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  • PARA ALM DA OCUPAO DO TERRITRIO:

    Notas Sobre o Discurso da Pacificao e Seus Crticos.

    Marcos Barreira* Resumo: a pacificao de favelas cariocas tem sido aclamada por diversos meios de comunicao e formadores de opinio, mas ainda no passou por uma avaliao do seu significado no contexto mais amplo das transformaes urbanas do Rio de Janeiro. Atravs da opinio de moradores das favelas, lderes comunitrios, especialistas em segurana pblica e intelectuais, este artigo levanta o problema sobre a interpretao e, principalmente, a legitimao de um programa de segurana que no pode ser entendido isolado de outros processos em curso na cidade. Palavras-chave: favelas; segurana pblica; territrio; reestruturao urbana; UPPs.

    BEYOND THE OCCUPATION OF TERRITORY: NOTES ON PACIFICATION SPEECH AND HIS CRITICS

    Abstract: the pacification of the Rio de Janeiros slums has been acclaimed by several media groups and the trendsetters, but it did not passed yet for an evaluation of its meaning in the large context of the urban transformations. Through the opinions of the slums inhabitants, community leaders, public safety experts and intellectuals, this article puts in evidence the problem about the interpretation and, especially, about the security program validation that cannot be understood if it is isolated from other processes in course in Rio de Janeiro.. Keywords: slums; public security; territory; urban restructuring; UPPs

    MS ALL DE LA "OCUPACION DEL TERRITORIO":

    NOTAS SOBRE EL DISCURSO DE "PACIFICACIN" Y SUS CRTICOS. Resumen: la pacificacin de las favelas cariocas ha sido aclamado por muchos medios de comunicacin y lderes de opinin, pero se desconoce su importancia en el contexto ms amplio de las transformaciones urbanas de Ro de Janeiro. A travs de opinin de los residentes de las favelas, de los lderes comunitarios, expertos en seguridad y los intelectuales de diversas instituciones, el artculo

    * Marcos Barreira gegrafo, mestre e doutor em Psicologia Social/UERJ.

  • Revista Continentes (UFRRJ), ano 2, n.2, 2013

    Marcos Rodrigues Alves Barreira, Para Alm da Ocupao do Territrio

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    plantea problemas de interpretacin y, sobre todo, en la legitimacin de un programa de seguridad que no se puede aislar de otros procesos en curso en la ciudad. Palavras clave: favelas; seguridad pblica; territorio; reestructuracin urbana; UPPs.

    O processo de pacificao das favelas cariocas, iniciado em 2008 e reforado pouco

    depois com a vitria da candidatura da cidade do Rio de Janeiro para sediar dois

    grandes eventos internacionais, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpadas de 2016,

    tornou-se um consenso que unifica a poltica, as empresas de mdia, a Universidade,

    setores privados, produtores culturais e, claro, a maioria dos seus moradores. Para

    implantar a assim chamada pacificao, o governo do estado do Rio de Janeiro tem

    sua disposio no apenas o aparato policial-militar das Unidades de Polcias

    Pacificadoras (UPPs) e recursos oriundos de diversas fontes, mas conta ainda com o

    apoio decisivo dos formuladores de intervenes pblicas, especialmente as de carter

    social, que se desenvolvem a partir de iniciativas como o programa UPP Social

    (coordenado pelo centro de pesquisas e planejamento da Prefeitura) e novos cursos

    voltados para as demandas do mercado de segurana. Atravs da repercusso

    miditica, as UPPs tornam-se, para o Rio, smbolos de um novo momento repleto de

    possibilidades, e o Rio, um smbolo para o Pas. No plano cultural, um exemplo

    inequvoco dessa articulao o filme 5x Pacificao, de 2012, realizado por jovens

    cineastas moradores de favelas que tenta mostrar as UPPs a partir do ponto de vista

    de quem vive o dia a dia das comunidades cariocas. O objetivo, diz um dos diretores,

    causar uma reflexo para que todo mundo siga junto com a secretaria de

    segurana.34 Toda essa mobilizao parte de um programa de recriao da imagem

    da cidade que vai muito alm da retomada de territrios e envolve grandes

    investimentos e processos de reestruturao urbana em larga escala (repletos de leis

    de exceo) e que encontram sua justificativa quase sem rplica nos megaeventos,

    que funcionam como indutores da acumulao privada.

    34 Luciano Vidigal fala durante exibio no Cantagalo, disponvel em: http://www.youtube.com/watch?v=5VHFwSv-ltc. Acesso em: novembro de 2011.

  • Revista Continentes (UFRRJ), ano 2, n.2, 2013

    Marcos Rodrigues Alves Barreira, Para Alm da Ocupao do Territrio

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    Do amlgama de intervenes estatais, negcios lucrativos e formas de representao

    miditica e cultural dirigidas, resulta o desaparecimento quase total da opinio

    pblica independente. As implicaes dessa nova realidade sobre os saberes

    especializados e o que restou da reflexo propiciada pela forma esttica so

    evidentes.35 Por isso, entre aqueles que abordam o processo de pacificao com

    maior distanciamento, aparecem alguns posicionamentos dissonantes e at mesmo

    conflitos abertos contra o pastiche miditico, mas em nenhum momento permitido

    deixar de elogiar as ocupaes militares. A imprensa tambm se encarrega de colocar

    dvidas sobre aspectos parciais da pacificao, de modo a no deixar dvidas sobre

    o conjunto e sobre a sua prpria atuao na cobertura dos fatos. Esse

    posicionamento dbio criou um padro interpretativo que oscila entre a exaltao da

    ocupao militar e a denncia altaneira dos desvios ou imperfeies do policiamento

    permanente nas favelas. Um argumento comum entre os defensores mais discretos

    das prticas em curso o de que o Estado deve criar ou fortalecer uma esfera

    pblica capaz de instaurar o dilogo entre os diferentes atores sociais envolvidos nas

    ocupaes. Para alcanar tal meta, seria necessrio investir na criao de uma polcia

    comunitria ou de aproximao que garantisse o exerccio pleno da cidadania aos

    moradores das favelas ocupadas. O alvo das crticas quase sempre o esvaziamento

    das iniciativas locais, obstrudas, de uma forma ou de outra, pela policializao dos

    conflitos sociais. Fala-se, por exemplo, de como a estreita ligao entre UPP Social e a

    unidade policial, alm das fortes relaes com o setor empresarial, desenha um

    modelo novo de definio do social (FLEURY, 2012: 7). Na mesma linha de

    argumentao, o socilogo Luiz Werneck Vianna fala de uma poltica social sem

    poltica evidenciando, no modelo de ocupao militar, a ausncia de organizaes

    livres da sociedade civil.36 Em outras abordagens, fica a impresso de que a

    ambiguidade em questo seria menos um produto das interpretaes do que um dado

    estrutural do prprio caso analisado. Sendo assim, a impreciso dos objetivos teria

    produzido uma poltica de segurana que no se definiu pela guerra ao crime ou pela

    35 E, desde h muito, se sabe que todos os especialistas so miditico-estatais, e s dessa forma so reconhecidos como especialistas (DEBORD, 1988: 31). 36 Conferncia: Luiz Werneck Vianna Sociedade, Poltica e Direito, disponvel em http://www.youtube.com/watch?v=Bh3nbe5i_2w. Acesso em: novembro de 2012.

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    mudana da cultura policial. Em todo caso, ao menos como projeto as UPPs so, de

    fato, uma novidade muito positiva, diz Luiz Antonio Machado da Silva, acrescentando

    que seu sucesso depende de um acompanhamento menos eufrico, capaz de indicar

    os riscos de seu desvirtuamento e gerar expectativas menos desmesuradas como as

    atuais, em relao tanto a prazos e metas de pacificao quanto ao alcance do

    programa (SILVA, 2012a). Apesar da crtica ao tom eufrico das coberturas

    jornalsticas, cabe ressaltar que a mdia tem adotado uma postura idntica defendida

    pelo professor, guardadas as diferenas de contedo, quando se move

    alternadamente entre a ideologia da libertao, representada pelas bandeiras

    hasteadas sobre territrios conquistados, e os discursos mais pragmticos, que cobram

    das autoridades apenas a reduo imediata dos conflitos ou a limitao da ao das

    quadrilhas nas favelas. Tambm no se pode negligenciar o fato de que a maior parte

    das denncias sobre a migrao de crime aps a ocupao das favelas, bem como

    sobre a atuao de grupos milicianos nas periferias da cidade, tm surgido antes na

    imprensa do que no debate universitrio e tm at pautado muitas pesquisas que, no

    final das contas, por modstia metodolgica, revelam-se sempre inconclusivas. De

    qualquer forma, os dois casos demonstram que as intervenes militarizadas podem

    ser contestadas em funo de algo que se cr ser um efeito secundrio, mas

    permanecem legitimadas em funo dos seus resultados imediatos, ainda que as

    finalidades da pacificao permaneam pouco claras.

    Uma atitude inversa, que se coloca em inequvoca oposio militarizao, pode ser

    observada nos comentrios mais diretamente identificados com posies de

    esquerda, que tendem a enxergar as UPPs como instrumentos de criminalizao da

    pobreza e ampliao das formas de controle social. Longe de representar um desvio

    ou um efeito colateral das polticas oficiais, a policializao da vida cotidiana e dos

    conflitos no interior das reas ocupadas seria a prpria finalidade das operaes

    estatais. Na sequncia de um longo histrico de controle social penal das camadas

    populares, as UPPs so denunciadas como dispositivos (no sentido foucaultiano dos

    mecanismos de operao material do poder) de ocupao militar e como laboratrios

    de novas tcnicas de administrao repressiva das populaes marginalizadas. Ainda

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    nessa perspectiva, as UPPs se aproximariam mais de uma forma biopoltica de

    gesto global da vida dos indivduos, como se pode verificar nas inmeras proibies,

    regulamentaes e sistemas de vigilncia impostos aos moradores, do que das

    experincias do chamado policiamento comunitrio amide evocado pelos meios

    de comunicao para legitimar as ocupaes. Para Vera Malaguti,

    o fato das UPPs estarem restritas ao espao de favelas, e de algumas favelas, j seria um indcio luminoso para desvendar o que o projeto esconde: a ocupao militar e verticalizada das reas de pobreza que se localizam em regies estratgicas aos eventos esportivos do capitalismo vdeo-financeiro (...) Com isso queremos frisar que as UPPs aprofundam as desigualdades e as segregaes socioespaciais no Rio de Janeiro [grifo meu] (MALAGUTI, 2012).

    Com argumentao semelhante, Joana Moncau define as UPPs como mecanismos de

    controle e condicionamento das classes populares, cuja caracterstica principal a

    ocupao militar do territrio. Nesse sentido, no nenhuma espcie de polcia

    comunitria, como alguns afirmam, mas uma clara ocupao militar (MONCAU,

    2012). Aqui, enfim, caberia retomar o problema do esvaziamento das associaes

    coletivas locais, porm no mais como um fenmeno secundrio e quase acidental,

    mas como um projeto deliberado de monopolizao das iniciativas nos territrios

    ocupados a fim de garantir a governamentalidade dos pobres e defender interesses

    privados sob a fachada da libertao dos territrios. Ainda sobre a relao entre

    ocupao militar e interesses econmicos, outra abordagem chega ao ponto de

    afirmar que os espaos gigantescos de moradia dos pobres se tornaram grandes

    jazidas de acumulao para o capitalismo cognitivo (COCCO, 2012), o que teria

    transformado as favelas em atrativos espaos de consumo disputados por empresas

    privadas e grupos mafiosos (milcias). Com isso, a militarizao do espao urbano, mais

    identificada com a ocupao das Foras Armadas do que com a das UPPs embora

    uma tenha aberto o caminho para a outra seria um elemento necessrio para

    garantir essa nova fronteira da acumulao (COCCO, 2012).

    Quando os agentes do Estado ocupam indefinidamente uma favela sem que isto

    melhore o acesso aos direitos dos moradores, diz Michel Misse, a lgica da

    territorializao que caracterizava a atuao do trfico de drogas prolongada, seja

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    sob influncia policial ou das Foras Armadas. Sendo assim, as UPPs do continuidade

    lgica de operar por territrios ao invs de romper a territorialidade e integrar os

    diferentes espaos da cidade. O desafio da permanncia *das UPPs+ agora no ,

    como se supe, o de levar polticas pblicas para os territrios, mas, por paradoxal

    que parea, desterritorializ-los, isto , integr-los como bairros normalizados

    cidade (MISSE, 2012). Por trs desta lgica est a idia autoritria de que a

    comunidade pertence ao Estado, como mostra Marcelo Lopes de Souza, que tambm

    desenvolve sua anlise a partir do olhar sobre o territrio: atravs da reconquista

    expresso que evoca fervor patritico e fanatismo religioso , a pacificao instaura

    um controle social cada vez maior sobre o espao urbano. J no estamos falando

    apenas dos territrios da pobreza. A utilizao das Foras Armadas para finalidades de

    controle, dando suporte s UPPs nos grandes complexos de favelas, resulta na

    militarizao da questo urbana e na domesticao dos segmentos mais mobilizados

    da sociedade (SOUZA, 2012). Tambm aqui vemos reproduzida a diferena entre a

    perspectiva sociolgica, que capta os descaminhos de um processo considerado, em

    seus aspectos gerais, como positivo ou necessrio, e a denncia do carter

    essencialmente autoritrio da militarizao.

    Outras anlises, igualmente focadas na crtica da ideologia da pacificao, tm

    chamado a ateno para o carter negociado das intervenes policiais. O conjunto de

    acordos oficiosos entre os executores da poltica de segurana do Estado e as redes do

    trfico estaria reorganizando a estrutura do crime. Mais: o poder policial-militar

    exercido atravs do policiamento permanente teria se constitudo como uma forma

    embrionria de milcia institucionalizada, pois muitos policiais, conforme diversas

    denncias noticiadas pela imprensa, tm se beneficiado de sua posio para criar

    fontes de renda ilegais ligadas ao varejo de drogas ou aos servios alternativos que

    proliferam nos espaos da pobreza.37

    Alm dos discursos produzidos pela mdia e pelas pesquisas universitrias, outras

    vozes tambm se fazem ouvir, manifestando perspectivas diferentes sobre o processo

    de pacificao. Na fala das lideranas comunitrias, por exemplo, surgem diferenas

    37 Para exemplos de interpretao que partem dessas denncias, ver Alves e Martins (ALVES, 2012; MARTINS, 2012).

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    importantes em relao ao discurso dos especialistas. Em primeiro lugar, a

    necessidade, por parte de tais lideranas, de administrar conflitos e de dar voz

    comunidade no permite que as denncias de violncias e arbitrariedades sejam

    colocadas em segundo plano. grande o sentimento, entre os moradores das favelas

    ocupadas, de que o policiamento permanente no muda imediatamente a cultura e as

    prticas policiais. Por outro lado, a diminuio dos conflitos e incurses policiais

    violentas se reflete, na opinio majoritria dos moradores, em aprovao, e gera

    expectativas favorveis nos locais onde o programa no foi implantado.38 Assim,

    quanto ao posicionamento em relao s UPPs, a maioria das lideranas adota um

    discurso de acomodao, que tenta colaborar e, ao mesmo tempo, cobrar das

    autoridades as prometidas polticas sociais e econmicas de integrao. A

    necessidade de polticas pblicas capazes de garantir a contrapartida social das

    ocupaes surge como a reivindicao principal: ns queremos o poder pblico

    presente, no s o brao armado do poder pblico, diz um lder comunitrio do

    Morro da Mineira.39 Outro fator determinante para a incorporao parcial do discurso

    oficial pelas lideranas a cooptao poltica, que ocorre no apenas por causa de

    interesses individuais, mas porque as reivindicaes populares tendem a ganhar

    legitimidade junto opinio pblica quando no confrontam a ideologia da

    pacificao. Mesmo assim, no faltam vozes que pensam diferente, que no

    enxergam muitas diferenas entre as UPPs e outras experincias de controle policial.

    38 Uma pesquisa da FVG realizada em 2009 avaliou a opinio de moradores nas duas primeiras UPPs: No mnimo 95 de cada 100 entrevistados apoiaram a expanso dessa poltica para outras comunidades e 90% desejava que a iniciativa continuasse indefinidamente em sua regio (CANO, 2012: 6). Essa aprovao esmagadora deve ser relativizada de duas maneiras. Primeiro, porque ela se refere a duas UPPs que serviram de modelo: a do morro Dona Marta e a da Cidade de Deus. Em outros casos, o processo de instalao das UPPs apresenta outras caractersticas e enfrenta maiores dificuldades, alm de contar com menor apoio local. Em segundo lugar, a aprovao alta no elimina o sentimento negativo em relao aos policiais, que provocado por diferentes abusos cometidos nas favelas ocupadas. Alm disso, j se constatou que a presena do policiamento permanente aumenta as denncias de pequenos crimes nas reas ocupadas, mas inibe as denncias quando o alvo a prpria polcia o que mascara as estatsticas de corrupo e prticas violentas cometidas pelos policiais lotados nas UPPs. Quanto ao temor de que a pacificao acabe aps os grandes eventos que a cidade vai sediar, ele no se deve somente perspectiva de interrupo dos j escassos programas sociais, mas tambm e principalmente por causa da incerteza quanto a uma possvel volta dos traficantes armados. 39 Favela-bairro ficou pela metade na Mineira, disponvel em: http://www.fazendomedia.com/favela-bairro-ficou-pela-metade-na-mineira/. Acesso em novembro de 2012.

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    o caso de Rumba Gabriel do Movimento Popular de Favela, para quem a UPP apenas

    um novo rtulo, exigido pelo momento poltico atual, para mascarar velhas prticas

    autoritrias.40 Tambm aparece na fala de algumas lideranas que adotam uma

    posio crtica s UPPs a tese de que o programa seria uma fachada de segurana

    para dar uma resposta imediata aos investidores do projeto olmpico, o que no se

    coaduna com as crticas que descrevem um reforo do controle social sobre a pobreza.

    Alm isso, importante compreender o conjunto das favelas ocupadas como espaos

    heterogneos, nos quais convivem diferentes camadas sociais, ou diferenas entra as

    partes altas, menos integradas cidade, e as partes baixas, entre o comrcio

    formal e o informal. Portanto, no se pode esperar uma reao uniforme da populao

    local, tendo em vista que, junto com a ocupao policial-militar, ocorrem tambm

    processos de regulamentao dos servios e atividades, alm da proibio de eventos

    culturais responsveis pela gerao de muitos empregos e da ampliao do fluxo de

    pessoas que vm de fora das comunidades.

    Entre os agentes do Estado, nova dualidade: nas falas dos comandantes da PM

    encontramos apenas um resumo da verso doutrinria do projeto, sem que elas

    difiram das formulaes da secretaria de segurana. Os discursos oficiais vo sendo

    elaborados de acordo com as demandas mais urgentes. As UPPs, que eram apenas um

    experimento localizado, ganharam corpo e apoio poltico e miditico quando comeou

    a crescer a ateno internacional sobre a cidade do Rio de Janeiro. Em seguida, o

    programa tornou-se instrumento decisivo do governo do estado na disputa poltica no

    Rio de Janeiro. A pacificao da cidade foi enaltecida pela cobertura miditica

    durante a ocupao das favelas do Complexo do Alemo e da Penha, no final de 2010

    (embora o episdio tenha sido protagonizado pelas Foras Armadas, sem respaldo

    legal, em uma operao imprevista, mas que resultava das intervenes da Polcia

    Militar em outras favelas), e as UPPs foram apresentadas como territrios da paz,

    tornando-se uma marca de exportao para outras cidades. Porm, o que os polticos

    40 Entrevista ao autor realizada em outubro de 2012. Rumba destaca ainda a continuidade entre as UPPs e o GPAE (Grupamento de Policiamento em reas Especiais), criado em 1999 mas logo encerrado. Michel Misse descreve a estratgia do GPAE como algo muito parecido com a atual, na qual territrios seriam primeiramente conquistados dos traficantes e depois controlados por foras especiais localizadas fisicamente na rea (MISSE, 2012).

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    no dizem e a maioria dos especialistas finge no perceber pode ser constatado a

    partir do ponto de vista da corporao policial, ainda que se trate apenas de uma

    formulao tosca. Em contraste com as declaraes oficiais, prevalece entre os

    policiais a idia de que as UPPs visam apenas segurana da Copa e das Olimpadas,

    alm de se configurar como um programa eleitoreiro para tranqilizar a classe mdia

    (CANO, 2012: 8-9). Igualmente relevante o surgimento de manifestaes de clara

    hostilidade ao programa por parte dos policiais, como a clivagem no interior dos

    batalhes entre os PMs mais antigos e os recrutas formados para atuar nas UPPs, que

    no so reconhecidos pelos primeiros como verdadeiros policiais. Alm disso, uma

    pesquisa com soldados lotados nas unidades pacificadoras mostra que 70% deles

    preferiam realizar outro tipo de policiamento (CANO, 2012: 8-9). No entanto,

    pronunciamentos mais recentes do secretrio de

    segurana, Jos Mariano Beltrame, indicam uma

    espcie de inflexo realista: no pretendemos

    usar o projeto em todas as favelas, e isso tambm

    no o remdio definitivo para os nossos

    problemas, disse o secretrio em um momento de

    crise gerado a partir das evidncias de que os

    conflitos entre traficantes prosseguiam na periferia

    da cidade.41 Isso significa que, contrariando muitas

    expectativas, o policiamento permanente no deve

    se converter em uma poltica de segurana para o

    conjunto da cidade, o que ocorre menos por causa da carncia de recursos do que pela

    prpria natureza do programa. O modelo de policiamento que vem sendo adotado nas

    ocupaes exige cinco vezes mais PMs por morador do que o patrulhamento

    convencional e, em muitos casos, conta ainda com instalaes provisrias e condies

    de trabalho bastante precrias. Mas isso no explica tudo. O fato que as UPPs foram

    concebidas a partir de uma perspectiva que v as favelas ocupadas como espaos de

    ilegalidade incrustados na cidade. As UPPs no podem se generalizar porque s so

    41 Rocinha e Vidigal esto entre as 40 favelas que o Estado quer pacificar, disponvel em. http://www.rocinha.org/noticias/view.asp?id=818. Acesso em novembro de 2012.

    os discursos oficiais vo

    sendo elaborados de

    acordo com as demandas

    mais urgentes. As UPPs,

    que eram apenas um

    experimento localizado,

    ganharam corpo e apoio

    poltico quando comeou

    a crescer a ateno

    internacional sobre a

    cidade do Rio de Janeiro

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    possveis onde existe um ntido contraste entre a favela e a cidade formal, o que

    elucida sua implementao nas reas centrais e nos bairros das camadas mais

    abastadas (alm das principais vias de acesso e circulao da cidade) em detrimento

    das reas perifricas, que contam com os maiores ndices de violncia.

    Esse quadro nos coloca diante de uma dificuldade que anterior questo da

    estratgia de segurana adotada pelo Estado e que as coberturas jornalsticas

    costumam se esforar para nos fazer esquecer: as ocupaes das favelas no foram

    precedidas por nenhuma reforma das instituies policiais. Helio Luz, ex-chefe da

    Polcia do Rio de Janeiro entre 1995 e 1997, diz que o fato de colocarem recrutas para

    montar as UPPs revela o descontrole e a corrupo nas polcias.42 Por sua vez, Luiz

    Eduardo Soares, secretrio de segurana pblica entre 1999 e 2000, que tambm

    considera as UPPs uma continuao dos mutires pela paz e do GPAE, afirma que as

    virtudes do programa no tero futuro se as polcias no forem profundamente

    transformadas (SOARES, 2012). Mas a UPP no avana nesse sentido: o treinamento

    diferenciado no diminuiu a truculncia e o autoritarismo, mantendo a desconfiana

    mtua entre moradores e policiais. Se as operaes com altos ndices de mortalidade

    diminuram, a convivncia forada com um aparato repressivo fortemente armado e

    que exerce um controle permanente sobre a vida cotidiana das favelas produziu novos

    atritos. Desde 2009, o Estado ampliou o nmero de policiais, mas a formao

    diferenciada tem esbarrado nos problemas da urgncia e da falta de recursos, o que

    resulta na eliminao de critrios de seleo e na reduo do tempo de formao dos

    recrutas. Em 2000, os policiais do GPAE receberam treinamento especial, incluindo

    instrues sobre legislao, direitos humanos e abordagem de pessoas. Mesmo assim,

    cerca de 70% dos policiais empregados no grupamento foram transferidos por desvios

    de conduta.

    Embora existam semelhanas entre o GPAE e as ocupaes atuais, no faltam

    diferenas, especialmente no que diz respeito amplitude das operaes e ao apoio

    42 Eu no entendo por que colocam recrutas para montar UPPs. Eles dizem que, na mdia, so uns 200 recrutas com um oficial. Nas 14 UPPs, d algo em torno de 2,8 mil recrutas, 3 mil recrutas. Ento, 3 mil recrutas esto resolvendo a situao da criminalidade no Rio? Tem um contingente de 40 mil policiais, mais 10 mil na Polcia Civil, que no resolveram o problema da criminalidade. isso que esto dizendo? Se isso, esto confirmando que o problema corrupo (LUZ: 2012).

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    poltico e miditico, ambos indissociveis do projeto olmpico. Existe tambm uma

    significativa diferena de concepo. Ao contrrio das UPPs, o programa anterior no

    previa a manuteno de grandes contingentes policiais nos locais ocupados. Essa

    diferena reflete uma preocupao maior com a reduo dos ndices de criminalidade

    violenta do que com o controle de territrios estratgicos. De qualquer forma, o

    programa no foi adiante por falta de apoio poltico e em funo das denncias

    envolvendo o problema para o qual as UPPs tambm no apresentam soluo: a

    corrupo das polcias.

    Ao descrever esse conjunto de anlises, opinies e posicionamentos a respeito da

    pacificao, pretendi colocar em evidncia as implicaes deste processo e o amplo

    conjunto de questes que ele suscita. Em primeiro lugar, interessa o modo como a

    problemtica da segurana pblica se articula com aspectos centrais da dinmica da

    cidade. Em um texto anterior, Cidade Olmpica: sobre o nexo entre reestruturao

    urbana e violncia na cidade do Rio de Janeiro, persegui as pistas dessa articulao.43

    Nele, argumentei que a lgica da pacificao possui trs aspectos, todos

    relacionados entre si, de modo que nenhum deles pode ser plenamente

    compreendidos se isolado dos demais. Em primeiro lugar, trata-se de uma imagem de

    segurana a qual a cidade precisa estar associada: mesmo tendo nascido como um

    experimento relativamente autnomo, o programa das UPPs s ganhou fora quando

    comeou a fazer parte de um projeto mais abrangente de reestruturao urbana. Esse

    projeto reproduz uma longa tradio de grandes reformas, inaugurada pela

    administrao de Pereira Passos no incio do sculo XX, que tem sua razo de ser no

    na melhoria das condies de vida da populao, mas na necessidade de modificar a

    imagem da cidade. Como j foi dito, coube s novas unidades de policiamento

    permanente diminuir o sentimento de insegurana da populao atravs da ocupao

    de pontos estratgicos da cidade. Tambm a imagem do Estado e a legitimidade de

    suas intervenes estavam em questo, tendo em vista os nmeros alarmantes de

    supostos confrontos letais envolvendo policiais. Com a sinalizao de uma mudana

    43 O artigo, ainda indito, est em vias de publicao pela Editora Boitempo na coletnea intitulada At o ltimo homem: vises cariocas da administrao armada da vida social.

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    135

    das formas de enfrentamento da criminalidade que logrou, a despeito da manuteno

    dos altos ndices de violncia, a construo de um consenso a respeito dos xitos no

    seu combate, a cidade do Rio pde voltar a ser um cenrio atrativo para investimentos

    de grande porte. Nesse sentido, o ufanismo televisivo parte integrante e

    indispensvel da lgica da pacificao. nesse contexto que os chamados

    megaeventos esportivos surgem como os grandes catalisadores, que devem atrair

    parceiros privados e mobilizar grande parte da populao local em torno da

    renovao da cidade. Para isso, os organizadores dos eventos, que no deixaram de

    inspecionar as primeiras UPPs antes que a sede dos jogos fosse escolhida, contam com

    o favorecimento do poder pblico e com uma srie de medidas de exceo capazes de,

    em pouco tempo, produzir a adequao da cidade ao projeto olmpico. aqui que

    entra o segundo aspecto da pacificao: as UPPs participam ativamente na

    consolidao de um novo modelo de cidade empreendedora. Isso acontece em funo

    da escolha das reas privilegiadas, que devem se tornar mais seguras para o conjunto

    de investimentos e na produo de novas segregaes socioespaciais pois, juntamente

    com as UPPs e, em parte, atravs delas , a poltica de remoes tem ganhado novo

    flego. Por sua vez, a valorizao imobiliria decorrente no s das ocupaes, mas do

    conjunto de transformaes urbanas atuais, no deve ser considerada um simples

    epifenmeno. Atravs de inmeras declaraes oficiais, podemos constatar que as

    reas a serem ocupadas so escolhidas tambm em funo das possibilidades de

    valorizao patrimonial. Por fim, as UPPs tm servido para garantir, nas favelas

    ocupadas, a integrao de servios e atividades informais a todo um conjunto de novas

    articulaes pela via econmica, cujos exemplos mais expressivos so um banco

    popular na Cidade de Deus e a privatizao dos servios na zona porturia sob a

    vigilncia da UPP da Providncia. Esse ltimo dado nos coloca diante de mais um

    aspecto da pacificao, que o fortalecimento do controle social j mencionado.

    Cabe apenas ressaltar que, ao contrrio da viso ingnua de alguns crticos, no

    estamos diante de um programa passageiro, mas de uma forma adensada de controle

    que modifica a dinmica da cidade e, nas favelas ocupadas, altera tambm a relao

    entre o Estado e os segmentos mais pobres da populao. Por outro lado, a cidade do

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    136

    Rio de Janeiro assistiu, nos ltimos dez anos, ascenso de novas formas de regulao

    social armada, que tem se intensificado e no por acaso nas reas negligenciadas

    pelo programa de pacificao. Em meio a esse processo contraditrio, as periferias

    que atraem a migrao do trfico, e para as quais j se disse abertamente que as UPPs

    no so uma soluo, continuam a ser as principais vtimas da poltica extra-oficial de

    execues e desaparecimentos.

    As favelas sempre constituram relaes de cooperao em seu espao interno, a partir

    das quais surgiu um discurso um tanto idealizado sobre as comunidades. No plano

    da economia urbana, elas so parte de um circuito inferior que se relaciona com o

    conjunto das atividades presentes na cidade (SANTOS, 2004). Porm, no plano social,

    so abundantes as medidas de urgncia e de sobrevivncia que, mesmo sem qualquer

    perspectiva de mudana social, no assumem a forma de relaes mercantis. A

    integrao das favelas ocupadas ocorre de forma muito parcial ou seletiva. A via da

    formalizao das atividades no tem contrapartida em termos de projetos sociais ou

    de organizao coletiva. De um lado, ela agrava as segregaes atravs da elevao

    dos custos gerais da reproduo das moradias e, de outro, estimula, nos espaos

    marginalizados, as mesmas relaes presentes no restante da cidade. Assim, seus

    moradores se parecem cada vez mais com indivduos atomizados que podem apenas

    trocar servios entre si. As poucas formas de organizao social existentes ficam

    comprimidas entre as presses econmicas e um sistema de vigilncia permanente.

    Por isso, no acidental que as UPPs obstruam as iniciativas coletivas. Se o auge dos

    movimentos comunitrios na dcada de 1980 estava associado ao reconhecimento dos

    direitos da populao pobre, a conjuntura inaugurada na dcada seguinte, que pode

    ser caracterizada como uma viragem poltica de carter neoliberal, foi dominada

    pelas idias fixas do mercado e da ordem urbana. Assim, a idia de integrao, antes

    associada s demandas coletivas que s podiam ser atendidas atravs de polticas

    universalistas, foi sendo ressignificada at se tornar uma espcie de privatizao da

    vida cotidiana por meio do consumo individual.44

    44 O ex-prefeito Csar Maia, que protestou contra a privatizao das ruas pelo comrcio ambulante, foi um dos principais idelogos dessa virada que culminou no projeto da Cidade Olmpica. No por acaso, o tema da ordem urbana e da militarizao da segurana tambm faziam parte da sua agenda

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    Duas questes surgem a partir desse quadro. Alm da necessidade de compreender a

    transformao da poltica de segurana em um momento decisivo da renovao da

    imagem da cidade, surge o desafio de articular a problemtica da violncia com o

    desenvolvimento da crise urbana.

    No que diz respeito relao entre violncia e reestruturao urbana, podemos dizer,

    muito resumidamente, que o problema principal o tratamento monogrfico ou

    unilateral dispensado a temas que, pela sua prpria natureza e dinmica, s podem ser

    compreendidos como partes de uma totalidade concreta. Para um determinado

    campo de investigao terica que se debrua sobre a problemtica da segurana,

    os elementos negligenciados so a cidade e o urbano. Isso ocorre, por exemplo,

    quando algumas anlises apontam que a limitao, por assim dizer, espacial, do

    programa das UPPs, decorre exclusivamente da

    falta de recursos para a expanso e manuteno de

    novas unidades. O que desaparece nesse tipo de

    comentrio a produo de segregaes, bem

    como a reconfigurao territorial do crime quer

    se trate dos grupos de traficantes que abandonam

    as reas mais nobres da cidade, quer das milcias,

    que ocupam as reas descuidadas pelo Estado.

    Em outros momentos, a dimenso espacial volta

    cena, mas adquire um sentido mais retrico que analtico. Assim, podemos ler que as

    UPPs so uma proposta de poltica de segurana pblica especfica para reas da

    desde o inicio dos anos 1990. Mas, no que diz respeito s polticas urbanas, essa inflexo deve ser relativizada. Fruto da conjuntura de crise estrutural, o governo de Leonel Brizola, no incio da dcada de 1980, j teve como caracterstica a impossibilidade de realizar investimentos pblicos em grande escala para a reforma urbana. Diante do problema da habitao popular, o governo foi forado a conduzi-lo oficialmente nos moldes do que j vinha sendo feito espontaneamente pela populao pobre da cidade. A atuao do governo e das administraes municipais, consideradas as duas dcadas em questo, consistiu em aceitar, legalizar e promover algumas melhorias nas favelas tudo isso em meio a um giro culturalista que substituiu as idias de planejamento global da cidade pela revalorizao do espao comunitrio e das solues criativas dos moradores das favelas. Sobre isso ver o texto de Maurilio Lima Botelho, Crise urbana no Rio de Janeiro: favelizao e empreendedorismo dos pobres, a ser publicado tambm na coletnea indicada acima, pela Editora Boitempo.

    No se trata de ocupar os

    territrios da pobreza,

    mas de controlar a massa

    de pessoas pobres que

    permanece em

    aglomerados de pobreza

    no interior ou em contato

    com os territrios nos

    quais a riqueza circula.

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    cidade que podem ser reunidas sob o nome de territrios da pobreza.45 Se o que est

    em questo a ocupao dos territrios da pobreza, como foi afirmado, ento

    convm perguntar por que motivo as regies mais pobres da cidade (sem falar nos

    municpios limtrofes, ainda mais pobres e mais violentos) so, precisamente, os locais

    que permanecem fora do alcance direto da pacificao? que o problema parece estar

    colocado de modo invertido. No se trata de ocupar os territrios da pobreza, mas

    de controlar a massa de pessoas pobres que permanece em aglomerados de pobreza

    no interior ou em contato com os territrios nos quais a riqueza circula. Em todo caso,

    a questo de saber por que, afinal de contas, a lgica da pacificao privilegia as

    reas nobres respondida pelo mesmo autor, agora no do ngulo do especialista,

    mas da razo cnica:

    considero possvel que o simples deslocamento das atividades criminais para

    regies mais recnditas da cidade, associado discrio no uso de armas pelos

    criminosos que permanecem atuando nas reas nobres, venha a reduzir o

    sentimento generalizado de medo e insegurana... (SILVA, 2012b: 3).

    Outro campo de investigao que nos interessa mais diretamente o das pesquisas

    urbanas. Tambm aqui se verifica o mesmo desencontro. Mesmo alguns

    pesquisadores que fazem parte do debate sobre o novo modelo de cidade em

    gestao, como Raquel Rolnik relatora da ONU para o direito moradia adequada

    , enxergam as UPPs somente como condicionalidades, sem relao direta com os

    megaeventos.46 Essa questo tambm foi alvo da reflexo de um Comit Popular da

    Copa e das Olimpadas que rene, entre outros, integrantes da Central de Movimentos

    Populares, da Justia Global, do Observatrio das Metrpoles e do Frum Popular de

    Oramento do Rio de Janeiro. O Comit produziu o dossi Megaeventos e violao

    dos direitos humanos no Rio de Janeiro, com o qual compartilho uma srie de pontos

    45 Luiz A. M. da Silva, Pacificao ou controle autoritrio, entrevista disponvel em: http://comunidadesegura.org.br/pt-br/MATERIA-upps-pacificacao-ou-controle-autoritario. Acesso em novembro de 2012. 46 J esto sendo aprovadas vrias excepcionalidades para a Copa do Mundo, diz Raquel Rolnik, em entrevista concedida revista Caros Amigos de janeiro de 2011, disponvel em: http://carosamigos.terra.com.br/index/index.php/cotidiano/1218-entrevista-raquel-rolnik. Acesso em novembro de 2012.

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    de vista e que tem, desde j, o mrito de colocar em foco a relao entre as UPPs e a

    lgica do empreendedorismo urbano. Para o coletivo de autores,

    o que fica claro no caso do Rio de Janeiro que o projeto de atrao de investimentos to propagandeado pelo poder pblico municipal e estadual com a realizao da Copa do Mundo de futebol de 2014 e dos Jogos Olmpicos de 2016 tem como um componente importante a expulso dos pobres das reas valorizadas ou que sero contempladas com investimentos pblicos. Outra faceta dessa poltica a criao das UPPs (...) tendo em vista que no possvel deslocar todos os pobres das reas nobres da cidade *grifo meu+. (DOSSI, 2012: 8).

    Contudo, ao analisar mais de perto o tema da segurana pblica, o dossi afirma, em

    patente contradio com o prprio diagnstico acima citado, que as UPPs, definidas

    como um programa inspirado no conceito de policiamento comunitrio, que tem

    como estratgia a busca de uma parceria entre a populao e as instituies de

    segurana, trazem uma srie de benefcios para os moradores, incluindo a insero

    no mercado formal e a reduo dos homicdios, o que, na opinio dos autores, seria

    contrabalanado apenas pela crescente especulao imobiliria nas favelas ocupadas,

    provocando a expulso dos mais pobres (DOSSI, 2012: 51). Ao no enfatizar as

    diferenciaes econmicas no interior das comunidades ocupadas, os autores so

    levados, em outra contradio, a considerar a mercantilizao das favelas como um

    benefcio para os moradores. Ao mesmo tempo em que o Comit denuncia a

    substituio de uma poltica de segurana eficaz pela produo de uma imagem de

    segurana voltada para a atrao de investidores, o seu documento considera que o

    principal instrumento dessa representao ideolgica de uma cidade segura para o

    capital, as UPPs, uma importante conquista em relao s polticas anteriores, e

    termina as consideraes sobre a poltica de segurana cobrando a extenso do

    programa para o conjunto da cidade, pois h outras centenas de comunidades que

    ainda no receberam as UPPs (DOSSI, 2012: 52).47 Alm disso, o documento, que

    47 Caso semelhante ao do Dossi aqui analisado o do deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL, que, durante a campanha para a prefeitura, desenvolveu um discurso bastante articulado sobre o modelo de cidade baseado na lgica do mercado, mas evitou confrontar diretamente o programa das UPPs. Foi mrito inegvel de sua campanha (e de sua ao parlamentar) deslocar o foco do debate para o que poderamos chamar de lado obscuro da pacificao, ou seja, o crescimento alarmante dos grupos milicianos nas periferias da cidade. A dificuldade de interpretar as UPPs como parte do modelo de cidade denunciado pela campanha de Freixo no deve ser vista apenas como uma incapacidade de

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    caracteriza vagamente as UPPs como inspiradas no policiamento comunitrio e,

    assim, coloca-se em uma posio ainda mais frgil que a das abordagens sociolgicas

    descritas acima , tambm as considera como parte de um programa meramente

    instrumental a servio dos interesses envolvidos na organizao dos grandes eventos:

    claro que esse investimento em segurana faz parte de um projeto maior de

    reterritorializao urbana e de controle social, que seriam elementos chaves dos

    megaeventos. (DOSSI, 2012: 51). Aqui seria necessrio inverter o argumento para

    mostrar como que grandes eventos de porte internacional tornaram-se,

    especialmente a partir da experincia de Barcelona, no incio dos anos 1990,

    elementos importantes para a concepo de um projeto maior de reestruturao

    urbana orientado pelos princpios da gesto empresarial. Se a lgica da pacificao

    no pode ser explicada a partir de uma hierarquia dedutiva que a converta em simples

    instrumento de interesses econmicos, mas exige o desvelamento das articulaes

    entre a crise urbana e as intervenes no mbito da segurana, tampouco cabe

    atribuir aos megaeventos a capacidade de produzir, por si s, uma reconfigurao da

    dinmica territorial de uma cidade. De qualquer forma, a imagem desenhada pelo

    dossi permanece, malgr lui, essencialmente correta para caracterizar um modelo de

    cidade segregada que est sendo produzida aqui e agora:

    Depois da Copa e das Olimpadas, corre-se o risco de se acordar numa cidade onde os que consomem, vivem e lucram no mercado formal das partes mais nobres da cidade podem ter acesso quase instantneo segurana, enquanto as camadas sociais menos favorecidas vivem sob a vigilncia de um regime militar altamente armado e treinado para defender os interesses mercantis (DOSSI, 2012: 54).

    Quanto segunda questo, cabe, antes de tudo, reconhecer que se trata de um tema

    difcil, quase no abordado por aqueles que se dedicam questo urbana e que

    ultrapassa os limites destas notas. preciso considerar que a expanso do modelo do

    trfico de drogas baseado no controle territorial armado no compreensvel sem

    referncia ao processo de esvaziamento econmico da cidade a partir da segunda

    compreenso da lgica da pacificao. Mais do que isso, ela expressa a contradio que se verifica no interior das camadas populares, que se consideram ao mesmo tempo libertadas e oprimidas pelo policiamento permanente. Em todo caso, Freixo no deixou de observar, em vrias intervenes, as diferenas entre o programa das UPPs e os princpios do policiamento comunitrio.

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    metade da dcada de 1970.48 No caso do Rio de Janeiro, tambm no se pode

    esquecer que essa situao de urbanizao sem crescimento econmico resultou no

    modelo atual de ocupao das periferias e na favelizao. O que se viu a partir de

    ento foi no apenas o domnio territorial de partes da cidade pelas faces de

    traficantes armados mas, igualmente, a proliferao dos famigerados grupos de

    extermnio, que constituam uma espantosa soluo privada encontrada por

    comerciantes e polticos locais para suprir a ausncia do aparato policial nas regies

    carentes da cidade. Ao mesmo tempo, a corrupo policial se tornava decisiva no

    fortalecimento das redes do trfico de drogas e armamentos pesados. Nas favelas, os

    mtodos de tortura abolidos pelos rituais punitivos modernos, que incluem

    esquartejamentos e pessoas queimadas ainda com vida dentro de pneus, foram

    reproduzidas nos tribunais do trfico em longas expiaes pblicas que bem

    poderiam ilustrar a ostentao dos suplcios descrita por FOUCAULT (1987) em seu

    livro sobre o nascimento da priso. Esse quadro de barbrie que acompanha todo o

    perodo de crescimento da pobreza urbana alimentou o que foi oportunamente

    classificado como uma guerra particular entre traficantes e policiais, sem falar nos

    conflitos permanentes entre as faces do trfico. O Rio de Janeiro viu o antigo status

    de Cidade Maravilhosa desaparecer em manchetes de jornais que descreviam a

    cidade como um cenrio de guerra e decadncia econmica. Assim, a fora das armas

    imps relaes brutais que, de to freqentes, foram naturalizadas: incurses

    violentas nos morros, prticas sistemticas de tortura nas delegacias e unidades

    prisionais e a faccionalizao de territrios perifricos.

    Nessa atmosfera de decomposio social que surgem as primeiras tentativas de

    reverso da crise, o que inclui a presena recorrente das Foras Armadas nas ruas da

    cidade. Mas essa reverso, idealizada desde o incio dos anos 1990 e que culmina na

    48 O que ocorreu num quadro mais abrangente de endividamento estatal e de esgotamento dos modelos perifricos de desenvolvimento: Planejamento urbano, poltica de transporte de massa, programa habitacional, zoneamento espacial, todos os principais pontos de uma poltica urbana ampla desapareceram com a crise geral do Estado e da economia desenvolvimentista. Foi nesse contexto que o chamado problema favela explodiu, j que essas reas de precariedade urbana e habitacional continuaram a crescer aceleradamente, apesar de o pas estar passando por um freio demogrfico, isto , prximo da ltima fase da transio populacional (Trecho do artigo de Maurilio Lima Botelho ainda indito, Crise urbana no Rio de Janeiro: favelizao e empreendedorismo dos pobres).

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    realizao do projeto da Cidade Olmpica, no ocorreu a partir de uma mudana que

    revertesse o quadro de pobreza e desigualdade. Ao contrrio, ela deixou os

    mecanismos de excluso social intactos. O novo urbanismo est atrelado a processos

    concentradores de riqueza. Ele reduz a gesto pblica criao de contextos

    favorveis aos interesses privados e refora a segurana patrimonial e a vigilncia

    privada contra as estratgias de sobrevivncia dos pobres. Com a imagem de

    segurana produzida pelas UPPs possvel voltar a fazer da cidade um lugar atrativo

    para investimentos reunidos em poucas mos, que so capazes de absorver os

    segmentos mais qualificados da mo-de-obra, mas deixando em segundo plano os

    servios bsicos e as condies materiais de reproduo da maior parte da populao.

    Esse padro de investimento sem planejamento, guiado unicamente pelos lucros da

    especulao sobre o preo dos terrenos, estimulou a poltica de remoo dos pobres,

    que retornou com fora nos ltimos anos. Em funo do tipo de investimento

    recebido, a cidade do Rio tem permanecido alheia at mesmo reduo da pobreza

    que se verifica no cenrio nacional com a ampliao do consumo na base da pirmide

    social. Na ltima dcada, de fato, ocorreu no s um aumento (em termos absolutos e

    relativos) da favelizao, o que indica um aumento da pobreza, mas a cidade vem se

    tornando cada vez mais cara e desigual. No h, portanto, como falar em novas

    fronteiras para a acumulao. Antes, o capitalismo de crdito popular e

    endividamento deveria ser visto como sintoma dos limites do crescimento impostos

    por uma crise estrutural que tem se mostrado irreversvel. Os cenrios da Cidade

    Olmpica, da qual as UPPs so parte essencial, tm devolvido aos cariocas a auto-

    estima, enquanto as periferias se convertem em espaos de atuao dos poderes

    mafiosos. Aqui, a crise urbana torna-se central para compreender as formas de

    regulao social armada e a economia de pilhagem. A atuao dos grupos milicianos

    nas brechas de um poder estatal, cuja capacidade de interveno global solapada

    devido aos altos custos de manuteno do aparato, menos uma estratgia

    consciente de poder do que um momento dessa crise.49 A crescente reduo da

    49 As abordagens que enxergam o desenvolvimento das milcias ou a criminalizao dos pobres menos como um efeito do que como o objetivo das intervenes na segurana pblica acabam promovendo apenas uma inverso do ponto de vista segundo o qual tais fenmenos seriam efeitos secundrios das

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    lucratividade do trfico, que expressa a mesma situao porm do ngulo de uma

    economia ilegal, ampliou substancialmente o quadro de crise ao levar as diferentes

    faces a prticas cada vez mais irracionais. Se em algum momento era possvel ver a

    opo pelo trfico como fruto da racionalidade econmica, o morticnio verificado

    nos ltimos anos especialmente entre os jovens das favelas e periferias torna

    ridculo esse tipo de clculo supostamente racional, do mesmo modo que as novas

    drogas baratas introduzidas j no contexto de crise no so capazes de criar um novo

    mercado para o trfico, podendo, apenas, ampliar o espetculo ps-urbano de

    desagregao social.

    A Cidade Olmpica torna-se cada vez mais dual: da mesma forma que a Reforma

    Passos acabou com a promiscuidade entre camadas sociais na antiga rea central,

    dando origem a favelas e ocupaes suburbanas irregulares, a reestruturao pela qual

    a cidade vem passando nas duas ltimas dcadas (e, com maior nfase, desde o incio

    das obras de preparao para os eventos esportivos internacionais) ampliou as

    segregaes e as formas violentas de administrao da pobreza. Essa estratgia

    urbana, comum em metrpoles de pases perifricos, faz parte de uma economia

    bsica de distribuio dos espaos, que implica a construo de dois territrios dentro

    de uma mesma sociedade (MENEGAT, 2006: 105).50 A cidade que pretendia repetir o

    estratgias de segurana do Estado. Com a referida inverso corre-se o risco de perder a dimenso estrutural do problema, que se v reduzida intencionalidade dos atores sociais. Dito de outro modo: um tanto absurdo afirmar que as estruturas mafiosas e a vigilncia nas favelas so objetivos inconfessos que as polticas de Estado devem mascarar. Mesmo quando os agentes do Estado fabricam um inimigo como o crime organizado ou eles prprios se organizam de forma ilegal , o fazem atravs de relaes de poder e interesses imediatos e no a servio de um projeto poltico. A ampliao dos mecanismos de controle sobre a populao pobre no , portanto, nem um efeito secundrio nem uma meta a ser alcanada e sim um segundo aspecto, igualmente importante, das novas formas de administrao da pobreza que se impe aos governos quando os mecanismos de integrao social perdem fora. E as milcias, por sua vez, so a expresso mais clara dessa integrao falhada. 50 Mas no se pode dizer que tal processo siga fielmente a uma estratgia de classe ou que seja determinado por um processo de espacializao da dinmica de classes como sustenta o autor, correspondendo, antes, a uma diferenciao entre os segmentos da populao que se encontram em uma situao de maior integrao lgica econmica e o segmento de no-rentveis, que tambm podem ser definidos como uma massa de desclassificados. Em outras palavras: a espacializao dos conflitos sociais no redutvel ao conflito de classes. claro que essa diferenciao entre as elites econmicas e as camadas mdias, de um lado, e a populao pobre, de outro, no exclui o fato de que o grande volume de investimentos e obras pblicas mobiliza um contingente assalariado de baixa qualificao e mal remunerado, mas que se torna parcialmente integrado, ajudando a produzir uma diferenciao no interior das camadas populares.

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    aparente sucesso de Barcelona que, nesse meio tempo, se tornou mais do que

    duvidoso conseguiu apenas reproduzir algumas das lies de Medelln, cidade que

    inspirou uma srie de aspectos do nosso modelo de pacificao, desde a concepo

    geral das ocupaes permanentes at detalhes como os telefricos, parques literrios

    e acanhados projetos sociais idealizados para disputar os jovens com as redes do

    trfico. Mas a maior lio, que, aparentemente, confirmava uma idia repetida de

    forma dogmtica pela maioria dos especialistas, que a reduo da pobreza no

    uma condio para enfrentar o problema da criminalidade. Em todo caso, o que j

    acostumamos a chamar de enfrentamento da violncia no significa uma menor

    necessidade de regulao armada da sociedade e, muito menos, uma reduo

    substancial da criminalidade. Trata-se apenas de criar um impacto positivo com o qual

    se espera garantir um salto nos negcios. Tambm aqui Medelln nos oferece um

    exemplo: a pacificao, que varreu os grupos insurgentes das favelas, conseguiu

    substituir os conflitos e massacres cometidos por paramilitares por assassinatos

    seletivos de lideranas comunitrias. Com a desmobilizao desses grupos, o centro da

    cidade finalmente se tornou um lugar seguro para os negcios, incluindo o boom

    imobilirio financiado com o dinheiro das drogas. Enquanto isso, milcias civis

    infiltradas por traficantes e ex-paramilitares se convertiam em grupos legalizados de

    vigilncia privada. No foram poucos os que viram a articulao entre negcios ilcitos,

    corrupo poltica e paz armada como um bom exemplo. Ser uma nova lio de

    Medelln?

    Referncias bibliogrficas

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    http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/38721-uma-guerra-pela-regeografizacao-do-rio-de-janeiro-entrevista-especial-com-jose-claudio-alvese. Acesso em novembro de 2012.

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