arens eduardo.a biblia sem mitos p.285-317

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A BÍBLIA, PALAVRA DE DEUS 19. A Bíblia geralmente é definida como “Palavra de Deus” . As lei- turas bíblicas nas celebrações litúrgicas são aclamadas como “Palavra de Deus”. É comum entre crentes sustentar que os textos bíblicos, de uma ou de outra maneira, apresentam as mesmíssimas palavras de Deus. É um dogma fundamental do fundamentalismo. A falta de re- flexão e, não poucas vezes, os preconceitos ou idéias ingênuas ique se assumiram costumam conduzir a idéias errôneas ou míopes a respeito da Bíblia enquanto Palavra de Deus (e sobre a inspiração). Por isso, devemos deter-nos neste aspecto. Esclarecimento conceituai Palavra de Deus é um predicado associado à revelação, inspi- ( ração, inerrância e normatividade. Mas, como se deve entender essa expressão? Palavra de Deus e palavra da Bíblia são sinônimas? A ex- pressão “Palavra de Deus” , referida à Bíblia, significa diferentes coi- sas para diferentes pessoas, segundo a idéia que cada um possa ter a respeito da própria Bíblia. Vejamos o assunto com atenção. De modo imediato, pelo simples fato de estarem impressas, as palavras bíblicas não são automaticamente as mesmíssimas palavras de Deus. Formalmente, a Bíblia é um livro a mais ao lado de tantos outros: é literatura religiosa. Recordemos, além disso, que os escritos bíblicos têm uma longa história anterior à sua escritura. Considerarí- amos ingênua a pessoa que sustentasse que a Bíblia foi escrita direta- mente por Deus, com seu punho e letra. No entanto, freqüentemente se tem a impressão de que é isso o que se pensa e o que se afirma, quando se define a Bíblia como Palavra de Deus. Algumas simples 285

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A Bíblia Sem Mitos Eduardo Ares

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A BBLIA, PALAVRA DE DEUS19.A Bblia geralmente definida como Palavra de Deus. As leituras bblicas nas celebraes litrgicas so aclamadas como Palavra de Deus. comum entre crentes sustentar que os textos bblicos, de umaou deoutra maneira,apresentam as mesmssimas palavras de Deus. um dogma fundamental do fundamentalismo. A falta de reflexo e, no poucas vezes, os preconceitos ou idias ingnuas ique se assumiram costumam conduzir a idias errneas ou mopes a respeito da Bblia enquanto Palavra de Deus (e sobre a inspirao). Por isso, devemos deter-nos neste aspecto.Esclarecimento conceituaiPalavra deDeus um predicadoassociadorevelao, inspi- ( rao, inerrncia e normatividade. Mas, como se deve entender essa expresso? Palavra de Deus e palavra da Bblia so sinnimas? A expresso Palavra de Deus, referida Bblia, significa diferentes coisas para diferentes pessoas, segundo a idia que cada um possa ter a respeito da prpria Bblia. Vejamos o assunto com ateno.De modo imediato, pelo simples fato de estarem impressas, as palavras bblicas no so automaticamente as mesmssimas palavras de Deus. Formalmente, a Bblia um livro a mais ao lado de tantos outros: literatura religiosa. Recordemos, alm disso, que os escritos bblicos tm uma longa histria anterior sua escritura. Consideraramos ingnua a pessoa que sustentasse que a Bblia foi escrita diretamente por Deus, com seu punho e letra. No entanto, freqentemente se tem a impresso de que isso o que se pensa e o que se afirma, quando sedefine aBblia comoPalavradeDeus. Algumas simples285A Bblia sem mitosobservaes nos convidam a refletir cuidadosamente a respeito da relao entre Bblia e Palavra de Deus.- Algunsrelatos(porexemplo,emJosue Juizes),leis(por exemplo,olho por olho)eafirmaes(por exemplo,Feliz quemagarrareesmagarteusbebscontraarochanoSI 137,9)notmnadadeedificante,ebempoderamosnos perguntar se os qualificaramos como Palavra de Deus.- Os Salmos so clarissimamente palavras de homens dirigidas aDeus,nopalavrasdeDeusdirigidasaoshomens:como podemos qualific-los como Palavra de Deus?- Igualmentedignodereflexosecertosgnerosliterrios como, por exemplo, genealogias (vejalCr 1-8), so Palavra de Deus,ou devem ser consideradas antes como simples informaohistrica,semmensagembviaemmatriadef religiosa.- luzdoNovoTestamento,partedoAntigo Testamento caducaoufoiabolida,especialmente certas tradies e leis, como os preceitos de pureza ritual (Mc 7,1-23) e as antteses em Mt 5,21-47. Portanto, ns, cristos, no podemos perguntar se ainda so Palavra de Deus para ns.- Cabeperguntar-seseseriamqualificadoscomoPalavrade Deus os relatos ou narraes aparentemente profanos, como os relatos nacionalistas de Rute e de Ester. Nesta epgrafe poderamos incluir as narraes sobrea conquista e a monarquia (Josu-Reis).- A maioria dos escritos da Bblia so produto de circunstncias passadas, como evidente nas cartas de Paulo e em muitos pronunciamentos dos profetas, cujos destinatrios no somos ns.De fato, muitos dos problemas tratados nesses escritos no nos dizem respeito. O problema tratado na carta de Paulo a Filemon, por exemplo, no tem nada a ver conosco, como tampoucoasinvestidascontraaBabilnia,Assria,Moab, Damasco e Egito, em Isaas 13-19 (cf. Jr 46-51e Ez 25-32). Podemosqualific-loscomoPalavradeDeusparans?- Se a Bblia literalmente a Palavra de Deus, como explicar os erros, as incongruncias e a variedade de conceitos teolgicos que encontramos nela?Como podeser toda ela qualificada porigualcomoPalavradeDeus?Alis,podemoshonesta286A Bblia, Palavra de Deusmente perguntar-nos se todos os escritos da Bblia tm igual valor, se todos tm igual capacidade de orientar-nos pelo caminho da salvao, ou se alguns so irrelevantes para ns.Comosepodepercebe^estaseoutraspossveisobservaes aplicam-se tambm aos conceitos tradicionais de inspirao e de Revelao, sobre os quais j nos detivemos amplamente. Observar-se- tambm que o qualificativo Palavra de Deus no se pode empregar indiscriminadamente, e no se deve entender em um sentido literal.O fundamentalista fecha-se na afirmao de que a Bblia literalmente a Palavra de Deus, o que para ele significa tanto como dizer que foi ditada por Deus e que, conseqentemente, infalvel e inquestionvel(livre de qualquer erro e de qualquer condicionamento circunstancial, cultural ou conceituai). O fundamentalista est pensando nas palavras que aparecem na boca de Deus ou de algum profeta. Mas anda em rodeios, quando se trata de explicar se os relatos, as narraes, tambm os Salmos, so Palavra de Deus no mesmo sentido que os discursos e pronunciamentos.Alcance da "Palavra de Deus"Assim,temosdeadmitirqueosescritosdaBbliasodevalorede profundidadediferentes,porexemplo,os livroshistricos emcontraste comosprofticos.Igualmente,devemosadmitir que, alm de que os diversos escritos estarem cultural e circunstacialmen- te condicionados, nem tudo neles revelador ou importante para a salvao, por exemplo, as genealogias. A Bblia contm, alm disso, aspectos provisrios (por exemplo, no que se refere ao divrcio, como se destaca em Mt 19,3-9) e conceitos defeituosos que depois so corrigidos(por exemplo, a maneira como se foi entendendo a vida e a retribuio depois da morte). Em outras palavras, devemos admitir que nem tudo na Bblia pode ser qualificado em sentido estrito comoC Palavra de Deus infalvel para sempre. Se assim fosse, nos levaria a contradies, como vimos na discusso sobre a inerrnciaTlstoTmls" certoaindase,aoqualificar esteouaquele texto como Palavra de^v Deus,pensamos quefoi paranshoje:oquenospodemdizer de1construtivo para a feamoralosnumerosos relatos de matanas desapiedadas, ordenadas ou aprovadas por Deus (segundo os relatos287A Bblia sem mitosbblicos)?Ento, em que sentido se deve entender a qualificao da Bblia como Palavra de Deus? Foi Palavra de Deus somente para destinatrios originais dos escritos bblicos, ou tambm para ns? Para esclarecer o panorama, remontemo-nos s origens do conceito mesmo de Palavra de Deus.A qualificao da Bblia como Palavra de Deus tem suas razes na concepo de um deus que falou e cujas palavras foram, por assim dizei; copiadas literalmente. Esta idia era comum a muitas religies da Antiguidade, no exclusiva de Israel: divindades supostamente falavam,sacerdotes e pitonisaspronunciavamorculosinspirados, profetas falavam como se fossem divindades. Segundo Ex 17,14; 24,4 e 34,27, Moiss recebeu de Deus a ordem de escrever o que Ele dizia. E segundo Ex 24,12; 31,18;32,15sse34,1,Deusmesmo escreveu o Declogo (literalmente, asdez palavras).Os escritos profticos freqentemente se apresentam como se fossemgravaesdaquilo que Deus comunicou aos profetas (veja Is 30,8; Jr 30,2; 36,2; Os 1,1; Jl1,1; Mq 1,1), e o sublinham com a freqente introduo:Assim fala Iahweh, ou intercalando: palavra de Iahweh, ou uma expresso semelhante. Esta concepo se prolongou nos escritos do Novo Testamento. Em Mt 22,3.1ss e em Mc 7,13, Jesus referiu-se escritura como Palavra de Deus. Igualmente fez Paulo em Rm 9,6 e em I Cor 14,36, e a achamos tambm em outros escritos, por exemplo, em 2Tm 3,14-17; 2Pd1,21; Ap17,17; 22,18s.O notrio que em nenhum caso se referem a relatos ou narraes! O conceito de Palavra de Deus foi eventualmente aplicado Bblia como totalidade, em todas as suas partes, includos os relatos. O resultado foi a extenso dotermoaplicadospalavrasqueaparecemnabocadeDeusou dealgumprofeta,demodoqueseaplicoutambmaos relatosou narraes, at onde no aparece nenhuma palavra na boca de Deus. Igualmente se fez com o conceito de inspirao verbal.Para o fundamentalista, o prprio Deus teria ditado de alguma maneira tambm os relatos. Ele o autor de tudo o que se encontra na Bblia. Para ele, somente quando assim, a Bblia merece absoluta confiana e, por isso tambm, o une inseparavelmente sua afirmao de que a Bblia no tem nenhum tipo de erro, absolutamente infalvel.Para o fundamentalista, negar que a Bblia sejainfalvel negar que seja Palavra de Deus e, por extenso, eqivale a negar que sejainspirada(ditadapor Deus).Notoriamente,paradefenderseu288A Bblia, Palavra de Deusdogma, o fundamentalista esgrime uma srie de textos bblicos onde aparecem palavras na boca de Deus ou de algum profeta, mas nunca se referirspartes narrativas,onde precisamente sua doutrinade total inerrncia se torna migalhas, como vimos.Qualquer discusso circular: a Bblia diz, e isso deve ser tomado literal e indiscutivelmente.Qualquer objeocontraditacomaacusao:Voc est negando que seja a Palavra de Deus, o que para ele eqivale a negar a origem divina e a infalibilidade da Bblia.Embora na Bblia a expresso Palavra de Deus, ou semelhante, se empregue somente para qualificar certos pronunciamentos de Deus, ns estendemos o termo para referi-lo a toda a Bblia, seja pronunciamentos ou discursos, seja poemas ou relatos que ali encontramos. Com esse qualificativo estamos na realidade afirmando nossa convico de que os escritos bblicos nos permitem escutar a mensagem e a vontade de Deus para os homens. Isso exige certamente conhecer primeiro o que quis comunicar originalmente, para depois perguntar o que ainda pode dizer hoje, sob outras circunstncias diferentes das originais, e levando-se a devida conta das limitaes histricas, culturais e conceituais que tantas vezes mencionei.Literal ou metafrico?Dizer PALAVRA (de Deus) implica o emprego de uma linguagem, geralmente um idioma: a palavra falada ou escrita. Mas Deus, que no tem nem rosto nem boca, no fala no sentido que o fazemos ns,humanos,compalavrassonorasquesepuderamregistrar em gravador. E certamente Deus, que igualmente no tem mos, no pegou uma pena e escreveu com seu prprio punho e letra, como o fizera um SoPaulo,por exemplo.Notemos problema em afirmar que Deus no tem um rosto humano nem uma boca. Como ento pode falar}Dizer que Deusfala maneira humana de expressar-nos, e deve entender-se como um modo figurado (no literal) de dizer que, ]de algumamaneira,Deus se comunica comas pessoas.Hmuitas | maneiras de comunicar-se Mesmo o silncio diz algo.Os salmos, os provrbios e conselhos dos escritos de sabedoria, as cartas de Paulo etc., so todos palavras humanas.Os provrbios bblicos so refros sapienciais humanos, muitos deles conhecidos j289A Bblia sem mitosdesdeantigamente.OcompositordolivrodeAmsexplicitamente afirma, no incio, que apresentaas palavras de Ams; node Deus. Basta observar como se expressam os profetas para que nos demos conta de que so suas palavras, no as palavras de Deus no sentido estrito do termo: so imagens palestinas, conceitos e gramtica semticos. So Ams, Isaas, Joel, os que falam ou escrevem de maneiras diferentes, no Deus que ia mudando sua maneira de falar. O neto do autor do livro de Sircida (que o texto que lemos na Bblia) diz que meu av Jesus, depois de ter-se dedicado intensamente leitura da Lei, dos profetas e de outros escritos..., se props a escrever sobre questes de instruo e de sabedoria (prlogo, 7-14); no diz o neto que traduziu a Palavra de Deus, mas a obra de seu av. Igualmente, podemos dizer das cartas de Paulo de Tarso: so suas cartas. Os mandamentos do Declogo, que supostamente foram ditados por Deus mesmo, segundo Ex 20,1 e Dt 5,4ss, apareceu em duas verses diferentes. Alis, no segundo mandamento Deus refere-se a si mesmo na terceira pessoa (No pronunciars o nome do Senhor, teu Deus, em falso) em lugar da primeira pessoa (o meu nome), como se esperaria e como, de fato, o faz em tantos outros lugares, pois se supe que Deus mesmo que estejafalando(veja Ex 3,12;16,29; 27,21; 28,12.29ss; 29,11.23ss; 31,3 etc.). As constataes nesse sentido po- dem-se facilmente multiplicar. De fato, nos textos bblicos, quando se trata de Deus, fala-se predominantemente a respeito dele; no Deus mesmo quem fala, at no Pentateuco.Se no se trata das mesmssimas palavras de Deus, em sentido iliteral; ento, de quem so? A mensagem de Deus, mas no as pala- Vras com as quais se expressa. Embora seja redundante, Palavra de Deus deveria ser qualificada comoem palavras de homens, para no cair no literalismo. Ao nos referirmos Bblia como Palavra de Deus, no o fazemos no sentido estrito de que se trata das palavras impressas, dos sinais lingsticos, mas antes com relao mensagem comunicada mediante as palavras e expresses lingsticas prprias do escritor.Em poucas palavras, a expresso a Bblia a Palavra de Deus }uma metfora. metfora, como o Deus falou/disse, porque, em sentido estrito, falar um fenmeno corporal humano, como o so os outros sentidos que tambm se predicam de Deus: viu/olhou, ouviu/escutou, embora Deus no tenha olhos nem ouvidos. A isso290A Bblia, Palavra de Deusse acrescenta que a linguagem como tal, por sua prpria natureza, limitada; prpria de uma cultura e de um tempo, freqentemente ambgua ou polivalente, e nunca expressa plenamente, o que se quer comunicar. Por ser uma expresso metafrica, Palavra de Deus no se refere a palavras, mas ao discurso, mensagem que atribuda a Deus. Refere-se ao que se diz, no ao como se diz; ao contedo, no forma. J vimos amplamente qual a origem da Bblia, sua humanidade e hstoricidade, bem como o sentido de inspirao, conceito com o qual Palavra de Deus est estreitamente associada.Revelao e Palavra de DeusQuando falei da Revelao, ressaltei que a palavra acontecida (asvivncias,fatos,acontecimentos reveladores)precedeuos testemunhos que se deram dela, que passou a ser palavra testemunhada, quandolhefoidadaformaverbalefoicomunicadaaoutros.Em muitos casos, esses testemunhos foram primeiramente orais e, nessa forma, certamente eram Palavra de Deus. Tal era o caso dos profetas (a Palavra de Deus veio sobre: Osias 1,1; Joel 1,1; Miquias 1,1 etc.).Comonos recordao autor da cartaaos Hebreus,de muitas maneiras Deus falou antigamente a nossos pais mediante os profetas. Agora,na plenitude dos tempos,nos falou pelo Filho(l,ls).E os apstolos anunciaram essa boa nova oralmente antes que se escrevesse uma s linha a respeito. fcil compreender, ento, que a Bblia um conjunto de testemunhos escritos dessa Palavra de Deus, que foi primeiramente acontecida e depois testemunhada oralmente.A Revelao histrica em si j Palavra de Deus, porquanto comunicao divina s pessoas. A Bblia contm os testemunhos dessa palavraacontecida;portanto,Palavrade Deustestemunhada.Os escritos bblicos constituem um caminho que nos permite remeter-nos revelao histrica de Deus (o pr-texto), ou seja, a palavra testemunhada remete-nos palavra acontecida, cuja culminao e expresso mais clara foi o acontecimento-Jesus Cristo.Revelao histrica.........................-*Tradies........................ -*Escritura (Bblia)T tPalavra de Deus acontecida..................................- Palavra de Deus testemunhada291A Bblia sem mitosSe o texto bblico como tal fosse literalmente a Palavra de Deus, ento teramos de afirmar que Deus se comunicou por proposies, conceitos, textos, e no em acontecimentos e experincias humanas (veja o que foi dito sobre Revelao). Estaramos dizendo que se revelou em textos, no na histria humana.E a f no seria uma relao interpessoal, mas se reduziria aceitao intelectual dessas proposies, quer dizer, se reduziria a um assunto meramente cerebral.Por tudo o que foi dito, deve ficar claroqueaBblia no a Palavrade Deus em si. o conjunto deMpalavrastestemunhadas daspalavras1*historicamente acontecidas e vividas. Primeiramente se vive, depois se fala disso. Esses testemunhos do dilogo de homens com Deus nos remetem ao que foi atestado e nos convidam a entrar em sua dinmica.Os destinatrios da Palavra exclusiva a Palavra de Deus queles tempos e quelas pessoas? Certamente que no. Deus fala ainda hoje de muitas maneiras: atravs do pobre, do enfermo, dos santos, da histria em suas vicis- situdes... (veja Mt 25,31ss). Ento, o que privilegia as vivncias reve- ladoras atestadas nos escritos bblicos? O fato de tratar-se de acontecimentos e de vivncias fundantes. Por ser testemunhos que marcaram a personalidade e a identidade da comunidade, do povo de Deus, nos colocam em contato com esse Deus que fundamento da f, f atestadanaBblia,daqualsomosherdeirosecontinuadores.ABblia coloca-me em contato com Deus, mas, diferena da natureza ou das vicissitudes da vida, o faz de forma expressa e explcita, remetendo Revelao histrica.Isso significa que, embora a Bblia no seja em si a Palavra de Deus(no sentidoexplicado),temacapacidadede s-lo paramim. Como tal, os textos bblicos so tinta sobre papel, so literatura, palavras de homens -recordemos as advertncias no Antigo Testamento sobre os falsos profetas, que tambm dizem proclamar a Palavra de Deus (Ez 13,6). Por isso, na Bblia pe-se tanta nfase na presena do esprito de Deus. A Dei Verbum recorda-nos que a Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo esprito com que foi escrita (n. 12). A Bblia no Deus, mas meio que aponta ou remete a Deus.292A Bblia, Palavra de DeusOriginalmente, a Palavra de Deus se comunicava a destinatrios concretos, quer dizer, se dirigia diretamente a eles. Teria sido para os corntios Palavra de Deus a carta que Paulo escreveu aos romanos? Obviamente no, pelo menos no de modo direto, da mesma maneira que a carta de Dona Rosa Flores para seu sobrinho no palavra dela para mim, pois no se dirigia a mim. Toca assuntos que no me dizem respeito, pelo menos diretamente, e por isso ter coisas que no me dizem nada ou que eu no entenda, e outras que eu possa entender erroneamente. Isso significa que os escritos bblicos no se dirigiam diretamente a ns. Por isso, no toca nossos problemas e preocupaes, nem falam nossa linguagem. Recordemos que a Bblia no Palavra de Deus em si mesma; os textos dirigem-se a algum concreto.O que os profetas e os discpulos de Jesus anunciaram em seus respectivostempos,porexemplo,foi adaptadoquandosepassava oralmente de uma gerao a outra, e tambm foi adaptado novamente quando se colocou por escrito, com a finalidade de que essa Palavra de Deus fosse sempre atual, quer dizer, que falasse aoauditrio do momento de sua transmisso. A Palavra de Deus que Jesus anunciava na Palestina no ano 30 dirigia-se a um auditrio concreto de seu tempo. Essa mesma palavra era anunciada de outra maneira na comunidade de Marcos, longe da Palestina, na dcada de 60, a outro auditrio (cristos), e respondendo s suas inquietaes. Assim como essa palavra se nantinha atualizada de maneira que continuasse falando, necessrio que hoje continue falando, vale dizer, necessrio que seja adaptada. Esse o grande desafio da catequese e da pregao! Jesus fizera o mesmo com certas passagens do Antigo Testamento, e depois igualmente o fizeram seus seguidores.Visto que os textos bblicos foram escritos dirigidos a auditrios concretos daquele tempo, com os condicionamentos prprios daquela cultura e referidos s circunstncias vividas naqueles momentos, h muitas coisas que no entendemos bem e imediatamente, comeando por palavras e expresses idiomticas.Para entend-las, portanto, necessrio um mnimo de informao que o texto no proporciona: sentido das palavras ou expresses, gnero literrio do texto, condicionamentos culturais, situao histrica em que o autor escreve, problemtica do destinatrio. o que faz o estudioso crtico da Bblia. O fundamentalista, em contrapartida, rejeita este estudo, pois cr que bastasaber lerparapoderentenderoquese l,e suanicafonte293A Bblia sem mitos a Bblia mesma, porque a considera literalmente Palavra de Deus vlida, tal qual para sempre, isso se no dirigida a ele pessoalmente.Precisamente porque a palavra bblica palavra escrita por homens e em tempos remotos, deve ser estudada como se estuda qualquer outro texto da Antiguidade, para ser compreendida.Estudar criticamente, quer dizer, utilizando os mtodos que se empregam para compreender qualquer literatura, no somente permitido e vlido, mas necessrio, quando se quer saber o que o autor inspirado estava comunicando. Tal estudo no uma traio, mas um lucro para a f. a busca da fidelidade mensagem e intencional idade divinas. O estudo crtico evita que se leia o que se cr que a Bblia diz (pelos pressupostos ingnuos ou ideolgicos ou doutrinrios), de modo que se oua o que j se sabe de antemo ou se quer ouvir, e no faa mais do que reafirmar nossas idias e pressupostos, e no a escute. No um entretenimento pseu- docientfico, mas antes a busca do que essa Palavra de Deus diz HOJE, descobrindo primeiramente o que o autor inspirado quis dizer quando escreveu para seus destinatrios originais. E certamente o estudo exe- gtico no uma negao de que a Bblia seja Palavra de Deus ou produto de inspirao divina. uma necessidade que se impe, quando se quer continuar sendo fiel vontade de Deus. No faz-lo pode conduzir a todo tipo de desvios e de anacronismos, como os que se observam em muitos setores do cristianismo (veja DV 12.23; I BII, A.F; III, C).Mensagens em palavrasTodas as palavras da Bblia, como toda palavra humana, esto condicionadas por fatores culturais e limitadas pelos conhecimentos do momento. Fala-se como se pensa. Nos tempos bblicos pensavam de outra maneira que ns a respeito do homem, do mundo e de Deus. Pois bem, se Deus no falou como os humanos, deveramos concluir que seus pensamentos e sua fala so perfeitos, pois ele perfeito em tudo. Mas naBblia encontramos conceitos e conhecimentos iguais aos das pessoas dos tempos em que se compuseram os escritos bblicos. O prprio Jesus, a Palavra feita carne, utilizou imagens e conceitos prprios de seu tempo, da Palestina do primeiro tero do primeiro sculo, e estes nem sempre eram perfeitos.Seus discpulos, e depois os evangelistas, fizeram o mesmo. Quer dizer, o que temos na Bblia294A Bblia, Palavra de Deus Palavra de Deus em palavras humanas. Por isso, para entender essa Palavra de Deus, temos de entender primeiramente sua mediao, a palavra humana na qual foi transmitida.Pois bem, quando se l ou se escuta um texto da Bblia, pode-se escutar a voz de Deus. Vale a repetio: a Bblia no Palavra de Deus pelo fato de ser um conjunto de escritos que falam a respeito de Deus ou que, ainda, o citam. Nesse plano, simplesmente literatura religiosa. Para o no-crente ser simplesmente palavra humana. O crente, ao contrrio, que a escuta ou l na atitude de f com a qual a Bblia foi composta, a receber como Palavra de Deus. que, mediante os textos bblicos, Deus se dirige aos homens. So Paulo expressou- o claramente, quando escreveu aos tessalonicenses:Continuamente damos graas a Deus, porque, tendo recebido a Palavra de Deus pregada por ns, vs a acolhestes no como palavra humana, mas como na realidade, como Palavra de Deus que exerce sua ao em vsA Bblia , ento,um meio paraouvira Palavra de Deus.Quando lemos ou ouvimos um texto da Bblia, o que nos vem ao encontro de forma direta e imediata a maneira de expressar-se de seu autor literrio, no de Deus. Por isso, no deve ser sacraliza- da nem absolutizada a linguagem, como se Deus a tivesse ditado ou escrito. Deus no revelou textos, mas revelou-se a si mesmo, falou mediante acontecimentosdediversandole,e issofoirelatadopor pessoas, como se testemunha na Bblia. Por isso, depositamos a f em Deus, no nesse conjunto de escritos -que nos remetem ele.Por tudo o que foi dito, devemos distinguir entre a letra e o esprito, entre as palavras escritas e a mensagem {veja Rm 2,17; 2Cor 3,6). Repetidas vezes Jesus advertiu a esse respeito em controvrsias com os fariseus em torno de questes da Lei de Moiss. No menos freqente era a reao de Paulo diante da idia de que a salvao se obtm pela estrita e literal observncia da Lei (a letra), que ele relativi- zava a favor da convico crist de que a salvao depende da f. Veja a este propsito a carta aos Glatas. O literalismo e seu conseqente legalismoso dois dos erros mais lamentveis do fundamentalismo H[msBbI iadiz...).Materialmente, a Bblia papel e tinta. Formalmente, a Bblia discurso humano.Para atualizar sua capacidade reveladora, elaae- cessita ser insuflada de vida pelo esprito de Deus Gn 1L Deve ser lida com o mesmo esprito com o qual foi escrita. A tentao identificar295A Bblia sem mitosBblia com Revelao como tal, pensando que as palavras so a Revelao mesma. Vimos anteriormente que a Bblia atesta a Revelao acontecida, remetea ela.Porisso,podemosdizer que Revelao testemunhada, mas no a Revelao mesma. Portanto, no correto dizer que a Bblia a Revelao. Mas reveladora: aponta para Deus. um meio de encontro com Deus, com o Deus da histria. Daqui se pode dizer que tem carter sacramental. A Dei Verbum afirma que a Igreja sempre venerou a sagrada Escritura como ao corpo do Senhor..., sobretudo na liturgia{n. 21).O ponto de encontro a interpretao. Sua capacidade reveladora significativa se atualiza, quando entendida e apropriada como manifestao de Deus, como Revelao.OfatodequesolenementeproclamamoscomoPalavrade Deus os textos que lemos na liturgia em traduo, consciente ou inconscientemente adjudicar-lhes uma qualidade especial, quer dizer, atribuir a qualidade de Palavra de Deus traduo, como a atribumos sem problemas ao textoemsualnguaoriginal.Significa isso que a traduo goza da qualidade de Palavra de Deus? Ou o pela mensagem, confiadosnofato de quea traduo preservaamesma mensagem que o texto original?No somente a linguagem um meio. Tambm os autores dos escritos da Bblia foram mediadores, e antes deles todos os que intervieram no processo de transmisso oral. Quando lemos ou escutamos um texto bblico, lemos ou escutamos aquilo que seus autores escreveram para seus destinatrios: o povo de Israel neste ou naquele momento histrico, os corntios, Filemon etc. Ento, os escritos da Bblia no so Palavra imediata (no mediada) para ns. Alis, como Palavra de Deus, o era para seus destinatrios mediante as palavras dos profetas ou de Paulo. Encontramo-nos, pois, diante de uma srie de mediaes.Quantas vezes no tivemos de admitir que esta ou aquela passagem da Bblia no nos diz nada? E, no entanto, quando foi escrita, dizia algo a seus destinatrios. Como pode, ento, ser Palavra de Deus para ns? Qualificar a Bblia como Palavra de Deus implica afirmar que esta fala. A seus destinatrios originais falava, dizia-lhes algo. A pergunta que espontaneamente surge se fala a pessoas de hoje. Na prpria Bblia se observa esta preocupao pela relevncia do que se transmitia: de diversos modos se realizou a atualizao de tradies orais, adaptando-as a novas circunstncias e destinatrios, como fizeram, por exemplo, cada um dos evangelistas com relao s tradies296A Bblia, Palavra de Deusa respeito de Jesus. Alis, voltaram a escrevei; como se fez com Sa- muel-Reis, reescrito em Crnicas dois sculos mais tarde, ou Mateus e Lucas com relao a Marcos.Na Bblia fala-se das experincias e vivncias histricas das pessoas em determinados tempos, muitos sculos atrs. Mas estas correspondem, em boa medida, s experincias dos homens atravs de todos os tempos; so semelhantes. A realidade do leitor e a situao da qual procede o texto bblico so paralelas ou anlogas. A condio humana como tal no muda ao longo dos milnios: confrontamo-nos com as mesmas perguntas e com os mesmos problemas humanos. De fato, as inquietudes, as interrogaes, os problemas, as atitudes bsicas dos homens so os mesmos ontem e hoje. Dito de outro modo, apesar das diferenas histricas e culturais entre os tempos bblicos e os nossos, as experincias humanas e a relao dos homens com Deus (sejam ateus ou crentes) so basicamente as mesmas. Deus o mesmo ontem e hoje; continua dando-se a conhecer aos homens e continua convidando-os a confiar nele. A Bblia eminentemente existencial: dirige-se vida. Por trs das diferentes cenas, personagens e reflexes que encontramos nos escritos da Bblia, podemos reconhecer-nos a ns mesmos. E a Bblia o meio privilegiado mediante o qual Deus nos fala; ali esto os testemunhos de suas mltiplas manifestaes, as orientaes fundamentais para o caminho que conduz salvao. Podemos concluir que, embora a Bblia no seja idntica com a Palavra de Deus no sentido forte do termo, no entanto contm sua palavra (mediada pelo escritor) e fala a toda pessoa que tenha os ouvidos abertos. Por isso, importante tomar conscincia de que a Bblia no se reduz a um conjunto de recordaes do passado e convites para homens a que confiem em Deus e sigam seu caminho, que so apresentados mediante esses velhos textos, mas testemunhos cheios de frescor.Repetidas vezes mencionei que a Bblia mediao entre Deus e ns. Convm esclarecer que no uma mediao a mais, entre tantas outras, mas o de forma singular: so testemunhos da revelao histrica de Deus, desse mesmo Deus em quem cremos hoje. Esses testemunhos so insubstituveis, pois so fundamento de nossa f -mesmo em suas variaes histricas e literrias. Por exemplo, podemos crer na ressurreio de Jesus somente atravs do testemunho que encontramos no Novo Testamento. A Bblia o conjunto de mediaes que nos fala expressamente desse Deus nosso que se revela historicamen297A Bblia sem mitoste, at chegar sua manifestao mais objetiva: o acontecimento-Je- sus Cristo. E a Bblia remete-nos a isso, para falar-nos a partir da.A Bblia Palavra de Deus no que toca sua mensagem, que de carter teolgico-reigioso e existencial, no enquanto histria -que pertence ao passado. A partir de seu aspecto histrico, muito produto de seu tempo, por issonopouca coisafoi superadae no tem relevncia para hoje. A autoridade da Bblia, sua inspirao e seu carter de Palavra de Deus situam-se na dimenso teolgi- co-religosa. Embora as leis sobre sacrifcios cultuais, por exemplo, no sejam em si palavra de Deus para hoje, a mensagem, sim, o : o homem deve reconhecer-se como pecador diante de Deus e pedir-lhe perdo, reconhecendo sua absoluta soberania. A isso convida hoje. Bem recordava o autor da carta aos Hebreus que a Palavra de Deus viva e operante, e mais cortante do que uma espada de dois gumes: penetra at a diviso da alma e do esprito, at o mais profundo do ser,e discerne os pensamentos easintenes do corao(4,12).Diversas vezes indiquei que Deus falou aos homens atravs de acontecimentos e experincias vividas. Os acontecimentos so linguagem. O que vivemos nosdiz algo, e respondemos. Desses acontecimentos histricos, a culminncia e expresso mxima foi a Palavra feita carne. Tesus Cristo: De muitas maneiras Deus falou antigamente a nossos pais mediante os profetas. Agora, nesta etapa final, nos falou pelo Filho (Hb l,ls). Os escritos do Novo Testamento do testemunho desta Palavra mais explcita de Deus, E a Jesus Cristo no se pode conhecer e compreender margem da Bblia, pois esta manifesta o caminho que conduziu a ele {Antigo Testamento), assim como os testemunhos daqueles que foram testemunhas diretos dessa Palavra definitiva de Deus (Novo Testamento). Todo testemunho aponta para outro, no para si mesmo: os escritos bblicos apontam para aquele a quem seus autores testemunham.Palavra de Deus em diversos gnerosVejamos sucintamente como os diversos gneros literrios predominantes da Bblia so, cada um a seu modo, Palavra de Deus.yQ gnero narrativo^que predomina na Bblia, o que melhor ex- pressa a relao de dilogo entre Deus e os homens: os chamados divi298A Bblia, Palavra de Deusnos e as respostas humanas. Mais especificamente, no gnero literriorincias da presena ativa de Deus, a qual proclamaram testemunharam. Os acontecimentos narrados foram compreendidos como revelao e como promessa para os homens, quer dizei; como Palavra de Deus acontecida. Por sua parte, os mitos e as lendas expressavam em linguagem visualizvel a convico da atuao de Deus no mundo. Os personagens, margem de sua historicidade, representam os homens em suas mais diversas dimenses e, portanto, interpelam ainda hoje.~gnero jurtdicQindlca. ao homem o caminho que conduz sua realizao pessoal e social, expresso como vontade salvfica de Deus. Ao longo da Bblia se observa, nos empregos do gnero jurdico, e segundo as circunstncias e o momento histrico, a constncia e a adaptabilidade das exigncias ticas e religiosas como Palavra de Deus para os homens em seu presente histrico. Como palavra sempre atual, esta varia segundo o momento histrico, de modo que sirva de guia eficaz.(Xeenero sapienil &prsenta Deus, que fala pela boca do sbio que, com base nas suas experincias e reflexes, d a conhecer a ma- neira como se deve comportar na vida terrena, a fim de chegar plenitude da felicidade: Por isso, a sabedoria fala como se fosse uma pessoa (veja Pr 1-8; Sr 24; Eclo 6-11): Deus, o sbio por excelncia, a fonte de toda sabedoria. Da mesma maneira como o profeta, o sbio o mediador e o porta-voz de Deus; atrs de sua voz est a voz de Deus.O (gnero prof^i) o quemais claramente expressa o conceito dePalavra de Deus aplicado Bblia como totalidade Os profetas eram mediadores: escutavam a palavra que Deus lhes dirigia (seja por meio de sonhos, de vises ou intuioes). faziam-na sua e anunciavam- na comsuasprprias palavras.Osprofetasfalavam combasenas circunstncias histricas e a elas se referiam. No entanto, as atitudes que enfocavam, as razes dos problemas que criticavam, tomaram mil e uma formas e se estendem at nossos dias -as atitudes humanas e os problemas no mudaramde modo que Deus continua falando aos homens de hoje como o fez antigamente pela voz dos profetas.Nc(j*&r apocalptico.)Deus falas pessoas desconcertadas pelas adversidades e~pelas dificuldades que experimentam em seu anseio de viver sua f em um mundo contrrio e hostil. O apocaliptista assumia papel semelhante ao dos profetas, como mensageiro da Palavra de Deus. Fazia-o, utilizando um gnero literrio que se carac:_acomunidade crist narraram suaq eype-299A Bblia sem mitosteriza peloempregode smbolos, deimagensede mitos coloridos. Mediante este gnero, Deus continua exortando as pessoas de hoje, como naqueles tempos.a no desanimarem diante das adversidades. a continuarem confiando nele, com a certeza de que quem perseverar se salvar, ter parte no paraso celestial.N^^wer^ncS^em cnticos, poemas e oraes slmicas, encontramos as respostastfcs homens a Deus. Suas respostas estavam inspiradas pela palavra inicial de Deus, por seus convites a confiar plenamente nele. Assim, neste gnero encontramos expressa a relao dialogai entre Deus e os homens. certo que no palavra de Deus dirigida aos homens. Mas a palavra ineficaz, se no h resposta. A lrica, particularmente ns Salmos, falam aos homens medida que inspiram e orientam na atitude qw orente deve assumir nas diferentes experincias da vida; na angstia, na alegria, no xito, no fracasso, no desespero, na enfermidade. A partir desta perspectiva, passa a ser Palavra de Deus para ns.Osevangelhos apresentam, cada um segundo a vivncia de seus autores, C plavradfinTtTv de~DTl^.No apresentamTesus como personagem do passado, que falou e agiu, mas como aquele que conti- nua sendo a Palavra para as pessoas de todos os tempos, que continua falando e exortando a segni-lo. Os evangelistas, da mesma maneira que Paulo, fizeram a obra de profetas.(X^ner