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AssociaçãoNacionaldeTecnologiadoAmbienteConstruído GRUPO DE TRABALHO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL I ENCONTRONACIONALSOBREEDIFICAÇÕESE COMUNIDADESSUSTENTÁVEIS Canela, RS, 18a 21 de nnvembrn de 1997 ARGAMASSAS DE REVESTIMENTO PARA TERRA PALHA REGINAÂNGELAMATIARAIA, Arquiteta-Mestranda-DAUfEESC-USP Dep. de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Franca, SP Av. Dr. Armando SaBes Oliveira, 20I Franca SP Tel:(OI6)998.4585 - e-mail: [email protected] MARIALETÍCIAACHCAR,Arq. Mestranda - Univ. de Helsinki, Finlândia Rua Arruda Botelho, 262 São Paulo, SP Tel./Fax. (OII) 831-7782 e-mail [email protected] RESUMO A utilização da Terra-Palha como material de construção, largamente utilizada na Alemanha, Bélgica e Suíça a séculos, é praticamente desconhecida no Brasil. A importância deste material está na simplicidade de seu processo construtivo e utilização de materiais renováveis na natureza. Este trabalho tem como objetivo testar argamassas de revestimento contendo terra quando aplicadas sobre painéis de Terra-Palha. Foram aplicados dois tipos de emboço variando o tipo de terra e três tipos de reboco variando o estabilizador e o tipo de terra. PALA VRAS CRAVES Construções em terra; terra-palha; argamassas de revestimento. ABSTRACT The usage of straw-clay as building material, traditionaBy used in Germany, Belgium and Switzerland for centuries, is nearly unknown in Brazil. The importance of such material is in its construction process simplicity, and its usage of renewable organic material. This work aims to verify the cladding mortars behaviour over the straw earth. Due to the behaviour complexity of clay, were applied several kinds of mortar and has done comparative analysis among them. KEYWORDS Earth construction; earth mortars, straw-clay. 49

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AssociaçãoNacionaldeTecnologiadoAmbienteConstruídoGRUPO DE TRABALHO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVELI ENCONTRONACIONALSOBREEDIFICAÇÕESE

COMUNIDADESSUSTENTÁVEISCanela, RS, 18 a 21 de nnvembrn de 1997

ARGAMASSAS DE REVESTIMENTO PARA TERRAPALHA

REGINAÂNGELAMATIARAIA, Arquiteta-Mestranda-DAUfEESC-USPDep. de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Franca, SP

Av. Dr. Armando SaBes Oliveira, 20 I Franca SPTel:(OI6)998.4585 - e-mail: [email protected]

MARIALETÍCIAACHCAR,Arq. Mestranda - Univ. de Helsinki, FinlândiaRua Arruda Botelho, 262 São Paulo, SP

Tel./Fax. (OI I) 831-7782 e-mail [email protected]

RESUMO

A utilização da Terra-Palha como material de construção, largamente utilizada naAlemanha, Bélgica e Suíça a séculos, é praticamente desconhecida no Brasil. Aimportância deste material está na simplicidade de seu processo construtivo eutilização de materiais renováveis na natureza. Este trabalho tem como objetivotestar argamassas de revestimento contendo terra quando aplicadas sobre painéis deTerra-Palha. Foram aplicados dois tipos de emboço variando o tipo de terra e trêstipos de reboco variando o estabilizador e o tipo de terra.

PALA VRAS CRAVES

Construções em terra; terra-palha; argamassas de revestimento.

ABSTRACT

The usage of straw-clay as building material, traditionaBy used in Germany,Belgium and Switzerland for centuries, is nearly unknown in Brazil. Theimportance of such material is in its construction process simplicity, and its usageof renewable organic material. This work aims to verify the cladding mortarsbehaviour over the straw earth. Due to the behaviour complexity of clay, wereapplied several kinds of mortar and has done comparative analysis among them.

KEYWORDS

Earth construction; earth mortars, straw-clay.

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INTRODUÇÃO

Este experimento é parte de um trabalho desenvolvido pelo Grupo de Habitação (GHab) da EESC-USP/UFSCar, em sua área de pesquisa e desenvolvimento de materiais e técnicas construtivasutilizando materiais renováveis como a Terra e Madeira de Reflorestamento. O uso milenar da Terracomo material de construção vem ganhando espaço mas comunidades e grupos de pesquisapreocupados com a má utilização e o esgotamento dos recursos naturais. À estes recursos aliam-se aconcepção arquitetônica e o desenvolvimento de técnicas que permitem a racionalização econsequente redução de custos, facilidade e agilidade construtiva.Dentro desta visão, a ampliação da atual sede do GHab foi projetada e executada em estrutura demadeira serrada de reflorestamento e em blocos de terra-palha' como painéis de vedação.Tendo em vista a susceptibilidade da terra-palha à água, foram desenvolvidas argamassas paraemboço e reboco de modo a proteger o substrato da ação das intempéries. Segundo HOUBEN &GUILLAUD (1989) a argamassa de revestimento deve ser confeccionadas e aplicada de modo aproteger o substrato porém nunca ser mais resistente que ele.O objetivo deste experimento é verificar o comportamento de argamassas de revestimento contendoterra aplicadas sobre substrato de terra-palha. Esta verificação foi feita comparando, através daaderência ao substrato, estanqueidade e resistência mecânica, o desempenho da cal hidratada, 'florda cal' e fibra de bananeira como agentes estabilizadores destas argamassas.

MATERIAIS E MÉTODOS

SUBSTRATO

Os Blocos dc Terra-Palha foram confeccionados com Argila I (proveniente de olaria de RioClaro,SP), feno coasl-cross e água. Foi também utilizada a fibra de bananeira em substituição aofeno coasl-cross em parte de um dos painéis.

COMPONENTES DAS ARGAMASSASUtilizou-se dois tipos de terra na confecção das argamassas: Argila I, (utilizada na confecção dosblocos do substrato) e Argila 2, proveniente da cidade de São Carlos, SP.A areia utilizada foi areia quartzosa, adquirida no comércio local e foram utilizados comoestabilizadores Fibra de Bananeira picada, "Flor-da-Cal" e Cal Itau CH-IlI.A fibra de bananeira foi utilizada como estabilizador dos emboços internos e externos e dos rebocosinternos.Para a caracterização das argilas foram feitos ensaios de granulometria e sedimentação.(Tabela I)

-

AreiaSilteAr ila

Tab. 1- Caracterização das Argilas

CONFECçÃO DAS ARGAMASSASConfecção das EssênciasA Argila I foi submersa em água durante 3 dias. Após este tempo esta mistura foi colocada emargamassadeira de eixo vertical e argamassada até que se dissolvesse formando uma pasta, coada em

I A técnica da terra-palha consiste na mistura de argila e feno colocada em formas. Após a desfonna e secagem estes blocos possuem excelentescaracterísticas térmicas, leveza. c facilidade de execução de painéis de veda~O

-',.- peneira # 42 e acondicionada em tambores que foram vedados até sua utilização, Esta pasta foidenominada Essência 1,Uti1izou-se o mesmo procedimento para a preparação da Essência 2 utilizando a Argila 2,Confecção das ArgamassasMisturou-se às essências, areia e o estabilizador (fibra ou 'f1or-da-cal' ou cal hidratada) naargamassadeira durante 10 minutos acrescentando água até obter a consistência desejada,Os traços estão descriminados nas Tabelas 2 e 3,

Areia Média FibraI 0,51 0,5

Tab.2 - Traços de emboço (em volume)

Reboco 1Reboco 2Reboco 3

APLICAÇÃO DAS ARGAMASSASEmboçosForam aplicados dois tipos de emboços variando o tipo de argila (Tabela 2), em duas camadasconsecutivas com espessura média de 1 cm, utilizando desempenadeira de madeira e colher depedreiro,Na face interna dos painéis foram aplicados o Emboço I e o Emboço 2, (Foto 1),Na face externa foi aplicado o Emboço I ,(Foto 2)

Foto 1.- Emboços internos: Emboço 2 à esqueroa. Emboço I à direita I

Para verificar da estabilização dos embaças, manteve-se dois painéis internos e um externo semaplicação de reboco,

RebocosForam aplicados três tipos de reboco variando o traço, tipo de estabilizador e tipo de essência(Tabela 3), Na face interna dos painéis foi utilizado o Reboco 1 e na face externa aplicou-se oReboco 2 e Reboco 3,

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o reboco foi aplicado em duas camadas consecutivas de espessura média de 5 mm, comdesempenadeira de aço e acabamento com esponja de nylon. O reboco interno foi aplicado dez diasapós a aplicação do emboço e o reboco externo, dezessete dias após a aplicação do emboço.Durante a aplicação dos rebocos (estado fresco) foram analisadas, de forma táctil, suatrabalhabilidade e sua aderência ao substrato e feito ensaio de consistência (flow-table). Tabela 4No estado endurecido foram analisados a resistência à abrasão (táctil), estanqueidade e retração(visual). Os ensaios para determinar a Resistência à Compressão foram feitos aos 150 dias para osReboc02 e Reboco 3 de modo a comparar a influência das cales. Tabela 5

.,--

COOsistmia (mm) I

Tab.4.lndice de Consis1ência

Foto3. - Correção do painel de fibra de bananeira

apresentaram excelentesaderência ao substrato.(Foto

RESULTADOS

EmboçoOs emboços em estado fresco mostraram-se de difícil adcrência ao substrato difíceis de seremaplicados (trabalhabilidade).Na primeira semana após a aplicação o Emboço I, aplicado internamente sobre o painel de fibra debananeira apresentou-se quebradiço devido à má compactação dos blocos e à grande espessura dasfíbras; por este motivo foi feita uma correção com uma mistura de Essência I e feno na facc externadeste painel antes da aplicação do emboço. Acorrcção foi feita em 0.80 cm2

• na parte inferior dopainel, deixando a parte superior sem correção.(Foto 3)Esta correção, além de enrijecer o substrato,impermeabilizou-o e desta forma as águas de chuvae a umidade não o atingiram. O mesmo não ocorreuna parte superior, não corrigida, onde o substratoapresenta manchas de umidade. Este painel não foirebocado externamente e nele pudemos observar omal desempenho do emboço relativo à aderência aosubstrato, à resistência à abrasão e à choques, eestanqueidade.Os emboços não apresentaram fissuras de retração.

RcbocoOs rebocostrabalhabilidade e4)O Reboco I, aplicado internamente, nãoapresentou fissuras, porém mostrou-se friável epouco resistente à choques mecânicos. Aos 150dias de sua aplicação ainda não apresentavasinais visiveis de estabilização.No estado endurecido mostrou-se friável epouco resistente à choques mecânicos nos

tanto pelapela má

- primeiros dias, aumentando a resistência á abrasão e á choques lentamente.

Os Reboco 2 e Reboco 3, aplicados externamente, apresentaram-se pouco resistentes á choques e áágua nas primeiras idades (30 dias), aumentando sua resistência á abrasão, á choques e suaimpermeabilidade aos 60 dias e continuando um processo lento de estabilização. O' ensaio deresistência á compressão aos 60 dias nos mostra a pouca influência das duas cales na resistência daargamassas.(tabela S.)

Tabela 5

Três painéis externos tiveram parte de seusrebocos desagregados (parte inferior) devido áfortes chuvas que ocorreram logo após suaaplicação. Foto 4.Sobre as partes afetadas foi aplicadas outracamada do mesmo reboco. Apesar da primeiracamada já estar seca quando foi feita a correção,estes rebocos apresentaram boa aderência ácamada inicial, tanto em estado fresco quanto noendurecido.

Foto 4.- Desagregação do reboco devido à chuvas

Os Rebocos estabilizados com as cales (Reboco2 e Reboco 3) apresentaram fissuras mapeadas.FotoSEstas fissuras foram provocadasretração da argamassa quantoqualidade da mão de obra.O excessivo desempenamento do rebocoprovocou exsudação da água de amassamento eposterior retração com o surgimento de fissurasA qualidade da mão de obra também provoupequenos destaques na camada de rebocodevido á pouca espessura destas camadas.

CONCLUSÕES

Observou-se que a rigidez do substrato é fator fundamental para o bom desempenho do revestimentono que se refere á aderência da argamassa ao substrato.A aderência também pode ser melhorada com a aplicação de uma camada da essência de argila sobreo substrato antes da aplicação das argamassas, como sugere VOLHARD (1995). Esta camada atua

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age também como impermeabilizante do substrato confirmado pelo resultado observado no painel defibra de bananeira. Após a correção do substrato não apresentou manchas de umidade na áreacorrigida, o mesmo não ocorrendo nas área não corrigida.A utilização de fibras com estabilizadores, tanto no emboço quanto no reboco, apesar de impedir oaparecimento de fissuras devido à retração da argila, retarda sua estabilização.Os rebocos estabilizados com as cales possuem propriedades (estanqueidade, resistência à abrasão eà choques) superiores aos de fibras, não influindo nestas propriedades os tipos de cales ou de argilasutilizadas. Também a resistência à compressão não mostrou variações acentuadas quanto ao tipo decal empregada.Outra observação relevante é relativa à qualidade de mão de obra na aplicação dos revestimentos oque ocasionou patologias como fissuras (ao excesso de desempenamento) e desprendimento(camadas muito finas de reboco).

BIBLIOGRAFIA

VOLHARD, F. Leichtlehmbau, alter Baustoff - neue Technik. C.F. Müller,Karlsruhe,1995

OLIVEIRA, Teresa C.Menezes "Argamassas Bastardas" e suas caracteristicas Fisico-Quimicas eTecnológicas. Dissertação de Mestrado. Salvador: Universidade Federal da Bahia. Faculdade deArquitetura e Urbanismo, 1995

HOUBEN, H.; GUILLAUD, H. Traité de construccion en terre Parenlheses,Marseille, 1989

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