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Banksy na sociedade contemporânea ArtesUnidas Tecnologia possibilita a arte fractal HR Giger, arquiteto do terror O fenómeno Indie Rock

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Esta edição foi criada no âmbito da cadeira de Expressões artísticas e contemporâneas, na Universidade do Algarve.

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Page 1: Artes Unidas

Banksy na sociedade contemporânea

ArtesUnidasTecnologia possibilita a arte fractal

HR Giger, arquiteto do terror

O fenómeno Indie Rock

Page 2: Artes Unidas

Sérgio Tréfaut dá-nos a conhecer a vida que emana por entre uma cidade

de mortos

Pág. 10

Banksy na sociedade contemporânea

Pág. 4

Um olhar sobre a arte no Egito

Pág. 6

The Roommate Pág. 7

Lixo extraordinário

Pág.8

ArtesUnidas // 2

ÍNDICE

Page 3: Artes Unidas

Arte fractal - uma arte com base na matemática

A vida e carreira de Paula Rego

HR Giger, arquiteto do terror

Pág. 16

Pág. 14

Um olhar sobre a arte no Egito

Pág. 12

O fenómeno Indie Rock Pág. 13

Lixo extraordinário

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Esta revista teve o propósito de reunir os trabalhos que nove alunos do curso de Ciências da Comunicação da Uni-versidade do Algarve realizaram para a disciplina de expressões artísticas contemporâneas. Os artigos aqui publicados abrangem uma grande diversidade de correntes artísticas e formas de arte, sendo esta a razão pela qual a revista foi ba-tizada de «Artes Unidas». Populares ou não, consensuais ou polémicos, antigos ou contemporâneos, todos os temas do nosso universo artístico são dignos de referência, e foi com esta mentalidade que a «Artes Unidas» foi moldada e desen-volvida, tentando produzir informação de qualidade que se espera que seja do agrado do leitor.

Redação: André Faleiro n.º 28205; Fábio Gonçalves n.º 39312; Filipe Pardal n.º 39313; Jorge Felício n.º 40077; Luís Timóteo n.º 39318; Maartje Vens n.º 39319; Pedro Nascimento n.º 39324; Ricardo Madeira n.º39325; Tânia Palmeiro n.º 30123

Equipa de Design: Maartje Vens n.º 39319 e Ricardo Madeira n.º39325

ÍNDICE

Page 4: Artes Unidas

O conceito de arte que era intocável há 100 anos atrás está hoje em dia

completamente alterado e distorcido para bem da inovação. Esse processo evolutivo que levou a arte a novos patamares não vem de agora – in-spirações em raízes artísticas poderão vir desde o dadaísmo de Marcel Du-champ, que faz nada mais do que abrir um leque cheio de possibilidade para artistas que haviam de vir. Marcou o surgimento uma nova maneira de olhar para a arte, mas também uma nova forma de fazer arte.

Essa arte agrada a Banksy. «Pensa fora da caixa, destrói a caixa, e espeta-lhe com uma porra de uma faca afiada», pode bem ser a explicação perfeita para a forma de atuar deste artista de rua que que se tornou popular em In-glaterra no inicio dos anos 90. O seu estilo bastante próprio não passa des-percebido: coloca objetos comuns em contextos alternativos e pinta paredes que entende serem dignas da sua aten-ção. Banksy tem uma visão do mun-do bastante singular que é espelhada

através de obras irreverentes, capazes de captar tanto o ódio como a com-paixão da população.

Tal deve-se essencialmente às temáti-cas por si usadas, sempre a roçar o limiar do escandaloso. Política e socie-dade são temas retratados através de estereótipos e preconceitos que, invo-cando o lado mais íntimo e frágil das pessoas, lhe permitiram alcançar ta-manha popularidade. Estranho, quan-do um autor tão popular se consegue manter no anonimato durante tantos anos. Não só a sua arte, mas também a sua forma de atuar são um mistério que Banksy faz questão de preservar, enquanto meio mundo tenta desco-brir a sua identidade e outra metade prende-lo por vandalismo. O próprio admite que «é um sentimento muito frustrante quando as únicas pessoas com boas fotos do teu trabalho pert-encem ao departamento policial».

Foge ao normal não só enquanto ar-tista mas também enquanto pessoa. «Se quiseres dizer algo e que as pes-

soas te ouçam então terás que usar uma máscara. Se quiseres ser honesto então terás que viver uma mentira». É ativista político, tem um livro pub-licado de nome «Wall and Piece» no qual apresenta muitas das suas obras, e realizou recentemente um docu-mentário nomeado para um Óscar. «Exit trough the gift shop» apresenta a realidade de um grupo de artistas que trabalha de uma forma alternativa, vivendo na corda bamba por entre a necessidade de espalharem a sua visão e a possibilidade de serem apanhados. Uma das questões mais populares da última entrega dos Óscares foi mesmo que iria receber o prémio caso este o tivesse ganho. Permanece a dúvida.

A única certeza é que Banksy vai con-tinuar a espalhar a sua arte pelo mun-do fora. Com obras em todo o mundo, o autor que virou fenómeno tem tra-balhos espalhados pelos museus mais famosos de Nova York e no Tate Gal-lery, em Londres. Só a sua identidade se mantém desconhecida, o seu legado está longe de o ser. ■

Banksy e o fenómeno Street Art

por Ricardo Madeira

Banksy é um artísta britânico de Street Art. Com obras espalhadas pro todo o mundo e um legado que o torna besta e bestial ao mesmo tempo, a singularidade das suas obras tem chamado atenções por todo o mundo. A sua identi-dade é incerta; a sua obra não.

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Page 5: Artes Unidas

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Page 6: Artes Unidas

Se existe um local no planeta onde podemos vislumbrar verdadeira

arte, esse local é o Egito. Apesar de inúmeros vestígios dessa arte terem progressivamente desaparecido com o passar do tempo e com os vários acontecimentos históricos que foram ocorrendo, a verdade é que, essen-cialmente no século XIX, foi possível descobrir bastantes obras absoluta-mente formidáveis. Para compreender melhor toda a arte presente na escultura, pintura ou arquitetura do Egito, é necessário conhecer, antes de mais, a cultura, a história e as motivações artísticas daquele povo. Neste sentido, uma figura é incontornável: o faraó. Uma vez que este é considerado pelos egíp-cios o representante de Deus na Terra, qualquer manifestação de arte acaba por se centrar sobre ele e sobre o poder divino que o rodeia. Assim sendo, a arte egípcia representa e presta um tributo especial ao faraó e às restantes divindades da mitologia daquele país.Os túmulos são, provavelmente, a forma de arte mais representativa do Egito. Devido ao já falado poder di-

vino que era concedido aos faraós, os egípcios acreditavam que, tanto estes como os seus familiares, possuíam o privilégio de poder ter acesso à vida depois da morte. Assim, os túmulos eram construídos com o objetivo de conservar os corpos mumificados dos privilegiados, de forma a manter a harmonia e o equilíbrio dos mesmos, para que estes não fossem perturba-dos quando já estivessem na segunda vida.Olhando agora para os diversos ti-pos de arte existentes, podemos afir-mar que a escultura, a arquitetura e a pintura fazem parte, desde sempre, da história cultural do povo egípcio. No que diz respeito à escultura, o ponto de maior realce consiste no contraste que havia entre as estátuas impo-nentes e sem expressão dos faraós e as estátuas de funcionários e escribas que apresentavam expressões naturais e realistas. Alguns dos materiais uti-lizados na escultura egípcia foram o granito, o basalto e o calcário e mui-tas destas estátuas, especialmente as de escribas, podem hoje vislumbrar-se no Museu do Cairo e no Museu do

Louvre. Quanto à pintura, é possível dizer que apresenta duas característi-cas principais. A primeira é o facto de apreciar muito as cores, tal como ac-ontecia também na arte grega, o que fazia com que o interior dos templos e dos túmulos fosse bastante colorido. A outra característica prende-se com a representação de figuras humanas segundo a lei da frontalidade, ou seja, o corpo destas aparecia sempre rep-resentado de frente, com exceção da cabeça e dos pés que eram pintados de perfil. Por último, a arquitetura do Egito apresenta como expoente máx-imo as pirâmides, onde se destacam as que foram construídas no Império Antigo e que são consideradas uma das sete maravilhas do mundo antigo. No total, foram contabilizadas cerca de oitenta pirâmides ao longo de todo o país, embora muitas delas sejam neste momento um enorme monte de escombros, já que foram sendo con-struídas com materiais de baixa quali-dade e com técnicas também bastante débeis. ■

Antigo Egito

por Pedro Nascimento

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Page 7: Artes Unidas

THEROOMMATEpor Fábio Gonçalves

Realizador: Christian E. Christiansen Título original: The RoommateArgumento: Sonny MallhiDistribuidora: Screen GemsCategoria/Género: Thriller

Ano: 2011 Duração: 1hr 33min Atores Principais: M. Kelly; L. Meester e C. Gi-gandet

A estreia de Christian E. Chris-tiansen em Hollywood resultou

no thriller «A colega de Quarto», um filme que conta com os dotes de representação de uma das estrelas da premiada série Gossip Girl, Leighton Meester. O filme estreou a 4 de fever-eiro deste ano nos Estados Unidos, mas falhou a aparição nas salas de cin-ema nacionais, chegando apenas ao nosso país em formato DVD/Blu-Ray. Apesar disto, o filme gozou de uma boa afluência às bilheteiras do outro lado do Atlântico, muito devido à sua inegável qualidade.«A colega de quarto» conta a história de Sara, uma estudante universitária que sonha triunfar no mundo da moda, e que cria uma série de ami-zades durante o seu percurso escolar. Uma destas amizades é Rebecca, a sua misteriosa colega de quarto, com quem Sara acaba por desenvolver uma relação estranhamente próxima.A ponte entre os géneros thriller e ter-ror é muito bem feita pelo realizador dinamarquês, tendo este conseguindo ainda abordar muitos dos temas cli-chés nos filmes de Hollywoods. Muita da tensão presente em todo o filme deve-se inteiramente à atuação de Leighton Meester. A atriz encarnou muito bem o papel que lhe foi desti-nado, não se podendo dizer o mesmo do trabalho do resto do elenco, pois os outros atores não conseguiram em-pregar a devida autenticidade às suas personagens, algo que foi, nunca é de-mais recordar, conseguido pela atriz que brilhou em Gossip Girl. Um dos maiores exemplos desta falta de pro-

fundidade das personagens é Stephen, protagonizado por Cam Gigandet, um jovem universitário que já foi visto tantas vezes no cinema norte-ameri-cano que é fácil confundir as persona-gens dos diferentes filmes. Ainda den-tro deste tema vale a pena referir as duas nomeações para os MTV Movie Awards para as categorias de «best vilan» e «best scared-as-shit perfor-mance», envolvendo Meester e Kelly, respetivamente.O argumento apesar de ter qualidade trás pouco ou nada de novo ao género, ficando a sensação no final do filme de que já se viu esta estória em algum lado. Ainda assim, o filme tem a ca-pacidade de conseguir entreter o

espetador durante a hora e meia que totaliza, não conseguindo, infeliz-mente, muitos momentos memoráveis ao longo deste período.O trabalho de fotografia é bem conse-guido, permitindo que o ambiente en-volvente retrate de forma satisfatória a dimensão psicológica pretendida, principalmente nas cenas de maior pânico.Assim, quem procura uma obra que prime pela originalidade irá ficar de-siludido com «A colega de quarto», no entanto o filme é aconselhado aos fãs do género, pois este cumpre o seu ob-jetivo de manter uma certa tensão do princípio ao fim da estória. ■

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Page 8: Artes Unidas

O vídeo-documentário «Lixo ex-traordinário» (titulo original,

Waste Land), foi realizado por Lucy Walker em 2010. Foi nomeado aos Óscares da academia, na categoria de melhor documentário e arrecadou di-versos prémios em vários festivais de cinema ditos de referência. A reali-zadora Lucy Walker, é conhecida por trabalhos como «Devil's Playground» (2002), «Blindsight» (2006) , trabalhos bem referenciados pela critica, mas que apesar de tudo não alcançaram o

brilho necessário, para elevar o nome da cineasta. Tal só viria a acontecer com Waste Land. É de salientar ainda que fez parte da equipa de produção o aclamado diretor, escritor e produ-tor, Fernando Meireles. Ele que é um dos nomes referencia não apenas do cinema brasileiro, mas também a nível mundial, deu-se a conhecer por trabalhos como «A cidade de Deus», «The constant Gardner» ou «Blind-ness». O seu nome fala por si só e é razão de sobra para assistir este filme com atenção redobrada.O filme tem como protagonista o Ar-tista Brasileiro Vik Muniz, que é con-siderado um dos mais prestigiados artistas contemporâneos. Tem-se fo-cado durante a sua carreira em temas relacionados à memória, à perceção, à representação de imagens do mun-do das artes e dos meios de comuni-cação. Usa habitualmente elementos inusuais nos seus trabalhos, revelando que, grandes criações podem surgir de simples elementos do quotidiano e no caso deste filme em concreto até mesmo de lixo. «Waste Land» surge como resultado do acompanhamento,

do dia a dia de Vik Muniz ao longo de 2 anos.

Diretor: Karen Harley, João Jardim, Lucy WalkerProdução: Hank Levine, Angus Aynsley, Fernando MeirelesFotografia: Duda MirandaBanda Sonora: MobyDuração: 90 min.Ano: 2010País: Brasil, Reino UnidoGênero: DocumentárioCor: ColoridoDistribuidora: Downtown FilmesEstúdio: O2 Filmes

FICHA TÉCNICA

«Lixo extraordinário» por Jorge Felício

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O documentário, começa por nos mostrar quem é o artista e que tipo de trabalhos desenvolveu. De seguida é apresentado o novo desafio a que este se propõe: viajar até ao maior aterro sanitário do mundo Jardim Grama-

cho, situado no Rio de Janeiro. A ideia de Moniz consiste em desenvolver um projeto com o qual possa de alguma forma ajudar os mais necessitados, neste caso os recicladores ou catado-res, como são comummente conhe-

cidos. Estes, tal como o artista refere, foram deixados completamente ao acaso e ignorados por todos. Levam uma forma de vida terrível e de uma precariedade imensa. Contudo de-senvolvem um trabalho tão digno e necessário à sociedade como qualquer outro. Os catadores alertam para os males da poluição para o meio ambi-ente e denunciam neste filme a falta de consciência das populações, que não se preocupam com algo tão importante para um desenvolvimento sustentável como a reciclagem do lixo doméstico.

“O resultado é magní-fico e de grande origi-nalidade e valor cria-tivo.”

O protagonista desenvolve ao longo do filme diversos trabalhos a partir de lixo, com o qual da forma a imagens aumentadas em larga escala que são preenchidas com diversos tipos de ma-térias recicláveis. Algumas das imagens são recriação de trabalhos clássicos de grande prestígio, outros são criação

do momento. O resultado é magní-fico e de grande originalidade e valor criativo. Do mesmo modo, a ação de Moniz é de louvar, pois todo o dinhei-ro angariado pela venda da obra que se desenvolve durante filme, relativa a dois anos de trabalho, revertem na totalidade a favor de uma causa social, ajudar os mais desfavorecidos.

Existem alguns pontos muito pecu-liares neste filme como por exemplo a quebra com qualquer tipo de regras convencionais de enquadramentos, assim como uso de formatos e reso-luções variadas num mesmo projeto, o que pode causar alguma sensação de estranheza ao espetador. Contudo

o conceito resulta bem, principal-mente porque confere um ar muito mais dinâmico ao documentário, transportando o espectador para a ideia de que esta acontecendo no momento. No que toca à sonoplas-tia, segue a mesma norma. Contudo, esta, enriquecida pelo trabalho do ar-tista americano Moby, que consegue aumentar a carga dramática e sen-sibilizadora do filme nos momentos chave. Este é um grande filme, e uma referência dentro do género, conseg-ue transportar o espetador para uma realidade antes desconhecia a quase todo o mundo e mostra a beleza da obra de Vik Muniz e genialidade com que este dá forma ao seu trabalho. ■

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Cinco anos de viagens entre Lisboa e Cairo resultam na Cidade dos Mortos, o documentário que relata a vida quo-tidiana de quem lá habita, “algo que não querem deixar ver”. Sérgio Tréfaut dá-nos a conhecer a vida que emana por entre uma cidade de mortos.

Olha-se com outros olhos para El’arafa, em egípcio a ci-dade dos mortos, pela primeira vez. A viagem é conduzida por Sérgio Tráfaut que documenta a vida de cerca de um milhão de pessoas que vivem naquele lugar. Trata-se de um quarto da cidade do Cairo que vive literalmente no espaço do cemitério, mas a vida, essa, decorre sem sobressaltos pe-rante a morte, leit-motiv desta obra. “Você tem ruelas cheias de criancinhas a jogar futebol durante o dia. É muito vivo, muito ameno, você sente que está a passear numa aldeola do Alentejo …”, explica o realizador.

Tréfaut partiu assim à procura de uma cultura que não dominava, a celebração de uma vida normal paredes-meias com a morte. “A relação com a morte é algo muito impor-tante, e fascinou-me o modo como ela é e resolvida naquele lugar”, explica Sérgio Tréfaut invocando o filósofo francês Michel Foucault. “Hoje, nas sociedades contemporâneas, pusemos fora os hospitais, as prisões, os loucos e até os mor-tos. Até ao final do século XIX, o velório [de um morto] era feito em casa. Hoje, uma criança não vê sequer um cão morto, não sabe o que é a morte. E, para aquela gente,

túmulos, ossos, corpos a degradarem-se é o pão-nosso de cada dia. Quis transmitir essa forma muito natural de viver a morte.”

O produto final começou a ser exibido em meados de abril, depois de ter passado por vários festivais, um dos quais lhe valeu o prémio espanhol Documenta de Madrid e garantiu o interesse da estação televisiva al-Jazeera a exibir o filme de pouco mais de uma hora. Este é um facto interessante, dado que nas palavras do realizador, Cidade dos Mortos é um filme clandestino, uma vez que os infindáveis esforços para obter autorização de rodagem do filme junto das au-toridades egípcias foram ignorados, o que impediu a co-laboração de realizadores locais no envolvimento do pro-jeto sem uma autorização oficial. “Cada vez que estávamos no cemitério e aparecia um polícia, tínhamos de desmontar tudo, dizíamos que íamos visitar amigos.” Mas os vários ob-stáculos despoletam o lado combativo de Téfaut.

Cidade dos mortospor Tânia Palmeiro

“Quis transmitir essa forma muito natural de viver a morte.”

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“É suicidário e parto o nariz muitas vezes, tanto que o filme arranca em 2004 e só fica pronto em 2009. A língua era um obstáculo, a cultura era um obstáculo, visualmente era um obstáculo porque aquilo não passa de um cemitério nem por nada deste mundo… Se já tinha sido difícil entrar em contacto com algumas comunidades [emigrantes no caso de Lisbonenses, obra anterior do realizador] em Lisboa, cidade onde vivo, imagine num lugar daqueles, onde um estrangeiro pode ser mal visto… Parecia um filme amaldiçoado. Por vez-es pensei em desistir, como tantos realizadores que tentaram filmar esses cemitérios. Mas já tinha ido longe demais. E os contratos de produção, o tempo e a energia investidos, ob-rigavam-me a finalizar um trabalho. Se hoje levo o filme às salas de cinema é sobretudo pelo interesse antropológico, hu-mano e filosófico. Foi esse mesmo interesse, acredito, que per-mitiu ao filme ser exibido em vários festivais internacionais e televisões.” E apesar das muitas dificuldades, Tréfaut não esconde o orgulho enorme, mal disfarçado durante a con-versa, em exibir agora a sua mais brilhante pérola. “Gosto muito mais desta versão do que das outras mais longas. Uma boa refeição é uma refeição que, quando chega ao fim, deixa vontade comer um bocadinho mais… Há muita indulgência relativamente aos autores que são complacentes. Eu não sou.” Essa recusa de complacência prolongou-se no processo de construção do filme, que foi mudando ao longo de cinco anos entre a captação das imagens e a montagem. A obra foi ganhando forma lentamente através da perspetiva de Sérgio Tréfaut que acabou por não se contentar com a ideia inicial. “Comecei pelo desafio do documentário observacio-nal, sabendo que seria difícil ter as tensões e os conflitos e as revelações que fazem com que um filme destes tenha força. Depois, procurei uma estrutura narrativa, com os noivos que se casavam, mas aquilo não funcionava porque eles nunca mais casavam…” Ideia de onde surge o extra desta sessão cinematográfica: Waiting for Paradise, a curta-metragem onde noivos trocam, em jeito festivo, promessas de amor

e de esperança. “Finalmente, pensei na voz de um narra-dor como algo que exprimisse algo de espiritual, um senti-mento por aquele lugar, e quis que essa dimensão marcasse o filme. Tentei contar o amor que algumas daquelas pessoas têm àquele lugar. Que é um tabu difícil de aceitar, sobretudo para os egípcios.” Esse tabu baseia-se na ocupação quase selvagem como o cemitério foi ocupado, iniciada nos anos 60, aquando do bombardeamento dos israelitas na orla do Mar Vermelho, o que fez com que muitos se instalas-sem no cemitério, na falta de melhor alojamento. “Alguns dos imigrantes foram para ali, outros para outros lugares que, embora não sendo cemitérios, são por vezes de muito pior qualidade de vida. As opiniões são diferentes: há pes-soas que amam aquilo, há pessoas que querem que o túmulo dos seus pais seja recuperado… As pessoas que são do Cairo gostariam que aquilo não existisse mas o governo oferece a dado momento realojamento: há quem queira, há quem não queira, há outros a quem é oferecida uma casa a 15kms do centro, aceitam, alugam a casa a 15kms e voltam para ali!”

É uma cidade paralela: a cidade do Cairo e cidade cemi-tério dentro do Cairo. É uma cidade necrópole, por en-tre túmulos em que se monta uma casa que várias vezes é preciso desmontar por causa do funeral do vizinho e a seguir volta-se a pôr a mesa ou a fazer a cama de lavado precisamente onde foi enterrado, ainda fresquinho, o mor-to. A forma captada lenta como o circo, mais que humilde, chega à cidade; os rapazes que correm atrás das raparigas. “Os egípcios têm um terrível receio que o forasteiro venha fazer um relato de miséria. Eu tinha que explicar-lhes que a minha intenção não era essa.” A cidade a que os cairotas chamam de a “nossa cidade”, sempre entre a vida e a morte, numa dualidade espiritual e física que se quer esconder. ■

Breve biografia do realizador:

Sérgio Tréfaut nasceu no Brasil em 1965, filho de pai por-tuguês e de mãe francesa. Estudou filosofia na Universi-ade Sorbonne em Paris e começou a sua vida profissional em Lisboa, nos anos 90, como jornalista e assistente de autores como Teresa Villaverde, José Álvaro de Moraes e António Campos. Desde há quinze anos é produtor e realizador. Os seus documentários foram exibidos em mais de trinta países e receberam diversos prémios internacionais. Entre as suas obras destacam-se Outro País (1999), Fleurette (2002),

Lisboetas (2005) e A Cidade dos Mortos (2009). Lisboetas foi o primeiro documentário português a estar três me-ses consecutivos em cartaz no circuito comercial e detém ainda hoje o recorde de espectadores por sala de cinema.A sua primeira longa metragem de ficção Viagem a Por-tugal, com Maria de Medeiros e Isabel Ruth nos princi-pais papéis, será lançada ainda este ano.Até 2010 Sérgio Tréfaut dirigiu o Festival Internacional de Documentários Doclisboa, foi durante vários anos presidente da Apordoc (Associação Portuguesa de Doc-umentário) e também integrou por dois anos a direção do EDN – European Documentary Network.

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Hans Ruedi Giger, mais conhecido como HR Giger, é um dos artistas contemporâneos mais conhecidos. Ligado ao surrealismo e ao realismo fantástico, atingiu o auge da sua carreira quando em 1980, ganhou o Óscar de Melhores Efeitos Especiais com o filme de culto Alien de Ridley Scott. Neste artigo faremos uma retrospetiva da carreira deste artista suíço.

Nascido em 1940 cidade suíça de Chur, HR Giger mudou-se para Zurique em 1962, onde estudou arquitetura e desenho industrial na Kunstgewerbeschule (Escola de Artes Aplicadas). Corria o ano de 1964, quan-do começou a produzir as suas primeiras obras de arte. Dessas primeiras experiências no mundo da arte resul-tou a sua primeira exposição individual em 1966. Algum tempo depois, Giger descobriu o aerógrafo, e com essa descoberta desenvolveu o estilo de pintura que lhe é car-acterístico: Ambientes surrealistas e biomecânicos em tons maioritariamente preto e brancos. Já foram publicados mais de duas dezenas de livros sobre a obra de HR Giger. O cineasta britânico Ridley Scott foi bus-car inspiração visual a um dos mais famosos livros de Giger, Necronomicon, editado em 1977. Com isto, Giger foi convidado por Scott para desenhar os efei-tos especiais do filme Alien. Com este trabalho, o artista suíço obteve um Óscar. HR Giger trabalhou também noutros filmes conhecidos, nomeadamente na segun-da película da trilogia Poltergeist, Alien 3 ou em Species. Nos últimos anos, Giger tem sido homenageado com várias retrospetivas em grandes museus de todo o

mundo. Em 2004 conseguiu uma exposição de seis meses no museu Halle Saint Pierre em Paris, esta exposição chamava-se Le Monde Selon HR Giger (O Mundo Segundo HR Giger) e foi a maior exposição deste artista fora da sua Suíça natal. Esta exposição envolveu números astronómicos: Mais de um ano de preparação, noventa por cento das obras expos-tas foram emprestadas por colecionadores de arte, mais de duzentas obras que abrangiam as quatro décadas de car-reira do artista foram exibidas nesta exposição que ocu-

pava dois pisos do museu. No mesmo ano foi condecorado na Câmara Municipal de Paris com a medalha da cidade. Em 2009 anunciou a abertura de Kunst – DE-SIGN – FILM, uma retrospetiva itinerante dos trabalhos que realizou para cinema. Esta exposição esteve patente ao público em San Sebastian, Espanha. Depois, em 2010, mudou-se para o Museu de Arte de Tampere na Finlândia. Resta-nos esperar que esta exposição passe por Portugal…■

HR Giger, arquiteto do terrorpor Luís Timóteo

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Page 13: Artes Unidas

Com influências diretas em géneros mais antigos como o rock alternativo, o pós-punk e o new wave, o Indie assume-me como um estilo musical desprendido de regras, independente e autossuficiente, que tem vindo a as-cender intensamente a nível de popu-laridade desde o inicio do novo milé-nio. Mas este grau de popularidade que nos dias de hoje se torna algo

natural e banal não surgiu de forma patente. Inicialmente – nos anos 80 – o Indie Rock não era mais que um diminuto género abrangente de ban-das caracterizadas exclusivamente por lançarem álbuns em pequenas grava-doras ou até de forma independente, não existindo correlação direta com o tipo de música em produção. Aos pou-cos, o termo começou a ser articulado

com o estilo de rock alternativo e ba-seado particularmente em diferentes tipos guitarras, devido a esta relação o Indie é muitas vezes, de forma redu-tora, confundido com todos os tipos de música alternativa.É com exemplos pragmáticos e especí-ficos que o Indie Rock melhor pode ser definido e destacado de todos os estereótipos:

Os Estados Unidos e o Reino Unido são territórios que já nos habituaram a ser catalisadores das mais variadas for-mas de arte, arte que se propaga e veicula por todo o globo com uma celeridade de disseminação estonteante. No ramo da música, um fenómeno relativamente recente que é exemplo da premissa supracitada, é o Indie Rock.

The StrokesOs «The Strokes» são presumivelmente a banda mais carismáti-ca e icónica desde Indie popularizado dos anos 00. Em doze anos de existência só agora Julian Casablancas – vocalista – e a sua companhia decidem lançar o quarto álbum de uma car-reira atribulada por alegados problemas internos e com álcool e drogas. Apesar disso nada os impede de serem considerados uma das grandes bandas da atualidade que já possui back-ground suficiente para permanecer expandida na história da música global e sem dúvida nenhuma, na história do género.

The KillersColocaram todo o mundo a ouvir Indie Rock! Os «The Kill-ers» são a banda mais ouvida e popular do movimento, colo-cando um pouco o estilo no mercado padronizado e com-ercial. A banda liderada por Brandon Flowers faz milagres entre palcos internacionais e continuam a escrever a sua história que ficará registada como grandiosa para públicos e especialistas.

X-WifeOs «X-Wife« são o melhor exemplo nacional desta corrente musical Indie. Vivendo os seus melhores anos de uma carreira ainda com muito para dar, os Portugueses começam a expandir os seus trabalhos para fora das nossas fronteiras. Provando não só a qualidade existente em Portugal mas também que o Indie Rock deste novo milénio tem cada vez menos casa marcada, expandindo-se para todo o mundo onde se procura boa músi-ca. ■

O INDIE ROCKpor Filipe Pardal

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Page 14: Artes Unidas

Arte Fractalpor Maartje Vens

Arte fractal é uma forma de arte algorítmica criada através do cálculo de objetos fractais e este é represen-

tado num gráfico na forma de imagens, animações e som. Estes cálculos são geralmente feitos com computadores que depois apresentam os gráficos. Esta forma de arte está presente apenas desde o início da década de 90, pelo facto

de só nesta altura terem aparecido computadores com a potência suficiente para poder explorar imagem fractal. Ceticismo em torno desta nova forma de arte fez-se sentir apenas durante a sua primeira década, sendo ela agora re-conhecida como forma de expressão artística.

Reinier Vens, estudante de Creative Technology na Universidade de Twente, na Holanda, é um artista de arte fractal.

Alguêm que nunca se consid-erou um artista, é agora admirado por uma arte que consegue criar através do computador, que sempre foi um in-

strumento que conseguiu dominar na perfeição. Este é um caso que serve de exemplo para nos mostrar que artista não é apenas aquele que sabe desenhar ou que usa o pincel como meio de ex-pressão artística quando cada vez mais existe uma tendência de quebrar com este conceito tradicional de arte.

“Eu jogo com as fórmulas e aplico transfor-mações até encontrar um conjunto de formas interessantes. Depois modifico a forma, como se fosse um tipo de plasticina matemática, até estar ao meu gosto. A fase final será brincar com a composição e algoritmos de cor até ter uma imagem visualmente agradável. ”

Todas as imagens apresentadas são da autoria de R

einier Vens

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Page 15: Artes Unidas

Esta arte é também gerida por códigos recon-hecíveis porque subconscientemente todos conseguem relacionar-se com os efeitos gerais encontrados na imagem fractal, mesmo se não conseguimos encontrar estas ima-gens na História da arte. Isto acontece porque a imagem fractal acaba por ter validação na nossa consciência hu-mana, algo que parece ser inato. A arte fractal é uma nova maneira de ver o mundo,

as formas e o espaço. É uma nova câmara que foi inventa-da, em que o visor dá lugar às caixas de seleção no ecrã do computador. É um instrumento em que se pode fazer focus infinitas vezes e onde há imensas variáveis configuráveis e é por isso quase impossível não descobrir imagens novas. Como sempre, não é a máquina que cria a arte, mas sim o artista e todos aqueles que vêm a sua obra. ■

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Page 16: Artes Unidas

Paula Rego por André Faleiro

Paula Figueiroa Rego nasceu em Lisboa, a 26 de Janeiro de 1935. Oriunda de uma família de classe social alta, frequentou o colégio St. Julian’s em Carcavelos. Com 17 anos, ingressou na prestigiada Slade School of Fine Arts, em Londres, onde concluiu os seus estudos. Foi também nesta escola que Paula Rego viria a conhecer o seu futuro marido, Victor Willing. Consegue a sua primeira exposição individual, em 1965, na cidade de Lisboa e atinge grande sucesso crítico. Em 1976, fixa-se em Londres, cidade onde ainda vive, visitando, ocasionalmente, Portugal. No ano de 1981, consegue a sua primeira exposição individual em Londres, na Air Gallery. É convidada para dar aulas na Slade School of Fine Arts em 1983. Torna-se na primeira artista associada da National Gallery em 1990. A retrospe-tiva da sua obra, em 1997, na Tate Gallery de Liverpool e no CCB é vista por mais de 62 mil pessoas. Detentora de um imaginário prodigioso e de um percurso que explora técnicas e linguagens diversas, Paula Rego conta com in-

úmeras exposições individuais e retrospetivas em museus e galerias de renome, e com inúmeros prémios e distinções.

Foi considerada, para além de um dos quatro mel-hores pintores vivos em Inglaterra, uma das melhores ar-tistas contemporâneas viva. Em 2010, foi distinguida com o título de Dama Oficial, pela Rainha Isabel II. ■

Tive a oportunidade de visitar, recentemente, o museu da pintora Paula Rego – Casa de Histórias (como a artista não gosta da palavra museu, deram-lhe o nome de Casa de Histórias), em Cascais. Ao percorrer o museu descobri que uma grande parte das obras da artista es-tavam emprestadas a um museu de São Paulo, mas que iriam ter uma nova exposição em breve (segundo o que o senhor que lá estava me disse). Como fiquei curioso em relação ao resto das obras da artista, decidi elabo-rar uma pequena pesquisa sobre a sua carreira e vida.

Biografia

Paula Rego doou à Casa de Histórias, a totalidade da sua obra gravada: 257 pinturas, 278 desenhos finalizados e 206 desenhos e estudos preparatóri-os

“Aprender a desenhar é muito importante. Eu também não sei muito bem, mas estou a aprender” Paula Rego

A Filha do Polícia (1987) A Dança (1989)

A Metamorfose (2002)

A obra de Paula Rego é baseada no Surrealismo e no Expressionismo

“Não gosto de pintar ao vivo. Gosto de canalizar imagens naturalistas, abstra-tas, ornamentais, feiticistas, infantis.”Paula Rego

«Denuncia a bizarria de se manter os abortos clandestinos em Portugal e a condição de menos-valia das mul-heres em uma sociedade profunda-mente machista.»

Mulher Cão (1994)

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