araújo_o salmo 23 para os pequeninhos

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Page 1: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos
Page 2: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos

Todos as direitos reservados. Copyright (c) 1982 da Junta deEducacao Religiosa e Publicacoes da Convcncao Batista Brasileira.

Araujo, Maria Luiza deA663s a Salmo 23 para os pequcninos/Mariu l ulza de Araujo; ilustracoes5.ed. de Hudson Silva. - 5.ed. - Rio de Janeiro: Jlil;.RP, 1991

5Ip.: il.I. Literatura crista para criancas. 2. 1.itcnuuru infantil.

('DD- 028.5808.899282

N? de C6digo para Pedidos: 274.038Junta de Educacao Religiosa e Publicacoes da Convencao BatistaBrasileiraCaixa Postal 320 - CEP: 20001Rua Silva Vale, 781, Cavalcanti - CEP: 21370Rio de Janeiro, RJ, Brasil3.000/1991Impressa em Graficas Pr6prias

\••

SALMO VINTE E TR~SDe Davi• o Senhor e 0 meu pastor,

E nada me faltara.Deitar-me faz em verdes pastos,Guia-me mansamente as aguas tranquilas.

Refrigera a minha alma,Guia-me pelas veredas da justica,Por amor do seu nome,

Ainda que eu andasse pelo vale daSombra da morte, nao temeria mal algum,Porque tu estas comigo,A tua vara e 0 teu cajado me consolam.

Preparas uma mesa perante mimNa presence dos meus inimigos,Unges a minha cabeca com 6leo,o meu calice transborda.

Certamente que a bondade e a m iseric6rdiaMe seguirao todos os dias da minha vida,E habitarei na casa do SenhorPor longos dias.

************

II

Disse Jesus:Eu sou 0 bom pastor; 0 bom pastor da a sua vida pelas ovelhas.

Eu sou 0 born pastor e conheco as minhas ovelhas, e das minhasovelhas sou conhecido.

E dou a minha vida pelas ovelhas ...e as chamo pelos seus nomes ...

(Evangelho de Ioao, Capitulo 10)

_ ...•.

Page 3: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos

No reto caminho me guiar a.Por causa do nome seu:Nenhuma ovelha perderaDas que seu Pai Ihe deu.

Se mesmo da morte ao vale eu descer,As trevas nao temerei.

~ ~---~~=-------~~<:"-'::>0 --.---~- =========~==-

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I.

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JESUS, 0 PASTORJesus, 0 Senhor, e meu born pastorE nada me faltar a.A verdes pastos me conduzDescanso ali me cia.

E dele a voz que me erisin.: a seguirA retidao, a retidao.o Seu cuidado Iaz-rne fruirConstante protecao.

As aguas tr anquilas. eis que () pastor,Em tempos de scquidao.Conduz-me mansamente, e assrrnMe da -consolacao.

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APRESENTA~AO

Meninos e meninas! Aqui e contada, para voces, a hist6ria doSalmo 23, que e a hist6ria do Bom Pastor. Como a ovelhinha destahistone, voces tambem precisam do Bom Pastor. Quem e ele?Leiam a histori«, e voces vao descobri-Io e saber 0 que devemfazer para que ele cuide de voces tambem. Ele e tao bondoso eemoroso, que voces vso ficar encantados quando 0 encontrarem.Vamos, pois, descobri-Io?

Departamento de Publicacoes Gerais

.--------~.---------------------------------.

Page 4: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos

SUMARIO1. 0 Pastor .....................................

2.0 Preco da Ovelha 15

3. Aos Pastos e as Aguas 21

4. Doce Refrigerio " 31

5. NoValeEscuro 37

6. No Aprisco de Inverno .........................

7. A Casa Grande .

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45

t.

o PASTOR110 Senhor e 0 meu pastor ... "

A rnanha estava linda e ensolarada. 0 capim estavaverdinho e ainda urnido do orvalho. Eu ia de cabeca baixa,comendo e comendo, ate que de repente ... pa! Dei de testacom uma outra ovelha, que vinha comendo em direcao amim. Levantei minha cabeca para ver quem era e estremeciao ver diante de mim uma ovelha que eu nunca vira antes, eque me causou repugnancia, devido ao seu estado lasti-mavel: suja, cheia de carrapixos e outras sementes no seupelo emaranhado, muito magra e quase nao podia enxergar,de tanto pus que tinha nos olhos.

Dei um passe para tras e perguntei: - Quem e voce?E ela timidamente respondeu: - Sou uma ovelha daquelerebanho que esta naquela colina do outro lado do prado.Nao sei por que meu pastor sempre leva 0 seu rebanho paraaquele lado. La so existe capim seco e duro, mas ele nao sepreocupa em nos levar onde ha pastos verdes como esteaqui. Ele so procura lugares onde haja uma frondosa arvore,para ele deitar-se a sua sombra e dormir ate chegar a hora devoltar para casa. De 1.1 onde me encontrava, avistei vocesaqui e senti 0 bom cheiro de erva verde e macia, e vim ateaqui. Sera que 0 seu pastor nao se irnportara se eu ficar paracomer mais um pouco? Ele nao ordenara ao seu cao-pastorpara correr atras de rnirn. para me enxotar daqui, comofazem os outros pastores?

9.....•

Page 5: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos

·"-'-" ....._---

- Oh! naol Estejaavontade, e pode comer quanto quiser.Meu pastor e muito bondoso e jamais enxotou qualquerovelha de outros rebanhos, que as vezes surge por aqui.Mas voce esta tao magra, tao suja, e sua la esta cheia decarrapixos e carrapatos. Quem e 0 seu pastor?

•--r - Acho que 0 meu pastor e 0 pior pastor do mundo.

Nos pertencemos a certo homem muito rico, que morana cidade grande, mas ele nunca vem nos ver. Dizem queele paga muito bem ao nosso pastor para nos pastorear,mas nao sabe como estamos nem 0 quanto somos maltra-tadas.

Entao eu perguntei: - E se seu pastor der por falta devoce, nao ficara furioso e nao vira busca-la?

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- Ah! disso nao tenho 0 menor medo, pois ele nunca sentefalta de nenhuma de nos! 0 rebanho esta diminuindo cadadia, por falta de alirnentacao, por doencas. e pelos lobos eoutros bichos que vivem randando 0 nosso rebanho. Cadasemana desaparecem uma ou duas e ele nem nota 0 seudesaparecirnento. E quando nota, nao da a menor irnpor-tancia ao fato.

JA~~W.····· .. _.. _;..'~I~~~~~S.~~

Quando perguntei 0 nome a essa pobre ovelha, elaolhou-me muito espantada e disse: - Meu nome? Masovelha nao tem nome! Nosso pastor, se nao esta zangado,chama-nos de animais ou simplesmente ovelhas, mas quasesempre nos chama de peste, bicho, ou outras nomes feios.Voce tern um nome? Qual e?

- Meu nome e Perala - respondi, cheia de satisfacao.Cada uma de n6s, neste rebanho, possui um nome proprio.Meu pastor chama a cada uma de nos pelo proprio nome,que ele rnesmo nos deu.

A ovelha ficou pensativa par uns momentos, depois disse:- Perala!... Que lindo nome! Nao e 0 nome de uma pedrapreciosa? Qual a razao deste nome?

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Page 6: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos

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- Custei para 0 meu pastor nada mais e nada menos doque uma grande e preciosa perola. A unica que ele possuia.E 0 seu ajudante contou-me que, para adquirir a perola. elepagou um grande preco. Todo 0 dinheiro que ele haviaeconomizado durante muitos anos. E nao somente eu, mascada ovelha deste rebanho custou um grande preco ealgum grande sacrificio de sua parte.

Com os olhos cheios de adrniracao. a ovelha doenteexclamou: - Como voces sac felizes! Como sac irnpor-tantes! Sac todas tao bonitas e limpas, que chegam ate areluzir. Quem me dera ter um pastor como 0 seu! Vocesdevem obedecer-Ihe sempre e ama-lo muito, muito mesmo,nao e verdade?

Eu concordei, com um sinal de cabeca, mas estava comnojo de continuar olhando para aquela ovelha tao suja e taornal-cheirosa. Pois 0 seu cheiro nao era nada agradavel, e,alern disso, ela estava mancando, com um espinho numapata traseira que, conforme me disse, estava magoando-ahavia tres dias, e 0 seu pastor nem notara que ela estavamanquejando.

De repente, a ovelha doente mostrou-se muito assustada edisse que precisava ir embora antes que 0 seu pastor a visse,pois ela estava com medo dele. Foi entao que senti muitacornpaixao por ela e me recordei daquele distante dia emque fui achada pelo meu maravilhoso pastor. Eu estava taosuja e cheirando mal como essa pobre e assustada ovelhadiante de mim. Desejei ardentemente que ela tambernpudesse encontrar a felicidade e a salvacao ao lado dele,assim como eu encontrei.

Eu disse a pobre ovelha: - Vem comigo, e eu a levarei apresenc;:ado meu pastor. Ele se cornpadecera de voce e naodescansara enquanto nao a vir salva e feliz.

Mostrou-se a infeliz ovelha mais assustada ainda, e chora-mingou: - Mas ele nao havera de querer nem olhar para12

mim. Neste estado miserave] em que me encontro, elejamais me aceitara. Que devo fazer para melhorar minhaaparencia, a fim de ele me aceitar e eu pertencer-Ihe e aeste rebanho?

",.,'"- Voce nada podera fazer, senao ir a ele comigo e

entregar-se confiante em suas rnaos, assim como voce esta.Ele, sim, e que tara tudo por voce.

,.-.,

Contei a ovelha sem pastor, com todos os detalhes,daquele maravilhoso dia em que fui encontrada e salva porele. Como quis fugir e sai correndo em disparada louca,com medo, e fui cair num vale muito profundo e bem emcima de um espinheiro, onde fiquei presa pela minha ta. quese emaranhou toda nos espinhos. Ele foi pacientementeatras de mim e desceu ate la. arriscando sua propria vida,para retirar-me de entre os espinhos, ficando todo arranhadona face, nas rnaos e nos pes, mas conseguiu arrancar-me dela. E, quando 0 fez, ficou tao feliz, que cornecou a cantaralegremente, em alta voz, e, ainda de longe, comec;:ou agritar para 0 seu ajudante, contando-Ihe que me haviaencontrado e que eu estava salva.

A pobre ovelha me ouvia tremula de ernocao e deesperanca, mas nem assim se animava a acompanhar-me,para irmos a presenc;:a do meu pastor. Vendo a sua inde-cisao, pensei em leva-la a forca. se fosse precise. e Ihe disse,com muita firmeza: - Venha agora, e siga-me!

Nao foi precise dizer mais nada. Quando levantamosnossas cabecas e demos 0 primeiro passo. ja meu pastorestava ali. de pe, contemplando-nos com 0 olhar cheio decornpaixao e amor. Ficamos paradas e mudas, sem saber 0

que fazer. Entao ele se curvou, abracou aquela ovelhamal-cheirosa e suja. beijou-Ihe a testa e saiu, levando-a emseus braces.

Eu segui 0 pastor, e vi quando ele entregou a ovelhacarinhosamente ao seu ajudante - que tarnbem ficou

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comovido ao ve-la - recomendando-lhe que a tratasse commuito cuidado, limpasse toda a sua sujeira, alimentasse-a edesse-lhe todos os remedies necessaries. Entregou-lhetambern um frasco com colirio para os olhos e ordenou-lheque a fizesse repousar ate sentir-se bem forte. Ele mesmoexaminou-lhe a pata ferida e extraiu-lhe 0 espinho que amagoava tanto. Notei que a cada oportunidade ela lambia-lhe as rnaos. agradecida. E, quando me viu olhando-a delonge, dirigiu-me urn inesquecivel olhar, cheio de gratidao.

Sai dali muito feliz, quase tao feliz como naquele ines-quecivel dia em que eu mesma passei pela mesma deliciosaexpenencia de ser encontrada e salva pelo meu amadopastor.

Saltitando como urn cabritinho e quase explodindo defelicidade, juntei-me as minhas companheiras de rebanho econtinuei minha refeicao, ha pouco interrompida.

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2

o PREC;O DA OVELHANada me faltara ...

o sol estava quase a se esconder atras da grande monta-nha, quando 0 doce silencio foi bruscamente interrompidopor furiosos gritos, que vinham da planicie. Todas n6slevantamos nossascabecas, curiosas e assustadasao mesmotempo. Meu pastor veio rapido ver 0 que era aquilo.Colocou-se a frente do seu rebanho e ficou a espera. Tiveum pressentimento e fui colocar-me ao lado da ovelharecem-cbegada. que estava repousando num cercado, ondesac colocadas as ovelhas necessitadas de cuidados espe-ciais. Ao seu lado estava uma tina cheia de agua fresca eoutra tina cheia de racao. Junto dela estava 0 ajudante,ainda a ministrar-lhe remedies e colirio nos olhos. Masninguem diria ser aquela a mesma ovelha que havia chegadoaqui pela manha. Sua la ja estava completamente limpa ebrilhante, revelando ser de uma bonita brancura de neve.Nem um parasita, nem um carrapixo a incornoda-Ia. Tive airnpressao de que ela ja havia ate engordado um pouco.

Ao chegar mais perto, notei que a ovelha estava tremendomulto, Ela me falou muito assustada: - E ele! E ele! 0mercenario do meu pastor. Mas como foi que deu faltade mim? Ele nunca percebe quando falta uma ovelha.Estou com tanto medo dele agora, mais do que antes.

- Acalme-se, alguern deve ter contado para ele -respondi, para acalrna-la. Ele esta vindo, nao tanto por suacausa, mas, sim, porque odeia 0 nosso pastor, e nao

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Page 8: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos

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admite perder uma ovelha para ele. Mas fique descansada,que tudo saira bem, e nao precisa ficar assim tao assustada etremendo tanto.

Entao a ovelha choramingou: - E que agora nao supor-taria ter que voltar para junto dele, depois que fui taoamorosamente recebida e tratada pelo meu novo pastor.Nao gostaria jamais de voltar a viver suja, faminta emaltratada como antes. Prefiro morrer.

o homem que vinha gritando tanto era urn sujeito gran-dalhao. mal-encarado e grosseiro, que gesticulava muito eproferia insultos ao nosso pastor, que nao Ihe respondianada, mas estava firme, ereto, calmo e pronto a enfrenta-lo.para defender seu amado rebanho. 0 ajudante veio postar-seao lado da ovelha resgatada. 0 furioso homem chegou eperguntou, vermelho de raiva:

- Como ousaste roubar uma das minhas ovelhas? Apro-veitou quando eu estava dormindo e carregou-a. Se naofosse um amigo meu, que viu e me contou tudo, eu nao teriadescoberto isso nunca.

o ajudante abriu a boca, para explicar que aquela ovelhanao tinha sido roubada, mas 0 meu pastor 0 deteve,dizendo-Ihe baixinho: - Deixa, ele sempre mente assime um grande mentiroso.

- Onde esta minha ovelha? Vim busca-Ial - gritou 0

homem, com mais forca e mais raiva ainda.

Calmamente, meu pastor Ihe perguntou: - Quanto vocequer por ela? Estou disposto a pagar seu preco.

- Ah! voce nao teria coragem de pagar 0 preco que voupedir por ela!

- Quanto? - perguntou 0 pastor. - Voce nao a amavanem cuidava dela. Ela esta magra, fraca e doente. Estava

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Page 9: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos

suja, cheia de parasitas e ferida numa das patas. Por quequer leva-la de volta?

- Voce disse: Estava? .. Entao voce ja a /impou e cuidoude/a, tirando-/he os carrapixos e os carrapatos de sua ia.E/a deve estar agora com muito boa aparencia. Entao youaumentar 0 preco, pois agora ela esta va/endo muito mais.Exijo urn born preco. Ourol Ourol Muitas moedas de ouro.Voce as tern para me dar?

Meu pastor retirou de sob a sua tunica uma bo/sa de couroe, abaixando-se, despejou todo 0 seu conteudo sobre agrama. Eram verdadeiras e muitas moedas de' aura _grandes e re/uzentes.

Seu ajudante juntou as rnaos. muito af/ito, e disse: _a senhor nao pode fazer isso! Nao pode dar tudo isso parae/e, pois sei 0 quanto /he custou ganhar todas estas moedasde ouro. E/as representam arduo traba/ho, muitas lagrimas,suor e sangue.

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- Nao te af/ijas - respondeu 0 pastor - estou disposto apagar; e/a vale para mim muito mais, embora isso representetudo 0 que tenho - todas as minhas economias.

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ITodos estavam pasmados. Quando o/hei para aque/e

bruta homem, seus o/hos estavam esbuga/hados e fixosnaque/as moedas. E/e tarnbem sabia 0 sacrificio que 0 meupastor estava fazendo para comprar aque/a ove/ha e isso /hedava satisfacao, porque e/e odiava muito 0 nosso queridopastor. De um sa/to, e/e se chegou ate as moedas, e, numpiscar de o/hos, juntou-as todas, em suas grandes maos, esaiu correndo, dando garga/hadas, que ecoavam por todo 0

prado. Mais ao longe, ele olhou para tras e gritou: - Naprimeira oportunidade, eu pego novamente essa danadapara mirn.

Encostei-me bem a minha nova companheira e /he disse:- Nao tenha medo. Essemonstro nao a retornara. se vocenao sair de perto do seu novo pastor.18

1*•. '",

A ovelha olhava extasiada para 0 seu novo pastor, e tinhalagrirnas nos olhos, quando me respondeu: - Como podereime afastar dele ou mesmo pensar em abandona-lo. depoisde tudo 0 que ele fez por mim? Quero arna-lo muito, muitomesmo. Segui-Io bem de pertinho e obedecer sempre a suapalavra e a todas as suas ordens. lamais you perde-Io devista, para atender ate 0 mais simples gesto seu. E, se algumdia ele precisar de uma ovelha ou mesmo ate da vida de umaovelha, eu serei essa ovelha. Quero ser-Ihe imensamentegrata e eternamente dele, seja para vida ou para morte.

Eu estava de boca aberta, de tanta adrniracao. larnaishavia ouvido palavras tao lindas na boca de uma compa-nheira, e nem visto tanta devocao e -gratidao. Percebi 0

quanto ela era mais sensivel e agradecida que eu e senti-meum pouco envergonhada por isso. Mas 0 pastor chegounaquele momento e colocou suas maos sobre nossas cabe-cas. e ambas sentimos uma grande ternura invadir 0 nossocoracao. Sentimo-nos muito alegres e felizes.

A ove/ha resgatada confessou-me que todo 0 seu medo eo tremor haviam desaparecido. Agora ela sabia que ninguernmais tinha direito algum sobre ela, pois fora com prada porum bom preco e agora pertencia unica e exclusivamente aonosso bom e querido pastor. Eu Ihe disse que foi exatamenteassim que me senti quando ele me adquiriu e passei apertencer-Ihe.

Depois fomos conduzidas ao aprisco, onde entramos umaa uma, enquanto nosso pastor, a entrada, nos contava eexaminava com muita atencao, para certificar-se se todasnos estavarnos em bom estado de saude e bem-estar.l.a dentro, nos aconchegamos sobre urn monte de palhaslimpas e quentes e ficamos a contemp/ar a grande lua, quesubia no ceu. i/uminando tudo, ate que caimos num pro-fundo sono, cansadas das atividades daque/e dia.

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Eis que pelos vales, montes e ribeiros,Cristo, 0 bom pastor, busca os seus cordeiros.Com bondade imensa, com paciente amor,Quer seguros te-Ios. seu Salvador!

Do meu bom pastor, sou eu cordeirinhoE seguro estou, inda que fraquinho,Quem me arrancara da sua santa rnao.Se entregar a Cristo meu coracao?

Meu pastor comprou-me, dele sou agora,You segui-Io sempre, pela vida afora,Com misericordia. ele me chamou,Com amor profundo, 0 pastor me amou.

Nao com ouro ou prata, nem com diamante,Fui adquirido. e daqui por dianteYou contar a todos que ele me salvou;Com seu pr6prio sangue, ele me comprou!

H.M.W. e M.L.A.

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lL.1r.

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AOS PASTOS E AS AGUAS"Deitar-me faz em verdes

pastos, guia-me mansamenteas aguas tranqililas."

Na manha seguinte, quando acordei ainda muito cedo,meu pastor e seu ajudante ja estavam movimentando-seentre n6s. Notei entao uma ovelha muito inquieta a porta doaprisco, que ainda estava fechada, ansiosa para sair campo afora. 0 pastor tarnbem parece ter notado essa ansiedade,pois levantou a cabeca e disse: - Pureza! Calma, Pureza! Javamos sair daqui.

Ela parou de repente, ergueu a cabeca e fixou nele seusolhos, que brilhavam de alegria. Entao notei por que seusolhos brilharam tanto, com aquela radiante alegria, pois eumesma ja passei por essa doce experiencia. Sei tarnbern 0

que ela estava pensando naquele momento: - Entao jatenho um nome! Ia nao sou uma ovelha qualquer. Meunome e PUREZA! Que lindo nome!

Sim, minha nova companheira chamava-se Pureza. Natu-ralmente nosso querido pastor deu-Ihe esse nome, inspiradona alvura de sua ia. Depois de ter sido lavada e purificadapelo ajudante, ela ficou tao limpa e alva como a neve.

o pastor abriu a porta do aprisco. e saiu. chamando-nospara segui-Io. Pureza saiu muito rapida, e, de cabecaerguida, olhava, ansiosa, para um e outro lado, dando unspassos para la e outros para ca. sem saber que direcao

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Page 11: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos

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Andamos, seguindo OS trilhos da montanha, numa longacaminhada, ate que 0 sol se ergueu no horizonte. De vez emquando, Pureza me dirigia urn olhar interrogativo e aflito. Euprocurava transmitir-Ihe minha tranqUilidade e confianca.dizendo-Ihe: - Espere e confie. Ela dizia sim, com um levesinal de cabeca. e continuava, firme, seguindo as pegadasde nosso pastor. De repente, ao dobrarmos uma curva docaminho, ela estacou 0 passe e arregalou muito os olhos,cheios de admiracao. Eu ja estava acostumada com essassurpresas e esses lindos cenarios. mas tarnbern fiquei exta-siada com 0 panorama que se descortinava aos nossos olhos:um imenso pasta verde, que se perdia de vista, de um verdevivo e brilhante e aquele gostoso cheiro de erva fresca, tenrae ainda urnida do orvalho da madrugada. Aquele era 0 pastamais belo, mais farto e cheiroso que me us olhos ja viram ateC=~~ aquele dia.'-----"' ~ I 23

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tomar. Fui ate on de ela estava e perguntei-Ihe 0 motivo detanta ansiedade. Ela respondeu-me: - Estou vendo se avistoum pasto bem verdinho, para matar a minha fome. Sabe quehoie estou com um apetite voraz?

- Eu sei, companheira, mas agora voce nao precisapreocupar-se como antigamente, quando voce ainda esta~acom aquele pastor mercenario. Deixe essa preocupacao como nosso pastor. Ele sabe onde existem os melhores pastospara nos. Voce 0 rnagoara se ficar assim ansiosa e decidida aprocurar pastos por voce mesma. Confie nele, espere eobedeca as suas ordens. Siga sempre atras dele, atenta a suavoz, e tudo dara certo com voce. Compreendeu, Pureza?

Pureza respondeu que sim, e seguiu lado a lado comigo etodo 0 rebanho. Nosso pastor ia a frente, e os dois caes-pastores seguiam - um a direita e outro a esquerda dorebanho - atentos ao menor sinal de perigo e prontos parabuscar qualquer ovelha desobediente que tentasse extraviar-se.

Page 12: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos

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Pureza nao perdeu um segundo. Abaixou 0 focinho ecornecou a comer como se nunca tivesse comido em toda asua vida. Comia com tanta avidez e gulodice, que chegava aengasgar-se. Eu nao sabia se comia ou se a observava, taoadmirada estava com aqueles seus modos de comer, ate quenao me contive mais e fui ate onde ela estava.

- Ola. Pureza, esta gostando?

Ela estava com a boca tao cheia, que nao pode responder-me. Apenas emitiu um som como um fraco balido econtinuou comendo, sem ao menos levantar a cabeca. paraver quem estava falando com ela. Fiquei um pouco desa-pontada e falei mais firme: - Pare de comer assim, Pureza!Desse jeito voce vai acabar sentindo-se mal. Por que tantapressa e gulodice?

Pureza olhou-me muito espantada e disse: - Mas nao egulodice, Perola. Estou sendo previdente. E se vierem outrospastores e nos enxotarem daqui, para darmos lugar a outrosrebanhos? E as feras, que ja devem estar rondando por ai. eem breve nos atacarao?

Entao entendi 0 motivo desse procedimento. Purezatinha medo, como se aquele pasta pudesse desaparecercomo que por encanto, e estava se abastecendo 0 maisdepressa que podia.

- Escute, Pureza. De agora em diante, nunca mais VaGfaltar, para voce ou para nenhuma de n6s, muitos pastosverdejantes como este, durante todos os dias de nossa vida.Estes pastos sac da propriedade de nosso pastor. Outrospastores jamais teriam 0 direito ou 0 atrevimento de viremreclamar estes pastos ou nos enxotar daqui. Ele possuimuitos pastos como este e ate melhores, e que voce aospoucos ira conhecendo. Ele possui mais 999 colinas verde-jantes e perfumadas como esta. E, quanto as feras, ele jatomou todas as providencias e esta sempre atento ao menorsinal de aproxirnacao delas. para defender-nos.24

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Entao nao precisamos ter pressa nem medo algum?

Nao, nao precisamos. Pode comer com calma e sere-nidade, apreciando 0 sabor de cada bocado deste alimento,e aprenda a confiar mais no seu novo pastor.

Pureza disse que sim, agradeceu, e saiu mais calma, acomer, misturando-se com as outras ovelhas do rebanho. Eucomi 0 suficiente e me deitei sobre uma moita de relvafresca e macia, para remoer tudo 0 que ia havia engolido.Estava muito tranqUila e quase a cochilar, quando Purezaaproximou-se novamente de mim. Ela olhou-me muitointrigada e disse:

_ Perola. como voce pode deitar-se sobre essa relva taoverdinha e gostosa. neste pasta tao lindo, e nao aproveitartodo 0 seu tempo para comer e se abastecer bem?

Fiquei um pouco impaciente com 0 que Pureza disse,olhei bem para ela e Ihe disse, bem devagar, para queminhas palavras pudessem penetrar fundo na sua mente efazer algum efeito, e gabei-me:

_ Eu posso deitar-me sobre a relva verde destes pastos. Apresence do meu pastor me faz deitar tranqU i lamente emtodos os pastos, porque EU SEI quem e 0 pastor que tenho eque me tern a mim. Eu confio nele 0 bastante para comerhoje e me satisfazer, porque sei que arnanha. ou hojemesmo, se eu sentir vontade de comer, nao me taltaraalimento. Nao precise proceder como certas ovelhas, queestao sempre duvidosas das riquezas e capacidades de seuspastores. Vamos! Continue comendo, ate se rebentar de

comida!

Pureza compreendeu a li<;:ao, baixou a cabeca e disse. urnpouco envergonhada: - Estou custando a aprender, 'nao emesmo, Perola? Tenha oaciencia comigo, que urn dia sereiconfiante e tranquila como voce.

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Page 13: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos

- Eu sei, Pureza, desculpe-me, mas voce ainda naoconhece muito bem quem e a pessoa que a comprou e quemuito a ama e e toda vigilante em cuidar de voce.

Pureza deitou-se ao meu lado, pensativa, e pas-se aruminar 0 que ja havia comido. Ali ficamos durante algumtempo, apreciando 0 trabalho do pastor, de seu ajudante ede seus caes. que iam e vinham, ora buscando um cordeiroque se ia extraviando, ora acudindo uma gorda ovelha quese virou de costas e que nao conseguia se desvirar, oraenxotando alguma fera que estava tentando aproxirnar-se dorebanho para agarrar alguma ovelha descuidada ... e a luta etodo aquele trabalho eram incessantes.

De repente, Pureza se pas de pe e ergueu a cabeca. comoque procurando alguma coisa mais distante. Ela virava acabeca para todos os lados, di latando bem as narinas.

- Que foi agora, Pureza? - perguntei-Ihe.

" Estou vendo se avisto alguma agua por aqui. Estoumorrendo de sede e acho que you ver se encontro algumriacho ou alguma poca de agua aqui por perto.

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Desta vez perdi a paciencia e respondi a Pureza aspera-mente: - Entao va Va rapidol E tomara que voce ericontrenao um riacho ou uma poca de agua para matar sua sede,mas uma fera bem faminta que a devore em poucosminutos. E, quando estiver em apuros, nao comece a gritarpor socorro.

Pureza olhou-me tao surpresa e desapontada com essaminha expressao, que senti pena dela. Pedi-Ihe desculpas efalei-Ihe mansamente:

- Ouca aqui, Pureza. Eu tarnbern estou com sede, masnao somente eu e voce estamos com sede. Todo este reba-.nho esta. Voce e uma recern-chegada e a ovelha maisnovata do rebanho. Entao deve observar 0 comporta-26

~~

mento das ovelhas mais anti gas e seguir nosso exemplo.Note que todas estao tranqUilas, aguardando que 0 pastornos chame e nos conduza, ele mesmo, a uma boa e frescaagua. Sem pressa, sem atropelo, ele nos guiara mansamen-te para abundantes aguas tranquilas, onde poderemos bebertoda a quantidade que quisermos. Antes de sentirmos sedeou pensarmos em agua, ele ja esta pensando e sabendo queestamos precisando dela.

-Mal havia eu acabado de pronunciar estas palavras, nossopastor ergueu a sua voz e chamou-nos para segui-lo. Purezadisse-me baixinho:

- Puxa! Ate parece que ele ouviu 0 que voce estava a medizer.

- Nao, ele nao ouviu. E como eu Ihe disse: Ele sempresabe quando estamos com fome, com sede, com medo, ouprecisando de alguma coisa para 0 nosso bem-estar.

- Eu nao entendo ... eu nao entendo - dizia Pureza,muito baixinho, como que falando consigo mesma.

- 0 que e que voce nao entende, Pureza?

- Hem? Ah! Nada, nada! Eu estava pensando alto. Isto e,eu nao entendo uma coisa ... mas nao quero que voce nemninguern me explique, pois querover se consigo descobrirpor mim mesma, nern que seja precise ficar acordadadurante muitas noites, pensando e pensando, ate descobrir.

- Esta bem, seja como voce quiser, mas se nao descobrirpor si mesma, e precisar de uma ajudazinha ... conte co-migo.

- Oba! Estamos chegando perto da nossa agua - dissePurez a. apressando os passinhos, com a cabeca bem ergui-da, a farejar 0 ar.

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Page 14: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos

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Apurei meus ouvidos e pude ouvir 0 som de aguasencachoeiradas. Quando me virei para explicar aPureza queaquela nao era a nossa agua, ela ja ia longe a correr la nafrente. Dei um suspiro de desanirno e deixei-a ir. Achei queseria bom e que ja era tempo para ela experimentar umavarinha do pastor. Fiquei a observa-la. Quando estavamosaproximando-nos da cachoeira, ela tentou passar a frente dopastor e se foi dirigindo para as aguas turbulentas. Mas ele,sempre atento, foi atras dela e... aplicou-Ihe uma varadinhano espinhaco. Pureza assustou-se e rapidamente voltou aorebanho, misturando-se entre suas companheiras, desapon-tada e envergonhada.

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Aproximei-me de Pureza e disse: - Viu 0 que Iheaconteceu? Podia bem ter passado sem essa. Coloque isto nasua cabecinha: Uma ovelha obediente nunca tenta passar afrente do seu pastor, por motivo algum. Nos temos que seguirseus passos. e nao ele seguir os nossos.

- Mas nos ja estamos passando por estas aguas e eleainda nao nos deu ordem para beber nem para parar aqui.

- E porque ele sabe que estas aguas nao servem para assuas amadas ovelhas. Ele conhece todas as aguas e sabe paraquais aguas nos esta conduzindo. Voce vera.

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Notando que Pureza continuava calada, perguntei-Ihebondosamente: - Doeu-Ihe muito a varada? - Oh! nao! -respondeu ela. - Ate parece que ele nao a deu para quedoesse, mas apenas para me alertar, mas estou morrendo devergonha. Logo eu, que prometi a mim mesma que seria aovelha mais obediente a ele. Como pude proceder tao tola-mente, como uma ovelha que nao confia nem espera peloseu pastor?

- Nao fique triste, Pureza. Valeu a experiencia: mas daproxima vez tome cuidado, pois ele dara a varada para doermesmo. Ja passei por essas experiencias, mas espero quenunca mais ele precise disciplinar-me. Sou muito vigilantepara nunca sair do caminho certo.28

Um pouco mais adiante, ao dobrarmos uma curva, depa-ramos com urn lindo remanso de aguas limpidas e mansas.Nosso pastor parou ali e deixou que 0 rebanho seguisse ateas margens. Alegremente, nos acercamos daquela aguagostosa e fresca e dela bebemos ate nos sentirmos comple-tamente satisfeitas. Olhei para Pureza. Ela havia entrado naagua ate os joelhos e estava bebendo sofregamente, como senunca em sua vida houvera provado aguas tao boas e gosto-sas como aquelas. De fato, nunca havia mesmo. Pensei,compadecida: Quanta sede esta pobre criatura deve tersofrido antes de encontrar-se com 0 nosso pastor! Penseitarnbern nos milhares de ovelhas de outros rebanhos, que,como Pureza, nunca experimentaram a felicidade de conhe-cer e provar um pouco de agua pura, fresca e cristalinacomo as aguas que nosso sabio pastor nos da diariamente abeber. Ah! se elas quisessem e pudessem vir, ao Bom Pastor,como Pureza veio, e eu mesma vim! Viessem desejosas, aprocura de bens maiores, melhores e mais preciosos do queaquilo que elas conhecem ou possuem! ...

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DaCE REFRI.G~RIO"Refrigera a minha alma,

guia-me pelas veredas da [ustica,por amor do seu nome."

Depois que todo 0 rebanho ja havia bebido bastante ematado sua sede, 0 pastor chamou-nos novamente e conti-nuamos a caminhada, seguindo sempre atras dele. Eleguiou-nos par um caminho dificil e pedregoso, e na rnaioriadas vezes era em subidas nao muito agradaveis. Mas ele iasempre a nossa frente, guiando-nos mansamente, devagar ecom muito cuidado, para que nenhuma de nos tropecassenas pedras. Eu ja conhecia aquele caminho, par ja ter pas-sado por ele varias vezes, e sabia que era 0 caminho pre-ferido pelo meu pastor, e sabia ate que era conhecidocomo "vereda da iustica". embara alguns 0 chamassemde "caminho direito", porque. apesar de ser dificil cami-nhar por ele, levava a ovelha diretamente a um lindo lugar,onde esta construido um aprisco de altos muros, fortes eresistentes, impedidos de serem escalados par qualquerassaltante ou animal feroz.

Comecei entao a recardar a primeira vez em que passeipor aquele caminho. Como eu 0 havia detestado e como, aosentir-me cansada, duvidei um pouco do conhecimento domeu pastor que, segundo me contaram, conhecia t090S osbons e maus caminhos daquelas regioesl Houve ate umcerto trecho do caminho em que parei um pouco, paradescansar, e pensei: Desta vez ele enganou-se mesmo eerrou 0 caminho. E, quando ele tambern parava, a fim de dar

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tempo, ao rebanho, para descansar por uns momentos,julguei que estava indeciso se deveria continuar ou naonaquele caminho. Mas, depois de uns instantes de descan-so, ele prosseguie a frente, mais firme e resoluto do queantes.

Recordando Esses fatos, pensei em Pureza. 0 que estariaela pensando desse caminho? Ela. que 0 estava trilhandopela primeira vez. Estaria pensando e julgando 0 mesmo queeu. quando 0 atravessei pela primeira vez?

Olhei ao redor, procurando Pureza com 0 olhar. mas naoa vi por al i. Fiquei muito preocupada, porque me lembreique um pouco mais adiante este caminho cruzava comuma Estrada muito bela e atraente. Era uma Estrada larga,ladeada de relva florida e com lindas arvores as rnargens,on de passaros de lindas plumagens cantavam belas melo-dias. Esquilos e coelhinhos brancos brincavam a beira daEstrada. Algumas ovelhas perdidas e extraviadas eram sem-pre vistas por a!i. vagueando sem rumo por aquela atraenteEstrada. Era urna Estrada muito tentadora tarnbern. porquenela nao havia pedras nem subidas. como havia naquelecaminho que estavarnos trilhando agora. Lembrei-me decomo eu havia ficado surpresa e deslumbrada ao avistar.pela primeira vez. aquela estrada, e de como senti uma fortetentacao de deixar a "vereda da iustica". para seguir por ela.E, se nao 0 fiz, foi porque eu ja havia sido muito prevenida ealertada por' outras ovelhas, mais antigas e experientes, quenaquela Estrada tudo era falso e enganador. Por baixo decada moita verde de capim uma cobra estava enroscada, aespera do caminhante, com 0 bote armado para pica-Io.Atras daquelas belas arvores ocultavam-se feras famintas eprontas para atacar e devorar qualquer ovelha que chegasseperto. Em muitos locals. que pareciam tao atraentes, haviaareia movedica. que tragava as ovelhas em poucos minutes.sem ninguern que as pudesse socorrer. Receosa, sai aprocura de Pureza, para preveni-Ia do perigo. mas ela estavamuito distante, a minha frente, e 0 rebanho ja comecava aatravessar aquela estrada, seguindo diretamente atras do32

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nosso pastor. De longe, pude ve-la com olhar fascinado,tomando a direcao daquela fatal e perigosa estrada. Ela ia

\ seguindo, caminhando e caminhando, como que hipnotiza-da por toda aquela beleza, a sua frente. Quis correr arrasdela, para traz e-la de volta, mas tive receio de que meupastor pensasse que eu tambern estava a me desviar docaminho. Berrei e berrei, chamando por ela. mas nao meOUVIU.

o nosso vigilante pastor pressentiu 0 perigo, parou paraobservar 0 rebanho, e notou logo que Pureza estava seextraviando. Num relance, ele a alcancou e, passando acurva do seu cajado ao redor do pescoco dela. trouxe-anovamente ao caminho direito. E, quando ja estavam che-gando perto do rebanho, ele aplicou-Ihe uma forte varadanas costas. Pureza gemeu de dor e embarafustou-se porentre as outras ovelhas, procurando esconder-se 0 mais quepodia.

Tentei aproximar-me de Pureza, mas ela parecia muitoenvergonhada e estava escondendo-se de mim. Nao Iigueipara aquela atitude dela e continuei perseguindo-a e procu-rando falar-Ihe, ate que, em dado momento, conseguipega-!a bem a jeito. e fui caminhando ao seu lado. sem falarno assunto, esperando que ela mesma se decidisse a falar.Ela, porern. seguia tao tristonha e cabisbaixa que senti penadela. Notei que a cada instante ela meneava a cabeca esoltava um gemido. Estava com 0 semblante tao decaido,que parecia estar doente. Todo um longo tempo em quecaminhei ao seu lado, ela nao ergueu a cabeca uma unicavez.

A tristeza de Pureza contagiou-me de tal forma quecomecei a sofrer com ela. Nao suportando mais, falei: -Por que tanta tristeza, Pureza? Doeu-Ihe tanto assirn avarada que 0 pastor Ihe aplicou?

- Doeu muito mais do que voce possa irnaginarrespondeu Pureza. - Mas nao doeu no lugar onde ele deu

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Page 17: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos

aquela varada, doeu muito, mas foi la dentro do meucoracao. A minha alma esta ferida e arrasada. Que vergonhaestou a sentirl Ele, 0 meu bondoso pastor, precisou usar avara em mim por duas vezes, em um mesmo dial Agoraacabou-se, sei que ele nao me arnara mais. Agora ele ja deveestar arrependido por ter pago todas aquelas rnoedas deaura para comprar uma ovelha tola como eu. Nao valhonada mesmo. 0 que eu merecia era pertencer aquele antigoe mau pastor, nao a um pastor maravilhoso como este. Eugostaria de morrer agora e sumir de sua presenca. Nuncamais poderei encarar a face dele como antes.

- Nao fique assim, Pureza - disse-Ihe com firmeza. -Nunca duvide do amor dele por voce. Ele a ama hoje maisdo que no dia em que a comprou, pois agora voce pertencea ele e somente a ele. Se ele a foi buscar naquela estrada eIhe deu aquela forte varada, e justamente porque a ama equer 0 seu bem. Se ele nao a amasse muito, teria deixadovoce la, com aquelas ovelhas vadias e sem dono, queestavam vagando, sem rumo, por aqueles caminhos perigo-50S, e que a estas horas ja devem estar mortas, picadas pelascobras ou devoradas pelas feras que se escondem naqueleslugares.

. - Deixe-me, Pero!a. eu sei que voce esta dizendo estascoisas para me animar e consolar. Eu Ihe agradeco muito,mas nao posso acreditar nestas suas palavras. Ele nao podeme amar agora, depois do que fiz, pois nao mereco 0 seuamor. Eu vi 0 semblante dele quando me arrastou daquelaestrada com 0 seu cajado. Estava zangado como nunca 0

vira antes.

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Eu estava sofrendo, com pena de Pureza, e fiquei a pensaro que fazer para convence-Ia de que 0 amor do pastor porela continuava 0 mesmo, e eu estava tao absorta em meuspensamentos que nem notei que ela ja ha muito havia seafastado de mim. Onde estaria? Olhei ao meu red or e nemsinal dela. Pouco depois chegamos ao aprisco, mas nao vi, .

Pureza. Naquele instante, vi 0 pastor passar por nos. cha-mando-a: - Purez a! Pureza! Onde esta voce?34

Ele parecia muito preocupado, olhando para todos oslados, chamando-a, mas nem um balido dela vinha como.resposta, Eu tarnbem fiquei muito aflita e fui atras dele,conservando uma certa distancia, para que ele nao menotasse. Mas nao foi precise andar muito. Ele a encontrounum buraco atras de uma pedra, deitada, com 0 focinhoentre as patas dianteiras, triste e abatida. Ouvi quando ele,abaixando-se e afagando-Ihe a cabecinha, disse baixinho,para conforta-Ia: - Venha ca. Pureza. Voce esta cansada etriste. Eu a levarei nos meus ombros.

Assim fa lando, colocou-a nos seus fortes ombros e levou-a para 0 aprisco, colocando-a sobre uma pilha de palhalimpa e macia. Tirou de seu cinto um frasco com 61eo eungiu-Ihe a cabeca e todo 0 corpo. enquanto falava-Ihepalavras de ternura e conforto. Depois beijou-Ihe a testa efoi cuidar de outras ovelhas, que tarnbern precisavam dosseus cuidados.

Quando me aproximei de Pureza, mal a reconheci. Seusgrandes olhos brilhavam novamente, com um brilho maisintenso do que antes. Ela estava tao emocionada que malpodia falar. A muito custo pode dizer-rne: - Ele ainda mearna. Perola. Ele ainda gosta de mim! Como foi gostoso sercarregada nos ombros do meu pastor! Quanto me sentisegura e muito amadal Voce tinha razao. pois. apesar domeu erro, ele continua amando-me como antes. Estou taoalegre! Minha alegria hoje e mais forte do que aquela quesenti no dia em que ele me comprou. Ele deu-me 0 seu beiiode perdao Meu coracao esta saltando de gozo e minha almaesta refrigerada e que doce refrigerio! Oh! que bondoso eamado pastor! .

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"Ainda que eu ande no vale dasombra da morte, nao temerei

mal algum, porque tu estascomigo. A tua vara e 0 teu

caiado me consolam."

Acordei muito cedinho hoje. Apenas cornecava a alvore-cer 0 dia eo nosso pastor e seu ajudante ja estavam ativos,no meio do rebanho, indo e vindo de urn lado para outro,acudindo as ovelhas com seus cordeirinhos recem-nascidose fazendo preparativos necessaries para uma longa cami-nhada. Ouvi 0 pastor dizer, para 0 companheiro, que jaestava na epcca de nos conduzir para 0 aprisco de inverno,pois as primeiras tempestades de neve nao tardariam a cairoFiquei arrepiada 56 em pensar na neve gelada caindo no meufocinho e grudando na la do meu corpo. Mas, em com pen-sacao. lembrei-me daquele delicioso lugar, chamado apris-

. co de inverno, e desejei estar 103.. Porern, para chegarmos la,tinhamos que enfrentar duas coisas desagradaveis: umalonga e dificil caminhada e a travessia do vale escuro, ou,como alguns 0 chamavam, "0 vale da sombra da morte". Naoque eu tenha medo de atravessa-Io. em bora quase tenhamorrido de medo, quando 0 atravessei pela primeira vez,mas hoje eu sei que nao ha 0 menor motivo para terne-lo,pois 0 nosso forte pastor sempre 0 atravessa com 0 rebanhoe esta constantemente ao alcance de qualquer ovelha quedele necessitar. Vai conosco, encorajando-nos com suaspalavras e ajudando as ovelhas mais fracas e medrosas asaltarem as valas ou a contornarem aquelas pedras maioresdo fundo do vale.

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Page 19: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos

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A porta do aprisco onde passamos a n.oite foi aberta e 0

rebanho foi conduzido para fora, a fim de pastar ate a horade permo-nos a caminho. Enquanto pastavarnos, pensei queseria bom colocar Pureza a par das dificuldades que iriamosenfrentar naquele dia, mas, como nao a vi ali por perto, naoquis sair a procura-Ia, pois queria comer bastante e estarbem alimentada, para enfrentar a longa e perigosa caminha-da daquele dia.

Algumas horas depois, quando 0 nosso pastor achou queja deviarnos ter comido 0 suficiente, ele se colocou a frentedo rebanho, segurando firme a sua vara e 0 seu cajado, echamou-nos para segui-Io. A rnanha estava fria e nao haviasol, pois 0 ceu estava muito nublado e cinzento.

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Ja haviarnos caminhado um bom trecho do caminho,quando Pureza veio caminhar ao meu lado. Ela perguntou-me por que nao haviamos ficado todo aquele dia naquelepasta tao verdinho e gostoso que havia perto do aprisco eperguntou-me tambern para onde 0 pastor estava nos le-vando.

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Expliquei a Pureza que 0 inverno estava chegando, e 0

pastor, como sempre, estava nos levando para passarmos 0

tempo frio em um dos seusapriscos mais bonitos e conferta-veis que ja vi e desfrutei. Ela saltou de prazer, mas diminuiuum pouco 0 seu entusiasmo quando Ihe disse que 0 talaprisco ficava muito distante daqui e que ela se preparassepara atravessar 0 vale mais escuro e triste, que jamais viraem toda a sua vida. Ao ouvir isso, ela se mostrou muitoassustada, mas eu a acalmei, dizendo:

- Pureza, voce nao precisa sentir medo de nada. Sevocese conservar junto do rebanho, sem se desviar um 56 passo,nem para a esquerda nem para a direita, seguindo sempreatras do nosso pastor, procurando conservar-se sempre bempertinho dele, voce vai ver e sentir 0 quanto e gloriosoenfreruar tantos perigos, passando por eles todos sem sermolestada por nenhum dos males que infestam aquele lugar.Voce vai ver 0 quanto 0 nosso querido pastor vai pelejar por38

n6s, evai sedesdobrar em cuidados, atencoes e carinho pelorebanho durante todo 0 nosso trajeto. Voce ira conhecer

, melhor 0 quanto ele e forte e corajoso!

Os olhos de Pureza brilhararn de curiosidade e excitacao epareceu-me ate que ela estava com pressa de chegar la.

Dai a pouco 0 caminho comecou a se estreitar mais, elogo rnais adiante nos conduzia a entrada de uma grandegarganta, apertada entre dois altos rochedos, e, a medidaque avancavarnos. ia-se tornando mais escura e apertada.Pureza veio se encostar em mim, quase empurrando-me,enquanto caminhavamos, e pude notar que estava todatrernula. Entao eu disse para ela: - Nao tenha medo,Pureza, nada de mal nos sucedera aqui. Ja atravessei estevale muitas vezes e por isso posso Ihe garantir que vocechegara sa e salva ao aprisco de inverno do nosso pastor.

Agora caminhavarnos mais devagar, devido as pedrasescorregadias e outras dificuldades. Bandos de aves derapina voavam la em cima, escurecendo ainda maisaquelatenebrosa garganta, e algumas aguias ja estavam pousadas edevorando incautas ovelhas que tinham perecido ao tenta-rem atravessar sozinhas aquele vale escuro e cheio deperigos. Todo 0 rebanho e ate mesmo os cordeirinhosestavam silenciosos, somente ouvia-se 0 nosso tropel e a vozdo pastor, que nao cessava de nos dirigir palavras de animo,transmitindo-nos coragem e forcas para prosseguir.

De cada lado daqueles penhascos, jaziam varias ossadasde ovelhas que ja haviam sido devoradas pelos lobos ecoiotes famintos, que abundavam naquela regiao. A tempe-ratura estava caindo muito e, para completar as dificulda-des, uma chuvinha gelada cornecou a cair. Pureza tropecavaa cada minuto, cada vez se aconchegando mais a mim. Elatremia e respirava forte, confessando que estava com muitomedo. Eu Ihe disse baixinho:

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- Veja quem esta bem ao seu lado. Ela olhou e deixouescapar um suspiro de alivio. Era 0 nosso pastor. Levementeele colocou seu cajado sobre a cabeca dela e foi andando aoseu lado por um longo trecho, conservando sempre 0 cajadonaquela posicao. Esse contato transmitiu-lhe coragem, for-(as e uma grande e intima alegria. Notei isso quando a vicom os olhos brilhantes de alegria e ja sem nenhum medo.

Pouco depois avistamos 0 grande aprisco de inverno, queficava num planalto. Iniciamos a subida da colina, e logochegavarnos la.

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NO APRISCO DE INVERNO"Preparas uma mesa perante

mim, na presenca de meusinimigos. Unges a minha

cabeca com oleo e 0 meucalice transborda."

Ainda era dia quando chegamos ao aprisco de inverno,mas 0 ceu estava tao escuro, que parecia estar ja anoitecen-do. Por isso, sentimo-nos aliviadas e contentes, quando 0

nosso pastor nos conduziu finalmente atraves do grandeportae do aprisco e por ele entramos, exaustas, mas alegres,por havermos chegado todas sas e salvas, sem faltar nenhu-ma de nos. Um pouco antes de subirmos a ultima colina,para chegarmos ao aprisco, haviamos feito uma parada noprado, ao pe da colina, onde havia urr a abundancia taogrande de relva verdinha e tenra, que poderiamos ter ticadola todo esse inverno, comendo sem parar, e nao consegui-riamos dar conta nem da metade daqueles pastos. Portanto,chegamos ao aprisco bem alimentadas, mas estavarnosainda encharcadas daquela chuvinha fina que nos pegou notrajeto, e nos sentiamos geladas.

Percebi que 0 aprisco de inverno era ligado a casa grandedo nosso pastor e que ele e seu ajudante podiam transitar dacasa para 0 aprisco sem precisar sair na chuva ou na neve -que logo depois de nossa chegada cornecou a cair delevinho, branquejando tudo ao redor da casa e do aprisco.Crandes fogueiras foram acesas nos quatro cantos do apris-co, que logo ficou quentinho e contortavel. Em pouco

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Page 21: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos

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tempo a nossa la ficou enxuta e ja nao sentiamos frio. 0pastor pessoalmente examinou-nos uma a uma, ungindo

\ nossa cabeca com oleo especial, e examinando nossaspatas, a fim de retirar del as as pedrinhas e espinhos que por-ventura tivessem se encravado nelas. Depois, aquecidas econfortadas, deitamo-nos sobre 05 montes de palha limpa eficamos a ruminar ate adormecermos.

Notei, sem nenhum temor, que 05 lobos e outras feras quenos haviam seguido de longe, estavam agora a rondar 0

aprisco, procurando em VaG uma brecha para penetrarem.Alguns deles tentavam escalar 05 altos muros que nosprotegiam, mas sem resultado algum. Os apriscos de nossopastor sac a prova de assaltos de ladroes e de feras. Elasuivaram, famintas, toda a noite. Quando alguma chegavamuito proxima, uivando e assustando 0 rebanho, 0 pastor selevantava e, com sua arma, abatia uma ou duas, e as outrasfugiam amedrontadas, para voltarem novamente com seusuivos e com maior desejo de tragar algumas de nos depois.

Na manha seguinte, ainda continuava a nevar, e a neveque caiu durante a noite havia bloqueado 0 portae a altura

de uma de nos.

Pureza aproximou-se de mim com ar de muita preocupa-cao e desasossego. Perguntei-Ihe se ela ainda estava commedo dos lobos, que ainda nao tinham perd ido a esperanc;:ade conseguir uma refeic;:ao a custa de uma de nos e conti-nuavam rondando 0 aprisco. Ela disse que nao. que ia estavaate se acostumando com a presence dos lobos e ja haviaperdido todo 0 medo de ser devorada par eles, pois,conhecendo a torca e 0 cuidado do nosso pastor, achava serirnpossivel que alguma ovelha deste rebanho fosse devoradapor essas fer as,

Entao 0 que e7 Por que toda essa ansiedade7

Voce nao vai ficar aborrecida nem zangacla comigo seeu Iho disser? - perguntou timiclamente Pur eza

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Page 22: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos

- Nao, Pureza, pode contar-me a causa de sua preocu-pacao. que eu prometo aiuda-Ia no que puder, sem meaborrecer ou ficar zangada.

- Bem, entao vou-Ihe confessar que estou com muitomedo da fome. Ontem, quando chegamos aqui, notei quehavia muita erva verdinha ao redor deste aprisco, e pensei:Arnanha. quando 0 nosso pastor abrir 0 portae. quero saircorrendo e comer muita quantidade dessa erva tenra egostosa. Mas hoje, ao acordar, que decepcao! Nem sinal decapim, tudo foi coberto de neve, branquejando tudo la fora.Veja quanta neve caiu sobre os nossos verdes pastes.

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i::'fiII Eu a ouvi em silencio, sem interromper Pureza uma unica

vezinha. Como sernpre. a sua grande preocupacao entao eraa comida. Calmamente Ihe respondi: - Pureza, quantasvezes terei de Ihe pedir que nao se preocupe com coisas quenao sac de nossa responsabilidade? N6s possuirnos umpastor que e 0 melhor do mundo. Deixe todas essas suaspreocupacoes nas rnaos dele. Ele cuidara de n6s aqui taobem quanto ja cuidou em todo lugar por onde ele nos temgu iado ate hoje, desde que passamos a pertencer a ele. JaIhe disse mi I vezes que jamais sentiremos falta de coisaalguma. Pena e que voce ainda nao quisesse convencer-sedisso e esta perdendo a oportunidade de ser uma ovelhaalegre, despreocupada e feliz. Conforme Ihe prometi, naofiquei zangada com voce por me haver revelado suaspreocupacoes inuteis. mas yOU dar-Ihe um pequeno castigo,deixando de Ihe revelar como e que 0 nosso pastor faz paranos manter bem alimentadas aqui no aprisco de inverno, jaque vamos ficar sem relva verde par alguns dias. Voce teraque adivinhar ou descobrir par voce mesma, se nao tiverpaciencia de esperar ate a hora da refeicao. para entaoobservar como e que ele vai suprir as suas necessidades.

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Mal eu acabara de falar, e 0 pastor entrou, juntamentecom seu aiudante. trazendo grandes vasilhas de madeira ede barro, semelhantes a grandes calices, espalhando-as par

_ todo 0 aprisco. Depois transportaram, da casa grande,44 .

dezenas de sacos de racao, os quais iam abrindo e entornan-do 0 conteudo dentro dos calices, ate transbordarem. Mal-acabavam de encher um vaso, e ja algumas ovelhas 0

rodeavam, saboreando aquela gostosa racao. tao saborosa echeirosa quanto aquela erva verde que foi coberta pela neveque caiu durante a noite. Foi ela mesma quem comentouisso comigo. Depois de encherem todos os vasos de madeiraate transbordarem de racao. foram buscar agua fresca ecristalina e encheram os vasos de barro, ate transbordarem.Comemos e bebemos ate nos fartarmos e ainda sobrou muitaracao e muita agua. Mais a tardinha, os vasos foramcheiosnovamente, com outro tipo de refeicao, ainda mais gostosado que a primeira. Enquanto nos alirnentavarnos. os lobosfamintos continuavam a nos observar. uivando e rodeando acerca, mas ja nenhuma de n6s dava atencao aos seus uivos einvestidas.

Nos intervalos das refeicoes. quando nos acomodavarnospara remoer, 0 pastor examinava a nossa la, retirando delasos parasitas, carrapixos, carrapatos e outros insetos queporventura estivessem a sugar 0 nosso sangue.

Naquela noite, quando eu ja estava quase pegando nosono, ouvi Pureza murmurar, para si mesma, aquela frase desempre: Nao entendo ... nao consigo entender ...

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Page 23: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos

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A CASA GRANDE"Certamente que a bondade e a

misericordia me seguiraotodos os dias da minha vida, e

habitarei na casa do Senhorpara todo 0 sempre."

A casa grande do nosso pastor, que e ligada ao nossoaprisco, e uma verdadeira fonte de coisas boas, preciosas enecessarias a nos, suas ovelhas. Sempre que ele, ou 0 seuaiudante, sai de la, vem trazendo alguma boa dadiva para 0

rebanho. Ora e um oleo especial, que ele aplica em nossascabecas ou em nossos focinhos, para afugentar algunsinsetos que nos incomodam muito, ora sac frascos de umsaboroso vinho, que eles distribuem com as ovelhas querevelam sinais de fraqueza ou que estao enregeladas peloexcesso de frio, ora sac fardos de racoes, especialmentepreparadas, com vitaminas e outras substancias. que nosfortalecem e nos imunizam de doencas proprias do inverno.E assim e um nunca mais acabar de coisas boas e necessa-nas.

As vezes, 0 pastor vem apenas pelo prazer de nos fazercompanhia, pois notamos que ele gosta muito de estar como seu rebanho. Muitas vezes, ele senta-se num banquinho,ao lado da fogueira, e fica por longas horas a tocar a suaflauta, emitindo sons melodiosos, que apreciamos muito.Ficamos quietas, deitadasaos seus pes, ouvindo-o tocar.Mas os momentos de que eu mais gosto sac aqueles em queele converse com suas ovelhas. Ele tala-nos como se fosseum de nos:

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Page 24: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos

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- Pureza - diz 0 pastor - voce hoje esta tao brancacomo a neve que cai 1,1 fora ... E voce, Perola. comeubastante hoje? Ontem notei que voce pouco se alimentou ...Candura, hoje voce esta muito preguicosa. so quer ficardeitada e cochilando 0 dia todo ...

I1550 0 pastor nos diz, acariciando-nos ou puxando-nos

levemente as orelhas. Nota-se que ele sente muito prazer emouvir 0 balido de suas ovelhas. Ele se queda a conternpla-Iasquando estao ao redor dos calices, alimentando-se e beben-do com satisfacao. Ele sorri, feliz, quando ve os cordeirinhosbrincando e correndo ligeirinho pelo aprisco. As vezestoma-os em seus braces fortes, para acaricia-Ios. Ele sedeleita em falar a nosso respeito, referindo-se a nos como"Meu Rebanho" ou "Minhas Ovelhas"_

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Sao maravilhosos esses dias de intima cornurihao com 0

pastor, aqui no seu aprisco. E tao bom ver 0 seu ternocuidado e desvelo pelos cordeirinhos recern-chegados avida. Ele e sempre todo bondade e misericordia para comeles e para com todas nos. A cada momento somos teste-munhas de atos de misericordia e bondade, da parte dele ede seu ajudante. Eles parecem adivinhar quando algumacobra ou outro reptil vem deslizando por sob a cerca, paranos fazer algum dano. Antes mesmo de notarmos a presencedesses bichos indesejaveis. ele ja os esta eliminando com asua vara ou com 0 seu cajado.

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;,~" Numa noite de luar, Pureza acordou no meio da noi-

te e veio se deitar ao meu lado. Vendo que eu tambernestava acordada, disse-me baixinho: - Desisto, Perola. Seate hoje nao consegui entender, nao YOUcontinuar tentandodescobrir sozinha e por mim mesma.

- Descobrir 0 que, Pureza?

Descobrir por que razao 0 nosso pastor e assim taobondoso, e tao eficiente e tao misericordioso para comtodas nos. Eu 0 tenho observado durante todo esse tempo48

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em que fa~o parte deste rebanho, e ele nunca nos deixoufaltar nada, nunca nos deixou sozinhas um so momento,nunca deixou de atender a qualquer ovelha ou cordeirinhoem suas minimas necessidades. Ele parece adivinhar 0 queestamos sentindo, ou 0 que nos esta incomodando, e atemesmo 0 que estamos precisando e desejando.· Ele, sendohomem, como pode conhecer tao bem a natureza e asnecessidades grandes e pequenas de todo 0 seu rebanho?

_ Ah! Pureza, ai e que esta 0 segredo - 0 grande emaravdhoso segredo que eu ouvi, por acaso, da boca do seuajudante! Mas voce esteve bem proxima de descobri-Ioquando disse que 0 nosso pastor e um homem, e, noentanto, conhece tao bem 0 viver eo sentir de suas ovelhas.o grande e maravilhoso segredo que Ihe YOU revelar agora eeste: 0 nOSS0amado e majestoso pastor ja foi um cordeiro

uma vez.Pureza levantou-se de um saito e disse: - Voce disse que

ele ja foi um cordeiro? Ja foi um de nos? ja andou e viveucomo um de nos? 0 nosso pastor?!

_ 1550 mesmo, Pureza, e nao e maravilhoso? Ele desejousaber 0 que sentem as ovelhas quando estao com fome, comsede, com frio, quando estao com medo ou preocupadas.Por isso ele se fez um de nos. E por isso mesmo ele nosconhece tao bem e sabe 0 que nos alegra, 0 que nosentristece, as coisas que nos afligern e aque.las que nosincomodam ou nos causam rnedo e pavor. E porque elemesmo ja passou por todas essas experiencias e ja sentiutodas as ernocoes e sofrimentos que uma ovelha possa sentir

e sofrer.

_ Oh! Perola! como foi isso? Conte-me tudo. Como equando aconteceu coisa tao maravi Ihosa e inacreditavel? 0nosso pastor! Tao rico, tao belo, tao sabio e poderoso, vivercomo urn vimplcs cordeiro entre um rebanho de ovelhas?!

L11', () 110..,..,0 pastor, nao era um simples cordeiro,Pureza. \)lIl'.1I111' I()tlo 0 11'1ll1H) quo pl(' viVNI como um de49

Page 25: Araújo_O Salmo 23 para os pequeninhos

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nos, foi sempre um cordeiro muito especial - 0 maior, 0

melhor, 0 mais glorioso cordeiro de todos os tempos.

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Seu pai e ele cuidavam do rebanho, e eles sentiram taoprofundo amor e tao grande misericordia pelas suas ovelhas,que combinaram que 0 filho se tornaria um cordeiro eviveria entre nos por um determinado tempo, para viver esentir como nos e usar a nossa linguagem, a fim de nosensinar muitas coisas belas e importantes que precisavarnossaber e conhecer, mas que era impossivel para ele nostransmitir em sua linguagem de homem. E, um belo dia, eleentregou ao pai as suas ricas vestes de homem, 0 seu cajado,a sua vara, a sua bolsa de moedas de aura e prata, despiu-sede todas as glorias e riquezas que possuia, e se revestiu de tacomo nos, e andou e viveu como nos, sofrendo e vivendo amesma vida que nos. 0 mais dificil para ele deve ter sido 0

deixar a companhia e 0 convivio de seu querido pai, a quemele muito ama.

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Mas isso tudo e fantastico, Perolal Que mais?

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Um dia, dois velhos e grandes amigos da familiavieram ao rebanho, juntamente com 0 pai do pastor, parave-Io e fazer-Ihe uma rapida visita. Ao ve-los. nosso pastorsentiu tanta saudade de casa e de sua humanidade, e sentiutanto desejo de comunicar-se com eles, no rnesrno nivel. emlinguagern-humana. que por uns momentos transformou-seem homem, para recebe-Ios. Mas foi so por alguns instantes,enquanto durou a visita, e logo voltou a ser cordeironovamente.

- E depois, Perola, como e quando 0 pastor voltou a sero homem que ele e hoje e que sempre foi?

- Ah! isso foi muito doloroso para 0 pastor e para 0 seupai! Depois de ter vivido entre nos e de ter ensinado ao reba-nho todas as coisas que seu pai pediu para ele dizer e ensinar,e de ter mostrado com 0 seu exemplo como devemos amar50

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uns aos outros e chegarmos afinal it casa grande do pai, elevoltou para sua casa, para junto de seu pai, mas, para tomarnovarnente a sua forma humana, foi-Ihe necessario morrercomo cordeiro eressurgir como homem.

Sofreu entao 0 pastor uma morte cruel, sendo imoladocomo um cordeiro qualquer. Os que 0 mataram nao sabiamque ele era um cordeiro especial e diferente de todos osoutros. Depois de morto, ele nao foi visto por algum tempo,e quando apareceu novamente, ja estava outra vez de posseda sua forma humana. Mas se voce se aproximar bem dele eo observar demoradamente, podera notar os sinais dosferimentos que recebeu quando morreu como cordeiro.

Fiquei em silencio por algum tempo, emocionada poraquelas recordacoes, que me esqueci da presenca de Pure-za. Era como se eu tivesse me transportado a sua presence eme prostrado aos seus pes em adoracao.

De repente, lembrei-me de Pureza, julgando que elahavia pegado no sono, tao silenciosa estava ... Ela, porem.nao estava dormindo, e, sim, chorando de ernocao egratidao. Estava olhando na direcao da casa grande, onderepousava 0 nosso pastor, como se 0 estivesse contemplan-do atraves das paredes, e percebi que sua alma estava emdoce conternplacao. adorando-o com toda a devocao eamor de uma ovelha .

Enquanto as lagrirnas corriam dos olhos de Pureza, elamurmurava baixinho, como se 0 pastor a estivesse ouvindo:

- Obrigada, meu pastor querido, muito obrigada peloseu tao grande amor por mim, pela sua morte, e por mehaver comprado com tanto silnificio, por urn tito alto oreco:l k-i e1(' .una-l» (....•r-rvi 10 pm lod" " minh.i vida. You segui-Iol)(,11I dc' IH'rlo, ol)(·dt·( t'lldo llu- 1'111 t ut lo t· jd/Pfldo sempre aSUit vout.uh-, ·.t·p.llilllio () POI ()fldc' qW'r qU(~ for.

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amado p, •.•I()I, muito ohri~rldrl!Obriuada, querido e

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