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ARCA | 1 A Academia de Letras de São João da Boa Vista é uma Associação Civil, sem fins lu- crativos e tempo indeterminado de duração. Tem por finalidade a cultura da língua e da lite- ratura nacional. Mas, afinal, qual o objetivo e a razão de sua existência para a sociedade? Uma Academia de Letras – e falo de to- das – é objeto de desejo, ainda que não decla- rado, da maior parte de escritores, uma vez que lhes garante prestígio e reconhecimento. No entanto, sendo acadêmico tem-se a responsa- bilidade de apresentar o saber e a habilidade de seu conhecimento para a cidade, com riqueza de informação, pois a troca de experiência entre confrades e outras pessoas faz crescer o nível de credibilidade do sodalício e traz a ele o título de “fonte de sabedoria” e demais elogios cabí- veis, dada sua participação na esfera do cres- cimento intelectual do ser humano. Sendo as- sim, a vida da Arcádia depende de os confrades estarem envolvidos no processo de desenvolvi- mento e ascensão da confraria e através dela colaborar no aumento cultural de sua gente. Ser acadêmico requer constante reflexão sobre a responsabilidade da conquista da imortalidade. A Academia de Letras de São João da Boa Vista compõe-se atualmente por membros das mais variadas profissões e, nesse caso, é bom citar a diversidade de vocações, aptidões e dons apresentados nela. São escritores, contis- tas, poetas, arquitetos, jornalistas, professores, teólogos, juristas, advogados, promotores, reito- res, cronistas, musicistas entre outros. Esta Diretoria, empossada em janeiro Palavra da Presidente passado, segue caminhos - como deve ser - de realizações para benefício do sanjoanense, fo- cada no enaltecimento da Instituição e de mãos dadas com seus pares. Dessa forma, além dos conhecidos eventos realizados, com justificado orgulho, oferece para a comunidade, focada inevitavelmente nos jovens, a Revista Literária da Academia de Letras, para a qual deu o nome ARCA. Arca, substantivo feminino, significa cai- xa grande com tampa e fechadura; baú; cofre. Tesouro, na forma figurada. O dicionário analó- gico fala de palavras afins como, arquivo, con- têiner, galeria, fonte, casa dos contos. Para a Academia de Letras, o nome esco- lhido vai além deste significado, acrescentou-se à Arca transparência, comunicabilidade, lingua- gem franca e informações, confessos por crô- nicas, luz grafia, poemas, dicas literárias, críticas literárias, resgate de história, entrevista e muitos outros conteúdos. Convidamos o leitor a embarcar conosco nesta ideia cultural. A desfrutar cada página da Arca, deleitando-se com os textos. Sem o apoio da diretoria e dos acadêmicos efetivos, um pre- sidente nada realiza. Por isso, reverencio-me em agradecimento aos que estiveram diretamente envolvidos com a Revista Arca - Antonio C.R. Lo- rette e Silvia Ferrante -, e a todos os que a com- põem. Obrigada, por se juntarem a esta realiza- ção. Ao leitor, desejo bons momentos de leitu- ra! Lucelena Maia Presidente 1ª Edição.indd 1 19/06/2013 08:36:40

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Academia de Letras de São João da Boa Vista - Ed. 01

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A Academia de Letras de São João da Boa Vista é uma Associação Civil, sem fins lu-crativos e tempo indeterminado de duração. Tem por finalidade a cultura da língua e da lite-ratura nacional. Mas, afinal, qual o objetivo e a razão de sua existência para a sociedade? Uma Academia de Letras – e falo de to-das – é objeto de desejo, ainda que não decla-rado, da maior parte de escritores, uma vez que lhes garante prestígio e reconhecimento. No entanto, sendo acadêmico tem-se a responsa-bilidade de apresentar o saber e a habilidade de seu conhecimento para a cidade, com riqueza de informação, pois a troca de experiência entre confrades e outras pessoas faz crescer o nível de credibilidade do sodalício e traz a ele o título de “fonte de sabedoria” e demais elogios cabí-veis, dada sua participação na esfera do cres-cimento intelectual do ser humano. Sendo as-sim, a vida da Arcádia depende de os confrades estarem envolvidos no processo de desenvolvi-mento e ascensão da confraria e através dela colaborar no aumento cultural de sua gente. Ser acadêmico requer constante reflexão sobre a responsabilidade da conquista da imortalidade. A Academia de Letras de São João da Boa Vista compõe-se atualmente por membros das mais variadas profissões e, nesse caso, é bom citar a diversidade de vocações, aptidões e dons apresentados nela. São escritores, contis-tas, poetas, arquitetos, jornalistas, professores, teólogos, juristas, advogados, promotores, reito-res, cronistas, musicistas entre outros. Esta Diretoria, empossada em janeiro

Palavra da Presidente

passado, segue caminhos - como deve ser - de realizações para benefício do sanjoanense, fo-cada no enaltecimento da Instituição e de mãos dadas com seus pares. Dessa forma, além dos conhecidos eventos realizados, com justificado orgulho, oferece para a comunidade, focada inevitavelmente nos jovens, a Revista Literária da Academia de Letras, para a qual deu o nome ARCA. Arca, substantivo feminino, significa cai-xa grande com tampa e fechadura; baú; cofre. Tesouro, na forma figurada. O dicionário analó-gico fala de palavras afins como, arquivo, con-têiner, galeria, fonte, casa dos contos. Para a Academia de Letras, o nome esco-lhido vai além deste significado, acrescentou-se à Arca transparência, comunicabilidade, lingua-gem franca e informações, confessos por crô-nicas, luz grafia, poemas, dicas literárias, críticas literárias, resgate de história, entrevista e muitos outros conteúdos. Convidamos o leitor a embarcar conosco nesta ideia cultural. A desfrutar cada página da Arca, deleitando-se com os textos. Sem o apoio da diretoria e dos acadêmicos efetivos, um pre-sidente nada realiza. Por isso, reverencio-me em agradecimento aos que estiveram diretamente envolvidos com a Revista Arca - Antonio C.R. Lo-rette e Silvia Ferrante -, e a todos os que a com-põem. Obrigada, por se juntarem a esta realiza-ção. Ao leitor, desejo bons momentos de leitu-ra!

Lucelena Maia

Presidente

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Making Off

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EDIÇÃO 01|ANO 01|ABRIL 2013

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Palavra daPresidente

Críticas Literárias

São João à Vista

Academia em Revista

Arcadianas

Chá da Academia

Afiando a Língua

Livros

Agenda

06 Letras em RetratoEntrevista com Celina Motin

12

2634 Luz Grafia

3640 Sopa de Letras

4142

Hoje é dia de festa para a Academia de Letras de São João da Boa Vista, porque entrega à sociedade sanjoanense a Revis-ta Arca, há poucos meses de completar 42

anos de sua fundação. Um longo caminho foi percorrido até aqui. Existência pautada na busca por sua

consagração. A Arca, onde está contida a história da Academia de Letras, será aberta ao pú-blico, a partir desta edição, no formato Re-

vista e com 44 páginas. Só acadêmicos foram convidados a escrever nesta primeira edição, porque são,

efetivamente, a Academia de Letras. A Revista foi produzida com critério, responsabilidade, carinho e muita caminha-da na busca por patrocínio. Chegamos ao

final satisfeitos com o resultado. Tomara que o leitor também goste.

Making Off

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Luz Grafia

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AgendaEm comemoração ao Dia do Escritor - Palestra: “120 Anos de Mario de An-drade”, pela Acadêmica Beatriz Virginia C.C. Pinto

Reunião Lítero-Musical Palestra: “Literatura de Cordel”, pela Acadêmica Maria Cândida de Oliveira Costa

DIA 25 DE JULHO - ACADEMIA DE LETRAS DE SJBV

AGENDA ACADEMIA DE LETRAS

AGENDA ACADEMIA DE LETRASAGOSTO - ACADEMIA DE LETRAS DE SJBV

Premiação do 21º Concurso de Poesia e Prosa, dia 28/9/2013, às 20h, no UNIFAECoordenação Silvia Ferrante

DIA 28 DE SETEMBRO - UNIFAE SJBV

AGENDA ACADEMIA DE LETRAS

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Projeto SESC Itinerante (teatro, circo, música, etc) / Desfile cívico – Depto Educação / Show com Serginho / Jazz Sinfônica de SJBVista / Encontro de Guitarristas / Encontro de Bateristas.

23 A 30 DE JUNHO - SÃO JOÃO DA BOA VISTA

COMEMORAÇÃO ANIVERSÁRIO DA CIDADE

Foto: Grazielle Moreno

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Letras em Retrato

Celina da Grafitte é uma figura bem conhecida de nossa cidade. Trabalhando com a palavra escrita desde a mais tenra idade, fez da sua profissão, “jornaleira”, como faz questão de frisar, uma porta que se abre diariamente a novos e velhos amigos, pessoas que compartilham com ela o gosto pela novidade e pelas letras. Muito sincera e sempre com sorriso no rosto, recebe a todos com simpatia e dedicação. Afirma já estar atendendo a terceira gera-ção de clientes, o que a deixa bem feliz. Leitora assídua de tudo o que passa por suas mãos, consegue transmitir a quem peça boas dicas de leitura e de presentes literários. Incansável na batalha di-ária, transmite a alegria de viver e de ser abençoada pela vida que escolheu.Por isso, desta homenagem da Academia de Letras para a “Meni-na das Palavras”, Celina Motim!

“A MENINA E AS PALAVRAS”

COMO TUDO COMEÇOU... Celina Motim é natural de Campinas. Ela conta que seus pais tinham vida itinerante, por-que o pai era policial e vivia a ser transferido de cidade. Seu pai era de Jaboticabal e a mãe de São Tomás de Aquino, interior de São Paulo, mas se conheceram e casaram-se em Ribeirão Preto, local que viria a nascer a filha mais velha do casal; a Célia. Tempos depois mudaram-se para Cam-pinas a ali nasceu Celina Motim. Dez meses após seu nascimento, o pai ingressou para a polícia. Foi quando a vida da família passou a

ser itinerante, antes dessa época, o pai era ope-rário. Residiram em Campinas por cinco ou seis anos, ela não tem certeza. Dali mudaram-se para a cidade de Caconde. Nesta cidade nas-ceu seu irmão Celso, já falecido. Um ano e meio depois se mudaram para Santa Rosa do Viterbo, e nessa cidade nasceu seu outro irmão, o Cézar, que hoje reside em Santa Rita do Sapucaí. De lá, mais uma vez seguiram para outra cidade, desta feita, Tambaú, onde viveram por sete anos. Em Tambaú, nasceu sua irmã mais nova, a Suely. Foi também, nesta cidade, que as

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crianças conseguiram, enfim, terminar o Grupo Escolar. Posteriormente, mudaram-se para Aguaí, porém a irmã mais velha, Célia, permaneceu em Tambaú para terminar os estudos. Foi a úni-ca dos irmãos que conseguiu terminar o Ginásio nesse período. Mudaram-se para São João da Boa Vista em 1969. O pai continuou a ser transferido para outras cidades e isso gerou problemas tristes para a família. Ele passava muito tempo fora de casa. Surgiram outras mulheres em sua vida. Ele, segundo Celina, era um homem muito bonito, mas, infelizmente, irresponsável também, por-que deixava faltar o básico dentro de casa, por conta de suas aventuras. A família chegou a passar necessidade. A mãe acabou adoecendo, de forma grave, devido a tanta tristeza. O corpo definhou, atrofiou. E, em 1973, quando moravam na Rua Antonina Junqueira, ela veio a falecer, com 44 anos. Por um ano e meio ela suportou essa consternação. Celina afirma com certa tristeza, que não chegaram a conhecer os parentes por parte da mãe. Nada sabem deles. Ficou sabendo apenas que após a mãe se casar, a família se distanciou dela.

E A VIDA CONTINUA... Mas a vida continua e Celina pode sentir na alma outra dor, além da perda da mãe aos 17 anos. Contou que o pai voltou para o lar e, para a surpresa dos filhos mais velhos, colocou-os para fora de casa. Os dois mais jovens, o Cézar com 10 anos e a Suely com 8 anos, que por pro-blemas de saúde tinha idade mental bem me-nor que essa, levou com ele. Seu irmão Celso foi acolhido por uma senhora que cuidou dele até que se casasse. Os irmãos eram muito apega-

dos e sempre que possível, ajudavam-se naqui-lo que podiam. Na verdade, ficaram totalmente desamparadas após a atitude do pai. E foi gra-ças a força da irmã mais velha, a Célia, que se-guiram em frente. Célia e Celina foram morar na Rua D. Pedro I, e neste local ficaram por vinte anos. Seu pai faleceu aos 61 anos e foi difícil perdoá-lo, mas hoje isso já está resolvido den-tro dela. Conheceram a família do pai, mas tam-bém não têm contato com eles. A família são eles; os irmãos e os sobri-nhos. Recentemente, mais uma perda se abateu so-bre a família que foi a morte do irmão Celso, com o qual tinham um contato muito grande. Ela conta com tristeza que o Celso se foi, mas deixou dois sobrinhos que fazem parte integral de suas vidas. A irmã Célia continua sendo o esteio de-les todos. Sempre brincando, afirma que ela é a mais centrada deles, que os outros, no qual se inclui, são mais desmiolados! Celina conseguiu terminar seus estudos e fez Faculdade de Administração na UNIFAE.

OS TRABALHOS... Celina começou a trabalhar em 1970 em uma banca de jornal que pertencia ao senhor Genésio Pontóglio. Ali trabalhou até 1972.Depois, aceitando o convite do Sr. Nicolau, tra-balhou numa Distribuidora de Revistas e Jor-nais, a Distribuidora São João, que pertencia ao senhor José Pires que funcionava onde hoje é a Letra Viva. Neste local Celina trabalhou por 14 anos. Quando Eloísa, filha de José Pires, che-gou para tocar os negócios do pai, Celina com-preendeu que era chegado o momento de ter seu próprio empreendimento. E foi dessa ma-neira que começou a Grafitte.

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Assim que a vida me-lhorou para as irmãs, elas fo-ram buscar a mais nova, Suely, para morar com elas. Essa era a meta delas desde o começo quando foram separadas. A vida em banca de re-vista não é fácil, segundo Celi-na, que trabalha de domingo a domingo. Ela entende por que poucas pessoas aguentam isso... Quando lhe pergun-to sobre a Biblioteca e o Sebo que um dia já teve, ela discorre sobre o ano de 1986, quando montou a primeira Biblioteca de Aluguel, aqui em São João. Essa Biblioteca tinha mais de 2.000 títulos, entre livros dela e os que conseguiu com amigos. Foi com a ajuda de Clovis Viei-ra, amigo de mais de 40 anos, e de sua irmã Célia que montou a Biblioteca. Alugavam os livros a R$0,35 ao dia. O amigo Clovis também ajudou na divulgação.Terminou com a Biblioteca por decepção ao se dar con-ta que algumas pessoas não devolviam os livros. Sentiu-se desestimulada quando notou que havia perdido mais de 100 exemplares. Num impulso, co-locou preço em todos os livros restantes. Criou novamente um Sebo e os vendeu. Digo “no-vamente”, porque foi a Celina quem teve o primeiro Sebo de São João, já que quando co-meçou, vendia revistas e livros usados na Grafitte, isso antes

de começar a colocar as no-vas revistas. A Biblioteca lhe deu muito prazer, mas não faria no-vamente. Relata que está feliz com o que conseguiu até aqui. Nada mais a inventar, nem mesmo a sugestão de alguns clientes para que coloque um café ali na Grafitte. Não tenho espaço, afirma, como se qui-sesse colocar um ponto final. Está na hora de procurar por tranquilidade, (pelos anos diá-rios de labuta), parece querer dizer-me. Autores renomados? Celina afirma que nunca co-nheceu nenhum dos que ven-de, só outro tipo de artista e, claro, os escritores daqui de São João, dos quais muitos são seus amigos.

SER HISTÓRIA... Quando lhe pergunto como se sente em fazer parte da história de São João, ela não demora a responder que é muito gostoso e gratifican-te ser conhecida, porque tem pessoas que encontra na rua que a fazem se perguntar há quantos anos se conhecem. Afirma que hoje já aten-de a terceira geração de clien-tes.- Tem gente que está comigo na Grafitte desde que comecei, ele conta isso com um gran-de sorriso de satisfação. Tem

gente que vem, invariavelmen-te, uma vez por semana buscar o jornal, diz ela, afirmando a fi-delidade de seu cliente, como que querendo dizer do víncu-lo de carinho e amizade. Mais uma vez sorri, sentindo-se pri-vilegiada por ter escolhido ser jornaleira. Há 28 anos à frente da Grafitte, num total de 42 anos trabalhando com a palavra es-crita, diz que não saberia fazer outra coisa, pois ama o que faz.

A ERA DIGITAL... Para ela, é preocupante a era digital, para o negócio em que trabalha, porque muitas das pessoas que compravam, hoje pegam na internet, às ve-zes, até de graça. Para a nossa faixa etá-ria, na qual me incluo, ainda se vende, pois são pessoas que gostam dos livros nas mãos, gostam de cheirá-los. Mas para os mais jovens, é preocupante o rumo da venda de livros. Eles quase não compram, raras ex-ceções.

A ARTE EM SÃO JOÃO... Pergunto-lhe, por ser apoiadora da arte, no geral, como ela vê esse movimento em nossa cidade. Celina diz que participa menos do que gostaria, mas divulga eventos e vende ingressos. Ela acha

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que em São João há muito pra se ver e partici-par. Ressalta os eventos no Theatro, na Acade-mia de Letras e na Praça Joaquim José. Afirma que as pessoas deveriam se interessar mais por tudo o que é oferecido por aqui. Ela fala dela mesma, que participa pouco por timidez em aparecer nos locais. Faz questão de frisar o valor que dá para as pessoas que fazem a arte acontecer, porque conhece o tamanho da batalha de cada um e o quanto é difícil se fazer cultura por aqui. Cita os nomes de Zeza e o pessoal do CENA IV e o meu, Sílvia Ferranti, resistindo, bra-vamente, há anos. E tudo por amor à arte, pois se fosse para ganhar dinheiro... Eu fujo do assunto, pois não pretendia ser citada, afinal aqui sou apenas a entrevista-dora, e pergunto-lhe da palavra que mais gosta dentro da língua portuguesa. Ela afirma que a primeira palavra que lhe vem à cabeça é “amor”, porque gosta de ouvi-la.

VIAGENS... Quero saber das viagens que fez. Ela suspira e cita a primeira viagem internacional, que fez para realizar um sonho adolescente. Foi para a Espanha, por causa dos romances de bolso que lia, o Corin Telado, onde todas as história se passavam na Espanha. Tudo porque era mocinha, romântica e existia o príncipe en-cantado. Essa viagem foi realizada em 1988. Ela fez alguns amigos por lá, com os quais se cor-responde até hoje. Infelizmente para a Espanha nunca mais voltou. O sonho infantil foi realizado com a se-gunda viagem internacional. Foi para a Disney. Emocionou-se muito. Achou tudo deslumbrante naquele lugar. Ria e chorava ao mesmo tempo, pelo poder mágico que o local exerce. Era o ano de 1991. Esclarece que todas as viagens que faz

são especiais, mas essas duas marcaram-na muito.

ARTISTAS DA NOSSA TERRA... Pedi que nos contasse qual artista de São João que admira e por quê? Claro que ela só poderia me dizer que nossa terra tem muitos artistas para se admirar, mas, pela segunda vez durante a entrevista, ci-tou meu nome por me achar eclética. Disse que sou admirável porque faço de tudo, disse que sou “completa”, segundo sua visão, porque can-to, escrevo, fotografo e tudo muito bem, segun-do sua ótica. Peço a ela que pare de rasgar sedas! Ela então finaliza dizendo que haja fôlego para uma só mulher, que sou mesmo muito atrevida!Desculpem-me leitores, mas como poderia eu corromper a entrevista? Fui fiel ao transcrever o que foi gravado. Nesse momento em que passo para o papel a entrevista, quem sorri sou eu e, obvia-mente, agradeço o carinho que a Celina tem por minha pessoa, como artista.Ela não deixou de citar o amigo Clovis Vieira, novamente, dizendo que para ela, ele também está no rol dos grandes artistas dessa terra, e que o admira muito.

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“Afirma que hoje já atende a ter-ceira geração de clientes.- Tem gente que está comigo na Grafitte desde que comecei, ela conta isso com um grande sorri-so de satisfação. ”

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PARA ENCERRAR, UM BATE E VOLTA...Um sonho: - Já realizei quase todos, mas gosta-ria de continuar vivendo, para ver meus sobrinhos encaminhados.Um lugar: - Sem contar São João, que eu gosto muito, vou falar que eu gostaria de ficar por um tempo na França.Uma saudade: - Meu irmão Celso.Um sabor: - De comida caseira mesmo, as coisas que a Célia faz pra gente de domingo... Uma imagem: - Minha mãe.Uma cor: - Azul.Um momento especial: - É quando estou com a minha família mesmo.Uma emoção: - Eu me emociono a toa. Emocio-no-me escutando o Hino Nacional e coisas assim. Sou bem emotiva mesmo. Um livro: - Difícil, pois já li muita coisa. Gosto mui-to de romances. Gosto das coisas do Sidney Shel-don, a série toda do Harry Potter. E todos os do Monteiro Lobato e José Mauro de Vasconcelos. O Monteiro Lobato é uma paixão, ainda leio sempre que posso. (Conto para Celina que Monteiro Lo-bato se inspirou na nossa Guiomar Novaes para criar a sua Narizinho. Ela fica surpresa em saber!)O pensamento que guia sua vida: - “Hoje é um dia maravilhoso recebo todas as bênçãos divi-nas”. Falo isso todos os dias da minha vida. Sinto--me feliz por isso!

Texto: Silvia Ferrante Cadeira 9

Patrono Raul de Leoni

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LuzGrafia Quem assistiu ao filme "O Último Imperador" deve estar familiarizado com o cenário. É o Museu do Palácio Imperial, conheci-do no mundo todo como A Cidade Proibida. Cerca-da por altos muros, é uma verdadeira cidade, com centenas de palácios, lo-calizados em meio a jar-dins maravilhosos, rios e córregos que os serpen-teiam.

Foto e Texto: Francisco de Assis Carvalho Arten

Cadeira 10Patrono Darcy Ribeiro

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LuzGrafia

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Jorge Luís Borges, genial escritor latino-americano, nasceu em Buenos Aires, sendo considerado um escritor cosmopolita e um dos maiores do século XX. Sua mensagem é universal, seus es-critos, até mesmo o mais cotidiano de seus temas, além de nos fazer pensar de maneiras várias, de ver o mundo com outros olhos, de refletir de modo diverso e às vezes até inverso, intriga-nos e encanta-nos. O seu livro “Cinco Visões Pessoais” é a transcrição de uma sé-rie de palestras que fez em 1978, na Universidade de Belgrano, em Buenos Aires. Escolheu os temas de acordo com suas vivências mais intensas e mais reflexivas:- “O Livro”, “A Imortalidade”, ”Emma-nuel Swedenborg, o Visionário”, “O Conto Policial” e “O Tempo”. A mim, também, esse último tema sempre intrigou: o tempo e seu passar, suas implicações, desdobramentos, sua objetividade tão subjetiva, sua concretude profundamente abstrata. O tempo, essencialmente paradoxal, que “leva-nos”, simplesmente “leva--nos”, e as questões que surgem desta constatação:

JORGE LUÍS BORGES E O PROBLEMA DO TEMPO

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Crítica Literária

- Para onde? Até quando? Por quê? Como é ele? O que significa esta figura de imaginação representada pelo “levar-nos”? E as perguntas sucedem-se, às vezes sem respostas, às vezes com respostas dúbias, dogmáticas, céticas, me-tafísicas ou mesmo niilistas. Mas vamos às considerações de Borges, pois para ele “o tempo é um problema essen-cial, não podemos prescindir dele. Podemos prescindir do espaço, mas não do tempo. Nossa consciência está continuamente passando de um estado a outro, e isto é o tempo: uma suces-são”. Diz, ainda, que somos “rostos trabalha-dos pelo tempo, e que ele é um paciente labi-rinto de linhas, que traça a imagem de nosso rosto”. Em suas indagações cita Henri Bergson que afirma: “o tempo é o problema capital da metafísica. Resolvido esse problema, ter-se-ia resolvido tudo” e conclui Borges dizendo que fe-lizmente não há nenhum perigo de que ele se resolva, e que sempre seremos capazes de di-zer como Santo Agostinho:- “O que é o tempo? Se não me perguntam, eu sei. Se me pergun-tam, eu ignoro.” É interessante quando Borges diz “feliz-mente não há o perigo de descobrirmos o que é o tempo”. Este “felizmente” faz-me lembrar uma outra declaração sua:- “Se Deus declarasse que tinha na mão direita a verdade e na esquerda a

investigação da verdade, eu escolheria a mão esquerda. Isto porque a procura permite infini-tas hipóteses e a verdade apenas uma e isto não agrada ao intelecto. O intelecto necessita de curiosidade e de desafios. A dúvida é o dom mais precioso de todos”. As afirmações que “felizmente o proble-ma do tempo não pode ser resolvido e que pre-fere a investigação da verdade e não a verdade em si”, faz-nos conhecer um Borges submerso em indagações, questionamentos, procuras, in-vestigações, porém emergindo sempre de seus próprios pensamentos e trazendo, junto a ele, uma plêiade de pensadores, intelectuais e filó-sofos numa verdadeira e enriquecedora sim-biose. Nessa sua palestra diz ainda que vários pensadores tentaram solucionar o problema do tempo e, entre outros, cita: Platão, Plotino, San-to Agostinho, Newton, trazendo-nos a idéia de como o tempo foi pensado através da história. Em certo momento, cita o poeta Tenny-son ”o tempo corre no meio da noite”. A partir deste verso, ele concebe uma bela imagem: “é uma idéia muito poética a de que enquanto dormimos, o silencioso rio do tempo corre nos campos, pelo espaço, flui entre os astros.” Em outro momento continua ele:- “sen-timos que estamos deslizando pelo tempo, ou seja, podemos pensar que passamos do futuro

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ao passado, ou do passado ao futuro, mas não há um momento em que possamos dizer ao tempo:- “Pára! És tão belo...” como queria Göe-the. O presente não se detém”. Borges termina a palestra dizendo; “O pro-blema do tempo nos afeta mais que os outros problemas metafísicos. Porque os outros são abstratos. O tempo é o nosso problema. Talvez o solucionemos algum dia. Talvez não. Neste meio tempo, entretanto, como dizia Santo Agos-tinho: “minha alma arde, porque quero saber”.

Texto: Maria Célia de Campos Marcondes Cadeira 11

Patrono Machado de Assis

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Foto: Silvia Ferrante

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São João à Vistadados desceram as escadarias do Grupo Esco-lar em direção aos caminhões que os aguarda-vam. Lá da praça, dava para ouvir os passos dos soldados. O desespero tomou conta da popula-ção, que lotava a frente da escola, agora trans-formada em quartel. Após a partida rápida, um silêncio abateu-se sobre a multidão, incrédula ao que presenciava. Sobre todos pairava o desejo de defen-der São Paulo, defender sua terra e a democra-cia. Em meio a esse tumulto, levado pela emoção do momento, o advogado e escritor, poeta e acadêmico Dr. Emílio Lansac Tôha es-creveu para o jornal “O Município” em 16/07/32:“VAMOS, SÃO PAULO ...Amanhã é possível que não sorria o mesmo céu azul que nos convida, límpido e belo, como grandioso e puro que é o motivo da arrancada paulista; amanhã é possível que não cintile no firmamento de nosso torrão amado o mesmo sol benfazejo e quente que se abriu para os dias lindos e cheios desta Revolução sem par.” Em 27/07/32, Dr. Emílio Lansac Tôha vol-tou a escrever neste mesmo jornal:“SÃO PAULO VENCERÁ São Paulo vencerá, não haja dúvida, na gloriosa cruzada que esposou. E vencerá, pelo seu espírito de entusiasmo na luta, pela sua co-esão, pela uni¬dade de pensamento e, sobretu-do, pela legitimidade da causa que defende. ...Mas, sobre toda essa tragédia singular, paira, ainda integral, o sagrado pendão da Pá-tria Brasileira; e São Paulo tem o dever de elevá--lo tão alto que o zéfiro da dignidade o desfralde, sereno e puro, para a contemplação embeveci-da, respeitosa, do Uni¬verso civilizado”.

Com o início da Revolução Constitucio-nalista, em 09 de julho de 1932, a cidade de São João sentiu-se ameaçada pelos soldados da tropa de Getúlio Vargas, os inimigos ditatoriais, que se concentravam em Poços de Caldas. Vo-luntários sanjoanenses sentiam-se obrigados a defender, não só então a causa constitucionalis-ta, mas também a cidade e suas famílias, já que essa fazia fronteira com a cidade mineira. A principal fonte de notícias era o rádio e quando os são-joanenses ouviram que os inimi-gos desciam em direção à Cascata não tiveram mais sossego. Com uma guerra tão próxima fi-sicamente, ninguém mais cuidou de seus afa-zeres, não tinham outras ideias que não fossem relacionadas a Revolução. Famílias inteiras passavam o dia em fren-te ao Grupo Escolar Joaquim José, em busca de notícias. Queriam saber para onde iriam seus entes queridos e tinham medo, muito medo. A cada caminhão carregado de víveres ou de soldados que cruzavam a cidade em dis-parada, aumentava a tensão dos sanjoanenses. Viveram aqueles dias como se estivessem as-sistindo a um filme de terror. No dia em que a cidade recebeu um ca-minhão carregado de armas encontradas nos porões da cadeia de São Carlos e o batalhão recebeu ordens de subir a serra até a Cascata, seus habitantes agruparam-se na Praça Joa-quim José para verem a partida dos soldados. Mães choravam ao ver seus filhos partirem para a guerra... Num ritmo cadenciado e solene, os sol-

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Durante três meses aconteceram mui-tas batalhas, com muitos feridos e mortos. O batalhão comandado por Romão Gomes guer-reou com afinco. A primeira batalha aconteceu na Cascata e depois as tropas seguiram para Santo Antônio do Jardim. Foi na saída dos sol-dados aquartelados na Fazenda Paulicéia que a professora primária Maria Sguassábia juntou-se aos soldados. Um deles era seu irmão Antônio. Dali foram para a Lagoa Branca, Vargem Grande do Sul e depois São Sebastião da Grama, onde aconteceu a mais violenta e sangrenta batalha. Quando passaram pelo Bairro do Pe-dregulho, Maria Sguassábia teve a audácia de prender um comandante mineiro. Por essa con-quista, Maria foi promovida a cabo. Em 19 de agosto de 1932, a cidade de São João da Boa Vista caiu em mãos dos inimi-gos, os soldados de Getúlio Vargas. Assumiu o cargo de prefeito militar o capitão Mário de Sou-za Vieira, do Exército Nacional.A cidade estava com aparência tristonha. Mui-tas casas foram fechadas. São João estava em polvorosa com a notícia de ter caído em mãos dos inimigos. Sol-dados abandonavam a cidade dentro de ca-minhões e pelos trens de ferro. Dirigiam-se, às pressas, rumo à estação de trem. Pessoas iam e vinham, desnorteadas e família inteiras fugiram em direção a zona rural. No semblante dos que ficaram dava para perceber indecisão e apreen-são. Alguns saíram correndo pela noite fria de inverno, querendo fugir do perigo iminente. A cidade estava repleta de gente e dava a impressão que ia ficar deserta, abandonada para sempre nas mãos dos inimigos. Após vinte dias, São João foi retomada pelos constitucionalistas, num brilhante feito de nossos soldados. Nessa operação de guerra, os soldados paulistas apreenderam muita mu-nição, várias metralhadoras pesadas, fuzis etc.

Além de efetuar muitas prisões de soldados do exército inimigo. Assim que correu a notícia da retomada de São João, o povo correu para as ruas num sinal de contentamento. Vaiavam os soldados inimigos, que estavam dentro dos caminhões que partiam velozes em direção a Poços de Cal-das. Um grupo de pessoas, chefiada por João Lühmann, Secretário da Prefeitura, soltou os presos políticos da cadeia local. Ainda não havia sido completada a retira-da dos inimigos e o primeiro caminhão da Colu-na Romão Gomes e os seus soldados surgiram lá no bairro da Pratinha. Passaram pela Praça Bento Gonçalves, subiram pela Rua Saldanha Marinho, acompanhados por uma multidão de sanjoanenses, que gritavam de alegria. Desceram dos caminhões soldados barbudos e com rostos quase irreconhecíveis, juntaram-se à multidão. Muitos choravam e abraçavam seus familiares. O reencontro foi emocionante. Um fato interessante, que nos mostra o preconceito contra as mulheres na Revolução, foi a punição que recebeu a soldado Maria Sguassábia, conforme escreveu o advogado e acadêmico José Osório de Oliveira Azevedo, em seu livro “História Administrativa e Política de São João da Boa Vista”: “Durante vinte dias a cidade ficou em mãos dos ditatoriais. E num ato que chocou a população sanjoanense, o prefeito militar publi-cou no jornal “O Município”, a Resolução nº 3, com o seguinte teor: “Considerando a situação anormal que atravessa o país. Considerando que é público e notório o papel saliente que desempenhou a Sra. Maria Sguassábia, professora municipal, chegando mesmo a vestir farda. Considerando que tal fato não permite neste momento que

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Dentro da historiografia de São João da Boa Vista, há um texto onde o seu articulista es-creveu que temia que se atribuísse a fundação desta cidade ao facínora Sete Orelhas. Este apelido foi atribuído a Januário Garcia Leal, por ter assassinado sete pessoas e mais: cortou uma orelha de cada um, perfazen-do sete, guardando-as em um cordão. A família Garcia Leal é de origem portu-guesa. Os primeiros desta família vieram dos Açores, durante o século XVIII. Aqui, no Brasil, na capitania de São Pau-lo, ramificaram. Foram bandeirantes aparenta-dos com Fernão Dias Paes e chegaram até o Triângulo Mineiro. Consegui, em Mogi Mirim, textos sobre os Garcia Leal, pois faziam parte da família Ulhôa Cintra, portanto, do Barão de Jaguará. Penetraram no interior de São Paulo, pela Estrada da Boiada ou dos Goiases e fo-ram donos de uma grande Sesmaria. Os casais dessa família costumavam ter muitos filhos e, por herança, essas imensas terras foram sendo divididas. Uma destas divisões, perto de São João da Boa Vista, começava no Itupeva (Aguaí) e ia até às fronteiras mineiras, passando pela fazen-da Casa Branca. A vizinha cidade de Vargem Grande do Sul (Santana do Rio Verde) surgiu em terras do-adas por José Garcia Leal. Em 1824, Garcia Leal é listado entre os primeiros que habitavam próximos da posse de Antônio Machado e da gleba que seria do-ada para o patrimônio religioso, onde surgiria São João da Boa Vista. O nome Garcia Leal sempre se repete no decorrer da história sanjoanense: são filhos, netos e bisnetos, participando da vida política

esta professora continue no exercício de seu cargo, resolve afastar, do cargo de professora municipal, a precitada senhora Dona Maria Ste-la Sguassábia.” Assim, com esta resolução publicada, nossa heroína nunca mais retornou a uma sala de aula, como professora.

Texto: Neusa Maria Soares de Menezes Cadeira 30

Patrono Euclydes da Cunha

O “Sete Orelhas”

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que traria uma orelha de cada assassino, sal-gadas e num cordão, como prova de revanche e resposta ao bárbaro assassinato. Januário Garcia Leal era grande atira-dor e decidido. Levou dez anos atrás dos ma-tadores de seu irmão, tendo liquidado o último no Rio Grande do Sul, quando já desanimava de encontrá-lo. E, firme no propósito, enfiou a sétima orelha no cordão e trouxe esta fieira de volta à terra natal. Daí ter vindo o seu apelido de “O Sete Orelhas”. Concluindo, chegamos a ficar horrori-zados com este episódio histórico! Podemos dizer, porém, que Januário Garcia Leal não foi um facínora, mas, sim, um vingador. Estes eram tempos em que a justiça não chegava ligeira e sem privilégios, ao longo da estrada e caminhos, que cortavam as terras de aventu-reiros e posseiros de áreas, que “o sem dono” lhes deu.

Texto: João Baptista ScannapiecoCadeira 17

Patrono Francisco Paschoal

local. A Lagoa Formosa sempre foi uma fa-zenda preferida dos Garcia Leal, entre as ou-tras que possuíam. Januário Garcia Leal, o “Sete Orelhas,” pertencia a uma família de nove irmãos, sendo um deles José Garcia Leal. Este era Capitão--Mor e, como acontecia naqueles anos iniciais do século XIX (1801), com seu prestígio e con-quistas de mais terras, ganhou inimigos terrí-veis, que geraram ódio e morte. Sete irmãos de uma determinada famí-lia vizinha, principalmente, tinham por ele ódio violento, cruel e bárbaro! Não podemos dar os nomes, pois deixaram descendentes nestas paragens. Não queremos estigmatizar famílias da região. Os crimes do passado pertencem ao passado. Após vacilações, os sete indivíduos determinaram o assassinato do Guarda-Mor José Garcia Leal. Esperaram-no, em uma ma-nhã de sol, à beira da estrada em que sabiam que ele iria certamente passar, de retorno de sua fazenda. Apanhado de surpresa, José Gar-cia Leal não teve como se defender. Os assas-sinos deixaram-no completamente nu e, dos pés à cabeça, esfolaram-no vivo. Depois do suplício, amarram-no, ainda vivo, no tronco de uma figueira, ao lado da estrada. Mais de um dia se passava sobre o acontecimento, quando preocupado com sua demora, Januário Garcia Leal, seu irmão, o encontrou quase morto. Ouviu, ainda, de seus lábios já arroxeados, o nome dos assassinos. Quando Januário desamarrou seu irmão, per-cebeu que iria levar de volta apenas o seu ca-dáver. José Garcia Leal era muito estimado e esse crime bárbaro levantou protestos de hor-ror e de vingança, entre todos os que o conhe-ciam. Januário tomou a si, inteiramente, a vin-gança, declarando-a publicamente, dizendo

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Academia em Revista O culto à palavra, a reverência ao bom verbo, a difusão da escrita. Nobres ra-zões para a existência de uma Confraria de Letras. Articulados e idealistas, Octávio da Silva Bastos e Milton Duarte Segurado, de-pois de propósitos brotados num colóquio informal, conceberam na primavera de 1971 a Academia de Letras de São João da Boa Vista. Culto, respeitado e aglutinador, o en-tão bispo diocesano, Dom Tomás Vaquero, foi o nome de consenso para presidir as três primeiras gestões da Arcádia sanjonen-se. Sereno sem deixar de ser firme, seu co-mando no grupo literário foi marcado pela consolidação da instituição na sociedade organizada desta urbe tão luminosamente localizada, tão crepuscularmente sedutora. Dotado de fala eloquente, orador apaixonado, Octávio Pereira Leite sucedeu Dom Tomás também por três períodos con-secutivos. Zeloso do papel institucional da Academia, cumpriu com brilho a missão de gerir a associação de letrados. Causídico de ofício e lírico por vo-cação, Wildes Antonio Bruscato usou seu

sólido saber jurídico para propor e efetivar essenciais alterações no Estatuto. Seu triê-nio na condução trouxe notas melódicas à Casa, pois o confrade, entusiasta da músi-ca, foi um dos fundadores do Coral Vozes de São João da Boa Vista. O médico, que também vigiava a saúde do léxico, José Edgar Simon Alonso substitui Wildes no mandato seguinte, mas faleceu precocemente antes de concluir sua administração. Maria Célia de Campos Mar-condes, 2ª vice-presidente, assumiu o man-che da aeronave dos eruditos mantiqueiros. Maria Aparecida Pimentel Mangeon Oliveira, a Aparecidinha, educadora com inequívoca inclinação às artes, foi a gestora que imprimiu nos anos seguintes um mode-lo com ardoroso respeito ao protocolo nas cerimônias da Academia. Nos seus inúme-ros e históricos discursos, ela sempre res-saltava a importância de cultura na forma-ção da cidadania. O advogado forjado na lendária São Francisco, Sérgio Ayrton Meirelles de Olivei-ra, com o falecimento da confreira Apareci-dinha, geriu até o fim o triênio 2005/2007.

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Proseador cheio de estilo, ele assim acla-mou seus pares por ocasião do lançamento da 2ª Antologia: “Os acadêmicos são exper-tos nas técnicas literárias, cultos nas vere-das da língua portuguesa e dotados de cria-tividade imprescindível”. Culta, líder e fervorosa defensora das tradições da Academia, Maria Célia de Campos Marcondes foi novamente uma re-alizadora presidente nos anos 2008/09/10 e, entre diversos feitos e eventos notáveis, in-seriu a instituição na rede mundial de com-putadores. Ganhamos, finalmente, o nosso sítio virtual. O mandato seguinte foi dirigido pelo jornalista, professor e então vereador, Fran-cisco de Assis Carvalho Arten. Reformas im-portantes carimbaram o comando dele na Arcádia: a modernização do Estatuto e a re-modelação da sede. Sua habilidade política foi fundamental nestas conquistas. Lucelena Maia, irrequieta, é a atu-al presidente e faz uma gestão ambiciosa no empreender em prol das letras. Tomou

posse já fincando uma dinâmica agenda de acontecimentos. Até o fim de 2014 o calen-dário é permeado por efemérides mensais. Este primeiro número da ARCA é um dos compromissos cumpridos da atual diretoria. Nesta província de relevos geográfi-cos insinuantes, a serra inspira e o crepús-culo abençoa. Em 42 anos de poucas turbu-lências e muitos êxitos, a Academia prestou, em incontáveis e nas mais diversas formas de homenagem ao idioma, inestimáveis serviços ao fomento da riqueza cultural da cidade. Pela preservação das espécies, Noé abarcou muitos bichos na sua arca. Aqui nesta ARCA vocabular a PLURALIDADE de estilos é de outra natureza, mas o respeito a ela é o mesmo. Habemus revista!

Texto: Lauro Augusto Bittencourt Borges Cadeira 20

Patrono Castro Alves

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LuzGrafia Elegia

...Os extremos osmais

agudos cumesda tensão viva amor

- criação viva -

agora partidos

luz e lirainertes. ...

Orides Fontela

Foto:: Silvia Ferrante

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Chegar à Estação da Luz, patrimônio his-tórico de São Paulo do Século XIX, é uma ótima oportunidade de conhecer uma das arquitetu-ras mais interessantes de nosso país, principal-mente, se for um dia de feriado e escassez de transeuntes. Possibilitará entrecortar o interior dela com olhar apreciador, mas, ficará ainda mais interessante, se o passeio possibilitar isso aos olhos de um entusiasta que vivenciou dela os idos anos 70. Este adulto em questão, criança há qua-renta anos, poderá enxergar-se de mãos dadas com os pais, a observar deles a outra mão segu-rando uma mala marrom, pela alça, sem imagi-nar que, um dia, elas viriam a ter rodinhas e que seriam, até mesmo, coloridas. Com olhos de outrora, poderá através dos trilhos da plataforma, reformados no ano de 2004 quando a estação foi restaurada, também na arquitetura, viajar no tempo por infinitas ho-ras, vendo-se dentro de um dos trens, porque eles chegavam e partiam numa frequência mui-to maior que hoje, para cidades que na atuali-dade já não recebem comboio de carros sobre trilhos porque a malha ferroviária deixou de ser utilizada quando deu lugar às rodovias e aos ae-roportos. O resgate da história, a Estação da Luz, guardados na mala da infância, serviriam de elo para um outro compromisso. Seu destino des-ta vez poderia ser, também, o Museu da Língua Portuguesa que, na sua meninice, não existia. Siga em frente, diz a placa.

Chegando ao museu e, após pagar um valor quase simbólico, se torna visitante, con-vidado a seguir para os elevadores de acesso. Eles são espaços expositivos, que permitem uma visão total da escultura “Árvore de Pala-vras”, criada por Rafic Farah. Além de, no interior deles, se ouvir uma espécie de mantra, compos-to por Arnaldo Antunes, que repete as palavras “língua” e “palavra” em vários idiomas. No segundo andar, painéis mostram um pouco da história do edifício-sede da Estação da Luz e os trabalhos de restauro; a Linha do Tempo com recursos interativos onde o visitan-te pode conhecer melhor a história da Língua Portuguesa; o Beco das Palavras, com jogo eti-mológico, que permite brincar com a criação das palavras, conhecendo suas origens e signi-ficados, entre outras curiosidades. No auditório, no terceiro andar, um filme de dez minutos projeta para a plateia as origens

O PASSADO SE REFAZ

ARCADIANAS

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da Língua Portuguesa falada no Brasil. Na Praça da Língua, espécie de “planetá-rio da língua” composto por imagens projetadas e áudio; palavras, frases e poemas são ofereci-dos de forma lúdica. Impossível ficar ali sem se jogar de alma nesse mundo mágico. A curado-ria da Praça é de José Miguel Wisnik e Arthur Nestrovski. O primeiro andar reserva-se a exposi-ções temporárias. O relógio, pontualmente às 18h, informa que o Museu será fechado. Impossível não sen-tir que do Museu se sairá um pouco mais cul-to; da Estação, nostálgico. Retornar para casa aconteceria da mesma forma como nos filmes de antigamente, em que para voltar a fita VHS, ao final, bastava apertar um botão e observar todo o filme retroceder ao seu início. Se nesse dia de feriado for Sexta-Feira

da Paixão será possível dizer “Aleluia” para o resgate de sua história e também para o sábado que se aproxima rapidamente.

Texto: Lucelena MaiaCadeira 13

Patrono Humberto de Campos

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Pouco sei sobre ele, porém, é o suficiente para dizer que era um ser especial... Nasceu em Riacho dos Machados, Mi-nas Gerais, mas nem ele sabia a data... De seu pai guardava apenas a alcunha de “O Mouro”, um marchante de poucas pala-vras e muitos chicotes; porém, de Maria As-sumpção, meiga costureira portuguesa, de fartos cabelos cheirosos e atitudes justas, con-servava bem mais que a imagem de mãe. Passava horas observando as ações me-ticulosas daquela mulher, resignada com a vida típica dos miseráveis de muitos filhos e poucos prazeres; e era esta atitude que edificava em João Estrôncio o hábito de examinar minucio-samente as plantas e os insetos. Ficava dias in-teiros metido entre as matas que circundavam o povoado. Tinha tantos hábitos distintos dos outros irmãos, como de outras crianças, que a mãe não insistia que fosse para escola, com medo que judiassem dele. Aos poucos aumentava o temor de Maria pelo seu futuro; ele cada vez mais parecido com o pai nas palavras reticentes, e no entanto era o oposto no trato com as coisas do comércio e da sobrevivência. Deixava facilmente ser passa-do para trás; era indiferente em ser o último ao nada. Cresceu ajudando-a nos afazeres do-mésticos sem se importar com o escárnio dos outros. Todos os irmãos casaram-se e partiram, ele manteve-se no mesmo quarto. No entanto, corria pelo povoado a notícia que era pai não

assumido; atribuíam-lhe todos os bastardos. Frente ao olhar severo da mãe, apenas ria silen-ciosamente sem sacramentar qualquer verda-de. Uma transformação substancial ocor-reu em sua vida quando aos poucos foi tratan-do alguns vizinhos com ervas trazidas da mata. Os acertos foram paulatinamente proliferando sua fama de curandeiro de poucas palavras e questionamentos certeiros, atingindo distâncias infindas. Sua atitude não lhe rendia grandes fru-tos financeiros, até talvez, apenas dissabores ao adiar certos afazeres domésticos e passar o resto do dia ouvindo injúrias da própria mãe, mas mantinha-se calado. Porém, nada registra-va por escrito, já que continuava ou insistia em ser semi-analfabeto. Rejeitava, e isso eu mesmo pude constatar em conversas pessoais na ca-deia, qualquer conhecimento de cultura formal, tradicional, ministrado pelas escolas. Conside-rava as informações supérfluas e inúteis para a realidade do dia a dia. Como o número de consultas aumen-tava assustadoramente, surgiu o infortúnio. Denunciaram-no às autoridades sanitárias. No inverno de ... levaram-no preso como char-latão, chegando a afirmarem que comercializa-va cogumelos alucinógenos. Fato que ele não contestou, já que em alguns casos considerava--os eficazes para certos tipos de doenças iden-tificadas como incorporações satânicas pelo povoado. Semi-analfabeto não pleiteou justiça. Amargou anos em celas distantes e ainda pre-so, soube da morte da mãe. Somente com a hecatombe nuclear de ... foi libertado. Todos os criminosos o foram; não havia como ou quem sustentá-los.

EstrôncioTexto: Luiz Antônio Spada

Cadeira: 28Patrono Guilherme de Almeida

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Tentou retornar, mas com dificuldade achou a trilha. O sol e a lua rompiam as trevas de seu caminho, nada mais de artifícios humanos. Não escutou mais canções pelos caminhos, apenas gemidos e gritos alucinados. Poucos edifícios lembravam facetas de um passado soberbo. Os pássaros ou animais restantes, serviam de alimento à população abatida. E aqui entra um detalhe. O pior é que a maioria não identificava os vegetais comestíveis e envenenava-se. Pas-saram a entreolharem-se assustadoramente. Quando chegou a Riacho dos Machados, com o rosto desfigurado pelas surras e outros maltratos e encoberto pela espessa barba, não foi reconhecido de imediato. Isso deu-lhe um breve sossego, possibilitando visitar o túmulo de sua mãe. Nada restara de sua antiga casa ou mesmo do povoado. Ruínas. Poucas pessoas perambulavam pelas vielas; outras escondidas entre os escombros, vigiavam temerosamente pelas frestas os estranhos. Devia ser próximo ao meio dia quando encontrei-o deitado sobre uma porta tomba-da. Reconheceu-me e sorriu amistosamente. Perguntou-me sobre o motivo de tê-lo seguido até ali. Expliquei-lhe que nada restara da minha cidade do sul. Soubera que fora atingida violen-tamente e apenas uma imensa cratera radioati-va constava no mapa. Restou-me buscar o seu socorro, como tantas outras vezes me fornecera na prisão. Talvez muitos não saibam, mas ele era o grande curandeiro dos detentos. Como companheiro de sela, e não interessa saber como fui parar lá, divagávamos noite adentro. Fornecia-lhe a beleza dos poemas de Pessoa e de Borges e ele contava-me de forma simples sua interação com a natureza. De que valia ou vale toda a minha cul-tura, meu conhecimento cibernético e erudito, frente a esta realidade inóspita. Também como a maioria, sei distinguir um alimento apenas nas

prateleiras dos supermercados. Jamais plantei algo; e o pior, como fui um péssimo escoteiro, nem fogo sei executar, por mais que tentei es-fregar os pauzinhos...coisa que não faltava pelo caminho. Chore! Vergonhosamente, como uma criança abandonada, sem rumo, sem vislum-brar qualquer horizonte de esperança. Acolheu--me como um irmão mais velho. Já comeu al-guma coisa ? perguntou, interrompendo meus soluços, preocupando-se de forma sincera. Fo-mos até a mata que tanto vangloriava conhecer. Apesar de combalida, ainda resistiram muitas ervas. Mostrou-me as comestíveis. Amargas ou azedas eram as únicas que naquele momento me saciariam. Voltamos ao povoado. Ele procurou reen-contrar os conhecidos e dando um sentido novo até a minha própria vida, propôs organizarmos a sobrevivência do povoado; ajudar os órfãos e os feridos. Concordei de imediato e lá fomos. Não demoraram para reconhecerem--no. Muitos chegaram até recordar dos seus prodígios e refizeram-lhe seus agradecimentos. Também não sei quanto tempo levou, já que nada era mais relevante, e muito menos a ques-tão tempo...para que reconstruíssemos uma arremedo de povoado. Éramos sessenta e seis homens, vinte sete deles velhos e o restante jo-vens, quarenta e nove mulheres, trinta e duas jovens. Crianças que resistiram foram apenas oito delas... Entre olhares de espanto e agrade-cimento iniciamos um processo organizado de coleta de alimentos ainda disponíveis, reorgani-zamos a vila que paulatinamente ia se configu-rando como uma grande aldeia. Mas... Hoje escondido nas fendas deste prédio, conto-lhe o que vi. Terror. Terror. Nem nas maiores catástrofes nos trans-formamos em seres solidários... Passado algum tempo, percebi-o taci-turno e preocupado. Expressava um olhar que desconhecia. Indagado, respondeu temer pelo

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futuro próximo. Não o compreendia naquele mo-mento, já que todos o respeitavam e aceitavam o seu comando na organização e distribuição dos alimentos. Estrôncio levou-me para a mata que circundava, onde fazíamos as explorações. Mostrou-me aturdido que a vegetação não se recuperava como deveria; as árvores frutíferas estavam irregulares, suas flores não produziam pólens ou não existiam os insetos que as fecun-dassem...Faltará em breve até o essencial. Sua previsão estava correta. Em pouco tempo quase nada restara para uma subsistên-cia; vozes iniciaram as insinuações de que es-távamos escondendo, simulando, enganando--as. Estrôncio respondia apenas com seu olhar tristonho. Eu sim, mais exaltado e enojado com aquelas poucas almas, respondia vociferando palavras que mal me recordo. A fome nos trans-tornava a todos. Percebi que alguns conspiravam con-tra nós, temi por nossas vidas. Quando lhe de-monstrei meu temor, respondeu-me - Ir para onde? Não existe mais lugar para nós. Acordei assustado com passos que tro-peçavam entre as pedras, próximo ao sítio onde nos acolhíamos. Pensei de início que fosse al-gum animal ainda livre, mas eram eles que ar-mados de paus e pedras atacaram ferozmente Estrôncio que impassível absorvia os golpes. Hoje sinto-me um covarde, mas não consegui reagir naquele momento para defendê-lo. Era porém este meu ato que ele desejava, a inação. Quando voltaram-se para mim, saltei como fera sobre dois cadáveres andrajosos que ainda re-luziam seu suor maligno, retirando-lhes a arma, empurrando-os contra as paredes e fugi. A uma certa distância escutei gritos: agora temos al-gum alimento. Venham se fartar de Carne !! Agora distante daquela turba, penso que ele tinha razão... não existe mais lugar para a hu-manidade.

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E OS PÁSSAROS DAQUI NÃO GORJEIAM COMO LÁ

Com que roupa? Perguntou Noel, que, com a dúvida, deixou o samba indeciso. Pelo sim, pelo não, os homens besuntaram gomalina e as mulheres lambuzaram batom. Era sábado, e porque era sábado, carecia capricho no cos-tume. Era uma noite quente e, porque estava quente, exigia leveza nos panos. Era uma noite de gala e, por ela, garbo era fundamental. Noel resolvido. Em forma para o espaço largo da Mó-veis Getúlio Vargas. Contidos na elegância e ansiosos na expectativa. Procuravam a obra de arte. E ela estava na II Bienal de Artes Visuais, que sabiam ser corretas. Sem sisos nem sinos. Como da primeira vez, há dois anos, quando foi criada, por lei Municipal, de iniciativa do prefei-to Laert que os vereadores foram unânimes em aprovar. Nem poderia ser diferente numa cida-de que costuma ninar talentos. E quantos e tan-tos! Criar condições para que exponham não é mais que obrigação de quem os sabe perto. E São João, padroeiro, agradece retribuindo com a luminosidade dos crepúsculos. Amarrou-se um pacto. Sem demagogias, nem alaridos estéreis. Apenas sensibilidade. Reconhecimento de valores. Respeito à cria-ção humana. Identificar a “ponte possível entre o mistério profundo do ser humano e o mundo exterior” como observa Sônia Maria Quintaneiro no libreto editado pela Secretaria de Estado da Cultura, especialmente para o evento.

E o Prefeito Laert, que não é bobo nem nada, pôs a Vânia Noronha para dirigir o seu projeto, a qual, que não dorme de touca, por sua vez convocou o Marcondes, forrado e estofado pelo reconhecimento, e nasceu uma exposição bienal com a expressão das demais, a tempo e hora. Assim, aparecendo do nada, como as flo-res na primavera. Mas que nada, ao nada se junta a coleti-vidade, um grupo de mulheres dispostas e deci-didas, um punhado de empresários engajados e atentos. Realiza-se em parceria, pela renúncia do Getúlio Vargas Barbosa, que tem a “lucidez dos loucos”, como diz Egas Francisco, um even-to de rara beleza. Exemplo de integração social – dirigen-tes e dirigidos – na preparação do futuro, como na Semana Fernando Furlaneto, no Festival de Dança, na restauração do Theatro Municipal, na consagrada Semana Guiomar Novaes, do Núcleo Experimental do Teatro de Tábuas, na agitação cultural da Livraria Papyrus, na Acade-mia de Letras, no Fonteatro Emílio Caslini. E os pássaros daqui não gorjeiam como lá. E os me-ninos daqui acalantam-se como os de lá, na in-timidade com a arte, tapete para a formação de homens e mulheres mais sólidos, neste mundo de tantas reduções.

Texto: Sérgio A. Meirelles de Oliveira Cadeira 22

Patrono Mario Palmério

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Que feixe misterioso anima e apaga a vida?No feijão reciclado dos cadáveres,

voltam a brotar novos sorrisos,em teu rosto,

mosaico a refletir expressões ancestrais.

As faces marcadas, outrora tenras.Os passos de hoje, vindouros arquejantes,fluirão caminhos como em ramos de Hera

éramos felizes, na primeira vez.

Minha vida se separa da tua como um fio,este que nós marionetes tentamos driblar,

tornar analítico, enrolar o carretel, cerzir o mar com suas esponjas.

O sopro da essência pulsa em ti ritmicamente,amor que não cabe nas artérias,

deixando a terra hipertensa, pé no chão,rio de minha infância, barro argila e minhoca,

sabor crocante do primeiro lambari na boca de menino.

Menino oceânico, tramando os elos das paixões,simbiose do primeiro gozo ao mistério do feijão,

fazendo-me semente, ponte na trilha dos sentidos,equilibrando meu cambaleante caminhar sobre o fio.

MENINO

Ainda que náufrago,

Jogaria garrafas com mensagens ao oceano. Ainda que sem garrafas e sem papel, Haveria de imaginar que existissem,

Pois que entre o delírio e a realidade que matam, Viveria a ilusão da esperança que acalenta.

Sentiria o consolo do afeto que anseio estar perdido, Pois que não o conquistei,

Nem meu coração foi por ele conquistado, Antes, vive o abandono; não dos outros,

Mas de mim mesmo, pois que é enfadonho ser, Pois que é triste existir, e ainda assim, existo.

Pensando haver passividade Quando tudo em mim é profunda rebelião.

Não amaria com distância, pois só sei amar com paixão.E tendo paixão, teria vergonha de mim.

Sentir-me-ia fraco ante a minha humanidade, Pois que ainda que inexistente, minha alma é orgulhosa,

Irritantemente orgulhosa. E isso não me traz proveito algum,

Apenas a força que o tempo há sempre de subjugar. Nisto havendo um saber da natureza,

Pois que para o bem coletivo, Todo ego tem que ter limite,

Ou a paz seria impossível E o caos nasceria da constância dos confrontos.

Não sei por que insisto. Talvez haja a sombra de um náufrago,

Um fantasma insepulto que insiste em existir. Que não vai embora, mas não deseja ficar, Que almeja pouco, e isto há de ser tanto...

Pois perdido em idéias, enganado em emoções, Haverá um dia de encontrar um olhar, Que quem sabe já habite minha vida,

Mas que, inquieto, não desvenda o silêncio.E o silêncio diz tanto... E minha surdez não o escuta.

Texto: Lincon AmaralCadeira 03

Patrono Alphonsus de Guimaraens

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Ainda que náufrago,

Jogaria garrafas com mensagens ao oceano. Ainda que sem garrafas e sem papel, Haveria de imaginar que existissem,

Pois que entre o delírio e a realidade que matam, Viveria a ilusão da esperança que acalenta.

Sentiria o consolo do afeto que anseio estar perdido, Pois que não o conquistei,

Nem meu coração foi por ele conquistado, Antes, vive o abandono; não dos outros,

Mas de mim mesmo, pois que é enfadonho ser, Pois que é triste existir, e ainda assim, existo.

Pensando haver passividade Quando tudo em mim é profunda rebelião.

Não amaria com distância, pois só sei amar com paixão.E tendo paixão, teria vergonha de mim.

Sentir-me-ia fraco ante a minha humanidade, Pois que ainda que inexistente, minha alma é orgulhosa,

Irritantemente orgulhosa. E isso não me traz proveito algum,

Apenas a força que o tempo há sempre de subjugar. Nisto havendo um saber da natureza,

Pois que para o bem coletivo, Todo ego tem que ter limite,

Ou a paz seria impossível E o caos nasceria da constância dos confrontos.

Não sei por que insisto. Talvez haja a sombra de um náufrago,

Um fantasma insepulto que insiste em existir. Que não vai embora, mas não deseja ficar, Que almeja pouco, e isto há de ser tanto...

Pois perdido em idéias, enganado em emoções, Haverá um dia de encontrar um olhar, Que quem sabe já habite minha vida,

Mas que, inquieto, não desvenda o silêncio.E o silêncio diz tanto... E minha surdez não o escuta.

Poeta, Alma de Náufrago.

Texto: Gilberto Brandão MarconCadeira 06

Patrono Mário Quintana

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ReflexosNo olho - espelhona água - espelho

no tempo - espelho

espelhos nosespelhos nos

espelhos

Orides Fontela

LuzGrafia

Foto: Silvia Ferrante

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Chá Literário “Do Chá à Mesa”

Na quinta-feira, dia 21 de março, às 17h, a Padaria Rainha e a Fundação Curimbaba serviram o Chá das Cinco na ACADEMIA DE LETRAS, para acadêmicos e convi-dados. Estiveram presentes ao Chá Literário, além dos acadêmicos, o Diretor de Cultura de São João, Sr. Beto Simões; a 1ª dama da cidade, Sra. Solange Carvalho; a presiden-te da Amite, Fafá Noronha; Subte-nente Vanderlei, do Tiro de Guerra; Representando a Fundação Curim-baba, Sr. Jaime Splettstoser, a Di-retora de Cultura de Andradas, Sra. Zeza Freitas e o Sr. Roberto Peres com a esposa, da Moto Honda Pe-res e vários convidados e amigos dos acadêmicos. O Chá foi idealizado para acontecer de forma descontraída, no sentido de aproveitamento má-ximo do evento. Em sua fala a presi-dente Lucelena Maia desejou que o aroma dos chás, o sabor dos quitu-des e os muitos poemas que paira-vam no ar alimentassem o corpo e também a alma, saciando em cada um a razão que os tinha levado ali; Dia Mundial da Poesia. Os presentes puderam apre-ciar a exposição de xícaras, com a

temática “ Xícaras, além do Chá”, que se manterá exposta na sede da aca-demia durante todo os mês de abril. A sede fica aberta das 13h30 às 17h30, de segunda a sexta-feira. O acadêmi-co Lorette, curador da mostra, falou aos presentes sobre cada uma, das oito temáticas expostas. O Chá foi também abrilhanta-do com a perfomance do Grupo Cena IV, que abordou “Do Chá à Mesa”, de forma descontraída, levando todos ao riso. Em seguida, alguns do acadê-micos presentes, como, Carmen Lia, Lucelena, Maria Célia Marcondes, Maria Cecília Malheiros, Spada, Sônia Quintaneiro, Clineida Jacomini de-clamaram poemas escolhidos para o Chá. A Acadêmica Silvia Ferrante usou sua voz para cantar o poema escolhido por ela. A presidente da Academia leu para os presentes a história da “Rai-nha”, patrocinadora dos deliciosos quitudes. Também, pediu ao repre-sentante da Fundação Curimbaba, Sr. Jaime Splettstoser, que falasse a todos sobre esse ato nobre: apoiar cultura. O Subtenente Vandereli, do Tiro de Guerra, declarou os acadêmi-cos soldados da poesia e pediu-lhes que nunca deixassem de divulgá-la.

“Xícaras, além do chá”

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Muitos dos presentes deixaram recados nas tolhas das mesas, que eram em TNT. Depo-sitado nelas havia pincel atômico a disposição da inspiração de cada um, ali presente, afinal, a homenageada da noite, a poesia, apeara na pla-taforma da estação e estava ao dispor de todos. Já era noite quando o Chá Literário foi encerrado, com o desejo de “Vida longa ao Chá das Cinco!”

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Chá Literário

A Academia de Letras serviu o já qua-se tradicional Chá das Cinco para Acadê-micos e seus convidados no último dia 18 de abril. A homenageada do Chá foi a poeta Orides Fontela e sua obra, porque no dia 21 de abril seria seu aniversário. Mas, também, naquela quinta-feira era dia de Monteiro Lobato e Dia Nacional do Livro Infantil, por isso a Presidente Luce-lena Maia, fez questão de ler aos presentes um texto sobre a vida do precursor da lite-ratura infantil no Brasil e comentar os ines-quecíveis personagens que habitam suas obras, impregnados nas retinas de todos nós, crianças e adultos, que tivemos contato com as histórias, de linguagem clara e obje-tiva, deste também inesquecível e além de escritor, contista, ensaísta e tradutor, que é grande nome da literatura brasileira. Em homenagem a Orides Fontela, durante o Chá, houve declamação de po-emas dela, pelo jovem ator João Gabriel Bruscato. Em seguida ao chá, apresenta-ção musical de Zezinho Só, com música de Cláudio Richerme e poema de Orides Fon-tela. Foi apresentado Vídeo Documentário sobre Orides “A um passo do pássaro”, da

TV cultura. E, para finalizar a noite, mesa re-donda “Versando Orides” com os acadêmi-cos Neusa Menezes, Antonio Carlos Lorette e Lauro Borges, representando Walter Cas-telli Jr. Que não pode comparecer, mas en-viou rico texto sobre Orides, lido por Lauro. O acadêmico Lorette, cuja partrones-se de sua cadeira é Orides Fontela, em res-posta a acadêmica Maria Cécilia Malheiro, encantada com o resultado da mesa “ Ver-sando Orides”, disse-lhe: “Não imaginei que pudesse causar tamanha façanha, se nem fui um interlocutor de Orides em vida. Penso sempre em refazer os paradigmas, senão quebra-los. Não podemos transformas nos-sos poetas em monstros, mas, sim, em liber-tadores da palavra e do sentido.” A promessa de um delicioso final de tarde com chás diversos e quitutes, acom-panhados da poeta Orides Fontela foi cum-prido e, mais uma vez, possível à Academia de Letras realizar o Chá Literário porque Sempre Vale, Colors Gráfica Digital, Faça Festa, Zayon, LeaderAlarm, BVCi e Sequóia foram amigos da cultura, aos quais a Aca-demia de Letras será eternamente grata!

“Aqui Aconteço” Orides Fontela

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2 chávenas de suco de fruta-da-paixão, quanto mais natural, melhor! Inclusive a paixão com que se faz tal poção! (maracujá)4 frutas-do-pecado, sem desvelar-lhe a alma e sem retirar sua proteção rósea (maçã)2 chávenas de açúcar-mais-que-nuvem para adocicar nossas emoções2 mexericas-de-jardim com cheiro de não-me-enganas como elas vieram ao mundo(mexerica ou cravo) 2 litros de água-que passarinho-bebe-sim!Adicine os segredos-do paladar só encontrados nos grandes-sertões-veredas-desse mundo sem-fim :Canela em pau, gengibre em rodelas, folha de louro, cravos e tudo-o-mais que seu coração mandar!Ferva até a casa cheirar festa-de-academia-em noite engalanada!Passe por um coador, deixando de lado o-que restou-de-tudo-que ficou...Pitada imprescindível: a companhia dos bons amigos e dos bons textos!Ah! e lógico: aquelas bolachinas-celestinas e aquele bolo de fubá com gosto de não-que-ro-parar! Saudações acadêmicas a todos

SOPA DE LETRAS

CHÁ ROSIANO (à sua moda e nossa cumplicidade) (Recita para 8 pessoas)

Texto: Maria José Gargantini Moreira da SilvaCadeira 39

Patronesse Clarice Lispector

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Afiando a Língua

E,então, como nossa língua é nossa espada, vão alguns fios gramaticais!

1-Leu o relatório do estagiário, MAIS não entendeu nada.O uso do advérbio de intensidade “mais” está errado. O certo é o emprego da conjunção adversativa “mas”. Retificando: Leu o relatório do estagiário, MAS não entendeu nada.

2- “Assistimos A novela das oito .”Somente o uso do artigo definido feminino “a” está errado. O certo é o emprego da crase,isto é, do sinal gráfico que indica a fusão da preposição “a” com o artigo “a”,pois o verbo assistir é transitivo direto e exige tal preposição. E mais: quando este verbo significa ver ou presenciar, exige a preposição a, pois quem assiste,assiste a algo.Retificando: Assisti mos À novela das oito.

3- O professor pediu para MIM ler mais.Embora o uso de mim como sujeito anda generalizado no Brasil, de acordo com as nor-mas gramaticais ainda vigentes o correto é o emprego do pronome pessoal do caso reto Eu, que funciona como sujeito da oração. Mim é pronome pessoal do caso oblíquo e tem como função sintática complemento verbal. Veja: “O professor pediu mais leitura para MIM.”Retificando: O professor pediu para EU ler mais.(João Sérgio Januzelli de Souza -JS- Cadeira 25, patrono Manuel Bandeira)

Texto: João Sérgio Januzelli de SouzaCadeira 25

Patrono Manoel Bandeira

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LivrosIndicações da Academia

Torna-se um vício quando precisamos ex-pressar uma ideia com clareza e elegância.O Dicionário Analógico da Língua Portugue-sa, como todo dicionário analógico, tem a função inversa à de um dicionário comum, o qual, a partir de uma palavra conhecida informa seus significados. Neste, busca-se uma palavra, entre muitas análogas, em uma área de significados conhecida e classificada numa frondosa árvore de clas-sificação.Creiam. Um vício.

Dicionário Analógico daLíngua Portuguesa Francisco Ferreira dos Santos Azevedo

Fazendo Meu Filme 1 Paula Pimenta

O livro trata do fascinante universo de uma menina cheia de expectativas, que vive a dúvida entre continuar sua rotina, com seus amigos, familiares, estudos e seu inesperado novo amor, ou se aventurar em outro país e mer-gulhar num mundo cheio de novas possibilidades. A estreia de Fani é um livro encantador para jovens da idade dela. Para conhecer sobre a autora, entre no site www.paulapimenta.com. Para saber do livro www.fazendomeufilme.com.br

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Os Cem Melhores Con-tos Brasileiros do SéculoSeleção: Italo Moriconi

Uma antologia com mais de 600 páginas. Uma pesquisa orientada pela qualidade. Uma seleção de pequenas obras. Os cem melhores contos brasileiros do século reúnem narrativas extraordinárias de al-guns dos principais nomes de nossa litera-tura. Os contos dessa antologia traduzem as mudanças do país e as inquietações de várias gerações de brasileiros, em cem anos de produção literária.Os contos reunidos são, antes de tudo, um registro prazeroso de histórias que con-quistaram leitores não por sua excelência acadêmica, mas por serem capazes de seduzir, divertir, emocionar. Fica a dica.

Você já Viu Gata Parir? Martha Azevedo Pannunzio ( ilustrado por Hélvio Lima)Uma menina de seis anos conta para sua priminha como nasceram os filhotes da gata Pérola. A narrativa inclui detalhes sobre as pessoas, conversas, ambiente e outros fatos relacionados com o parto, além de uma fantasia sobre os primeiros momentos de vida dos cinco gatinhos que nasceram naquela noite. A linguagem é das próprias crianças, mas o assunto é para todas as idades, pois retrata a vida em família com várias cores.A escritora Martha Pannunzio já conquis-tou o prêmio Jabuti com o livro “O Veludin-ho”, que está na 33ª edição, e o prêmio de Literatura Infantil do Instituto Nacional do Livro. Depois vieram Os 3 Capetinhas, Bi-cho do Mato, Era Uma Vez Um Rio, Bruxa de Pano e Você Já Viu Gata Parir? Vale a pena conferir a leitura de algum de seus livros.

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Jornalista ResponsávelFrancisco de Assis Carvalho ArtenProjeto GráficoFernanda BugaEdiçãoAntonio Carlos Rodrigues LoretteGerencia administrativa e financeiraLucelena MaiaDistribuiçãoAcademia de Letras de São João da Boa VistaRevisãoMaria José Gargantini Moreira da Silva Antonio “Nino” Barbin João Sérgio Januzelli Academia de Letras - São João da Boa VistaPresidenteLucelena Maia1º Vice presidenteAntonio Carlos Rodrigues Lorette2º Vice PresidenteJoão Sérgio Januzelli de Souza1º SecretárioSilvia T. Ferrante Marcos de Lima2º SecretárioMaria Cândida de Oliveira Costa1º TesoureiroLauro Augusto Bittencourt Borges1º BibliotecárioMaria Célia de Campos Marcondes2º BibliotecárioAtonio “Nino” BarbinConselho FiscalDonisete Tavares Moraes de Oliveira Luiz Antonio Spada Ronaldo Frigini

ContatoAssistente de SecretariaGrazielle [email protected]

fotografia de capaSILVIA FERRANTE

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