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  • eEDUSC

    /\7(,99p Arostegui, Julio. A pesquisa hist6riea : teoria e metodo / Julio Arostegui ; tradu

  • I CAPiTULO 8( :Al'iTlJl.O 3 o processo metodo16gico e a documenta
  • INDICE DE QUADROS

    A e1aboracrao da linguagem cientifica ......................... 60

    12 Dados numericos tabulados dos combatentes

    13 Emigrantes das provincias de Castela-Le6n

    2 As ciencias sociais, segundo a classificacrao de Jean Piaget ....... .. 66

    :~ Modelo de explicacrao nomol6gico-dedutiva .................. 365

    4 Estagios 16gicos do metodo da ciencia . . ..................... 445

    5 Metodo, praticas metodol6gicas e tecnicas .... ........ . .... ... 451

    6 Os campos de pesquisa do hist6rico .. ....................... 475

    7 Criterios para a classificacrao das fontes hist6ricas .............. 493

    8 Fontes hist6ricas segundo sua intencionalidade ................ 497

    9 A avaliacrao das fontes ..................................... 510

    10 Natureza das tecnicas ..................................... 518

    11 Perfis de discursos, segundo a regulacrao de "sublimacrao" ....... 531

    de Navarra na guerra civil, 1936-1939 ........................ 548

    em Cuba, 1911-1920 (exemplo de matriz de dados) ...... ..... . 549

    14 Exemplos de representacroes graficas ....... ........ ..... '..... 558

    l

    9

  • APRESENTAC;:AO

    HISTORIA OU HISTRIOGRAFIA? CIENCIA OU ARTE?

    Ao completar 10 anos de existencia e mais de 600 titulos elencados em seu catalogo, a EDUSC tornoll-se referencia na area das humanidades, particularmente no campo da Historia e, mais especialmente ainda, no setor que poderiamos denominar das obras historiograficas. Segue, sem premeditar, urn movimento amplo de publicacr6es que exibem 0 vocabulo 'historiografia', mesmo que muitas del as nao tratem efetivamente do assunto e, no limite, nem mesmo tern conscienci~ do significado que a expressao ganhou em nossos elias, mas que, ao ostenta-Io, integram-se acorrente dominante na confraria dos historiadores. No fun do, expressa a crise permanente que ronda 0 bivaque dos historiadores, crise esta que se apresenta, em sua forma mais agressiva, na p6s-modernidade, e que exalta a necessidade da reflexao historiografica.

    Ao reyeS da tendencia entre nos, em que a historiografia confere status aos titulos publicados, a obra de Julio Arostegui, em suas mais de 500 paginas to\almente devotadas, a reflexao sobre 0 significado denso da hist9riografia, porta lim titulo c1assico A pesquisa hist6rica: teoria e metodo, bern ao estilo dos lIlesl res fundadores do saber historico na primeira metade do seculo 20, a ('x(,llIpio de Ilcnri Berr, para quem os historiadores jamais refletiam sobre a 11 ,1 1\I f'cza de sua ci{~ ncia. 0 resultado e urn notavel tratado sobre ciencia histo~ riol',I'.di(" ,I . 11111 diIlO/l que \till no excrcicio crftico permanente uma das mar

  • Aprese1ltt1fiio

    ~\I~ dos inlelectuais catalaes, onde pontifica Josep Fontana. Publicad{) origilI. dlllcnle em 1995,0 texto ora publicado foi reformulado e atualizado para a cclil,- ill) cspanhola em 2001. Demonstra enorme capacidade para reunir leitul'ilS IIOS mais diferentes campos do conhecimento, travando urn cerrado dialogo com filosofos, soci610gos, lingiiistas, cujos pensamentos sao mobilizados "do alllor para pensar a ciencia historiografica.

    o estilo e luente, claro, direto, objetivo, sem lugar para meiostons, "..I.. C'( lI~lo quando se trata de desancar autores e obras incautas: urn livro mal

    . .

    1l.1I111'1ido, uma ideia indefensavel, um,a interpretac;ao ac;odada. A densidade .1. \ I d l,'xao, contudo, turva a transparencia aparente do texto. Nao eobra para ill I. !.II I II's. (\ estudo para quem navega nas aguas de Clio com urn certo desem11.1I .lI,Il, l'spccialmente para os que se debrw;:am sobre as quest6es metodol6H'c,I ', c' 1 ~,t')l'kas, sempre a exigir do leitor urn dhilogo mental acurado com 0 .llIl t II c' slIa nina, urn' exercicio dial6gico pleno, obrigando-se a acompanhar JIIII' ( tth;,11 os argumentos que se renovam na discussao permanentemente 1''' Ihlllll,ll i'l.a

  • /Ipresellt"{ilo

    {) leva, a partir do empirico, a explicayOes contextualizaveis e plausiveis no conll'rlo das demais ciencias humanas. Urn metodo, 0 percurso de urn caminho !'.lrional e sistematico na busca de urn conhecimento inscrito nao no passado, lIlas 110 iemporal, que incit,li 0 tempo presente e a possibilidade de 0 historiador "" IlIsl rllir" suas fontes, tendo como pano de fundo as realidades que sao sempre l\l llhais, posto que todas as atividades humanas sao entrelac,:adas, que as socieda.1,,\ s.: rt'alizam historicamente no mundo e que, por desdobramento, a Hist6ria I ' '," lIlpr(' global par ser uma ciencia-sintese. E$Sa perspectiva totalizadora da I I ;'.IO/' i.1 ddineia 0 paradigma em que 0 autor se aloja. Mesmo reconhecendo que 11111 lilli, 0 paradigma jamais se impos na pratica historiograiica, 0 marxismo e 1101 /11/'(,' dc resistence, 0 que nao 0 impede de abardar, com propriedade, os til Ilhl I:, II.lr;\( Iigmas que lastreiam as ciencias humanas: 0 funcionalismo; 0 estruI i 1\ ,di\lllO; (l p6s-modernismo e suas derivac,:6es n0 campo da Hist6ria; 0 positi\'I!.I.I. ' ) 11Ir-loricista; 0 analista (dos Annales); 0 quantitativismo e 0 narrativismo."

    (I ,"arxismo conferiu a historiografia uma dimensao reflexiva ate , 111 ,1\) , k~(,ollhecida; por isso mesmo, deixou marcas indeleveis na escola dos 1/lIIIIIt'" prillleiro movimento historiogr

  • Apresentatao

    1I " t< 'II'ico coletivo, Outro, e a Nova Historia Cultural, na fatura de Roger Chartier ,'Ill qlle, ao inves de privilegiar 0 social na apreensao das manifestac,:oes mentais, ,,I/,l lil.a os individuos eos gruposem sua atribuic,:ao de sentido ao mundo em que IV(,III, ou seja, a apropriac,:ao mesma que os individuos fazem de sua cultura,

    AI I(,S ,II,Ill'S hisl\'lril'as, as pr\'lprias i\

  • ~

    PRGLOGO A NOVA EDI

  • Pr%go a nova ediJyao

    1;1110 c, scguramente, mais severo", como entao diziamos, nao se produziram, oil li,ram feitas de forma pouco expressiva. Nao me aventurarei, no entanto, 1111111 plano como este, adiantando alguma explicac;:ao para urn fato que, cer

    ItIl lll~ lilc, pode ter varias explicac;:oes. Pelo que sei, 0 livro interessou muito Illili s po~ ta talvez excessivamente rigida. Mas me parece que essa nao e uma opilliao WOo' neralizada entre aqueles que, sem ter porque aprovar todas as suas posi 'rllt,/o. creem na oportunidade e sentido de urn livro como este.

    Esta obra nao se propoe, de modo algum, a reavivar 0 positivislllO, III,I!. nao e menos certo que contern uma proposta inequivocamente m(iOlllllt~1 1I Desde ja, 0 que este livro press'upoe e que 0 historiador se coloque 1ll1liiO l11aj~ proximo do cientista do que do artista. Nao se e corn pIacente, de lilfllla :llglI rna, com a historia-literatura, a "interpretativa", a relativista e a IIcciolla!' I k fende-se que a Historia esta longe de seruma questao de opini~io Oil de gOSh" Mas acredita-se, sem duvida, que tal Historia e feita por "sujeitos" corpc'lI ~'C1~ , t' qlle sao estes os que constituem e modificam classes, estruluras l' siSI\lIl.IS, ( I sujeilo s6 se apreende, no entanto, na razao, tanto inslrumental mlllo hi:MII j ca, sc prclerir, nao na recreac;:ao impressionista, a-tc{,rica c a, nll ila. 1'01 i \~!1 acrc

  • Pr61ogo rl nova edifflD

    anles, na critica do que fazem. A ideia pragmatica de que a historiografia e "0 que os historiadores fazem" nao esta precisamente entre as que eu aprecio. Nesse terreno ninguem tern direito apropriedade alguma nem tampoHco 0 de cobrar pedagio, mas nem tudo 0 que reluz e ouro.

    o tempo transcorrido entre as duas edicroes tambem mostrou que e possivcl e necessario incorporar ao nosso tratamento muitas propostas que foram sendo acrescentadas avisao da disciplina nos finais dos anos 90. E na medid .. do possive! procuramos faze-lo aqui. Aqueles que tiveram por bern fazer o llll'nlarios sobre a edicrao anterior concordaram, em geral, em que seguraIIU'lIll' (~lllava no texto urn maior desenvolvimento do que foi a hist6ria da pr6pi i,1 ulltliguracrao da disciplina historiografica na epoca contemporfmea, quer di~l ' l. deslle 0 comecro da sua construcrao no seculo 19, e era grande a insistenl lol "111 mlocar a pr

  • Prologo allova edi{:,10

    ,'sse rcspeito, admito que esta tambem e disFutfvel, pode clara mente ser meIhorada e esta sujeita a muitas exce

  • <

    , de trabalho" do cientista a pesquisa historiografica,

    Nao epresumivel que existam leis universais as quais se ajuste 0 desenvolvimento historico, global, das sociedades, porque nao podemos estabelecer e, portanto, predizer em termos cientificos, 0 sentido de uma mudanya como a historica, Mas euma questao diferente a de que a historiografia se encontre suposta e eternamente prisioneira na jaula do singular, Sendo essa apreciayao . equivocadae por essa razao que, de certa forma, podemos falar de uma pniti

    * Em ingles no original. " 'Ciencia hist6rica' euma no

  • Parte 1 Teori" hist6ria e historiograJia

    sociais ou e negado ou e enfocado de maneira bastante problematica. Em diversos tipos de classificayoes oficiais, supostamente cientificas e, ao final das contas, pr6ximas do burocratico, a historiografia (ou a "Hist6ria") nao aparece entre as ciencias sociais. Catalogos da UNESCO, guias de estudos universitarios, catalogos e prateleiras de editoras, livrarias e bibliotecas, etc... colocam a "Hist6ria" em local distinto daquele ocupado pelas ciencias sociais. Urn conhecido soci610go, Daniel Bell, em seu relato dos progressos das ciencias sociais registrados desde 0 fim da Segunda Guerra Mundial ate a decada de 1970 nao s6 nao analisa a trajet6ria da historiografia - 0 que se poderia atribuir it falta de competencia ou desejo do autor -, mas esta disciplina nao e sequer mencionada entre as tais ciencias. '05 Trata-se de uma posiyao muito americana. Urn dicionario sobre 0 vocabuhirio das ciencias sociais, editado na Espanha, nao inclui como tal a historiografia, nem a palavra "Hist6ria" nele aparece em nenhuma das acepyoes que costumamos atribuir-lhe.106

    Ja conhecemos a posiyao de Jean Piaget que, sem expulsar a historiografia do seio das ciencias sociais, a tinha por uma disciplina problematica, de forma que 0 historiografico seria dificilmente algo mais do que urn metodo. Urn soci610go de destaque como Talcott Parsons, pai do estruto-funcionalismo na sociologia, fazia uma nitida distinyao entre a "ciencia social sistematica" e a "hist6ria" como pesquisa. '07 Para algumas das mais acreditadas tradiyoes te6ricas no interior das ciencias sociais, a Hist6ria nao e uma entidade passivel de ser pesquisada de forma autonoma por uma disciplina, senao que existiria, na verdade, urn metodo "hist6rico" - geralmente sinonimo de sequencia!, temporal, de t[(1S para frente, e pouco mais do que isso -, meramente preliminar, de analises das realidades sociais no tempo.IOS Em outros casos, o historiognifico apresenta-se como uma contribuiyao a meio caminho entre

    105 BELL, D. Las ciencias sociales desde La segunda guerra mundial. Madrid: Alianza, 1984.

    106 REYES, R. (Ed.). TerminoLogfa cientffico-social. Aproximaccii51l aftica. Barcelona: . Anthropos, 1988. A palavra Historia nao aparece neste diciomirio senao para explicar 0 conceito de "historia de vida". A palavra Historiografia, obviarnente, aparecc rnenos ainda. 0 mesmo ocorre no Anexo it obra pubJicado posteriormentc.

    107 "PARSONS, t La eslructura de La acci6n social. Madrid: Credos, 196il. I nl rodllc(i61l. 108 Na realidade, urn dos pais da "prcccptiva" historiogrMica, (:har ll-s SIigflllhos, lam

    bern acrcditavn l1isso, () 'lilt" IIlcn'n'li dl' L Pd lVr~' 0 U'I1I('II\ .il io 'I"" 1,1 " 11,('111 j,i "traIlSCn'V('I1It1S. M aih .u li ,, " I!" vo ll .1I 1'1111 ". ,I ,',,'., ' ,1,, ',111 11 \1,

    Capltll/o / IIist6ria e hiSl"Oriograji(l: os jiirul(ww"tos

    !! 11,11, .10 dc ideologias politicas, as "antiguidades", 0 jornalismo ou a delI) J1,1111 1\lI\nio hist6rico para fins de exaltayao nacionalista.

    ),1" .\s vczes, 0 historico aparece tambem como uma realidade nao reII 'I I)'. lIl1la outra em proposiyoes da ciencia natural ou de sua filosofia.

    I' I' 1I1o:;i

  • algllm lugar no wnjunlo dos sabercs SOt i i... L. 1.1' I{oy ( ,.
  • Capitulo / . Teoria, historia e liistoriogmfia

    Parte / Historia e liistoriografia: os jimdamentos

    dade, seguranya e consistencia e que, se possive!, alcance 0 nive! da teori(l. Ra 11I\((lria? Uma pergunta que po de e deve ser acompanhada, no entanto, de ras vezes ou nunca uma disciplina estabe!ecida e autonoma reconhece sua 1I111a possive!mente mais complicada resposta: 0 que deveria conter urn tratapcrmanencia no nive! da mera descriryao, inventario ou classificaryao de sua ,Ie I desse tipo? materia. Por definiryao, as materias disciplinares pretendem estabe!ecer conhe Ainda que tudo isso nao passe talvez do nivel do anedotico, representa cimentos de alcance maior, no sentido espacial e temporal de seu objeto. Vl'rdadeiramente 0 sintoma de uma carencia patente, ao mesmo tempo que

    Os fundamentos anaHticos de qualquer disciplina, nas ciencias naturais III11a realidade incontormivel: seria impossive! que urn "Tratado de Historia" ou nas sociais, seu campo e objeto especifico, seu metodo e suas fronteiras - e IIlIlivesse"o estado atual dos conhecimentos historicos" porque haveria de no gerai, expansivas -,0 estadodos conhecimentos adquiridos, costumam ser , Ollter e!e mesmo toda a Historia Universal. Assim, pois, a referencia das paexpostos em urn tipo de livro que tern 0 nome ou a disposiryao de urn tratado 1,lvras de Vilar, se tomamos sua expressao no sentido literal ou a consideramos sobre a totalidade da disciplina em questao, nao se descartando a possibilida ',11 II plesmente uma analogia ou uma metafora, teria de ser urn tratado de con-dc de que sejam dedicados a somente uma parte de!a."s Nos tratados, que re 11'1'1110 peculiar, so poderia refletir 0 estado atual da disciplina, nao 0 conjunto conhecem 0 estado das disciplinas cientificas em urn dado momento, ex ,k seus conteudos. Em suma, isso equivale a dizer que 0 possive! tratado de p()cm-se 0 corpo geral dos conhecimentos adquiridos por ela e 0 conjunto de II iSl6ria haveria de ser necessariamente urn tratado de historiografia, urn trasuas operaryoes de conhecimento. Quer dizer, e isso e 0 importante, tais trata (,Ido sobre a natureza e desenvolvimento da disciplina que estuda a Historia, dos con tern como norma geral 0 tipo duplo de "teoria" que corresponde as I"pela l6gica, nao poderia ocupar-se de outra coisa senao da teoria e do metodllas dimensoes que uma ciencia abarca: seu objeto de estudo, de urn lado, e a '/0 de tal discip lina. li)J"Jlla de organizar sua investigaryao, de outro.

    o grande historiador Pierre Vilar escreveu essas palavras na primeira li

    ' 1'1':( lI{lA DA HrSTORlA E TEORIA DA HISTORIOGRAFlAlI"a dc urn conhecido texto sobre questoes de vocabulario e metodo histori

    ('Os: "tcnho sempre sonhado com urn 'tratado de Historia"', e acrescentava: hi ressaltamos, em paragrafos anteriores, a conveniencia e a necessida

    "pois considero irritante ver nas estantes de nossas bibliotecas tantos 'tratados' cie dc distinguir de forma rigorosa a realidade da Historia da disciplina que se(k 'smiologia', de 'economia', de 'politologia', de 'antropologia', mas nenhum de I" liP" de seu conhecimento e pesquisa: Os tratados que descrevem uma dis1 II ,~ I \~ ri", como se 0 conhecimento historico, que econdirrao de todos os demais, , iplina ocupam-se tanto de seu objeto - nesse caso a Historia -, como dos . 1

  • Parte 1 Teoria, hisloria e historiogmfia

    rna maneira que tambem nao se tern conseguido distinguir com nitidez uma teo ria da Historia de uma teo ria da Historiografia. E, porem, comum que para encontrar respostas a essa tao mencionada e incontomavel pergunta, os proprios historiadores busquem ou se remetam aos filosofos. Esse e urn erro fundamental. Como tambem 0 epensar que se de va buscar a resposta em algo bern diferente como e 0 metodo correto para tomar possive! seu conhecimento; ou busca-la ainda, 0 que nao acontece com menor frequencia, no estudo da historia da historiografia. Na realidade, refletir teoricamente sobre a Historia ja equivale a uma primeira "pesquisa" a respeito dela, equivale a se propor averiguar 0 que ee como se manifesta 0 historico frente a nossa experiencia.

    Consequentemente, 0 que e e como hav~ria de se constituir uma teoria da historia e da historiografia? Mas, em primeiro lugar, 0 que se entende, com algum rigor, por teoria? Fizemos referencia a essa questao de forma sumaria ao falar anteriormente do procedimento do conhecimento cientifico; assim, limitemo-nos agora a insistir no fato de que a teoria pode referir-se a urn fenomeno,a urn conjunto de fenomenos, a urn processo repetitivo e, tambem, a propria forma em que se pode conhecer isso tudo. Nesse ultimo caso, nos encontramos diante de uma "teoria do conhecimento". Como vimos repetindo, a ciencia maneja ambos os tipos de teorizac,:oes. E no caso das ciencias sociais, tambern como ja dissemos, a maior dificuldade e a possibilidade de formular leis gerais. Ambas as dimensoes, teorizar sobre uma realidade dada e faze-lo sobre 0 conhecimento adequado ou possivel a respeito deJa, sao imprescindiveis no caso da Historia. E nao stfria demais uma terminologia clara que distinguisse entre essas duas operac,:oes.

    Para 0 historiador existem, pois, duas tarefas teoricas: uma, a de e!aborar uma teoria constitutiva de seu objeto de trabalho e que nao e outra senao a teoria da natureza do hist6rico. Isso equivaleria a pronunciar-se sobre 0 que se chama Historia, 0 que e a dimensao historica para os seres humanos, 0 que e isso na 'experiencia de sua vida, como se manifesta essa atribuic,:ao de uma historia aos sujeitos e as sociedades, de que maneira se cria c sc cvidcncia a imersao no tempo, e outras questoes desse tipo. 0 que essa tcoria n~lo podcra fazer, como nao pode a de nenhuma ciencia em rclac,:ilo a Sl'1I pn')prio oil

    ..

    Capilulo 1

    [[isloria e hisloriografia: os fundamentos

    1"iI" C atribuir urn sentido, uma finalidade ao curso da Historia, uma mellI , 1'" l qlll' nao poderiamos argumentar sobre nenhuma dessas coisas com Os Ijl'll lllmentos de urn conhecimento demonstravel, contrastavcl, empir ic". ,y,l' lipo de questoes e proprio do que se tern denominado a filosofia "sub.~ (:1 11 1iva" ou "especulativa" da Historia, a que 0 idealismo alemao do seculo jl} I ", ..~ itou no seu mais alto grau. ll7 0 propos ito e os meios do historiador v,l(I I II I ()II tra direc,:ao.

    1\ teoria da Hist6ria refere-se, entao, a isso, e tern sido sempre ullla 'Ii ln ;lao dificil porque, comumente, e confundida com 0 "filosofar sobre a

    ! 11j,II'lria". Desde Voltaire, pe!o men os, passando por Kant, Hegel, Marx, Dildw y. Rickert, Winde!band, os filosofos tern especulado sobre a Historia. Ue I " ,,'t, quando ja no seculo 20 estava plenamente constituida uma "disciplina" d" hisloriografia, pensadores sociais, filosofos ou historiadores de prollss;l() 1111110 Croce, Ortega, Collingwood, Aron, Heidegger e muitos outros, prol()fI 1:,1!'.1I 11 cssa reflexao amalgamando-a, muitas vezes, com as observac,:oes sol lll' fI', " Iipos de Historia" existentes, sobre seu metodo e sobre 0 oficio dc hi ~l o I j, II , I kgcl pensava realmente em substituir os historiadores nessa e!abOrJ~,Hl. ( j l , IS() de Ortega y Gasset nao e menos explicito. Ele dira, como ja vimos, qlh '

    I 1/ Independentemente de mais adiante voltarmos a isso, sao imprescindiveis a l ~llIll,I " rclCrcncias bibliograficas c1assicas. Foi WALSH, W. H. Introducci6n a la jilosoJlrl Ii,. Iii historia. Mexico: Siglo XXI, 1968,0 primeiro a referir-se a duas formas dt' tilIlS" 1:11' sobre a hist6ria, esta chamada substantiva ou especulativa e a chamada " fi l"MI fia analitica" ou critica, que trata das formas de conhecimento da Hist6ria. A lii, ) sofia do conhecimento da Hist6ria comei s, II}II'I .,., p,lIli l dl' 11111 "" Ii ''1II

  • Parte 1 Teor;", Izislliria e historiografia

    "nao se pode fazer Historia se 'nao se possui a tecnica superior, que e uma teoria geral das realidades humanas, 0 que eu chama uma Historiologia".118 A gratuidade de parte dessa afirmayao orteguiana nao diminui 0 interesse de seu alerta sobre a necessidade de que a pnitica historiognifica possua essa especie de teoria geral das ciencias humamls que ele chama "Historiologia".

    Dito isto, a teoria do conhecimento da Hist6ria e outra questao, e a segunda dastarefas teoricas, aque de forma generica temos de considerar uma teoria disciplinar, que nesse caso seria a teoria da historiografia propriamente dita, uma teorizayao da disciplina da historiografia. Uma reflexao desse tipo se ocuparia daquele conjunto de caracteristicas proprias em sua estrutura interna que fazcm com que uma determinada parcela do conhecimento se distinga de outras. Teoria disciplinar sera a que pretenda caracterizar, por exemplo, a economia ou a psicologia como materias com seu objeto especifico que nao se confundem com nenhuma outra. 0 aspecto medular da teo ria disciplinar esta em mostrar a forma como uma disciplina articula e ordena seus conhecimentos e a forma como organiza sua pesquisa, assim como os meios escolhidos para mostrar suas conclusoes. No caso da historiografia, euma analise da construyao da disciplina que estuda a Historia.

    Esse tipo de teorizayao, evidentemente, tern sido muito menos cultivado e rna is confundido ainda que 0 anterior. A teoria historiografica, confundida com a metodologia, com a historia da historiografia, com a mera catalogayao da "tematica" que a historiografia tern abordado sucessivamente desde a primitiva historia politica aamplitude de campos que hoje se cultivam, tern experimentado urn desenvolvimento bastante entrecortado. Ncsse caso, foram os historiadores de finais do seculo 19 os que mais se preocuparam com a articulayao interna, 0' metoda e os objetivos do estudo da Hist6ria e das peculiaridades da historiografia. Certas escolas, como ados Annales ja no seculo 20, fizeram na realidade teoria disciplinar, e praticamente nada de teoria da Historia, apesardas agudas consideray6es de Febvre.

    Conviria assinalar, para terminar, que a pretensao de instituir uma , "hist6ria teo rica" e urn mero disparate retorico, demonstrayao de uma confu

    118 ORTEGA Y GASSET, J. Una interpretaci6n de 101 I lishlli.1 IJniwrsal. I-:tl lonto a Toynbee. In: Ohms comf11ew$. Madrid: 1~('vi ~t.1 .1(' ( Ii t It 1"111

  • Parte 1 Teorin, histOria e historiograjia

    do que depois nos ocuparemos de forma detalhada em toda a terceira pari desta obra.

    o primeiro problema que esta analise traz e que a palavra metodll. vezes tambern a palavra metodologia, como ocorre com ciencia, com filos(//i" com tecnica e outras, aplica-se a tantas coisas e integra tantos contextos tli l rentes que, cada vez que se quer usa-Ia com rigor, e preciso primeiro uma tI pura

  • Parte I Teoria. lristIJria e histuriograjia

    tern tendido com bastante frequencia a fazer abstra~o do suceder em gue todos os fen6menos e processos sociais estao imersos. A pesquisa da Hist6ria, sempre que se entenda que e uma pesquisa do passado, estani ligada a algumas peculiaridades e constrangimentos que nao se apresentam, ou nao se apresentam da mesma forma, em outras ciencias sociais. De tais peculiaridades poderiamos desta~ar os problemas derivados da observa~o e documenta-;:ao, da temporalidade e os que provem da globalidade de todo 0 devir hist6rico. Estamos, portanto, diante da realidade com 0 maior,numero de variaveis que se pode conceber.

    A primeira especificidade e a mais censurada do metodo historiognifico reside, sem duvida, na natureza de suas [antes de in[orma~ao. A "materia" sobre a qual 0 historiador trabalha e de caniter muito peculiar: restos materiais de atividades humanas, relatos escritos, relatos orais, textos de qualquer genero, vestigios de todo tipo, documentos administrativos, etc. Tem-se entendido tradicionalmente que 0 hist6rico nao pode ser outra coisa senao "0 passado"; veremos que isso nao e inteiramente correto e que 0 hist6rico nao e precisamente 0 passado mas 0 temporal, porem, 0 fa to e que as fontes de informa

  • Parle /

    Teoria, his/oria e hislorwgra[1lI

    em como dar conta ou como representar essa hist6ri~ global, 0 que continua sendo urn problema nao resolvido, por mais que a ideia de uma hist6ria total tenha sido proposta muitas vezes. Na pnitica historiognifica concreta, 0 que ocorre com maior freqilencia e 0 contnirio: a fragmentac;ao da hist6ria em setores, em especialidades, que atneac;am com fraturas a unidade da disciplina, mas que sa,o inevitaveis na pratica cientifica de hoje.

    Urn ultimo ponto e a preparaC;ao tecnica 40 historiador a que nos referimos anteriormente. Mas 0 fato e que urn dos problemas mais comuns que afetam a preparaC;ao e a pratica, nao somente do historiador mas de qualquer pesquisador social, e a freqilente confusao entre metodo e tecnicas. Para esclarecer esse assunto, que e importante na pnitica cientifica, dedicamos mais adian~e espac;o suficiente. Podemos aqui adiantar que 0 metodo e urn conjunto de prindpios sempre ligados a teoria, enquanto as tecnicas, que sao as que realmente devem se adaptar em cada caso a natureza do objeto investigado, podem ser compartilhadas e sao intercambiaveis entre diferentes disciplinas.

    Uma boa imagem do que seria a preparaC;ao tecnica de urn "pesquisador social" foi descrita 'por J. Hughes nos seguintes termos: "consistira normalmente em aprender a dominar as tecnicas do questionario; osprindpios do esquema e da amilise da pesquisa; as complexidades da verificaC;ao, regressao e correlayao estatisticas; analise de trajet6ria, analise fatorial e, talvez, ate programaC;ao de computadores, formatayao e tecnicas similares". 123 Em que pese 0 tom .irremediavelmente tecnicista, inclusive mecanicista, dessa descric;ao, e indubitavel que nela se fac;a urn inventario de habilidades sem as quais nao se concebe hoje 0 treinamento da materia social. E, tendo em vista que a historiografia e uma forma de pesquisa social, seria possivel pensar que tais habilidades se incluiriam no perfil da formac;ao de urn historiador? A luz da realidade atual, isso poderia nao passar de uma perigosa utopia ou, talvez, inclusive, uma profunaC;ao... No en tanto, ainda que custe a alguns, 0 futuro impora muitas dessas tecnicas tambem ao historiador. E evidente que deveria impor algumas outras, por exetnplo a pratica da explorayao do arquivo c de outros tipos de Fontes nao escritas. Mas seria nos enganar nao admitir qU(o 'uma suficiente preparaC;ao metodol6gica e tecnica ocupa urn lugar funda mental no horizonte do futuro da tarefado historiador. 0 contra rio sigllifka nos condenarmos a fazer uma "rna" Hist6ria.

    123 I IlJC;1IES, J.I ,II (;/o,oITII til'/" iltl,.'~llg(/'Il I " \I" 1ft! "In\l n F(;I'. I'm /I' . 10.

    Capitulo 2

    NASCIMENTO E 0 DESENVOLVIMENTC)

    DA HISTORIOGRAFIA:

    OS GRANDES PARADIGMAS

    h (i(1 ncias hist6ricas estao incluidas sob 0 nome das ciencias morais (' sap uma parte dl'i(/ ~ .

    JOHANN GUSTAV iJl(OY"IN Histo rik

    I llrillvia, niio tern sido suficientemente estudada a hist6ria de nosslI (i. '1/1 /II , \" 111',1/(/ "'1// sido estudado, de preferencia, 0 aspecto extemo... mas niio 0 tI"",,,

    voivimento interno da pesquisa e da conceNiio IlisMl i. II

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