aquecimento global e responsabilidade social

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AQUECIMENTO GLOBAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL Jorge Henrique Vieira Santos Este texto se propõe a discutir os últimos estudos sobre a questão do aquecimento global divulgados pelo Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima, publicado em 05 de fevereiro de 2007, e suas implicações para a responsabilidade social que se impõe a todos, por serem fatores antropogênicos as principais causas das mudanças climáticas analisadas no referido documento. Para tanto, fará um breve relato das origens e conseqüências do problema. A partir daí, discutirá a forma de divulgação do Relatório pela imprensa mundial e sua repercussão em termos geopolíticos.Em seguida, discutirá ações mais eficazes que devem ser implementadas no sentido de diminuir os efeitos inevitáveis desse processo, e a necessidade de uma tomada de consciência ecológica global inerente à nova realidade mundial que se apresenta a todos. Criado em 1988, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC) é o corpo científico da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e tem como um de seus principais objetivos a avaliação de publicações científicas para consolidar relatórios sobre “mudanças climáticas, impactos, vulnerabilidade e formas de adaptação dos sistemas biológicos e físicos a essas mudanças e meios de reduzir a emissão/concentração na atmosfera de gases de efeito estufa” (Esparta e Moreira, 2002, p.1). Em seu último relatório, publicado em fevereiro de 2007, o IPCC aponta, com 90% de segurança, a ação humana como principal causadora das mudanças climáticas que acentuaram o aquecimento global nas últimas décadas. Segundo o referido documento, “o efeito líquido global das atividades humanas, em média, desde 1750 foi de aquecimento” e esse “aquecimento do sistema climático é inequívoco, como está agora evidente nas observações dos aumentos das temperaturas médias globais do ar e do oceano, do derretimento generalizado da neve e do gelo e da elevação do nível global médio do mar” (Quarto Relatório de Avaliação do GT1/IPCC, 2007, p. 7-8). Essa alteração climática está diretamente relacionada ao chamado efeito estufa, decorrente das “concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso” (Quarto Relatório de Avaliação do GT1/IPCC, 2007, p. 3). O primeiro desses gases é oriundo, principalmente, da queima de combustíveis fósseis, e os outros são conseqüências do desmatamento. Segundo o IPCC, 75% das emissões antropogênicas de dióxido de carbono durante as duas últimas décadas se deve ao uso de combustíveis fósseis. Embora as conclusões divulgadas pelo IPCC tenham sido endossadas por, pelo menos, “30 sociedades e comunidades científicas” (Aquecimento global – Wikipédia), e apontem o uso de combustíveis fósseis como principal emissor de dióxido de carbono, a forma como esse relatório foi divulgado pela imprensa mundial induz à concepção de que todos os seres humanos são igualmente

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Este texto se propõe a discutir de forma suscinta os últimos estudos sobre a questão do aquecimento global divulgados pelo Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima, publicado em 05 de fevereiro de 2007, e suas implicações para a responsabilidade social que se impõe a todos, por serem fatores antropogênicos as principais causas das mudanças climáticas analisadas no referido documento. Para tanto, fará um breve relato das origens e conseqüências do problema. A partir daí, discutirá a forma de divulgação do Relatório pela imprensa mundial e sua repercussão em termos geopolíticos.Em seguida, discutirá ações mais eficazes que devem ser implementadas no sentido de diminuir os efeitos inevitáveis desse processo, e a necessidade de uma tomada de consciência ecológica global inerente à nova realidade mundial que se apresenta a todos.

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Page 1: Aquecimento Global e Responsabilidade Social

AQUECIMENTO GLOBAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL

Jorge Henrique Vieira Santos

Este texto se propõe a discutir os últimos estudos sobre a questão do aquecimento global divulgados pelo Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima, publicado em 05 de fevereiro de 2007, e suas implicações para a responsabilidade social que se impõe a todos, por serem fatores antropogênicos as principais causas das mudanças climáticas analisadas no referido documento. Para tanto, fará um breve relato das origens e conseqüências do problema. A partir daí, discutirá a forma de divulgação do Relatório pela imprensa mundial e sua repercussão em termos geopolíticos.Em seguida, discutirá ações mais eficazes que devem ser implementadas no sentido de diminuir os efeitos inevitáveis desse processo, e a necessidade de uma tomada de consciência ecológica global inerente à nova realidade mundial que se apresenta a todos.

Criado em 1988, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC) é o corpo

científico da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e tem como um

de seus principais objetivos a avaliação de publicações científicas para consolidar relatórios sobre

“mudanças climáticas, impactos, vulnerabilidade e formas de adaptação dos sistemas biológicos e

físicos a essas mudanças e meios de reduzir a emissão/concentração na atmosfera de gases de efeito

estufa” (Esparta e Moreira, 2002, p.1). Em seu último relatório, publicado em fevereiro de 2007, o

IPCC aponta, com 90% de segurança, a ação humana como principal causadora das mudanças

climáticas que acentuaram o aquecimento global nas últimas décadas. Segundo o referido

documento, “o efeito líquido global das atividades humanas, em média, desde 1750 foi de

aquecimento” e esse “aquecimento do sistema climático é inequívoco, como está agora evidente nas

observações dos aumentos das temperaturas médias globais do ar e do oceano, do derretimento

generalizado da neve e do gelo e da elevação do nível global médio do mar” (Quarto Relatório de

Avaliação do GT1/IPCC, 2007, p. 7-8).

Essa alteração climática está diretamente relacionada ao chamado efeito estufa, decorrente das

“concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso” (Quarto Relatório de

Avaliação do GT1/IPCC, 2007, p. 3). O primeiro desses gases é oriundo, principalmente, da queima

de combustíveis fósseis, e os outros são conseqüências do desmatamento. Segundo o IPCC, 75%

das emissões antropogênicas de dióxido de carbono durante as duas últimas décadas se deve ao uso

de combustíveis fósseis.

Embora as conclusões divulgadas pelo IPCC tenham sido endossadas por, pelo menos, “30

sociedades e comunidades científicas” (Aquecimento global – Wikipédia), e apontem o uso de

combustíveis fósseis como principal emissor de dióxido de carbono, a forma como esse relatório foi

divulgado pela imprensa mundial induz à concepção de que todos os seres humanos são igualmente

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responsáveis pelo aquecimento global do planeta e desconsidera a evidência de que “o impacto

causado por uma colônia de pescadores não pode ter a mesma dimensão das alterações climáticas

provocadas por uma corporação petrolífera, por exemplo” (Salles, 2007).

Segundo SALLES, o direcionamento que as discussões sobre o problema tomou desvia a

atenção de todos para destruição da floresta amazônica, por exemplo, imputando boa parcela da

culpa ao povo brasileiro, quando os grandes emissores de dióxido de carbono na atmosfera -

portanto maiores responsáveis - que são as grandes corporações de petróleo e as grandes indústrias

dos países mais desenvolvidos são deixados de lado nessa questão. Como resultado disso, a

população mundial, preocupada com o destino do planeta, está se mobilizando através de ações

positivas no sentido de diminuir as conseqüências do aquecimento global, embora não se perceba

que tais ações, apesar de bem-vindas, são insuficientes para provocar efeitos de impacto global a

curto ou médio prazo. Tais efeitos demandam empreendimentos de maior envergadura só possíveis

de se realizar por meio de acordos internacionais, como o Protocolo de Kyoto, que pretende limitar

a emissão de gases do efeito estufa em 5%. Contudo, mesmo esse acordo ainda resulta insuficiente,

uma vez que, segundo ARTAXO, “é bastante modesto nas metas e nas punições” e os Estados

Unidos, principais emissores de dióxido de carbono na atmosfera, recusaram-se a assiná-lo, pois seu

presidente atual foi eleito com o apoio das grandes indústrias petroleiras e armamentistas, que “são

as que mais poluem”. É preciso, pois, que não apenas os indivíduos isoladamente, mas os países

mais desenvolvidos e industrializados assumam sua parcela de responsabilidade pelo destino do

mundo e comecem a implementar ações cada vez mais abrangentes no sentido de reduzir a emissão

desses gases na atmosfera.

A questão do aquecimento global é algo crucial para toda a humanidade, pois começa a afetar

significativamente o equilíbrio do planeta. É óbvio, portanto, que deve ser responsabilidade que

cada um e de todos os países agirem para tentar diminuir o impacto de suas conseqüências, que já é

inevitável, pois resulta de um longo processo no qual interagem causas naturais e humanas relativas

à mudança de hábitos da população mundial, decorrente da própria industrialização e do progresso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARTAXO, Paulo. Carbono vai virar commoditie com o protocolo de kyoto, diz o pesquisador. Folha Online. 17 dez. 2005. Entrevista concedida a Paloma Varón. [online] Disponível na internet via WWW. URL: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u12942.shtml. Acesso em 28 de junho de 2007.

ESPARTA, A. Ricardo J. e MOERIRA, José Roberto. Principais conclusões do terceiro relatório de avaliação do painel intergovernamental sobre mudança do clima. In: IX Congresso Brasileiro de Energia, 20 a 22 de maio de 2002, Rio de Janeiro - RJ. [online] Disponível na internet via WWW. URL: http://www.centroclima.org.br/ccpdf/IPCC%20Conclusoes.pdf. Acesso em 28 de junho de 2007.

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PAINEL GOVERNAMENTAL SOBRE MUDANÇA DO CLIMA. Mudança do clima 2007: a base das ciências físicas. Contribuição do Grupo de Trabalho I para o Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima. Trad. Alexandra de Ávila Ribeiro. [online] Disponível na internet via WWW. URL: http://www.amazonia.desenvolvimento.gov.br/br/pdf/IPCC_Fev07_portugues.pdf. Acesso em 28 de junho de 2007.

SALLES, Marcelo. Esquecimento global. A Nova Democracia. Ano V. Nº 34, abril de 2007. [online] Disponível na internet via WWW. URL: http://www.anovademocracia.com.br/34/20.htm. Acesso em 28 de junho de 2007.