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ARACAJU: ELEIÇÃO MUNICIPAL DE 2008 José Ibarê Dantas Professor aposentado da Universidade Federal de Sergipe – UFS e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. 1. A Definição de Candidaturas Desde quando os pefelistas perderam o pleito de governador para os grupos de esquerda, em 2006, a subsequente eleição municipal se lhes apresentou como a oportunidade de revanche. Essa perspectiva foi alimentada pela possibilidade de João Alves Filho concorrer ao pleito. Dotado de uma carreira de grande sucesso, a partir de sua nomeação para prefeito de Aracaju no período 1975/78, o ex-governador administrou o Estado em três períodos (1983/1986, 1991/1994 e 2003/2006) e afirmou-se como a principal liderança da política sergipana por cerca de duas décadas. Mas, ao pleitear o quarto mandato, foi derrotado no primeiro turno por Marcelo Déda em 2006. Apesar do revés, João Alves não se acomodou e apareceu como principal expoente dos grupos de oposição ao governo de Sergipe. Quando as primeiras pesquisas de intenção de voto foram divulgadas no ano de 2007, seu nome despontou na liderança. QUADRO I ELEIÇÕES 2008 ARACAJU PESQUISAS INDUZIDAS DE INTENÇÃO DE VOTO PARA PREFEITO 2007 Candidatos-Partidos/ Período da Pesquisa 04/2007 16/17.11.07 5/6.12.07 25/26.12.07 João Alves Filho (PFL) 21,1 43,9 30,1 47,1 Edvaldo Nogueira (PCdo B) 13,0 26,3 14 29,6 Almeida Lima 7,1 14,2 5,2 11 João Fontes 7,0 7,7 4,3 6 Jackson Barreto 10,8 15,9 José Eduardo Dutra 11,9 Adelson Barreto (PSB) 18,8 Fabiano Oliveira 3,8 Nenhum 4,9 8,5 4,4 Não sabe 3,3 3,5 1,8 Instituto PADRÃO PADRÃO DATAFORM PADRÃO Fontes Jornal da Cidade, Cl Nunes 24.04.07 Jornal da Cidade, 29.11.07 Cinform, 10 a 16.12.07 Jornal da Cidade, 30/31.12.07 Historiador e Mestre em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.

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ARACAJU: ELEIÇÃO MUNICIPAL DE 2008

José Ibarê Dantas Professor aposentado da Universidade Federal de Sergipe – UFS e

presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

1. A Definição de Candidaturas

Desde quando os pefelistas perderam o pleito de governador para os grupos de esquerda, em 2006, a subsequente eleição municipal se lhes apresentou como a oportunidade de revanche. Essa perspectiva foi alimentada pela possibilidade de João Alves Filho concorrer ao pleito. Dotado de uma carreira de grande sucesso, a partir de sua nomeação para prefeito de Aracaju no período 1975/78, o ex-governador administrou o Estado em três períodos (1983/1986, 1991/1994 e 2003/2006) e afirmou-se como a principal liderança da política sergipana por cerca de duas décadas. Mas, ao pleitear o quarto mandato, foi derrotado no primeiro turno por Marcelo Déda em 2006. Apesar do revés, João Alves não se acomodou e apareceu como principal expoente dos grupos de oposição ao governo de Sergipe. Quando as primeiras pesquisas de intenção de voto foram divulgadas no ano de 2007, seu nome despontou na liderança.

QUADRO I ELEIÇÕES 2008 ARACAJU PESQUISAS INDUZIDAS DE INTENÇÃO DE VOTO PARA PREFEITO 2007

Candidatos-Partidos/ Período da Pesquisa

04/2007 16/17.11.07 5/6.12.07 25/26.12.07

João Alves Filho (PFL) 21,1 43,9 30,1 47,1 Edvaldo Nogueira (PCdo B)

13,0 26,3 14 29,6

Almeida Lima 7,1 14,2 5,2 11 João Fontes 7,0 7,7 4,3 6 Jackson Barreto 10,8 15,9 José Eduardo Dutra 11,9 Adelson Barreto (PSB) 18,8 Fabiano Oliveira 3,8 Nenhum 4,9 8,5 4,4 Não sabe 3,3 3,5 1,8 Instituto PADRÃO PADRÃO DATAFORM PADRÃO Fontes Jornal da

Cidade, Cl Nunes

24.04.07

Jornal da Cidade, 29.11.07

Cinform, 10 a 16.12.07

Jornal da Cidade,

30/31.12.07

Historiador e Mestre em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.

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Como político experiente, João Alves em nenhum momento assumiu a candidatura, mas, quando falava aos jornalistas, sempre admitia a possibilidade de concorrer, ao tempo em que reclamava e desfazia dos adversários sem deixar de revelar otimismo e autoconfiança. Por exemplo, em entrevista concedida em dezembro de 2007, declarou que tinha “condições consistentes de ganhar a eleição de Aracaju em 2008” como nunca tiveram1(sic), pois, como se sabe, desde 1985 a prefeitura da capital estava controlada por políticos de esquerda.

Nessa oportunidade da referida entrevista, João Alves considerou o governo Marcelo

Déda um fracasso e disse não ter medo de enfrentar Lula. Recorde-se que, no terceiro mandato, enquanto os governadores do PFL procuravam uma convivência pacífica com a administração federal, o então chefe do executivo de Sergipe permaneceu crítico acerbo do presidente, escrevendo artigos, publicando carta aberta, concedendo entrevistas e proferindo discursos até em presença de Luiz Inácio Lula da Silva como ocorreu em uma das visitas do presidente a Sergipe.

Em contraposição, os investimentos do governo federal para o Estado tornaram-se

mais difíceis, dando-lhe pretexto para sua reclamação de perseguição, alegação que se acentuou depois de derrotado.2

Os ressentimentos do ex-governador com os petistas ampliaram-se com a prisão, em

17.05.2007, do seu filho, o empresário João Alves Neto, por ocasião da Operação Navalha encetada em oito estados pela Polícia Federal. O caso alcançou repercussão nacional. O conhecido jornalista Ricardo Noblat, baseado em relatório da Polícia Federal, divulgou que “o empresário João Alves Neto, filho do ex-governador de Sergipe João Alves Filho, era o destinatário das maiores propinas pagas pelo empresário Zuleido Veras, acusado pela Polícia Federal de chefiar o esquema de corrupção de políticos e autoridades públicas desvendado pela Operação Navalha. O documento, em poder da ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), descreve vários casos de pagamento de propina a João Alves Neto, num deles o valor do suborno chegaria a R$ 330 mil. Mas a cifra pode passar de R$ 500 mil. Essa teria sido a propina mais alta paga por Zuleido captada pelas escutas de 2006 até hoje”.3

O jornalista Marcos Cardoso resumiu na imprensa local as acusações que pesavam

sobre o filho do ex-governador: “Apesar de não exercer cargo público, efetivamente comanda a área financeira do Estado. Recebeu vantagens indevidas da organização criminosa para: a) autorizar a liberação de recursos em favor da Gautama; e b) para viabilização de empréstimos (para isso encontrou-se pessoalmente com Zuleido Veras)”.4

Como se isso não bastasse, entre os 61 denunciados pelo Ministério Público

Federal, resultado da Operação Navalha, além do filho e de ex-secretários de Estado do seu governo, o nome do próprio ex-governador João Alves Filho foi incluído sob a acusação de peculato e corrupção passiva.5

Indignado e transtornado, o grande líder do PFL, que se transformou em DEM,

passou a propalar que estava sendo vítima de perseguição política, declaração que foi rebatida pelo Procurador da República em Sergipe. Paulo Guedes Fontes considerou absurdas suas alegações, assim como a de seu genro Mendonça Prado. Depois de lembrar-lhes que as denúncias se baseavam em fatos concretos, como mostraram as interceptações

1 Cinform, 26/11 a 02.12.2007, p. 20. 2 Cinform, 26.11 a 02.12.2007, p. 20. 3 Ricardo Noblat in O Globo, 23.05.2007. 4 Marcos Cardoso, Jornal da Cidade, 27.08.2007. De Sergipe, também foram presos o ex-deputado Ivan Paixão e o conselheiro do Tribunal de Contas Flávio Conceição, apontado como o principal intermediário entre a empresa Guatama e os políticos. 5 Cf. Jornal da Cidade, 14.05.2008.

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telefônicas, o procurador afirmou que “o tom de defesa do ex-governador e de seus aliados pode constituir crime de calúnia”. E os advertia: “aqueles que estão saindo em defesa do ex-governador precisam medir o tom do que vão falar”.6

Depois dessa advertência, o tom das reclamações contra as autoridades judiciais

mudou, mas permaneceram as acusações contra os petistas, sobretudo em relação ao presidente Lula. Este, por sua vez, continuou reagindo às provocações do ex-governador João Alves Filho, como ocorreu no discurso que proferiu por ocasião da inauguração do viaduto Carvalho Déda, em 28.02.2008, em Aracaju.

Em meio a todas essas questões, às desventuras de João Alves acrescentou-se a

doença grave que afetou sua esposa, a senadora Maria do Carmo Alves, que se submeteu a delicada intervenção cirúrgica e permaneceu por longo tempo em convalescência em São Paulo.

Nesse contexto, quando se pensava que a candidatura de João Alves seria

irreversível, inclusive pela pressão dos correligionários, como o próprio ex-governador admitiu em entrevista7, os problemas do percurso levaram-no a desistir de concorrer, sob o argumento que precisaria assistir a esposa em São Paulo. O ex-governador ainda protelou por algum tempo a reunião em que anunciaria o candidato do DEM e, ao final, indicou o genro, conhecido como Mendonça Prado, para concorrer à prefeitura, e a Executiva Estadual referendou, formando uma magra coalizão do DEM com o PP, bem diferente de pleitos passados quando os pefelistas apareciam apoiados por numerosos partidos.

José de Araújo Mendonça Sobrinho, mais conhecido como Mendonça Prado, tem se

revelado um político desenvolto, com discurso articulado, cáustico e ferino no debate. Nascido em 13.10.1966, em Aracaju, Mendonça Prado cresceu identificado com a figura do pai, o parlamentar Luciano Andrade Prado, que fora vereador e deputado estadual (1975/1986)8 defendendo as siglas da ARENA e do PDS, justamente quando o regime autoritário amargava a maior impopularidade.

Na militância política, Mendonça Prado continuou a tendência conservadora do pai e

incorporou-se à família do ex-governador João Alves Filho e da senadora Maria do Carmo Alves. À sombra do pai e dos sogros, fez carreira política com algum sucesso. Bacharel em Direito, dotado de indisposição exacerbada com os adversários políticos, em suas apresentações dá a impressão de um homem angustiado, ressentido, senão amargo. Atuando sempre na oposição ao governo municipal, exerceu os mandatos de vereador em 1989/1992, 1993/1996, 2000/2002 pelo PFL e chegou a relatar a Lei Orgânica do Município quando membro da Câmara Municipal de Aracaju. Pelo mesmo partido, foi eleito deputado federal em 2002 com 47.017 votos, sendo o quinto mais votado. Entretanto, escolhido para Secretário de Administração do governo João Alves, teve uma gestão controvertida. Apesar de propagar que investiu com reduzidos custos em tecnologias, foi denunciado pela procuradora Eunice Dantas por irregularidades na compra de computadores.9 Permaneceu no cargo até o fim do governo (dezembro/2006) e reelegeu-se deputado federal. A partir de 2007, integrou a Comissão de Constituição e Justiça e assumiu a liderança dos Democratas na Comissão Mista de Orçamento no Congresso Nacional. Durante esse mandato, apresentou um projeto de lei que defendia a utilização de um tratamento hormonal para reduzir o desejo sexual do cidadão que comete o crime de estupro. Mas a proposta foi reprovada pela consultoria jurídica da Câmara dos Deputados. Apresentou também emenda instituindo o voto facultativo.

6 Paulo Fontes Guedes, Jornal da Cidade, 17.05.2008. 7 Cinform, 26.11 a 02.12.2007, p. 20. 8 Após exercer vários mandatos de vereador, Luciano Andrade Prado foi eleito deputado estadual em 1974 e 1978 pela ARENA e em 1982 pelo PDS. 9 A Procuradora Eunice Dantas denunciou Mendonça Prado por irregularidade na compra de 2.500 computadores, quando Secretário da Administração, no ano de 2006. Cf. Jornal da Cidade, 24.10.2008, p. A4.

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Em 2008, em face das desventuras que afetaram o ex-governador, coube a

Mendonça Prado a oportunidade de apresentar-se como continuador do projeto pefelista, transformado em Democrata, com o fim de recuperar, ao menos em parte, o poder perdido na eleição passada.

Sintonizado em certa medida com o ideário dos democratas, apresentou-se também

o senador José Almeida Lima, eleito em 2002 com o apoio decisivo do ex-governador João Alves Filho.

Apesar da identidade com os ex-pefelistas, Almeida Lima tem se revelado um político

com projeto próprio e com história de vida peculiar. Sergipano de Santa Rosa de Lima, nasceu em 28.09.1953, formou-se como Técnico Agrícola, participou do Projeto Rondon, graduou-se em Direito, militou no movimento estudantil, integrou a ala jovem do PMDB em 1972 e cresceu politicamente dependente da influência do seu primo Jackson Barreto. Em 1986, candidatou-se a deputado estadual pelo PFL e ficou na primeira suplência, com 6.509 votos. Assumiu o mandato por um tempo, mas, em 1988, afastou-se para dedicar-se à campanha eleitoral do candidato a prefeito Wellington Paixão, que governou Aracaju de 1988 a 1992. Por esse tempo, Almeida Lima ocupou a presidência da Emurb - Empresa Municipal de Urbanização até 1990, quando se elegeu novamente para a Assembleia Legislativa, dessa vez pela coligação PDT+PCB, obtendo 7.971 votos.

Em 1992, Almeida Lima participou da chapa da coligação encabeçada pelo PDT e foi

eleito vice-prefeito de Aracaju ao lado de Jackson Barreto. Embora até então tenha demonstrado lealdade ao seu primo, às vésperas de assumir a titularidade da Prefeitura de Aracaju, por cerca de dois anos, já admitia em entrevista à imprensa a diferença de programas e objetivos a cumprir.10

Uma vez prefeito efetivo, administrou a capital com grande determinação e

autonomia de ação. Quando, após o pleito de 1994, Jackson Barreto sugeriu-lhe incluir em sua administração a participação de um ou outro nome do Partido dos Trabalhadores, a idéia foi imediatamente repelida. A partir daí, as relações entre o prefeito e o PT prosseguiram pontuadas por divergências.11

Ao tempo em que empreendia uma gestão realizadora, Almeida Lima comprou a

Rádio Liberdade12, dando margem a explorações13, ampliou o leque de contatos, inclusive com auxiliares do governo Albano Franco,14 enquanto demonstrava intenções de distanciar-se do PT.

Depois de deixar a prefeitura com grandes problemas financeiros para serem

saldados pelos seus sucessores, já rompido com Jackson Barreto, em 1998 candidatou-se ao Senado e obteve 57.527 votos dentro de um conjunto de 631.949 votos válidos, ficando distanciado do sucesso. Afastado dos grupos de esquerda, em 2002 voltou a candidatar-se ao Senado pelo PDT dentro da Coligação encabeçada pelo PFL, João na Cabeça, Sergipe no Coração, e elegeu-se em segundo lugar com 307.326 votos.

Se já era um político controvertido, tido como determinado e presunçoso, afeito a

ações espalhafatosas, essa imagem consolidou-se com sua atuação no Senado. Crítico contundente do PT em Sergipe, apresentou denúncia da tribuna da Câmara Alta com grande estardalhaço, em 22.10.03, contra a administração do então prefeito Marcelo Déda.

10 Cinform, 28.03 a 03.04.94. 11 Ver Jornal da Cidade, 09.03.95 e Gazeta de Sergipe, 12 e 13.03.95. 12 Ver Jornal da Cidade, 02.03.96. 13 Ver panfleto distribuído pelo PMDB em 1999. 14 Manteve conversações especialmente com Luiz Antônio Barreto, Secretário de Educação, estreitando as relações com o governador.

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Sua fala tratava de supostas irregularidades em obras em terrenos da Secretaria Municipal de Saúde. Mas o que mais chamou atenção do senador por Sergipe foi a forma arrogante com que tratava os próprios colegas do Senado durante os debates e a denúncia vazia que protagonizou.

Adversário ferrenho do governo Lula, contra quem discursou em várias ocasiões, em

02.03.2004 anunciou que dispunha de uma bomba contra o ministro José Dirceu que iria mudar os rumos da História do Brasil. Após despertar muitas expectativas, chegando ao ponto de provocar queda nas bolsas de valores, proferiu um discurso fundamentado em recortes de jornais, notas da internet e num relatório parcial da Polícia Federal, sem nada de sensacional. A imprensa nacional considerou ridícula sua postura, tornando-se motivo de deboche em inúmeros jornais e telejornais, por vezes identificado como o senador sergipano, para constrangimento dos coestaduanos.15 Antônio Carlos Magalhães ironicamente comentou: "Depois de tudo o que o senador Almeida Lima fez a este país e com a imprensa, eu diria que se fosse do governo ou do PT, faria uma estátua para o senador, pois ele foi o primeiro a defender o ministro José Dirceu, porque trouxe fatos inverídicos, levianos, não comprovados, numa denúncia sem expressão"16. A partir daí, os apelidos de Rolando Lero e Darlene contra sua figura reforçaram-se.17 Em Aracaju, então, sua imagem parecia irremediavelmente comprometida.

No pleito de 2006, teria doado 50 mil reais à campanha de João Alves, mas teve uma

participação discreta, mesmo porque sua popularidade entre o eleitorado não era muito animadora.

Com a derrota de João Alves para governador, Almeida Lima, alimentando elevados

projetos de afirmar-se como o grande opositor dos governistas, buscou novas alternativas. Como o PDT local apoiou a candidatura de Marcelo Déda, o senador, nos primeiros meses de 2007, procurou outra agremiação. Tentou afirmar-se no PSDB, mas não foi bem sucedido, bateu as portas do PPS, mas foi vetado. Num momento em que o governo federal estava com dificuldades de aprovação de suas proposições no Senado, Almeida Lima passou a defender com paixão e veemência a permanência de Renan Calheiros na direção do Senado. Foi um embate duro, difícil, mas o senador sergipano enfrentou o debate com firmeza e muitas vezes com agressividade, indiferente às críticas da mídia nacional e local. Em 30 agosto de 2008, Almeida Lima travou discussão alterada no Conselho de Ética com o senador do PSDB Tasso Jerissati, que o chamou de palhaço e boneca. Quando a briga ameaçava transformar-se num duelo corpo a corpo, alguns colegas intervieram e a sessão foi suspensa, com repercussões em toda imprensa nacional.

Sua posição persistente, teimosa ao lado do senador de Alagoas, que não fora

cassado, mas terminou afastado da direção do Senado, elevou sua cotação, não apenas entre os peemedebistas, mas também entre os governistas do PT nacional. Prestigiado, integrou-se à base governista, frequentou reuniões da cúpula peemedebista, inclusive no Palácio do Planalto, e passou a votar alinhado com os governistas e, com efeito, a indicar correligionários seus para ocupar cargos de chefia em repartições federais em Sergipe.

15 Franklin Martins na TV Globo qualificou de “papelão do senador sergipano”. Ver Blog da Infonet de José Cristian Góes, 03.03.2004. 16 Um jornalista local escreveu: “Que vergonha! Nunca os sergipanos foram tão humilhados, pisoteados e achincalhados nacionalmente quanto ontem. O senador José Almeida Lima, PDT, do alto de sua empáfia e vaidade, não tinha o direito de envergonhar a população de um Estado inteiro. (...) ‘Irresponsável, leviano, mentiroso, papelão, inconsistente, blefe, piada, denúncia vazia, o espetáculo deprimente, artificialismo’ eram características dadas ao senador e ao seu discurso por emissoras nacionais de rádio e tv, grandes jornais brasileiros e sites. O dia 2 de março de 2004 entra para a história com o Dia da Vergonha Sergipana.” José Cristian Góes, Blog da Infonet de 03.03.2004. 17 Ver Blog da Infonet de José Cristian Góes, 03.03.2004.

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Fortalecido, manteve contatos com lideranças do PMDB, entre os quais Garotinho e Quércia, e ingressou naquele partido em abril de 2007. Como aquela agremiação não dispunha de nenhum parlamentar no Congresso Nacional representando Sergipe, Almeida Lima mobilizou-se no sentido de controlar o PMDB no seu Estado de forma a possibilitar-lhe voos mais altos. Por esse tempo, andou divulgando que dispunha de manifesto, subscrito por 19 dos 20 senadores, propondo a dissolução do Diretório Estadual do PMDB.

Mas Jackson Barreto, seu primo e adversário, na tentativa de evitar tal situação

deixou o PTB e, acompanhado de prefeitos, também filiou-se ao PMDB, no sentido de enfrentá-lo como parlamentar atuante e com prestígio nacional. A luta interna foi renhida e continuada. Diante do impasse, a Direção Nacional dividiu o partido em duas áreas. O grupo de Jackson Barreto ficou com o Diretório Estadual e alguns Diretórios Municipais, enquanto o senador Almeida Lima assumia o controle de outros diretórios municipais, inclusive o da capital. Jackson Barreto ainda tentou dificultar-lhe o controle de Aracaju, mas o senador conseguiu o domínio do Diretório Municipal e viabilizou sua candidatura a prefeito dentro de uma coligação que envolvia PMDB, PT do B, PTB, PV, PRTB, PTC e PHS.

Demonstrando prestígio, Almeida Lima inaugurou seu comitê político com grande

publicidade, destacando a presença de cinco senadores e dois deputados federais.18 Entusiasmado, partiu para a campanha com planos, muitos recursos e disposição para o desafio.

Além desses dois candidatos da oposição, ainda apareceram dois outros do campo

da esquerda, entre os quais estava Vera Lúcia Pereira da Silva, do PSTU, uma sindicalista atuante e combativa. Nascida em Inajá, Pernambuco, há 40 anos Vera Lúcia foi operária têxtil e, em 2008, atuava como funcionária do Sindicato dos Petroleiros – Sindipetro e cursava Ciências Sociais na UFS. Foi dirigente do Sindicato e da Federação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Têxtil, tendo participado das grandes greves da categoria. Demitida na década de 90, foi trabalhar no Sindipetro. Após algum tempo de militância no PT, saiu para construir o PSTU. Dirigiu a CUT-SE e, “juntamente com um grupo, rompeu com essa Central por achar que ela não está mais a serviço da luta dos trabalhadores. Atuou na construção da Conlutas – Coordenação Nacional de Lutas,”19 candidatou-se a prefeita em 2004, defendendo a ruptura com o sistema capitalista, e obteve 2,01% dos votos válidos. Em 2008, apresentava-se como representante da Frente de Esquerda formada pelo PSTU e PSOL.

O outro candidato considerado do campo da esquerda foi Anderson Fabiano da

Cruz Góis. Jovem desenvolto, com 30 anos, apresentava uma história de vida com experiência em empregos no comércio, em meios de comunicação e militância política, demonstrando autoconfiança. Foi funcionário do supermercado Bompreço, vendedor na loja Manelão, no consórcio Aracaju e gerente júnior da financeira Panamericano, antes de tornar-se professor de literatura e apresentador do programa Papo de Escola na TV Caju e na rádio Jornal AM. Definindo-se como escritor, tendo publicado um livro de poesias em 199820, revelou que dispõe de outras obras inéditas. Segundo ainda seu depoimento, aos 13 anos “disputou a vice-presidência do Grêmio do Colégio Estadual Castelo Branco, foi Membro da UMESA e da USES, atuou na Juventude Popular Socialista e na União Juventude Comunista.” Em 2008, era secretário-geral do PCB em Aracaju e membro da Executiva Estadual.”21

Representando os governistas, a candidatura de Edvaldo Nogueira Filho ao pleito

municipal de 2008 em Aracaju foi viabilizada com o empenho decidido do governador Marcelo Déda. 18 Diógenes Brayner. Correio de Sergipe, 16.05.2008 19 Cinform, O Voto, 28.07.2008. 20 Cinform, O Voto, 28.07.2008. 21 Cinform, O Voto, 28.07.2008.

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Desde quando, no ano 2000, Déda se elegeu prefeito com apoio do PC do B,

encontrou no vice-prefeito Edvaldo Nogueira um leal companheiro político. Não obstante as pressões dos correligionários para formar uma chapa puro-sangue em 2004, Marcelo Déda manteve-o como vice e, ao renunciar à prefeitura, em 31.03.2006, para se candidatar a governador, passou-lhe a titularidade do cargo confiante de que sua obra teria continuidade.

Quando começaram as especulações sobre os possíveis candidatos à eleição de

2008 para a prefeitura de Aracaju, o governador Marcelo Déda defendeu com muita firmeza a reeleição de Edvaldo Nogueira. Mas, para tanto, haveria de superar vários obstáculos.

Dentro do PT, essa idéia foi vista durante bastante tempo no mínimo com restrições.

Especialmente a facção denominada de Articulação de Esquerda, através do deputado federal Iran Barbosa, uma de suas principais lideranças, chegou a declarar publicamente sua discordância explícita do bloco que apoiava o governo Déda.22

Concorria também para escassa receptividade junto aos petistas o pequeno

desempenho de Edvaldo Nogueira nas pesquisas realizadas no curso do ano de 2007, motivo pelo qual o deputado federal Jackson Barreto, do grupo de apoio do governo Déda, declarou que iria se candidatar para enfrentar o ex-governador João Alves.23

Contudo, os obstáculos foram paulatinamente vencidos. Com a interferência decidida

do governador, os petistas terminaram aceitando a reeleição do prefeito. Jackson Barreto deixou de falar em candidatura e até o ex-deputado João Fontes, que havia se lançado pelo PPS, desistiu. Eleito deputado federal em 2004, após um mandato no qual se revelou um parlamentar atuante, foco da mídia após ser expulso do PT, João Fontes candidatou-se ao governo do Estado, em 2006, tornando-se um crítico ferrenho às práticas do PT e a Marcelo Déda, mas obteve apenas 2,12% dos votos válidos. Dessa vez, no entanto, apesar do anúncio público de que seria candidato, João Fontes declarou seu apoio à coalizão que iria respaldar a reeleição do prefeito Edvaldo Nogueira.24

Prevendo-se que seria uma vitória difícil, diante do favoritismo de João Alves nas

pesquisas, o prefeito empenhou-se em ampliar o arco de alianças, inclusive com o PSDB. Para tanto, procurou sua maior liderança estadual, Albano do Prado Franco (PSDB). Apesar de sua forma de atuar lenta, indecisa, às vezes indecifrável, costumando decidir quase sempre no último momento, dessa vez o líder tucano anunciou sua incorporação à coalizão de esquerda em 20.06.2008, numa decisão relativamente rápida, depois da Executiva Nacional haver rejeitada a aliança com o PT.25

Enquanto isso, na esfera do Partido dos Trabalhadores, o ambiente era de certo

desconforto com essa aliança, taxada de direitista. A imprensa revelou que havia um racha no Partido em face da participação do PSDB naquela coalizão, mas a proposta de coligação foi apresentada no encontro de 29 de março e, apesar das objeções, terminou aprovada.

Enfim, paulatinamente as arestas foram aparadas e a coalizão foi montada com a

participação decidida do governador Marcelo Déda,26 formando o maior ajuntamento de políticos em 2008, envolvendo as siglas PC do B, PT, PPS, PDT, PSDB, PRP, PRB, PSC, PR, PSDC, PMN, PTN, PSB e PSL.

22 Correio de Sergipe, 17.05.2007. 23 Correio de Sergipe, 27.09.2007. 24 Ver Jornal da Cidade, 07.02.2008. 25 Cinform, 23.06.2008. 26 Em fins de maio de 2008, segundo pesquisa do IBOPE, 63% da população confiavam no governo Déda, sendo que 47% consideravam sua administração boa ou ótima, 32% regular e 21% ruim. Cf. Cinform, 26.05 a 01.06.2008.

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Mas restava conhecer o desempenho de Edvaldo Nogueira diante dos desafios de uma reeleição municipal, tendo de responder por uma administração com alguns problemas. Homem simples, apesar de longa militância política, apresentava pouco carisma e uma oratória trivial, enquanto desprovida de grandes recursos.

Em contrapartida, tinha a seu favor uma grande vivência no Estado e inserção nos

movimentos populares. Natural de Pão de Açúcar, estado de Alagoas, Edvaldo Nogueira ainda jovem veio para Aracaju, onde desenvolveu seus estudos no Colégio Salesiano. Ingressou na Universidade Federal de Sergipe para estudar Medicina. Mas se envolveu com a política estudantil e elegeu-se presidente do DCE da UFS entre 1984 e 1985. Participou do Conselho do Ensino e de Pesquisa da UFS e, apesar de aluno desenvolto, membro da equipe de cirurgia cardíaca do Dr. José Teles de Mendonça no Hospital Cirurgia, deixou o curso pela política partidária.

Filiado ao PC do B, elegeu-se vereador de Aracaju por duas vezes, entre 1988 e

1996. Nesse tempo, presidiu a Comissão de Finanças e participou da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Municipal de Aracaju. Presidente do PC do B em Sergipe de 1983 a 2000, foi elevado a membro do Comitê Central no 9º Congresso. Eleito vice-prefeito de Aracaju em 2000 na chapa encabeçada por Déda, em 2004 foi reeleito vice-prefeito. Com a renúncia do chefe do executivo municipal, em 31.03.2006, para disputar o governo do Estado, Edvaldo Nogueira assumiu a direção da prefeitura e governou em sintonia com Marcelo Déda.

Continuou o elenco de obras do seu antecessor, captou para Aracaju R$ 240 milhões

em investimentos e R$ 54 milhões em recursos próprios, dedicou-se a urbanizar os bairros Santa Maria e Coqueiral, e projetou a construção da Orla Por do Sol. Deu atenção à área social da cidade, construindo 40 km de ciclovias, anunciando a inserção de mais 6.000 famílias no programa Bolsa-Família, além da inauguração de 480 moradias no bairro Santa Maria, dentre outras ações. Conseguiu inaugurar o viaduto Carvalho Déda, homenageando o avô do governador, em 28.02.2008, com a presença do Presidente Lula, numa grande festa que indicou o seu respaldo, não apenas junto ao governador Déda, seu protetor político, mas também junto à presidência da República.

Apesar de Aracaju haver sido considerada a capital com melhor qualidade de vida do

país, permaneciam alguns problemas que tornavam sua administração alvo de críticas. O grande crescimento da demanda na área da Saúde27 foi atendida de forma deficiente, sobretudo diante da séria epidemia de dengue que dizimou numerosas vidas. No trânsito, prosseguiu com o sistema de multas, estabeleceu a velocidade máxima de 60 Km que, apesar de diminuir as mortes, provocou muitas reações desfavoráveis dos proprietários de automóveis. Na área dos transportes, embora estivesse introduzindo os cartões eletrônicos no sentido de diminuir os assaltos, estes continuaram elevadíssimos, próximos de 1.000 durante o último ano. Ademais, não conseguiu realizar a licitação para o ingresso de ônibus novos, deixando os usuários insatisfeitos.

Apesar desses e de outros problemas, um poderoso grupo de apoio organizou-se,

liderado pelo governador Marcelo Déda, envolvendo o senador Valadares, o ex-senador José Eduardo Dutra, os deputados federais Jackson Barreto e Albano Franco, além de vários deputados estaduais, vereadores e líderes comunitários, proporcionando-lhe um respaldo extraordinário, ajudando-lhe a enfrentar os adversários a fim de disputar o eleitorado de 356.796 pessoas.

Afinal, o quadro de candidatos ficou assim constituído:

27 Somente os atendimentos especializados teriam ascendido de 300 mil em 2000 para três milhões em 2007. Cf. Edvaldo Nogueira, Jornal da Cidade, 17 e 18.08.2008.

9

QUADRO II ELEIÇÕES 2008 ARACAJU CANDIDATOS A PREFEITO E VICE-PREFEITO

Candidato

Partido

Coligação

Edvaldo Nogueira Filho Vice: Sílvio Alves dos Santos

PC do B PC do B, PT, PPS, PDT, PSDB, PRP, PRB, PSC, PR, PSDC, PMN, PTN, PSB e PSL.

José de Araújo Mendonça Sobrinho Vice: Pedro Almeida Valadares Neto

DEM PP/DEM

José Almeida Lima Vice: José Alves Dantas Filho

PMDB PMDB, PT do B, PTB, PV, PRTB, PTC e PHS.

Anderson Fabiano da Cruz Góis Vice: Waltiglei Santos de Oliveira

PCB

Vera Lúcia Lúcia Pereira da Silva

PSTU PSTU/PSOL

2. A Campanha Diante da pujança do grupo governista que apoiava à reeleição de Edvaldo Nogueira,

a tendência dos demais candidatos convergiu para atacar seus feitos com o fim de desconstruir seu favoritismo, cada qual de conformidade com seu estilo.

O mais entusiasmado de todos era Almeida Lima do PMDB. Embora sua declaração

de gastos de quatro milhões de reais estivesse abaixo das previsões de Edvaldo Nogueira que eram de cinco milhões, o senador mostrava-se com a maior estrutura de campanha.

Com a música e letra de campanha mais bonitas, interpretadas por Dominguinhos,

segundo informações de um petista, José Almeida contratou duas mil pessoas para segurar bandeira, 40 minitrios, enquanto Edvaldo dispunha de apenas 10, sem contar os de seus correligionários.28

O candidato do PMDB mandou imprimir seu Plano de Governo de 38 páginas em

papel cuchê, colorido, entremeado de imagens de boa qualidade gráfica, com tiragem estimada acima de cem mil exemplares pela profusão com que foi distribuído durante a campanha.

Dentro de seu estilo pretensioso, após mencionar os principais problemas da

administração municipal, prometia desenvolver sua gestão através de três eixos: Desenvolvimento Social, Econômico e Urbanístico, no qual se destacava um elenco de obras sem precedentes.

28 Cf. Francisco Santos, vulgo Chico Buchinho, declarações ao autor em 15.10.2008.

10

Para se ter uma idéia da magnitude do projeto de Almeida Lima, basta lembrar algumas de suas promessas:

implantação de um Hospital Pediátrico; transformação das escolas em escolas de tempo integral; construção de Centros de Cultura nos bairros com toda infra-estrutura a mais

moderna; implantação da Universidade do Esporte; criação de programas Pré-Escola no Esporte, Centro de Iniciação Esportiva, Centro

de Excelência Esportivos, Celeiro de Atletas e valorização da terceira idade; construção de campos de futebol e ginásios poliesportivos nos bairros, além de dois

grandes Centros Esportivos; revestimento e cobertura de todos os canais que cortam a cidade; dragagem de toda a bacia do rio Poxim; drenagem e asfaltamento das ruas de todos os bairros da cidade; regularização dos loteamentos; reurbanização das praças e avenidas de Aracaju; revitalização de todo o Centro Comercial de Aracaju; garantia da segurança dos comerciantes; reordenação do transporte coletivo; abertura de 15 novas e grandes avenidas.

Realizadas suas promessas, seria a mais operosa administração de todos os tempos

em Aracaju. Entre os argumentos para garantir a realização de suas promessas, costumava dizer

que foi prefeito durante dois anos e nove meses com orçamento de oito milhões, enquanto o atual dispõe de oitenta milhões. Ademais, asseverava, “hoje o meu partido é o PMDB, o maior partido do Brasil (...) que assegura a governabilidade do presente Lula.”29

Como se não bastasse a publicação do seu Plano de Governo, o senador distribuiu

uma Carta ao povo de Aracaju, denunciando o monopólio do poder em Aracaju, em Sergipe e no Brasil, ao tempo em que qualificava a coalizão das forças governistas como Acordo da Vergonha.

Sendo a primeira campanha municipal em que os showmícios estiveram proibidos,

diminuiu a desproporção entre os candidatos, fomentada pelo poder econômico. O diferencial concentrou-se nos carros de som e na presença de bandeiras. Realmente, os grandes instrumentos de propaganda foram os minitrios, em geral com mensagens gravadas. Neste ponto, realmente nenhum candidato superava a campanha de Almeida Lima nos circuitos pelos bairros e pelo centro da cidade com altos decibéis, motivos de muitas reclamações da população.

Ao lado disso, havia as caminhadas e as carreatas, com grande aparato, envolvendo

centenas de figurantes contratados mensalmente para segurar bandeira e participar do cortejo. Os comícios reduziram-se à inauguração dos comitês, quando ocorreram.

A Internet apareceu com alguma influência nos bate-papos entre os internautas, na

presença dos candidatos em chats, respondendo questionamentos dos eleitores, assim como através dos comentários dos jornalistas que mantinham seus blogs, alguns dos quais bastante acessados.

A campanha de Mendonça Prado foi muito mais modesta. Com gastos previstos

para dois milhões e quinhentos mil, utilizou alguns minitrios e um número razoável de

29 José Almeida Lima. Plano de Governo, p. 37.

11

pessoas contratadas para segurar bandeiras, mas ficou muito aquém das condições do PMDB.

Um dos recursos utilizados pelo DEM foi a difusão das mensagens tanto da

senadora Maria do Carmo em estado de convalescência, quanto do ex-governador João Alves enaltecendo as qualidades do candidato.

No início da campanha, quando Mendonça Prado era cobrado pelo seu projeto,

alegava que iria divulgá-lo aos poucos para não ser utilizado pelos adversários. Entretanto, foi difundindo em entrevistas à imprensa e, por fim, distribuído em apenas uma página em forma de panfleto, no qual ficava patente seu propósito fundamental de desqualificar a administração vigente.

Projeto de Mendonça Prado:

acabar com os pardais e com os parquímetros; acabar com financiamento de shows; obras no bairro Santa Maria; cobrar taxas de ocupação dos ricos; aumentar número de lombadas; investir em saúde preventiva e saneamento básico; construir Centro de Saúde da Família; construção de três hospitais: do homem, da mulher e da criança; fazer licitação pública para transporte coletivo; implantar sistema de tempo integral na Educação com três refeições diárias; planejar e executar a infra-estrutura urbana de Aracaju.30

Algumas medidas pareciam tipicamente eleitoreiras. Ao anunciar o fim dos

parquímetros e dos pardais, não sinalizou as alternativas para disciplinar o trânsito, a não ser o aumento das lombadas, medida, convenhamos, insuficiente.

Tudo indica que o grande projeto anunciado por João Alves no período da

précampanha,31 se existia, não foi repassado ao genro. Apesar de ser considerado o herdeiro do espólio do ex-governador, Mendonça Prado

não foi exemplo de mobilização do grupo alvista. O exemplo mais eloquente foi a última carreata, pelo número reduzido de carros e a baixa animação, bem diferente de campanhas passadas, quando os pefelistas se apresentavam numerosos e exultantes.

Edvaldo Nogueira, com uma previsão de gastos da ordem de cinco milhões de

reais, foi o primeiro a disponibilizar o plano de governo pela Internet. Composto de 17 páginas, considerado “bem resumido, com gráfico e frases objetivas”32, propunha fundamentalmente: “a melhoria da qualidade de vida, ética, democracia, modernidade e desenvolvimento com prioridade social.”

Os pontos principais do projeto de Edvaldo Nogueira foram os seguintes:

universalizar o acesso ao SUS a toda a população (hoje Aracaju tem cobertura de 96%);

construir unidades de saúde, todas em locais já especificados; implementar programas de educação alimentar e familiar; ampliar serviço de reabilitação física e incentivar o uso de terapêuticas naturais; modernizar sistema de informação de saúde;

30 Cf. Mendonça Prado. Entrevista à Rádio Jornal em 04.08.2008, panfleto distribuído durante a campanha e declarações ao jornal Cinform, O Voto, 25.08.2008, p. 12. 31 Ver Jornal da Cidade, 11.06.2008. 32 Cinform,O Voto, 25.08.2008, p. 11.

12

ampliar ações de controle de endemias; universalizar o acesso à educação; construir três escolas e reformar dezoito; ampliar programa Direito de Aprender e criar sistema de avaliação; incrementar 30% na carga horária das escolas; adequar e atualizar os marcos regulatórios do Plano Diretor e do Código de Obras,

entre outros; erradicar favelas e habitações precárias; ampliar o PAR e incentivar a construção de empreendimentos populares, através da

iniciativa privada; melhorar as vias de sinalização e reformar o Terminal DIA; renovar a frota de ônibus; criar corredores para ônibus nas avenidas e recuperar abrigos.

Não falou em licitação para empresas de transporte coletivo. Anderson Góis, do PCB, previu gastar apenas trinta mil reais, constituindo-se o

candidato da campanha mais barata. Suas propostas: reestruturação do sistema de saúde municipal e construção de um hospital; fortalecer os postos de saúde 24 horas; melhorar as creches em Aracaju; estimular a formação das crianças; incluir arte e música no dia-a-dia da rede municipal; transformar o Parque dos Cajueiros em Escola do Mangue; construir outro ecoparque na zona de expansão; construir um Centro de Desenvolvimento Olímpico e um estádio de futebol,

denominado Cajuzão; reformar e reestruturar o Parque da Cidade; reformar praças com projetos voltados para cidadãos da terceira idade; descentralizar o comércio da capital; construir calçadão no bairro Siqueira Campos, concedendo facilidades às empresas

que investirem na área. 33 criar no centro da cidade também um museu de arte moderna; promover a socialização, gerando igualdade de oportunidades.34

Para tanto, deveria contar com aporte de recursos do governo federal na ordem de 70%.

Vera Lúcia (PSTU) declarou sua previsão de gastos da ordem de cento e cinquenta

mil reais. Declarando que sua candidatura era “a única a atender os anseios da classe trabalhadora,” propunha um plano diferente do alegado nas “campanhas espetaculosas e milionárias, feitas para enganar os trabalhadores”, com os seguintes itens:

mobilizar a população; congelamento dos preços dos alimentos; redução da jornada de trabalho; jornada de seis horas para todos os servidores municipais; incorporar os terceirizados; não pagamento da dívida da União; desobediência à Lei de Responsabilidade Fiscal; transferir para as áreas de saúde e educação os recursos que eram destinados ao

pagamento das dívidas;

33 Cf. Cinform Online, 30.07.2008 e Cinform, O Voto, 25.08.2008, p. 17. 34 Cinform Online, 30.07.2008 .

13

municipalização de todo o sistema de transporte municipal; passe livre para estudantes e desempregados; estatização dos serviços da educação e da saúde; implantar uma tarifa social no transporte para trabalhadores; acabar com as fundações na área da saúde; pagar maiores reajuste aos profissionais da saúde; realização de concurso público para ampliação do funcionalismo; construção de novos hospitais.

Como se vê, seu projeto estava voltado para uma transformação global, dentro de uma

concepção que ignorava as leis do mercado e a experiência internacional de falência dos modelos estatizantes.

A propaganda na TV transcorreu com tempo variado que ia de 02 minutos a 12

minutos e 39 segundos. QUADRO III ELEIÇÕES 2008 ARACAJU PARA PREFEITO TEMPO NA TV

Candidato

Coligação

Tempo na TV

Anderson Fabiano Góis (PCB)

2 minutos

Edvaldo Nogueira (PCdoB) “Todos por Aracaju” 12 minutos e 39 segundos

José Almeida Lima (PMDB) “A Gente Pode” 7 minutos e 6 segundos

Mendonça Prado (DEM) “Renovação com Coerência”

6 minutos e 8 segundos

Vera Lúcia (PSTU) “Frente de Esquerda de Aracaju”

2 minutos e 7 segundos

Nos programos disciplinados pelo TRE, os quatro candidatos oposicionistas repetiram suas propostas e intesificaram os ataques à administração municipal, centrando as críticas nos problemas da saúde, do transporte e da educação.

Almeida Lima, com a campanha mais estridente, depois de evocar sua infância,

apresentada como de menino pobre vendedor de frutas para ajudar no sustento da casa, passou o programa todo usando a imagem de uma criança com cerca de dois anos, repetindo seu slogan “a gente pode”, certamente inspirado no de Barack Obama: “sim, nós podemos.”

Enquanto isso, a campanha de Edvaldo Nogueira apresentava imagens de suas

obras em andamento, falava de suas proposições, repetia a avaliação de Aracaju como a capital de melhor qualidade de vida, ao tempo em que procurava construir sua imagem de “homem simples, honesto e trabalhador.” Sem a capacidade de comunicação do governador Marcelo Déda, que apareceu algumas vezes, destacando sua lealdade e seu desempenho administrativo, Edvaldo Nogueira seguiu a orientação de um marketing adaptado ao seu perfil e apresentou-se sem criticar adversários, mostrando seus feitos, reiterando promessas e, assim, foi se afirmando nas pesquisas.

14

QUADRO IV ELEIÇÕES 2008 ARACAJU PESQUISAS INDUZIDAS DE INTENÇÃO DE VOTO PARA PREFEITO INSTITUTOS LOCAIS 2008

Candidatos-Partidos/ Período da Pesquisa

19.06 23.07 21.08 27/28 03.09 10.09 17/18.09

18.09 25.09 02.10

Edvaldo Nogueira (PC do B)

35,5% 36,8% 40,3% 43,2% 44% 49,6% 44% 49,1 49,1 52

Almeida Lima (PMDB)

24,3% 22,8% 22,5% 18,8% 19,6% 19% 21% 19,5 19,9 22

Mendonça Prado (DEM)

12,5% 9,8% 12% 12,9% 13,6% 11,9% 14% 12,6 12,6 14

Vera Lúcia (PSTU)

6,7% 4,3% 3,8% 4,6% 3,1% 3% 3,9 2,5 3

Anderson Góis (PCB)

3,7% 1,5% 0,8% 1,3% 1,1% 1,9% 3% 2,5 3,0 2

Outros

2,4%

Índice rejeição

Indeciso

3,3% 4,5% 7,7% 28% 5,8% 4,5% 13% 5,1 5,4 3

Não sabe/ Não respondeu

8,3% 10,7% 6,8% 7,3% 4,9% 4,9% 16% 2,1 3,1

Nulos e Brancos

9,8% 7,7% 5,3% 12,7% 6,4% 5,1% 2% 5,1 4,4 4

Instituto Dataform

Dataform

Dataform

Soma Dataform

Dataform

Soma Dataform

Dataform

Soma

Fontes Cinform, 23.06.08

Cinform, 28.07.08

Cinform, 25.08.08

Jornal da

Cidade, 02.09.08

Cinform 08.09.08

Cinform 15 a

21.9.08.09.08

Jornal da Cida-de, 21-

22.09.08

Cinform 22/29.08

Cinform 29.09.08

Jornal da

Cidade,04.10.08

As pesquisas realizadas pelo IBOPE, tudo indica que através de entrevistas pelo telefone, foram bastante criticadas pelos oposicionistas, mas não divergiam muito dos resultados dos institutos locais.

15

QUADRO V ELEIÇÃO 2008 ARACAJU PESQUISAS INDUZIDAS DE INTENÇÃO DE VOTO PARA PREFEITO IBOPE 2008

Candidatos-Partidos/ Período da Pesquisa

31.08 e

02.09.2008

14 a 16.09.

2008

3 e

4.10.2008(*)

Edvaldo Nogueira (PC do B)

48% 41% 52

Almeida Lima (PMDB)

19% 18% 19

Mendonça Prado (DEM)

8% 12% 19

Vera Lúcia (PSTU)

3% 2% 6

Anderson Góis (PCB)

1% 2% 4

Outros

Índice rejeição

Indeciso

13% 16%

Não sabe/ Não respondeu

Nulos e Brancos

8% 10%

Instituto IBOPE/TV SE

IBOPE/TV SE

IBOPE/TV SE

Fontes Jornal da Cidade, 05.09.08

Jornal da Cidade, 19.09.08

TV-SE, 04.10.08

*Apenas votos válidos

Quando os institutos projetavam as intenções de voto para o segundo turno, o

favoritismo de Edvaldo Nogueira ainda mais se acentuava.

16

QUADRO VI ELEIÇÕES 2008 ARACAJU

PESQUISAS INDUZIDAS DE INTENÇÃO DE VOTO PARA PREFEITO INSTITUTOS LOCAIS 2008 PROJEÇÃO DO SEGUNDO TURNO

Candidatos-Partidos/ Período da

Pesquisa

25.09

25.09

Edvaldo Nogueira (PC do B) 55,9 58 Almeida Lima (PMDB) 31,6 Mendonça Prado (DEM) 28 Índice rejeição Indeciso 2,9 2,8 Não sabe/Não respondeu 3 4,1 Nulos e Brancos 6,6 6,9 Fonte Cinform, O voto, 29.09.08 Cinform, O voto, 29.09.08

O índice de avaliação do prefeito era de 11,2% como ótima; 30,4%, boa; 39,2%,

regular; 7,1%, ruim e 11,9%, péssima, além de 1,2% de indecisos.35 Sua rejeição era semelhante à de Mendonça Prado e bem abaixo de Almeida Lima. Com esses indicadores, a reeleição de Edvaldo Nogueira foi-se revelando provável, para insatisfação de seus adversários.

Diante desses sinais de aprovação, os debates apresentaram-se para os adversários

do prefeito como a grande oportunidade de acabar com seu favoritismo ou, ao menos, proporcionar o segundo turno.

Dos três debates, o primeiro aconteceu no auditório do Banese e mostrou a

unificação de todos os candidatos não governistas, empenhados em criticar Edvaldo Nogueira, desfazendo de sua administração, enquanto o prefeito, evitando revidar as críticas, demonstrava timidez, pouca desenvoltura, deixando a impressão de que saíra desgastado.

Almeida Lima, por sua vez, reforçou a imagem de homem senhor de si, nascisista,

soberbo e presunçoso. Mendonça Prado, ferino e pouco propositivo. Anderson Góis impressionou bem aos jornalistas com sua fluência verbal, embora o conteúdo fosse um tanto contraditório, enquanto Vera Lúcia criticava todos, ao tempo em que se considerava a única representante legítima da classe trabalhadora e portadora de coerência e pureza ideológica.

Nos dias seguintes, os adversários do prefeito reproduziram os momentos

expressivos das críticas mais contundentes do debate, deixando o candidato governista na defensiva.

Diante do seu fraco desempenho, o prefeito não compareceu ao segundo embate

realizado no recinto da Assembleia Legislativa, onde continuou criticado. Apesar disso, embora as discussões tenham se processado menos acaloradas, algumas divergências

35Jornal da Cidade, 02.09.08.

17

internas entre os contendores se revelaram mais claras, sobretudo diante das acusações de Vera Lúcia do PSTU, que teimava em apresentar-se como a única candidatura de esquerda.

Um dos pontos mais explorados pelos candidatos oposicionistas foi um relatório da

Controladoria da União (CGU) que apontava “Aracaju como líder no ranking de indícios de irregularidades na aplicação de verbas públicas”, na medida em que a capital aparecia com 237 citações em atos que revelavam algum tipo de ilicitude, somando R$ 171 milhões em convênios.36

No terceiro e último debate, acontecido na TV Sergipe, afiliada da Rede Globo,

Edvaldo Nogueira preparou-se melhor, fez perguntas embaraçosas aos representantes do DEM e do PMDB e deixou uma impressão favorável.

Com essa apresentação, a hipótese de segundo turno pareceu mais remota. A essa

altura, José Almeida Lima já havia experimentado alguns problemas. O PT do B e o PRTB romperam com sua campanha e o próprio Almeida Lima indispôs-se com uma juíza que mandou retirar umas placas da frente do seu comitê. Sem grandes perspectivas de vitória, o senador fez de tudo para justificar a presença de força federal no pleito da capital. Para tanto, compareceu a carretas de Edvaldo Nogueira provocando os adeptos da candidatura governista no sentido de gerar reações conflituosas que pudessem ser documentadas com filmadora para embasar sua requisição. Alertados, os governistas exercitaram a tolerância e a campanha chegou ao fim sem incidentes graves e sem a intervenção do Exército. 3. Resultados Eleitorais

3.1.Nacional O PMDB foi o partido vitorioso no âmbito nacional. Recebeu o maior número de

votos no primeiro turno e elegeu a maior quantidade de prefeitos. O PT apareceu com a segunda maior votação, mas ampliou muito pouco em relação

ao pleito anterior. Os petistas conquistaram 21 prefeituras do G-79, ou seja, das cidades acima de 200 mil eleitores, “três a mais do que em 2004, quando o partido havia regredido em duas posições de poder em relação a 2000.”37

O PSDB foi apontado como um dos principais perdedores do pleito de 2008. Dentro

do grupo do G-79, o PSDB perdeu quatro prefeituras em relação ao pleito de 2004. “Nos demais partidos há registros importantes a fazer. O PP cresceu, foi de duas

para cinco prefeituras no G-79. O PDT e o PSB tiveram um leve declínio. O DEM manteve a curva negativa herdada do PFL.”38

3.2. Municipal Em Aracaju, durante o pleito, o acontecimento que despertou mais atenção da

imprensa foi a detenção de João Alves Filho. Ao participar de carreata no dia da eleição, o ex-governador foi obstado, exaltou-se com o policial, colocou o dedo em seu rosto e foi convidado a comparecer à Polícia Federal, onde prestou depoimento após longa espera. Com esse incidente, o líder do DEM passou a responsabilizar o governador Marcelo Déda por sua prisão e a dizer que seu candidato não foi ao segundo turno porque ficara detido.

36 Cf. Jornal da Cidade, 11.06.2008. 37 Blog do colunista Ilimar Franco. O Globo Online. 38 Blog do colunista Ilimar Franco. O Globo Online.

18

Apurado o resultado da votação poucas horas após o encerramento da coleta de votos, o prefeito Edvaldo Nogueira do PC do B foi reeleito no primeiro turno com 51,72% dos votos válidos. Mais uma vez, venceu o candidato situacionista, dentro de uma tendência contrária à dos anos cinquenta, quando o vitorioso quase sempre era da oposição. A exemplo do que vem ocorrendo desde o ano 2000, a eleição foi decidida no primeiro turno, para satisfação de Marcelo Déda que, emocionado, considerou-se mais alegre do que na sua eleição para governador do Estado. QUADRO IX ELEIÇÃO DE 2008 ARACAJU VOTAÇÃO PARA PREFEITO 1º Turno - Fase: Oficial - Data: 05/10/2008 – Hora: 20:02 - Totalização: Final - 100,00% Candidato Partido Número Votos

Válidos %

Edvaldo Nogueira PC do B 65 140.962 51,72% Mendonça Prado DEM 25 59.217 21,73% Almeida Lima PMDB 15 48.319 17,73% Anderson Góis PCB 21 14.886 5,46% Vera Lúcia PSTU 16 9.143 3,35%

Votos em Branco 10.988 3,63% Nulos 19.036 6,29% Abstenções 54.245 15,20% Eleitorado 356.796 Comparecimento 302.551 (84,80%) Votos Válidos 272.527 (90,08%) Votos Nominais 272.527 (100,00%) Seções Apuradas 916 Além da reeleição de Edvaldo Nogueira, sua coligação elegeu 14 vereadores dentro

de uma bancada de 19 membros. A grande surpresa foi o segundo lugar na competição para prefeito de Mendonça Prado, uma vez que as pesquisas o colocavam sempre abaixo de Almeida Lima. De qualquer forma, foi uma demonstração do peso eleitoral do grupo alvista em Aracaju.

Caso semelhante aconteceu com a classificação no último lugar, que ficou com Vera

França (PSOL), pois as intenções de voto divulgadas apontavam geralmente Anderson Góis (PCB) na derradeira posição.

Almeida Lima (PMDB), ao situar-se no terceiro lugar, ficou decepcionado, ao ponto

de recusar-se a dar qualquer declaração à imprensa nos dois meses subsequentes ao pleito. Realmente, para quem dispôs de tantos recursos, montou tamanha estrutura de campanha e empenhou-se tanto, foi um resultado desapontador. Como último recurso, dentro do seu estilo de forçar a criação de um fato político, entrou com representação junto ao TRE-SE, pedindo anulação do pleito de Aracaju, alegando irregularidades nas urnas.39 O caso chegou ao TSE que considerou as alegações improcedentes.

No conjunto, foi uma vitória da aliança governista de Sergipe que permaneceu

sintonizada nos três níveis, nacional, estadual e municipal, sob a hegemonia dos grupos de esquerda.

39 Ver Jornal da Cidade, 07.10.2008 e Correio de Sergipe, 07.10.2008.

19

Os pefelistas que controlaram o Estado por mais de vinte anos associados com o

PSDB amargavam mais uma derrota. É verdade que perderam o controle da capital desde a vitória de Jackson Barreto em 1985, apesar desse político haver sido eleito com apoio de João Alves.

Observe-se que o candidato do PC do B foi votado nas quatro zonas numa

proporção pouco variada. QUADRO X ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2008

ARACAJU VOTAÇÃO DOS CANDIDATOS POR ZONA ELEITORAL

Candidato 1ª. Zona

2ª. Zona

27ª Zona

36ª Zona

Total

Edvaldo Nogueira

40.599 49,11%

32.315 50,60%

33.956 54,56%

34.092 53,47%

140.962 51,72%

Mendonça Prado

17.960 21,72%

14.438 22,61%

12.983 20,86%

13.836 21,70%

59.217 21,73%

Almeida Lima

17.071 20,65%

11.651 18,24%

10.083 16,20%

9.514 14,92%

48.319 17,73%

Anderson Góis

3.958 4,79%

3.192 5,00%

3.226 5,18%

4.510 7,07%

14.886 5,46%

Vera Lúcia 3.084 3,73%

2.272 3,56%

1.983 3,19%

1.804 2,83%

9.143 3,35%

Abstenções 14.743 13,74%

13.600 16,06%

11.925 14,70%

13.977 16,71%

54.245 15,20%

Em Branco 3.608 3,90%

2.570 3,61%

2.613 3,78%

2.197 3,15%

10.988 3,63%

Nulos 6.283 6,79%

4.663 6,56%

4.357 6,30%

3.733 5,36%

19.036 6,29%

Fonte: TRE/SE Ao compararmos a votação de Edvaldo Nogueira com a dos prefeitos eleitos desde

1985, notamos que, dentro dessa série histórica, seu desempenho superou apenas o de Wellington Paixão e João Augusto Gama, sendo este o único, aliás, que teve a candidatura definida no segundo turno. De qualquer forma, mais uma vez, a vitória foi conseguida no primeiro turno, dentro de uma tradição predominante nas últimas duas décadas. QUADRO XI ARACAJU

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VOTAÇÕES PARA PREFEITO NO PRIMEIRO TURNO 1985/2004

Candidatos Ano % Comparecimento

% Votos válidos

Jackson Barreto 1985 66,06 70,03 Wellington Paixão 1988 46,51 57,22 Jackson Barreto 1992 55,91 66,92 João Augusto Gama

1996 22,67 25,52

Marcelo Déda 2000 48,01 52,80 Marcelo Déda 2004 65,62 71,38 Edvaldo Nogueira 2008 46,59 51,72

Fonte: TRE/SE Em termos de índice de alienação, dentro de uma série histórica do período

1985/2008, não encontramos grandes alterações. Apesar disso, há alguns pontos que aparecem estranhos. Primeiro, o número elevado de abstenções justamente em 1985, quando se sabe que, após um período autoritário, o índice de alienação tende a ser baixo, incluindo aí o não comparecimento ao pleito. QUADRO XII INDICE DE ALIENAÇÃO ARACAJU ELEIÇÃO PARA PREFEITO EM PRIMEIRO TURNO 1985-2008

ANO

ELEITORADO

COMPAREC

ABSTENÇÔES

BRANC0S

NULOS

1985 158.894 128.939 18,85% 1,43% 3,41% 1988 187.319 168.271 6,82% 7,90% 10,82% 1992 215.125 186.868 15,12% 8,72% 9,06% 1996 250.125 210.319 15,91% 1,06% 10,3% 2000 292.448 254.145 13,90% 2,28% 6,80% 2004 325.954 284.201 12,81% 2,03% 6,03% 2008 356.796 302.551 15,20% 3,63% 6,29%

Fonte: TRE/SE Somando a abstenção com os votos brancos e nulos, pode-se dizer que, no pleito de

2008, o índice de alienação foi dos mais baixos. Se formos analisar o número de prefeitos por partido no Estado como um todo,

alguns indicadores merecem ser observados. 1. Venceu o pleito no Estado a aliança situacionista. Para tal, foi importante a

atuação do governador que participou da campanha ativamente, visitando os municípios, liderando as caminhadas, discursando em comícios pedindo apoio para seus candidatos. Ao final, entre 75 prefeitos eleitos, 50 deles integravam a aliança governista. É verdade que o quadro comportou certa complexidade, pois seus correligionários várias vezes concorreram entre si apoiados por lideranças da própria coalizão situacionista.

2. O PMDB recuperou-se no interior, sob a influência de Jackson Barreto, e foi o

partido que elegeu o maior número de prefeitos, 13. Ao lado disso, verificou-se significativo crescimento do PSC, PSB, PDT e PT.

Dessa forma, a coalizão governista afirmou-se composta basicamente pelo PMDB do

deputado federal Jackson Barreto, o PSB do senador Antonio Carlos Valadares, o PDT do

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presidente da Assembleia Ulisses Andrade, o PSC do empresário Edvan Amorim, ex-genro de João Alves, que vem se mantendo aliado ao governador dentro de uma relação de conveniências e mútuas desconfianças. Há ainda o PT, subdividido em facções ideológicas e tendências que competem entre si, algumas das quais aceitam a liderança de Marcelo Déda com restrições mais ou menos explícitas.

Nesta última eleição, o PSDB, sob a chefia do deputado Albano Franco, somou-se à

coligação situacionista. Apesar disso, a agremiação tucana prosseguiu declinante entre os prefeitos do interior, assim como o PFL, transformado em DEM.

Diante do declínio do DEM, do PSDB e do PPS, o espaço político que eles deixaram

foi substituído por várias agremiações sem a predominância absoluta de qualquer uma delas. Podemos então avaliar que o sistema pluripartidário, resultante da eleição dos prefeitos em 2008, ficou mais competitivo, enquanto proporcionalmente mais equilibrado, conforme se vê pelo quadro abaixo. QUADRO XIII SERGIPE NÚMERO DE PREFEITOS ELEITOS POR PARTIDO 2000 – 2008

PARTIDO

ELEIÇÃO DE 2000

ELEIÇÃO DE

2004

ELEIÇÃO DE

2008 PFL/DEM 18 25 6 PTB 0 8 5 PMDB 15 7 13 PL /PR 2 6 6 PSDB 22 5 2 PPS 10 5 1 PSB 3 4 10 PT 2 5 7 PDT 1 4 11 PT do B 0 3 1 PPB/PP 2 3 1 PSC 0 0 9 PC do B 0 0 2 PRB 0 0 1 Municípios indefinidos

0 2 0

Total 75 75 75 Fonte: TRE/SE. Obs.: Sobre o período de 1967 a 2000, ver: DANTAS, Ibarê. Eleições em Sergipe. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, p. 290.

Esse equilíbrio de forças entre as lideranças estaduais foi resultante, sobretudo, da competição travada dentro da base governista. Jackson Barreto, Valadares, Edvan Amorim, Ulisses Andrade e José Eduardo Dutra foram os políticos mais fortes que atuaram juntos a candidatos de partidos de diversos municípios com o fim de se fortalecerem para o pleito de 2010.