arte japonesa nas aulas de arte - … · arte japonesa nas aulas de arte inês kiyomi koguissi...
TRANSCRIPT
ARTE JAPONESA NAS AULAS DE ARTE
Inês Kiyomi Koguissi
Professora de Arte Colégio Estadual Barão do Rio Branco – Assaí
Ana Luíza Rushel Nunes
Professora Orientadora Universidade Estadual de Ponta Grossa
RESUMO
Este estudo resulta de um processo de intervenção pedagógica e da possibilidade de inserção de conteúdos da Arte japonesa nas aulas de Arte no Colégio Estadual Barão do Rio Branco, no município de Assaí/PR, uma cidade colonizada por imigrantes japoneses, possibilitando assim a compreensão da arte sob a perspectiva multicultural. Portanto, analisa as ideias dos alunos da 8ª série do ensino fundamental, sobre a cultura e a arte japonesa, conduzindo os a refletir sobre essa diversidade cultural. Os autores que fundamentaram o processo foram RICHTER (2005), HALL (2001), MASSON (2001) e outros. Foram analisadas as opiniões dos 70 alunos. A investigação-ação foi um processo de intervenção pedagógica no ensino da arte.Os instrumentos para coleta de dados foram questionários, fotografias, portfólio e diário de classe. Pelo levantamento que realizamos, podemos inferir que o espaço ofertado para realização de exposição da identidade japonesa, foi uma forma de contribuir para a formação dos educandos enquanto sujeitos produtores de cultura, no qual possuem identidade e valores que perpassam através do tempo e que são capazes de compreender as diferenças existentes oriundas da multiculturalidade.
Palavras-chave: Arte japonesa. Assaí (Pr). Multiculturalidade. Escola. Intervenção pedagógica.
ABSTRACT
This study results from a pedagogical intervention process and the possibility of inserting the contents of Japanese Art in the Art’s subject at Barão do Rio Branco State High School, in the city of Assai / PR, a city colonized by Japanese immigrants, allowing the art understanding a multicultural perspective. Therefore, it analyzes the students’ ideas of 8th grade of middle school, about the Japanese culture and art, leading them to reflect about cultural diversity. The authors who based the process were RICHTER (2005),
2
HALL (2001), Masson (2001) and others. Seventy students’ opinions of the 8th grade students were analyzed. The action research was a pedagogical intervention process in the teaching of art. The instruments for data collection were questionnaires, photographs, portfolio and diary class. After the task we did, we would infer that the space offered for Japanese identity exhibit was a way to contribute for the students formation while subjects of culture producers, which they have identity and values that pass through time and are able to understand the differences existing in the multiculturalism.
Keywords: Japanese Art. Assaí (Pr). Multiculturalism. School. Pedagogical intervention.
3
INTRODUÇÃO
O presente estudo ressalta a importância de trabalhar o
Multiculturalismo, visto que envolve estilo de vida e atitude que resume a
essência de diferentes culturas. E é na escola que a identidade deve ser
trabalhada como diz Hall (2000, p. 38),
Assim, a identidade é realmente algo formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento. Existe sempre algo “imaginário” ou fantasiado sobre sua unidade. Ela permanece sempre incompleta, está “em processo”, sempre sendo “formada”[...].
A aproximação dos alunos com a herança cultural e artística depende
das oportunidades propiciadas pela sociedade, principalmente pela escola, que
deve levar em consideração o que ocorre ao seu redor. E nesse processo o
professor é o mediador que desencadeia e sistematiza a assimilação desse
saber, e o professor de Arte pode promover essa evolução da sensibilidade e
saber do aluno, que resultará em qualidade positiva na escola e,
consequentemente, na sociedade.
Nesse sentido, o propósito de inserir a Arte da cultura japonesa justifica-
se pela necessidade de buscarmos novas atitudes sobre nossa cultura, com a
ideia de promovermos uma democracia racial que, para Fusari e Ferraz (2001,
p. 48-49), no Ensino de Arte, o professor tem a incumbência de incorporar a
construção histórica de sua região ou cidade no seu trabalho de sala de aula,
propondo o estudo da história do ensino dessa localidade e a aprendizagem da
arte. Assim, é pertinente trazer a cultura da Arte japonesa do município de
Assaí/PR, com sua visualidade e visibilidade, sem deixar de apreender e
compreender a arte de forma geral da sociedade como um todo.
Segundo Saviani (1991), a pedagogia histórico-crítica valoriza a escola
levando em consideração o que ocorre ao seu redor, preocupando-se com o
funcionamento da mesma e utilização de métodos eficazes de ensino. Estes
valorizam a iniciativa do aluno e também a do professor, o diálogo entre
4
ambos, valorizando a cultura acumulada historicamente. O interesse dos
alunos, o ritmo de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico e social dos
alunos devem ser sistematizados com a finalidade de assimilação dos
conteúdos.
O trabalho de reconstrutivismo social no conteúdo de Artes Visuais pode
ser trabalhado de modo mais significativo analisando a sociedade, e
oportunizando aos alunos o desenvolvimento da consciência crítica, pois a
arte-educação multicultural tornou-se uma preocupação global, como afirma
Richter (2005, p. 33), “[...] a educação multicultural e intercultural deve
familiarizar os alunos com as realizações culturais não dominantes, de maneira
a entrar em contato com outros mundos, abrindo-se para a riqueza cultural da
humanidade [...].”
Partindo desses pressupostos, a Arte é um veículo eficaz para trabalhar
o Multiculturalismo porque envolve estilo de vida e atitude, que resume a
essência de diferentes culturas. Portanto, a pintura e a escultura podem ser
reconhecidas como heranças culturais. A cultura como código simbólico aponta
uma concepção que traz contradições que existem na sociedade. Ribeiro (s/d,
p.427) ao falar sobre “o fenômeno unicamente humano”, destaca também que
[...] a cultura se refere à capacidade que os seres humanos têm de dar significado às suas ações e ao mundo que os rodeia. A cultura é compartilhada pelos indivíduos de um determinado grupo, não se referindo, pois, a um fenômeno individual; por outro lado, cada grupo de seres humanos, em diferentes épocas e lugares, dá diferentes significados a coisas e passagens da vida aparentemente semelhantes. As culturas mudam, seja em função dinâmica interna, seja em função de diferentes tipos de pressão exterior.[...] A cultura é, pois, “um processo dinâmico de reinvenção contínua de tradições e significados.
Trabalhar o Multiculturalismo traz inúmeras vantagens como
possibilidade de cruzar fronteiras culturais e promoção de harmonia entre os
grupos; preservação da cultura e da harmonia com o desenvolvimento de
competências interculturais num mundo de conflitos; integração entre todos os
alunos desenvolvendo a competência em várias culturas; desenvolver o
conhecimento e a capacidade de lidar com outros códigos culturais e
5
possibilidade de mudança no meio educacional através da promoção da
igualdade.
Segundo Richter (2005, p. 51) o ensino de arte tem um grande desafio,
[...] é o de contribuir para a construção crítica da realidade através da liberdade pessoal. Precisamos de um ensino de arte por meio do qual as diferenças culturais sejam vistas como recursos que permitam ao indivíduo desenvolver seu próprio potencial humano e criativo, diminuindo o distanciamento existente entre a arte e vida.
A arte japonesa tem princípios bem diferentes da Arte ocidental, a qual
se fundamenta na representação de um mundo em perfeita harmonia e
serenidade. Há estilo de pintura como Yamato-ê, que é a pintura narrativa
criada pelo pintor Tosa, que narrava acontecimentos históricos, biográficos e
religiosos. A escola Tosa de pintura japonesa foi fundada no século XV e se
dedicava à pintura de assuntos e técnicas derivadas da arte japonesa antiga. A
origem dessa escola pode ser atribuída a Yukihiro Tosa, o primeiro a usar o
nome profissional de Tosa. Mais tarde a escola foi oficialmente fundada por
Mitsunobu Tosa (1434 – 1525) que atuou como pintor oficial da corte imperial.
Houve também o Ukiyo-ê que representava temas “beijin-ga”, os quais retratam
mulheres consideradas bonitas. Inicialmente a técnica era o contraste entre
preto e branco, mas depois foi trabalhada em tonalidades de laranja, vermelho,
amarelo e verde. Sobressaíram vários artistas, dentre eles, Kitagawa Utamaro,
que trabalhava com figuras femininas, Katsushika Hokusai e Ando Hiroshigue
com paisagens e Igusa Kuniyoshi com figuras humanas.
O estilo Ukiyo-ê foi um estilo popular de arte no Japão que trabalhava
com cenas de vida cotidiana, que pode ser traduzida como retratos do “mundo
flutuante”, que seria um nome irônico dado ao planeta Terra pelos budistas,
chamada de “mundo do desgosto”. Pode-se dizer que alguns pintores
ocidentais como Tolouse-Lautrec, Edgar Degas, Vincent Van Gogh, foram
influenciados pela arte Ukiyo-ê. A filosofia dessa arte é aproveitar cada
momento da vida, o mundo aqui e agora. Por isso, os pintores captavam fatos
e costumes cotidianos sobre blocos de madeira, e a produção era em massa.
6
DESENVOLVIMENTO
Pensando nos encontros e nas diferenças culturais existentes e sabendo
que devemos considerar as relações humanas com seus pares e também nos
confrontos das diferentes culturas, foi contemplado como objetivo deste
trabalho desenvolver um estudo interativo com base no respeito às diferentes
culturas, neste caso, especialmente a japonesa, que os sujeitos podem
apresentar sua cultura e oportunizar troca de experiências compartilhando com
todos os valores presentes nessa cultura.
Nesse sentido, o espaço possibilitado para realização de exposição da
identidade de diferentes sujeitos que formam a comunidade de um
Estabelecimento de Ensino é visto como uma forma de contribuir para a
formação do educando enquanto sujeito produtor de cultura, no qual possui
identidade e valores que perpassam através do tempo e, ao mostrar essas
diferentes culturas e recebendo por ela o respeito, é capaz de compreender as
diferenças existentes oriundas da multiculturalidade.
O grupo de adolescentes que participou dessa pesquisa é constituído de
alunos das oitavas séries do Colégio Estadual Barão do Rio Branco, em
Assaí/PR, e a intervenção pedagógica foi realizada entre os meses de março e
junho de 2009, com o objetivo de refletirmos juntos sobre temas ligados à
cultura japonesa, particularmente a pintura japonesa. Nesse espaço foi
possível a consideração sobre o que os alunos do ensino básico sabem sobre
as questões em destaque.
Na realização do levantamento e conhecimento da realidade houve a
investigação-ação abordando qualitativamente o tema Multiculturalidade,
buscando intercâmbio entre a arte da cultura japonesa e a prática pedagógica
dos professores de Arte no Colégio Estadual Barão do Rio Branco/Assaí.
Os alunos participantes desta pesquisa são das duas turmas de oitavas
séries, exatamente a “B” e a “C” do turno matutino, totalizando 70 que, para
iniciar o estudo, responderam ao questionário no mês de março, início do ano
letivo. O objetivo era fazer levantamento sobre o conhecimento que os alunos
tinham sobre cultura japonesa, particularmente a pintura, para investigar o grau
de conhecimento dos alunos sobre o tema e a importância manifestada.
7
A primeira questão apresentada foi sobre o conhecimento da Pintura
Japonesa que os alunos detêm, para verificarmos se era um conteúdo já
trabalhado em algum momento da vida escolar deles. E o resultado obtido foi
que os alunos nunca receberam informação ou conhecimento sobre a mesma.
Na sequência perguntamos sobre quais aspectos da cultura japonesa os
agradam, e eles manifestaram admiração por culinária, mangá, danças típicas,
taikô (tambor japonês), animê, festival Tanabata, origami, vestimenta, bon
odori, costumes, que estão sendo apresentados em ordem numérica
decrescente.
A culinária, um dos aspectos mais referidos na questão apresentada
anteriormente, pode se justificar pela presença da feira dos produtores do
município, que comercializam suas mercadorias semanalmente nas noites de
sexta-feira e no domingo, pela manhã, onde se pode notar a presença do
sushi, do sashimi, do manju, do motis e outros pratos típicos do Japão, que são
expostos e apreciados não só por descendentes, mas por grande parte da
população assaiense. O sushi é uma espécie de bolinho de arroz com recheio
de legumes, verdura, ou os mais atuais com atum, maionese, presunto,
envoltos numa folha de alga marinha. O sashimi é o filé de peixe cru,
degustado com shoyu, molho de soja salgada. Há também os manju e moti,
que são bolinhos doces recheados com doce de feijão. A massa do primeiro é
feita com farinha de trigo, e a da segunda, com arroz. Com a presença no
cotidiano dos alunos pode-se justificar a admiração por tal aspecto.
Indagando sobre festividades em Assaí que sejam de origem japonesa,
citaram o Bon odori e o Tanabata Matsuri, que fazem parte do calendário
municipal anual. As festividades como Bon Odori, festa em que se cultuam os
mortos, realizada no dia de Finados, e Tanabata, festa popular do país do Sol
Nascente, mais conhecido como Festival das Estrelas, também identificam a
cultura dos japoneses. A maioria dos alunos entrevistados disse que já
participou desses eventos e como era de se prever mencionaram como os que
mais os agradam. Houve também a ocorrência de citarem o Matsuri Dance, o
Taikô e o Festival de canto de música japonesa, ou o Karaokê, que também é
um acontecimento tradicional da comunidade nipônica de Assai, promovido
pela associação dos moradores da cidade há mais de cinqüenta anos.
8
Verificando sobre a ascendência ou descendência dos alunos obtivemos
o índice que, dos 70 alunos entrevistados, 48 nâo são de famílias que tenham
a descendência japonesa e 22 têm algum vínculo com famílias de origem
japonesa, revelando um número significativo da identidade japonesa.
Prosseguindo o questionário e tratando sobre a história da imigração
japonesa no Brasil, pois achamos importante trabalharmos sobre essa questão,
com o intuito de verificarmos o conhecimento que possuem, as ideias sobre a
vinda de japoneses para este país, pudemos constatar que 90% dos alunos
tem conhecimento sobre a história da vinda desses imigrantes e um pouco
menos de 10% desconhecem.
Na questão relacionada à Pintura Japonesa foi investigado sobre a
informação que possuem sobre algum pintor japonês, e obtivemos como
resultado que dos setenta entrevistados apenas dois responderam que já
conheciam algo a respeito, e, sobre os pintores brasileiros com ascendência ou
descendência japonesa, todos foram unânimes e consentiram que não têm
conhecimento.
Verificamos agora sobre a informação sobre algum pintor regional com
ascendência ou descendência japonesa. Foram citados nomes de parentes e
amigos que praticam a pintura não como profissão, mas como hobby.
Indagamos então se têm conhecimento sobre a existência de quadros pintados
tendo como autor algum descendente de japoneses. Vinte e dois alunos
responderam que há em suas casas, de seus parentes e amigos alguma obra
com esta em evidência, mas não conhecem realmente a sua origem.
E como última pergunta do questionário foi trabalhada sobre o interesse
desses alunos de receberem o conteúdo Arte Japonesa em suas aulas de Arte.
Dos setenta, sessenta e seis alunos manifestaram o desejo de ter esse
conteúdo trabalhado em suas aulas.
Concomitantemente foi desenvolvido o Grupo de Apoio à Implementação
pedagógica num processo colaborativo pela investigação-ação na Escola, que
visou contemplar o desenvolvimento de estratégias pedagógicas que pode
subsidiar as dificuldades ou lacunas presentes no cotidiano do nosso trabalho
escolar, tendo como participantes cinco professores inscritos inicialmente. Mas
9
com a aprovação de duas professoras no PDE 2009 e a desistência de uma
professora por motivos particulares, permanecemos num grupo de três
professoras para dar continuidade ao grupo.
O grupo de estudos proposto objetivou leitura e discussão do tema
multiculturalidade, que está em consonância com as Diretrizes Curriculares do
Governo do Estado do Paraná, destacando a educação para as diferenças,
primando pela educação multicultural.
A educação multicultural propõe competência em diversas culturas para
todos os alunos, promoção de harmonia intergrupos cruzando fronteiras
culturais e preservação das diferentes culturas oportunizando o conhecimento
e o domínio de diferentes códigos. E para que se concretize a educação
intercultural não basta mudar somente os conteúdos a serem trabalhados, mas
é preciso mudar a forma de abordar os mesmos e a maneira de ensinar. Não
adianta trabalhar somente uma ou duas vezes ao ano, pois assim transformar-
se-ia em mera curiosidade.
Nesse sentido, a proposta foi articular os problemas da realidade cultural
e escolar, trabalhando o tema da nossa realidade como conhecimento,
linguagem e cultura, contribuindo para o desenvolvimento e identidade numa
relação multicultural. A oportunidade de o aluno repensar levando-o à reflexão
e análise sobre as questões da imigração pôde reconstruir conceitos
significativos à compreensão da trajetória histórica que envolve a chegada dos
imigrantes no Brasil, principalmente no Paraná e no município de Assaí.
Nos encontros foram promovidas discussões sobre a inserção da Arte
Japonesa nas aulas de Arte, sabendo-se que é necessária a busca do
intercâmbio entre a arte da cultura japonesa e a prática pedagógica dos
professores de Arte. Tal atitude poderá possibilitar o desenvolvimento da
sensibilidade em relação à diversidade, articulando os problemas da realidade
cultural e escolar do município e região que apresentam múltiplas culturas.
Num dos encontros do mês de junho relatamos sobre as atividades
desenvolvidas no dia 18 de junho, Dia da Imigração Japonesa no Brasil, que
foram planejadas com o intuito de promover a educação multicultural,
possibilitando o conhecimento de alguns aspectos da cultura japonesa
10
presentes no município. Nas aulas da disciplina de Língua Portuguesa, a
professora trabalhou sobre o haikai apresentando aos alunos as características
e as regras desse poema e, posteriormente, cada discente produziu o seu.
Haikai é uma forma poética de origem japonesa que valoriza a concisão
e a objetividade, e os poemas têm três linhas contendo na primeira e na última
cinco letras japonesas e sete na segunda. O principal haicaísta do Japão foi
Matsuo Bashô (1644 – 1694) que se dedicou a fazer desse tipo de poesia uma
prática espiritual.
Dando continuidade à proposta, na aula de Arte, os alunos realizaram as
ilustrações dos seus haikai. Podemos demonstrar dois dos trabalhos realizados
em nossa aula.
Fig. 1: Jhenifer Soares da Silva. Fig. 2: Kawanny H. Pereira Kawamura Haikai e ilustração. Haikai e ilustração. Fonte: Portfólio da professora pesquisadora. Fonte: Portfólio da professora pesquisadora. Trabalho digitalizado. Trabalho digitalizado.
Ainda na aula de Arte os alunos praticaram a arte do Origami, arte
milenar japonesa que surgiu há mais de mil anos na Corte Imperial. Era um
passatempo divertido e interessante que, com o passar do tempo, o povo
japonês teve acesso a esta arte com muito entusiasmo e houve ampla
11
divulgação. Na aula de Matemática o professor trabalhou o sudoku, jogo de
raciocínio e lógica que significa “número único”. É uma espécie de cruzadas
composto somente por números.
Fig. 3: Daniel Hitoshi Ueda. Fig. 4: Eliana Junko Tamura. Origami. Origami. Fonte: Portfólio da professora pesquisadora. Fonte: Portfólio da professora pesquisadora Trabalho digitalizado. Trabalho digitalizado.
Fig. 5: Juliana Kaori Ishii. Fig. 6: Mayara Z. Canedo da Silva. Origami. Origami. Fonte: Portfólio da professora pesquisadora. Fonte:Portfólio da professora pesquisadora Trabalho digitalizado. Trabalho digitalizado.
12
Quanto ao Matsuri Dance planejado para ser trabalhado nas aulas de
Educação Física, infelizmente não foi possível. Conversamos sobre o estilo de
dança citado e muitos dos nossos alunos das oitavas séries já conheciam, pois,
muitos frequentam ou já frequentaram o curso de Língua Japonesa do CELEM
(Centro de Línguas Estrangeiras Modernas), modalidade de ensino oferecido
pelo Colégio através da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Neste
curso se trabalham vários aspectos da cultura japonesa, inclusive as danças
típicas, e felizmente muitos já conheciam a referida dança. Muitos alunos
sugeriram que trabalhássemos numa próxima oportunidade.
Algumas atividades que consideramos relevantes para promoção do
multiculturalismo foram trabalhadas, e também alguns temas que acreditamos
que enriqueceram e ampliaram o olhar para as diferenças, e que resultou na
valorização da cultura local.
Outra atividade desenvolvida durante o primeiro semestre deste ano foi
a implementação da Produção Didático Pedagógica - Folhas com o título
“Viajando e conhecendo a Arte Japonesa” que apresenta a proposta dos
alunos conhecerem um pouco sobre a Arte Japonesa: a história, os estilos,
alguns artistas especialmente os pintores, e a história da imigração japonesa
no Brasil e em Assaí. Os alunos foram instigados a pesquisar, conhecer e
refletir sobre a história de sua comunidade, da sua cultura e principalmente
sobre o multicultural para perceberem que muitas vezes algumas atitudes
fazem parte do cotidiano deles e não percebem que é resultado da fusão de
costumes de várias etnias que fazem parte daquela comunidade.
Foi realizada a coleta de dados sobre a opinião dos alunos sobre o tema
trabalhado na forma de questionário. Na primeira questão indagamos sobre as
diferenças que eles observaram entre a Arte Ocidental e a Arte Japonesa, e os
alunos responderam que a japonesa segue padrão de cores fantásticas
pintando sobre a natureza que representa o equilíbrio, mostrando um mundo
em perfeita harmonia e serenidade. Segundo os alunos, o Monte Fuji é o
principal motivo para representar a paisagem japonesa, mas a vida cotidiana
também é retratada na pintura. A tinta mais empregada sob o ponto de vista
dos alunos é a aquarela, onde são representados os tigres e dragões, as
13
gueixas eventualmente, e a assinatura dos artistas é motivo de curiosidade,
pois é utilizado o ideograma japonês, o kanji.
Na organização de material didático pela professora/pesquisadora, como
o Folhas, foram sugeridos alguns nomes de pintores japoneses a serem
pesquisados, os quais os alunos acataram e buscaram: Katsushika Hokusai
que é o autor de uma sequência de pinturas chamada de “trinta e seis vistas do
Monte Fuji”. Pesquisaram também sobre Ando Hiroshigue, Kitagawa Utamaro,
Toshusai Sharaku e observaram as diferenças existentes entre a pintura
ocidental e a japonesa tantos nos temas, cores e traços.
Em relação a artistas brasileiros contemporâneos com descendência
japonesa os alunos pesquisaram sobre Manabu Mabe e Tomie Ohtake,
sugeridos pela professora/pesquisadora. O que os alunos acharam relevante
lembrar do artista Manabu Mabe é o fato de ele ter sido agricultor, e que, mais
tarde, descobriu a verdadeira paixão: a pintura; e que esta trabalhava com o
corpo e a mente. Manabu Mabe foi considerado um dos renomados pintores
japoneses conforme consta na pesquisa dos alunos. Sobre Tomie Ohtake os
alunos descobriram que ela era dona de casa e começou a pintar com seus
quarenta anos, mostrando assim que a arte não tem fronteira e nem idade
(http://www.institutotomieohtake.org.br/tomie/tetomie.htm). Alguns alunos
consideraram importante entrevistar a artista local, a senhora Maria Teruko de
Oliveira, pintora de temas como paisagens, natureza morta, casario, nu
artístico, mas o preferido da artista são flores empregando a técnica
espatulada. As obras dela podem ser vistas no Colégio Barão e relatou aos
alunos da sua participação em mostras no espaço do Banco Itaú, agência de
Assaí, em alguns estabelecimentos comerciais como Josianne Modas e
Monalisa Móveis.
Sobre o conhecimento dos alunos sobre a história da Imigração
japonesa no Brasil pudemos observar que eles conhecem a data de chegada e
o nome do navio que trouxe a primeira leva de imigrantes. Eles relatam
também sobre o motivo da vinda desses imigrantes, que era para fugir da crise
que atingia o Japão no início do século XX, e que eram, em sua maioria,
camponeses oriundos de regiões pobres. Os alunos têm dados que os
imigrantes pensavam que chegariam ao Brasil e teriam uma vida melhor
14
trabalhando na agricultura e conseguiriam dinheiro rapidamente para
retornarem ao seu país. Mas sabem que não foi bem assim o ocorrido. Os
imigrantes enfrentaram muitas dificuldades que nem imaginavam: primeiro a
comunicação entre eles e os administradores das fazendas que foram trabalhar
era muito complicado, além das diferenças na alimentação, no clima e
principalmente nos hábitos do dia a dia. Citam também que a maioria dos
imigrantes japoneses dirigiu-se para o oeste paulista para trabalhar nas
fazendas de café. Mas o mais importante desse trabalho é que os alunos
mencionaram sobre a superação desses imigrantes que hoje unem costumes e
outros aspectos que fazem do Brasil um país multicultural.
Em relação à história da colonização do município de Assaí eles
escreveram que têm conhecimento da presença principalmente de imigrantes
japoneses que fundaram a cidade entre morros, e a causa que atraíram tantas
pessoas foi a terra roxa, que é fértil para a prática da agricultura,
principalmente da cultura de café, e, mais tarde, de algodão. O primeiro nome
do povoado foi Assahiland – Terra do sol nascente.
Para investigar sobre a presença de pinturas que tenham autoria dos
descendentes de japoneses nas residências da comunidade assaiense, foi
apresentada a questão, e alguns alunos responderam que observaram nas
suas casas, de seus parentes ou conhecidos, algumas obras. Citaram que os
quadros que viram apresentam cores fortes, representando animais, como
tigres e águias, o Monte Fuji, ou ainda os castelos.
Inspirando-se em temas e obras apresentadas os alunos desenvolveram
as suas composições levando em consideração o que haviam aprendido até o
momento sobre a pintura japonesa, como as cores e as paisagens preferidas
por alguns artistas. Apresentamos alguns dos trabalhos realizados por alunos
das oitavas séries.
15
Fig. 7: Danilo dos Santos. Desenho. Fonte: Portfólio da professora pesquisadora. Trabalho digitalizado.
Fig. 8: Eduardo Koura Veroneze. Desenho. Fonte: Portfólio da professora pesquisadora. Trabalho digitalizado.
16
Fig. 9: Eric Yudi Harada. Desenho. Fonte: Portfólio da professora pesquisadora. Trabalho digitalizado.
Fig. 10: Kevin Ferreira Hikida. Desenho. Fonte: Portfólio da professora pesquisadora. Trabalho digitalizado.
17
Diante dos dados obtidos podemos inferir que a maioria dos alunos tem
conhecimento sobre a vinda dos japoneses ao Brasil, provavelmente pela
comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no ano de 2008, em que
houve um grande movimento de informação, divulgação e festividades em todo
o Brasil.
18
CONCLUSÃO
Com tanta influência da cultura japonesa, por que nós professores de
Arte, não trabalhamos em nossas aulas essa cultura de modo significativo? A
presença da cultura japonesa no nosso dia-a-dia é evidente. O tema
multiculturalidade está em consonância com as Diretrizes Curriculares do
Governo do Estado do Paraná, que destaca a educação para as diferenças,
primando pela educação multicultural, que tem como objetivo promover uma
educação mais reflexiva, na qual os alunos podem se tornar mais conscientes
de seu papel como intérpretes culturais, trazendo de seu meio de convívio
diário, o seu conhecimento, as suas experiências para dento da escola.
Poderemos assim propor conhecimento e valorização de características
étnicas e culturais de diferentes grupos sociais, e incluir aos alunos a
possibilidade de novos conhecimentos do Brasil complexo, multifacetado,
valorizando diferentes etnias, o que não significa aderir aos seus valores, mas
respeitar como expressão nesse contexto, as manifestações da Arte
multicultural escolar e não-escolar.
A cultura japonesa se faz presente no Brasil oficialmente há 100 anos,
pois no ano de 2008 foi comemorado o centenário da Imigração Japonesa no
Brasil. A presença ou a influência da cultura japonesa pode ser encontrada em
quase todas as famílias de Assaí, na gastronomia, na participação de festas ou
eventos e na formação das famílias, que se pode perceber atualmente, pois é
muito raro não haver miscigenação de etnias. Há ainda o fator dos familiares
de descendentes irem ao Japão a trabalho, os chamados dekassegui, o que
amplia mais a possibilidade de intercâmbio de culturas.
Assim, inserindo a cultura da Arte Japonesa nas aulas de Arte,
poderemos promover e desenvolver a sensibilidade com relação à diversidade
cultural até então não trabalhada e pontuando assim, que uma parte do corpo
discente da escola, os alunos, têm origem e descendência japonesa, ou faz
parte dessa comunidade, o que justifica trazer para além de outras artes
também a cultura da arte japonesa para o cotidiano escolar.
19
O professor deve promover a aproximação dos alunos e sua identidade
com a herança cultural e artística, na qual possam conhecer os aspectos da
cultura através das diferentes manifestações. A arte necessita estar vinculada à
vida dos alunos na esfera pessoal, regional, brasileira e internacional, que dê
oportunidade de participação no processo de transformação do aluno na
sensibilidade e saber em arte, e que propicie qualidade positiva nas escolas.
Não basta o professor trabalhar o Multiculturalismo somente em algumas
datas durante o ano, como na Semana do Folclore, por exemplo, pois isso
provocaria apenas uma simples curiosidade e a cultura é um processo
dinâmico, contínuo, de tradição e com significado. O ser humano possui
competência cultural com múltiplas possibilidades, e havendo o intercâmbio de
culturas seria possível a troca de experiências, e não a ruptura com sua
identidade de grupo como alguns têm receio. No caso da arte no Japão “[...] é
especialmente intrigante para um multiculturalista ocidental, uma vez que ele
adotou os conceitos estéticos ocidentais enquanto retém uma identidade
artística única [...]” (MASSON, 2001, p. 40).
Há muitas vantagens em trabalhar o multiculturalismo, tais como:
possibilidade de cruzar fronteiras culturais e promoção de harmonia entre os
grupos; preservação da cultura e da harmonia com o desenvolvimento de
competências interculturais num mundo de conflitos; integração entre todos os
alunos desenvolvendo a competência em várias culturas; desenvolver o
conhecimento e a capacidade de lidar com outros códigos culturais; possibilitar
a mudança no meio educacional através da promoção da igualdade.
Para que a educação multicultural aconteça, não basta haver mudança
somente nos conteúdos, mas na forma de abordagem e metodologia de
ensino. Cada cultura deve ser respeitada dentro de sua especificidade tomando
o cuidado para que não ocorra a igualdade entre todas as culturas, e sim o
respeito pela identidade de cada cultura e sua Arte presente no contexto
escolar, com possibilidades de vivências entre culturas para a compreensão
crítica da cultura artística e, dentre essas, a cultura da arte japonesa.
Pudemos ainda, propiciar a oportunidade de o aluno repensar, levando-o
à reflexão e análise sobre as questões da imigração. Dessa forma o aluno pôde
reconstruir conceitos significativos à compreensão da trajetória histórica que
20
envolveu a chegada dos imigrantes no Brasil, principalmente no Paraná e no
município de Assaí.
Nesse sentido, o espaço ofertado para realização de exposição da
identidade de diferentes sujeitos que formam a comunidade de um
Estabelecimento de Ensino é visto como uma forma de contribuir para a
formação dos educandos enquanto sujeitos produtores de cultura, pois
possuem identidade e valores que perpassam através do tempo e, ao mostrar
essas diferentes culturas e recebendo por ela o respeito, é capaz de
compreender as diferenças existentes oriundas da multiculturalidade. Portanto,
de forma geral o tema poderá enriquecer o conhecimento do educando
contribuindo de forma qualitativa para a formação identitária.
Pensando nos encontros e nas diferenças culturais existentes e sabendo
que devemos considerar as relações humanas com seus pares, e também nos
confrontos das diferentes culturas, sugere-se que as ações deverão contemplar
o desenvolvimento de um trabalho interativo com base no respeito às
diferentes culturas. E que os sujeitos possam apresentar sua cultura
oportunizando a troca de experiências e compartilhando com todos os valores
presentes nessa cultura.
Poderá ainda, oportunizar ao aluno a reconstrução de conceitos
significativos para a compreensão da trajetória histórica que envolve a chegada
dos imigrantes no Brasil, principalmente no Paraná e no município de Assaí,
não só dos japoneses, mas também de outras etnias.
21
REFERÊNCIAS FUSARI, Maria F. de Rezende; FERRAZ, Maria H. C. de Toledo. Arte na Educação Escolar. 2 ed. rev. São Paulo: Cortez, 2001. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade . 4.ed. Rio de janeiro: DP&A, 2000. LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação : abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MASON, Rachel. Por uma educação multicultural . Campinas: Mercado das letras, 2001. RICHTER, Ivone Mendes. Interculturalidade e estética do cotidiano no ensino de artes visuais . Campinas: Mercado das letras, 2003. SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico- crítica: primeiras aproximações. 2.ed. São Paulo: Cortez, 1991. THOMAZ, Osmar Ribeiro. A antropologia e o mundo contemporâneo : Cultura e diversidade. Cap. 17, s.ed, s/d. Folha Imin 100. Suplemento da Folha de Londrina. 18 de junho de 2008. Arte Japonesa . <http://www.pitoresco.com.br/art_data/japonesa/index.htm> Acesso em 04 nov. 2008. Hatsushika Hokusai . <http://pt.wikipedia.org/wiki/Katsushika_Hokusai> Acesso em 04 de nov. 2008. Manabu Mabe . http://www.mabe.com.br/> Acesso em 30 out. 2008. Pintura Japonesa . <http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_do_Jap%C3%A3o> Acesso em 03 nov. 2008. Tanabata Matsuri . <http://pt.wikipedia.org/wiki/Tanabata> Acesso em 31 out. 2008. Tomie Ohtake . http://www.institutotomieohtake.org.br/tomie/tetomie.htm> Acesso em 30 out. 2008. Ukiyo-e . <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ukiyo-e> Acesso em 03 nov. 2008.