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ARISTÓTELES Justo Legal e Justo Natural Prof. Wagno O. de Souza “O fogo que arde na Pérsia também arde na Grécia”... Assim também deve ser a justiça.

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Page 1: Aristóteles

ARISTÓTELESJusto Legal e Justo Natural

Prof. Wagno O. de Souza

“O fogo que arde na Pérsia também arde na

Grécia”... Assim também deve ser a justiça.

Page 2: Aristóteles

ARISTÓTELES – Prof. Wagno O. de Souza

O justo natural é aquele que por si próprio por todas as

partes possui a mesma potência e que não depende, para

sua existência, de qualquer decisão, de qualquer ato de

positividade, de qualquer opinião ou conceito. O que é por

natureza é tal qual é, apesar de variar, mudar, relativizar-se,

independentemente de outro fator senão a própria natureza

(physis).

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ARISTÓTELES – Prof. Wagno O. de Souza

O justo legal, em contraposição, é aquele que, de princípio,não importa se seja desta ou daquela forma (indiferençainicial), porém, uma vez posto (positum, positivado), deixa deser indiferente, tornando-se necessário. O ato do legisladorde criação da lei torna o indiferente algo necessário.

O justo legal constitui o conjunto de disposições vigentes napólis que têm sua existência definida pela vontade dolegislador. Tem por objeto tudo aquilo que poderia ser feitodas maneiras as mais variadas possíveis, mas uma vez que foiconvencionada legislativamente, é a esta que se deveobedecer. A lei possui força não natural, mas fundada naconvenção.

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ARISTÓTELES – Prof. Wagno O. de Souza

As leis, em sua maior parte, dirigem-se genericamente a

um grupo de cidadãos. Muitas vezes, porém, fazem-se

necessárias decisões legislativas que se dirijam a uma

situação especial, ou a um grupo especial de pessoas, ou

mesmo a um único indivíduo, casos em que a apreciação

legislativa discrimina a singularidade em meio ao todo em

virtude da necessidade de adequação da lei ao critério da

proporcionalidade, que busca satisfazer a justiça em seu

sentido absoluto.

Page 5: Aristóteles

ARISTÓTELES – Prof. Wagno O. de Souza

De modo semelhante, pode-se pensar que, como as

medidas de mercadorias não são as mesmas em todas as

partes, para todos os povos e em todos os tempos, assim

também ocorre com tudo aquilo que é matéria do justo

que não é natural.

Page 6: Aristóteles

ARISTÓTELES – Prof. Wagno O. de Souza

É da opinião de alguns que o justo político (díkaion

politikón) resume-se ao justo legal (díkaion nomikón),

pois, no argumento destes, as leis são mutáveis e não

poderia existir uma justiça por natureza que admitisse a

mutabilidade. O fogo que arde na Pérsia também arde na

Grécia. Isso, no entanto, não é verdade em sentido

absoluto.

Page 7: Aristóteles

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Dessa forma, o justo convencional ou legal equipara-se às

demais convenções humanas, variando de local para local.

E o que ocorre com as medidas, que não são as mesmas

aqui e ali, e, sendo diversas, obedecem aos padrões locais

de mensuração dos mesmos objetos. O justo

convencional defere tratamento diferenciado de

localidade para localidade à mesma matéria,

comportamento humano, de acordo com uma série de

variantes.

Page 8: Aristóteles

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A outra parte, pois, que compõe o justo político (díkaion

politikón), diferindo do justo convencional ou legal, é o

justo natural (díkaion phýsikon), consistindo no conjunto

de todas as regras que encontram aplicação, validade,

força e aceitação universais. Assim, pode-se definir o

justo natural como sendo a parte do justo político que

encontra respaldo na natureza humana, e não depende

do arbítrio volitivo do legislador, sendo, por

conseqüência, de caráter universalista.

Page 9: Aristóteles

ARISTÓTELES – Prof. Wagno O. de Souza

•Nesse sentido, parece indispensável compreender o significado dovocábulo natureza (phýsis), que figura em quase todos os tratados,sendo corolário substancial de toda a filosofia aristotélica. Assim, anatureza é princípio (arché) e causa (aitía) de tudo que existe; maisainda, é princípio e fim do movimento, e não busca fora de si omovimento. Dentro de um pensamento teleológico, isso significaque tudo parte para a realização de um fim que é inerente a cadacoisa, e, nesse sentido, cada coisa dirige-se a seu bem (agathós).

•O movimento, ou seja, a atualização das potências de um ser,realiza-se guiado por uma pulsação natural interna ao ser; em suaatuação normal, está o ser destinado à realização da perfeição e daexcelência inerente a sua estrutura, o que significa, nessaperspectiva, constância e regularidade na ocorrência dosfenômenos, além de fluidez e retitude de conseqüências.

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ARISTÓTELES – Prof. Wagno O. de Souza

•A justiça natural é a parte da justiça política que visa

permitir a realização plena do ser humano inserido na

estrutura social de convívio. Sendo naturalmente um ser

político (zoon politikón), a plena realização do animal

racional está condicionada à própria natureza que o

engendra, o que equivale a dizer, que à sociabilidade, à

politicidade, à autoridade, ao relacionamento, à

reciprocidade está o homem intestinamente ligado.

•É a justiça natural o princípio e causa de todo

movimento realizado pela justiça legal; o justo legal deve

ser construído com base no justo natural.

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ARISTÓTELES – Prof. Wagno O. de Souza

•A justiça natural é a parte da justiça política que visa permitir a

realização plena do ser humano inserido na estrutura social de

convívio. Sendo naturalmente um ser político (zwon politikón), a

plena realização do animal racional está condicionada à própria

natureza que o engendra, o que equivale a dizer, que à

sociabilidade, à politicidade, à autoridade, ao relacionamento, à

reciprocidade está o homem intestinamente ligado.

Page 12: Aristóteles

ARISTÓTELES – Prof. Wagno O. de Souza

•Deve-se perguntar, para se qualificarem as leis de justas ou

injustas, se estão a serviço do Bem Comum ou se estão à serviço

da satisfação de interesses momentâneos e arbitrários próprios

das formas de governo corrompidas, uma vez que nas

constituições monárquica, aristocrática e republicana coadunam-se

com a teleologia da justiça política. Nessas constituições, a lei

segue a retidão da razão, naquelas, o arbítrio da paixão.

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Das partes que compõem o justo político, aquela que é conformeà natureza e à razão é sempre boa, enquanto aquela que éconforme a lei pode ser boa ou má. Desses princípios pode-seconcluir que a legislação perfeita é a adequação plena do legal aonatural, o que representa uma atualização integral de toda justiçaem seu sentido absoluto. A racionalidade humana, mesmoalmejando ao bem, equivoca-se, originando-se normas degeneradas,por diversos motivos, a saber, por erros de interpretação, por faltade conexão da norma com a realidade sociocultural, por máexpressão lingüística, pela circunstancialidade de uma medida, entreoutros. O justo natural, enquanto ideal de aperfeiçoamento daregra legislativa,r atua vetorialmente sobre o legal, norteando suareelaboração.