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ARTE CONTEMPORÂNEA, PÚBLICO E MEDIAÇÃO

RIBEIRO, Susan Kelen1

Palavras-chave: arte contemporânea, mediação, formação continuada.

Introdução

O presente trabalho é um relato das experiências vivenciadas a partir das

atividades de monitoria desenvolvidas durante o período da exposição Contendo

Arte2 e também durante o trabalho realizado como bolsista PROBEC3 no Polo Arte

na Escola Goiás4. O foco das observações realizadas nestas duas ocasiões dirige-

se para a relação das pessoas com a arte contemporânea.

Uma das percepções adquiridas durante o processo de monitora no projeto

Contendo Arte foi a importância da proximidade e disponibilidade dos espaços

expositivos para a comunidade. Muitos dos que visitaram os três containers

espalhados por Goiânia durante a Revirada Cultural de 2011, nunca antes haviam

tido um contato mais próximo com a arte contemporânea, ou nem ao menos

haviam visitado sequer uma única exposição de arte em galerias, museus ou

outros espaços. A equipe de monitoria exerceu um importante papel de mediação

nesse processo de contato entre arte e público. Segundo Hímmen,

Ao transformar os containers em galerias espalhadas pela cidade, o projeto aproxima a arte da população – e não ao contrário, como costumamos observar. Esse, aliás, é o mote da Contendo Arte:

Resumo revisado pelo Coordenador da Ação de Extensão “Grupo de Estudos: Midiateca Arte na Escola”, código FAV-216. Nome do coordenador: Manoela dos Anjos Afonso. 1 Acadêmica do curso Artes Visuais – Habilitação em Artes Plásticas – FAV/UFG.

[email protected] 2 Mostra sustentável de artes plásticas que aconteceu dentro de containers entre os dias 14 de

setembro e 14 de outubro dentro da programação da 2ª Grande Revirada Cultural de Goiânia, uma parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura e a Plus Galeria. 3 Programa de Bolsas de Extensão e Cultura que tem a finalidade de apoiar o desenvolvimento de

ações de extensão e cultura das Unidades e Órgãos da Universidade Federal de Goiás. 4 Programa de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Goiás que, por intermédio da

Faculdade de Artes Visuais, mantém desde 2003 uma parceria com o Instituto Arte na Escola (IAE/SP), incentivando e priorizando ações voltadas à formação continuada de professores que atuam nas disciplinas de artes nas redes municipal e estadual de ensino.

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educar o olhar da comunidade tão desacostumada a interagir com elementos artísticos no dia a dia. É a democratização da arte, sob vários aspectos. (Hímmen, 2011).

Essas pessoas que se viam “perdidas” diante de uma “obra de arte”,

principalmente em se tratando de arte contemporânea, que muitas vezes causa

inquietações por tratar de temas tão diversos de maneira questionadora e

diferenciada, e por meio de materiais diferentes dos habituais, puderam entrar em

contado próximo e direto com as obras de uma maneira bem intimista. A arte

contemporânea é vivida não só pela produção artística em si, mas também pelos

questionamentos que é capaz de provocar. De acordo com Cauquelin,

Para aprender a arte como contemporânea, precisamos, então, estabelecer certos critérios, distinções que isolarão o conjunto dito “contemporâneo” da totalidade das produções artísticas. Contudo, esses critérios não podem ser buscados apenas nos conteúdos das obras, em suas formas, suas composições, no emprego deste ou daquele material, também não no fato de pertencerem a este ou àquele movimento dito ou não de vanguarda (Cauquelin, 2005, p.17).

Segundo Cauquelin (2005), a arte contemporânea não é dada apenas pelo

caráter digamos tátil, palpável da obra, por sua visualidade, manusealidade e

ferramentas, mas também pelo conteúdo implícito na obra, seus conceitos e

questionamentos, o que aumenta a necessidade de orientação e mediação desse

novo público de arte, de olhar “desacostumado”. Sendo assim, além de atuar na

comunidade estimulando outros olhares pelo contato direto com a arte – como no

caso do projeto Contendo Arte, percebe-se também urgente promover e manter

uma aproximação da arte contemporânea com professores do ensino formal por

meio de iniciativas que pensem ações para a escola, tais como as propostas

oferecidas pelo Polo Arte na Escola - Goiás.

O Polo Arte na Escola – Goiás tem como um de seus projetos de extensão

o “Grupo de Estudos Midiateca Arte na Escola: formação continuada de

professores de artes visuais”, que proporciona ações de educação continuada

para professores de artes. As atividades propostas pelo Polo Arte na Escola vão

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desde a frequentação problematizada a espaços expositivos, até estudos teóricos

sobre o ensino de artes, conversas com artistas e todo um conjunto de vivências

de ordem prática, poética e pedagógica voltado para as artes.

Metodologia

O presente trabalho foi desenvolvido por meio de pesquisa teórica

bibliográfica, porém com base em levantamentos de campo anteriores, feitos por

meio de observações e anotações produzidas no decorrer dos meses de agosto

de 2011 a março de 2012. A pesquisa se deu de maneira exploratória, tendo como

etapas iniciais “a caracterização inicial do problema, sua classificação e sua

definição” (Rodrigues, 2007, p. 6). Depois de definido o problema, a pesquisa

segue agora em fase de aprofundamento. Buscou-se identificar as estratégias

adotadas tanto na mostra Contendo Arte quanto nas ações do Grupo de Estudos

do Polo Arte na Escola para aproximar o público em geral e os professores de

artes da produção em arte contemporânea. As classificações de Rodrigues (2007)

proporcionaram uma organização de ideias e conteúdos apresentados neste

trabalho, orientando o levantamento bibliográfico, assim como a pesquisa e o

estudo de caso, proporcionando maior familiaridade com o problema.

Resultados e discussão

Durante a monitoria no Contendo Arte foram observadas diversas reações

frente à exposição. Uma delas despertou a atenção: “O que é isso aí? Arte?

Tenho tempo pra isso não!”, disse um senhor ao ser convidado para entrar e

conhecer a exposição no container instalado no centro de Goiânia. Segundo

Hernández,

(...) não nos soa estranho que hoje se fale com preocupação do aumento de “analfabetos visuais” e que surjam vozes clamando pela reestruturação da Escola, dos museus e das universidades, de maneira que, nestas instituições seja possível aprender práticas vinculadas a um novo analfabetismo visual (Hernandéz, 2007, p. 29).

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Hernández fala sobre o não entendimento ou não dimensão das imagens

que nos cercam, tendo o analfabetismo visual, não com um sentido pejorativo,

mas de modo a entender o analfabeto visual como aquele que, apesar de estar

rodeado por imagens, não tem a dimensão de reconhecer o que está à sua volta.

Entre essas vozes que buscam e exercitam estratégias de transformação

pela arte está o grupo de estudos “Midiateca Arte na Escola: formação continuada

de professores de artes visuais”, vinculado ao Polo Arte na Escola – Goiás, sob a

coordenação de Manoela dos Anjos Afonso. O grupo apresentou, em 2011,

algumas reflexões sobre as atividades que foram desenvolvidas ao longo do ano,

durante o processo de visitação e enfrentamento com a produção contemporânea

em artes visuais. Afonso (2011) descreve o processo de trabalho em grupo com

foco na formação de professores e a importância do contato com a arte desde os

ciclos iniciais na escola: “Nossa polifonia foi afinada a partir do desejo de conhecer

e transformar realidades. Nossas “vozes” juntam-se em coro para espalhar a boa-

não-tão-nova do poder transformador da arte e da importância da sua presença na

escola” (Afonso, 2011, p. 9, grifo da autora). Essa polifonia, esse conjunto de

vozes, diz respeito à diversidade de campos de atuação das próprias professoras

integrantes do grupo: pedagogia, psicologia, letras, história e artes visuais. A

pluralidade, a disposição e o desejo do grupo em conhecer o universo das artes,

permitiram o seu desenvolvimento, inclusive fazendo florescer a vontade ou a

necessidade de repercutir os resultados obtidos e atingir os professores da rede

municipal de ensino.

Conclusões

Containers que serviam para transporte de cargas foram apropriados como

espaços expositivos para as artes visuais. Aquelas pessoas que adentraram por

estas “galerias” dispostas em espaços públicos, mesmo que apenas por um

período determinado de tempo, levaram para casa um pouco dessa nova “carga”,

uma carga cultural que viria a se misturar àquela carga de cultura que cada um já

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traz consigo. Fazendo uma conexão com as atividades vivenciadas no Polo Arte

na Escola, pode-se afirmar que os professores participantes do grupo de estudos

também se permitiram vivenciar as artes visuais por meio de experiências e

vivências diretas com as obras dispostas nos espaços expositivos. Esta foi uma

estratégia de provocar um “contágio” primeiro nestes professore para, em seguida,

chegar aos alunos. Destaca-se, então, a importância de fomentar cada vez mais

iniciativas que possibilitem e estimulem a proximidade, o contato e a frequentação

do público aos espaços da arte, sejam eles convencionais ou não. Vale ressaltar

que é importante desenvolver atividades neste sentido tanto na formação

continuada de professores de artes, que vão atuar nos primeiros ciclos escolares,

quanto na vivência das artes pelo público em geral, para que aqueles que não

mais frequentam a escola tenham a mesma oportunidade de entrar em contato

com esta produção artística atual, também de forma crítica, prazerosa, com todos

os estranhamento a que têm direito.

Referências Bibliográficas HIMMEN, Lydia (2011). Contendo ARTE, Mostra Sustentável de Artes Plásticas. Goiânia – Goiás, Brasil. Disponível em: <http://plusgaleria.com.br/blog/?p=1612>. Acesso em 9 de março de 2012. CAUQUELIN, Anne. Arte Contemporânea: uma introdução. São Paulo: Martins, 2005. RODRIGUES, Costa William. Metodologia Científica. Paracambi: FAETEC/IST,

2007. HERNÁNDEZ, Fernando. Catadores da cultura visual: transformando fragmentos em nova narrativa educacional. Porto Alegre: Mediação, 2007. AFONSO, Anjos Manoela. GRUPO de estudos midiateca Arte na Escola:

formação continuada que parte do desejo de conhecer. In: IV Edipe: Encontro Estadual de Didáticas e Práticas de Ensino. Para uma realidade complexa, que escola? Que ensino? Disponível em: < http://www.ceped.ueg.br/anais/ivedipe/pdfs/artes/co/274-587-1-SM.pdf>. Acesso em 9 de março de 2012.