argumento 132

16
Nº 132 . JULHO 2009 boletim informativo cineclubeviseu

Upload: cine-clube-viseu

Post on 08-Mar-2016

248 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Boletim Informativo do Cine Clube de Viseu

TRANSCRIPT

Page 1: Argumento 132

1

nº 132 . julho 2009boletim informativo cineclubeviseu

Page 2: Argumento 132

2 cinema na cidade ‘09

Cinema no museu Mystery trainde Jim Jarmusch, eUa, 1989, 110’

Cinema no museu Megacitiesde michael Glawogger, austria, 1998, 90’

Cinema ao ar livre canary Beat de Jürgen Haas, 2006, 4’sunny Day de Gil alkabetz, 2007, 7’o joão foi ao Dentista eB1, S. martinho de Orgens, 2008, 5’

alMoço De 15 De agosto Pranzo di Ferragosto, de Gianni di Gregório, itália, 2008, 75’

Cinema no museu alphavillede Jean-Luc Godard, França, 1965, 99’

fotogramas onteM & hojeFoto Germano e Luís Belo apresentam fotos de Viseu

Cinema no museu a Barriga De uM arquitectoThe belly of an arquitect, de Peter Greenaway, Reino Unido e itália, 1987, 118’

Cinema ao ar livre equiliBriuM 2’nutriMorphosis 1’contraDições 7’Curtas da Escola Profissional Mariana Seixas

uMa faMília à Beira De uM ataque De nervosLittle Miss Sunshine, de Jonathan dayton e Valerie Faris, eUa, 2006, 100’

Cinema no museu Koyaanisqatside Godfrey Reggio, eUa, 1982, 86’

Cinema ao ar livre neighBoursde norman mcLaren, 1956, 7’

caDa uM o seu cineMaChacun son Cinema, de vários realizadores, França, 2007, 100’

Argumento (Inscrito no ICS sob o nº 111174)

e-mAil [email protected]

Direcção eDitoriAl Cine Clube de Viseu

concepção e execução gráficA DpX

eDitor e proprietário Cine Clube de Viseu (inscrito no ICS sob o nº 211173)

tirAgem Deste número 1.600 exemplares

impressão Novelgráfica

Ano XXV, nº 132 Julho 2009

ficha técnica

Cine Clube de viseulargo da misericórdia, 24 2º // 3500-158 viseuTel 232 432 760 . Tlm 922 192 [email protected] . www.cineclubeviseu.ptNIF 501 441 182

entraDa livre

Page 3: Argumento 132

3

Cinema na CidadeO Cine Clube de Viseu (CCV) mantém, ao longo da sua história, a tradição de apresentar com regu-laridade actividades em vários espaços da cidade, procurando aliar à diversi-dade dos filmes exibidos as várias salas de espec-táculo, museus, ruas, par-ques, praças e cafés de Viseu. Preenchendo o va-zio deixado em 2001 pelo fim do cinema ao ar livre no Parque Aquilino Ribei-ro, o CCV apresenta, des-de 2005, no Museu Grão Vasco, sessões de cinema, conversas e exposições que decorrem no mês de Julho. Em 2009, o projec-to CNC - Cinema na Cida-de dá continuidade à acti-vidade cinéfila no Museu Grão Vasco, e acrescenta outras novidades distri-buídas pela cidade, como o regresso das sessões de cinema ao ar livre no cen-tro histórico.

novidades no CentroPretendemos, desta for-ma, explorar todos os be-nefícios que pode trazer esta intervenção cultural ao centro da cidade, numa altura em que o Cine Clu-be de Viseu e a Câmara municipal estão a lançar as bases para o futuro cen-tro de actividades edu-cativas, documentação

e arquivo do Cine Clube, na Rua escura. Associar a valorização dos espaços e a dinâmica cultural e as-sociativa: eis o reiterado contributo do CCV para o centro histórico.

uma aCtividade para todos!Para todos os filmes, no museu e na Praça D. Du-arte, as entradas são li-vres. Se pretender apoiar a actividade associativa do CCV, pode tornar-se sócio durante as sessões. Estamos cá para exibir cinema de autor, desde 1955, de forma indepen-dente e organizando ci-clos de cinema temáticos, tendo sido reconhecida ao CCV a Utilidade Públi-ca “pelo mérito cultural desenvolvido ao longo da sua história” em prol do cinema e da cultura da ci-dade, em 1997.

vasCo granjaO legado inspirador de cinefilia e espírito de des-coberta de Vasco Granja leva o CCV a propor a exi-bição diária, antes de to-das as longas-metragens, de pequenos filmes, na sua maioria em animação, reveladores de um univer-so rico de produção, liber-dade criativa e imaginá-rios fascinantes. Teremos sempre a Pantera Cor-de-Rosa, Vasco Granja.

editorial

a POPULaRidade dO ccV na cidade, nO cOnceLHO, nO diStRitO de ViSeU, nOS anOS 80, Fez-Se da actiVidade ReGULaR, daS iniciatiVaS extRa-cinematOGRáFicaS, da itineRância, e, a PaRtiR de 1982, tamBém Se Fez dOS cicLOS GRandeS de cinema nO PaRqUe. GRandeS PeLOS eSPaçOS, GRandeS PeLaS eStReiaS, GRandeS PeLO PúBLicO.Fernando Giestas, CINe CIDADe _ As salas de cinema, os protagonistas e os filmes do Cine Clube de Viseu 1955.2007

sessões ao ar livre Na Praça D. Duarte serão realizadas as sessões ao ar livre. Depois do Parque Aquilino Ribeiro e Fontelo, um novo espaço nobre acolhe esta actividade emblemática, uma das propostas culturais com maior tradição na cidade. De 15 a 17 de Julho, a não perder três noites irresistíveis!

Page 4: Argumento 132

4 cinema na cidade ‘09

Um filme encantador e despretensioso, Al-moço de 15 de Agosto é um leve sussurro tão delicadamente equilibrado que se o abun-darmos em elogios podemos furar o seu mo-desto casulo.esta história de um tipo de sessenta e tal anos, que vive com a mãe e é forçado a to-mar conta de outras três idosas, tem um na-turalismo que deve servir como referência a aspirantes realizadores, que frequentemen-te acreditam que nem vale a pena pensar

“pequeno”. A estreia em realização do argu-mentista Gianno Di Gregorio é um prazer ga-rantido para o público de uma certa idade, e deveria ganhar todos os festivais espalhados pelo mundo.Graças aos anos de experiência neste ramo como argumentista e assistente de reali-zação, Di Gregorio foi capaz de reunir uma equipa de técnicos apesar do orçamento super reduzido. Além de contar com matteo

Garrone de Gomorra como produtor, o filme tem ainda o editor de topo marco Spoletini e o argumentista Massimo Gaudioso a colabo-rar como director artístico.O realizador recusa criar um fetiche à volta do envelhecimento, mas não deixa de lhe reconhecer os estragos. Embora não sejam profissionais, estas garotas trazem algo ine-favelmente genuíno aos seus papéis. Grazia Sforza, em particular, tem uma naturalidade singela e uma grande sensibilidade para o ti-ming de comédia A reduzida luz no interior pode ter ajudado as contas de electricidade, mas também cap-tou a penumbra invariável dentro das casas italianas durante o calor de Agosto. A câmara é fluida, sem quaisquer sinos ou apitos, en-quanto uma luz de mão e música nos previne da doçura que vai brotar deste “Almoço”.© Jay weissberg / Variety

TíTUlo oRiGinAl

Pranzo di Ferragosto

itália, 2008, 75’

REAlizAção E ARGUMEnTo

gianni di gregorio

INTéRPReTeS

valeria de franciscis, marina

Cacciotti, maria Calì, grazia

Cesarini sforza, alfonso

santagata, luigi marchetti ,

marcello ottolenghi , petre

roso , gianni di gregório

PRODUçãO

matteo garrone

múSICA

ratchev e Carratello

FoToGRAFiA

gian enrico bianchi

MonTAGEM

marco spoletini

SOm

filippo porcari

1522h00 | praça d. duarte

alMoço De 15 De agosto

curtas pré-filMedois brilhantes exemplos de estúdios alemães de animação. e uma curta realizada pelo Projecto Cinema para as escolas do CCV

canary Beatde Jürgen Haas, Alemanha, 2006, 4’

sunny Day de Gil Alkabetz, Alemanha, 2007, 7’

o joão foi ao DentistaEB1, S. Martinho de orgens, 2008, 5’

Page 5: Argumento 132

5

Page 6: Argumento 132

6 cinema na cidade ‘09

a CaravanaPrimeira longa-metragem de dois realizado-res, Jonathan Dayton e Valerie Faris, que já não são nenhumas crianças. Têm perto de cinquenta anos e um longo currículo na área dos telediscos, com obra realizada para gru-pos tão significativos como REM, Smashing Pumpkins e Red Hot Chili Peppers. Mas o filme não faz lembrar, em ponto nenhum, um tele-disco - desprovido de efeitos ou de “tiques de linguagem”, é razoavelmente seco, como se para Faris e Dayton (como para alguns outros realizadores de “clips” recentemente conver-tidos ao cinema) não se reduzisse tudo ao “au-diovisual” e escolher o cinema fosse escolher uma relativa austeridade e um novo conjunto de códigos. Há um grupo de personagens, há uma história (um argumento, que parece no-tável, de michael Arndt) e é preciso pôr isto a mexer, gerindo tempos e conjuntos, ambien-tes e curvas, narrativas e emocionais. Fora um “grand finale” (e melhor momento do filme) em que estes dados de base, totalmente realistas, se transfiguram em comboio-fantasma to-dbrowninguiano, é só isto que Faris e Dayton fazem, e fazem-no bem.

Uma família, portanto. (…) metem-se numa ve-lhíssima furgonete Volkswagen e põem-se em marcha para a Califórnia, para o tal concurso de “misses” da miúda mais pequena. “Filme de grupo”, “road-movie”. Ou... “western”? Bom, já vimos cenários menos propícios a isso do que o novo México (arredores de Albuquer-que), que é de onde eles partem, e a Califór-nia. A carrinha Volkswagen é como aquelas caravanas de tantos “westerns”, onde uma família atravessa território agreste contra tudo e contra todos. ou enfim, como o seu reverso: fazer deste “conjunto” de pessoas tão distan-tes umas das outras um “grupo”, a que os pró-prios possam chamar uma “família”, eis o que parece o projecto do filme de Faris e Dayton. Peripécias, comoções, catarses (e, sempre, diálogos excelentes), e no fim o “freak show” do concurso das pequenas misses, notável construção de um grotesco de meter medo recorrendo apenas à escala de planos (ou, dizendo de outro modo, à maneira como se enquadra uma criança). Docemente subversivo, encerra-se sem epi-fanias nem metafísica: apenas um gentil man-guito, e toca de regresso a Albuquerque. Preci-samos mais disto do que de revelações.© luís Miguel oliveira, Público, 13-10-2006

curtas pré-filMea produção de curtas pela ePMs tem conquistado importantes prémios em Festivais da especialidade, como o Food-4-U, de itália, premiando o cuidado e as opções de realização.

equiliBriuM 2’

nutriMorphosis 1’

contraDições 7’Curtas da Esc. Prof. Mariana Seixas

1622h00 | praça d. duarte

uMa faMília à Beira De uM ataque De nervos

TíTUlo oRiGinAl

LittLe Miss sUnshine

eua, 2006, 99’

ReAlIzAçãO

jonathan dayton

e valerie faris

ARGUMEnTo

michael arndt

INTéRPReTeS

abigal berger, greg Kinnear,

paul dano, alan arkin,

toni Collette, steve Carell,

marc turtletaub, jill talley,

brenda Canela, julio oscar

mechoso, Chuck loring,

justin shilton

PRODUçãO

albert berger, david t.

friendly, peter saraf, marc

turtletaub, ron Yerxa

múSICA

mychael danna, devotchka

FoToGRAFiA

tim suhrstedt

MonTAGEM

pamela martin

Page 7: Argumento 132

7

Page 8: Argumento 132

8 cinema na cidade ‘09

Alguns dos episódios do filme colectivo Cada Um o Seu Cinema têm mesmo a cara dos re-alizadores que os fazem. literalmente. Nanni moretti: sozinho numa sala, faz o seu diário de espectador, e isso leva-o a aproximar-se do habitual registo de fúria (para falar dos pés de michelle Pfeiffer em what lies Beneath, do momento em que Rocky levou os braços ao ar em Rocky Balboa, do momento em que o filho de dois anos lhe pediu para irem ver Matrix 2.)(…) Os irmãos Coen não aparecem, mas às primeiras imagens o seu episódio é reco-nhecível (pode-se, aliás, fazer um exercício ao longo das duas horas de Cada Um o Seu Cinema: adivinhar a quem pertence cada pequeno filme). nele, um cowboy, no deso-lado oeste, aventura-se pela cinéfila, ainda por cima em língua estrangeira. Não sabe o que há-de ver, se A regra do jogo, do francês Jean Renoir, ou se Climas, do turco Nuri Bylge Ceylan. Que aconselhariam? “Filmes dentro de filmes” é o que mais há neste projecto, encomenda do festival a toda a gente que é alguém da família do cinema. Cannes rei-vindica-se como espaço natural para todos eles. São mais de 30 realizadores, contam em poucos minutos o que sentem como ex-periência cinematográfica.

O mAIS APlAUDIDOE um encontro entre o camarada nikita Kruts-tchev e o (camarada?) Papa João XXIII? ma-noel de oliveira filmou nikita (Michel Piccolli) e o papa (João Bénard da Costa) a compara-rem o que têm em comum: as barrigas, a ne-cessidade de comer. Como um filme mudo, e serenamente libertário. O episódio mais aplaudido: o do brasilei-ro walter Salles, contagiante batucada, em frente a um cinema no sertão brasileiro, que passa “os 400 golpes”, de Truffaut. os batu-queiros cantam tudo o que sabem de Can-nes, e sabem tudo desse filme... por causa da Net. Salles dizia que assim quis mostrar que a experiência que o continua a interessar é ver cinema numa sala, não num telemóvel. O rosto de David Cronenberg não mostrou si-nais de expressão quando Salles falou. Gos-taríamos de saber o que ele pensa. ele que é autor de um episódio que (não é possível ter a certeza) deverá contar a seguinte história: um homem, “o último judeu na terra” (o pró-prio Cronenberg), está numa casa de banho, o sítio para onde retrocedeu essa coisa a que se chama “experiência de cinema”. o homem suicida-se. Aceitar-se-iam hipóteses de inter-pretação, mas Cronenberg deu-as a seguir ao filme: “o meu episódio é sombrio? não sei. o cinema, tal como nós o conhecemos e ama-mos, já não existe, já é coisa do passado. o cinema se calhar já não está aqui”.© Vasco Câmara, Público, 15.05.2009

TíTUlo oRiGinAl

ChaCUn son CineMa

frança, 2007, 100’

ReAlIzAçãO

abbas Kiarostami

aki Kaurismaki

amos gitai

andrei Konchalovsky

atom egoyan

bille august

Chen Kaige

Claude lelouch

david Cronenberg

david lynch

elia suleiman

gus van sant

hou hsiao-hsien

jane Campion

jean-pierre dardenne

Ken loach

lars von trier

luc dardenne

manoel de oliveira

nanni moretti

olivier assayas

raoul ruiz

raymond depardon

roman polanski

takeshi Kitano

theo angelopoulos

tsai ming-liang

Walter salles

Wim Wenders

Wong Kar-Wai

Youssef Chahine

Zhang Yimou

1722h00 | praça d. duarte

caDa uM o seu cineMa

curtas pré-filMea obra de norman McLaren, mestre da animação canadiana, foi a grande inspiração de Vasco granja para a sua causa do cinema de animação. neighbours cruza animação de objectos com actores, numa história anti-bélica que coincidiu com o início da guerra da Coreia.

neighBoursde norman Mclaren, Canadá, 1956, 7’

Page 9: Argumento 132

9

© aki Kaurismaki

Page 10: Argumento 132

10 cinema na cidade ‘09

Nascido no auge da metrópole moderna, o cinema impôs-se como entretenimento urbano por excelência durante o sécu-lo passado, ao mesmo tempo que a própria cidade figurava como um dos elementos mais reproduzidos e recriados nos filmes. Através do registo e reprodução do real, inicialmente, e de ficções, imaginários e futuros mais ou menos utópicos, depois, a ideia de cidade no cinema é uma construção colec-tiva para a qual muitos autores incontornáveis da história do cinema contribuiram. este programa Cinema no museu apre-senta alguns filmes experimentais, de culto e documentários dedicados à representação da cidade no cinema, concentra-dos entre o período dos anos 60 e 90 do século passado, rea-lizados por Godard, Jarmusch, ou Greenaway, entre outros.

© KOyaaniSqatSi, de Godfrey Reggio

1418h30 | museu grão vasCo

alphavillede jean-luc godard, frança, 1965, 99’

logo no início se nos recorda que Alphaville é o nono filme de Godard, depois de À Bout de Souffle (1960), le Petit Sol-dat (1960), Une Femme Est une Femme (1961), Vivre Sa Vie (1962), les Carabiniers (1963), le Mépris (1963), Bande à Part (1964) e Une Femme Mariée (1964). E Godard não contou as curtas-metragens e os “sketches” (quatro para cada lado, não incluindo as obras anteriores a 1958) que dão a ideia do prodi-gioso ritmo de sete anos de trabalho. na década do filme (que ainda nos trouxe mais sete longas metragens, antes da viragem post-68), Godard era o cineas-ta que uma geração trazia de Paris. Aqui chegaram apenas, com contemporaneidade relativa, os “sketches” dos filmes Rogopag (1962) e de les Plus Belles Escrocqueries du Monde (1963- esse o primeiro Godard que passou em Portugal) para além de Pierrot le Fou (1965). Tudo o resto, para trás ou para a frente, o vimos já nos anos 70, antes do 25 de Abril (À Bout de Souffle, Alphaville, Masculin-Féminin) ou depois dele (quase

tudo). Assim as “maravilhas fatais da nossa idade” (da minha pelo menos) eram vistas em Paris, donde trazíamos o último “nouvel obs” e o último Godard, tudo coisas que a censura por cá proibia. E entre referências, filmes perdidos, viagens esporádicas, poucos puderam seguir cronologicamente o percurso que levou de À Bout de Souffle a Bande à Part e de-pois inflectiu com Une Femme Mariée, ou, por outras voltas, o percurso que vai de le Petit Soldat a made in USA, o ciclo, com raras, excepções, de Anna Karina. Se comecei por aqui, não é apenas pelo facto da memória deste filme me ser inseparável desse saltos e rupturas no que nos era permitido ver aqui, mas sobretudo porque só o per-curso anterior explica que Godard se tinha aventurado no ano 2000, às 24h e 17m, hora oceânica, nos bairros de Alphaville, cidade do futuro.© João Bénard da Costa, Folhas da Cinemateca (excerto).

Page 11: Argumento 132

11

1518h30 | museu grão vasCo

Megacitiesde michael glawogger, austria, 1998, 90’

1618h30 | museu grão vasCo

a Barriga De uM arquitectothe belly of an arquitect de peter greenaway , reino unido e itália, 1987, 118’

No início deste novo milénio, e pela primeira vez na história da humanidade, a maioria da população mundial vive em grandes centros urbanos. Este é o pretexto para “Megacities”, um documentário ambicioso de Michael Gla-wogger que observa à lupa o sub mundo de Bombaim, México, Moscovo e nova iorque, quatro exemplos de metrópoles excessiva-mente povoadas, monstros simultaneamen-te sedutores e repelentes.em doze capítulos e onze testemunhos, o

realizador esboça um retrato destas popula-ções e da sua luta diária pela sobrevivência. Apesar da distância cultural e geográfica, par-tilham problemas como a prostituição, a falta de casa, o crime e a toxicodependência. Mas têm também em comum a resistência e a es-perança, a coragem e a dignidade. Porque se este é um documento sobre trabalho, misé-ria, violência, amor e sexo, é-o também sobre a beleza das pessoas.© www.ruadebaixo.com

Roma por Peter Greenaway, e Etienne-louis Boullée (extraordinário arquitecto francês, 1728-1799) por Stourley Kracklite, arquitecto norte-americano que viaja à capital italia-na para preparar uma exposição dedicada a Boullée. O título, as dores de estômago de Kracklite, e a gravidez da sua mulher remetem para as construções esféricas do visionário arquitecto francês, de forma exemplarmente trabalhada e irónica por Peter Greenaway. A banda sonora de wim mertens acompanha a grandeza visual do filme.

PORqUe Se eSte é Um dOcUmentO SOBRe tRaBaLHO, miSéRia, ViOLência, amOR e SexO, é-O tamBém SOBRe a BeLeza daS PeSSOaS.

é a PRóPRia matéRia dO cinema: qUandO Se Põe Uma câmaRa a FiLmaR, qUandO Se enqUadRa aLGO, mUda-Se O mUndO. é POR iSSO qUe O meU cinema é “aRtiFiciaL”,

“BaRROcO”, PORqUe O BaRROcO é O exceSSO e a iLUSãO – e, qUandO Se Vê Um

“FiLme de GReenaway”, aPenaS VOS qUeR dizeR qUe eStãO a VeR Um FiLme. nãO é a ReaLidade, nãO é Um PedaçO de Vida, é Uma cOnStRUçãO aRtiFiciaL.

Page 12: Argumento 132

12 cinema na cidade ‘09

1818h30 | museu grão vasCo

Mystery trainde jim jarmusch, eua, 1989, 110’

1718h30 | museu grão vasCo

Koyaanisqatside godfrey reggio, eua, 1982, 86’

Se talvez seja exagerado colocar o cerne deste filme no seu formalismo, não deixa por outro lado de fazer algum sentido: é que mys-tery Train, antes de mais nada, é um filme so-bre o vazio. O sítio onde estamos é memphis, cidade emblemática dos anos de ouro do rock americano, terra natal de Elvis Presley e do Sun Studio onde o “rei” foi descoberto e começou a gravar. A memphis que Jarmusch filma - e que vale no fundo por toda a Amé-rica - é uma cidade-museu, no sentido pejo-rativo que a palavra pode ter: sem vida onde apenas restam os ícones, ou seja, os fantas-mas. Nesse sentido há, logo no princípio, uma sequência claramente reveladora das inten-ções de Jarmusch: a visita guiada ao Sun Stu-dio, com a espontaneidade postiça da cice-rone a deixar evidente toda uma angustiante

sensação de vazio. Tudo são assombrações, desde os retratos de elvis presentes em cada quarto do hotel até à presença de Screamín’ Jay Hawkins, nos anos cinquenta um “perfor-mer” quase tão famoso como elvis, e aqui re-metido à condição de “figura de cera” como recepcionista que, aliás, vemos sempre na mesma posição. memphis vale então como uma “miniatura” da América: um país que criou os seus próprios mitos para deles se ali-mentar, não reparando que nesse processo estava a criar os vampiros que lhe sugariam o sangue. Disto mesmo a melhor imagem será aquela que é a mais tocante cena do filme: a aparição do fantasma do próprio elvis, sur-preendentemente humano e vulnerável.© luís miguel Oliveira, Folhas da Cinemateca (excertos)

Herdeiro da linguagem visual das primeiras experiências do documentário sem palavras de Dziga Vertov ou walter Ruttmann, o reali-zador Godfrey Reggio preconiza uma nova forma de olhar as imagens e ouvir os sons, propondo uma nova relação expressiva entre ambos meios de comunicação. Com a mú-sica de Philip Glass, Reggio mostra-nos um mundo saturado de imagens pré-fabricadas,

fruto da sociedade hiper-acelerada e mate-rialista, uma sociedade onde a Natureza foi suplantada pelo advento maciço da tecnolo-gia digital. Koyaanisqatsi é o primeiro filme da Trilogia Qatsi, que configura uma nova era da comunicação audiovisual que influenciou o cinema, a publicidade, a produção televisiva e a cultura do videoclip.

(...) inFLUenciOU O cinema, a PUBLicidade, a PROdUçãO teLeViSiVa e a cULtURa dO VideOcLiP

memPHiS VaLe entãO cOmO Uma “miniatURa” da améRica: Um PaíS qUe cRiOU OS SeUS PRóPRiOS mitOS PaRa deLeS Se aLimentaR

Page 13: Argumento 132

13

O que nos diz uma cidade vista por olhares e dispositivos se-parados por décadas entre si? A maior colecção de fotogra-fias antigas de Viseu (Foto Germano) e o trabalho de luís Belo (Viseu, 1987) cruzam-se nesta sessão dedicada à fotografia, projectando a história e imaginário colectivo da cidade atra-vés dos espaços e do tempo.

empóriolivros, faiança, objectos raros, mobiliário, material etnográfico.loja na Rua Silva Gaio.www.projectopatrimonio.com

1422h00 | empório

onteM & hojefoto germano e luís belo apresentam fotos de viseu

foto germanoA Foto Germano recolhe imagens de Viseu há mais de 100 anos. Vendas nos estúdios da Rua Formosa. www.fotogermano.com

foto luís beloluís Belo, ilustrador, designer, fotógrafo. Vencedor do Concurso Viseu Patrimonium’09, Fnac. http://luisbelo.com

Page 14: Argumento 132

14 cinema na cidade ‘09

- AS FOLHAS DA CINEMATECA

- STANLEY KUBRICK

- ABBAS KIAROSTAMI

- CARY GRANT

- D.W. GRIFFITH

- JEAN GABIN

- KING VIDOR UM ROMANCE AMERICANO

- CINEMA E PINTURA

- FRANÇOIS TRUFFAUT A VIDA ERA O ÉCRAN

- JOÃO CÉSAR MONTEIRO

- MICHAEL CIMINO O ÚLTIMO DOS MAVERICKS

- DAVID CRONENBERG A EXPRESSÃO NUA

- OSCARS 78 ANOS 1927-2005

- OTAR IOSSELIANI

- PIER PAOLO PASOLINI O SONHO DE UMA COISA

- ROUBEN MAMOULIAN

- JIM JARMUSCH MELANCÓLICA INDEPENDÊNCIA

- MICHEL PICCOLI

- PALAVRA (A) CARL TH. DREYER

- RAINER W. FASSBINDER O AMOR É MAIS FRIO QUE A MORTE

- ROBERTO ROSSELLINI E O CINEMA REVELADOR

- ROGER CORMAN O ANJO SELVAGEM DE HOLLYWOOD

- CIDADES E OS FILMES (AS) UMA BIOGRAFIA DE RINO LUPO

- ERAM OS ANOS 60

- JACQUES RIVETTE O SEGREDO POR TRÁS DO SEGREDO.

- JOHN CARPENTER MEMÓRIAS DE UM HOMEM BEM VISÍVEL

- MANOEL DE OLIVEIRA CEM ANOS

cine ciDaDeaS SaLaS de cinema, OS PROtaGOniStaS e OS FiLmeS dO cine cLUBe de ViSeU 1955-2007

vende-senas sessões ao ar livre:

TAMBéM À VEnDA:eDições Da cineMateca

Promoção € 12,50 Sócios CCV € 10,00

€ 15p.v

.p.

Page 15: Argumento 132

15

Pub

licid

ade

Pub

licid

ade

Page 16: Argumento 132