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  • Revista Eletrnica de Cincia Administrativa (RECADM) - ISSN 1677-7387 Faculdade Cenecista de Campo Largo - Coordenao do Curso de Administrao

    v. 5, n. 1, maio/2006 - http://revistas.facecla.com.br/index.php/recadm/

    EMPREENDEDORES E INOVAO:

    CONTRIBUIES PARA A ESTRATGIA DO EMPREENDIMENTO Mauricio Henrique Benedetti1 Karina Maria Rodrigues Rebello2 Daniela Ester Copolo Reyes3 Resumo O interesse pelo tema empreendedorismo e inovao tem aumentado nos ltimos anos, podendo mencionar-se o crescente nmero de publicaes e a abertura de espao para discusso em importantes congressos de administrao. Tal constatao motivou a pesquisa exploratria apresentada neste artigo realizada junto aos empreendedores do setor de panificao do municpio de So Paulo que implementaram inovaes em seus negcios, convertendo suas padarias de um modelo tradicional para o modelo chamado de convenincia. Os resultados obtidos a partir de entrevistas com esses empreendedores mostraram que o processo de gerao e implantao de inovaes contnuas motivado pela busca por vantagens competitivas. Como principal fonte de recursos do processo de inovao nesses pequenos negcios, encontrou-se a prpria capacidade e personalidade do empreendedor, a partir de seu conhecimento, ambio, viso, otimismo e propenso em lidar com os riscos inerentes s inovaes. Palavras-chave: Inovao; empreendedorismo; estratgia. Abstract The interest for the entrepreneurship and the innovation has been increasing in the last years, could be mentioned the crescent number of publications and the space opening for discussion in important administration congress. Such verification motivated the exploratory research presented in this article with the entrepreneurs of the bread-making sector in So Paulo city that implemented innovations in their businesses accomplished close to, converting their bakeries of a traditional model for the convenience model. The results obtained from interviews with those entrepreneurs showed that the generation process and implantation of continuous innovations is motivated by the search by competitive advantages. As main source of resources of the innovation process in those small businesses, was the own capacity and the entrepreneur's personality, starting from his knowledge, ambition, vision, optimism and propensity in working with the inherent risks to the innovations. Key Words: Innovation; entrepreneurship; strategy. 1. Introduo

    A partir da dcada de 1990, o interesse pelo tema empreendedorismo no Brasil aumentou

    substancialmente (Dornelas, 2001), incentivando um grande nmero de estudos e publicaes. A criao de

    pequenas empresas duradouras e a necessidade da diminuio das altas taxas de mortalidade desses

    empreendimentos eram os principais fatores que explicavam o interesse pelo assunto. O empreendedorismo

    surge ento, como uma rea de discusso que aborda diferentes disciplinas que se aproximam para

    compreender o fenmeno da criao e manuteno de novas organizaes.

    De acordo com os dados levantados pelo Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas

    (Sebrae), as micro e pequenas empresas so cerca de 99% das empresas estabelecidas no pas, sendo que

    representam em torno de 56% das ocupaes e movimentam cerca de 20% do PIB. No ano de 2004, o Sebrae

    1 Universidade Presbiteriana Mackenzie 2 Universidade Presbiteriana Mackenzie 3 Universidade Presbiteriana Mackenzie

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    v. 5, n. 1, maio/2006 - http://revistas.facecla.com.br/index.php/recadm/

    realizou uma pesquisa em nvel nacional e constatou que das micro e pequenas empresas constitudas no ano

    de 2000, menos da metade ainda sobrevivia, revelando que no Brasil cerca de 60% dos empreendimentos no

    ultrapassam o quarto ano de vida.

    Aps vrias tentativas de estabilizao da economia e da imposio advinda do fenmeno da globalizao, muitas grandes empresas brasileiras tiveram que procurar alternativas para aumentar a competitividade, reduzir custos e manter-se no mercado. A conseqncia foi o enxugamento do quadro de funcionrios das grandes organizaes e o aumento do contingente de pessoas disponveis no mercado de trabalho. Desempregados em um pas com oferta restrita de empregos, os ex-funcionrios dessas empresas comearam a buscar a alternativa de criar seus prprios negcios como meio de sobrevivncia (Dornelas, 2001).

    Alguns empreendimentos permaneceram no mercado por mais tempo e outros no, e isso deve-se ao

    modo como empreendedores criaram e sustentaram suas vantagens competitivas. Neste contexto, tem-se

    observado dentro do setor de panificao, um crescente nmero de empreendimentos passando por

    verdadeiras transformaes, destacando-se aqueles que se converteram de um modelo tradicional para o

    modelo denominado de convenincia. Por outro lado, levantou-se a seguinte questo: as caractersticas

    particulares dos empreendedores contribuem para a adoo de estratgias de inovao? A pesquisa

    exploratria aqui apresentada teve como objetivo geral responder a esta questo, assim como os seguintes

    objetivos especficos: (a) identificar as caractersticas e aes dos empreendedores de padarias; (b) verificar

    como os empreendedores desenvolvem e implementam as estratgias para seus negcios; e (c) compreender

    o processo de inovao como estratgia para a competitividade das padarias.

    2. Referencial Terico 2.1 Quem e o que faz o empreendedor

    Nas ltimas dcadas houve a proliferao sobre o tema empreendedorismo e existiu um problema ao

    definir o fenmeno, pois foi preciso capturar todos os aspectos e intervir com a complexidade que se sobrepe

    as mudanas nas gerncias, inovaes, tecnologias e as turbulncias do ambiente, desenvolvimento de novos

    produtos, gerncia de pequenos negcios. Alm disso, o fenmeno pode ser um fruto das disciplinas de

    economia, sociologia, finanas, histria, psicologia e antropologia em sua concepo (Filion, 1999; Low, 2001).

    A caracterstica multidisciplinar do empreendedorismo, tem gerado vises distintas, contudo, h uma

    grande convergncia em apontar que o empreendedorismo consiste no fenmeno da gerao de negcio em si,

    relacionando tanto com a criao de uma empresa, quanto com a expanso de alguma j existente (Degen,

    1989).

    O empreendedor algum com capacidade de estabelecer objetivos e encontrar oportunidades de

    negcios, sendo que para isso faz uso de sua criatividade e conhecimento do ambiente no qual est inserido

    (Filion, 1999). A orientao de suas decises o contnuo aproveitamento de oportunidades por meio de

    inovaes, o que implica em assumir riscos moderados. O autor enfatiza que nem sempre um proprietrio de

    um negcio um empreendedor, uma vez que mantm sua empresa sem fazer mudanas significativas, nem

    tem viso do que quer fazer e no desenvolve novos produtos ou mercados. Por outro lado, h

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    empreendedores que nunca se tornam proprietrios de pequenos negcios e permanecem trabalhando em

    grandes corporaes, os chamados intraempreendedores ou empreendedores corporativos.

    A literatura tem procurado apresentar um perfil que possa identificar o empreendedor e sua relao com

    a dinmica do novo empreendimento. Filion (1999) comenta que a tentativa de se definir um perfil para o

    empreendedor tem sido o foco de muitas pesquisas, mas que este um objetivo difcil e complexo, pois h

    muitas diferenas de amostras e estas impactam diretamente nos resultados. O autor resgata estudos de

    diversas disciplinas que abordam o empreendedor e apresenta suas proximidades e diferenas, as quais so

    apresentadas no Quadro 1.

    Quadro 1: Diferentes vises sobre o empreendedor Pesquisadores Viso sobre o Empreendedor Economistas So inovadores e podem ser vistos como foras

    direcionadoras de desenvolvimento. Comportamentalistas Criativos, persistentes e lderes. Engenheiros e Especialistas em Gerenciamento de Operaes

    Bons distribuidores e coordenadores de recursos.

    Especialistas em Finanas Capazes de calcular e medir riscos. Especialistas em Gerenciamento So organizadores competentes de suas atividades e

    recursos, desembaraados e visionrios. Especialistas da rea de Marketing

    Pessoas que identificam oportunidades, se diferenciam dos outros e possuem o pensamento voltado para o consumidor.

    Fonte: Filion (1999).

    Filion (1999) afirma no ser possvel afirmar que uma pessoa ser ou no bem-sucedida. Segundo o

    autor, at agora no foi possvel estabelecer um perfil psicolgico absolutamente cientfico do empreendedor.

    Ele ainda acrescenta que determinadas caractersticas se desenvolvem na prtica, o que implica em diferentes

    caractersticas para diferentes tipos de negcios e setores de atuao.

    O empreendedor distingui-se de outras pessoas por serem motivadas e impulsionadas por uma

    satisfao mpar em suas atividades (Dornelas, 2001; McClelland, 1972). Para Dornelas (2001), este indivduo

    ambicioso, deseja reconhecimento e admirao para tornar-se uma referncia para aqueles que o cercam.

    Timmons (1999) aponta a capacidade do empreendedor em identificar e aproveitar uma oportunidade, para, a

    partir do gerenciamento dos recursos necessrios, transform-la em um negcio de sucesso. Similarmente,

    Dolabela (2003) afirma que o empreendedor consegue explorar as oportunidades independentemente dos

    recursos que tem mo, uma vez que sabe como buscar, gerenciar e capacitar recursos.

    A capacidade de empreender est relacionada s caractersticas do indivduo, aos seus valores e modo

    de pensar e agir (Degen, 1989). Shumpeter (1950) coloca o empreendedor como agente das mudanas

    necessrias para o desenvolvimento econmico. Ser empreendedor inovar oportunamente gerando novos

    tipos de negcios na economia (Degen, 1989; Schumpeter, 1950). Trata-se de um empresrio inovador que

    capaz de empreender um novo negcio, mesmo sem ser dono do capital. Segundo as consideraes de

    Schumpeter (1950) e Kirzner (1986), o empreendedor aproveita oportunidades que so geradas com o uso de

    novas tecnologias em substituio de outras, o que parte do processo denominado por Schumpeter de

    destruio criativa.

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    O empreendedor tem necessidade de realizar coisas novas e colocar em prtica suas idias

    (McClelland, 1972; Degen, 1989). Quando desafiado por uma oportunidade, est disposto a trabalhar

    continuamente para alcanar seu objetivo. Para isso, identifica a oportunidade, determina e organiza os

    recursos necessrios e conduz o desempenho da organizao (Dornelas, 2001).

    McClelland (1972) coloca como principal caracterstica do empreendedor a busca por seus objetivos,

    que em certa medida inclui comprometimento, definio de mtricas de desempenho e controle de resultados.

    Suas aes neste sentido so analisar os riscos, buscar feedback a respeito de sua performance, ser

    persistente e inovador. Kirzner (1986) considera as aes do empreendedor antecessoras aos acontecimentos,

    ou seja, pr-ativo, mesmo em ambientes turbulentos e complexos, orientado por sua viso.

    2.2 Estratgia como fonte de vantagem competitiva

    Na atual economia globalizada, a busca pela vantagem competitiva considerada um desafio dinmico

    e fundamental para o sucesso das empresas. A vantagem competitiva a raiz que d sustento a um

    empreendimento. Porter (1989) define vantagem competitiva como a busca de uma posio competitiva

    favorvel que visa estabelecer uma posio lucrativa e sustentvel contra foras que determinam a

    concorrncia.

    Organizaes que esto frente de seus concorrentes, ao conquistarem uma vantagem competitiva,

    no elegem a fonte de vantagem utilizada como nica e permanente. Estas empresas esto sempre em

    movimento e em busca de novas vantagens que se originem de fontes diversas (Stalk, 1998). Independente do

    setor em que a empresa atua, a fonte para a obteno de uma vantagem competitiva no imutvel, o que, em

    outras palavras, indica a necessidade de inovar para sustent-la (Porter, 1990).

    Para Kaplan & Norton (2001), as fontes para se conquistar uma vantagem competitiva sustentvel so

    os recursos tangveis e intangveis da empresa, onde a estratgia esteja no mago dos sistemas gerenciais. A

    vantagem competitiva sustentada resulta da combinao dos recursos humanos, dos recursos organizacionais

    e dos recursos fsicos que uma empresa possui (Wright et al., 2000). Ao realizar o planejamento estratgico a

    empresa deve avaliar e gerenciar todos os seus recursos necessrios para obter uma vantagem competitiva

    sustentvel.

    Na viso de Porter (1989), a obteno da vantagem competitiva sustentvel ocorre a partir da escolha

    de uma estratgia genrica, buscando a liderana em custo, diferenciao ou enfoque. Segundo o mesmo

    autor, a definio da estratgia genrica a base para a continuidade e sustentabilidade dos negcios, onde

    deve-se optar por uma nica direo, sendo o meio termo um caminho perigoso e de difcil sucesso. O que a

    estratgia empresarial procura , sob a viso competitiva, obter uma vantagem que distinga a organizao de

    seus concorrentes (Ohmae, 1985).

    Segundo Ansoff e McDonnell (1993), estratgia , basicamente, um conjunto de regras de tomada de

    deciso para orientao do comportamento de uma organizao. A estratgia um conceito fugaz e um tanto

    abstrato. Refere-se aos planos da alta administrao para alcanar resultados consistentes com a misso e os

    objetivos gerais da organizao (WRIGHT et al., 2000).

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    A estratgia colocada por Wright et al. (2000) como algo orientado para o futuro, ao mesmo tempo em

    que Ansoff e McDonnell (1993) afirmam que nem sempre uma estratgia oferecer resultados imediatos. Dentro

    deste contexto Wright et al. (2000) fazem meno a um processo que compreende trs fases: (1) a formulao

    da estratgia, onde se pensa nos objetivos da organizao e como alcan-los; (2) implementao da

    estratgia, que consiste em colocar em prtica o que foi planejado; e (3) controle estratgico, para que os

    resultados sejam monitorados e possveis modificaes na estratgia, ou na maneira como foi implementada,

    sejam realizadas.

    De acordo com Levy e Weitz (2000), a estratgia de varejo indica como a empresa planeja direcionar

    seus recursos para atingir as metas estabelecidas. De acordo com os mesmos autores as decises estratgicas

    para um varejista so: a definio de uma estratgia de mercado, o estabelecimento de uma estratgia

    financeira, estratgia de localizao, a estratgia de estrutura organizacional e de recursos humanos e por fim

    uma estratgia de sistema de informaes.

    As decises estratgicas requerem comprometimento, por sua prpria natureza, so caracterizadas por

    risco e incerteza considerveis. Mudanas rpidas e imprevisveis podem transformar rapidamente mesmo os

    planos mais bem concebidos em estratgias ineficazes (Wright et al., 2000). Estas mudanas referem-se a

    novos modos de agir no nvel estratgico de uma organizao. Os ambientes interno e externo de uma

    organizao, independente do ramo em que ela est inserida, podem ser demasiadamente complexos, o que

    inviabiliza a formulao de estratgias de uma s vez a partir de planos e vises exatas. Faz-se necessrio

    ento, capacidade para mudar com velocidade, tendo-se, como conseqncia, constantes inovaes tanto no

    curto como no longo prazo (Mintzberg et al., 2000).

    2.3 Estratgia de Inovao e o Empreendedorismo

    Ao inovar, uma empresa cria condies de sustentar o seu crescimento e a sua lucratividade (Gambin,

    1998). Uma inovao pode ser definida como uma idia, prtica ou um bem material que percebido como

    novo e de relevante aplicao (Rogers, 1995). A inovao conceituada por Luecke (2003) como sendo a

    incorporao e combinao de conhecimentos em algo original, relevante, como um novo produto, processo ou

    servio. Hussey (1997) descreve uma inovao como uma idia criativa aplicada ao ambiente de trabalho, ou

    seja, convertida em uma ao. Nota-se ento que uma inovao pode ser um produto, um processo, um

    mtodo ou um sistema de gesto. Segundo Van de Ven (1986), a inovao pode ocorrer tanto na rea tcnica

    como administrativa, contudo o autor ressalta a importncia de se estudar as duas reas em conjunto, pois caso

    contrrio o processo de inovao fica fragmentado.

    Dois tipos de inovaes so amplamente difundidos na literatura: a inovao radical e a inovao

    incremental. Luecke (2003) explica que uma inovao radical algo absolutamente novo e normalmente

    envolve novas tcnicas de produo e novas tecnologias. Segundo o mesmo autor, a inovao incremental

    explora processos, tecnologias e produtos j conhecidos, focando as melhorias que podem ser feitas. Drucker

    (1987) sustenta a possibilidade de se redesenhar um antigo processo, por meio de novos conhecimentos

    adquiridos que sero adicionados a um conhecimento j existente. Luecke (2003) pontua que inovaes

    radicais e incrementais so comumente vistas lado a lado, uma vez que aps uma inovao radical segue-se

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    um perodo de inovaes incrementais que aprimoram a primeira inovao. Mesmo se concentrando no

    aperfeioamento do processo, Drucker (1987) destaca que um antigo processo apresentar novas

    necessidades que sero satisfeitas a partir de uma inovao. Perry (1993) v na identificao de uma

    necessidade a existncia de uma oportunidade de sucesso para o lanamento de uma inovao.

    As oportunidades advindas de necessidades se renovam e obrigam a empresa a um movimento

    contnuo que merece ser mantido sistematicamente (Drucker, 1987; Perry, 1993). Um caminho apontado por

    Von Hippel et al. (2000) para localizar necessidades a permanente consulta aos usurios finais dos processos

    ou produtos.

    A utilizao de antigas idias em novos lugares, porm de novas maneiras e combinadas de formas

    diferentes, tem grande potencial de gerar inovaes, contudo, Hargadon & Sutton (2000) ressaltam que uma

    idia s ser aplicvel medida que possa ser testada, caso contrrio no passar de uma idia apenas.

    Thomke (1998) acrescenta que por meio dos testes de idias que se chega a uma inovao, resultado de um

    verdadeiro sistema de experimentao, reforando, modificando ou complementando o conhecimento existente.

    O comportamento inovador dentro das organizaes no ocorre ao acaso, mas conseqncia de

    fatores do ambiente externo e/ou interno, os quais levam a mudanas que precisam ser planejadas. A

    organizao desenvolve estratgias para lidar com as mudanas nestes ambientes e assim espera aprender e

    adaptar-se s novas realidades mantendo-se competitiva (Mintzberg et al., 2000). Para McCarthy (2003) a

    inovao em pequenos negcios est intimamente relacionada personalidade carismtica do empreendedor,

    pois leva o indivduo a ser mais propenso a riscos e seguir suas convices. Mintzberg et al. (2000, p.105)

    associa estratgia e inovao ao afirmar que no critrio empreendedor, a gerao de estratgias dominada

    pela busca ativa de novas oportunidades. Em outras palavras, a elaborao de estratgias responde

    necessidade da organizao em buscar inovaes, a fim de estar em sincronismo com o novo ambiente.

    Estratgias do setor de panificao foram investigadas em um estudo realizado por Castro et al. (2004),

    pelo qual os autores buscaram identificar alternativas de posicionamento para estes estabelecimentos

    considerando especificamente o ambiente de concorrncia e as mudanas ocorridas no negcio de padarias.

    Em sntese, os resultados mostraram que as estratgias deste tipo de negcio de varejo so baseadas

    principalmente em decises de localizao, no mix de produtos e servios com qualidade, atendimento e

    relacionamento com os clientes e ampliao das atividades com relao panificao com a finalidade de

    diversificar a clientela e ocupar a capacidade ociosa.

    Em negcios de pequeno porte, a elaborao da estratgia comumente concentrada nas mos do

    empreendedor. Em um processo de inovao faz-se necessrio um estudo dos pontos fracos e fortes da

    organizao como caminho para empreender mudanas estratgicas (Mintzberg et al., 2000). Juntamente com

    as inovaes o empreendedor necessita comprometer-se com o negcio e planejar sua estratgia. O

    comportamento do empreendedor associado estratgia do negcio ser ento, fonte potencial de vantagens

    competitivas (Aaker, 2003).

    A formao da estratgia em pequenas empresas vista por McCarthy (2003) como resultado das

    experincias do empreendedor e sua personalidade. Segundo Mintzberg et al. (2000), as estratgias

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    empreendedoras se originam na viso central e as intenes existem como viso pessoal de um nico lder, e

    assim, so adaptveis a novas oportunidades.

    Degen (1989) aponta que, aps negcio estar consolidado, uma nova fase empreendedora comear

    quando a empresa quiser continuar a crescer. Para isso, necessrio uma redefinio do negcio. O enfoque

    mudar a orientao que se tinha em sua estratgia bsica, procurando aumentar a eficcia da empresa. Esta

    fase considerada de alto risco, uma vez que nela so feitos ajustes fundamentais na relao da empresa com

    seu ambiente, procura de maior eficcia. A fase empreendedora termina com a definio de uma nova

    orientao estratgica bsica para a empresa e, conseqentemente, com a entrada num novo estgio e uma

    nova estratgia de crescimento (Degen, 1989).

    3. Breve descritivo do setor de panificao Conforme dados da Revista Tecnopan, no ano de 2004 o setor de panificao no Brasil era composto

    por cerca de 65 mil empresas, as quais eram responsveis por 650 mil empregos diretos e um faturamento

    anual em torno de 23 bilhes de reais. considerado um setor com uma demanda reprimida ao se comparar o

    consumo per capita de pes no Brasil, que em torno de 26 kg/ano, com pases da Europa e outros pases

    desenvolvidos, onde a mdia desse consumo de 85 kg/ano. O consumo de po no Brasil inferior, inclusive,

    aos valores recomendados pela Organizao Mundial de Sade (OMS), que de 52 kg/ano per capita.

    As padarias so responsveis por 85% do mercado de po no Brasil e tm a preferncia dos

    consumidores deste produto (SINDIPAN, 2004). Os principais concorrentes so os supermercados, que detm

    aproximadamente 7% da preferncia dos consumidores, enquanto outros 6% optam por outros tipos de

    estabelecimentos.

    Alm das padarias tradicionais e as recm criadas mini-padarias, identifica-se uma tendncia de

    crescimento de trs categorias de padarias: tipo boutique, de servio e de convenincia. As padarias tipo

    boutique so focadas em produtos prprios e importados e localizam-se preferencialmente em regies com alto

    poder aquisitivo, contudo sua quantidade ainda no significativa. As padarias de servio, alm dos produtos

    tradicionais, oferecem servios de bar, lanchonete, rotisseria e fast food, entre outros, e concentram-se em

    regies centrais e ruas com grande circulao em bairros comerciais. J as padarias de convenincia, alm dos

    produtos oferecidos nas padarias tradicionais e de servio, oferecem uma grande variedade de produtos de

    convenincia, podendo ser vistas como verdadeiros mini-mercados.

    4. Procedimentos Metodolgicos Neste artigo pesquisou-se padarias que foram criadas no modelo tradicional e que foram transformadas

    em padarias de convenincia. Evidencia-se um estudo em profundidade e no e extenso, cuja amostra foi

    composta por seis padarias localizadas no municpio de So Paulo. So portanto, empresas que passaram por

    um processo de transformao em que seus empreendedores optaram por uma inovao complexa que

    combinou mudana estrutural, diferenciao e diversificao do mix de produtos e servios, requalificao de

    funcionrios e novo foco no atendimento s necessidades dos clientes.

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    O presente estudo tem um carter nitidamente exploratrio que, segundo Malhotra (2001), objetiva a

    familiarizao do pesquisador com o fenmeno, ampliao do conhecimento ou obter nova percepo do

    mesmo. um tipo de pesquisa flexvel e verstil e no estruturado que no visa a confirmao de hipteses,

    mas a descoberta de novas idias.

    O mtodo de pesquisa utilizado foi o qualitativo, indicado quando se est lidando com problemas pouco

    conhecidos e a pesquisa de cunho exploratrio (Godoy, 1995). Um mtodo comumente utilizado em pesquisa

    no conclusiva e quando no possvel, ou conveniente, a obteno de dados por meio de mtodos

    estruturados. A pesquisa qualitativa possibilita ainda, conhecer valores, emoes e motivaes que esto no

    subconsciente dos respondentes.

    Para a coleta de dados foram realizadas entrevistas. A entrevista no uma simples conversa, mas sim

    um mtodo de investigao orientado para um objetivo definido, a fim de obter do informante, dados relevantes

    para a pesquisa (Flick, 2004). Seguiu-se um roteiro semi-estruturado, o que permite ao pesquisador aprofundar

    a investigao durante a realizao das entrevistas. Todo o roteiro foi construdo com base na reviso da

    literatura e focado em responder aos objetivos desta pesquisa. Questes previamente elaboradas funcionam

    como um guia a fim de manter o entrevistado focado no contedo especfico e de obter respostas significativas

    para desvendar problemas ocultos.

    As entrevistas foram realizadas com os proprietrios das padarias selecionadas, por terem sido eles os

    responsveis pela converso do modelo de padaria tradicional para convenincia. Portanto, foram realizadas

    seis entrevistas, as quais foram gravadas e posteriormente transcritas literalmente.

    A partir das transcries das entrevistas, realizou-se uma anlise de contedo atravs da categorizao

    das falas dos respondentes. Segundo Malhotra (2001), na anlise de contedo so elaboradas categorias

    analticas utilizadas para a classificao dos dados e a comunicao decomposta conforme regras

    preestabelecidas.

    A anlise de contedo obedeceu s seguintes etapas: organizao do material, leitura preliminar,

    codificao, determinao das unidades de registro, determinao das unidades de contexto, categorizao e

    redao do texto (Bardin, 1977). As unidades de registro foram as frases dos entrevistados, enquanto as

    unidades de contexto foram as categorias previamente definidas. Na categorizao, utilizou-se como critrio as

    nfases dadas pelos entrevistados em suas respostas, a repetio de frases e/ou idias similares e prontido

    ou demora em responder s questes. As categorias, assim como a anlise de contedo, so apresentadas na

    seo seguinte.

    5. Anlise e interpretao dos resultados A reviso da literatura permitiu a elaborao do roteiro para as entrevistas, com questes formuladas

    para que os objetivos desta pesquisa fossem atingidos. Foram determinadas trs categorias para que fosse

    possvel agrupar as idias principais dos proprietrios das padarias, que constituram os elementos chaves de

    cada uma das categorias, para, desta forma, atingir os objetivos especficos da pesquisa. O Quadro 1 apresenta

    as categorias de anlise e sues respectivos elementos chaves e objetivos a serem alcanados.

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    Quadro 2: Categorias de anlise Categoria Elementos chaves Objetivos especficos O empreendedor Viso e otimismo / buscar solues

    alheias / dedicao / ambio / propenso a lidar com riscos

    Identificar as caractersticas e aes dos empreendedores.

    Estratgia Pensamento estratgico / planejamento por escrito / necessidade de planejar / objetivos e prioridades

    Verificar como os empreendedores desenvolvem e implementam as estratgias para seus negcios.

    Inovao e vantagem competitiva

    Diversificao de produtos / mudanas / vigilncia s inovaes / desejo de inovar / fontes de vantagem competitiva

    Compreender o processo de inovao como estratgia para a competitividade das padarias.

    Fonte: Elaborado pelos autores Categoria O empreendedor:

    A viso de futuro foi uma caracterstica comum entre os entrevistados, assim como o otimismo. Estas

    duas caractersticas associados, viso e otimismo, permite que enxerguem uma situao desejada para o futuro

    juntamente com a crena de que esta situao realmente ocorrer, levando-os a ser persistentes (Dornelas,

    2001; Filion, 1999; McClelland, 1972). As entrevistas revelaram que esta combinao ocorre desde a criao do

    negcio, tendo em vista que todos os entrevistados revelaram acreditar no sucesso de seus empreendimentos.

    Percebeu-se ainda, que o exerccio de olhar para o futuro prtica contnua dos entrevistados, uma vez que

    todos ofereceram panoramas de mdio e longo prazo que esperam para os seus negcios. A viso do

    empreendedor destacada por Kirzner (1986) e Mintzberg et al. (2000), assim como colocado por Dornelas

    (2001), o qual afirma que os empreendedores tm uma viso de como ser o futuro para seu negcio e sua

    vida e, o mais importante, eles tm habilidade de agir para esta viso se concretize.

    No prtica comum entre os entrevistados o aproveitamento de solues encontradas em conjunto

    com outras pessoas. Algumas sugestes podem ser bem-vindas, mas foi possvel observar um certo receio em

    aceit-las plenamente, sem uma anlise cuidadosa ou modificaes. Todavia, notou-se que a deciso final

    tomada pelo prprio empreendedor, ou seja, o processo decisrio totalmente centralizado. A centralizao

    das decises justificada pelos entrevistados que consideram as demais pessoas sem capacidade de decidir

    corretamente por falta de conhecimento do negcio necessrio para tal. Os entrevistados convergem em suas

    opinies a respeito do sucesso de seus empreendimentos, que creditam a sua prpria capacidade em decidir

    corretamente. Esta uma posio que refora o que foi colocado por Salim et al. (2004) ao afirmarem que o

    sucesso de um empreendimento, muitas vezes, est relacionado com a capacidade de decidir corretamente.

    Outra caracterstica comum entre os entrevistados o comprometimento com o negcio, que na

    literatura destacado por Mintzberg et al. (2000), Wrhigt et al. (2000) e McClelland (1972). O comprometimento

    integral, dia a dia, visto por todos como essencial para que os resultados desejados sejam atingidos.

    Consideram-se trabalhadores exemplares, incansveis, devotados e persistentes em suas idias, mesmo que

    dificuldades possam surgir, graas a energia que dizem possuir. Como colocado por Dornelas (2001), os

    empreendedores comprometem o relacionamento com amigos, com a famlia, e at mesmo com a prpria

    sade. O tempo livre para lazer e o convvio social escasso, contudo alguns deles fazem do trabalho uma

    razo de viver, o que passa a ser algo prazeroso em lugar do lazer (McClelland, 1972).

    Os empreendedores entrevistados mostraram-se ambiciosos e revelaram que desde o incio dos seus

    negcios queriam ser bem-sucedidos e obterem os ganhos financeiros que desejavam. A ambio dos

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    entrevistados confirma o que Dornelas (2001) apresenta como sendo empreendedor: um indivduo ambicioso,

    que deseja reconhecimento e admirao para tornar-se uma referncia para aqueles que o cercam.

    Ao serem abordados sobre os riscos encontrados na criao e manuteno de seus empreendimentos,

    os entrevistados mostraram grande confiana e habilidade em lidar com os riscos. Verifica-se que, como

    colocado por McCarthy (2003) o empreendedor possui uma personalidade que lhe torna propenso ao risco

    (Filion, 1999; McClelland, 1972). Alguns relataram uma certa preocupao no incio dos negcios, mas mesmo

    estes estavam confiantes de que superariam as dificuldades. medida que adquiriram mais experincia e

    conhecimento, os riscos passaram a ser vistos sob uma perspectiva mais otimista e tornaram-se desafios

    (McClelland, 1972).

    Foi comum entre os empreendedores o estudo detalhado do ramo de atuao a fim de estar preparado

    para lidar com os riscos. Dornelas (2001) explica que a propenso em lidar com os riscos uma das qualidades

    do empreendedor, o qual utiliza conhecimentos especficos para criar e manter o empreendimento. Assim o

    empreendedor est apto a arriscar, calcular, ter coragem de enfrentar desafios, de tentar um novo

    empreendimento, de buscar os melhores caminhos avaliando as reais chances de xito.

    Categoria Estratgia: A estratgia vista pela maior parte dos entrevistados como suas aes cotidianas e solues de

    problemas que ocorrem na gesto do empreendimento. Revelaram ainda que a dinmica do setor no permite

    que a estratgia adotada seja nica ou perene, o que permite resgatar Mintzberg et al. (2000), o qual coloca a

    necessidade de mudar com velocidade, tanto no curto quanto no longo prazo. Ficou bastante claro a

    importncia que os empreendedores do ao que se pode chamar de pensamento estratgico. A definio de

    metas algo comumente definido por eles mesmos e procuram orientar suas aes em busca dessas metas

    (Mintzberg et al, 2000; McCarthy, 2003). Neste contexto, estes empreendedores seriam no apenas os

    formuladores das estratgias organizacionais como tambm os executores ou os facilitadores, comprometendo-

    se para que as metas sejam atingidas (Aaker, 2003). Apenas um dos empreendedores entrevistados revelou

    que no dedica um tempo exclusivo para a elaborao de estratgias, preferindo uma posio mais reativa aos

    problemas e situaes do dia a dia que venham a ocorrer.

    Em relao necessidade de se planejar, os entrevistados mantiveram-se favorveis ao planejamento,

    contudo com algumas sensveis diferenas quanto ao horizonte a ser coberto. Para alguns o planejamento

    imediato, o tempo para a ao limitado e isso exige tomadas de decises rpidas diante das ocorrncias do

    dia a dia. Mesmo em se tratando de aes de curtssimo prazo, estes empreendedores so bastante

    conscientes da necessidade de pensar estrategicamente, elaborar um plano instantneo e colocar em prtica

    imediatamente o que foi pensado (Mintzberg et al., 2000). possvel ento fazer uma associao colocao

    de Dornelas (2001) ao afirmar que os empreendedores mais bem-sucedidos so aqueles que planejam cada

    passo a ser dado, sempre tendo como base a forte viso do negcio que possuem.

    Um ponto relevante, observado nas entrevistas, foi que, mesmo propondo metas e estratgias para

    alcan-las (Levy e Weitz, 2000), no prtica comum entre estes empreendedores de padarias fazer

    planejamentos por escrito. Para eles, o planejamento importante, como colocado por Mintzberg et al. (2000),

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    Aaker (2003), Dornelas (2001), Wright et al. (2000), contudo preferem faz-lo mentalmente e aplic-los

    diretamente no negcio. Uma das alegaes para este comportamento o tempo escasso, o que os impede de

    colocar suas idias no papel. Eles dizem utilizar suas vises de negcios repentinamente, ou seja, preferem

    acreditar em seus insights estratgicos. Planejam suas aes de um dia para o outro, e, portanto, sem tempo

    hbil para fazer um planejamento por escrito. Apenas um empreendedor defendeu a prtica do planejamento

    por escrito em todas as situaes. Os objetivos iniciais priorizados pelos entrevistados ao criarem seus

    negcios eram o sucesso do empreendimento e um retorno financeiro que considerassem compatvel com a

    dedicao que estavam dispostos a colocar em suas atividades. Ao mesmo tempo, foi comum entre eles o

    desejo de ter um trabalho agradvel e que os satisfizesse (McClelland, 1972). Percebe-se que com o passar do

    tempo e medida que os negcios prosperavam, a satisfao pessoal era alcanada. H ento um conjunto

    energizador, composto por dinheiro em caixa, crescimento do empreendimento, gosto pelo trabalho e

    dedicao, que os entrevistados utilizam para o estabelecimento de novas metas e planejar suas aes.

    Atualmente, as prioridades dos entrevistados esto bastante relacionadas ao atendimento do cliente.

    Foram mencionadas aes como o atendimento particularizado do cliente, oferta de produtos de qualidade e

    em grande variedade, cobrar preos compatveis com os servios oferecidos e cuidadosa ateno satisfao

    dos clientes. Nota-se aqui a presena de elementos bsicos na formulao de estratgias de varejo apontados

    por Levy e Weitz (2000). Tambm possvel verificar que a oferta de variedade de produtos de qualidade e

    atendimento so prioridades similares ao que encontraram Castro et al. (2004) em sua pesquisa com padarias.

    Alguns apontaram que este o caminho para se ter uma boa lucratividade, ou seja, juntamente com o

    atendimento dos clientes, prioridade para estes empreendedores o retorno financeiro que resultar de suas

    aes.

    Categoria Inovao e vantagem competitiva: Manter-se atualizado, lanar novos produtos e servios de acordo com as exigncias dos clientes, so

    prticas apontadas pelos entrevistados como essenciais para o xito no setor de panificao. A importncia da

    inovao em padarias foi verificada como fator de posicionamento estratgico tambm por Castro et al. (2004)

    ao constatar como prioridades estratgicas o mix de produtos e a ampliao de atividades relacionadas ao

    negcio de panificao. Como visto na reviso da literatura, autores como Luecke (2003), Hussey (1997) e

    Drucker (1997), relatam que alm de produtos, novos processos tambm so inovaes. Esta tambm a

    maneira de pensar dos empreendedores de padarias, que procuram garantir o aprimoramento da qualidade de

    seus produtos por meio de modificaes em seus processos de fabricao. Destacaram-se o uso de novas

    matrias-primas, como ingredientes dietticos e o menor uso de gordura para as refeies servidas, assim

    como modificaes operacionais que visam uma maior higiene na produo dos alimentos e no atendimento

    dos clientes. Para os entrevistados, inovar para que haja maior diversificao produtos fundamental para

    manter a competitividade de suas padarias (Gambin, 1998). A diversificao pode ter origem a partir da idia do

    prprio empreendedor (McCarthy, 2003), gerando uma inovao, ou a partir de idias que concorrentes j

    tenham tido e implantado e que julguem aproveitveis para o seu negcio. O ponto de partida para estes

    empreendedores ao avaliar a viabilidade de uma inovao para oferecer novos produtos ou servios a

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    necessidade do cliente, corroborando as colocaes de Cordeiro e Paiva Jr. (2003), Perry (1993), Drucker

    (1987)e Von Hippel et al. (2000).

    Foi consenso entre os entrevistados que, mesmo com o negcio gerando lucro, no possvel a

    acomodao com os bons resultados diante da concorrncia acirrada. As mudanas contnuas foram apontadas

    como necessrias para a sobrevivncia do negcio.

    Outro elemento determinante das mudanas apontado pelos entrevistados foi o prprio

    desenvolvimento do setor de panificao (Castro et al., 2004; Mintzberg et al., 2000). Aqueles que j atuam

    neste setor h pelo menos trs dcadas vivenciaram inmeras mudanas, especialmente nos ltimos anos e

    afirmaram no ser mais possvel trabalhar da mesma maneira que trabalhavam, quando estavam acostumados

    a obter lucratividade com maior facilidade, sem terem que recorrer s inovaes. Atualmente, com a maior

    concorrncia e novos hbitos de consumo da sociedade as mudanas so mais bruscas e constantes.

    O acompanhamento das aes dos concorrentes algo comum entre os entrevistados. Eles procuram

    ver o que seus concorrentes esto fazendo de novo e procuram apreender ou adaptar aquilo que vem com

    potencial para contribuir para atender s necessidades de seus clientes. Por vezes, por meio dessas

    diligncias ao mercado que desenvolvem idias que se transformam em inovaes em seus negcios. So

    comuns ento inovaes incrementais, que ocorrem aps a inovaes radicais, como destacado por Luecke

    (2003). Neste sentido, vale tambm lembrar que Dornelas (2001) coloca o empreendedor como um indivduo

    curioso em relao s informaes e procura ampliar seus conhecimentos a fim de tornar-se mais competitivo.

    Contudo, um dos entrevistados enfatizou que no h muito o que procurar com seus concorrentes em termos

    de inovaes, pois considera ser muito difcil alguma outra padaria oferecer algo que ainda no tenha em seu

    estabelecimento. Para este entrevistado, suas inovaes so referncias para os concorrentes. Mesmo que se

    baseando no que os concorrentes estejam fazendo de novo, o desejo de inovar marcante entre todos os

    entrevistados. Autores como Drucker (1987), Filion (1999) e McCarthy (2003), apontam que uma caracterstica

    especfica dos empreendedores a inovao, ou ainda o desejo de realizar coisas novas (Degen, 1989;

    McClelland, 1972).

    Houve ainda uma pequena divergncia entre os entrevistados quanto ao tipo de inovao. Foi consenso

    que pequenas inovaes, dentro das necessidades dos clientes, so oportunas e efetivas, contudo aquelas que

    exigem grande investimento de capital e/ou grandes modificaes estruturais so vistas com cautela por alguns

    e, desta maneira, no to freqentes. Confirma-se ento, entre esses empreendedores, que inovaes radicais

    trazem uma grande mudana e so seguidas por um perodo de inovaes incrementais (Luecke, 2003).

    As duas principais fontes de vantagem competitiva apontadas pelos entrevistados foram a obteno de

    reduo de custos de compras por meio de negociaes com os fornecedores e a inovao. Obter e sustentar

    uma vantagem competitiva o que estes empreendedores consideram fundamental para a fidelizao dos

    clientes. A implantao e comercializao de novos produtos e servios a partir da identificao de novas

    oportunidades tem sido o meio para diferenciarem-se dos demais concorrentes (Filion, 1999). Contudo, h entre

    eles uma conscientizao que neste segmento da economia a imitao fcil e ocorre com rapidez, o que

    fragiliza a vantagem competitiva obtida com uma inovao (Castro et al., 2004). Isso obriga ento as inovaes

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    serem constantes, o que exige contnua atualizao e ampliao do conhecimento dos empreendedores e

    transforma-se em um comportamento incorporado prpria cultura do negcio (Porter, 1990).

    6. Consideraes Finais Os nmeros referentes s micro e pequenas empresas revelam uma situao que merece reflexo no

    que se refere sobrevivncia destas organizaes. Tal preocupao torna-se ainda mais relevante medida

    que, ao encerrar as atividades, o micro e pequeno negcio deixa de exercer dois papis importantes na

    economia do pas: gerar empregos e contribuir para o desenvolvimento econmico nacional.

    Diante do panorama apresentado, este artigo buscou estudar aqueles empreendimentos que tm

    prosperado mesmo diante de turbulncias do ambiente externo. A pesquisa realizada com padarias que

    passaram por um processo de transformao de um modelo tradicional para o chamado de convenincia

    possibilitou compreender aes estratgicas adotadas nestas empresas e suas relaes com as caractersticas

    de seus empreendedores.

    Observou-se que as caractersticas que mais se destacaram entre estes empreendedores so a viso,

    o otimismo, o comprometimento com o negcio, a ambio e a propenso em lidar com riscos. O empreendedor

    define claramente onde quer chegar e tem habilidade para tornar sua viso uma realidade. Para isso esto

    dispostos a enfrentar possveis riscos, que so minimizados pelo conhecimento que possuem e aprimoram

    continuamente, pela dedicao que tm com seu negcio e sua ambio em atingirem seus objetivos.

    O pensamento estratgico dos empreendedores revela sua dedicao nas aes cotidianas na gesto

    de suas padarias. Planejam suas aes com extrema rapidez e as colocam em prtica de imediato, visando

    atingir metas que estabeleceram para seus negcios. Trata-se de um exerccio dinmico que os possibilita ir do

    nvel estratgico ao operacional em curto intervalo de tempo. Seus objetivos so claramente definidos e

    retratam o desejo em prosperar e ao mesmo tempo realizarem um trabalho com o qual se satisfaam.

    So vidos em identificar necessidades dos clientes e aes dos concorrentes que funcionam como

    fonte de informao para o desenvolvimento de inovaes. J passaram por uma grande mudana, inovando a

    maneira de atender os clientes, diversificando os produtos e servios oferecidos e remodelando seus negcios.

    Foram inovaes que implicaram em grandes mudanas, mas que agora cedem espao inovaes

    incrementais que no exijam alto investimento financeiro ou grandes alteraes estruturais. Contudo, a

    continuidade das inovaes mantida diante do risco de perderem vantagens competitivas que tenham

    conquistado com uma inovao.

    Foi possvel associar as principais caractersticas dos empreendedores encontradas nas entrevistas s

    suas estratgias direcionadas inovao. O processo de gerao e implantao de inovaes contnuas parte

    do prprio empreendedor e motivado pela busca por vantagens competitivas, as quais so consideradas

    essenciais para conquistar e manter seus clientes. Este processo tem como principal fonte de recursos a

    prpria capacidade do empreendedor, a partir de seu conhecimento, ambio, viso, otimismo e propenso em

    lidar com os riscos inerentes s inovaes.

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    O pensamento estratgico revelou-se dinmico e impulsionado pelo conhecimento, dedicao e desejo

    de inovar dos empreendedores. H uma retroalimentao de sua ambio ao atingir suas metas e usufruir da

    lucratividade e, assim, motivam-se a enfrentar novos desafios.

    As contribuies deste artigo, ora apresentadas, podem ser aprofundadas em estudos futuros em uma

    amostra maior, incluindo os scios proprietrios das padarias. Outra abordagem que se sugere a investigao

    dos novos entrantes neste setor, as mini-padarias, que trabalham com custos operacionais relativamente mais

    baixos e tm obrigado o movimento contnuo das padarias de convenincia a fim de manter a diferenciao.

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