artes das palavras

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A ARTE É DE TODOS ARTES DA P ALAVRA

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Page 1: Artes Das Palavras

A A R T E É D E T O D O S

ARTES DA

PALAVRA

Page 2: Artes Das Palavras

S U M Á R I O

1POESIA, CONTOS, NOVELAS,

ROMANCES, CRÔNICAS, CORDEL,CARTAS...

2LIVROS: ONDE ESTÃO,

QUAIS SÃO?

3A ESCOLA NÃO TEM LIVROS.

E AGORA?

5A LITERATURA COMO UMA

PROPOSTA DE FELICIDADE

8ARTES DA PALAVRA:

POESIA, NARRATIVA, CORDEL, CARTAS

16VAMOS FAZER ARTE

COM AS PALAVRAS

Page 3: Artes Das Palavras

Você que tem familiaridadecom os livros, gosta de lere é um(a) Amigo(a) daEscola pode desempenharum papel muito importantejunto às crianças e jovensda escola e da comunidade.Afinal, um leitor apaixonadoé capaz de motivar econtagiar os outros com apaixão de ler, tanto peloque está lendo quanto peloque já leu ao longo da vida.

Mas entusiasmo, só, nãobasta. É preciso saber oque e como fazer parapossibilitar às crianças ejovens um acessoprazeroso ao mundo doslivros... Os capítulos queseguem podem ajudá-lo(a)nessa tarefa. Localize noquadro abaixo os temas quemais o(a) interessam ecomece a leitura por eles!

Capítulo 1: Livros: Onde Estão, Quais São? – Saiba como seinformar sobre o acervo de livros que as escolas com mais de500 alunos já devem possuir, sobre os materiais de apoio quejá foram produzidos, sugerindo como utilizar bem a bibliotecada escola e o que fazer, no caso de esses livros e materiais,enviados pelo Ministério da Educação (MEC), não teremchegado.

Capítulo 2: A Escola Não Tem Livros. E Agora? – Descubracomo mobilizar governantes, comunidade, educadores,crianças e jovens e conseguir livros.

Capítulo 3: A Literatura Como Proposta de Felicidade –

Para melhor motivar o seu grupo, é preciso saber respondera essa afirmação. Para o escritor Mário de Andrade, as artesda palavra são imprescindíveis porque são uma proposta defelicidade, mas é você quem tem a palavra final.

Capítulo 4: Artes da Palavra: Poesia, Narrativa, Cordel,

Carta – Saiba o que é Literatura e diferencie suas muitasfaces. Perceba como as artes da palavra servem parainventar, contar, acontecer e até unir ou separar. Ficará maisfácil identificar o tipo de literatura com que você tem maisfacilidade para trabalhar.

Capítulo 5: Vamos Fazer Arte com as Palavras – Veja comoorganizar atividades que estimulam crianças e jovens a ler detudo um pouco – e a escrever poesias, contos, literatura decordel e cartas. As sugestões que oferecemos poderãoinspirá-lo(a) a criar muitas outras, adequadas àscaracterísticas e aos interesses de suas turmas!

O essencial é que, ao apreciarem e exercitarem as Artes daPalavra, as crianças e jovens estejam aprendendo a expressarmelhor os próprios sentimentos e a compreender/aceitar omodo como os outros se expressam, a conviver comas diferenças, entrando em contato com a diversidademostrada nos livros, a conhecer mais sobre todosos temas do currículo, das Ciências às Artes, e a fazer coisasque contribuam para aumentar o nível de felicidade geral.

POESIA, CONTO, NOVELA,ROMANCE, CRÔNICA,CORDEL, CARTA...

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Page 4: Artes Das Palavras

LIVROS: ONDE ESTÃO,QUAIS SÃO?

Antes de tudo, descubra os livrosque já existem na escola.

Converse com a diretora oudiretor e, se você não fazparte da equipe escolar, peça

para visitar a biblioteca, a sala de leitura, enfim, o lugaronde ficam os livros. Quantos estão disponíveis? Que tipode livros? De que autores?

É importante que você saiba que, entre 1999 e 2000, asescolas públicas que atendem alunos até a 8a série eEnsino Médio, com mais de 500 alunos, devem terrecebido do MEC um conjunto de 206 livros para jovens eadultos – 122 títulos –, representando uma amostra do quede melhor foi produzido pela inteligência brasileira, doséculo XVII ao século XX, em literatura, poesia, teatro,música, historiografia, sociologia e antropologia.

Para apoiá-las na implantação ou na dinamização de suasbibliotecas, as escolas devem ter recebido do MEC trêspublicações: o Manual Básico, com orientações sobre comoinstalar a biblioteca, administrar e manter o acervo; oManual Pedagógico, com sugestões aos professores sobrecomo enriquecer suas aulas utilizando algumas das obrasdisponíveis; e o Guia do Livronauta, que convida a equipetécnica da escola a apoiar os professores na utilização doacervo.

As escolas que atendem crianças de 1a a 4a série devem terrecebido um acervo de 110 obras de literatura infantil,junto com um Manual de Apoio (LAJOLO, Marisa e col.),com sugestões de atividades que ajudam a transformar aescola e a sala de aula em ambientes de leitura.

Procure conhecer esses manuais de apoio ao uso doslivros da biblioteca e o fascículo Estímulo à Leitura dacoleção Amigos da Escola. Eles trazem sugestões deatividades que podem complementar as que vamosoferecer mais adiante.

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Page 5: Artes Das Palavras

A ESCOLA NÃO TEM LIVROS.E AGORA?Uma escola sem livros é como um pássaro sem asas.

Os livros constituem material privilegiado para desenvolver açõesculturais e educativas com a comunidade escolar. Isto porque a literatura, aproximandoconhecimento e lazer, garante um diálogo crítico e prazeroso entre as pessoas, toca ahistória pessoal e a experiência dos grupos envolvidos, emociona e inquieta os indivíduospara a ação e a descoberta, junta o cotidiano mais imediato com a aventura da ficção.

Caso a sua escola ainda não tenha uma biblioteca, é hora de criar um espaço onde livros eleitores possam encontrar-se. Eis algumas dicas para...

...CONSEGUIR

LIVROS

• Caso a escola atenda amais de 500 alunos e nãotenha recebido nenhumacervo de livros do MECentre 1999 e 2001,comunique-se com oPrograma Biblioteca doMEC e pergunte o queaconteceu.

• Se a escola possui menosde 500 alunos e, portanto,não recebeu os acervos doMEC, moradores dobairro/cidade, alunos,professores e funcionáriosda escola devemreivindicar, junto aoGoverno do Município oudo Estado (dependendo dequal é responsável pelaescola), que sejamadquiridos livros.

• Se no seu bairro ou cidadehá muitas pessoas quepossuem livros em casa,

forme um grupo de jovense crianças e organize umaCampanha do Livro Usado.Os participantes devemsaber explicar o motivo dacampanha, criar cartazes eslogans, decidir sobre ostipos de livro maisnecessários e passar pelascasas onde se supõe quehaja livros, pedindoromances e contos deautores brasileiros ouestrangeiros, históriasinfantis com muitasilustrações, livros não-didáticos sobre História,Ciências, Artes,Geografia...

• Escreva uma carta dirigidaa diferentes editoras,explicando a situação esolicitando doações.

• Ajude o grupo de crianças ejovens a redigir uma carta,dirigida à seção de leitoresde alguns grandes jornais erevistas de educação doEstado ou do País. Nessacarta poderão contar por

que precisam de livros epedir apoio. Reproduza acarta e envie-a.

• Entre em contato com osempresários e pessoas deposse da região, convide-os a visitar a escola e peçacolaboração no sentido deajudar a montar o acervoda biblioteca.

• Uma vez conseguidos oslivros, planeje, com seugrupo, um modo especialde agradecer ehomenagear os doadores.

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Page 6: Artes Das Palavras

...SEPARAR OS

LIVROS POR

ASSUNTO E

POR AUTOR• Com a ajuda dos

professores de Portuguêsou de um(a)bibliotecário(a) dacomunidade e dos alunosdas séries mais adiantadas(5a em diante), separe oslivros de Narrativas(Romances, Contos,Crônicas e Novelas) doslivros de Poesia e daLiteratura de Cordel, sehouver. Também devemficar separados os livrosque tratam de História,Geografia, Ciências, Artese outros. Dentro de cadacategoria (por exemplo,Poesia), coloque osautores em ordemalfabética.

Enquanto os livros sãoclassificados, aproveite paraconversar sobre o que podeser encontrado neles, sobrecomo a literatura se aproximade outras artes e domínios doconhecimento, possibilitaampliar a experiência comnovas leituras dentro domesmo assunto, faz repensara vida apresentando enredo,personagens, tempos eespaços conhecidos edesconhecidos, sempre deforma atraente.

...CONQUISTAR E ORGANIZAR UM

ESPAÇO PARA OS LIVROS• Junto com a diretora ou

diretor, verifique queespaço da escola pode seradaptado para guardar oslivros. Se não couberemmesas para leitura, bastamas estantes. Os livrospodem ser colocados emcaixotes ou carrinhos defeira e transportados parao local onde se encontramos leitores.

• Empresários, pedreiros,marceneiros dacomunidade, ou pais dealunos podem serconvidados para ajudar acriar o espaço para abiblioteca e a construir,com tábuas e tijolos, asestantes.

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Page 7: Artes Das Palavras

A LITERATURA COMO

PROPOSTA DE FELICIDADE“A Arte é sempre uma proposição de felicidade.”

MÁRIO DE ANDRADE

Não há nenhuma definição de arte que seja acabada oudefinitiva. Isto revela que a convivência com a criação ecom o conhecimento artístico é uma experiência sem fim:quanto mais indagamos e identificamos a singularidade daarte, mais questionamos a natureza da criação. Aconteceque a arte, tentando sempre fisgar o que há de maisrelevante na realidade, parece seguir o próprio curso davida no que ela tem de múltiplo e variável, transitório eabsoluto, imediato e universal.

Entretanto, a arte tem traços bastante característicos eregistrar a condição humana é a sua própria razão de ser.Existe uma história – A Fábula do Oleiro – que ilustramuito bem o objeto único da arte, que é o ato de expressaro homem em estado de perplexidade, agonia ou paixão emface da experiência igualmente única de viver. Vejamos oque ela diz então:

A Fábula do Oleiro

“Uma criança se aproxima de um oleiro que moldabonecos no barro e coloca as estatuetas no parapeitoda janela para secar. Chega perto, admira os seresenfileirados, fica fascinada com a perfeição daquelaspequenas criaturas que se multiplicam nos movimentosexatos das mãos daquele escultor. Mesmo assim,pergunta:

– Por que é que você está fazendo tantos bonecos debarro, se o mundo já está cheio de gente?

E o oleiro, sem tirar os olhos e as mãos do trabalho,responde:

– É para cobrir os vazios da vida, e não faz mal nenhumequilibrar as criaturas de barro com os homens reais.”

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Page 8: Artes Das Palavras

Esta fábula ilustra muito bemo modo de ser da arte e suaprimeira função: tentarcorrigir ou compensar a vidano que ela tem de penúria,carência, falta de umarealidade concreta ouimaginada e, quasesimultaneamente, anunciar,propor e sugerir, por meio dosonho ou da utopia ou daprópria denúncia, um mundonovo que está por seconstruir. E vai daí que todaarte é sempre uma espécie deinauguração de umaexistência melhor e apromessa de felicidade que aprópria profundidade humanada arte, apostando na força doimaginário, nunca deixa deexigir.

As Artes da Palavra – aquelasabrangidas pela Literatura –possuem essa peculiaridadede casar a realidade com afantasia. No universo daliteratura, um conto deGuimarães Rosa, um romancede Graciliano Ramos, umacrônica de Rubem Braga, umpoema de Carlos Drummondde Andrade, todos elespropõem uma busca daalegria, mesmo quando fazemdo sofrimento o seu temaaparentemente maior. A dor, asolidão humana, a injustiçasocial, os amoresimpossíveis, as mazelas daexistência representados naarte nunca aparecem como oatestado de uma ordemimutável, como simplesregistro de uma realidadefatídica, como consumaçãodefinitiva de que viver sereduz à experiência de sofrer.Não que a literaturamodifique imediatamente omundo em que vivemos, masao menos ela aprofunda einquieta a sensibilidade doleitor para uma vida que podesempre ser humanamentemelhor.

Por falar em Drummond,vejamos como o seu poema“Os Ombros Suportam oMundo” – provavelmente opoema mais triste daLiteratura Brasileiracontemporânea – revela acarência, o estado de penúria,a falta de gestos maishumanos na sociedade dosnossos dias e, pela própriagravidade da denúncia, apela-clama-grita por umaexistência menos triste:

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Page 9: Artes Das Palavras

É interessante observar que ainsatisfação do Poeta nãoganha dimensão trágicaapenas pela consciênciapoética de que a humanidadesofre – o que provoca empatiano leitor é o sentimento deque lamentavelmente o serhumano se habituou a sofrer.Entretanto, o impacto damensagem, os jogos depalavras, a sugestão dizemcomo o mundo é e propõemno mesmo tom como elepoderia idealmente ser,enfatizando que a literaturaestá sempre a favor da vida.

Como dizia Fernando Pessoa,“a literatura, como toda arte,

Os Ombros Suportam o Mundo

“Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.Tempo de absoluta depuração.Tempo em que não se diz mais: meu amor.Porque o amor resultou inútil.E os olhos não choram.E as mãos tecem apenas o rude trabalho.E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.Ficaste sozinho, a luz apagou-se,Mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.És todo certeza, já não sabes sofrer.E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?Teus ombros suportam o mundoe ele não pesa mais que a mão de uma criança.As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifíciosprovam apenas que a vida prosseguee nem todos se libertaram ainda.Alguns, achando bárbaro o espetáculo,prefeririam (os delicados) morrer.

Chegou um tempo em que não adianta morrer.Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.A vida apenas, sem mistificação.”

Carlos Drummond de Andrade

é uma confirmação de que avida não basta”, sendo suafunção mais humana, políticae revolucionária revelar, pormeio do imaginário, que avida pode ser mais completa,solidária e comunitariamentemais feliz.

Na verdade, a arte – e muitoespecialmente a literatura –convida o indivíduo aprosseguir com sua promessade felicidade, reordenando,reinventando e reinaugurandopermanentemente o real.

Este elemento motivador dacriação faz da arte talvez aexpressão maisgenerosamente democrática

da vida e confirma aspalavras de Mário de Andradeque sempre insistiu:

“A arte, mesmo a maispessimista, é sempre umaproposição de felicidade.E a felicidade não pertence aninguém não, é de todos.”

Page 10: Artes Das Palavras

A literatura é uma manifestação artística e uma forma deconhecimento que tem na palavra o instrumento deexpressão da pessoa que se pergunta em situações comunsou extraordinárias: quem sou eu, quem somos nós, afinal oque é viver? Em face da realidade transitória, passageira eaté mesmo fugaz, a literatura é a possibilidade derepresentar simbolicamente, na dimensão de quem escrevee no ângulo de quem lê, as vidas que realmente vivemos ouos personagens que imaginariamente inventamos dentrode nós. Esta é a outra face da felicidade prometida pelaliteratura e é justamente o que diz o poeta e críticomexicano Octávio Paz, no início deste texto, paraidentificar um dos traços mais marcantes da literatura –a sua luta permanente no sentido de socializar e tornarcomunitária a nossa passagem única e ao mesmo tempoefêmera pela vida, resguardando artisticamente a própriacondição de viver. Desde as guerras que dizimampopulações inteiras até os desencontros afetivos ou osimples ato de provar um sorvete pela primeira vez, todosos temas querem permanecer enquanto experiênciaindividual ou coletiva. De certa forma, pode-se dizer que aliteratura é motivada pelo medo ancestral de esquecer,recuperando na arte da palavra um modo de ser feliz.

Como invenção, como ficção, como criação,a literatura aponta para o que poderia ter sido e só

provisoriamente ainda não é.

ARTES DA PALAVRA:POESIA, NARRATIVA,CORDEL, CARTAS“Escrevemos para ser o que somos ou aquilo que não somos.Em um ou em outro caso, nos buscamos a nós mesmos, eternosdesconhecidos.”

OCTÁVIO PAZ

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Por toda essa sua capacidadeinventiva, a arte literária ésempre ficção no sentido derealidade imaginada e criadapela palavra, semnecessariamente precisar sercomprovada com o real.Entretanto, por maisalegórico, fantasioso, absurdoque seja um conto, um poemaou uma novela, o textoliterário mantém estreitosvínculos com a realidadehumana e só o ser humanoem sua existência real é seufoco de interesse e deatenção. Este talvez seja otraço mais generosamentehumano da literatura e a suaprópria razão de existir –expressar em profundidade ador e a alegria, a luta e adesistência, o amor e odesencontro, a morte e oretorno, o misterioso e oprosaico, o desejo e afrustração, a liberdade e adescoberta, a fome e osexcessos, a persistência e afuga, a imobilidade e aperegrinação, contribuindoassim para a formação ética,estética e histórica dehomens e mulheres empermanente processo dedescoberta e revelação.

Outra característica geral daarte literária é sua extrema

expressividade ao revelar avida, por mais conhecida queseja, com olhos de primeiravez. Por isso, o traço maispolítico da literatura é fazeracordar e aguçar nas pessoaso sentido da revelação.Quando se lêem versos deCamões como “Amor é fogoque arde sem se ver/ É feridaque dói e não se sente”, pormais que se conheça aexperiência amorosa, é comoviver o amor pela primeira eúnica vez. Ao contrário dedefinir a vida de formaacabada ou utilitária, aliteratura oferece a vida comolinguagem múltipla ecarregada de significações.Em síntese, a literaturasempre diz mais, por meio dapoesia, das narrativas, docordel e do gênero epistolarque, por vezes, eleva acorrespondência entre duaspessoas à categoria de arte.

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POESIA – A PALAVRA QUE INVENTA“Isso de querer serexatamente aquiloque a gente éainda vainos levar além(...)nunca sei ao certose sou um menino de dúvidasou um homem de fécerteza o vento levasó dúvidas continuam em pé”

PAULO LEMINSKI

Escrever e ler poesia sãomodos de inventar ereinventar permanentementeo mundo, dispondo as palavrasem arranjos e combinaçõesimprevisíveis, desvendandocom elas os sentidos maisincomuns para que a vidarompa com a sua rotina erevele a sua parte melhor queé a aventura de viver. Não éraro, portanto, que unspoucos versos espelhem anossa vida explodindo designificações, como o poetaparanaense Paulo Leminski,autor dos versos acima, soubefazer tão bem.

Acontece que a poesia,tocando a dor da existência ea alegria de existir, é sempreimpactante, inventiva,reveladora da nossa maneiramais profunda de ser. Elaretira das coisas banais oextraordinário da experiênciahumana e transporta o leitorpara um sonho coletivo,fazendo do imaginário umsonho verdadeiramente real.Por isso tudo, Poetas de todoo mundo têm tentado definir apoesia com palavras de

sentidos os mais diversos,mas todas elas buscandoacentuar a expressão quesalva ou o próprio sentido dacriação. Para esses poetas,a poesia é:

“uma alegria eterna”

(JOHN KEATS, INGLÊS, 1785-1821)

“estrela que leva a Deus”

(VICTOR HUGO, FRANCÊS, 1802-1825)

“uma viagem ao desconhecido”

(VLADIMIR MAIAKOVSKI, RUSSO,1893-1930)

“o que o meu inconsciente megrita”

(MÁRIO DE ANDRADE, BRASILEIRO,PAULISTA, 1893-1945)

“música que se faz com idéias”

(FERNANDO PESSOA, PORTUGUÊS,1888-1935)

“a liberdade da minhalinguagem”

(PAULO LEMINSKI, BRASILEIRO,PARANAENSE, 1945-1989)

“a expressão da imaginação”

(PERCY B. SHELLEY, INGLÊS,1792-1822)

“a descoberta das coisas que eununca vi”

(OSWALD DE ANDRADE, BRASILEIRO,PAULISTA, 1890-1954)

Não é de estranhar, portanto,que o maior de nossos poetas,Carlos Drummond deAndrade, tenha deixado aseguinte mensagem aoseducadores:

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“O que eu pediria à escola, senão me faltassem luzespedagógicas, era considerar apoesia como primeira visãodireta das coisas, e depois comoveículo de informação prática eteórica, preservando em cadaaluno o fundo mágico, lúdico,intuitivo e criativo, que seidentifica basicamente com asensibilidade poética.”

Quando Drummond faz esteapelo à escola, chamandoatenção para o caráter lúdico,intuitivo e criativo do saber,ele não apenas traz a poesiapara o universo do cotidiano eda nossa vida mais comum,mas também elege a vivênciapoética das coisas comoaliada indispensável doconhecimento e possibilidadede resgatar as potencialidadesinventivas das pessoas e acriação individual. De fato, aescola tem se preocupadocom o ensino e aaprendizagem objetiva domundo, porém se esquece dacontribuição inestimável queo entendimento poético domundo tem a oferecer.

Sem discutir aqui que talvez avivência poética seja oprimeiro modo de percepçãoda realidade pela relaçãolúdica e mágica que a criançatem com o mundo, o queinteressa enfatizar é que apoesia aparece comopresença acentuada nas maisdiversas maneiras deconvivência e nos apelos dasensibilidade mais íntima dacomunicação. Pelo ritmo,

pelos jogos de palavrasinusitados, pela inventividadedas imagens na expressão, elaestá presente nas cantigas deninar, nos cantos quemotivam as brincadeiras, nascompetições verbais, nosdiários, nas cartas de amor,nas músicas que ouvimos norádio e nas festas,permanecendo muito tempodentro de nós como o acordede vivências significativasque a poesia das coisas e apoesia das palavras não nosdeixam esquecer.

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“João escreveu seis palavras,colocou-as numa garrafa,tampou e atirou tudo ao mar.Não se sentiu menos anônimonem a existência melhor. Poréma sensação de abreviar espaçose aproximar pessoas o invadiu.Quando João escreveu as seispalavras que um dia alguémencontrou e pouco entendeuporque apenas diziam ‘Euestou aqui e espero você’,comungou com todas as mãos etodas as letras de todos ostempos o primeiro ‘sentido’ deescrever e narrar.”

JORGE MIGUEL MARINHO

NARRATIVA – A PALAVRA QUE CONTA

As narrativas sempre estiveram bem próximasda vivência cotidiana das pessoas. Hoje elas estão

presentes nas novelas de televisão, nos filmes,nos relatos familiares, nos gibis. Na maior parte delas,

essas histórias interessam porque são formasde folhetim que divertem, emocionam, buscamespelhar a vida com excessos afetivos e ilusão.

Mas estas são narrativas de entretenimento e nessesentido têm lá a sua função.

O breve conto acima é umexemplo da arte de narrar –algo que faz parte da naturezahumana, é sua forma de ser.O ato de contar histórias deveter nascido do desejo eternode lembrar das coisas reais eimaginadas ou, quem sabe, domedo ancestral de esquecer.Enfim, a narrativa é tão antigaquanto o ser humano eprovavelmente deve tersurgido também danecessidade que todos têm detransmitir aos outros ashistórias coletivas ouindividuais.

A narrativa literária podetomar a forma de romance,novela, conto ou crônica.Todas essas narrativascontam uma história – têmenredo, que é oencadeamento dos fatos;personagem, que é aqueleque movimenta a estória;espaço, que é o lugar onde sedá a intriga; e tempo linear oupsicológico, através do qualtranscorre a trama. Esseselementos estãocuidadosamente combinadospara que uma narrativa tenhaverossimilhança. Quando uma

narrativa temverossimilhança, mesmo nãosendo verdade, isso poucoimporta porque espelha oreal. A ficção das narrativas,sejam elas fantásticas ourealistas, é muitas vezes maisreal do que a própriarealidade: desvenda asaparências, implode omoralismo falso das relaçõeshumanas, revela o absurdodos costumes perpetuados ea hipocrisia do poder.

É bom lembrar que a palavraficção vem do verbo latinofingo-fingere, que significafingir no sentido de inventar,mas também e sobretudotocar com a mão, modelar naargila, criar para fazer existir.Nesse sentido, não éexagerado dizer que onarrador é aquele que narrapara desvelar, suprir ecorrigir a realidade no queela tem de incompleto einsatisfatório ouabsurdamente real. E assima narrativa literária faz doimaginário, de forma incisivaou sugerida, o modeloexemplar de um mundomelhor por conquistar.

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Page 15: Artes Das Palavras

CORDEL – A PALAVRA QUE ACONTECEA vitória de Cheiroso, oBode Vereador

Com esse aperto de vida o povo que nada pode prá se esquecer da fome leva tudo no pagode agora, na eleição nas urnas de Jaboatão o povo votou num bode

Não é coisa de poeta nem boato inventado o caso foi verdadeiro o rádio tem divulgado se há gente que não crê no jornal tem o clichê do bode fotografado

Não é um bode qualquer que sirva de mangação do contrário é bem querido por toda a populaçãode Tejipió, primeiroSucupira, Cavaleirofinalmente Jaboatão

Por quase 500 votos ele saiu vencedor seus correligionários prá provarem seu valor votaram de coração prá Câmara de Jaboatão no bode vereador

Ele se chama Cheiroso é um bicho respeitável apenas tem um cheirinho que não é muito agradável apesar do seu mau cheiro tem ares de cavalheiro distinto e muito tratável.”

(Observação – os erros de

grafia e outros foram conservados

do original)

Essa pitoresca composição dopoeta Delarme Monteiro eSilva mostra bem o que é oCordel, esse tipo de arte tãopopular e ao mesmo tempoengajada, além de muito atual.Muito mais do quecomposições narrativas, ashistórias impressas nosfolhetos de cordel sãomanifestações orais criadascomo tentativas poéticas.Os temas abordados, entre osmais conhecidos e expressivos,são: Conselhos, Profecias,Gracejo, Acontecidos, Carestia,Exemplos, Fenômenos,Pelejas, Bravuras e Valentia,Safadeza ou Putaria (é o nomeoficial), Política, Propaganda.

A Literatura de Cordel talvezseja a arte mais comunitáriaque existe, é de todos e é deninguém. Devido à suaespontaneidade marcada peloimproviso e pela expressãooral, ela passa a exercer afunção de um amplo painelhistórico onde se multiplicamos temas sociais e ospersonagens mais originais: aaspiração pela justiça, asolidariedade com o próximo,a miséria do sertanejo, apenúria do camponês, apaciência irônica do matuto, acoragem obstinada, a vidasofrida do repentistae sua alegriade viver.

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Page 16: Artes Das Palavras

Apesar da originalidade daLiteratura de CordelBrasileira, reconhecida comopoesia da voz coletiva eexpressão da sensibilidadepopular, essa manifestaçãopoética, diferentemente doque acontece em outrospaíses, aqui tem sido relegadaà margem e tratada comcerto desprezo, chegando aser entendida por muitoscomo arte menor.

Os critérios de julgamento edesvalorização da Literaturade Cordel são baseados nachamada cultura erudita, quefunciona como modeloexemplar de valores ecomponentes estéticos deque a expressão artísticadeve obrigatoriamente darconta. Nesse sentido, oCordel é desvalorizado porfalta de originalidade,ingenuidade dos temas,versificação banal, incorreçãoe pobreza de linguagem.

Esta posturatendenciosamente acadêmicae conservadora é insensívelao que a Literatura de Cordeltem de melhor e maisoriginal: a sua singularidadeenquanto expressão oral e acapacidade sem limite deimprovisar por conta de umaarte casada com o cotidiano ecom as características locais,fazendo da memóriaprivilegiada dos repentistas asua forma de preservação.Desse modo, odesconhecimento da crítica ea divulgação sempre precáriados folhetos reforçam asdificuldades de se conquistaruma convivência mais

constante com essasignificativa poesia do povo.Uma poesia que, mesmo numcontexto hostil, atua comoforma de resistência aosdiscursos dominantes,persistindo igualmente pelaforça lúdica, direta, regional –representativa do apelocoletivo e popular.

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Page 17: Artes Das Palavras

CARTA: A PALAVRA QUE APROXIMA

Essa carta marca o início dalonga correspondência entredois dos mais admiráveispoetas ingleses, Elizabeth eRobert Browning. Elizabethtinha trinta anos – naquelaépoca, era considerada umasolteirona de meia-idade – evivia só, trancada em casa,quase inválida, quandoescreveu e publicou seuprimeiro livro de poemas.Robert, que já era famoso, leuo livro e escreveu uma cartade elogio. Assim começou oamor que uniria os doispoetas num casamento paratoda a vida.

Essa é a magia dacorrespondência, por meio daqual pessoas que estãofisicamente distantes podemtrocar idéias e sentimentos –e, com isso, fazer-sepresentes na ausência.

Durante centenas e centenasde anos, as cartas foram aúnica forma de aproximarquem estava longe. Só noséculo XIX apareceu otelefone, o telégrafo, maistarde o computador, facilitandoe agilizando a comunicaçãoentre conhecidos, amigos,amantes. Uma carta queescrevo de São Paulo podedemorar dez dias para chegara meu amigo na Holanda. Amensagem que digito na telado computador o alcança namesma hora, o que é incrível.No entanto, o computador éum meio frio, impiedoso, eninguém garante que umdesconhecido qualquer nãoleia o que escrevi. Por isso, acarta continua sendo umaforma inestimável decomunicação, se quisermosnos expressar com maisliberdade e originalidade.

Rua Wimpole, 50

11 de janeiro de 1845

Agradeço-lhe, caro Sr. Browning, do fundo do meu coração.O senhor teve a intenção de me dar um prazer com sua carta; ora,ainda que o objetivo não fosse alcançado – e o foi plenamente –,eu devia-lhe um agradecimento. Que carta e de que pena! Todasimpatia me é grata – me é muito grata: mas a simpatia de umpoeta, e de um tal poeta, é para mim a quintessência da simpatia!Quer receber em paga a minha gratidão? – concordando tambémem que de todo o comércio realizado no mundo, de Tiro a Cartago,o mais principesco é a troca de simpatia por gratidão!

(...)

Sua amiga agradecida

Elizabeth B. Barret

(AS GRANDES CARTAS DA HISTÓRIA, DE M. LINCOLN SCHUSTER,TRADUÇÃO DE MANUEL BANDEIRA,

SÃO PAULO, COMPANHIA EDITORA NACIONAL, 1942)

Muitos escritores brasileirosadoravam se corresponder esuas cartas acabaram setornando livros maravilhosos,cheios de vida. É um prazerúnico ler a correspondênciade Carlos Drummond deAndrade, Manuel Bandeira,Mário de Andrade, entreoutros. Mas o melhor de tudoé que, toda vez queescrevemos uma carta, pormais simples que seja,podemos viver a experiênciada aproximação pela palavrae, quem sabe, de fazerliteratura, também.

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Page 18: Artes Das Palavras

VAMOS FAZER ARTE

COM AS PALAVRASAqui estão algumas atividades que podem contribuir paraque crianças, jovens e adultos da escola e da comunidadeleiam mais e possam sentir-se tentados a traduzir empalavras seus pensamentos e emoções. Os livros sugeridospertencem aos acervos distribuídos pelo MEC às 20 milescolas brasileiras com mais de 500 alunos. Selecione eadapte as atividades que você e seu grupo acharem maisinteressantes. Experimente colocá-las em prática.E lembre-se: a felicidade – sua e dos participantes –é o maior indicador do sucesso de sua atuação.

DE CASO COM

OS LIVROS:TEMPO DE LER,TEMPO DE

PRAZER

Objetivo: Aproximar crianças,jovens e pessoas dacomunidade dos livrosexistentes na escola,possibilitando-lhes descobriros que mais lhes interessam.

Recursos: Um espaço ondediferentes tipos de livroestejam expostos, de formaatraente. Providencie, junto àdireção da escola e pessoasda comunidade, almofadas,tapetinhos, esteiras,espreguiçadeiras, mesas comcadeiras, nos quais as pessoaspossam se acomodar, àvontade, para ler. Essa

atividade pode ser feita nãosó na biblioteca da escola,mas, de preferência, no pátioou ao ar livre, sob as árvores.Nesse caso, os livros estarãosobre mesinhas, com cartazesidentificando o tipo de leituraoferecido: livros românticos,de aventura, realistas, desuspense, policiais, poesia,biografias e outros. Separe oslivros para crianças dosjuvenis e adultos, semprelembrando às pessoas quetodos podem ler tudo. Umadulto pode deliciar-se comuma história de fadas. Umacriança inteligente e quesaiba ler bem pode encantar-se com uma narrativa deaventuras escrita paraadultos, mas que elainterpretará à sua moda.

Execução:

• Você deve garantir que oleitor tenha acesso diretoaos livros disponíveis,podendo escolher aqueles

que mais interessem. Elepode ler sozinho, mostrá-los aos colegas, devolvê-los ao lugar, trocá-los poroutros, pedir sugestões.Nas primeirasexperiências, pode ocorreralguma agitação, mas, como tempo e o constantecontato com os livros, osleitores vão assumindoatitudes reais de leitura,tendendo à maiorconcentração.

• Nesse caso, você é aquelapresença que interfereapenas quando necessário,mas sua forma de agir éimportantíssima, para nãodesestimular osparticipantes. Precisa serfirme, porém paciente enunca perder o bom humor,se pretende trazer crianças,jovens, pais e todos os“Amigos da Escola” para omundo imperdível emágico da leitura!

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• Durante a atividade, épossível observar a relaçãodos participantes com olivro, desde a forma comoo manuseiam até seusinteresses e dificuldadesde leitura. A partir dessaobservação, você pode seaproximar de um ou maisparticipantes, para ler comeles e oferecer estímulo eatenção mais diretaprincipalmente àquelesque demonstram maiordificuldade.

• Sempre que possível, oparticipante deve levar olivro consigo para ler onde,quando, como e quantasvezes quiser, podendoaproximá-lo de seu círculofamiliar ou de seus amigos.É pelo empréstimo quemuitos livros passam a serconhecidos e procuradospor outros leitores nadivulgação boca a boca.Além disso, o empréstimopossibilita ao leitor ler deacordo com seu ritmo ecapacidade.

• À medida que os livrosforem sendo apreciados, oscomentários e a troca deidéias sobre eles permitemsaber o que significarampara cada um. Às vezes,será fundamental que vocêchame a atenção paradeterminado aspecto queos leitores iniciantes nãoperceberam. Outras vezes,será muito bom mostrar oimenso prazer que aleitura nos dá, lendo paraeles ou junto com eles,sobretudo interpretando edescobrindo ossignificados com acumplicidade de todos.

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MAR DE

HISTÓRIASObjetivos: Incentivar o prazerde contar e ouvir histórias;utilizar a literatura para vercom outros olhos osproblemas do cotidiano.

Execução: Lembre-se de quenão são apenas as criançasque gostam de ouvirhistórias. Os jovens e adultostambém adoram. Por isso, sevocê se propuser a contar/recontar histórias e aorganizar sessões de leituracoletiva de contos ounarrativas mais longas, comcerteza será muito bemrecebido(a). Para incrementar,você pode:

• recontar romance, novelaou conto com suaspalavras, de forma aprovocar a emoção dosouvintes. Pedir que, a cadasemana, alguém prepareuma história ou causo paraapresentar;

• organizar eventos como:Hoje à noite (ou à tarde...)é dia de terror (ou de humor,ou de romance...), paraabrir espaço para leiturade narrativas de diversosgêneros;

• estimular a organização degrupos para a leitura deromances em capítulos, talcomo se fazia antigamente.

E atenção!

Converse com o grupo e liguesuas antenas para captar ostemas ou problemas queestão mobilizando as pessoasno momento. Recomende,para serem contados ou lidosem grupo, livros que tratamdesses temas “quentes”.Algumas sugestões:

Meio ambiente

Menino do Rio Doce, deZiraldo

Vidas Secas*, de GracilianoRamos

Discriminação/Intolerância

A Terra dos Meninos Pelados,de Graciliano Ramos

O que Fazer? Falando deConvivência, de Liliana eMichele Iacocca

Guilherme Araújo AugustoFernandes, de Mem Fox

Capitães da Areia*, de JorgeAmado

Gravidez na adolescência

Menino Brinca de Boneca?,de Marcos Ribeiro

A Normalista*, de AdolfoCaminha* Esses livros foram escritos para

jovens e adultos.

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FEIRA DE IDÉIAS: O CLUBE DO LIVROObjetivos: Estimular osparticipantes a trocar idéiassobre os livros que leram, pormeio de Clubes do Livro;criar na escola uma situaçãoque deixa livre a escolha dostítulos de leitura, abrindoespaço para comentários eincentivando os participantesa empenhar-se na busca daqualidade da sua leitura;oferecer aos participantes aoportunidade deconfrontarem diferentesopiniões, aprendendo adiscordar sem agredir.

Execução:

• Estimule a criação deClubes de Leitura,utilizando os livrosdisponíveis. Osparticipantes se juntampara formar o clube,combinam o que vão ler e,

a cada quinzena, reúnem-se para comentar o queleram, sendo esta uma boaoportunidade paraconvidar aqueles que aindanão aderiram ao clube.

• É possível formar grupospor interesses específicos,e disponibilizar os livrosnecessários. Se eles nãoexistirem na escola, é horade solicitar o apoio deeditoras ou empresas paraconsegui-los. Algumassugestões de leitura paraquem se interessa por...

Questão indígena

Juntos na Aldeia, de LuísDonizete Grupioni –quatro histórias sobre ocotidiano de quatro naçõesindígenas.

O Povo Pataxó e sua

História, de AngthichayPataxó

Artes visuais

Maria Martins: Mistério dasFormas, de Kátia Canton –poema sobre três esculturasda artista Maria Martins.

Pinturas, Jogos eExperiências, de AnnForsind – materiaisartísticos e comoexplorá-los.

Meio ambiente

Os Rios Morrem de Sede, deWander Pirolli – umapescaria que não aconteceporque o rio estámorrendo.

Ciências e Matemática

O Mensageiro das Estrelas,de Peter Sis – sobre a vidado cientista Galileu.

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O Homem que Calculava,de Malba Tahan – históriasque envolvem a resoluçãode problemas matemáticos.

Crianças Famosas:Portinari, de NadineTrzmielina – biografia dopintor de Brodowski.

História do Brasil

Viva o Povo Brasileiro*,de João Ubaldo Ribeiro –a história de nosso povocontada por meio depersonagens irônicos eengraçados.

Fogo Morto*, de José Linsdo Rego – a vida nosengenhos de açúcar.

Quarup*, de AntônioCallado – painel da históriado Brasil da época deVargas à ditadura militar.

* Esses livros foram escritos para

jovens e adultos.

• Aproveite asoportunidades em que atelevisão adapta osclássicos para novelas eminisséries, como foi ocaso de A Muralha,O Auto da Compadecida,Os Maias, e faça dalinguagem televisiva ummodo de motivar a leiturae a discussão de trechosdas obras.

• Se você for professor(a)de Português ou tiverconhecimentos maisaprofundados sobreLiteratura, pode criargrupos de discussão arespeito de:

� abordagem de ummesmo tema emdiferentes épocas, comoa relação homem/mulher, em Senhora, deJosé de Alencar, DomCasmurro, de Machadode Assis, e O Vampirode Curitiba, de DaltonTrevisan;

� obra de determinadoautor – por exemplo,comparar os várioslivros de Machado deAssis;

� um estilo de época –por exemplo, ler livrosrepresentativos doIndianismo brasileiro,como Iracema, de Joséde Alencar, e OUraguai, de Basílio daGama.

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NAS ASAS DA POESIAgostem de poesia, comdeclamação dos poemaspreferidos, acompanhadapor um fundo musicalexecutado por colegas ougravado;

• propor a representação depoemas que mais tenhamsensibilizado osparticipantes, por meio dedesenhos, colagens eoutros;

• se notar que as pessoasrevelam pouco interessepor poesia, você devedesafiá-las, argumentandoque é preciso conhecerpara gostar. Observar seelas identificam as letrasde canções popularescomo poemas pode ser umponto de partida paraaproximar a poesia dosparticipantes e introduzirtextos mais elaborados;você poderá sugerirtambém que declamem/cantem esses poemas,perguntando como sabemque se trata de poemas. Sea maioria for deadolescentes e jovens,distribua a letra de alguns

raps, como os dosRacionais MC ou os deGabriel, o Pensador.Estimule-os a expressarsuas idéias, procurandoobservar quais elementosdessa linguagem já sãopercebidos por eles. Nestemomento, não importatanto a qualidade do quevão dizer nem se estácerto ou errado. Oimportante é que falem,que manifestemlivremente as impressõesque têm acerca do queleram ou escreveram;

• estimular comentáriossobre o ritmo, as rimas, ojogo de palavras, amensagem sugestiva ébastante motivador paraque, em seguida, você façacomentários sobre ospoemas apresentados;

• propor aos participantesque criem os própriosversos, poemas ou raps.Depois, os textos poderãoser escritos em cartolinase pendurados em varais nopátio da escola, onde todospossam ver e ler.

Objetivos: Contribuir paratransformar a escola em umlugar onde a convivência coma poesia aconteça de fato,permitindo o contato decrianças, jovens e adultos comautores e estilos poéticosdiversos; aproximar aspessoas da linguagem poética,familiarizando os participantescom a poesia, sempreocupação com métrica,rima e outras formalidades.

Execução:

Coloque à disposição dosparticipantes uma seleção delivros de poesia, como porexemplo:

A Senha do Mundo, de CarlosDrummond de Andrade

Ou Isso ou Aquilo, de CecíliaMeireles

A Arca de Noé, de Vinícius deMorais

Antologia Poética, de CarlosDrummond de Andrade

Antologia Poética, de MárioQuintana

Poesia Completa, de CecíliaMeireles

A partir daí, você podedesenvolver diferentesatividades:

• pedir a eles que, após aleitura silenciosa de algunspoemas, selecionemaquele que mais agradoupara ler de formaexpressiva ou até mesmodramatizada;

• organizar saraus com osparticipantes que já

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FÁBRICA DAS LETRASObjetivo: Incentivar aquelesque quiserem compartilharseus escritos – ou idéias parafuturos escritos – com outrosinteressados, conquistandoassim um espaço paradiálogo, críticas e sugestões.

Execução:

• Proponha ao grupo quefaça uma pesquisa compais de alunos da escola eseus conhecidos,moradores do bairro ou dacidade, para descobrirquem gosta de escrever(cartas, versos, letras demúsica, letras de rap) etambém quem já tevealgum livro publicado, oujá colaborou em algumjornal ou revista.

• Convide essas pessoaspara falar com o gruposobre questões como:Por que escrevem? O quesentem ao escrever?Como percebem a reaçãodos leitores?

• Aproxime participantesque vivenciam uma mesmasituação – morte,desemprego, velhice,adolescência, namoro,amor não correspondido,ser mãe/pai – e proponhauma oficina de criaçãoliterária. Você podecomeçar oferecendo umrol de textos que tratamdessas situações e depoispedir que cada um tentecolocar no papel ospróprios sentimentos evivências. Forme duplas.Os textos produzidosserão trocados entre osparticipantes de cada duplae cada um, se forautorizado, poderá sugeriralterações no texto doparceiro.

• Sugira aos participantesque reúnam os textos emuma única publicação, quepoderá ser ilustrada poraqueles que gostam dedesenhar, pintar ou fazergravuras. Motivar o grupopara conseguir patrocínio,junto às casas comerciais eindústrias da região, parareproduzir o livro.

• Organize, com o grupo,uma noite de autógrafos,com ampla divulgação nobairro e na cidade.

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que têm mais facilidadepara construir versos erimas ao estilo de cordel,os grupos transformarãosuas histórias em folhetos.

• Se houver quem saibafazer xilogravura,proponha que os folhetossejam ilustradosutilizando essatécnica, comonos cordéistradicionais.

• Organize como grupo uma festapara apresentação eleitura dos folhetos,com participaçãoda comunidade.

CORDELANDOObjetivos: Possibilitar que osamantes do gênero cordelpossam trocar, declamar,comentar, ler e ouvir textosdos repentistas; produzirfolhetos de cordel.

Execução:

• Exponha, num varal,vários folhetos de cordel, econvide os participantespara manusear o material.Se houver, na comunidade,algum repentista, convide-o para uma conversa com ogrupo.

• Peça aos participantes queescolham um folheto epromova a leitura coletivado mesmo: alguém será onarrador e outrosassumirão o lugar dospersonagens.

• Organize uma discussãosobre a história lida. Quevalores são defendidos? Oque é criticado? Por quê?

• Proponha aos participantesque se dividam em grupose criem uma história sobreum tema que estejaprovocando debate nomomento. Lembre aspessoas que, segundo atradição, o assuntoescolhido deve se encaixarnuma das formas decordel: Conselhos,Profecias, Gracejo,Acontecidos, Carestia,Exemplos, Fenômenos,Pelejas, Bravuras eValentia, Safadeza, Política,Propaganda.

• Depois, com a ajuda dos

MAPA, LITERATURA, SELOSObjetivos: A partir de umapesquisa com selos,

possibilitar que osparticipantes conheçam maissobre a vida dos escritoresbrasileiros, como fonte deinspiração; motivar osparticipantes a identificar osprincipais representantes daarte da palavra no Brasil, emespecial no seu estado.

Execução:

• Organize um grupo quegoste de filatelia e deliteratura e proponha umapesquisa de selos criadosem homenagem aosescritores da literaturabrasileira. Existem muitos.Em seguida, divida osparticipantes em duplas,que, pesquisando em

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A ARTE DAS

CARTASObjetivo: Estimular osparticipantes a se comunicarpor escrito com pessoas quecompartilhem interessessemelhantes.

Execução:

• Proponha a professores deoutra escola estabelecercorrespondência entrepessoas ligadas às duasunidades, e que gostem deler. Uma listagem depessoas de ambas asescolas será produzida,com nome, idade, sexo einteresses literários.

• Cada participante deveráassumir o compromisso deescrever pelo menos umavez por mês a seucorrespondente, contandoo que leu naquele período.

• Se os autores das cartasconcordarem, ao final de 9meses elas serão lidascoletivamente e asmelhores, selecionadas paracompor uma publicação.

Você sabia?Há mais de cinqüenta anos,

selos comemorativosbrasileiros vêm prestando

tributo aos maiores expoentesda nossa literatura. A primeira

homenagem foi a JoaquimNabuco, em 1949. Hoje, os

colecionadores podemencontrar selos com imagens

de autores representandotodas as correntes literárias:

Quinhentismo: Pero Vaz deCaminha e Padre José de

Anchieta

Barroco: Gregório de Matos

Arcadismo: Basílio da Gamae Santa Rita Durão

Romantismo: Castro Alves eJosé de Alencar

Realismo: Machado de Assise Raul Pompéia

Parnasianismo: Olavo Bilac

Pré-Modernismo: LimaBarreto e Monteiro Lobato

Modernismo: GracilianoRamos e Manuel Bandeira

Modernismo: GuimarãesRosa

enciclopédias, deverãoescrever uma síntesebiográfica de cada umdeles, indicando fatossignificativos – porexemplo, Álvares deAzevedo morreu aos 2lanos, Carlos Drummondde Andrade teve uma filhatambém escritora, ManuelBandeira ficou tuberculosomuito jovem e só morreucom mais de oitenta anospelo amor à Literatura.A próxima tarefa seráescolher uma frasesignificativa da obra decada um. Monte umcatálogo com o selo, afrase e a síntese biográfica,explorando a disposiçãodas imagens e os aspectosgráficos, de modo a criarum material atraente. Porfim, exponha na escolapara alunos, educadores ecomunidade.

• Convide os participantes aconstruir um grande mapado Brasil e colocar, emcada estado ou região, osnomes dos principaisescritores que alinasceram. Escolher umafrase interessante da obrado escritor maisrepresentativo de seuestado e destacá-la nomapa. Expor o mapa nopátio da escola.

E atenção!Que tal propor aos participantes uma pesquisa sobre a história do selo postal? No caderno que abreesta coleção, Com Vocês: As Artes, você encontra um Anexo com essas informações e muitas outras

propostas interessantes. Você, com certeza, vai gostar da idéia de formar um Clube de Filatelia na escolae de propor que as crianças e jovens comecem suas coleções temáticas de selos, comprando-os nos

Correios ou trocando-os com os seus correspondentes. O tema “Literatura” pode ser o primeiro.

“Amigos da Escola:aproximando a mão

que escreve dos olhosde quem lê”

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979.

BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a arte. São Paulo:Ática, 1985.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é folclore? SãoPaulo: Brasiliense, 1982.

CANDIDO, Antonio. Direitos humanos e literatura.

In: FESTER, Antonio C.R. (Org.). Direitos

humanos e... São Paulo: Brasiliense, 1989.

CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas emEducação, Cultura e Ação Comunitária. Guia de

ações complementares à escola para crianças e

adolescentes. São Paulo: CENPEC, 1998.

CLAVER, Ronald. Escrever com prazer: oficina de

produção de textos. Belo Horizonte: Dimensão,1999.

DANTAS, José Maria de Souza, MOREIRA, Almir.Lingua(gem), literatura, comunicação. Rio deJaneiro: Francisco Alves, 1977.

LYRA, Pedro. Conceito de poesia. São Paulo: Ática,1986.

MESQUITA, Samira Nahid de. O enredo. São Paulo:Ática, 1986.

PAIXÃO, Fernando. O que é poesia? São Paulo:Brasiliense, 1987.

PROENÇA FILHO, Domício (Org.). II BienalNestlé de Literatura Brasileira. Ensaios/

Seminário 2: criação, interpretação e leitura do

texto literário. São Paulo: Norte Editora, 1986.

________. A linguagem literária. São Paulo: Ática,2000.

RODRIGUES, Selma Calazans. O fantástico. SãoPaulo: Ática, 1988.

SOUZA, Liédo Maranhão. Classificação popular da

literatura de cordel. Petrópolis: Vozes, 1976.

TAVARES, Bráulio. A pedra do meio-dia ou Artur e

Isadora. São Paulo: Editora 34, 1998.

WALTY, Ivete Lara Camargos. O que é ficção? SãoPaulo: Brasiliense, 1985.

A ARTE É DE TODOS

AMIGOS DA ESCOLA

Realização

Um projeto Rede GloboDiretoria de Projetos SociaisCentral Globo de Comunicação

Elaboração

Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,Cultura e Ação Comunitária

Direção-presidência Maria Alice Setubal

Coordenação Geral Maria do Carmo Brant deCarvalho

Coordenação Técnica Isa Maria F. R. Guará

Coordenação de Projeto Alice Lanalice

Comitê Editorial Jorge Miguel MarinhoSônia Madi

Consultoria em Cultura Alberto T. IkedaPopular

Consultoria Pedagógica Madza Ednire Edição (CECIP – Centro de Criação

de Imagem Popular,RJ)

Textos Originais

Com vocês: As Artes Sônia MadiArtes da palavra Jorge Miguel MarinhoArtes da luz Maria Terezinha T. GuerraArtes do som Marisa Trench O. FonterradaArtes da representação Alexandre Luiz MateArtes do festejar e brincar Iveta Maria B. Á. FernandesArtes do povo Tônia B. Frochtengarten

Revisão Sandra Aparecida Miguel

Edição de Arte Eva P. de Arruda CâmaraJosé Ramos NétoCamilo de Arruda C. Ramos

Ilustração Michele Iacocca

CENPECRua Dante Carraro, 68 Pinheiros05422-060 São Paulo SPFax: 11 3816 0666e-mail: [email protected]: //www.cenpec.org.br

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Material desenvolvido pelo

CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EMEDUCAÇÃO CULTURA E AÇÃO COMUNITÁRIA

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Apoio

Filatelia e Apoio Técnico