duplamente inovadora para a história das organizações dos trabalhadores e da educação no Brasil oitocentista.

A inovação não reside apenas no fato de que há gente nessas his tórias e que seus valores e os ideais são levados em conta, mos­trando como vontades individuais, sentimentos de grupo e dinâ­mica social se entrelaçam. Ela deriva também do fato de que a análise lida com valores de pessoas muito particulares: ideais e sentimentos forjados na experiência de homens livres, pardos e negros, que viviam num mundo escravista. Nessa sociedade, que desqualificava o trabalho artesanal, o orgulho e a dignidade, assim como a perseverança no estudo em busca de precisão e inteligên­cia, eram armas importantes para se distinguirem dos escravos, garantir a sobrevivência material e conquistar distinção social.

O modo como esses homens livres enfrentaram o precon­ceito e a discriminação contra os negros e os escravos foi parte sig nificativa de suas existências — e por isso mesmo fazem parte da história contada nesse livro. Esse não é apenas mais um ele­mento a compor a análise. Sempre presente, constitutivo mesmo da experiência daqueles homens, e de outros tantos como eles, tal aspecto nem sempre foi levado em conta pela historiografia, especialmente aquela dedicada ao estudo da história da liberdade,

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do trabalho livre, da formação das organizações de trabalhadores e das instituições dedicadas à formação profissional. Em Artífices da cidadania, isso não acontece: aqui, todos esses elementos se entrecruzam — e não apenas ganham rostos, mas também cor.

Dito de outro modo, um dos méritos desse livro é mostrar que todas essas histórias estão ligadas à história da escravidão — e ao modo como ela foi vivida, enfrentada e superada por muitos homens e mulheres, fossem eles escravos, libertos ou livres. Aqui, as ideias políticas e os grandes temas que atravessaram a constru­ção da nação, as expectativas e propostas diante das mudanças nas relações de trabalho, as iniciativas individuais ou coletivas, parti­culares ou públicas em prol da educação estão entrelaçados à experiência de negros e pardos que foram ou deixaram de ser escravos — e de seus filhos e netos.

Ao discutir as tensões entre vontade e contingência, escolhas pessoais e determinações gerais, e ao incorporar as dimensões da cultura à análise das relações sociais, Artífices da cidadania entre­laça muitos temas. com uma narrativa envolvente, temperada por uma pesquisa cuidadosa e original, é obra de leitura agradável e instigante, que nos faz pensar: sobre a história de Pernambuco e do Brasil no século XIX e, especialmente, sobre os homens que ali viveram, trabalharam e construíram suas vidas. Na maior parte das vezes, eles não fizeram escolhas nem agiram como alguns de nós (e talvez alguns deles) poderíamos desejar. Mas, nas condições determinadas por seu tempo e lugar, como disse um velho e sábio filósofo, eles fizeram “sua própria história”. Forjados pelas expe­riências legadas e transmitidas pelo passado, esses artífices cons­truíram com orgulho e dignidade a história de suas vidas e de suas organizações profissionais — e da própria cidadania no Brasil.

Silvia Hunold Lara

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