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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016 ARQUITETURA E CIDADE E A PROMOÇÃO DE HABITAÇÃO EM TRÊS TEMPOS NOS BAIRROS DE HIGIENÓPOLIS, SANTA CECILIA E VILA BUARQUE: DOS CASARÕES E DO PROTOMODERNO AO MODERNISMO BORTOLLI JR., ORESTE Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Departamento de Projeto Rua Maranhão, 270 Ap.11 | 01240-000- Higienópolis São Paulo SP [email protected] RESUMO Situados num local chacareiro onde as terras eram pertencentes a figuras abastadas, foram criados o loteamento de Higienópolis e bairros adjacentes. Para o ramo imobiliário o local tornara-se um extraordinário negócio, pois uma febre especulativa ocorreu em São Paulo em 1890, devido à liberação de capitais dos fazendeiros. Neste tempo, esta era a gleba privada de maior alargamento territorial, considerada de importância econômica e social. Fora provida de modo a desenvolver um bairro de classe A, exclusivamente residencial, destinado à elite cafeeira e aos estrangeiros. Devido à localização, salubridade e embelezamento, impulsionou a especulação imobiliária. O acúmulo de riqueza proveniente da cultura cafeeira conferiu a Higienópolis e aos bairros convizinhos a denominação de belle époque paulistana, pois os modelos adotados advinham da França: hábitos, cultura, arquitetura. Domicílio da elite paulistana, membros de uma casta intelectual cafeeira e burguesa, incrementavam eventos culturais, tal como a Semana de 1922. No entanto, a efervescência, tanto no sentido cultural quanto na continuidade da construção das residências unifamiliares foi abalada pela crise de 1929, seguida pela Revolução de 1930, em que grandes fortunas originárias do café e da importância política dos paulistas entraram em decadência, iniciando, a partir de então o final do “período áureo do bairro”. Somente a alta burguesia possuía a casa própria e as outras camadas da população viviam em casas de aluguel, em vilas operárias ou em cortiços. Não obstante, apesar das crises, e em razão do déficit habitacional e da inexistência de controle sobre os impostos, a construção civil tornou-se uma atividade rentável. Devido à sua tradição de lugar da elite, Higienópolis e adjacências atraíram a atenção da classe média, motivo pelo qual iniciou a expansão vertical e a perda da exclusividade residencial unifamiliar, ocorrendo a substituição dos casarões, supridos, no entanto, por um quadro construído de valor arquitetônico inestimável. Criados para captação de renda, levou aos prédios o luxo e o conforto das residências. Na década de 1930, foram lançados os primeiros prédios de apartamentos nos quais predominavam traços do - o estilo art déco (ou protomoderno). Após a Segunda Guerra Mundial, institui-se o hábito de residir em casa própria, especialmente em apartamentos. A partir de então, o mercado imobiliário atinge Higienópolis e arredores, em razão dos amplos lotes, proximidade com o centro e também por contar com ampla rede de transportes, valendo-se inclusive, do estigma do prestígio do bairro como fator de atração para o estabelecimento da classe média. De 1940 até 1960, ocorre a verticalização do bairro, criada, em parte pelas mãos de imigrantes europeus e dos brasileiros coadunados aos paradigmas modernos, às técnicas construtivas de vanguarda. O presente trabalho discute as etapas da formação dos bairros em seus aspectos arquitetônicos. . Palavras-chave: Arquitetura; Cidade; Habitação

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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

ARQUITETURA E CIDADE E A PROMOÇÃO DE HABITAÇÃO EM TRÊS TEMPOS NOS BAIRROS DE HIGIENÓPOLIS, SANTA CECILIA E VILA BUARQUE: DOS CASARÕES E DO PROTOMODERNO AO

MODERNISMO

BORTOLLI JR., ORESTE

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Departamento de Projeto

Rua Maranhão, 270 Ap.11 | 01240-000- Higienópolis – São Paulo SP [email protected]

RESUMO

Situados num local chacareiro onde as terras eram pertencentes a figuras abastadas, foram criados o loteamento de Higienópolis e bairros adjacentes. Para o ramo imobiliário o local tornara-se um extraordinário negócio, pois uma febre especulativa ocorreu em São Paulo em 1890, devido à liberação de capitais dos fazendeiros. Neste tempo, esta era a gleba privada de maior alargamento territorial, considerada de importância econômica e social. Fora provida de modo a desenvolver um bairro de classe A, exclusivamente residencial, destinado à elite cafeeira e aos estrangeiros. Devido à localização, salubridade e embelezamento, impulsionou a especulação imobiliária. O acúmulo de riqueza proveniente da cultura cafeeira conferiu a Higienópolis e aos bairros convizinhos a denominação de belle époque paulistana, pois os modelos adotados advinham da França: hábitos, cultura, arquitetura. Domicílio da elite paulistana, membros de uma casta intelectual cafeeira e burguesa, incrementavam eventos culturais, tal como a Semana de 1922. No entanto, a efervescência, tanto no sentido cultural quanto na continuidade da construção das residências unifamiliares foi abalada pela crise de 1929, seguida pela Revolução de 1930, em que grandes fortunas originárias do café e da importância política dos paulistas entraram em decadência, iniciando, a partir de então o final do “período áureo do bairro”. Somente a alta burguesia possuía a casa própria e as outras camadas da população viviam em casas de aluguel, em vilas operárias ou em cortiços. Não obstante, apesar das crises, e em razão do déficit habitacional e da inexistência de controle sobre os impostos, a construção civil tornou-se uma atividade rentável. Devido à sua tradição de lugar da elite, Higienópolis e adjacências atraíram a atenção da classe média, motivo pelo qual iniciou a expansão vertical e a perda da exclusividade residencial unifamiliar, ocorrendo a substituição dos casarões, supridos, no entanto, por um quadro construído de valor arquitetônico inestimável. Criados para captação de renda, levou aos prédios o luxo e o conforto das residências. Na década de 1930, foram lançados os primeiros prédios de apartamentos nos quais predominavam traços do - o estilo art déco (ou protomoderno). Após a Segunda Guerra Mundial, institui-se o hábito de residir em casa própria, especialmente em apartamentos. A partir de então, o mercado imobiliário atinge Higienópolis e arredores, em razão dos amplos lotes, proximidade com o centro e também por contar com ampla rede de transportes, valendo-se inclusive, do estigma do prestígio do bairro como fator de atração para o estabelecimento da classe média. De 1940 até 1960, ocorre a verticalização do bairro, criada, em parte pelas mãos de imigrantes europeus e dos brasileiros coadunados aos paradigmas modernos, às técnicas construtivas de vanguarda. O presente trabalho discute as etapas da formação dos bairros em seus aspectos arquitetônicos.

.

Palavras-chave: Arquitetura; Cidade; Habitação

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

Denominação do loteamento como Boulevard Burchard

Higienópolis tem sua gênese nos anos de 1890, engendrada exclusivamente por agentes do

capital imobiliário. Foi, portanto pela iniciativa de dois comerciantes alemães Martinho

Burchard e Victor Nothmann que adquiriram o loteamento de duas glebas desprovidas de

benfeitorias, situadas entre a rua da Consolação e o vale do ribeirão do Pacaembu, e uma

porção da antiga propriedade de Joaquim Floriano Wanderley (HOMEM, 2011, p. 53).

Considerado de maior extensão territorial e de importância econômica e social, a exemplo de

bairros como Santa Efigênia, Campos Elíseos Higienópolis e arredores foram concebidos

para ser locais de classe A e de uso exclusivamente residencial. Para tanto, segundo Homem

(2011, p.56) Burchard e Nothmann implementaram toda a sorte de benfeitorias, tal como, ser

dividida em grandes lotes no sentido de obter da câmara regulamentação que a assegurasse

como bairro exclusivamente residencial, obrigando, por lei, a construção de casas com recuos

de 6 metros do alinhamento com o logradouro público para arborização, e 2 metros de recuo

lateral. A dimensão desta medida, para Homem (2011, p.56), significou uma alteração no

modo de viver do paulistano, que se tornou complexo e sofisticado, ou seja a libertação das

casas e dos sobrados construídos junto ao alinhamento das vias públicas, segundo a tradição

portuguesa. Tal medida permitiu conjugar grandes lotes, possibilitando chácaras residenciais.

Tal modelo de implantação buscava alinhar-se aos moldes europeus dos países mais

progressistas como a França, Alemanha, Suíça, Bélgica, entre outros países, criando,

inclusive o hábito de cultivar em seus jardins espécies europeias e tropicais (HOMEM, 2011,

p.57).

De início o loteamento de Higienópolis foi nomeado como Boulevard Burchard),

correspondendo às duas áreas que o compunham e o retalhamento geométrico obedeceu ao

tabuleiro xadrez (HOMEM, 2011. p.57).

Burchard e Nothman dotaram a área de benfeitorias urbanas: água, esgoto, iluminação a gás,

arborização e linha de bonde, benfeitorias essas que Homem (2011, p.57) destaca como

opcionais, e que outros bairros de São Paulo ainda esperavam que fossem implementados

pela iniciativa municipal, tendo a av. Higienópolis sido incrementada com espécies vegetais

arbóreas, como os, espécies recém-chegadas da Europa. Sobre a infraestrutura viária,

Homem (2011, p. 58) relata que conseguiram junto à Cia. Viação Paulista uma linha de bonde

movido a tração animal. O bairro fora beneficiado com escolas primárias e secundárias com

hospitais, como o Samaritano e a Santa Casa. Homem (2011, p.59) comenta que no início do

século XX Higienópolis tornara-se um dos locais mais aprazíveis da cidade, como pode ser

observado no cartaz promocional de vendas de terrenos no Boluvevar Burchard

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Figura1 - Cartaz promocional do final do século XIX. Coleção Família Teixeira Brandão.

Fonte: Macedo (2012)

O Boulevard Bouchard era articulado, majoritariamente por duas artérias principais, a av.

Higienópolis e a rua Maranhão, dotadas com terrenos de amplas dimensões, paulatinamente

valorizados. A designação de Boulevard Buchard, no entanto, não foi permitida para pela

municipalidade. Em 1984 a Câmara Municipal o substitui por Higienópolis.

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A arquitetura residencial e a transformação do modo de morar

Para Homem (2011, p. 81, o bairro de Higienópolis nasceu num período que pode ser

denominado de Belle Époque de São Paulo, que se estendeu a partir do final do século XIX

até a Primeira Guerra Mundial, quando, para a autora São Paulo ingressa na moderna

civilização da Revolução Industrial. Neste sentido, em decorrência da importação dos bens

materiais havia um arremedo do modo de vida dos países civilizados. Foi também após a

instalação da primeira ferrovia, a São Paulo Railway, em 1867 que se intensificam as trocas

comerciais, pois quase tudo era provido do exterior, uma vez que os trens desciam a serra

levando café e retornavam com imigrantes europeus e máquinas industriais, materiais de

construção, livros, revistas e artigos de arte, moda, decoração e gêneros alimentícios. Os

paulistanos abastecendo-se de produtos importados, comiam e bebiam, e até tomavam

mineral francesa (HOMEM, 2011, p. 82). Em decorrência disso ocorreram transformações no

modo de vida, nos hábitos, na vestimenta e principalmente no modo de morar. A cidade se

formava de acordo com os modelos europeus, uma vez que os imigrantes recém-chegados da

Europa construíam a cidade com o uso do tijolo, e não mais com a taipa. A urbanização, as

avenidas, a arborização e até mesmo as casas operárias tinham a fisionomia europeia. Neste

sentido, segundo Homem (2011, p.82) as mudanças no modo de vida vieram a influir e

determinar as novas formas de morar, em que se alteram as plantas tradicionais, tanto das

casas térreas quanto dos sobrados, as quais anteriormente eram implantadas no alinhamento

da rua e o andar inferior era destinado ao comércio e o superior à moradia. As casas

burguesas eram recuadas das divisas dos lotes, implantadas em meio aos jardins, surgindo

as salas, saletas, salas de jogos copa, quarto de vestir, de hospedes, agrupados por setores.

O primeiro andar era destinado à zona de repouso, a parte posterior do térreo, à zona social e

os fundos à cozinha e aos serviços. A figura do escravo a fazer o serviço doméstico já tinha

desaparecido. As redes de água e esgoto, e a iluminação foram realizadas a gás,

sucessivamente à eletricidade.

Ao longo da av. Higienópolis e ruas vizinhas, um significativo número de edificações em

estilos como neoclássico e os chalés no século XX são construídas as mais diversas

tendências do ecletismo, do art nouveau ao castelo inglês, do palacete ao estilo francês,

muitas exibindo terraços, torrinhas, bow windows e mirantes – elementos, enfim que

buscavam embelezar ou conferir uma graciosidade à residência. Sob este aspecto, Macedo

cita Reis Filho (1970,p.176) a esclarecer que nas residências “a preocupação com o domínio

da paisagem se dava sob a forma de torreões, terraços elevados, lanternins ou simples

plataformas entre os muros, eram uma constante na arquitetura brasileira. As casas mais

ricas em São Paulo [caso de Higienópolis] eram dotadas de torres e mirantes, como comprova

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a maior parte das residências daquela época ou dos primeiros anos do século XX”. Tais

elementos pode sem observados na Vila Hehl na a qual foi apelidada de Chateau de France

(HOMEM, 2011,p.70).

Figura 2 - Vila Hehl, proprietário Maximilan Hehl. Avenida Higienópolis . Desenho de Silvio

Soares Macedo. Fonte: Macedo (2012)

Transportado ao Brasil por uma nova geração, diretamente de Paris, o art nouveau de

Higienópolis se estendeu como modelo por Santa Cecília e Vila Buarque, consequentemente

em outros bairros da cidade. Neste contexto, em 1902, para Homem (2011, p. 68) deu-se

como um acontecimento que seria de suma importância para o bairro, quando o fazendeiro de

café e industrial Antônio Álvares Leite Penteado, adquiriu um terreno em uma quadra inteira

na avenida Higienópolis e construiu a Vila Penteado1, “que por suas proporções, pelo luxo e

pela categoria social de seus moradores, constituiu um dos palacetes excepcionais da cidade

mais e importantes do loteamento”. Legado ao arquiteto sueco Carlos Ekman o projeto, lança,

segundo a autora o estilo art nouveau em São Paulo.Com porão e mais dois andares a Vila

Penteado, situada em meio a jardins, hortas, pomares, lago artificial, estufa de plantas

exóticas, cocheiras quadra de tênis se posiciona frontalmente para a avenida Higienópolis,

tendo a parte o acesso de serviço pela rua Maranhão

1 Até 1960 foi a Faculdade de Arquitetura e urbanismo da USP, hoje abriga o seu Programa de Pós-Graduação. Foi tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo), em fevereiro de 1978).

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Figura 3 – Vila Penteado – vista para a avenida Higienópolis e Plantas. Fontes: MANZALI, Ana

Paula; BUZZO, Bruna; FIGUEIRA, Roberta. A história contada com arcos e vãos. Disponível

em

http://www.jornaldocampus.usp.br/index.php/2008/10/a-historia-contada-com-arcos-e-vaos/

Acesso em 12 de agosto de 2016 l

De construção mais modesta, foram construídas as residências do tipo chalé. Saliente-se que

no chalé na av. Higienópolis – a Vila Olga – pertencente ao mecenas Paulo Prado, foi o lugar

em que nasce a ideia da Semana de 1922. Segundo Homem (2011.p.71) nesta casa, seu

proprietário foi o grande incentivador da Semana de 22, onde reunia personalidades do grupo

Modernista. Prado financiou o aluguel do Theatro Municipal para a realização da Semana,

promovendo, a vinda de intelectuais franceses, que se hospedavam em sua casa.

Junto ao requintado conjunto eclético formado pelas residências na avenida Higienópolis,

destaca–se a de Cássio da Silva Prado, a qual foi provavelmente a primeira casa de concreto

armado da avenida. Projetada e construída pelo francês Victor Dubugras, arquiteto –

professor da Escola Politécnica de São Paulo, arquiteto a quem Nestor Goulart Reis Filho

atribui ser um dos pioneiros da arquitetura racionalista na cidade de São Paulo.

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Figura 4 – Residência de Cássio da Silva Prado -1912, na avenida Higienópolis, construída em concreto e de linha retas, na qual se percebe inovação e diferença geométrica das demais

residências ecléticas presentes no bairro. Fonte: Reis Filho (1997, p. 69)

Figura de proa da sociedade paulistana, tanto sob o ponto de vista econômico quanto político,

filha do barão de Iguape2, convivendo com hábitos parisienses, sua casa ergueu-se nos

moldes de um pequeno castelo francês do Renascimento (Homem, 2011, p.87). Grandiosa e

monumental a casa com três andares e subsolo, possuía uma séria de dependências: no

andar térreo, hall, biblioteca, sala de visitas, sala de jantar, loggia, copa e WC. No primeiro

andar, quatro dormitórios e vestiário, rouparia, biblioteca, tanques e terraço. No último andar

quatro quartos, duas rouparias, banheiro, maleiro e cozinha. No subsolo, área de serviço,

outra cozinha, despensa, adega, sala de almoço e sanitário.

2 D. Veridiana Valéria da Silva Prado,nasceu em 1825. Desde criança era dotada de boas maneiras exigidas pela educação Quando era criança foi levada por seu pai para frequentar a corte Era dotada de forte personalidade, de espírito independente e de iniciativa. Todas as a suas ações visavam trazer progresso para São Paulo, em franco descompasso com relação ao mundo moderno europeu, preocupando-se com os mais variados aspectos, desde a arte e técnica, até agricultura e paisagismo. HOMEM, Maria Cecília Naclério. Higienópolis grandeza de um bairro paulistano. São Paulo: EDUSP, 2011, p. 84. Além de ativa e atenta aos negócios, era voltada à atividade cultural. Neste sentido, o lastro de seus feitos eram de alcance internacional, cabendo mencionar que em Paris manteve um salão literário na rue de Rivoli, frequentado por brasileiros e portugueses como Eça de Queirós , Ramalho Ortigão (o Barão do Rio Branco), Domiciano da Gama, Joaquim Nabuco , seu filho Paulo Prado e seu neto Eduardo Prado . Obra op. Cit. p. 86. Para além de deixar seu nome vinculado a diversas iniciativas pioneiras em São Paulo D. Veridiana, constituiu também uma reação ao padrão de vida feminino instituído pela sociedade, quebrando tabus, pois era consciente da condição feminina de do homem e neste sentido causou escândalos para reagir aos padrões do comportamento feminino estipulados pela época. Idem, p.94.

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O interior da casa era simples e austero e dentre as raridades da Vila Maria, o forro do teto do

salão exibia um afresco de Almeida Junior. Desenhados pelo paisagista francês que viera ao

Rio de Janeiro para remodelar o passeio público, Auguste François Marie Glaziou, os jardins

externos eram cercados por eucaliptos, árvore de escolha da proprietária, um pomar para

experimentos de novas espécies e um lago onde nadavam cisnes. Nos jardins da Vila Maria

era permitido o lazer as crianças da família e do bairro (HOMEM, 2011, p. 88-9).

A residência de Veridiana Parado foi lugar de ilustres visitas, palco de eventos de destaque

no contexto do bairro e da cidade. Foi onde recebeu recebeu a princesa Isabel de Bragança

juntamente com seu marido D. Gastón de Orléans, o Conde D´Eu, tendo a casa, segundo

Homem (2011, p. 88) impressionado a princesa que registrou suas boas impressões sobre a

casa em seu diário. Tão logo a chácara torna-se um ponto de encontro social e intelectual da

cidade de São Paulo. Foi, enfim lugar onde as portas eram abertas para se discutir sobre

política, literatura e ciências.

.

Figura 5 – Vila Maria construída em 1883-1884, com projeto importado da França. Imagem produzida no início do século, de Guilherme Gaensly, em cromolitografia. Fonte: Homem

(2011, p.169).

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Descaracterização da fisionomia original de Higienópolis e imediações

A alteração da fisionomia original do bairro se deu em três ciclos, a saber: de 1930 a 1949, de

1950 a 1979, até tempos recentes. Provavelmente o período de 1930 a 1949, a perda dos

traços originais tenha sido mais a acelerada. Foi neste período, portanto que Homem (2011, p.

107) atribui a transformação espacial de Higienópolis e bairros vizinhos à Segunda Grande

Guerra Mundial, que foi determinante para o crescimento e o progresso de São Paulo, pois e

nem mesmo as crises e a Revolução Constitucionalista de 1932 não foram o bastante para

interromper o progresso e o crescimento urbano. A cidade mantinha-se cosmopolita, ainda

como a metrópole do café, observa Homem (2011, p. 107). A crise de 1929 para a autora foi

benéfica, na medida em que os empresários trataram de racionalizar a produção, introduzindo

planejamento, pesquisa e economia de tempo, de material e de trabalho, provindo bens de

consumo em larga escala. Já se viam diversas multinacionais, mas o movimento das

importações ainda era grande, e ainda eram trazidos o ferro, aço, combustíveis, automóveis,

alguns eletrodomésticos de porte e produtos farmacêuticos. Intensifica o êxodo rural e nasce

a sociedade de massa no Brasil que já contava com 50 milhões de habitantes e ampliavam os

serviços, induzindo a burguesia consumir automóveis; eram existentes os transportes aéreos

e vivia-se de rádio e de cinema de Hollywood (Homem, 2011, p.108). A cidade passava,

portanto, por inúmeras transformações no que diz respeito ao crescimento populacional, a

oferta de empregos, a demanda por habitação e novas expansões da malha urbana e a

cidade entram em plena expansão vertical. Foi, portanto no bojo deste cenário que os

casarões de Higienópolis, Santa Cecília e Vila Buarque sofrem o assédio da classe média e

paulatinamente os casarões são substituídos por edifícios altos, em que predominam os

prédios de sete a dez andares.

A verticalização em Higienópolis, Santa Cecília e Vila Buarque - os

primeiros prédios – 1930 a 1943

Como posto por Homem (2011,p.112) a descaracterização em Higienópolis , Santa Cecília e

Vila Buarque se deu com maior intensidade de 1930 a 1949, período em que são

transformados os traços que lhe foram peculiares Contudo, devido a fatores como uma

infraestrutura existente consolidada, a proximidade com o centro da cidade, e também em

consequência do seu prestigio, Higienópolis e arredores sofreram o assédio da classe média

e da especulação imobiliária. Com efeito, a cidade, em plena verticalização, principalmente

por conta da consolidação da classe média e a demanda por moradia, a qual devido os

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avanços tecnológicos da construção civil, principalmente no uso do concreto armado

proporcionou a construção em série.

Surgiam, portanto na cidade os primeiros edifícios de apartamentos destinados a residências.

Neste universo, já em 1927, projetado Júlio de Abreu constrói-se o edifício Angélica cuja

concepção, tanto sob o ponto de vista programático, quanto do ponto de vista formal – livre

dos ornamentos praticados na época, qualifica-o como um prédio pioneiro da habitação

coletiva moderna na cidade de São Paulo. Formado em Paris Abreu teve sua produção

marcada por obras e projetos ecléticos. No entanto, para Xavier et all (1083, p. 11) este prédio

pode ser atribuído como uma das primeiras construções modernas em São Paulo), cujo

programa se destaca por representar uma completa renovação nos hábitos de morar do

paulistano, e que, sob o ponto de vista da plasticidade os autores salientam que os vazios

contínuos dos terraços e das ventilações das cozinhas contrastam com as superfícies cegas

dos banheiros, conferindo à fachada um claro sentido de três dimensões. Esta linguagem de

tal elegância formal pode ser observada em muitos edifícios, projetados, inclusive nos dias de

hoje.

Figura 5 – Edifício Angélica. Foto de Henrique Fontana Boeira da Silva.Fonte (Silva, 2014)

Planta Fonte: Xavier et all (1983, p. 11)

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Apesar do modelo vanguardista preconizado pelo edifico Angélica, os primeiros sinais de

verticalização no bairro e arredores se dão com os edifícios que se caracterizam pelos últimos

indícios do ecletismo São os de natureza art déco ou protomodernistas, caracterizados por

uma volumetria aparatada com platibandas escalonadas, marquises sobre as janelas de

cantos simétricos e arredondados.

Neste contexto, cabe destacar os edifícios Santo André, o Xande Barreto, o edifício

Higienópolis, Dona Veridiana, Santa Amália e Santa Tereza .

Projetado pelos francês Jacques Pilon3, que se formou em Paris pela École Nationale de

Beaux Arts, pela École Nationale de Beaux Arts, em 1932, o edifício Santo André foi

considerado o mais elegante da cidade, devido à sua composição formal com linhas retas,

construído em concreto armado, técnica avançada para a época. A planta é simétrica , e as

varandas laterais em balanço conferem-lhe leveza, dando a sensação de flutuarem. Outro

ingrediente neste prédio é o painel existente no hall de entrada de Antônio Gomide que

inaugura a integração entre as artes plásticas e a arquitetura, fenômeno que se verá com

maior destaque a partir dos anos de 1940 — pinturas e esculturas, azulejos, de notáveis

artistas do Grupo Santa Helena, Bruno Giorgi, Domenico Calabrone, Bramante

Buffoni, Roberto Burle Marx, dentre outros.

Dois edifícios são inaugurados em 1936, o Augusto Barreto (figura 28) na avenida Angélica

próximo ao parque Buenos Aires e o Higienópolis na rua Conselheiro Brotero, em Santa

Cecília.

O primeiro foi projetado por Xande Barreto & Cia. Com tipologias de um por andar, perfaz 226

metros quadrados. Os recintos são rigorosamente setorizados e hierarquizados, porém, com

planta racionalizada (figura 29). Construído para a família do fazendeiro de café, Augusto

Barreto, foi um dos primeiros no bairro a possuir 11 andares. Para Homem (2011, p.114)

trata-se de um edifico de interesse para a arquitetura paulista por se tratar de um prédio no

mais puro estilo art déco.

Expoente da arquitetura moderna, formado em Roma, Rino Levi projeta o edifício Higienópolis

Organizado em H (figura 33), os quatro apartamentos por andar se desenvolvem em torno de

um núcleo de circulação vertical central, com dois e três e quatro dormitórios, permitindo a

planta flexibilidade de arranjos. Junto ao núcleo de circulação central estão dispostos as

3 Foi um dos estrangeiros que se radicou no Brasil e realizou uma significativa provisão de edificações na cidade de São Paulo, contribuindo, futuramente para a formação de um patrimônio moderno na cidade.

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cozinhas e dois dormitórios por andar. Apesar de não ter recuo lateral, a fachada posterior é

tratada como a principal. No recuo de fundos acrescenta uma área de lazer com duas

marquises para sombrear e um playground. Coroando o prédio, no ático há dois apartamentos

de cobertura, os quais fazem parte da composição formal do prédio.

De linhas acentuadamente protomodernas, o edifício Dona Veridiana, em Santa Cecília, foi

projetado pelo Francisco Beck, formado pela Escola Politécnica de Budapest,) parece ter forte

influência do expressionismo alemão sublinhada pelas obras de Erich Mendelsohn, pois é

fortemente marcado pela proeminência das varandas arredondadas, as platibandas

escalonadas e a marquise no térreo. O prédio possui dois apartamentos por andar,

apresentando uma organização funcional com espaços de transição delimitando os recintos

Construído também na parte de Santa Cecília, o edifício Madre Tereza constitui um exemplo

de protomoderno no bairro e na cidade. De seu corpo central desprendem-se varandas com

os cantos delineados pela curva que caracteriza esta arquitetura, além do escalonamento e

da marquise sobre a calçada. Com dois tipos de apartamentos, ambos com dois dormitórios, a

construção, finalizada em 1943, ficou a cargo de S. Vitali Escritório Técnico de construções

civis e do engenheiro Halley Bandeira da Silveira;

Figura entre os primeiros prédios que impulsionaram a verticalização na região o edifício

Santa Amália, projetado pelo arquiteto polonês, Lucjan Korngold, entregue em 1943, O prédio

apresenta uma rigorosa simetria marcada pela grelha retangular resultante da fachada. O

Escalonamento permitiu dois tipos de plantas, as quais, com os recintos hierarquizados de tal

modo que vestíbulos e halls precedem as peças do programa residencial. Até uma certa altura

são dois apartamentos por andar e a nos últimos, um por piso. Como era comum para a

época, o prédio tem apartamentos e garagens no térreo.

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Figura 6 – 6.1- Edifício Santo André {1935- Foto do autor]; 6.2 – Edifício Augusto Barreto

[1934- foto de Henrique Fontana]; 6.3 - Edifício Higienópolis [1936. Fonte: Anelli (2001) 6.4

– Edifício Dona Veridiana [1940. Foto de Henrique Fontana]

6.5 – Edifício Madre Tereza [1943. Foto do autor];6.6– Edifício Madre Tereza [1943. Foto do autor]

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Consolidação da verticalização: de1940 a1970

Legítimos arquétipos de arquitetura residencial multifamiliar, emergem neste período

edifícios inovadores, a alicerçar o ideário modernista em plena verticalização de Higienópolis

e arredores, cabendo destacar que surgem em decorrência das demandas do mercado

imobiliário.

Para Hiroyama (2010, p. 22) a consolidação do ideário modernista e a formação da classe

profissional dos arquitetos foram amparadas pelas experimentações bem-sucedidas e

consonantes com as demandas mercadológicas, cujos profissionais atendem novos usos,

resolvendo as demandas por tipologias e programas surgidos. Além disso, a linguagem

moderna dos prismas puros incorpora com facilidade a aplicação de elementos de mercado,

sendo recorrente a adoção de pastilhas cerâmicas e elementos cerâmicos.

Importante destacar que junto a esta classe profissional arquitetos advindos de outras partes

imigraram para o Brasil. Estabeleceram-se em São Paulo, trazendo na bagagem ideias e

conceitos das vanguardas europeias, ao mesmo tempo em que foram atraídos pela

vanguarda arquitetônica que pairava no Brasil.

Heep estudou arquitetura na Escola de Artes e Ofícios de Frankfurt. Veio para o Brasil em

1947 trazendo consigo a experiência vivenciada em obras públicas que lhe fora ensinada por

um de seus mestres Adolf Meyer, em Frankfurt, e a influência francesa de Mallet-Stevens,

Auguste Perret e Le Corbusier, com os quais estagiou em Paris. Tratando das demandas do

mercado imobiliário, Heep contribui fortemente para a consolidação de um padrão de

excelência arquitetônica, particularmente na região central e no Bairro de Higienópolis 4

Nascido no seio de uma elite judaica cosmopolita de Varsóvia, Lucjan Korngold estudou na

Faculdade de Arquitetura da Escola Politécnica de Varsóvia, e se formou em 1922,

juntamente com aqueles que compuseram a vanguarda atuante da arquitetura polonesa

durante as décadas de 1920 e 1930, entre os quais Szymon (1893-1964) e Helena

(1900-1982) Syrkus, representantes poloneses no Ciam entre 1928 e 1959. Contudo, quando

a Alemanha, ao iniciar uma onda de perseguições aos judeus invade a Polônia, em setembro

de 1939, Korngold desembarca no porto de Santos, em 1940, criando 2 anos depois o

Escritório Técnico Lucjan Korngold Engenharia e Construções. Os projetos de Korngold no

Brasil são divulgados a partir dos anos 1940 pela revista L'Architecture D'Aujourd'hui; na

4 http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=6423&cd_idioma=28555&cd_item=1- acesso em 26 agosto de 2016

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exposição Arquitetura Latino-americana desde 1945, organizada pelo historiador da

arquitetura Henry-Russell Hitchcock (1903 - 1987) no Museum of Modern Art of New York –

MoMA5.

Victor Reif nasceu na Polônia onde iniciou sua formação acadêmica, em 1928 em Berlim,

absorvendo experiências significativas como a da Bauhaus, quando era em Dessau. Em

1930, transfere-se para a Universidade de Darmstadt, berço do jungestil - art nouveau da

Alemanha, onde permaneceu até o final do ano letivo. Em 1931 reintegrou-se à Escola de

Berlim onde, estudante, participou da equipe do arquiteto Bruno Taut, colaborando na

pesquisa para moradia coletiva mínima. Formou-se pela Technische Hochschule

Berlin-Charlotemburg, em 1933. Atuou em São Paulo nos anos de 1950 e 1960, incorporando

ao cenário paulistano obras que refletem sua formação racionalista. Em sua provisão de

edificações predominam residências, localizadas nos bairros das zonas oeste e sul da cidade

e os edifícios habitacionais se encontram no centro, nos bairros de Santa Cecília e

Higienópolis6.

Dos estrangeiros vale destacar os edifícios Lausanne (Higienópolis), São Vicente de Paula

(Santa Cecilia) e Diana (Higienópolis), esquadrinhados na figura 7.

5 http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=6423&cd_idioma=28555&cd_item=1- acesso em 27 de agosto de 2016 http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa479229/lucjan-korngoldde 201 6 http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/78/documento-23920-1.asp- acesso em 27 de agosto de 2016

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Figura 7 – 7.1 Edificio Lausanne [1953 – fotos Leonardo Finotti e Nelson Kon], obra de arte de Clovis Graciano; 7.2 - Edifício São Vivente de Paula [1954 – foto do autor];7.3 - Edifício obra de arte de Bruno Giorgi

Dentre os arquitetos brasileiros, significativo número profissionais atuaram nos bairros até

1970, destacando neste trabalho as figuras e trabalhos de Rino Levi, João Batista Vilanova

Artigas, o Botti & Rubin, e Abrahão Velvu Sanovicz .

Embora tenha estudado arquitetura na Itália – na Escola Preparatória e de Aplicação para

Arquitetos Civis, e em 1924, insatisfeito com o curso transferiu-se para a Escola Superior de

Arquitetura de Roma, onde se formou, Rino Levi dedicou-se em busca de uma arquitetura

moderna adequada ao Brasil, ao clima e à nossa realidade7.

7 https://arcoweb.com.br/projetodesign/artigos/artigo-rino-levi-o-racionalista-dos-tropicos-01-12-2001- acesso em 27 de agosto de 2016

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Expoente da arquitetura brasileira, João Vilanoiva Artigas graduou-se engenheiro-arquiteto

pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, onde posteriormente se tornou

professor desta escola, Foi figura primordial no grupo de professores que deu origem

à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU), onde se

tornou-se um dos professores incumbidos com os rumos desta nova escola, para a qual

realiza, na década de 1960, o projeto de reforma curricular implantado que redefiniria o perfil

de profissional formado por aquela escola. Junto a Carlos foi auto do projeto da nova sede

desta faculdade.

Ambos formados na década de 1950 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie,

Alberto Botti e Marc Rubin, a dupla de arquitetos é responsável por mais de 1000 projetos dos

mais diversos programas e usos.

Sanovicz Arquiteto, urbanista, designer, professor de projetos na Faculdade de Arquitetura e

Urbanismo da Universidade de São FAUUSP,onde se forma em 1959. Antes, porém, fez o

curso técnico de edificações na Escola Técnica Federal de São Paulo entre 1951 e 1953.

Ingressa como bolsista na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo -

MAM/SP, em 1952. Em 1954 entra na Paulo - FAU/USP, participando do Centro de Estudos

Folclóricos - CEF, depois Centro de Estudos Brasileiros

Levi, Artigas e Botti & Rubin, e Sanovicz são os autores dos edifícios Prudência, Louveira,

Albina e Abaeté, respectivamente, os quais podem ser examinados na figura 7

Estrangeiros e arquitetos e arquitetos locais, operando no bairro com maior intensidade, a

partir dos anos de 1950, colocavam em prática alguns dos preceitos elencados por Hiroyama

(2010, p.21) :

- A ordenação estrutural, a partir dos avanços da técnica do concreto armado, otimizando o

uso de formas dos canteiros, permitindo o aumento de vãos dos intercolúnios;

- A estrutura independente dos vedos e dos arranjos internos, e consequente aplicação dos

pilotis ao nível do térreo;

- A padronização dos elementos compositivos dos edifícios: a caixilharia, revestimentos e

equipamentos de instalações prediais de hidráulica e elétrica, advindas da produção industrial

brasileira;

Além desses aspectos apontados pelo autor, a organização funcional concentra as prumadas

hidráulicas, buscando clareza nos fluxos. As amplas janelas ocupam os vãos, buscando a

melhor orientação, nas quais em alguns casos são aplicados os elementos de proteção solar

em suas diversas maneiras: uma delas a madeira que fora explorada para conter a inclemente

insolação do clima tropical de altitude. As adoções deste material criando brise-soleils,

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muxarabis ou persianas, produzem a nítida impressão de tecer rendados de sombras nas

fachadas.

Figura 8 – 8.1- Edifício Prudência [Fotos Nelson Kon], paisagismo e azulejos de Roberto

Burle Marx; 8.2 - Edifício Louveira [1949 –fotos do autor], obra de arte de Francisco Rebolo; 8.3 - Edifício Albina [1962 –foto do autor] 8.4 – Edifício Abaeté . [fotos do autor e Leonardo

Finotti,]obra de arte de Flávio Flaks

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Referência

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