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astoral da Aids
II SEMINÁRIO AIDS E RELIGIÕES
ACOLHIMENTO:
DESAFIOS E CONTRIBUIÇÕES DAS RELIGIÕES
• Creio que seja oportuna a discussão sobre a
contribuição das religiões no enfrentamento da Aids
• É importante que nesta mesa estejamos discutindo
sobre a relação das religiões e dos entes
governamentais nesta tarefa.
•É boa a ideia de que o debate se faça a partir de um
tema muito concreto que sonhamos seja prática
tanto das comunidades religiosas quanto nos
serviços de saúde e nas políticas de enfrentamento
da aids: o acolhimento.
• Minha contribuição é a partir da prática da igreja
católica na Pastoral da Aids e no trabalho da Casa
Fonte Colombo, trabalho motivado e sustentado
pela fé que necessita ser alimentada
constantemente pela espiritualidade.
• Trata-se de uma caminhada contínua e que
precisa ser constantemente retomada. Ao mesmo
tempo é um espaço que oferece às pessoas que
vivem e convivem com HIV possibilidade de
acolher, reconhecer e fortalecer sua espiritualidade.
Daqui surgem potencialidades para o conjunto da
vida e do tratamento, especialmente
• Peter Piot, ocupando o cargo de diretor da
Unaids, disse que “as igrejas são parceiras oficiais
e importantes na resposta a ser dada à Aids e na
assistência às pessoas infectadas pelo HIV”.
Reconheceu que “as comunidades de fé
proporcionaram refúgio à pessoas vítimas do
estigma e discriminação na sociedade”.
• Também alertou que, “a ação eficaz pode ser
paralisada por falta de vontade de abordar
questões enfrentadas por homens e mulheres na
vida de cada dia”. Desse modo, “as comunidades
de fé podem ser também lugares que reforçam o
estigma”.
• A religião tem uma responsabilidade social, mundana, temporal. Sua missão não se esgota no espiritual. No campo da saúde, a religião pode oferecer perspectivas e explicações/justificativas que colaboraram para que seus adeptos possam gozar de vida saudável, seja preservando a saúde, seja tratando sequelas originadas por doenças contraídas ou não.
• O Estado, particularmente em sua
organização da saúde pública, tem como
dever oferecer serviços e estruturas que
garantam a preservação da saúde e o
tratamento dos agravos das doenças. Por
força constitucional, os entes governamentais,
nas três esferas tem obrigação de garantir
estes serviços e a população o direito de
acessá-los.
• O acolhimento é um ponto comum que coloca na
mesma perspectiva tanto instituições que se movem
pela fé, quanto os serviços públicos que têm
obrigação de atender as demandas da população
• Gostaria de começar descrevendo como
as religiões podem colaborar e finalizar com
sugestões para os serviços públicos
O PAPEL DAS RELIGIÕES
• É indiscutível o papel das religiões para manter
saudáveis as pessoas. Pesquisas recentes
demonstraram que as pessoas que tem fé, que têm
uma prática religiosa, independente de qual seja sua
pertença, recuperam-se com maior facilidade e em
menor tempo de doenças ou de problemas de saúde
• Creio que isto vale, especialmente para
quando falamos de Aids, doença que não
se restringe ao âmbito da saúde ou a sua
ausência. Cada vez é mais clara a
repercussão em aspectos psicológicos,
sociais e emocionais sentidos por quem se
descobre ou é descoberto com HIV
• As religiões, cada uma desde seus dogmas ou de
suas crenças, podem ajudar suas comunidades
compreender o contexto da Aids, superando as
noções tão arraigadas no conjunto da religião
popular, de que a doença está ligada ao pecado e é,
por isso, consequência do mesmo e castigo pela
desobediência e/ou descumprimento de algum
preceito
• No caso específico das pessoas que vivem com
HIV e Aids, as religiões podem ajudá-las a elaborar
e a superar esta tradição ocidental que liga doença-
castigo-pecado ou o contrário pecado-castigo-
doença. Nesta tradição, a doença é interpretada
como a consequência do desagravo que a divindade
imputa aos que se rebelam contra ele. Não são
poucos os que, em nome da religião, apregoam que
o sofrimento faz parte dos desígnios de Deus para a
salvação.
Há também a relação entre atos e culpa que se move dentro
do âmbito da religião. Não é raro encontrar pessoas
vivendo com HIV carregando o peso da culpa e até se
conformando porque fizeram por merecer. Tanto o aspecto
da culpa, quanto o da ligação entre pecado-castigo-doença
supõe uma imagem de Deus, que as religiões precisam
trabalhar, a fim de tirar o peso que aumenta a dificuldade
de viver com HIV. Isso significa que a comunidade pode
ser um espaço de acolhimento, onde o individuo é
libertado de falsas concepções religiosas que prejudicam a
vida e a autoestima.
• Naturalizar a compreensão da doença, fazer as
pessoas perceberem a doença como parte natural da
vida é uma tarefa que pode ser assumida pelas
religiões. Isso liberta as pessoas e suas famílias, do
peso que, são obrigadas a carregar e prepara a
comunidade para evitar o juízo segregador,
promovendo o acolhimento respeitoso de quem se
descobre portador de uma doença que não buscou,
mas que não tem cura
• Essa noção do acolhimento e do cuidado leva a superar o
estigma e o preconceito causados exatamente pelas
explicações equivocadas que se articulam a partir de uma
falsa compreensão da doença e ou do medo que as
diferentes formas de compreender a vida e, sobretudo, a
sexualidade podem produzir e, efetivamente produzem no
seio das comunidades de fé
• As comunidades de fé podem romper com essas falsas
concepções teológicas que se irradiam para o conjunto da
sociedade o as compreensões equivocadas que se produzem
na sociedade e se difundem pela cultura ou costumes e se
aninham também nas comunidades religiosas
• As religiões possuem em seu arcabouço um conceito
amplo de “cuidado” que pode colaborar com o
enfrentamento da epidemia. As religiões podem oferecer
uma noção de “defesa e proteção da vida” que pode dar
suporte às ações de prevenção que impedem a disseminação
do vírus e a preservação da vida saudável. Essas noções que
se encontram elaboradas e sistematizadas, de uma forma ou
de outra, nas religiões são absolutamente necessárias para
que se possam inclusive pensar e propor políticas públicas.
• Há outra perspectiva que é bastante comum às religiões e
que pode ser nucleada ao redor da ideia da “dignidade
humana”. Essa noção garante a individualidade do sujeito,
além de garantir a inviolabilidade dos seus direitos.
Alicerçada na noção de Deus criador, especialmente para o
cristianismo, que confessa a encarnação do filho de Deus,
no qual todos – homens e mulheres - nos tornamos filhos e
filhas no Filho, a dignidade da pessoa se funda na própria
dignidade de Deus, pois nós fomos feitos à sua imagem e
semelhança
• Cabe às religiões o anúncio e a denúncia:
Anunciar aquilo é instrumento de defesa da vida,
de cuidado, de fortalecimento da dignidade
humana
• Por outro lado, as religiões não devem esquivar-
se do papel incômodo de denunciar atitudes e
opções políticas que desrespeitam o ser humano
em sua dignidade e integridade
• Convém não esquecer a responsabilidade de
líderes religiosos que apregoam práticas
discriminatórias e que atentam contra a dignidade
das pessoas, sobretudo daquelas que se
encontram socialmente marginalizadas
• É importante salientar que as próprias
religiões devem levar para seus planos de
pastoral, seus grupos organizados e na
formação de seus membros, as novas
problemáticas enfrentadas pela sociedade
nos diferentes contextos. Ou seja, aqueles
desafios e problemas que a sociedade
enfrenta tornam-se desafios e problemas
da própria comunidade de fé
• AS CONSEQUENCIAS PARA O SERVIÇO PUBLICO
• Os servidores da saúde precisam considerar o
indivíduo com HIV como ser complexo e que não
tem unicamente necessidades de ordem material,
nem está doente exclusivamente no corpo.
• É fundamental que o individuo seja visto como um
ser religioso, que se orienta por um conjunto de
valores culturais, teológicos, além de tradições de
origem religiosa que influenciam e, às vezes,
determinam, mesmo que inconscientemente, sua
postura diante da doença, do tratamento, do
remédio. É impossível fazer um tratamento com
sucesso, se este aspecto ficar negligenciado. É
importante que o profissional de saúde seja capaz
de acolher e não menospreze este aspecto
• Os valores apregoados pelas religiões e experimentados
nas comunidades religiosas e nas próprias experiências
individuais que garantem a autoestima e o conforto na
hora da dor, podem ser evocados e efetivados nos
espaços de atendimento das políticas publicas, mesmo
que estas não sejam confessionais e prefiram guardar-se
com o álibi da laicidade. Parece não ser outra coisa do
que “humanização do atendimento”. Tratamento
humanizado, acolhimento integral , humanização da
saúde são outras formas de chamar o acolhimento.
• Da mesma forma que as religiões, os serviços são
chamados a ofertar esse ambiente, respeitando de forma
integral as pessoas que o buscam, oferecendo
acolhimento humanizado, humanizador e humanizante
• Dito de outro modo: os princípios do
acolhimento, cuidado, defesa da vida e
dignidade humana são efetivados através de
políticas públicas, ou seja, alguns princípios
religiosos se tornam obrigação do estado por
terem se tornado política pública. Desta
maneira dados religiosos são considerados
parte da solução dos problemas enfrentados
pelos profissionais da saúde no serviço
público, direito do cidadão, dever do Estado.
• É importante também que os gestores de saúde
possam instrumentalizar seus profissionais no
sentido de que possam se aproximar das religiões
que tem base de ação no mesmo território. Isto
poderia gerar uma sinergia para o
desenvolvimento de ações de educação, de
prevenção, proporcionando sincronia e
complemetariedade de ações, diminuindo esforços
e recursos. Ao mesmo tempo isso pode colaborar
na superação de desconfianças e permitir que as
próprias religiões, através de seus líderes, se
sintam atores sociais e responsáveis também pela
saúde de sua membresia
• Ao mesmo tempo, cabe ao estado promover,
estimular a ação interreligiosa, interligar ações
em resposta conjunta, em planos integrados de
ações, subsidiar ações que sejam de interesse
do Estado, mesmo que sejam desenvolvidas por
organizações baseadas na fé. Tal decisão supõe
a predisposição de pensar que os diversos entes
sociais podem trabalhar de forma complementar
e colaborativa e que tal perspectiva enriquece e
fortalece a resposta do estado
• DILEMAS E DESAFIOS
• Antes de qualquer coisa, é preciso salientar que se tem
consciência que nem o Estado, nem as religiões são
unívocas ou formam em si mesmos blocos unânimes e
únicos. Isto é, mesmo que se trate de uma igreja ou uma
religião, seu corpo social é permeado por uma diversidade
de pensamento e ação que é de difícil controle
• Assim o Estado. Mesmo com legislação que organize sua
prática e oriente as escolhas, mesmo com um conjunto de
técnicas e de pareceres que orientam as decisões, também
o Estado se deixa dirigir por interesses individuais ou
corporativos, contra o que é o interesse público mais
amplo, que deveria defender e suscitar
• Há, então, uma serie de contradições entre os princípios
que orientam as religiões, o aparato legal que dirige o
estado e a ação efetiva que se depreende destes entes
• No caso concreto da relação entre Estado e
Religiões, no enfrentamento da epidemia da Aids,
convém perguntar-se pela efetividade do discurso
de cooperação, quando organizações religiosas
não são consideradas para elaboração dos planos
do Estado; quando o estado tem um discurso de
cooperação e parceria mas o que impera é a
burocratização ou a aparelhagem jurídica que
efetivamente impedem a inserção das instituições
religiosas
• Em outro âmbito, convém considerar, que apesar
de um relativo sucesso no enfrentamento da
epidemia da aids no Brasil, inda se perdem vidas
porque o fluxo do tratamento não é mantido. Este
fluxo é interrompido por discursos religiosos
contrários à medicina e à prevenção que afastam
as pessoas dos serviços de saúde ou por serviços
de saúde incapazes de vincular as pessoas,
porque não dão conta de todos os complexos
fatores envolvidos na epidemia da aids. Tudo isso
sem falar na dificuldade de oferecer diagnóstico
precoce, acolhimento sem discriminação para
populações tradicionalmente discriminadas
• CONCLUSAO
• É oportuno discutir. É necessário dialogar
para encontrar respostas mais
humanizadas e baseadas no acolhimento.
Estas práticas podem ser implementadas
em conjunto por serviços públicos e pelas
próprias religiões.
• A maior novidade é conseguir compreender e agir na
prática de forma parceira respeitando as especificidades,
possibilidades e autonomias. Cresce a compreensão das
ações complementares.
• O Estado é responsável para oferecer e garantir a saúde da
população. As Igrejas também têm um papel importante
Elas atingem grande massa populacional, possuem
estrutura de organização viável para trabalho de base,
possuem meios de comunicação, acessam pessoas
diariamente com muita facilidade e têm poder de formar
opinião. São todos instrumentos que podem ser colocados
à serviço da saúde.
• A responsabilidade no campo da saúde é do Estado, mas
num estado democrático e representativo das forças sociais
é questão de sabedoria considerar as religiões como
parceiras na ação.
• Cientes de que a aids nos atinge a todos e exige
resposta articulada e global, somos convocados a
colaborar no controle da epidemia juntamente com
os profissionais da saúde, órgãos governamentais,
nas suas várias esferas, organizações da
sociedade civil, outras redes
• Somente através destas parcerias se poderá dar
uma resposta efetiva. Ao mesmo tempo temos o
desafio de tornar o tema da aids um tema
transversal ao conjunto das pastorais e movimentos
da igreja, das religiões e da sociedade