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Arte como Movimento Social

Ruth Maciel Domingues1

Ms Roberto Pitella2

Resumo:

O presente artigo uma reflexão a partir do Projeto de Desenvolvimento Educacional - PDE 2010/2011, elaborado, desenvolvido e implementado no Projeto de Intervenção realizado no Colégio Estadual Alfredo Chaves, município de Colombo – PR , para alunos do 1º ano do 2º grau,a partir do 2º semestre de 2011. O projeto “Arte como Movimento Social” teve como ponto de partida uma pergunta: Arte e Política podem estar presentes em uma obra? Como este artista poderia romper barreiras, explorar outros espaços não convencionais, igualmente, dando outra roupagem em um objeto artístico no uso de objetos do cotidiano levando o espectador a reflexão sobre a sua existência? Definida a linha de pesquisa a ser estudada: “Arte como Movimento Social: A manifestação do artista através das obras de Arte”. A Arte Conceitual foi o movimento com mais expressividade para o projeto, pela maneira que os artistas questionaram o conceito de Arte, a sociedade e os espaços oficiais e alternativos. Como a disciplina de Arte é formadora de conhecimento e reflexão crítica, pretende-se aprofundar o conteúdo sobre a ditadura Militar, para que o aluno compreenda que a corrente artística, Arte Conceitual, enfatiza o comportamento, a forma que o artista se posicionou como um critico social, enquanto arte denúncia, com as obras de Cildo Meireles, que viveu neste período e Julio Manso, residente em Curitiba, que tem a política como referência em suas obras.

Palavras chaves- Arte conceitual, imagem, política,ditadura da imagem, olhar

Abstrac

This article provides an analysis from the Project for Educational Development - PDE 2010/2011, designed, developed and implemented in the Intervention Project held at the State College Alfredo Chaves, a city of Colombo - PR, for students in 1st year of 2nd degree from the second half of 2011.The project "Art as a Social Movement" had as its starting point a question: Art and Politics may be present in a work? As this artist could break down barriers, exploring other unconventional spaces, also giving a different guise in the art object in the use of everyday objects taking the viewer to reflect on their lives? Defined line of research to be studied: "Art as a Social Movement: The manifestation of the artist through works of art." The Conceptual Art movement was more expressive for the project, by the way that artists have questioned the concept of art, society and the official and alternative spaces. As the discipline of Art is formative knowledge and critical thinking, aims to deepen the content of the military dictatorship, so that the student understands that the current art, Conceptual Art, emphasizes behavior, so that the artist has positioned itself as a social critic, as art complaint with the works of Meireles, who lived during this period and Julio Manso, based in Curitiba, which has a policy by reference in their works.

1 Pó -graduada em História e Filosofia das Ciências/ IBPEX, graduada em Educação Artística – UFPR. Professora de Arte da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná desde 1988. Cursando o Programa de Desenvolvimento Educacional- PDE 2011/2012 pela

Escola Música e Belas Artes do Paraná - EMBAP.

2 Mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia. Professor de Fotografia e Multimídia -EMBAP

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1. Introdução

Não se pode precisar com exatidão, na linha do tempo da humanidade,

quando a arte e a linguagem iniciaram. Em livros da História da Arte encontramos no

capítulo Arte Pré – Histórica, imagens de bisão, cavalos, bois, mamutes e veados, a

exemplo da caverna de Lascaux, França. Estudiosos da Arqueologia acreditam que

os habitantes das cavernas pintavam para garantir uma boa caça (Strickland,2002,

pg.4).

A sociedade primitiva por estar mais próxima do inicio civilizatório da

humanidade serve de parâmetro temporal para o estudo da Arte. Na cultura dessa

sociedade, não houve diferença entre edificar e fazer imagens referente a sua

utilidade “...as imagens são feitas para protegê-los contra outros poderes que para

eles, são tão reais quanto as forças da natureza” (Gombrich, 2006, pg. 40). O

homem em contato com arte, tem um,a visão de mundo não de forma fragmentada,

e sim de maneira integral.

A arte capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la como transformá-la, aumentando-lhe a determinação de torná-la mais humana e a mais hospitaleira para a humanidade. A Arte,ela própria, é uma realidade social “(Fischer,1987. p.57)

A linguagem não verbal inicia com a imagem que desenvolve um sentido e

significado dentro de uma cultura. O sentido que uma única imagem produz pode ser

encontrado em outras anteriores a ela. Um discurso marca o que se pode exprimir

por meio de imagens. Ao observar uma imagem faz-se relação com objetos já

conhecidos, portanto, a imagem tem um sentido e um significado ao qual se interliga

com outras imagens similares. Destacando que toda imagem é produzida pelo

homem, reforça-se um duplo olhar: a do criador, anônimo atrás da composição

visual: outro lado está o olhar do espectador, subjugado pelas intenções do autor;

contudo, um olhar crítico poderá dar outro significado a imagem.

A influência que as mídias, tem no imaginário da população, sendo elas

responsáveis pela produção e divulgação das informações criam mecanismos de

ligação nos diferentes veículos de comunicação, principalmente os eletrônicos,

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rádio, televisão, vídeo e internet. Tais meios competem com a instituição escolar no

que tange ao seu papel de “formadora de opinião e fonte de conhecimento”.

(Barros,2003. P29)

A problemática é que as informações requerem leituras subjetivas que

passam inadivertidamente ideologias influenciadoras em nossas escolhas. Em sala

de aula ao utilizar imagens presentes na mídia para aprofundar o conhecimento de

um determinado conteúdo reproduz-se sem críticas. Nesse sentido, o discurso

ideológico subliminar é assimilado sem quaisquer discussões. Embora, o Regime

Militar tenha se encerrado em 1985, que tanto limitou a liberdade de criação, não

diferente, atualmente, nos aprisiona a ditadura da imagem.

Mediante ao exposto o projeto pretende abrir para reflexão em sala de aula o

questionamento:

Como pode o artista por meio do objeto artístico criar uma consciência

política?

A apresentação do projeto, primeiro para os professores do colégio e depois

para o grupo de alunos participantes, causou estranheza o fato de atrelar dois

conceitos distintos.

Política e Arte são palavras independentes, mas que se entrelaçam. A Arte

está ligada à criação do homem, à interferência de um espaço. Na Política se insere

todos os segmentos, ou seja, não só o conceito de política partidária, como também

as relações humanas, na condução da sociedade. Alias, o discurso político tem o

poder de manipular as pessoas de acordo com os grupos que estão no poder.

A reflexão que se propõe norteará os alunos na construção de conceitos

pertinentes ao conhecimento sistematizado, resultando em filtros aos preconceitos

que atingem os diversos tipos de expressão artística , que muitas vezes são

consideradas demasiado intelectuais para o público leigo.

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Assim, este Projeto visa apresentar uma nova leitura mais aberta para o

entendimento dos alunos, ao ampliar a sua percepção e o seu conhecimento

estético e artístico, contribuindo para a formação de um público que realmente seja

capaz de sentir e perceber uma obra de arte.

Sabe-se que o homem é um ser social e a necessidade de se relacionar faz

com que ele crie códigos para expressar idéias e sentimentos. Isto é uma forma de

se relacionar com o mundo, por meio da linguagem e produção.

A Arte sofre alterações no decorrer do tempo assim como toda a sociedade,

portanto, nas artes visuais, percebem-se também mudanças no desenvolvimento

das representações artísticas, além da sua função social: pode ser mágica ou

utilitária como na Arte Rupestre, ser religiosa como na Arte Egípcia, ser ideológica e

política, ou mera mercadoria para simplesmente transmitir prazer. São várias facetas

que a Arte apresenta no tempo e no espaço, uma vez que ela depende da visão de

mundo do artista que a produziu.

A trajetória histórica do homem através dos tempos está repleta de guerras,

conflitos, repressão à liberdade. Neste projeto não foi apontado as lutas ideológicas

por meio da Arte.

...toda arte é condicionada pelo seu tempo e representa a humanidade em consonância com as ideias e aspirações, as necessidades e as esperanças de uma situação histórica e particular. Mas ao mesmo tempo, a arte supera limitação e, dentro do momento histórico, cria também um momento de humanidade que promete constância no desenvolvimento.(Fischer. 1987. p 17).

Esse conjunto de conhecimentos deve ser o ponto de partida para que a

leitura da obra componha a prática pedagógica, que inclui a realidade e seu entorno,

a experiência do aluno e a aprendizagem pelos elementos percebidos por ele na

obra de arte.

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1.1 Ler o Mundo

A vida contemporânea está cercada por imagens, a era da cultura visual. Com

o desenvolvimento da tecnologia, tornou-se possível a reprodução artística em alta

escala, ampliando seu público e possibilitando a expansão do conhecimento. As

crianças menores têm uma afinidade no trato de imagens pela interação com

videogames e computadores, desde cedo produzem e consomem imagens de toda

ordem. (Rossi, 2006 p9).

O uso de imagens na disciplina de Arte oportuniza ao aluno ler os símbolos

de uma composição. Para que ocorra esta interpretação de símbolos, o educador

deverá analisar todo contexto onde o aluno está inserido, para que possa

desenvolver ou aprimorar o senso estético que compõe o conhecimento. O olhar

estético tem natureza e função diferentes do olhar do cotidiano. (Rossi, p11).

A disciplina de Arte sempre privilegia em seu currículo os movimentos

artísticos e artistas que se destacaram em seu tempo numa visão histórica. Ao

buscar novas concepções é preciso antes demonstrar que a Arte não é só

contemplativa, o expectador não permanece passivo diante de uma obra, algum

juízo é emitido. Resta, portanto, transformar essa ação em questionamento e, por

conseguinte em reflexão sobre o simbolismo expresso na obra.

Ao estudar os movimentos artísticos na história da Arte, nota-se que um

movimento inspirou outra corrente artística. A exemplo, o resgate da obra de

Marchel Duchamp, o readymade, foi fundamental na Arte Conceitual que se

fundamentou como uma das vertentes principais. (Freire, 2006, p.33)

O readymade levanta uma discussão, entre o objeto do cotidiano e quando

ele se transforma em objeto de arte, por consequência a “natureza da criação e da

critica da arte contemporânea” (Freire 2006, p.37).

Com esta apropriação do objeto do cotidiano e transformá-lo em obra de arte,

o artista muda a percepção do público e vice-versa. O objeto de arte sofre mutação

passa de uma visão retinal, agradável aos olhos, contemplativa, para uma arte

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imaginária. Ao se fazer a interferência no espaço da exposição esta revela novas

maneiras de olhar vida e arte no mesmo espaço.

No entendimento de Duchamp, na criação de uma obra de arte, há uma

relação quase matemática que ele chama de “coeficiente de arte”. Ao produzir um

objeto de arte, o artista tem uma intenção e do outro lado o espectador tem outro

entendimento, não aquela primeira que passa despercebida pelo artista. Para ele, “a

obra é realizada duas vezes, uma pelo artista depois pelo observador”. A mudança

de interpretação é importante no processo criativo do público. Meyer Schapiro vai

além, ao escrever que o expectador ao apreciar uma obra de arte se “modifica com

novas observações e novas interpretações” de acordo com a sua experiências de

vida. O autor define assim que “a visão crítica não é uma percepção única quase

mística da obra de arte, mas sim um processo gradual e na verdade coletiva”.

(Schapiro.1996 p18)

Este projeto apresenta as etapas realizadas durante a Intervenção

Pedagógica no Colégio Estadual Alfredo Chaves no município de Colombo, região

metropolitana de Curitiba, durante o segundo semestre, nos meses de agosto a

dezembro de 2011.

Para desenvolver o projeto de Intervenção Pedagógica, foi elaborado um

caderno pedagógico, dividido em 6 unidades: Unidade 01- Mapa conceitual; Unidade

02- A Critica através da imagem – Arte conceitual; Unidade 03- Imagem; Unidade

-04 Olhar; Unidade 05 – Shopping e Unidade 06 - Sugestão de filmes. Para obter um

parâmetro dos conceitos entre Arte e Política foi utilizado o Mapa Conceitual, como

forma de avaliação. O mapa conceitual foi a metodologia escolhida para iniciar a

abordagem do tema. Uma vez, que Mapa Conceitual não é conhecido pelos alunos,

mas ele se torna interessante pelas relações ligados por um verbo ligando conceitos.

O conhecimento é constituído por uma rede de conceitos, formando uma teia de

relações.

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3. Desenvolvimento

A Intervenção Pedagógica através da aplicação do caderno pedagógico teve

inicio no mês de agosto para um grupo de oito (8)alunos que se dispuseram a

participar no contra turno.

A partir da Teoria de Aprendizagem Significativa- TAS de David Ausebel têm

por princípio que a aprendizagem se dá quando o aluno tem um conhecimento

prévio sobre o que lhe for ensinado para que tenha significado o novo conhecimento.

Este aprofundamento do conhecimento foi chamado de ancoragem por Ausebel. Em

meados dos anos 70 Joseph Novak com sua equipe da Universidade de Cornell,

USA, aprimorou a TAS, teorizando que uma informação ganha sentido quando

fazemos uma relação com outros conceitos ou idéias. O conhecimento é constituído

por uma rede de conceitos, formando uma teia de relações, denominada “Mapa

Conceitual”.

Mapa Conceitual é um conjunto de diagramas (conceitos ou palavras) de

significados, que tem relações significativas entre si, uma organização hierárquica e

interligada por setas. O uso de figuras geométricas no mapa conceitual não é

obrigatório. Se usado, importante que se estabeleça o seguinte critério: conceitos

mais abrangentes deverão estar em eclipse e os conceitos secundários em

retângulos. A forma das linhas não possui um padrão que ligam conceitos ao

diagrama. Porém dois conceitos podem estar ligados por uma linha, significa uma

relação de conceitos para quem está construindo o mapa conceitual. O importante é

deixar claro no mapa conceitual: os conceitos principais e os secundários; as setas

auxiliam a dar um sentido de direção. Se utilizar um modelo o conceito principal

deverá estar na parte superior do mapa e os conceitos secundários na parte inferior.

Pode-se ligar o conceito com duas ou três palavras desde que sejam verbos

conjugados que tenham relação conceitual. É uma ferramenta que pode ser usada

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em qualquer disciplina, com o objetivo de organizar e representar o conhecimento do

aluno,transformando o conhecimento comum em conhecimento científico.

Ao apresentar para os alunos o Mapa Conceitual explicou-se a sua

organização a partir de conceitos e verbos de ligação. Primeiramente foram

realizados exercícios com conceitos conhecidos por eles, como: família, educação e

outros.

Foram utilizados retalhos de papel com conceitos escolhidos para movimentar

em outro suporte uma folha de papel sulfite. Quando os alunos se familiarizaram

com o Mapa Conceitual, passou-se para a construção de um mapa: primeiro com o

conceito de Arte; em seguida com o conceito de Política; para finlizar com dois

conceitos juntos: Arte e Política.

Observou-se que os alunos tiveram dificuldades na construção do mapa

conceitual. O conceito – Política está ligado a conceitos como: dinheiro, protesto,

corrupção e outros. Para dar sequência na atividade passamos para o Laboratório

de Informática. O software para elaboração do mapa conceitual está disponível no

Programa Paraná Digital do colégio onde está sendo aplicado o projeto. Conforme

especifica o caminho: Aplicativos – Educação- Ferramentas – Cmap tools.

Esta foi a primeira atividade realizada como parte da avaliação. Ao final da

Implementação, no mês de dezembro, será realizada a mesma atividade com os

conceitos Arte e Política com o intuito de servir de comparativo do conhecimento

adquirido.

A reprodução da obra de 3Cildo Meireles como atividade na Unidade – Dois

(2), surpreendeu os alunos que desconheciam a cédula que vigorou no período do

Regime Militar no Brasil, além do significado e do sentido das imagens postas na

cédula de 10 cruzeiros. O artista elaborou um projeto e com isso produziu imagens

em litografia e off-set sobre o papel; a tiragem do “Zero Cruzeiro” ( 1974-1978)

pertence a museus, galerias e coleções. O artista inseriu a imagem do índio Kraô,

sobrevivente de um massacre a mando de fazendeiros interessados nas terras

3 www.artenaescola.org.br e www.diadiaeducacao.pr.gov.br

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indígenas em Goiás. No verso da nota a imagem de um doente internado no hospital

psiquiátrico. O artista faz crítica à exclusão social e cultural do índio e do doente

mental. Como eles não trabalham não necessitam de dinheiro; o trabalho sustenta o

poder; compara o valor e o desvalor das pessoas; a arte transformada em

mercadoria.

A exposição e observação da imagem foi acompanhada das seguintes

perguntas:

Como o artista utilizou as fotos para chamar atenção da ausência de políticas

públicas?

O que é política pública? Quais são os direitos de um cidadão?

A partir da análise da obra de Cildo Meireles, sobre os excluídos sociais, os

alunos elencaram outros segmentos que eles consideravam desprotegidos pela

política social, como: sem terras, drogados, moradores de rua, idosos e portadores

de necessidades especiais.

Ainda a titulo de ilustração foram selecionadas imagens de revistas,

juntamente com uma justificativa, tais como:

Drogas O assunto é lembrado nas horas de dor.

Quando vidas são perdidas entre

bandidos e policiais.

Portadores de necessidades especiais São privados de estarem em certos

lugares. (Selecionado a imagem de um

cadeirante)

Mendigos e sem -terra Abandonados pela sociedade.

Idosos Desvalorizados pelas famílias. Deixados

em asilos.

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A produção artística de um vídeo - manifesto por 4Julio Manso retrata o

cotidiano de pessoas excluídas. As Imagens foram registradas no período de 5

anos, próximo à casa do artista filmou uma pedreira desativada, um espaço aberto

para os moradores de rua, com uma nascente que estava servindo como depósito

de entulhos por mais que houvesse reclamações da comunidade e do próprio artista,

sem sucesso.

O artista realizou uma performance, recitando versos de sua autoria e

imagens registrada em vídeo, em protesto pela ausência do serviço público que não

tomava nenhuma providência. O local foi fechado, após a divulgação da

performance de Julio Manso pelas mídias.

Os participantes da Intervenção Pedagógica na etapa seguinte foram levados

a questionar e relacionar: Quais eram as carências do bairro Jardim Santa Clara,

onde está localizado o Colégio Alfredo Chaves. Foram relacionados: falta de asfalto,

saneamento básico.

A mesma proposta foi executada em relação à instituição onde estudam:

Elencar situações conflituosas existentes no colégio para realizar uma intervenção,

performance ou instalação com o objetivo de chamar atenção e causar uma reflexão

com os sujeitos que circulam nas dependências do colégio.

Escolheram o local: instalações sanitárias femininas e masculinas para a

realização de uma performance devido ao odor, o descuido dos usuários e a não

conservação da limpeza.

Assim, o projeto constituiu-se em: Durante o recreio meninos e meninas

ficariam parados no interior dos sanitários masculinos e femininos com um tecido

marrom cobrindo o nariz. Este projeto foi arquivado para ser usado posteriormente

na finalização da implementação pedagógica.

4 Manso, Julio -2011 Citado por Domingues,Ruth Maciel. Caderno Pedagógico: Arte como Movimento Social: A manifestação do artista através das obras de Arte – PDE 2011.

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A unidade 03, contempla a leitura da imagem feita pelo olhar do observador,

com a produção do artista Julio Manso “Interna Mutilação” Exposição realizada na

Casa João Turim Secretaria de Estado da Cultura – 2008. A produção do artista são

memórias de um adolescente que viu seu pai preso e torturado, na Prisão Provisória

do Ahú, em Curitiba, para onde eram levados os presos políticos do Paraná.

O artista faz relações com os materiais que escolheu para a produção

artística.

No olhar do artista, os objetos são referências a pedaços que são retirados

das pessoas. Fragmentos de uma vida. A cera de abelha usada para modelar os

animais representa a separação das pessoas que o cercaram. A cera também é

uma homenagem póstuma ao pai que lhe ensinou a arte da temperatura da mão

para modelar.

A mutilação dos animais representa a tortura. Algumas imagens foram

selecionadas para esta pesquisa : o elefante e o camelo.

Entre os presos havia um que tinha uma memória de elefante, capaz de

guardar números de telefone, endereços, etc. Os algozes esqueceram-se da

resistência do elefante. O camelo com uma cadeira sob sua corcova, representa as

sessões do choque elétrico onde seu irmão sofreu torturas e o animal simboliza a

sua resistência.

Na sequência três (3) trechos do filme, 5“Central do Brasil” foram destacados:

analfabetismo; retirantes e propaganda enganosa.

Uma breve síntese do filme Central do Brasil: Dora escreve cartas para

analfabetos na Central do Brasil. Nos relatos que ela ouve e transcreve, surge um

Brasil desconhecido e fascinante, um verdadeiro panorama da população migrante,

que tenta manter os laços com os parentes e o passado.

Uma das clientes de Dora é Ana, que lhe pede para escrever uma carta. Seu

filho, Josué, um garoto de nove anos, sonha em encontrar o pai que nunca

5 Fonte: Retirado do portal www.diadiaeducacao.pr.gov.br

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conheceu. Na saída da estação, Ana é atropelada e Josué fica abandonado. Mesmo

a contragosto, Dora acaba acolhendo o menino e envolvendo-se com ele a tal ponto

que decide levar Josué para o interior do nordeste, à procura do pai. À medida que

vão entrando país adentro estes dois personagens tão diferentes, vão se

aproximando. Começa então uma viagem fascinante ao coração do Brasil, à procura

do pai desaparecido, e uma viagem profundamente emotiva ao coração de cada um

dos personagens do filme.

Após a exibição dos trechos selecionados, algumas questões foram

levantadas e discutidas pelos alunos em grupos:

a) Qual é a vantagem para a sociedade elitista de manter pessoas a margem

da educação?

b) Qual é a vantagem da sociedade elitista de manter pessoas sem serviços

básicos: como educação e saúde?

c) Qual é a imagem que as pessoas traçam de si e para os outros?

As respostas dos alunos foram sintetizadas ,nas questões A,B e C.

Na questão A: falta de conhecimento para reivindicar seus direitos;

manipulação.

Na questão B: Sem educação as pessoas não tem o básico para se

desenvolver; pagamento de impostos.

Na questão C: Seu melhor ângulo; o melhor de si; falta de senso crítico.

Para realizar uma reflexão sobre imagens fotográficas.

A atividade inicia com o destaque sobre os retratos que as famílias guardam

de seus antepassados que eram retocadas (pintadas) dando-lhe colorido pelo

fotógrafo. Para enfatizar este tempo passado, foi selecionado a poesia de Cecília

Meireles 6“Retratos”, com sonoplastia de Paulo Autran.

6 Fonte: Retirado do portal www.diadiaeducacao.pr.gov.br

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Com o avanço tecnológico houve a facilidade de levar imagens através do

celular. Em sala de aula pode-se utilizar imagens fotográficas como recurso

didático, como as fotografias familiares dos alunos foram motivados a falar de uma

imagem que carregam consigo. Todos os relatos são de ligações afetivas.

O projeto da performance foi retomado e colocado em prática com algumas

alterações: O projeto piloto seria representado com alunos no interior dos sanitários

tendo seus rostos parcialmente cobertos. Para a apresentação foi decidido pelos

alunos que bexigas seriam utilizadas, para representá-los na pratica artística.

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3.Mapa Conceitual

1º Etapa Inicial: Conceito social

2º Etapa: Arte

3º Etapa: Política

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Etapa Final: Arte e Política

Finalmente, o caderno pedagógico se encerra com sugestões de filmes para

professores, tais como: Sociedades dos Poetas Mortos; Janela da Alma e Cidade de

Deus. Por sermos profissionais da educação, sujeitos do olhar, poderemos utilizar

algumas das sugestões selecionadas em sala de aula.

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4. Resultados

Esta produção didática foi inspirada no livro “Arte Comentada”, conforme

capítulo “Arte de Protesto Social” encontra-se alguns artistas que a autora, Carol

Strickland, selecionou: Francisco Goya com a obra “Três de Maio de 1808”; Honoré

Daumier ”O vagão da Terceira Classe”; Pablo Picasso “Guernica”. Fotografia –

Jacob Riis fotojornalismo, denunciou as condições de vida imigrantes sem teto;

Diego Rivera – retratou um camponês morto retirado da cruz como Cristo; Dorothea

Lange- deu ênfase à pobreza durante a depressão e Anselm Kiefer- imagens

dramáticas para protestar contra o horror do Holocausto.

Como o conteúdo é muito extenso foi realizado um recorte utilizando uma

reflexão histórica de temporalidade artística para compreender o presente e pensar

o futuro,com o tema Arte como Movimento Social.

Desde o início do projeto, a preocupação era destacar o olhar do artista diante

das injustiças sociais e não a ideológica. Portanto o projeto faz uma referência ao

Regime Militar no Brasil durante a corrente artística Arte Conceitual no final da

década de 60 e ao longo da década seguinte. Neste período o artista destacado foi

Cildo Meireles, com a obra “Zero Cruzeiro”.

No processo de aplicação do projeto conclui-se que o aluno pode fazer

política através da Arte, partindo do movimento da Arte Conceitual no Brasil, usando

a performance e a instalação para refletir e questionar as políticas públicas e sociais.

Na sequencia das atividades, foi apresentado um artista atual Julio Manso,

residente em Curitiba, com preocupações sociais em suas propostas artísticas.

Com o aprofundamento das leituras para a construção do caderno

pedagógico, voltada para alunos do 1º ano do Ensino Médio, foi contextualizado o

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uso da imagem, para destacar os sujeitos do olhar rodeados de imagens que

hipnotiza tornando-os objetos de mercadoria sugerindo o consumo.

Percebeu-se que as questões tratadas no caderno pedagógico para os alunos

participantes da intervenção pedagógica, nunca foram trabalhadas na disciplina de

Arte.

Além da Intervenção Pedagógica no Colégio onde trabalho, outro fator

enriquecedor foi a contribuição do Grupo de Trabalho em Rede – GTR, com

professores estaduais residentes em diferentes pontos do Paraná, no qual se

inscreveram via online para complementar o projeto da professora PDE na qualidade

de tutora.

A intervenção dos professores do GTR foi edificante, por partilhar a

preocupação em discutir o sistema social através da arte com objetivo de aprimorar

o senso crítico do aluno. Algumas participantes do GTR, postaram sugestões de

leitura e planos de aula, uma dela com o artista Artur Barrio com Trouxas

Ensaguentadas. Uma das participantes sugeriu ampliação do projeto, com a

inclusão dos festivais de música na década de 1970. Esclarecido a todos os

professores participantes que ao escolher o tema de pesquisa foi realizado uma

lapidação para não tornar extenso o conteúdo. Para finalizar a coordenação do PDE

estipulou um prazo de inicio e término para a intervenção pedagógica.

Como metodologia foi aplicado Mapa Conceitual no início e termino do

projeto, para poder fazer uma avaliação da visão do estudante do entendimento arte

e política. De acordo com o exercício apresentado os dois conceitos eram separados

não havia conexão. Ao final do caderno pedagógico, novamente quando foi

solicitado ao aluno a construção de um mapa conceitual com Arte e Política não

houve dificuldade na elaboração do exercício.

Armando Barros (2003 p.89) afirma que:

“O trabalho com imagens tem grandes implicações cognitivas: aumenta a intensidade do olhar, mas também a imaginação, reveladora da realidade semi- imaginária do homem. A descoberta do significado da imagem não existe independente do

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espectador e a cautelosa tarefa do professor consiste em não impor interpretações, mas favorecer comparações e diálogos” .

Referência Bibliográfica

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DOMINGUES, Ruth Maciel. Arte como Movimento Social: A manifestação do Artista através das obras de Arte. Caderno Pedagógico - PDE -2010. Secretaria de Educação do Paraná, 2011.

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