articulando conceitos em biologia molecular

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ARTICULANDO CONCEITOS EM BIOLOGIA MOLECULAR? Marília de França Rocha, 1 Instituto de Ciências Biológicas, Universidade de Pernambuco, [email protected] Ana Maria dos Anjos Carneiro Leão, 2 Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Universidade Federal Rural de Pernambuco, [email protected] RESUMO A construção conceitual em Biologia Molecular convoca diferentes competências, como a leitura de textos específicos e compreensão de técnicas, até a navegação em sites de genômica. Este trabalho objetivou analisar a formação/articulação de conceitos em Genética Molecular, no tema Replicação, no Bacharelado em Ciências Biológicas. Após aula anterior do tema, com duração de três horas e 20 minutos, ministrada por um professor da área, foram disponibilizadas 17 palavras-conceito, que deveriam constar em um texto construído por estudantes do 3º período. A amostra compôs um total de 20 textos, possibilitando a identificação de lacunas na aprendizagem envolvendo a célula e o ciclo celular, especialmente sobre divisão celular, interfase, mitose, meiose, cromatina, cromossomo, DNA, gene e nucleotídeo. Quanto à replicação propriamente dita nenhum texto demonstrou um encadeamento lógico do processo, observando-se, inclusive, dificuldade em diferenciar transcrição e tradução. Assim, como trabalhar com discentes que passaram por disciplinas como Citologia, Bioquímica, Genética Básica/Geral e não conseguem articular esses conceitos? Sugere-se a necessidade de rever paradigmas docentes na formação inicial, de modo a que o estudante se perceba como um produtor ativo de significados. PALAVRAS-CHAVE: ensino superior; paradigmas; complexidade INTRODUÇÃO Várias áreas contribuem para o corpo conceitual das Ciências Biológicas. Uma delas é a Biologia Molecular (BM), que compreende o estudo dos genes no nível molecular e tem se desenvolvido rapidamente, em razão dos avanços das ômicas. De acordo com Pierce (2011), a Genômica tenta compreender o conteúdo, a organização, o funcionamento e a evolução de genomas inteiros, enquanto a Proteômica é o estudo do proteoma, ou seja, o conjunto completo das proteínas de uma determinada célula. A BM convoca diferentes competências, como a leitura de textos específicos e compreensão de técnicas, até a navegação em sites de

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Biologia Molecular

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  • ARTICULANDO CONCEITOS EM BIOLOGIA MOLECULAR?

    Marlia de Frana Rocha,

    1Instituto de Cincias Biolgicas, Universidade de Pernambuco,

    [email protected]

    Ana Maria dos Anjos Carneiro Leo,

    2Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Universidade Federal Rural de

    Pernambuco,

    [email protected]

    RESUMO

    A construo conceitual em Biologia Molecular convoca diferentes competncias, como a

    leitura de textos especficos e compreenso de tcnicas, at a navegao em sites de

    genmica. Este trabalho objetivou analisar a formao/articulao de conceitos em Gentica

    Molecular, no tema Replicao, no Bacharelado em Cincias Biolgicas. Aps aula anterior

    do tema, com durao de trs horas e 20 minutos, ministrada por um professor da rea, foram

    disponibilizadas 17 palavras-conceito, que deveriam constar em um texto construdo por

    estudantes do 3 perodo. A amostra comps um total de 20 textos, possibilitando a

    identificao de lacunas na aprendizagem envolvendo a clula e o ciclo celular, especialmente

    sobre diviso celular, interfase, mitose, meiose, cromatina, cromossomo, DNA, gene e

    nucleotdeo. Quanto replicao propriamente dita nenhum texto demonstrou um

    encadeamento lgico do processo, observando-se, inclusive, dificuldade em diferenciar

    transcrio e traduo. Assim, como trabalhar com discentes que passaram por disciplinas

    como Citologia, Bioqumica, Gentica Bsica/Geral e no conseguem articular esses

    conceitos? Sugere-se a necessidade de rever paradigmas docentes na formao inicial, de

    modo a que o estudante se perceba como um produtor ativo de significados.

    PALAVRAS-CHAVE: ensino superior; paradigmas; complexidade

    INTRODUO

    Vrias reas contribuem para o corpo conceitual das Cincias Biolgicas. Uma delas

    a Biologia Molecular (BM), que compreende o estudo dos genes no nvel molecular e tem se

    desenvolvido rapidamente, em razo dos avanos das micas. De acordo com Pierce (2011), a

    Genmica tenta compreender o contedo, a organizao, o funcionamento e a evoluo de

    genomas inteiros, enquanto a Protemica o estudo do proteoma, ou seja, o conjunto

    completo das protenas de uma determinada clula. A BM convoca diferentes competncias,

    como a leitura de textos especficos e compreenso de tcnicas, at a navegao em sites de

    mailto:[email protected]:[email protected]

  • dados estabelecidos para coletas e anlise de informaes (sobre sequncias de DNA e

    protenas) em bancos de dados pblicos ligados a internet, tais como: GenBank, EMBL-Bank,

    FlyBase e UniProt.

    Dados disponveis sobre BM tm aumentado assustadoramente e, at para os

    envolvidos em seu estudo, difcil acompanhar toda a gama de novos conhecimentos, pois

    articular esses conceitos requer transitar entre os diferentes nveis de organizao biolgica.

    No entanto, a forma como estas informaes chegam escola e ao cidado comum,

    superficial e muitas vezes carregada de determinismo gentico, como observado no Brasil

    (GOLDBACH; EL-HANI, 2008; SCHNEIDER et al., 2011; LEGEY et al., 2012), e em

    outros pases (BOUJEMAA et al., 2010; CASTRA e CLMENT, 2014). De acordo com

    Capra (2005 p. 174)

    ... os conceitos tradicionais do determinismo gentico entre os quais o

    conceito de programao gentica e, talvez, o prprio conceito de gene no

    correspondem realidade e precisam ser radicalmente revistos.

    Alm disso, comum observar a supervalorizao de conceitos considerados atuais ou

    de ponta por leigos e especialistas, em detrimento de concepes bsicas como destacam

    Camargo; Infante-Malaquias; Amabis (2007, p. 3):

    comum, por exemplo, que o professor queira saber sobre transgnicos e

    clulas-tronco, mas no se preocupe em relacionar este conhecimento a

    conceitos fundamentais, como expresso gnica e diferenciao celular.

    Conceitos como os listados acima fazem parte de diferentes disciplinas, a exemplo da

    Biologia Celular e Molecular, da Bioqumica e da Gentica Molecular. Dessa forma, como

    falar sobre clonagem, terapias celular e gnica, cncer, entre outros se a compreenso dos

    conceitos bsicos e suas relaes no foi atingida? Isto decorre de uma abordagem

    conservadora, na qual a caracterstica fundamental a repetio do conhecimento e a viso

    mecanicista.

    Uma questo subjacente ao estudo da Biologia, que ainda parece pouco clara entre os

    profissionais da rea, inclusive os formadores compreender o significado de Vida. Desde a

    Educao Infantil nos deparamos com formulaes de natureza cartesiana, como animais

    tm vida; pedras, no tm vida. Assim, a partir dessa perspectiva, reforada ao longo da

    escolarizao, assumimos algumas questes como vlidas, como o fato de estar vivo se

    relaciona a respirar, comer e se movimentar. Estas assertivas partem do senso comum em

    geral e quanto Cincia tudo o que pode ser percebido com nossos cinco sentidos, pode ser

    testado e reproduzvel; portanto, significa que confivel (CHALMERS, 1993).

  • Em 2007, S avaliou as concepes sobre respirao em alunos de diferentes nveis de

    escolarizao (desde o Ensino Fundamental ao mestrado Stricto Sensu em Bioqumica,

    passando pela Licenciatura em Cincias Biolgicas), traando um perfil conceitual

    longitudinal. O que foi observado? Que as primeiras concepes sobre respirao eram de

    natureza vitalista, colocadas em assertivas simples, como respiro para viver. O que seria

    esperado medida que a escolarizao formal avanasse? Que uma maior capacidade de

    abstrao fosse alcanada e que isto se refletisse na fala (verbal e/ou textual) dessas pessoas.

    Entretanto, observamos frequentemente uma sofisticao aparente no discurso, ainda que as

    primeiras concepes se mantivessem. Lidamos, assim com um paradoxo a crena nas

    primeiras ideias sobre respirao convivendo com concepes abstratas e processuais, como a

    respirao celular. Este termo utilizado a partir do Ensino Mdio para significar um

    conjunto de vias metablicas que se inicia com a degradao oxidativa da glicose e culmina

    com a biossntese de ATP seja ao longo do processo, seja atravs da enzima ATP sintetase,

    na membrana mitocondrial interna1.

    Assim, medida que mais abstraes se fazem necessrias e existe a necessidade de

    integrar outras vises de mundo mais articuladas e contextuais, esse vcuo se torna evidente.

    O Paradigma Sistmico-Complexo, desenvolvido a partir de nossa prtica e de nossas

    concepes sobre Cincia, valoriza a reelaborada articulao das partes para a compreenso

    do todo. Esta concepo diferencia o olhar do professsor quanto a sua perspectiva de mundo e

    sua prtica docente em sala de aula.

    Como, ento, compreender e construir o conceito de gene? Por que a expresso gnica

    fundamental para a homeostase de um indivduo (em qualquer espcie) quanto ao seu

    ambiente? Como esta interao homem-ambiente se relaciona com a Evoluo? Que

    processos mediam a interao ambiente-indivduo? Onde (e como) essas interaes se

    materializam?

    Dificilmente poderamos pensar nesse assunto, sem considerar os nveis de

    organizao biolgica em um nico indivduo. Tomando a espcie Homo sapiens como

    modelo, estamos organizados em sistemas, rgos, tecidos e clulas. Estas, por sua vez,

    reproduzem esse modelo de organizao, considerando a funo e integrao das organelas.

    A organizao curricular dos cursos de formao inicial em Cincias Biolgicas

    (Bacharelado e Licenciatura) ainda considera que os nveis de organizao citados

    pertencem ao domnio disciplinar, consequncia do Paradigma Cartesiano, fragmentador e

    1 Processos citoslicos (gliclise) e mitocondriais (converso de piruvato a Acetil CoA, ciclo do cido ctrico e

    fosforilao oxidativa na Cadeia Transportadora de Eltrons)

  • reducionista. Desse modo, torna-se extremamente difcil compreender que um homindeo

    precisava ter reservas moleculares (para utilizao de energia) na perspectiva da

    sobrevivncia. Essas reservas permitiriam aes rpidas, como buscar uma presa ou fugir de

    um predador. Da mesma forma, permitiriam a mdio e longo prazo sobreviver a um inverno

    ou estiagem prolongada.

    Entretanto, em nossa prtica docente atual, lidamos com os contedos disciplinares de

    forma estanque, importantes per se, em uma vertente tecnicista (BEHRENS, 2007, 2010). A

    integrao de todos esses conhecimentos considerada como mera responsabilidade do aluno.

    Sem dvida, tem havido um esforo em determinadas reas, como na Gentica, para

    facilitar a compreenso da abordagem molecular. Um aspecto notvel o aumento de

    modelos didticos objetivos e prticos, que facilitam a sua explanao, como apresentados na

    Revista Gentica na Escola, disponvel no site da Sociedade Brasileira de Gentica

    (www.sbg.org.br). Entretanto, preciso ressaltar que se faz necessria uma prtica docente

    questionadora, problematizadora e que estimule reflexo sobre como os conceitos esto

    sendo construdos. Em outras palavras: as mudanas do mundo, do Conhecimento, da Cincia

    devem se refletir em nossa prtica. Behrens (2010) traa a relao entre a prtica pedaggica e

    o paradigma emergente, compreendido por ns como o Paradigma Sistmico-Complexo.

    Nesse contexto, procuramos contribuir para o aperfeioamento do ensino na rea da

    Biologia Molecular ao analisar a formao/articulao de conceitos em Gentica Molecular,

    no tema Replicao, no Bacharelado em Cincias Biolgicas por meio da construo de

    textos e de sua discusso. Esta atividade um recorte especfico do projeto Estimulando o

    pensar em grupo: construir, ligar e interligar conceitos por meio de oficinas pedaggicas

    interdisciplinares2.

    O estudante do Ensino Superior (ES) ao partilhar com seus pares o que estudou

    academicamente pode aprender de forma significativa ao confrontar seus saberes e expor seu

    ponto de vista. O estudante tendo direito a voz aprende a questionar, discordar,

    exemplificar, duvidar e buscar subsdios para fortalecer a sua argumentao. Aprende

    tambm, a ouvir o colega, exercitando a ouvirtude (ou a virtude de saber parar para ouvir o

    outro e esperar sua vez de falar). Nesse processo, tambm ensina ao desafiar o professor a

    buscar formas de transpor o saber da academia para o saber do cotidiano.

    2 CAAE 19224113.6.0000.5207, aprovado no parecer CEP 555.762

    http://www.sbg.org.br/

  • DESENVOLVIMENTO

    Metodologia

    A pesquisa desenvolveu aes voltadas para analisar a formao de conceitos em

    Gentica Molecular, no tema Replicao, em 31 discentes, de uma turma de 3 perodo de

    graduao do Curso de Bacharelado em Cincias Biolgicas de uma universidade de

    Pernambuco.

    Nesta turma foram ministradas duas aulas, por um professor da rea, sobre Estrutura

    de cidos Nucleicos e Replicao, com durao de trs horas e 20 minutos cada. Deste

    perodo de tempo, duas horas foram destinadas a exposio do assunto e uma hora e vinte, a

    aplicao de listas de exerccios/ps-testes. Para a segunda aula, foi feita uma proposta pelas

    pesquisadoras de substituir esta atividade avaliativa por outra, na qual 17 palavras-conceito

    deveriam constar em um texto construdo pelos estudantes: clula, cromatina, cromossomo,

    DNA, DNA polimerase, eucariontes, gene, helicase, interfase, meiose, mitose, nucleotdeo,

    pares de bases, procariontes, replicao, SSbs, topoisomerase.

    Apesar do processo de replicao ocorrer em clulas, tambm foi solicitado que

    organizassem suas construes partindo de uma viso macro para a microscpica (ou vice-

    versa), considerando suas relaes, a fim de perceber como os estudantes transitam em

    diferentes nveis de organizao estrutural e funcional.

    O corpus de anlise deste trabalho comps um total de 20 textos, sendo 11 feitos em

    dupla e nove construdos individualmente, podendo fazer uso de consulta. O projeto foi

    previamente apresentado aos estudantes, convidando-os a participar. Todos os participantes

    foram esclarecidos e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Nenhum aluno

    foi fotografado ou filmado, sendo mantido o anonimato de cada indivduo.

    Os textos produzidos foram identificados de T1 a T20. Foram consideradas as

    seguintes variveis: (A) Dezessete termos envolvidos na gentica propostos pelas

    pesquisadoras e, adicionalmente, cinco pelos discentes (diviso celular, ligase, ncleo,

    primase/primer e semiconservativa); (B) Conceitos de mbito mais geral na perspectiva do

    trabalho (viso macro organismo, diviso celular) e mais especfico (viso micro estrutura

    e funo do DNA, replicao); (C) Relao entre conceitos; (D) Concepes errneas ou

    infundadas sobre o tema e suas inter-relaes. O passo seguinte consistiu no processo de

    relacionar categorias a partir das observaes da lista de palavras, com o propsito de

    reorganizar os dados e identificar processos e suas relaes, de forma qualitativa. Foram estas:

  • (1) No citou o conceito; (2) Apenas citou o conceito; (3) Conceito correto; (4) Conceito

    incompleto/parcialmente correto e (5) Conceito incorreto.

    As definies dadas pelos aprendizes foram comparadas utilizando-se as dos conceitos

    do glossrio ou de trechos dos livros Introduo Gentica (SNUSTAD; SIMMONS,

    2013) e Fundamentos da Gentica (GRIFFITHS et al., 2013) adotados na disciplina de

    Gentica Molecular.

    Na semana seguinte foi dado o feedback das construes individuais e coletivas. Foi

    feito um acordo verbal sobre respeitar a opinio do outro, esperar a vez de falar, e se abster de

    qualquer comentrio no construtivo, no intuito de exercer a ouvirtude.

    2. Resultados alcanados e discusso

    Dos 20 textos, apenas um no apresentou erros conceituais. No entanto, foi sugerido

    dupla comparar a replicao procaritica com a eucaritica, com o intuito de se apropriarem

    melhor do tema e visualizarem semelhanas e diferenas entre os dois processos. Quanto

    organizao, apenas trs o fizeram partindo da viso macro at a micro. A maioria dos textos

    apresenta uma mistura dessas vises na sua construo, notando-se a dificuldade em perceber

    o que mais micro neste universo celular. Embora seja habitual a utilizao de um sistema

    hierrquico, Capra (2006 p. 45) destaca que

    ...isso uma projeo humana. Na natureza, no h acima ou abaixo, e

    no h hierarquias. H somente redes aninhadas dentro de outras redes.

    Para facilitar a visualizao e a discusso dos dados, os grficos (Grficos 1-3) foram

    construdos com at seis conceitos. O primeiro grfico trata dos conceitos selecionados pelas

    pesquisadoras e considerados macro para a discusso em tela, enquanto os grficos 2 e 3

    apresentam os categorizados como micro. Alguns conceitos podem estar includos em duas

    das cinco categorias. As categorias (4) Conceito incompleto/parcialmente correto e (5)

    Conceito incorreto foram tratadas conjuntamente, sendo a primeira destacada em itlico e a

    segunda em sublinhado, respectivamente, para facilitar a discusso. A seguir, o grfico 1

    apresenta os conceitos considerados macro para a discusso do tema replicao.

  • Grfico 1- Representao das concepes dos estudantes envolvendo organismos e

    diviso celular

    Os termos procariotos e eucariotos foram os que mais apresentaram conceitos

    construdos de forma correta, no entanto um texto apresentou a seguinte citao:

    T17- Todo ser vivo apresenta caractersticas que o constitui em uma perfeita organizao

    estrutural, onde h clulas procariontes e eucariontes. [grifos nossos]

    preocupante observar tal construo realizada por um aluno do 3 perodo de

    Biologia. Durante a discusso dos textos (feedback) foi verificado, que era de fato uma ideia

    trazida pelo estudante, como se clulas procariotas e eucariotas pudessem compor um mesmo

    ser. Nesse momento, foram feitas, por seus colegas, muitas aluses simbiose de bactrias,

    que compem a flora dos tratos digestrio e urinrio humano. Comentrios desse participante

    sobre tecido epitelial evidenciaram, tambm, a confuso sobre epitlio de transio

    compreendido como se fosse metaplsico. Essas observaes corroboram os dados de Legey

    et al. (2012, p. 213) quando afirmam que

    ....a aprendizagem de conceitos cientficos, como os de clula, um processo

    mental complexo que engloba a construo de representaes episdicas e a

    memria de longo prazo.

    Outra concepo digna de nota foi a do texto 16, a qual explicita Os seres

    eucariticos so mais complexos, pois compreendem a maioria dos seres vivos, j os

    procariontes compreendem apenas os seres do reino monera. Eucariotos no so mais

    complexos por este motivo. comum se pensar em complexidade como sinnimo de

    evoluo, fato observado durante a discusso, mostrando como difcil abordar nveis de

    complexidade. importante esclarecer que, para um dado tempo e espao (ambiente), todos

    os seres que ali vivem so evoludos, ou seja, adaptados para manter e perpetuar a Vida.

    02468

    10121416

    No Citou

    Citou

    Conceito Correto

    ConceitoIncompleto

    Conceito Incorreto

  • Quanto complexidade, segundo Capra (2006), em cada nvel os fenmenos estudados

    mostram propriedades que no existem no nvel anterior.

    Outro ponto de destaque est relacionado quantidade. possvel usar a citao de

    parte de um texto de um divulgador de cincia, muito popular, o Dr. Druzio Varela.

    Sabe-se, hoje, que metade da biomassa terrestre ... constituda por seres

    unicelulares. As bactrias representam, ento, o maior exemplo de sucesso

    ecolgico na histria da vida desse planeta. O nmero de bactrias que nos

    colonizam, especialmente na pele e no trato digestivo, muito superior ao

    nmero de clulas que constituem nosso corpo e sua diversidade tanta que

    s conhecemos mais ou menos 50% delas, pois as demais nunca foram

    cultivadas. (http://drauziovarella.com.br/audios-videos/drauzio-entrevista/o-

    mundo-das-bacterias/ Acesso em 02 de out 2014)

    Ora, estas informaes esto na mdia e no fazem parte apenas do conhecimento

    acadmico, ento como entender a afirmao de que eucariotos so mais abundantes? O que

    no percebido com os sentidos, no caso a viso, faz parte do mundo invisvel, possibilitando

    uma gama de concepes alternativas. O mesmo pode ser observado conceitos de outras

    disciplinas tais como Biologia Celular, Biofsica, Bioqumica, Gentica, Microbiologia, entre

    outras. Alm de especializados, tais conceitos so tratados de forma abstrata, na perspectiva

    de Morin (2002, p. 41):

    A especializao abs-trai, em outras palavras, extrai um objeto de seu

    contexto e de seu conjunto, rejeita os laos e as intercomunicaes com seu

    meio, introduz o objeto no setor conceptual abstrato que o da disciplina

    compartimentada, cujas fronteiras fragmentam arbitrariamente a

    sistemicidade (relao da parte com o todo) e a multimensionalidade dos

    fenmenos; conduz abstrao matemtica que opera de si prpria uma

    ciso com o concreto, privilegiando tudo que calculvel e passvel de ser

    formalizado.

    O termo clula foi citado pela maioria apenas dentro do contexto. Somente quatro

    textos desenvolveram o conceito de forma simplificada, referindo-se a unidade morfolgica

    e fisiolgica dos seres vivos. Isto tambm foi observado por outros autores como Legey et al.

    (2012), que destacam a apropriao de conceitos corretos, porm simplistas como o

    observado. Isto agravado pelo pensamento cartesiano como destaca Capra (2006, p. 37)

    Quando Rudolf Virchow formulou a teoria das clulas em sua forma

    moderna, o foco dos bilogos mudou de organismos para clulas. As funes

    biolgicas, em vez de refletirem a organizao do organismo como um todo,

    eram agora concebidas como um resultado de interaes entre os blocos de

    construes celulares.

    Vrios trabalhos apontam a dificuldade de aprendizagem referente ao conceito de ciclo

    celular, essencial na existncia e manuteno do organismo vivo. Sobre a interfase, foi

    http://drauziovarella.com.br/audios-videos/drauzio-entrevista/o-mundo-das-bacterias/

  • notria a dificuldade de desenvolver o conceito, o qual agrupa vrias construes

    incompletas/parcialmente corretas (destaque em itlico) e incorretas (sublinhado), como

    presente nas seguintes construes:

    T3-A interfase e uma fase que precede a mitose....

    T16-O perodo de vida de uma clula dividido em interfase (perodo em que a clula esta se

    preparando) e diviso celular (mitose e meiose).

    T1- Antes de iniciar a diviso celular, o DNA encontra-se descondensado, esta fase conhecida

    como cromatina....

    T7-Material gentico que tambm precisa ser dividido para que ocorra a diviso celular, esse

    processo ocorre na fase em que chamamos de interfase ou fase S.

    Vrios textos se referem interfase como uma fase de preparao e no como o

    perodo no qual a maioria das nossas clulas est, ou seja, em plena atividade metablica.

    como se a clula entrasse novamente na interfase apenas para que uma nova diviso celular

    acontea. Em outras palavras, a compreenso sobre interfase (e seu significado no contexto do

    ciclo celular) incompleta e distorcida. Alm disso, no diferenciam a fase e suas etapas.

    Observa-se ainda a noo do DNA empacotado, ou seja, no se diferenciam as concepes

    de cromatina e cromossomo, existindo uma ideia descontextualizada de menor ou maior

    condensao do DNA. O ciclo celular, assim, visto como um amontoado de nomes sem

    conexes.

    Lopes (2007) destaca que ciclo celular por ser um contedo abstrato e microscpico

    se constitui numa barreira intransponvel para a maioria dos estudantes, em razo do nvel de

    abstrao necessrio a sua compreenso como, por exemplo, a relao entre o mundo micro e

    o macro, que permite o entendimento do funcionamento do corpo de forma sistmica.

    Das palavras selecionadas para aparecer nos textos, dentro desse recorte (conceitos

    macro), apenas mitose se fez presente em todos. Alguns textos apenas citaram os conceitos de

    mitose e/ou meiose. A maioria desenvolveu os conceitos corretamente. Entretanto, por ter

    utilizado apenas o texto e devido a discusso envolver muitos elementos, no foi possvel

    verificar at que ponto, o conceito escrito algo apenas memorizado.

    A seguir, so exibidas algumas concepes, consideradas inadequadas, sobre diviso

    celular inseridas nos textos sob anlise, sem seguir um encadeamento lgico dos processos

    celulares e de sua implicao para os organismos envolvidos.

  • T4-...mitose (uma clula divide o seu citoplasma..)...ou meiose ....e que podem acontecer

    simultaneamente na mesma clula.

    T17- tambm no ncleo que ocorre as divises celulares sucessivas denominadas mitose e

    meiose, cujo perodo entre elas chamado de interfase que o intervalo das duas divises e

    onde a atividade do ncleo mais alta.

    T17-A mitose o tipo de reproduo assexuada, onde uma clula d origem a duas outras....

    T11-No planeta existem seres procariontes e eucariontes, eles passam por um processo de

    diviso celular, sendo eles mitose e meiose.

    T1-...as clulas esto em constant(i)mente em processo de diviso ....

    T10-Dentre os muitos papis e atividades desenvolvidas pelas clulas vivas, a diviso possui o

    maior xito.

    Alguns textos apontam para a ideia de que a diviso celular ocorre no ncleo

    (mitose/meiose) ou no citoplasma (citocinese), desconsiderando o fato de que o processo

    dinmico e integrado. importante frisar que as fases envolvidas so uma forma didtica de

    se analisar o processo, pois ao microscpio possvel observar rotineiramente fases

    intermedirias. Os mtodos de fixao do material biolgico (para Histologia e Citogentica)

    captam um momento da diviso celular para uma dada clula, como uma fotografia (esttica).

    Os estudantes tambm desconsideram a impossibilidade da mitose e da meiose serem

    simultneas em uma mesma clula. Nem toda clula ir sofrer mitose, a exemplo de muitos

    dos nossos neurnios, e muito menos meiose, observada apenas nas clulas germinativas.

    Alm disso, procariotos sofrem fisso, por no possurem citoesqueleto e, por esta razo, no

    poderiam sofrer mitose e meiose (ALBERTS et al., 2011).

    Ao apontarem a diviso celular como possuindo maior xito dentre os papeis

    celulares, fica clara a no compreenso da interfase como a fase constitutiva de nossas

    clulas e da sua importncia no metabolismo e manuteno celular. A interfase deve ser

    considerada em sua perspectiva e no trat-la como um mero intervalo - concepo antiga

    perpetuada por mtodos memorsticos e descontextualizados. Klautau et al. (2009) apontam

    que estudantes universitrios e de ensino mdio dificilmente revelam uma compreenso

    fundamentada dos fenmenos e processos celulares, nem os relacionam com os conceitos da

    gentica. Se alcanado, seria possvel estabelecer relaes entre o ciclo celular, a manuteno

    dos tecidos e a perpetuao da Vida.

    Os dados seguintes trataram dos conceitos considerados micro, divididos em dois

    grficos e suas respectivas discusses. O grfico 2 tratou de conceitos que transitam entre os

  • conceitos considerados macro e micro e abordam a estrutura e funcionalidade do DNA e o

    grfico 3 abordou a replicao propriamente dita.

    Grfico 2- Representao das concepes envolvendo estrutura e funo do DNA

    Os conceitos de cromatina e cromossomo apresentaram muitas concepes

    inadequadas, como podem ser observados nos recortes abaixo.

    T5-Na interfase, o cromossomo est totalmente descondensado formando a cromatina, que

    uma protena....

    T7-O material gentico pode ser encontrado em duas formas morfolgicas, a cromatina e o

    cromossomo....

    T8-Nas clulas eucariontes o cromossomo e a cromatina (cromossomo condensado) se

    encontram no ncleo.

    T10-Os filamentos formados por todos os cromossomos dentro do ncleo no estado da mitose

    identificado como cromatina.

    T20-....o conjunto dentro do ncleo formado por cromossomos chamado de cromatina.

    A cromatina forma complexos de DNA/protenas (especialmente as histonas) e diversos

    tipos de pequenos RNAs. Somente quando a clula entra em processo de diviso, essa fica

    mais compactada sob a forma de cromossomo (SNUSTAD; SIMMONS, 2013). Os textos,

    alm de refletirem o desconhecimento sobre a importncia do empacotamento de DNA, como

    j referido na discusso sobre interfase, tambm se reportam cromatina como uma espcie

    de local, tal qual um ncleo, na concepo do texto 17. Sabe-se tambm que a configurao

    da cromatina, se menos ou mais descondensada (eucromatina e heterocromatina,

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    12

    No Citou

    Citou

    Conceito Correto

    Conceito Incompleto

    Conceito Incorreto

  • respectivamente) esto sob regulao epigentica que modifica a estrutura e o funcionamento

    do genoma, repercutindo sobre o perfil fenotpico, por meio da ativao ou desativao de

    genes (PIERCE, 2011; GRIFFITHS et al., 2013). Como transpor tal dificuldade conceitual?

    Como fazer o estudante perceber que se trata do mesmo DNA com configuraes diferentes a

    depender do ambiente e de suas interaes?

    O local onde fica o DNA ainda motivo de dvida, como observado em T7 Nos

    procariotos, o material gentico, est disperso no citoplasma.... E quanto ao nucleoide?

    Em relao ao DNA e sua estrutura, era esperado que os discentes apresentassem uma

    coerncia lgica e conceitos melhor formados. Mas no foi o que ocorreu, como o

    exemplificado:

    T1-O material gentico dos eucariontes e procariontes, de um modo geral composto pelo

    DNA, o qual constitudo por polmeros de nucleotdeos, que por sua vez so formados por

    protenas, grupo fosfato, pentose e pares de bases nitrogenadas....

    T6-Cada nucleotdeo formado por: (a) um acar ...,(b) um grupamento fosfato e (c) um par de

    bases pricas (adenina e guanina) e um de bases pirimdicas (citosina e timina, no DNA ou

    uracila, no RNA).

    T15-Os pares de base se ligam atravs de pontes de hidrognio para formar os nucleotdeos.

    T19-O DNA uma molcula formada por 1 pentose (desoxirribose), 1 fosfato, 1 pares de base

    nitrogenadas compostas por, 4 nucleotdeos diferentes: adenina, timina, guanina e citosina, que

    se ligam ao seu nucleotdeo complementar por ligaes de hidrognio.

    Seria simplista responsabilizar os estudantes, o ensino bsico, os livros didticos e o

    processo de ensino fragmentado. Precisamos rever a prtica docente, os professores do ensino

    bsico so formados nas licenciaturas, cursos de graduao. Assim, todos tm seu quinho de

    responsabilidade para no perpetuar o ciclo de concepes equivocadas pela falta de

    compreenso e contexto. Dessa forma, como explicar a importncia de interao entre

    molculas (protenas, por exemplo) a depender do encaixe no sulco maior ou menor da

    estrutura da dupla hlice, para alunos que no compreendem nem a estrutura bsica de um

    nucleotdeo? Como faz-los pensar sobre diferentes funes de nucleotdeos, a exemplo do

    ATP, ao falar de estrutura de cidos nucleicos? Como falar de hlices triplas e qudruplas

    (PIVETTA, 2013) relacionadas regulao gnica?

    Em relao ao conceito gene foi interessante notar que, mesmo elencando a palavra a

    ser utilizada em um texto, ela pode no aparecer. Isto ocorreu em 50% dos textos e nos

    chamou a ateno pelo fato de a disciplina ser Gentica Molecular. No entanto, sabe-se que o

    conceito de gene um dos mais difceis da Biologia, equiparando-se ao de espcie. A maioria

  • dos textos que trataram desse termo apresentaram concepes inadequadas, como pode ser

    notado, a seguir.

    T5-Os cromossomos so responsveis por carregar as informaes presentes nas clulas, ficam

    localizadas no ncleo celular, so constitudos por DNA, que tem padres especficos e so

    denominados genes. O gene um segmento de uma molcula de DNA que contem cdigo para

    a produo de aminocidos de cadeia polipeptdica e as sequncias reguladoras para a

    expresso.

    T7-O DNA contm uma sequncia de cdigos para a produo de aminocidos chamados de

    genes...

    T19-No segmento da molcula de DNA encontra-se os genes, que so partes deste segmento

    que contm um cdigo para sintetizar aminocidos.

    As concepes apresentadas focam a sntese de protenas, sem levar em conta que um

    RNA tambm pode ser um produto final. Alm disso, confundem sntese de protenas e

    sntese de aminocidos e corroboram uma gama de trabalhos, que apresentam dados

    consistentes sobre a necessidade de se mudar a forma de tratar o conceito gene. Estes

    abordam as similaridades superficiais de mitose e meiose, o uso indiscriminado dos termos

    gene e alelo, da crise do conceito gene e de diferentes nomenclaturas para a palavra gene,

    metforas e ideias sobre gene (JOAQUIM et al., 2007; GOLDBACH; EL-HANI, 2008;

    KLAUTAU et al., 2009; BOUJEMAA et al., 2010; SCHNEIDER et al., 2011).

    Uma frase do texto 10 mereceu destaque

    T10-O material gentico dever se replicar, controlar tanto o crescimento quanto o

    desenvolvimento do organismo, permitindo adaptaes necessrias ao ambiente.

    De acordo com Tidon (2006), as vises de Darwin e Mendel representaram grande

    avano cientfico na poca em que foram propostas, mas, posteriormente, atuaram como

    obstculos por entrarem em contradio com descobertas da Biologia de Populaes e do

    Desenvolvimento. Nesse contexto, duas ideias equivocadas, em especial, comprometem o

    entendimento de processos ontogenticos e da Biologia Evolutiva, nas palavras da autora (p.

    41 e 42)

    Na primeira delas, a ontogenia vista como o desdobramento de formas que

    j estavam latentes nos genes, como se o desenvolvimento seguisse

    rigorosamente uma receita escrita no DNA dos organismos. Na segunda

    idia, o processo filogentico encarado como um problema e soluo: o

    ambiente prope um problema e os organismos oferecem solues,

    sendo que a melhor delas ser finalmente escolhida.

    Essas explicaes se mostram inadequadas uma vez que a relao entre gene, organismo

    e ambiente muito mais complexa do que o esperado. Tindon (2006, p. 43) ainda destaca que

  • O fentipo de um organismo est continuamente se modificando, do

    nascimento morte. Em qualquer momento, ele no simplesmente o

    resultado da interao de seus genes com o ambiente, mas tambm do

    prprio fentipo no momento anterior. Portanto, o organismo no apenas o

    objeto de foras do desenvolvimento, tambm o sujeito dessas foras.

    Os dados seguintes do continuidade discusso dos conceitos considerados micro. O

    grfico 3 abordou a replicao propriamente dita.

    Grfico 3- Grfico dos conceitos envolvendo a replicao propriamente dita

    Dos vinte textos, o conceito geral de replicao foi apenas citado em nove desses, sem

    que houvesse uma definio mnima e mesmo sabendo que o tema a ser tratado seria

    replicao. Em outros nove, as definies foram corretas. A frase abaixo mostra uma

    concepo incorreta sobre snteses de DNA e protena.

    T15-As SSBs servem como presilhas para manter a molcula esticada para o incio da traduo,

    que a sntese de DNA.

    No momento da discusso, o estudante alegou ter escrito de forma equivocada e

    argumentou saber o que replicao e traduo. Isto mostra a importncia de escutar o aluno,

    que ao expressar o pensamento, pode desfazer uma falsa impresso ou dar a oportunidade ao

    mesmo de reformular o pensamento.

    A sentena, a seguir, foi escolhida para tratar de um tema importante para o processo.

    T4-A clula pode sofrer replicao, que nada mais do que a duplicao do material gentico

    atravs de um molde.

    Segundo Capra (2005), a fidelidade da replicao do DNA, que est na origem da

    estabilidade gentica, no to precisa quanto se esperava e o DNA no to estvel. Alm

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    No Citou

    Citou

    Conceito Correto

    ConceitoIncompleto

    Conceito Incorreto

  • disso, parece haver mecanismos que geram erros de cpia por meio da mitigao de alguns

    dos processos de controle.

    No se pensava em reparo porque ningum imaginava que o DNA se alterasse

    tanto. Sabia-se sobre as mutaes e acreditava-se que fossem raras. No entanto, se no

    houvesse reparo de DNA, a vida no existiria. Provavelmente, o primeiro mecanismo de

    reparo deve estar relacionado com ultravioleta, em razo de a vida ter evoludo na Terra

    sem camada de oznio, onde era preciso reparar danos ocasionados ao material gentico.

    Assim, nas palavras de Capra (2005, p. 177)

    ...as mutaes so geradas e controladas ativamente pela rede epigentica da

    clula e que a evoluo um elemento essencial da auto-organizao dos

    organismos vivos.

    No contexto, das novas descobertas da gentica qui possamos vislumbrar uma

    mudana lenta e gradual, no qual as estruturas deixam de ser o foco principal e a organizao

    das redes metablicas, ou seja, os processos epigenticos, passam a comandar a mudana de

    um pensamento reducionista para um sistmico.

    Outras citaes que mereceram um comentrio foram as dos textos 1 e 11.

    T1- O processo do DNA mais aceito o semiconservativo...

    T11-A replicao do DNA pode ocorrer de 3 formas distintas mas apenas uma a mais

    adequada para o processo, sendo a replicao semiconservativa...

    H claramente uma mistura entre a replicao semiconservativa da molcula do

    DNA, que conserva um filamento molde em cada molcula nova, prevista no modelo da

    teoria testada por Matthew Meselson e Franklin Stahl, em 1958, caso que

    ....ilustra a noo de que a teoria antecede a experimentao, sendo esta

    planejada sobretudo para testar se a teoria (ou o modelo) est em

    conformidade com a realidade (SILVA, 2013, p.58)

    Quanto s enzimas implicadas no processo da replicao, a maioria as definiu de

    forma correta, no entanto, por estar no final da discusso no foi possvel avaliar o que foi

    apreendido de forma memorstica e o que de fato foi construdo. Entre as concepes

    inadequadas, a mais frequente foi tratar das DNA polimerases como se sua nica funo

    fosse a polimerizao da cadeia: ..as DNA polimerases...., onde a I e a III atuam mais que as

    demais (T15).

  • Quanto as enzimas implicadas no processo da replicao, a maioria as definiu de

    forma correta, no entanto, por estar no final da discusso em sala de aula no foi possvel

    avaliar o que foi apreendido de forma memorstica e o que de fato foi construdo.

    Dentre as concepes inadequadas, a mais frequente foi tratar das polimerases como

    se sua nica funo fosse polimerizao da cadeia, a exemplo do texto 15 ..as DNA

    polimerases...., onde a I e a III atuam mais que as demais.

    Quanto as demais enzimas, alguns exemplos de concepes incompletas ou incorretas

    foram elencados.

    T5-As SSBs so protenas que se juntam a fita de DNA que a enzima DNA helicase separou,

    impedindo assim que ela volte a se ligar

    Fitas de DNA que no podem fazer pareamento devido a ao das SSBs da forma

    como colocada seria extremamente perigoso para a clula, porm sabemos que isto

    temporrio e dinmico, pois a medida que a sntese ocorre as SSBs do espao aos novos

    desoxirribonucleotdeos que iro formar ligaes fosfodister no sentido 5-3 e tambm

    formaro pontes de hidrognio entre as bases nitrogenadas.

    Em alguns textos fica claro a memorizao, a exemplo dos textos 10, 3 e 16.

    T10-A topoisomerase que catalisa a introduo ou remoo de superhlices no DNA.

    T3-Com isso a primase coloca um primer para ser o molde de um DNA....

    T16-A replicao inicia-se quando a enzima primase liga-se uma sequncia de nucleotdeos que

    forma 1 curto fragmento de RNA....

    O problema bsico nesses exemplos para que servem essas enzimas e em que

    momento atuam. Para que so introduzidas ou removidas superhlices no DNA? Elas so

    negativas ou positivas? Responder a estas perguntas permite ao estudante mostrar uma

    compreenso mais adequada do papel da topoisomerase. Da mesma forma, podemos fazer

    perguntas semelhantes para a primase, visto sua funo bsica ser por um primer de RNA

    para fornecer uma extremidade 3OH livre. O texto 16 mostra o desconhecimento em relao ao

    incio da replicao e sua origem, nica para procarioto e mltipla para eucarioto, em razo da

    quantidade e tamanho de cromossomos a serem replicados (SNUSTAD; SIMMMONS, 2013).

    Por fim, podemos citar a ligase, cuja concepo mais frequente ilustrada no texto 10

    Se um filamento de DNA sintetizado descontinuamente necessrio um mecanismo para

    unir os fragmentos, esse mecanismo realizado pela enzima ligase.

    Muitos dos textos se referem a ligase apenas durante a sntese descontnua, e

    esquecem que a fita contnua tambm necessita de primer, cujo RNA ser retirado e

    substitudo por DNA e a ltima ligao ser selada pela ligase (GRIFFITHS et al., 2013).

  • Considerando o papel fundamental do DNA como material gentico, esse ser capaz,

    ento, de desempenhar trs funes essenciais: a funo genotpica replicao, a funo

    fenotpica expresso gnica e a funo evolutiva mutao (SNUSTAD; SIMMONS,

    2013).

    CONCLUSES

    Os textos possibilitaram a identificao de lacunas na aprendizagem envolvendo a

    clula e o ciclo celular, especialmente sobre diviso celular, interfase, mitose, meiose,

    cromatina, cromossomo, DNA, gene e nucleotdeo. Quanto replicao propriamente dita

    nenhum texto demonstrou um encadeamento lgico do processo. Assim, como trabalhar com

    discentes que passaram por disciplinas como Citologia, Bioqumica, Gentica Bsica/Geral e

    no conseguem articular esses conceitos? Sugere-se a necessidade de rever paradigmas

    docentes na formao inicial, de modo a que o estudante se perceba como um produtor ativo

    de significados.

    Para promover um aprendizado ativo e significativo, em que o aluno transcenda a

    memorizao de nomes, fundamental que os conhecimentos se apresentem por meio do

    desenvolvimento de atividades que solicitem dos alunos vrias habilidades, destacando-se o

    estabelecimento de conexes entre conceitos (ROCHA; JFILI, 2005), o que representar

    uma efetiva contribuio na rea educacional. Pois segundo SCHOPENHAUER (2005, p.39)

    .... uma grande quantidade de conhecimentos, quando no foi elaborada por

    um pensamento prprio, tem muito menos valor do que uma quantidade bem

    mais limitada, que, no entanto, foi devidamente assimilada. Pois apenas

    por meio da combinao ampla do que se sabe, por meio da comparao de

    cada verdade com todas as outras, que uma pessoa se apropria do seu prprio

    saber e o domina....

    Textos podem revelar uma topografia conceitual e, ao mesmo tempo, favorecer o

    reconhecimento das concepes prvias (ou alternativas) e as revistas pela sistematizao da

    aula), o que favorece a identificao de lacunas na aprendizagem dos discentes envolvendo a

    clula e alguns de seus processos. Isto pode auxiliar o professor em uma melhor elaborao na

    interveno didtica, pontuando as dificuldades e/ou conceitos inadequados revelados.

    Entender sistemicamente, de acordo com Capra (2006) significa utilizar um contexto e

    estabelecer a natureza de suas relaes, o que o oposto do pensamento analtico. Assim,

  • enquanto a anlise isola algo a fim de entender, o pensamento sistmico coloca-o no contexto

    de um todo.

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