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SETEMBRO / 2012 74 REVISTA PROTEÇÃO SEGURANÇA TOXICOLÓGICA Medidas de engenharia, coletivas e individuais podem minimizar riscos Aprimorando a percepção A manipulação e o uso de agrotóxicos estão entre os trabalhos rurais mais fre- quentes, no entanto, as orientações quan- to à escolha do produto e a dose a ser uti- lizada muitas vezes são obtidas de forma errônea. A adoção de novas tecnologias no meio de produção rural e o aumento das mo- noculturas resultou em um elevado con- sumo de agrotóxicos e também em um au- mento considerável do número de intoxi- cações de trabalhadores rurais, relaciona- do a problemas como baixa escolaridade e falta de conhecimento técnico sobre os produtos, resultando em não uso de Equi- pamentos de Proteção Individual. Pode- se considerar que os casos de intoxicação por agrotóxicos são um problema de or- dem socioeconômica e origem profissional. O Brasil ocupa um relevante papel na produção de alimentos em nível nacional Helton César Martins Montechesi - Engenheiro Agrônomo pela UENP (Universidade Estadual do Norte do Paraná)e Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho pela UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) [email protected] Edson LuisBasseto - Professor da UTFPR, Mestre em Engenharia, Engenheiro Eletricista e de Segurança do Trabalho. [email protected] Helton César Martins Montechesi e Edson Luis Bassetto e internacional, o que exige uma severa adequação das normas gerais aceitas in- ternacionalmente e no emprego de tecno- logias de ponta e mão de obra qualificada. Atender à legislação vigente acerca dos agrotóxicos é condição essencial para que a sociedade possa se beneficiar, com se- gurança toxicológica, ambiental e agronô- mica. LEGISLAÇÃO LEGISLAÇÃO LEGISLAÇÃO LEGISLAÇÃO LEGISLAÇÃO Por serem produtos potencialmente perigosos à saúde humana e ao ambien- te, os agrotóxicos precisaram de uma le- gislação que disciplinasse sua produção, comércio, transporte e uso. O Decreto nº 24.114 de 12 de abril de 1934 foi a primeira legislação sobre pro- dutos fitossanitários promulgada no Bra- sil, inalterada até a década de 60. Somen- te em 1989, o país começou a cumprir efe- tivamente as exigências internas e inter- nacionais com relação à qualidade dos produtos agrícolas com a promulgação da Lei n° 7.802, de 11 de julho de 1989, re- gulamentada pelo Decreto n° 98.816, de 11 de janeiro de 1990, e as alterações introduzidas pela Lei nº 9.974, de 6 de junho de 2000, regulamentada pelo De- creto n° 4.074 de 4 de janeiro de 2002. Deve-se observar, além das disposições legais que regulamentam o uso de agro- tóxicos no país, as Normas Regulamenta- doras, particularmente a NR 31, sobre Segurança e Saúde no Trabalho na Agri- cultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura, e a NR 6, sobre Equipamentos de Proteção Individual; que sem dúvida, são as NRs que mais im- plicam na atividade rural com aplicação de agrotóxicos. RECEITUÁRIO RECEITUÁRIO RECEITUÁRIO RECEITUÁRIO RECEITUÁRIO O principal objetivo do receituário agro- nômico é orientar o uso racional dos agrotóxicos, sendo que o diagnóstico é pré-requisito essencial para a prescrição da receita. A recomendação para utilizar o agrotóxico foi conferida pela sociedade ao engenheiro agrônomo e aos profissio- nais legalmente habilitados que por pre- sunção legal detêm os conhecimentos necessários para fazer a análise e decidir HAMILTON HUMBERTO RAMOS

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SETEMBRO / 201274 REVISTA PROTEÇÃO

SEGURANÇA TOXICOLÓGICA

Medidas de engenharia, coletivas e individuais podem minimizar riscos

Aprimorando a percepçãoA manipulação e o uso de agrotóxicos

estão entre os trabalhos rurais mais fre-quentes, no entanto, as orientações quan-to à escolha do produto e a dose a ser uti-lizada muitas vezes são obtidas de formaerrônea.

A adoção de novas tecnologias no meiode produção rural e o aumento das mo-noculturas resultou em um elevado con-sumo de agrotóxicos e também em um au-mento considerável do número de intoxi-cações de trabalhadores rurais, relaciona-do a problemas como baixa escolaridadee falta de conhecimento técnico sobre osprodutos, resultando em não uso de Equi-pamentos de Proteção Individual. Pode-se considerar que os casos de intoxicaçãopor agrotóxicos são um problema de or-dem socioeconômica e origem profissional.

O Brasil ocupa um relevante papel naprodução de alimentos em nível nacional

Helton César Martins Montechesi - Engenheiro Agrônomopela UENP (Universidade Estadual do Norte do Paraná)eEspecialista em Engenharia de Segurança do Trabalho pelaUTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)[email protected]

Edson LuisBasseto - Professor da UTFPR, Mestre emEngenharia, Engenheiro Eletricista e de Segurança [email protected]

Helton César Martins Montechesi e Edson Luis Bassetto

e internacional, o que exige uma severaadequação das normas gerais aceitas in-ternacionalmente e no emprego de tecno-logias de ponta e mão de obra qualificada.Atender à legislação vigente acerca dosagrotóxicos é condição essencial para quea sociedade possa se beneficiar, com se-gurança toxicológica, ambiental e agronô-mica.

LEGISLAÇÃOLEGISLAÇÃOLEGISLAÇÃOLEGISLAÇÃOLEGISLAÇÃOPor serem produtos potencialmente

perigosos à saúde humana e ao ambien-te, os agrotóxicos precisaram de uma le-gislação que disciplinasse sua produção,comércio, transporte e uso.

O Decreto nº 24.114 de 12 de abril de1934 foi a primeira legislação sobre pro-dutos fitossanitários promulgada no Bra-sil, inalterada até a década de 60. Somen-te em 1989, o país começou a cumprir efe-tivamente as exigências internas e inter-nacionais com relação à qualidade dosprodutos agrícolas com a promulgação daLei n° 7.802, de 11 de julho de 1989, re-gulamentada pelo Decreto n° 98.816, de

11 de janeiro de 1990, e as alteraçõesintroduzidas pela Lei nº 9.974, de 6 dejunho de 2000, regulamentada pelo De-creto n° 4.074 de 4 de janeiro de 2002.

Deve-se observar, além das disposiçõeslegais que regulamentam o uso de agro-tóxicos no país, as Normas Regulamenta-doras, particularmente a NR 31, sobreSegurança e Saúde no Trabalho na Agri-cultura, Pecuária, Silvicultura, ExploraçãoFlorestal e Aquicultura, e a NR 6, sobreEquipamentos de Proteção Individual;que sem dúvida, são as NRs que mais im-plicam na atividade rural com aplicaçãode agrotóxicos.

RECEITUÁRIORECEITUÁRIORECEITUÁRIORECEITUÁRIORECEITUÁRIOO principal objetivo do receituário agro-

nômico é orientar o uso racional dosagrotóxicos, sendo que o diagnóstico épré-requisito essencial para a prescriçãoda receita. A recomendação para utilizaro agrotóxico foi conferida pela sociedadeao engenheiro agrônomo e aos profissio-nais legalmente habilitados que por pre-sunção legal detêm os conhecimentosnecessários para fazer a análise e decidir

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SEGURANÇA TOXICOLÓGICA

pela necessidade do produto.O conteúdo da receita agronômica está

previsto no Decreto Federal n° 4.074/2002, artigo 66. Embora possa ser consi-derado um avanço por evidenciar a im-portância da responsabilidade profissio-nal na indicação de agrotóxicos, o recei-tuário adquiriu um caráter quase que ex-clusivamente de instrumento para vendasde agrotóxicos, e não de orientação fitos-sanitária, como se pretendia quando foiinicialmente proposto. Além disso, nãoprevê qualquer especificação em relaçãoà capacitação do usuário, desconsideran-do as condições técnicas para o uso doproduto receitado. Na forma em que se en-contra, ele permite a prescrição de qual-quer produto, inclusive os de alta periculo-sidade, para qualquer pessoa, concentran-do toda a responsabilidade no profissio-nal que emite a receita e no usuário, pelautilização. Logicamente, há necessidadede se rediscutir a finalidade e a aplicaçãodesse instrumento.

Durante a pulverização, o risco de ex-posição do trabalhador é bastante depen-dente da tecnologia de aplicação. O idealseria atingir, com a quantidade necessá-ria, apenas os organismos que se desejacontrolar, mas não há tecnologia que per-mita tal precisão. Assim, se toma como

alvo não os organismos que trazem danos,mais as áreas, plantas ou animais ondeeles se encontram. Mesmo assim a efici-ência das aplicações ainda é muito ruim,e a maior parte do produto não atinge oalvo, perdendo-se para o ambiente quenão se deseja contaminar.

A aplicação de agrotóxicos é uma ciên-cia multidisciplinar, que se caracteriza porum considerável desperdício de energiae de produto químico, constituindo-se emsério risco de acidente para o agricultor epara o meio ambiente.

MERCADOMERCADOMERCADOMERCADOMERCADOAtualmente existem mais de 80 fabri-

cantes de agrotóxicos no Brasil. Aproxi-madamente 673 produtos estão no mer-cado (374 genéricos e 299 especialida-des); 56% são moderadamente ou poucotóxicos (classe III e IV, faixa azul e verde,respectivamente).

Em 2009, foram comercializadas 725mil toneladas de produtos formulados. Asprincipais classes são os herbicidas com59%, seguido por inseticidas e acaricidascom 21%, fungicidas com 12% e outrasclasses com 8%. A cultura que mais utili-za agrotóxicos é a soja (48%), seguidapelo milho (11%), cana (8%), algodão(7%), hortifrutiflores (4,3%), café (4%)

e citros (3%). O Mato Grosso é o estadolíder em vendas (20%), seguido por SãoPaulo (15%), Paraná (14%), Rio Grandedo Sul (11%), Goiás (10%) e Minas Ge-rais (9%). A venda deste insumo agrícolano Brasil, em 2009, foi de R$ 12,9 bilhões.Segundo dados do Sindag, o país apareceem 2º lugar no ranking dos 10 principaispaíses consumidores, que representam70% do mercado mundial de agrotóxicos.

Quanto à inovação e o desenvolvimen-to científico-tecnológico, para que umnovo produto seja lançado no mercado sãonecessários aproximadamente 12 anos depesquisa. A evolução da pesquisa e da ava-liação toxicológica dos agrotóxicos temlevado à produção de novas moléculascom toxicidade cada vez menor e alta efi-ciência em baixas doses, o que reduz apossibilidade de intoxicações. Comparan-do-se os defensivos atuais com os utiliza-dos na década de 60, houve uma reduçãode cerca de 90% na dose; 160 vezes natoxicidade aguda, além do surgimento denovos mecanismos de ação e menor im-pacto ambiental. Para que um defensivoseja utilizado pelo agricultor é necessárioque seja registrado. Trata-se de um rigo-roso processo, envolvendo avaliação dosMinistérios da Agricultura, Pecuária e A-bastecimento (MAPA), Saúde (Anvisa) eMeio Ambiente (Ibama).

CARACTERÍSTICASCARACTERÍSTICASCARACTERÍSTICASCARACTERÍSTICASCARACTERÍSTICASDevido à grande diversidade de produ-

tos é importante conhecer a classificaçãodos agrotóxicos quanto à sua ação e aogrupo químico a que pertencem, sendoútil tal conhecimento para o diagnóstico

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SEGURANÇA TOXICOLÓGICA

das intoxicações e a instituição de trata-mento específico. Os agrotóxicos mais co-muns são divididos em inseticidas, fungi-cidas e herbicidas. São classificados tam-bém pelo seu poder tóxico, expresso emtermos do valor da Dose Letal (DL50) porvia oral, representada por miligramas doproduto tóxico por quilo de peso vivo, ne-cessários para matar 50% de animais-tes-tes. Por determinação legal todos os pro-dutos devem apresentar nos rótulos umafaixa colorida indicativa de sua classetoxicológica. Observe as cores e doses le-tais em cada classe na Tabela 1, Classifi-cação toxicológica e cor dos rótulos.

A atividade de aplicação de agrotóxicosno ambiente agrícola é peculiar: diferen-temente de uma unidade de produção fa-bril, em que o ambiente de trabalho podeser influenciado por técnicas de controlede ventilação, temperatura, umidade, ilu-minação, adequação arquitetônica, con-

dições ergonômicas dos postos de traba-lho e outras medidas, no ambiente de pro-dução rural, geralmente as atividades detrabalho se dão a céu aberto, o que nãopermite o controle total das interferênci-as climáticas no ambiente de trabalho, li-mitando e dificultando a proposição demedidas de engenharia para o controle di-reto sobre o ambiente de trabalho.

Além disso, a aplicação de agrotóxicosapresenta uma particularidade muito im-portante: é provavelmente a única ativi-dade produtiva em que a contaminaçãodo ambiente de trabalho é intencional e,mais do que isso, é o propósito da ativi-dade. Normalmente, as contaminações deambientes de trabalho são indesejáveis edevem ser evitadas e controladas. Mascomo proceder quando a contaminação éa finalidade da atividade? É esta contra-dição que faz da utilização dos agrotóxicosuma atividade de alto risco e de difícil tra-

tamento técnico no que se refere aos as-pectos de segurança.

Sob estas condições, as medidas indivi-duais de proteção, como as práticas detrabalho e o uso de EPIs, ganham parti-cular importância, mesmo sendo de difí-cil aplicação e controle devido às carac-terísticas sociais, culturais e de relaçõese organização do trabalho. Justamente pe-la dificuldade na aplicação dessas medidasindividuais, as medidas coletivas de con-trole não podem ser colocadas em segun-do plano ou ser desconsideradas, comovem ocorrendo na atividade agrícola.

EXPOSIÇÃOEXPOSIÇÃOEXPOSIÇÃOEXPOSIÇÃOEXPOSIÇÃOPor meio da distribuição percentual dos

agrotóxicos registrados no Brasil, em fun-ção da DL50 da formulação nas classestoxicológicas, é possível observar que ogrupo que apresenta maior risco são osinseticidas, com maior percentagem nasclasses I e II. De um modo geral, quase ametade dos produtos estão inseridos naclasse III (47,3%). Estima-se que sejam15 milhões de pessoas expostas a agrotó-xicos e que ocorram de 150 a 200 mil in-toxicações agudas por ano.

A exposição pode ser definida como osimples contato do produto com qualquerparte do organismo humano, sendo as viasde exposição mais comuns: ocular, respi-ratória, dérmica e oral. A exposição dire-ta ocorre quando o produto entra em con-tato direto com a pele, olhos, boca ou na-riz dos trabalhadores. Já a exposição in-direta ocorre quando as pessoas que nãoestão aplicando ou manuseando os agro-tóxicos entram em contato com plantas,

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SEGURANÇA TOXICOLÓGICAalimentos, roupas ou qualquer outro obje-to contaminado.

De acordo com a NR 31, o empregadorrural ou equiparado deve proporcionarcapacitação sobre prevenção de aciden-tes com produtos fitossanitários a todosos trabalhadores expostos diretamente. Oprograma deve ter carga horária mínimade vinte horas, distribuídas em no máxi-mo oito horas diárias, durante o expedien-te de trabalho, com conteúdo programá-tico definido.

EFEITOSEFEITOSEFEITOSEFEITOSEFEITOSA intoxicação por agrotóxicos é perce-

bida por meio das circunstâncias profis-sionais, do suicídio e das circunstânciasacidentais, respectivamente. O Ministérioda Saúde calcula que, para cada notifica-ção de intoxicação por agrotóxico, há cer-ca de 50 casos não notificados. De acor-do com a OMS (Organização Mundial deSaúde), somente um em cada seis aciden-tes são oficialmente registrados e 70% dasintoxicações ocorrem em países subde-senvolvidos, sendo que 70% das intoxi-cações agudas são causadas pelos inseti-cidas organofosforados.

De todas as doenças profissionais noti-ficadas, o envenenamento por produtosquímicos, principalmente chumbo e pesti-cidas, representam 15% de acordo compesquisa realizada pela OPAS (Organiza-ção Pan-Americana de Saúde) em 12 pa-íses da América Latina e Caribe. Os agro-tóxicos geralmente têm ação deletéria so-bre a saúde humana, provocando diver-sos agravos. As manifestações podem nãosurgir de imediato, apresentando geral-mente sintomas não específicos presen-tes em diversas patologias.

Na intoxicação aguda, os sinais e sinto-mas são nítidos e objetivos, aparecendo

algumas horas após a exposição excessi-va, por curto período, a produtos extrema-mente ou altamente tóxicos, podendoocorrer de forma leve, moderada ou gra-ve, dependendo da quantidade absorvida.Já a intoxicação crônica ocorre por expo-sição pequena ou moderada a produtostóxicos ou a múltiplos produtos, em queo surgimento dos sinais e sintomas sãotardios, após meses ou anos, acarretandodanos irreversíveis. Veja a Tabela 2, Prin-cipais sinais e sintomas agudos e crôni-cos.

FFFFFAAAAATORESTORESTORESTORESTORESA segurança no trabalho com agrotó-

xicos é avaliada por meio da estimativado risco de intoxicação. Alguns fatoresque influenciam são: duração da exposi-ção, intensidade do vento, atitude do tra-balhador, frequência das exposições, me-didas de segurança de proteção e de higi-ene adotadas, além da toxidade do agrotó-xico. O risco é definido principalmente emfunção de dois fatores: toxicidade e graude exposição ocupacional. O grau de ex-posição se dá em função de duas outrasvariáveis quantitativas: a concentração doagrotóxico e o tempo de exposição. Sa-bendo-se que não é possível ao usuárioalterar a toxicidade do produto, a únicamaneira concreta de reduzir o risco é adiminuição da exposição. O controle deriscos no emprego de substâncias quími-cas procura trabalhar sobre esses doisfatores. Diminuindo a toxicidade ou a ex-posição, pode-se diminuir o risco. Elimi-nando um desses fatores, pode-se alcan-çar o seu controle total.

Há fatores presentes no ambiente detrabalho ou inerentes ao próprio indiví-duo exposto que podem influenciar na to-xicidade de um produto químico. Entre

os fatores biológicos relacionados ao pró-prio indivíduo podemos citar a idade, osexo, o peso, as características genéticas,o estado de saúde, de nutrição e as condi-ções metabólicas (esforço físico). As defi-ciências nutricionais como as protéicas,por exemplo, potencializam os efeitos tó-xicos de vários agrotóxicos e a desidrata-ção pode aumentar a susceptibilidade àintoxicação por inibidores de colineste-rases.

A formulação, concentração, equipa-mentos de aplicação, métodos de traba-lho, medidas de segurança, proteção ehigiene adotadas, condições ambientais ecomportamento da substância no ambi-ente são alguns dos diversos fatores queinterferem na exposição potencial. Há,portanto, condições que interferem naexposição que extrapolam a ação diretae, às vezes, fogem à vontade e ao contro-le do aplicador (vento, tipo de terreno,dinâmica do trabalho, etc.).

Deve-se considerar ainda que a eficiên-cia das aplicações é muito ruim e a maiorparte do produto não atinge o alvo, sen-do perdida para o ambiente. Raramente aeficiência de coleta do agrotóxico ultra-passa 50%, ou seja, pelo menos metadedo agrotóxico aplicado estará contami-nando o ambiente em que se encontra oaplicador no momento da aplicação, pro-piciando grande potencial de exposição.Assim, há fatores determinantes da ex-posição que nem sempre podem ser to-talmente controlados. Portanto, o con-trole da exposição deve ser prioritaria-mente exercido no ambiente em que o-corre o trabalho e não sobre o indivíduoexposto.

CONTROLECONTROLECONTROLECONTROLECONTROLENa aplicação das medidas de controle,

três níveis de intervenção são propostospara minimizar as exposições: na fonte deemissão do contaminante (age diretamen-te no processo de produção e nas fontesde risco existentes no ambiente de traba-lho); na trajetória do agente entre a fontee o trabalhador (limitada pela natureza dotrabalho com agrotóxicos, consiste no usode barreiras para eliminar o contato en-tre o agente e o indivíduo); e no indivíduosujeito ao risco (agem sobre o trabalha-dor exposto a um risco não totalmentecontrolado pelos outros dois níveis). Con-fira a Tabela 3, Métodos de controle. Le-vando-se em consideração a priorizaçãodas medidas coletivas sobre as indivi-

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SEGURANÇA TOXICOLÓGICA

duais, as ações sobre esses três níveis deintervenção sugeridos devem dar-se, prin-cipalmente, sobre a fonte e a trajetóriado contaminante. As medidas de contro-le individual devem ser consideradas,sempre na perspectiva de complementar,e não de substituir, as medidas coleti-vas.

Diferentes sistemas de aplicação deter-minam diferentes condições de exposição.É necessário adotar medidas de engenha-ria cabíveis ao ambiente de trabalho ru-ral, para tornar os sistemas de aplicaçãomais seguros. Equipamentos mais efici-entes estão sendo desenvolvidos por meiode pesquisas. Porém, por motivos de or-dem técnica e econômica, são poucas asinovações tecnológicas que de fato sãoutilizadas pelos agricultores. Em razão daversatilidade e do baixo custo relativo, ospulverizadores costais manuais são osequipamentos mais utilizados pelos pe-quenos agricultores. Os pulverizadores debarras tratorizados também são muitoutilizados por pequenos e médios agricul-tores.

Adicionar itens de segurança aos equi-pamentos agrícolas acarreta em custosextras ao agricultor. Entretanto, o custoindividual e social dos acidentes não podeser menosprezado na tomada de decisãosobre a obrigatoriedade de fabricação deequipamentos cada vez mais seguros.Gasta-se muito no desenvolvimento denovas moléculas e na regulamentação eavaliação dos riscos toxicológicos, masnão se observa o mesmo interesse, empe-nho e rigor com relação às máquinas queirão aplicá-las, que certamente também

têm grande responsabilidade pelos pro-blemas de contaminação ambiental e deexposição de trabalhadores.

PERCEPÇÃOPERCEPÇÃOPERCEPÇÃOPERCEPÇÃOPERCEPÇÃOO reconhecimento dos riscos potenci-

ais à saúde por parte de quem manipulaagrotóxico é o ponto inicial que motiva aatitude de controle individual. A percep-ção de risco não depende exclusivamentedo indivíduo, ela faz parte do desenvolvi-mento social; o que limita o controle dosriscos em nível individual. Importantes fa-tores de ordem cultural, social, econômi-ca e psicológica influenciam a percepçãodos indivíduos aos riscos a que estão sub-metidos em suas rotinas de trabalho.

O “senso de imunidade subjetiva”, ou aminimização da probabilidade de que algonegativo (o acidente) possa ocorrer noambiente de trabalho, seria uma das es-tratégias que os trabalhadores desenvol-vem a fim de fazer frente ao problema domedo no trabalho sob condições de riscoe com alta incerteza. Outros mecanismospoderiam ser identificados configurandouma espécie de “ideologia ocupacionaldefensiva”, a qual buscaria na negação doperigo, embora conhecido, a possibilida-de de continuar realizando o trabalho, semdesencadear uma ruptura das defesas psí-quicas construídas socialmente para su-perar este medo.

Há também o caso em que, impossibili-tado de alterar a situação de convívio comos agrotóxicos, o trabalhador desenvolveum sistema de negação ou desprezo so-bre a existência do risco, inclusive agra-vando sua exposição, como forma indire-

ta de demonstrar certo domínio sobre asituação. Em uma visão parcial e simplista,é comum responsabilizar o indivíduo fren-te ao controle dos riscos, especialmentetendo como causa dos problemas, a faltade informação por parte do usuário. Talentendimento, não raro, leva à proposi-ção de medidas de intervenção que se re-sumem à capacitação individual e ao trei-namento para as tarefas, sem questionaro conteúdo do trabalho e as condições desegurança oferecidas nos ambientes. As-sim, a análise da percepção de risco dostrabalhadores constitui ferramenta fun-damental para os que pretendem cons-truir uma atividade educativa realmentetransformadora junto a esse público.

EPIsEPIsEPIsEPIsEPIsO trabalhador estará exposto a uma

grande diversidade de substâncias ao lon-go de toda a sua vida laborativa relaciona-da ao uso de agrotóxicos. Como conside-rar o dimensionamento do grau de prote-ção necessário a ser oferecido pelos EPIs?Estes devem defender o trabalhador daexposição aos produtos, servindo paraproteger as principais rotas de entradadessas substâncias no organismo, evitan-do a contaminação e as consequentes in-toxicações.

Sem dúvida, o uso de materiais imper-meáveis, como borrachas naturais ou sin-téticas e polímeros diversos, tem aumen-tado o grau de proteção para trabalhado-res expostos a substâncias químicas peri-gosas.

Nas atividades de trabalho com agrotó-xicos, a indicação das indumentárias deveser feita de acordo com cada ambiente esituação de trabalho, representando umfator complementar em um plano de açãopreventivo de acidentes e doenças rela-cionados à exposição aos agrotóxicos den-tro de um programa de SST. Confira naTabela 4, Relação entre operação, EPI eexposição. A recomendação genérica deEPIs sem informação quanto à determi-nação da necessidade, ocasião e formacorreta de emprego, pode resultar em no-vos riscos, desconforto e falsa sensaçãode segurança, provocando o descréditoquanto à real necessidade desses equipa-mentos e gerando ainda maiores dificul-dades para atividades de orientação.

CAPCAPCAPCAPCAPACITACITACITACITACITAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOA preparação de aplicadores habilitados

para a utilização de agrotóxicos indepen-

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de da sua vinculação à aplicação de pro-dutos mais perigosos ou de uso restrito.Mas, neste caso, esses profissionais nãoteriam atribuição específica e suas respon-sabilidades seriam exatamente as mesmasque as de qualquer outro usuário de agro-tóxicos, apesar de estarem mais capaci-tados. Assim, nem se criaria uma reservade mercado para estimular a formaçãodesse profissional. Nem o intuito de con-trolar a ampla disseminação e o uso indis-criminado dos produtos mais tóxicos se-ria atingido.

A existência de aplicadores capacitadospara o trabalho com agrotóxicos é muitoimportante. Afinal, contar com pessoaspreparadas para lidar com esses produ-tos é fundamental e o treinamento de apli-cadores é essencial. No entanto, a habilita-ção vai além da capacitação, porque im-plica profissionalização, com a respectivanecessidade de investimentos na organi-zação de programas de formação, habilita-ção, reciclagem, fiscalização e controleprofissional e de toda uma estrutura paraesse fim. Por isso, a vinculação com a res-trição de uso dos agrotóxicos de maiorrisco é o que melhor justifica a necessi-dade de um aplicador certificado como oprofissional habilitado.

O caso de Palmital/SPEstudo revela falhas que comprometem saúde dos trabalhadores

Com sua economia agrícola baseada naprodução mecanizada de grãos e no setorsucroalcooleiro, Palmital/SP tem como pe-culiaridade a concentração de pequenosprodutores que ocupam área de 49,9 dos54,9 mil hectares do município. Neste es-tudo de caso foi aplicada aleatoriamenteentrevista direcionada a 30 agricultoresdo município e sócios da Coopermota (Co-operativa dos Cafeicultores da Média So-rocabana de Cândido Mota), que possuicerca de 1.800 cooperados, sendo 70%pequenos produtores e 30% médios egrandes produtores rurais.

Os dados foram obtidos por meio dequestionário com 40 perguntas simples eobjetivas, com respostas diretas e de fá-cil entendimento. Foram analisados as-pectos como: escolaridade, faixa etária,tempo de profissão e principalmente as-pectos relacionados ao comportamentodo trabalho com agrotóxicos. A pesquisade campo foi realizada no período de 28de agosto a 10 de outubro de 2011.

Todos os entrevistados são do sexo

masculino, sendo que nove agricultorestêm mais de 60 anos de idade. De acordocom o item 31.8.3 da NR 31, “é vedada amanipulação de quaisquer agrotóxicos,adjuvantes e produtos afins por menoresde 18 anos, maiores de 60 anos e por ges-tantes”. A maioria dos entrevistados pos-sui ensino fundamental completo e ape-nas três possuem ensino superior. Dezpossuem propriedades com tamanho en-tre 10 e 30 hectares, confirmando a pre-dominância de pequenos produtores ru-rais no município. Apenas quatro agricul-tores praticam a monocultura da cana-de-açúcar, sendo que os demais cultivamduas ou mais lavouras. Milho é o produtomais cultivado. Todos os entrevistadospraticam a agricultura há pelo menos umadécada, sendo que 19 entrevistados inici-aram a prática antes de completar 18 anosde idade, e alguns nasceram e viveram nomeio agrícola.

DADOSDADOSDADOSDADOSDADOSDos 30 entrevistados, 11 possuem mais

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SEGURANÇA TOXICOLÓGICA

de um equipamento de pulverização. Ape-nas um possui somente o pulverizadorcostal e outro não possui sequer um pul-verizador próprio. Quanto à realização demanutenção periódica nos equipamentosde pulverização, 24 (40%) realizam, en-quanto seis (20%) não realizam.

Quanto à orientação para realizar a apli-cação dos agrotóxicos, 22 agricultoresseguem as orientações de um profissio-nal habilitado e oito não seguem nenhu-ma orientação. Entre os entrevistados, 23pessoas (76,76%) realizam planejamen-to antes de iniciarem as atividades de apli-cação de agrotóxicos, enquanto que setepessoas (23,33%) não realizam nenhumplanejamento. Referente à participaçãoem algum curso ou treinamento sobre usocorreto de EPI, 21 já participaram en-quanto nove nunca participaram. No casode curso ou treinamento para operação emanutenção de pulverizadores, 18 dizemjá terem participado, enquanto 12 nuncaparticiparam.

Os Equipamentos de Proteção Indivi-dual são utilizados por 18 pessoas e nãosão utilizados por 12 pessoas. Para 26pessoas (87%) o uso é desconfortável,sendo que apenas quatro pessoas (13%)acham o seu uso confortável. Nos questio-nários, 23 (77%) dizem saber utilizar osEPIs e 7 (23%) afirmam que não sabemutilizá-los. Sendo que 27 indivíduos (90%)consideram o uso realmente necessário esua aquisição relativamente fácil, sendoseu custo-benefício bom. Contudo, trêsindivíduos (10%) consideram o uso desne-cessário e a aquisição não muito fácil (peladificuldade de encontrar tamanhos maio-res). Na entrevista, 18 trabalhadores(60%) usam sempre o mesmo EPI paratodas as atividades com o uso de agrotóxi-

cos, enquanto 12 (40%) utilizam o EPI deacordo com a atividade específica de apli-cação.

A limpeza e a descontaminação do EPIsão realizadas por 19 indivíduos (63%) enão realizadas por 11 (37%). Vários agri-cultores alegaram não usar o EPI por tra-balharem em tratores equipados com cabi-nes e sistema de ar condicionado, ou empulverizadores automotrizes dotados des-se sistema. No entanto, deve-se observarque a qualquer momento que este trabalha-dor tenha que sair da cabine irá deparar-secom o ambiente contaminado. Portanto,seria conveniente estar usando o EPI.

Dez trabalhadores admitiram já ter so-frido algum acidente de trabalho comagrotóxicos, seja com o produto químicopropriamente dito ou com os equipamen-tos utilizados na aplicação. Cinco (16,67%)afirmaram que não se sentem preparadose seguros para realizar a atividade de apli-cação de agrotóxicos.

EXPOSTOSEXPOSTOSEXPOSTOSEXPOSTOSEXPOSTOSTodos os entrevistados dizem estar ci-

entes sobre os riscos causados à saúde eao meio ambiente que os agrotóxicos po-dem proporcionar. Pelo menos 19 pesso-as (63%) dizem tomar banho, trocar deroupa e providenciar a lavagem da vesti-menta contaminada logo após a operaçãoe 11 pessoas (37%) afirmam que não fa-zem este procedimento de imediato (ape-nas no final do dia de trabalho).

Observou-se que 26 entrevistados (87%)usam somente a dose do produto reco-mendada e quatro (13%) não seguem asrecomendações descritas. Além disso, 24agricultores (80%) seguem as orientaçõesde profissional habilitado para realizar amistura dos produtos e respeitam o pra-zo de reentrada na área tratada e o perío-do de carência, enquanto que seis pesso-as (20%) realizam a mistura de produtospor conta própria e não respeitam o pra-

zo de reentrada bem como o período decarência. Quanto ao odor dos produtos,24 (80%) consideram muito incômodo,enquanto seis (20%) dizem não sentir in-cômodo. Dez pessoas (33%) relataramque sentem ou já sentiram algum tipo demal-estar durante ou após as aplicaçõese 20 pessoas (67%) afirmaram nunca tersentido nada; sendo que somente trêsagricultores (10%) admitiram ter se in-toxicado pelo menos uma vez. Apenas umagricultor procurou assistência médica.

Mais da metade dos agricultores (16)relatam reaplicar as sobras dos produtosgeralmente nas bordaduras das áreas queestão sendo tratadas e uma parcela de 12agricultores afirma que não há sobras,sendo que a quantidade preparada é sem-pre exata. Contudo dois agricultores, demaneira errada, deixam a calda que so-bra no pulverizador para aproveitá-la napróxima aplicação. Três agricultores (10%)não fazem a leitura do receituário agro-nômico, da bula e do rótulo da embalagemdo agrotóxico antes de iniciar a aplicação,sendo que 27 agricultores (90%) realizam.Eles afirmam, de modo geral, que o moti-vo da leitura é para maior conhecimentoe orientação a respeito do produto, da do-se, das recomendações do fabricante e douso correto. Esta mesma porcentagem deentrevistados diz saber o significado dascores das embalagens (faixas) e dos picto-gramas nelas existentes.

Verificou-se que 28 agricultores (93%)fazem uso somente de produtos registra-dos no Ministério da Agricultura, Pecuá-ria e Abastecimento e de uso permitidono Estado; comercializado por empresasidôneas, com emissão de nota fiscal e re-ceituário agronômico. Porém, 11 agricul-tores (37%) afirmam já ter feito uso deprodutos de procedência desconhecida ouduvidosa, sem a emissão de nota fiscal edo receituário agronômico.

CONSIDERAÇÕESCONSIDERAÇÕESCONSIDERAÇÕESCONSIDERAÇÕESCONSIDERAÇÕESO simples fornecimento dos EPIs não

garante a proteção da saúde do trabalha-dor e nem evita as contaminações. Incor-retamente utilizados, os EPIs podem com-prometer ainda mais a Segurança do Tra-balhador. O desenvolvimento da percep-ção do risco aliado a um conjunto de in-formações e regras básicas de segurançasão as ferramentas mais importantes paraevitar a exposição e assegurar o sucessodas medidas individuais de proteção àsaúde do trabalhador.

Page 8: Aprimorando a percepção

REVISTA PROTEÇÃO 85SETEMBRO / 2012

O uso correto dos EPIs é um tema queexige constante atualização dos profissi-onais que atuam na área de ciências agrá-rias através de treinamentos e do acessoa informações atualizadas, proporcionan-do a adoção de medidas cada vez mais e-conômicas e eficazes para proteger a saú-de dos trabalhadores, além de evitar pro-blemas trabalhistas. O profissional de SSTtem papel fundamental nestas ações. De-ve desenvolver, elaborar e executar pro-jetos e programas que visem a redução,eliminação ou controle dos agentes quími-cos presentes no meio ambiente e nos lo-cais de trabalho, prevenindo os acidentes.É de fundamental importância que o en-genheiro de Segurança do Trabalho e oengenheiro agrônomo atuem conjunta-mente para a elaboração de planos deação eficazes a fim de evitar os problemascom os agrotóxicos.

O receituário agronômico deveria serreconsiderado, deixando de ser apenasum instrumento de comercialização deprodutos agrotóxicos. A emissão dessedocumento deveria ser feita apenas a tra-balhadores rurais capacitados a realizaras aplicações, e as vendas de balcão po-deriam ser banidas. Conforme estabeleceo código de ética profissional, o agrônomoao receitar o agrotóxico deveria analisaro local de aplicação e as condições do e-quipamento e, principalmente, ter certe-za acerca da capacitação do trabalhadorrural para o desenvolvimento da ativida-de. No entanto, percebe-se que infeliz-mente muitas empresas privadas ofere-cem assistência técnica com caráter maiscomercial do que educativo. Deste modo,os profissionais abrem mão da ética emtroca da estabilidade de emprego.

APONTAPONTAPONTAPONTAPONTAMENTOSAMENTOSAMENTOSAMENTOSAMENTOSSão necessárias ações governamentais

e das entidades de classe dos profissio-nais para reverter esta situação. Atenden-

do de forma criteriosa à legislação vigen-te acerca dos agrotóxicos para que real-mente todos possam se beneficiar, comsegurança toxicológica e ambiental.

De acordo com as informações cedidaspela Coopermota, os agricultores maisantigos apresentam relutância ao uso denovas tecnologias, porém o departamen-to técnico desempenha um importantepapel na sua orientação. Em Palmital, háa peculiaridade de a maioria dos trabalha-dores rurais serem pequenos ou médiosagricultores, trabalhando geralmente so-zinhos ou em família. Por isso é necessá-ria uma ação de conscientização para a-tender a NR 31 para sua própria seguran-ça e saúde.

Por fim, sugere-se três pontos conve-nientes e estratégicos na tentativa de seconseguir melhores resultados na recep-ção dos agricultores ao entendimento dotema. O primeiro consiste na mobilizaçãodo Sindicado Patronal Rural, Sindicatodos Trabalhadores Rurais, Secretaria deDefesa Agropecuária do município, esco-la de cursos técnicos (Etec Professor Má-rio Antônio Verza – curso de Agronegó-cios), Coopermota e demais empresas dosetor agrícola para desenvolvimento deum estudo mais aprofundado do tema, eem seguida criar uma estratégia de divul-gação, conscientização e orientação na co-munidade rural. O segundo ponto é pro-mover um extensionismo rural, divulgan-do conceitos de prevenção de acidentese controle de riscos no trabalho com agro-tóxicos, abordando questões de seguran-ça do trabalho rural. E, finalmente, o ter-ceiro é aprimorar os cursos e treinamen-tos, para que não enfoquem apenas o usocorreto e seguro dos EPIs e dos agrotóxi-cos, mas que desenvolvam a percepçãode risco dos agricultores.