arroz irrigado

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1. Introdução O arroz é cultivado e consumido em todos os continentes. O Brasil está entre os dez principais produtores mundiais de arroz, com cerca de 11 milhões de toneladas para um consumo de 11,7 milhões de toneladas base casca. Essa produção é oriunda de dois sistemas de cultivo: sequeiro (em áreas não irrigadas) e irrigado (em áreas irrigadas). A diferença principal entre os dois é que o primeiro depende das águas da chuva, já o segundo depende do uso da água em um solo que permita a inundação e o manuseio desta, formando uma lamina regular, que influi diretamente na produção. As práticas conservacionistas e de manejo do solo são importantes na cultura de arroz para propiciar condições satisfatórias na operação de plantio, na germinação das sementes, na emergência das plântulas, no desenvolvimento e na produção das plantas, como também na eliminação das plantas daninhas, no controle da erosão, na descompactação do solo e no controle da água. O cultivo continuado do arroz em uma mesma área leva à autolimitação da cultura, isto é, acaba impedindo a continuidade do cultivo, devido ao aumento da infestação por plantas daninhas, em especial o arroz vermelho. A intensificação do uso de veículos e implementos agrícolas pesados, utilizados para o preparo convencional dos solos de várzea, agrava ainda mais os problemas de estrutura já existentes nesses tipos de solos. Associados a ações sucessivas de preparo ao longo dos anos, podem trazer sérios

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Page 1: arroz irrigado

1. Introdução

O arroz é cultivado e consumido em todos os continentes. O Brasil está entre os dez

principais produtores mundiais de arroz, com cerca de 11 milhões de toneladas para um

consumo de 11,7 milhões de toneladas base casca. Essa produção é oriunda de dois

sistemas de cultivo: sequeiro (em áreas não irrigadas) e irrigado (em áreas irrigadas). A

diferença principal entre os dois é que o primeiro depende das águas da chuva, já o

segundo depende do uso da água em um solo que permita a inundação e o manuseio desta,

formando uma lamina regular, que influi diretamente na produção. As práticas

conservacionistas e de manejo do solo são importantes na cultura de arroz para propiciar

condições satisfatórias na operação de plantio, na germinação das sementes, na emergência

das plântulas, no desenvolvimento e na produção das plantas, como também na eliminação

das plantas daninhas, no controle da erosão, na descompactação do solo e no controle da

água. O cultivo continuado do arroz em uma mesma área leva à autolimitação da cultura,

isto é, acaba impedindo a continuidade do cultivo, devido ao aumento da infestação por

plantas daninhas, em especial o arroz vermelho. A intensificação do uso de veículos e

implementos agrícolas pesados, utilizados para o preparo convencional dos solos de

várzea, agrava ainda mais os problemas de estrutura já existentes nesses tipos de solos.

Associados a ações sucessivas de preparo ao longo dos anos, podem trazer sérios

problemas de drenagem, assim como promover a compactação subsuperficial, dificultando

a movimentação da água e a aeração nesses solos.

Em virtude da adoção de novas técnicas de manejo na cultura do arroz irrigado,

existe uma tendência de intensificação da exploração do solo nessas áreas não só com o

arroz, mas também com outros cultivos estivais em rotação. Neste sentido, buscam-se

novas tecnologias de manejo de solo que minimizem os problemas associados a uma alta

freqüência do uso do solo, assegurando sustentabilidade produtiva, econômica e dos

recursos naturais. Dentro deste contexto, os distintos sistemas de preparo do solo, tanto os

de solo seco (convencional, cultivo mínimo e plantio direto), como o pré-germinado, se

caracterizam como opções diferenciadas aos rizicultores na busca de alternativas para

racionalizar o uso das áreas, maquinário, mão de obra, controle de daninhas, bem como dos

recursos ambientais, de modo a tornar o investimento sustentável a médio e longo prazo.

Page 2: arroz irrigado

Para isto, é necessário conhecer previamente o manejo adequado para obter êxito em cada

sistema de preparo e quais são os respectivos efeitos em decorrência do seu uso em

atributos do solo, como a matéria orgânica.

1.1. Arroz irrigado

O sistema de cultivo irrigado é responsável por 75% da produção, a área cultivada

no Brasil atinge aproximadamente 1,3 milhões de hectares por ano, necessitando no caso

de cultivo submerso de 2000 L (2 m3) de água para produzir 1 kg de grãos com casca,

sendo está uma das culturas mais exigentes em termos de recursos hídricos. O arroz

irrigado depende essencialmente da água, portanto o manejo deste deve ser realizado

cuidadosamente, pois é captada das fontes (rios, lagoas, barragens, etc.) e conduzida até as

lavouras. Correlacionados diretamente com o manejo e conservação do solo estão o tipo

de solo, o nivelamento do terreno, a topografia, a construção dos diques (taipas), a

utilização de grades e arados. Para o plantio irrigado preferencialmente o solo deve ser

argiloso, o que minimiza a perda de água de irrigação, em solos muito soltos e arenosos há

muita perda por infiltração, dificultando o manejo da água. A topografia deve ser plana ao

máximo, e a declividade deve estar em torno de 1 a 2%, para que não haja excessivo

trabalho de aplainamento do terreno. A construção dos diques, que são responsáveis por

delimitar as quadras (onde o arroz é plantado), deve ser em nível, a fim de facilitar o uso da

água.

Figura 1: Em Formoso do Araguaia (TO), áreas de várzeas já sistematizadas produzem arroz irrigado. Fonte: Portal EMBRAPA Arroz e Feijão.

Page 3: arroz irrigado

1.2. Arroz Sequeiro

O arroz de terras altas (sequeiro) como o próprio nome diz, é cultivado em terras

altas ou secas. No Brasil, ele tem sido cultivado em áreas de pastagens degradadas pela sua

boa tolerância a solos ácidos, sendo usado como meio de recuperação desses solos.

Historicamente, o arroz sequeiro apresenta baixos níveis de produtividade e, sobretudo,

qualidade dos grãos inferior aos produzidos pelo processo irrigado, o que, geralmente, não

agrada o consumidor. Por isso, pesquisas recentes procuram produzir sementes para o

cultivo de terras altas altamente produtivas e com qualidade de grão tão boa quanto a do

arroz irrigado. Atualmente, 13% dos campos de arroz do mundo cultivam esse tipo de

arroz, entretanto representam apenas 4-5% da produção total mundial. Cerca de 20% do

arroz de sequeiro do mundo é cultivado na América Latina. No Brasil, esse tipo de cultura,

concentra-se na Região de Cerrado e, apesar de ocupar cerca de 64% da área cultivada,

responde por apenas 39% da produção nacional. Diferentemente do arroz irrigado que,

ocupando apenas 40% da área cultivada é responsável por aproximadamente 60% da

produção nacional.

Figura 2: Cultura de arroz sequeiro. Fonte: Portal EMBRAPA Arroz e Feijão.

2. Preparo do Solo

Existem diferentes sistemas de produção para o cultivo do arroz e são necessárias

práticas distintas de preparo do solo, variando conforme a textura, estrutura, grau de

Page 4: arroz irrigado

compactação do solo e disponibilidade de equipamentos. Diferentes sistemas de preparo do

solo para cultivo de arroz, em terras altas e em várzeas.

Figura 3: Cultura do Arroz - Terras Altas x Várzea. Fonte: EMBRAPA RR (2005)

Quadro 1: Arroz - Cultura Terras Altas x Várzea

CULTURA TERRAS ALTAS CULTURA ÁREAS DE VÁRZEA

Dependente de chuvas Produtividade variável Cultivares mais altas e rústicas Baixa resposta a N Potencial Produtivo: 6.000 kg/ha Boa qualidade de grãos Custo de Produção mais baixo Menos tolerantes a doenças Maior facilidade ao acamamento Boa produção em várzea úmida

Não depende de chuvas Produtividade estável Cultivares baixas e modernas Alta resposta a N Potencial Produtivo: 10.000 kg/ha Excelente Qualidade de Grãos Custo de Produção mais alto Maior tolerância a doenças Maior controle plantas daninhas Não produz bem em terras altas.

2.1. Sistemas de preparo para cultivo de arroz em terras altas

Os principais métodos de preparo do solo empregados para o cultivo de arroz são:

preparo do solo com arado de disco, com grade aradora, aração invertida, preparo mínimo

e plantio direto.

Page 5: arroz irrigado

2.1.1. Preparo com arado de disco

O arado de discos trabalha o solo a uma profundidade em torno de 20 a 25 cm, na

presença de restos culturais e plantas daninhas de grande porte, a área fica mal nivelada, as

irregularidades levam a necessidade de um maior número de gradagens para o

desterroamento, ocasionando à desestruturação da camada superficial do solo e afetando,

ao mesmo tempo, a porosidade criada pela aração, o que forma, em condições de solo

úmido, o “pé-de-arado”.

1.1.1. Preparo com grade aradora

A grade aradora é um implemento muito utilizado no preparo de solo. Apresenta

alto rendimento de trabalho, realizando em uma mesma operação, a lavração e a gradagem,

podendo ser utilizada em locais com existência de grande quantidade de massa vegetal

(restos de culturas e plantas invasoras), mas a incorporação é mais superficial do que a

realizada com arados. O perfil do solo preparado é superficial com 10 a 15 cm de

profundidade, não conseguindo romper as camadas compactadas provoca a formação do

"pé-de-grade" com 5 cm ou mais de espessura, dificultando o crescimento das raízes e

favorecendo a erosão laminar. Promove a desagregação em intensidade superior a dos

arados em geral, pois tende a pulverizar o solo pelo lançamento da terra em direções

opostas.

1.1.2. Incorporação da resteva com grade, seguida de aração profunda

É denominada aração invertida, pois inverte a ordem de realização das operações

de preparo do solo. Inicialmente - dependendo da quantidade de plantas daninhas, restos

Page 6: arroz irrigado

culturais e teor de umidade - com a grade aradora ou “niveladora” é feita a gradagem.

Posteriormente é feita a aração com o arado de aiveca, que em solos com grande

quantidade de palha, é mais eficiente na incorporação do que o de disco, este tipo de arado

têm a capacidade de inversão das leivas que de melhor preserva os agregados do solo,

garantindo a formação de uma boa estrutura do solo. Esse implemento consegue penetrar

no solo a maiores profundidades (20-40cm), rompendo camadas compactadas a

profundidades maiores, evitando a formação do pé-de-grade. Seu uso não é indicado,

contudo, quando o teor de argila ultrapassa 30%. Além disto, a superfície do solo fica livre

de vegetais, aumentando, desta forma, o risco de erosão, e a sua regulagem é mais difícil

do que a do arado de disco. O método de aragem invertida proporciona um aumento

significativo na produtividade por reduzir os riscos de déficit hídrico durante a estiagem.

1.1.3. Preparo Mínimo

Esse método de preparo é indicado para solos descompactados e com pouca

quantidade de plantas daninhas, garante redução dos custos e mantém a estrutura do solo.

No preparo mínimo visa apenas romper a camada superficial adensada, com o arado

escarificador, e o controle das plantas daninhas de pequeno porte, com a grade.

O arado escarificador trabalha a uma profundidade de 20 a 30 cm e protege o solo

da erosão, mantendo os resíduos vegetais na superfície. Comparado aos arados de discos e

aivecas promove economia de combustível e tempo de operação, além de permitir o

preparo do solo seco.

1.1.4. Plantio Direto

Tem como principal objetivo conservar o solo para uma possível mudança de

cultura, assim não agride o solo com operações profundas e de alto gasto, neste sistema o

Page 7: arroz irrigado

solo não precisa ser previamente preparado, o adubo e a semente são colocados

diretamente no solo não revolvido, usando-se semeadoras-adubadoras especiais. O

desenvolvimento inicial do plantio direto baseia-se em três princípios: a mínima

movimentação do solo, a permanente cobertura do mesmo e a prática de rotação de

culturas. É recomendado para solos descompactados, com fertilidade homogênea no perfil

de 0 a 40 cm e o controle de plantas daninhas feito com o uso de herbicidas. Antes do

plantio direto o solo deve ser corrigido e possuir uma camada de restos culturais que

auxiliam a conservação do solo e da umidade.

1.2. Sistemas de preparo para o cultivo de arroz em várzeas

Os sistemas de preparo do solo de arroz irrigado são dois: preparo do solo seco e

preparo do solo alagado.

1.2.1. Preparo do solo seco

É a aração do solo em uma profundidade de 20 a 25 cm, envolvendo duas etapas,

primária e secundária, utilizando um ou mais implementos. O preparo primário consiste em

operações mais profundas, para as quais se utilizam arados ou grades aradoras de grande

porte, visando principalmente o rompimento de camadas compactadas e a eliminação e

enterrio da cobertura vegetal para incorporar restos de cultivos e plantas daninhas. A

operação de incorporação na presença de muita palhada deve ser realizada entre 10 e 30

dias antes da aração. No preparo secundário, as operações são mais superficiais, realizadas

com grades leves para destorroar, nivelar, incorporar agroquímicos e eliminar plantas

daninhas. Para o desterroamento e nivelamento do solo são efetuadas, dependendo da

classe do solo, duas ou três gradagens leves. Uma camada finamente destorroada é

importante para a germinação das sementes, nos sistemas de semeadura direta, em linha ou

a lanço. Quando a grade leve não for capaz de realizar o destorroamento, a enxada rotativa

Page 8: arroz irrigado

é uma boa alternativa. Assim, o uso da enxada rotativa constitui uma alternativa para o

destorroamento, devendo, entretanto, ser utilizada somente quando a grade leve não tiver

condições de realizar satisfatoriamente esta operação.

Em geral, as atividades têm início no verão/outono anterior à semeadura da lavoura.

Primeiramente faz-se o desmanche das taipas, normalmente realizado com a própria

entaipadeira, invertendo-se o sentido de trabalho dos discos, ou com grades, arados e/ou

lâminas frontais. Independentemente do método de preparo do solo usado, é necessário

fazer o aplainamento da superfície do terreno ou sistematização, para corrigir as

irregularidades nas quadras, adequando a superfície natural do terreno, de forma a

transformá-la numa superfície plana ou numa superfície curva. A superfície plana pode ser

construída com ou sem declive, conforme o manuseio da água. É realizada com lâminas

niveladoras, escrapers, etc, que podem contribuir para a compactação do solo e diminui o

número de passadas de grade para o destorroamento final. Dessa forma, terminadas as

atividades de sistematização, complementadas com a drenagem da água acumulada na

superfície, o solo não permanecerá encharcado durante o inverno, o que permite o término

de seu preparo mais cedo na primavera e a semeadura na época mais indicada. Esta prática,

além de permitir a uniformização da lâmina de água e o controle mais eficiente das plantas

daninhas, também favorece o sistema de plantio com sementes pré-germinadas, mas

embora dessa forma o arroz seja plantado sem as quadras previamente inundadas, não é um

sistema muito vantajoso, pois operações de manuseio do solo realizadas várias vezes

podem causar a degradação; a pulverização provoca a degradação da estrutura do solo e

agressão à vida microbiana; além do risco de ocorrerem perdas de solo pelo processo

erosivo dos ventos e da água.

1.2.2. Preparo do solo alagado

A alternativa é o preparo do solo com água em áreas onde há muita chuva é

realizado com a enxada rotativa, a lâmina traseira e a grade de dentes. A primeira fase do

preparo do solo visa trabalhar a camada superficial para a formação de lama em solo já

inundado. Essa atividade envolve a operação com grade aradora em solo úmido, seguida de

Page 9: arroz irrigado

destorroamento sob inundação com enxada rotativa. A segunda fase compreende o

renivelamento e o alisamento do terreno por meio de pranchões de madeira. Em solo bem

nivelado, o arroz apresenta florescimento e maturação mais uniforme, o que facilita a

determinação da época adequada da realização de tratos culturais e da colheita, a qual

influi na qualidade dos grãos. A inundação do terreno deve ser feita com sete dias de

antecedência à aração. Este período pode variar dependendo da classe de solo e da

quantidade de resíduos da cultura anterior. Em solo profundo, é conveniente realizar a

primeira aração com o solo seco, a fim de não desagregá-lo profundamente, o que pode

ocasionar atolamento de máquinas no momento da gradagem ou da colheita. Havendo

necessidade de uma segunda aração é conveniente que esta seja feita uma semana após a

primeira, para eliminar as plântulas emergidas.

2. Sistemas de Plantio

Os sistemas de plantio de arroz no Brasil são agrupados em dois grandes sistemas:

semeadura direta e transplantio. A principal diferença entre estes sistemas é que na

semeadura direta em linhas e em solo preparado, conhecido como sistema convencional, as

sementes são distribuídas diretamente no solo, na forma de sementes secas ou pré-

germinadas, a lanço ou em linhas, em solo seco ou inundado, são os mais utilizados; já no

sistema de transplantio, as plântulas são produzidas primeiramente em viveiros ou

sementeiras, antes de serem levadas para o local definitivo.

1.1. Semeadura Direta

A semeadura direta é a forma mais adequada de plantio de arroz irrigado nas

várzeas. O arroz produzido por meio de semeadura direta pode atingir a maturação sete a

dez dias antes daquele transplantado. Esta redução de ciclo pode ser importante para áreas

onde se utilizam cultivos sucessivos e/ou apresentam limitações climáticas, como

Page 10: arroz irrigado

ocorrência de baixas temperaturas. A semeadura direta pode ser feita utilizando-se semente

pré-germinada ou semente seca, a lanço ou em linhas, em solo seco ou inundado, com ou

sem preparo do solo.

1.1.1. Semente Pré-germinada

Define-se sistema pré-germinado como um conjunto de técnicas de cultivo de arroz

irrigado adotadas em áreas sistematizadas onde as sementes, previamente germinadas, são

lançadas em quadros nivelados e inundados. No sistema pré-germinado, a quantidade total

de água necessária ao cultivo de arroz irrigado é menor que nos demais sistemas, em

virtude da formação da lama. Entretanto, como neste sistema a semeadura de sementes pré-

germinadas é efetuada em solo previamente inundado, há necessidade de um grande

volume de água por ocasião do preparo do solo e da semeadura. A pré-germinação das

sementes consiste em acelerar o processo natural de germinação, na ausência de solo, e

quando ocorrer à semeadura, a semente apresentará desenvolvidos a radícula e o

coleóptilo. Assim as técnicas do preparo e manuseio do solo, envolvem praticas em solo

seco e praticas com o solo já inundado, descritas a seguir:

        · aração seguida de destorroamento com grade de disco ou enxada rotativa em solo

seco, sendo a lama formada após a inundação utilizando-se a enxada rotativa;

        · uso de enxada rotativa sem aração, preferencialmente em solo inundado, repetindo-

se a operação, de modo a permitir a formação de lama sem deixar restos de plantas

daninhas. Uma alternativa para a formação de lama é a utilização da roda de ferro tipo

"gaiola", que oferece maior sustentação e deixa menos rastro das rodas do trator.

        A segunda fase compreende o renivelamento e o alisamento, após a formação da

lama, utilizando-se pranchões de madeira, com o intuito de tornar a superfície lisa e

nivelada, própria para receber a semente pré-germinada.

Page 11: arroz irrigado

Figura 4: Preparo do solo inundado com enxada rotativa. Fonte: Sistema de produção EMBRAPA.

3.2. Semente Seca

O sistema que se utiliza de sementes secas para o plantio de arroz é o mais

empregado no Brasil. Na semeadura com semente seca, o manejo eficiente das plantas

daninhas é essencial. Dependendo dos equipamentos utilizados, este sistema pode ser

subdivido em semeadura a lanço e semeadura em linhas.

3.2.1. Semeadura a lanço

A semeadura é irregular, e a emergência, desuniforme. A profundidade de

semeadura é mais desuniforme que no sistema em linhas, e varia conforme a forma de

cobrir as sementes. Aquelas que permanecem nas camadas mais superficiais ficam mais

sujeitas ao ataque de pássaros, e podem apresentar, adicionalmente, problemas de

germinação devido à secagem rápida da camada superficial do solo. A localização das

sementes no solo influencia a ocorrência de focos de infecção de brusone, por meio da

transmissão do patógeno pelas sementes infectadas.

Page 12: arroz irrigado

As vantagens da semeadura a lanço são a rapidez e a economia. As sementes são

espalhadas no terreno, manual ou mecanicamente, mediante o uso de semeadoras ou de

aviões agrícolas, e incorporadas superficialmente ao solo por meio de grade. Tanto na

semeadura a lanço como em linhas, a semente deve ficar ao redor de 3 cm de

profundidade. Portanto, devem-se tomar cuidados especiais no uso de grade de disco na

incorporação superficial das sementes, para que a maioria delas fique em profundidade

nunca superior a 5 cm.

3.2.2. Semeadura em linhas

Utiliza-se de uma semeadora-adubadora, sendo o sistema mais empregado no

Brasil. Requer cerca de 20% menos de semente que no sistema a lanço, possibilita

adequada profundidade de plantio, garantindo maior uniformidade na emergência das

plântulas, melhor manejo da água de irrigação, maior facilidade na distribuição de

fertilizantes e na aplicação de defensivos, resultando em maior eficiência no controle de

plantas daninhas, tanto manual como mecânico. Também traz maior eficiência de

utilização dos fertilizantes, que são colocados somente no sulco de semeadura, abaixo das

sementes. Deve-se utilizar semeadora com dispositivos para efetuar a compactação do solo

na linha de plantio, pois isto resulta em maior porcentagem de germinação e uniformidade

de emergência de plântulas. Caso contrário, é necessário efetuar a rolagem, passada do rolo

compactador. Dependendo do manejo do solo, a semeadura em linhas pode ser efetuada

em solo preparado, ou seja, no sistema convencional, em solo sem preparo, no sistema de

plantio direto, ou no sistema de plantio direto com cultivo mínimo.

3.2.3. Semeadura em linhas em solo preparado ou Sistema Convencional

Neste sistema, o manejo eficiente das plantas daninhas é essencial, pois a

inundação permanente somente é realizada cerca de três semanas após a emergência das

Page 13: arroz irrigado

plântulas de arroz. O preparo do solo envolve os preparos primário e secundário, mediante

os diferentes sistemas, utilizando um ou mais implementos. O preparo do solo deve

propiciar o destorroamento da camada superficial, o que irá favorecer a germinação das

sementes e a emergência uniforme das plântulas. O preparo primário consiste em

operações mais profundas, para as quais, em geral, utilizam-se grades aradoras, com o

objetivo, principalmente, de romper as camadas compactadas e eliminar e/ou proceder o

enterrio da cobertura vegetal.

No preparo secundário, as operações são mais superficiais, realizadas com grades

destorroadoras e niveladoras ou plainas, para destorroar, nivelar, incorporar agroquímicos

e eliminar plantas daninhas. A semeadura é feita com a camada superficial do solo

drenada. O espaçamento entrelinhas é de 17-20 cm e uma população de 50 plântulas por

metro de linha de plantio. A população de plantas influencia a incidência e a severidade da

brusone. Todas as medidas para aumentar a população de plantas favorecem o rápido

desenvolvimento da doença nas folhas.

3.2.4. Plantio Direto

No solo não revolvido, com resíduos do cultivo anterior e antecedida ou seguida da

aplicação de herbicida de ação total para controle das plantas daninhas e voluntárias, a

semeadura é realizada. Com a abertura de apenas um pequeno sulco com profundidade e

largura suficientes para garantir uma boa cobertura e o contato da semente com o solo, e

não mais de 25% a 30% da superfície do solo movimentados. No ecossistema de várzeas, o

plantio direto de arroz irrigado por inundação controlada está mais relacionado ao controle

do arroz-vermelho e arroz-preto e à redução dos custos de produção que à conservação do

solo. O gasto de sementes é maior que na semeadura em solo preparado. O plantio direto

possibilita a utilização mais racional da maquinaria, sendo seu custo de operações 2,5

vezes menor que o da semeadura convencional.

Page 14: arroz irrigado

3.2.5. Cultivo Mínimo

No cultivo mínimo quando comparado ao sistema convencional a mobilização do

solo é menor. O preparo do solo é reduzido do solo até aproximadamente 60 dias antes da

semeadura do arroz irrigado, para promover a germinação das sementes de plantas

daninhas e voluntárias e reduzir as irregularidades da superfície do solo provocadas pelas

colhedoras. Na semeadura, que é realizada diretamente no solo sem revolvimento, faz-se a

aplicação prévia de herbicida de ação total para dessecar a cobertura vegetal. O número de

operações de preparo não é fixo, podendo variar em função das características do solo e do

teor de umidade. Em geral, o preparo do solo é efetuado no verão ou no fim do inverno e

início da primavera. A semeadura é realizada diretamente no solo, sob cobertura vegetal

previamente dessecada com herbicida, sem revolvimento. Desta forma, a incidência de

plantas daninhas, principalmente arroz-vermelho, é bastante reduzida.

3.3. Transplantio

O transplante de mudas é um sistema de semeadura indireta onde as plantas

crescem inicialmente em um viveiro de mudas (fase de produção de mudas) e

posteriormente são plantadas em local definitivo (fase de Transplantio), sendo sua

principal vantagem permitir a produção de sementes geneticamente puras, este método tem

como principal objetivo a obtenção de sementes de alta qualidade e é o método mais

eficiente de controle do arroz-vermelho. No Brasil, este sistema de plantio é usado em

pequenas lavouras, especialmente no Nordeste. Nas demais regiões é muito pouco

utilizado e está restrito aos campos de produção de sementes.

Page 15: arroz irrigado

3.3.1. Produção de mudas

Para a produção de mudas o solo deve ser preparado com a adubação adequada, as

sementes são plantadas em lanço ou em linha, em canteiros nivelados, para permitir uma

lâmina adequada de água. Após cinco dias da semeadura a sementeira deve ser irrigada

mantendo uma lâmina de 0,01 m, a lâmina de água deve ser aumentada até 0,05 m

conforme as plântulas se desenvolverem. É necessário que a sementeira seja inundada um

dia antes do arranquio das mudas, para facilitar a sua extração. Após o arranquio as mudas

são separadas, lavadas, e agrupadas da forma mais conveniente.

Figura 5: Viveiro de mudas e prontas a serem transplantadas. Fonte: http://www.agrogiusti.com.br

3.3.2. Transplante de mudas

O transplante é feito quando as mudas alcançam 10-12 cm de altura (12-18 dias

após a semeadura). No momento de transplante, as caixas devem estar com umidade

adequada, para facilitar o desempenho da transplantadeira. Esta operação deve ser

realizada com área previamente drenada. As transplantadeiras normalmente utilizadas

possuem um sistema de regulagem que permite o plantio de 3 a 10 mudas por cova,

espaçamento de 14 a 22 cm entre covas e 30 cm entre linhas. O rendimento médio de uma

transplantadeira com 6 linhas é em torno de 3.000 metros quadrados por hora de trabalho,

sendo necessárias 110-130 caixas de mudas/ha (30-40 kg de sementes/ha). A inundação

permanente deve ser evitada por uns 2 ou 3 dias, até o pegamento das mudas. O preparo do

Page 16: arroz irrigado

solo, manejo da água, controle de plantas daninhas, de pragas e doenças é idêntico ao

recomendado para o sistema pré-germinado.

Figura 6: Transplante de mudas e processo de seleção. Fonte: http://www.agrogiusti.com.br

Figura 7: Transplantio mecanizado de mudas de arroz irrigado. Fonte: Sistema de produção

EMBRAPA.

Page 17: arroz irrigado

Referências:

CARLOS MAFFEI, JOSÉ. O Arroz: Perfil Agrícola, Armazenamento e

conservação. Rio Grande do Sul: Sagra S.A., 1981. 115p.

EMBRAPA. Cultivo de Arroz Irrigado no Brasil. Disponível em:

<http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Arroz/ArrozIrrigadoBrasil/

cap09.htm> Acesso em 2011-05-20.

SAAD, OSILON. Maquinas e Técnicas de Preparo do Solo. São Paulo: Livraria

Nobel S.A. 1984.99p.

VIEIRA, N. R. de A.; SANTOS, A. B. dos; SANT’ANA, E. P. A Cultura do Arroz

no Brasil. EMBRAPA Arroz e Feijão. Santo Antônio de Goiás – GO. 1999.

Page 18: arroz irrigado

UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

Curso de Agronomia

Cultura do Arroz

Aires, Andreia, Bruno, Daniel, Fabiana,Flávia, Gabriela, Guilherme, Gustavo

Taubaté2011