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"Apresentação e Análise dos Programas de Tratamento dos Residuos Sólidos do Municipio de Curitiba" Por: Mila Azevedo / Dezembro 2001

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"Apresentação e Análise dos Programas

de Tratamento dos Residuos Sólidos

do Municipio de Curitiba"

Por: Mila Azevedo / Dezembro 2001

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ResumoEste relatório é resultado da experiência do estágio realizado no município de

Curitiba, nos meses de julho e agosto de 2001 nas Secretarias Municipais de RecursosHumanos e do Meio Ambiente, além de visitas realizadas em locais de realização deprogramas ou referentes ao assunto. Na primeira secretaria foi possível conhecermelhor os programas em geral do município. Na segunda, mais especificamente nosdepartamentos de Limpeza Pública – MALP e na Educação Ambiental, o foco que foidado e o que originou o relatório foi a coleta seletiva, destinação final e reciclagem deresíduos sólidos.

O tema do estágio e, conseqüentemente, do relatório foi escolhido devido aofato de ser um assunto bastante atual e que vem despertando o interesse de muitos,como cidadãos, Poder Público, ONG’s, empresas privadas. Assim, neste presenterelatório foi possível mostrar e discutir os principais resultados colhidos durante oestágio, bem como apresentar políticas de tratamento de resíduos sólidos inovadoras,e conseqüentemente, o estudo sobre o tema. O que mais se destacou foram osprogramas de coleta seletiva, no qual o município de Curitiba desponta em nívelnacional e mundial como modelo.

Dessa forma, foram elencados no referido trabalho os diversos programasimplementados pela administração local curitibana: Câmbio Verde, Compra do Lixo,Lixo que não é Lixo, Coleta Especial de Resíduos Domiciliares, Coleta de ResíduosSólidos de Serviço de Saúde, entre outros. Buscando sempre ressaltar a interatividadenecessária entre Poder Público e sociedade civil, ou seja, a efetivação de políticas deeducação ambiental.

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ÍNDICE

I. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................4

1.1. APRESENTAÇÃO....................................................................................................4

1.2. PROBLEMA DE PESQUISA, OBJETIVOS E JUSTIFICATIVA ..........................................4

1.3. METODOLOGIA E CRONOGRAMA ...........................................................................5

1.4. ESTRUTURA DO RELATÓRIO ..................................................................................5

II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................................7

2.1. AS GRANDES MUDANÇAS ......................................................................................7

2.2. DISPARIDADES ENTRE NORTE, SUL E LESTE...........................................................9

2.3. MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO ...............................................................11

2.4. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .....................................................................13

2.5. LIXO...................................................................................................................14

2.5.1. Lixo Doméstico.......................................................................................15

2.5.2. Lixo Comercial e Industrial ....................................................................15

2.5.3. Lixo Público ...........................................................................................16

2.5.4. Lixo Hospitalar ......................................................................................16

2.5.5. Lixo Radiativo........................................................................................16

2.5.6. Lixo Tóxico ............................................................................................16

2.6. COLETA SELETIVA ..............................................................................................16

2.6.1. Usina de Triagem...................................................................................18

2.7. DESTINAÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS ........................................................18

2.7.1. Aterro Sanitário .....................................................................................18

2.7.2. Aterro Controlado ..................................................................................18

2.7.3. Lixão......................................................................................................19

2.7.4. Incineração ............................................................................................19

2.7.5. Compostagem.........................................................................................19

2.7.6. Comparação entre aterros sanitários, incineração e compostagem ........19

2.8. O PRINCÍPIO DOS TRÊS R’S ..................................................................................20

2.8.1. Reduzir...................................................................................................20

2.8.2. Reutilizar................................................................................................20

2.8.3. Reciclar..................................................................................................20

III. A EXPERIÊNCIA NA POLÍTICA AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE CURITIBA:

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS PROGRAMAS MUNICIPAIS.................................22

3.1. BREVE COMENTÁRIO SOBRE O MUNICÍPIO DE CURITIBA ........................................22

3.2. RESÍDUOS SÓLIDOS DE SERVIÇO DE SAÚDE..........................................................24

3.2.1. Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos de Saúde ...................24

3.3. PROGRAMA COMPRA DO LIXO.............................................................................25

3.4. PROGRAMA LIXO QUE NÃO É LIXO.......................................................................27

3.4.1. Programa Lixo que não é Lixo em Condomínios.....................................28

3.4.2. Programa Lixo que não é Lixo em Shopping Centers..............................28

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3.5. ATERRO DA CACHIMBA.......................................................................................29

3.6. PROGRAMA CÂMBIO VERDE................................................................................30

3.6.1. Câmbios Especiais .................................................................................31

3.7. UNIDADE DE VALORIZAÇÃO DE REJEITOS (UVR) ................................................32

3.8. PROGRAMA DE COLETA ESPECIAL DE RESÍDUOS DOMICILIARES ...........................34

3.9. COOPERATIVA DE COLETORES DE MATERIAL RECICLÁVEL ..................................35

IV. CONCLUSÃO ...............................................................................................................36

BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................38

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Capítulo IIntrodução

1.1. ApresentaçãoEste relatório foi elaborado com base nas atividades da disciplina Estágio

Supervisionado, realizado na cidade de Curitiba durante o mês de julho e agosto de 2001, sob

supervisão de Suzete Sampaio Silva (chefe de supervisão dos Núcleos de Recursos

Humanos), tendo como professor orientador Sérgio Azevedo Fonseca.

Inicialmente pude conhecer os programas em geral do município através da Secretaria

Municipal de Recursos Humanos (SMRH) e depois focar na Secretaria Municipal de Meio

Ambiente (SMMA). Também foi possível a visitação de, por ordem cronológica:

Departamento de Qualidade de Vida do Trabalhador (QVT: ligado a SMRH); apresentação do

grupo de teatro dos servidores da prefeitura do QVT, com a peça “Pérfuros Cortantes”;

MALP (Meio Ambiente – Limpeza Pública: órgão da SMMA); visita a bairros onde é feita a

troca do Programa Câmbio Verde; Departamento de Educação Ambiental (ligado a SMMA);

Unidade de Valorização e Rejeitos (UVR: local onde é feita a triagem do lixo coletado na

cidade); UNILIVRE (Universidade Livre do Meio Ambiente) para pesquisar livros a respeito

do assunto; visita a empresa privada Gerdau que compra sucata de alumínio e realiza a própria

reciclagem.

1.2. Problema de Pesquisa, Objetivos e JustificativaÉ no contexto do meio ambiente em que se insere o problema a ser investigado nesse

relatório: quais as principais características dos programas de coleta seletiva de resíduos

sólidos e especiais (como resíduos de saúde ou tóxicos) do município de Curitiba?

A partir da política de limpeza pública existente no município foi possível estabelecer

o objetivo principal: mostrar e descrever alguns programas da coleta seletiva, destinação final

e reciclagem do lixo, envolvendo o Poder Público e a população. Alguns objetivos específicos

estão definidos a seguir:

ü Mostrar quando foram implantados cada programa da coleta seletiva de resíduos

sólidos na cidade de Curitiba visando a melhoria de qualidade de vida dos cidadãos;

ü Descrever o processo de coleta seletiva na cidade;

ü Definir o que são programas do município, como “Compra do Lixo”, “Lixo que

não é Lixo”, “Câmbio Verde”, entre outros;

ü Mostrar a Educação Ambiental numa cidade com mais de 1,5 milhão de

habitantes;

ü Demonstrar o tratamento e destino dos materiais recicláveis;

ü Mostrar o local para onde vão os resíduos sólidos recicláveis coletados;

ü Verificar se as pessoas envolvidas nessa questão estão instaladas em lugares

adequados;

ü Comparar dados estatísticos dos programas da coleta seletiva do município para

ver se realmente são eficazes;

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A proposta apresentada busca analisar os segmentos envolvidos no processo de coleta

seletiva e reciclagem de resíduos sólidos. Com o intuito de mostrar a importância desse tema para

a melhoria de vida da população e sua respectiva participação. Através de alguns programas

estudados foi possível perceber a preocupação com a população mais carente residente na cidade,

além, principalmente, da gestão aplicada focando sempre o meio ambiente.

O relatório em questão irá mostrar a realidade de uma sociedade que se reeducou e hoje é

consciente de problemas urbanos e ambientais.

1.3. Metodologia e CronogramaO estudo realizado foi meramente exploratório, pois houve aproximação e

envolvimento do pesquisador ao campo de estudo, além de formular proposições teóricas para

ajudar na compreensão do mesmo, isto é, representa o princípio da subjetividade.

A pesquisa foi realizada de forma qualitativa, já que foi possível vivenciar

experiências reais e também compará-las entre si; as características dos dados coletados são

de profundidade, complexidade e detalhamento, e foram adquiridos através da observação

direta, análise documental e entrevistas não estruturadas; o estudo foi realizado como caso

único, pois possui foco na Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

O relatório resultou-se de acordo com o seguinte cronograma, seguindo as etapas

descritas abaixo:

1. Elaboração do projeto de estágio;

2. Realização do estágio supervisionado e coleta de dados;

3. Análise dos dados;

4. Elaboração do relatório;

5. Revisão final e impressão.

Etapas Jun/01 Jul/01 Ago/01 Set/01 Out/01 Nov/01 Dez/01

1 X

2 X X

3 X

4 X X

5 X

1.4. Estrutura do RelatórioO relatório apresenta, além deste introdutório, mais três capítulos. O segundo

capítulo é a Fundamentação Teórica que trata de alguns temas e conceitos importantes, como

o processo de industrialização, desenvolvimento sustentável, coleta seletiva, modos de

destinação final do lixo, reciclagem, entre outros que serão tratados mais adiante, além de

dados relevantes de alguns autores. O terceiro, relata a Experiência de Curitiba, abordando os

programas existentes e os principais tópicos relacionados com meio ambiente existentes no

município, especialmente o lixo. O quarto e último capítulo contém as conclusões e

algumas considerações finais, dificuldades encontradas, propostas, etc.

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Capítulo IIFundamentação Teórica

2.1. As grandes mudançasHouve um tempo em que se acreditava que recursos naturais, como a água e o ar, eram

infinitos e que a natureza sempre conseguiria absorver todo o lixo produzido. A possibilidade

de esgotamento dos recursos naturais não era motivo de preocupação para a humanidade

quando, no século XIX, a Revolução Industrial iniciada na Inglaterra, se espalhou pela Europa

e pela América do Norte. Naquele tempo, o crescimento econômico estava totalmente ligado a

setores produtivos altamente poluentes, como por exemplo, a mineração.

Após a II Guerra Mundial, segundo Franco (1999), com a intensificação das atividades

econômicas e o crescimento populacional urbano, o modelo de desenvolvimento econômico

não era mais adequado para as condições do mundo. Um exemplo disso é a demanda mundial

por diferentes fontes de energia: em 1990, era quatro vezes maior do que em 1950 e 20 vezes

maior do que em 1850.

De acordo com a Prefeitura Municipal de Curitiba, a população mundial,

especialmente urbana, cresceu – e ainda cresce – de maneira assustadora. Nos primeiros 1750

anos da era cristã, os habitantes da Terra passaram de 200 milhões a um bilhão. Nos últimos

245 anos, esse número chegou a seis bilhões e a previsão é de que nos próximos 300 anos a

população do planeta seja de nove bilhões de seres humanos. Esse crescimento explosivo e a

urbanização acelerada1 após a II Guerra Mundial, resultaram na utilização inadequada e

intensa de recursos naturais e na degradação do meio ambiente.

O processo de urbanização gerou nas cidades o grave problema que é o espaço ou o

ambiente urbano. Para Franco (1999) elas não estavam preparadas para tantos alimentos

sendo gerados, o lixo se acumulando e sendo produzido cada vez em maior quantidade, o

aumento de esgoto2, a enorme quantidade de automóveis, ônibus, caminhões, a indústrias e o

comércio se expandindo a cada dia, num espaço que continua o mesmo, mas com mais e mais,

poluição, odores e consumidores.

Além da urbanização ocorrida nesse período, o modo de desenvolvimento econômico

também prejudicou tanto o meio ambiente quanto o urbano, ou seja, o meio comum que todos

vivemos. Os anos 70 e 80 foram marcados pela aceleração da riqueza material sem se

preocupar com o desperdício, degradação e exploração do meio ambiente. Era o início do

fortalecimento do modelo neoliberal preocupado com a economia de escala, isto é, o que

interessava era o tamanho, o porte, a força das organizações dada a sua capacidade produtiva:

quanto maior seu tamanho, maior o poder de negociação, de pressionar os fornecedores a

gerar a redução do preço e os clientes eram obrigados a pagar mais, totalmente sem saída, isto

é, quanto maior a escala produtiva, maior a capacidade de produzir a baixos custos.

1 Entre 1950 e 1970, 74,3% da população brasileira passou a viver em zonas urbanas. Devido amudanças desse tipo, a partir de 60, o Brasil passou a provocar impactos ambientais notáveis.2 Que na maioria das vezes não é tratado e é despejado “in natura” em rios e mares.

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O que é acrescido aos anos 80, é a empresa focada em produzir algum produto

essencial e o aumento de empresas satélites espalhadas pelos países, formando parcerias com

fornecedores confiantes. Outro fator importante dessa década é a inovação: fonte fundamental

da competitividade com menor número de produção e maior número de produtos inovados. O

Japão realizou, nas duas últimas décadas, investimentos em P&D – Pesquisa e

Desenvolvimento – superior a 6% do PIB; Estados Unidos e Europa, 3%; enquanto o Brasil

investia inferiormente a 0,6% do PIB3.

Um meio de revelar a capacidade de inovação tecnológica era a extração de recursos

naturais pelas indústrias, que era – e na grande maioria dos casos ainda é – incontrolável e

excessiva. Sem esquecer no descarte de produtos ou mesmo resíduos que ainda poderiam ser

utilizados e reaproveitados que eram, e são, depositados no mesmo local onde são extraídos,

ou seja, o importante era produzir sem pensar na montante ou na jusante do meio ambiente.

Esse paradigma de produção busca a incessante criação de itens personalizados que leva o

descarte prematuro de produtos que ainda têm vida útil. A população criou a expectativa de

adquirir os novos produtos a cada lançamento. O que é preciso ter em mente é que os recursos

não são infinitos ou facilmente substituíveis. Um exemplo disso é o rápido descarte existente

no Japão de produtos que ainda possuem vida útil. Quando algum modelo novo é lançado no

mercado nesse país, as pessoas colocam aqueles que estavam sendo utilizados na rua, sem

preocupar-se se ainda é possível usá-lo ou não, para adquirir o lançamento.

O modo de vida urbano combinado a um pesado marketing (Grimberg & Blauth,

1998), gera um alto e intenso consumo. Novos objetos, lançamento de produtos com novos

acessórios ou sofisticações tecnológicas são acrescidos no mercado infinitamente, tornando os

outros modelos obsoletos. Em muitos casos, empresas produtoras de máquinas de lavar

roupas, torradeiras, automóveis, entre outros, substituem materiais antes usados por aqueles

mais leves, o que os torna mais frágeis, passando a ter um tempo de vida mais curto,

somando-se a isso o fato de muitos produtos não serem reparáveis ou recondicionáveis,

aumentando o consumo. Também o excesso de embalagens descartáveis é outro causador do

aumento de resíduos, somando-se a isso, o desperdício de energia e recursos naturais. Ainda

como os autores Grimberg & Blauth (1998), “entre os desperdícios mais notórios encontram-

se o não aproveitamento dos resíduos sólidos e a quase absoluta inexistência de iniciativas de

redução de resíduos na sua origem, as indústrias”. Isso mostra a necessidade de mudança do

modelo de produção das empresas, buscando a redução de danos ao meio ambiente e

promovendo um desenvolvimento socialmente responsável.

O atual padrão de desenvolvimento, como afirmam Grimberg & Blauth (1998),

caracteriza-se pela exploração cada vez mais intensa e constante dos recursos naturais do

planeta, pela grande produção de resíduos, pela crescente exclusão social. Significa dizer,

estamos vivendo em um enorme desequilíbrio entre o meio ambiente e o desenvolvimento,

3 A grande diferença é que o PIB do Japão é 3 trilhões de dólares, enquanto o do Brasil, 900 milhõesde dólares.

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sem limites de produção e consumo, além de condições básicas para qualidade de vida da

população.

A preocupação em preservar o meio ambiente iniciou-se na década de 80 e,

principalmente tornou-se mais visível nos anos 90, seja porque realmente houve a

conscientização na preservação, seja pelo marketing ecológico que muitas empresas passaram

a realizar para ganhar credibilidade de seus clientes. Nos anos 80 (Andrade, Tachizawa &

Carvalho, 2000), começaram a serem vistos os primeiros gastos com a proteção ambiental,

feitos por empresas líderes, principalmente como investimentos no futuro e vantagem

competitiva: “a atitude passou de defensiva e reativa para ativa e criativa”.

Segundo Souza (1993), foi a partir dessa década, que se ouviu falar do marketing

ecológico e de “produtos verdes”, mostrando o início da preocupação com o meio ambiente e

é quando algumas empresas ganham vantagens competitivas no mercado. Os critérios

utilizados para a verificação desses produtos são: embalagens, biodegradabilidade, eficiência

energética, uso de recursos sustentáveis e, ainda, aspectos do ciclo de vida dos produtos.

Reforçando, o mesmo autor afirma que os “consumidores verdes” nos EUA representam 37%

da população, enquanto que na Europa, em países como a Suíça, Alemanha, Inglaterra, já

atingem 50%. Com isso, as empresas melhoram a sua imagem por meio da criação dos

“produtos verdes” e de ações voltadas para a proteção ambiental.

Souza (1993) comprova esse fato dizendo que desde a década de 70, grupos de

empresários criaram instituições internacionais4, visando definir programas de gestão e/ou

certificação ambiental na perspectiva de promover mudanças na estrutura industrial. Porém,

“normas, padrões e regras, visando maior harmonização entre desenvolvimento econômico e

preservação do ambiente, têm servido mais para garantir a credibilidade das empresas perante

o consumidor do que para mudar significativamente os patamares de desperdícios e

degradação do ambiente provocados pelas atividades industriais” (Grimberg & Blauth, 1998:

8), ou seja, algumas empresas buscam soluções para alcançar o desenvolvimento sustentável

mas, principalmente, sua própria lucratividade.

2.2. Disparidades entre Norte, Sul e LesteNeste tópico serão demonstrados os diferentes impactos regionais do processo de

crescimento econômico e populacional das últimas décadas que têm sido marcados por

desigualdades. Embora os países do Hemisfério Norte possuam apenas um quinto da

população e 24% da área terrestre do planeta, eles detêm quatro quintos dos rendimentos

mundiais, 73% do comércio internacional, consomem 70% da energia, 75% dos metais e 85%

da produção de madeira mundial (WWF, 2001), concentram 78% de todos os automóveis,

respondem por 45% das emissões totais de óxido de carbono, 40% das de óxido sulfúrico,

4 Algumas dessas instituições internacionais são: International Chamber of Commerce (ICC), TheCoalization for Environmental Responsible Economies (CERES), Forest Stewardship Council,International Network for Environmental Management (INEM), Global Environmental ManagementInitiative (GEMI), Responsible Care, British Standard Institution (BSI), International Organization forStandardization (ISO), entre outras (Grimberg & Blauth, 1998).

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50% das de óxido de nitrogênio e 60% da emissão de resíduos industriais (OCDE, 1991, cit.

Sachs, 1993). Sachs conclui, então, que “em geral, os problemas ambientais dos países

desenvolvidos são associados à riqueza econômica, ao exagerado nível de consumo e à

industrialização. Nos países em desenvolvimento, os maiores problemas ambientais estão

normalmente associados à pobreza, aos altos índices de crescimento populacional e à

desertificação” (Sachs, 1993). As economias do Sul, vítimas e não beneficiárias da

globalização, tornaram-se notavelmente vulneráveis a mudanças nas condições econômicas

do mundo.

Para Maurice Strong, prefaciando Sachs (1993), os países do Norte deveriam diminuir

seu consumo de recursos e os do Sul escapar da pobreza, isto é, “a economia mundial deve ser

reestruturada (...) com uma transferência adequada de técnicas e recursos do Norte para o

Sul”. Dessa forma, “o desenvolvimento e o meio ambiente estão indissoluvelmente

vinculados e devem ser tratados mediante a mudança do conteúdo, das modalidades e das

utilizações do crescimento”, seguindo três critérios seguidamente: “eqüidade social, prudência

ecológica e eficiência econômica”.

O Hemisfério Norte (Sachs, 1993), embora tendo ciência da ligação entre meio

ambiente e desenvolvimento, ainda insiste na “idéia de riscos ambientais globais e na

responsabilidade compartilhada de enfrentá-los” (Sachs, 1993: 17), com padrões de vida

ambientalmente inviáveis. Já o Sul e também o Leste – que hoje apresenta muitas

semelhanças com o Sul –, “prioriza a agenda de desenvolvimento, alertando para o perigo de

imposições descabidas, sob o pretexto da degradação ambiental, de novas condicionalidades

sobre as economias altamente endividadas e depauperadas do Sul” (Sachs, idem, ibidem).

Um ponto em que vários autores concordam é a necessidade de conter o consumo

excessivo, especialmente nos países desenvolvidos e às minorias ricas do Sul e Leste. Isso

porque os atuais padrões de utilização de recursos serão insustentáveis a longo prazo (Sachs,

idem). Pronk resume a opinião de muitos social-democratas da Europa:

“Se o patrimônio ecológico mundial é limitado – na verdade escasso – e se o

Terceiro Mundo dele detém apenas uma pequena parcela, isso significa que a

maior parte desse patrimônio nos pertence. Em outras palavras, para

proporcionar a todos do Terceiro Mundo o mesmo padrão de vida material

que o da rica minoria a que pertencemos, deve-se extrair uma quantidade dez

vezes maior que a atual de combustível fóssil e ampliar a extração de

riquezas minerais em cerca de duzentas vezes. Isso é impossível: o único

caminho é retroceder. (...) Escassez, poder e desigualdade só podem ser

combatidas por meios da redistribuição, de uma divisão diferente não apenas

da prosperidade, mas também das fontes dessa prosperidade e,

conseqüentemente, divisão do poder de dispor sobre ela. Esta é uma

mensagem socialista, tão verdadeira ao final do século XX quanto há um

século, na década de 1890” (Pronk, 1991, cit. Sachs, 1993: 16).

Esse trecho revela que não adianta querer exportar o estilo de vida ocidental dos países

ricos para o Sul e o Leste, mas sim as sociedades industriais deveriam repensar e

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reconquistar o desperdício que caracteriza seus próprios padrões de consumo. Sachs afirma,

ainda, que:

“Dado o caráter finito da Espaçonave Terra e a fragilidade da biosfera,

exposta à emissão dos gases estufa, o crescimento quantitativo ilimitado da

produção material não pode, é óbvio, se sustentar eternamente. Se quisermos

deter a exaustão irreversível do ‘capital da natureza’, tanto como fonte de

matérias-primas quanto como depósito para os resíduos, o fluxo de energia e

de materiais deve ser contido” (Sachs, 1993: 22).

O desenvolvimento econômico é vital para os países mais pobres, mas o caminho a

seguir não pode ser o mesmo adotado pelos países industrializados. Mesmo porque isso não

seria possível, pois é cada vez mais evidente que a Terra não seria capaz de agüentar a

população humana se todos adotassem os altos padrões de consumo dos países do Primeiro

Mundo.

A Organização Mundial para Proteção da Vida Selvagem – WWF – lembra uma

citação de Mahatma Gandhi que, ao ser perguntado se a Índia seguiria o estilo de vida

britânico após a independência, este indaga que “... a Grã-Bretanha precisou de metade dos

recursos do planeta para alcançar sua prosperidade; quantos planetas não seriam necessários

para que um país como a Índia alcançasse o mesmo patamar?”. A mesma WWF mostra,

então, que “a sabedoria de Gandhi indicava que os modelos de desenvolvimento precisam

mudar. Os estilos de vida das nações ricas e a economia mundial têm de ser reestruturados

para levar em consideração o meio ambiente” (WWF, 2001). Afinal, nenhuma decisão

econômica pode ser feita sem afetar o meio ambiente, do mesmo modo que, nenhuma

alteração ambiental pode ocorrer sem provocar impactos econômicos, por menores que sejam.

2.3. Meio ambiente e DesenvolvimentoParalelamente ao desenvolvimento econômico desordenado que estava ocorrendo no

mundo desde a década de 70, começaram a surgir algumas preocupações com tamanha

degradação do meio ambiente. Foi quando começaram a ser realizadas conferências sobre o

meio ambiente e o desenvolvimento econômico.

A primeira conferência que se tem notícia sobre a Biosfera foi realizada em Paris em

1968 e conseguiu reunir representantes de governos para discutir meios para controlar a

degradação ambiental. A escassez de informações sobre a conferência revela a pouca

importância que era atribuída ao tema em questão.

Sachs (1993) informa que, precedendo a grande Conferência das Nações Unidas sobre

o Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD – de Estocolmo na Suécia, em 1972, foi

realizado o Encontro de Founex em junho de 1971 para discutir a relação meio ambiente e

desenvolvimento, onde foi elaborado um relatório com dois pontos de vista: aqueles que

afirmavam que o planeta já está determinado ao desastre – seja pela super extração de

recursos naturais não-renováveis, seja pela grande quantidade de poluentes despejados na

Terra; e outros, confiantes na substituição do capital “natural” pelo capital “construído pelo

homem” através de ajustes tecnológicos (Sachs, 1993). Esse foi o marco para se

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implantar e construir o “ecodesenvolvimento”5.

Em Estocolmo, a discussão ficou em torno da ligação indissolúvel entre o meio

ambiente e o desenvolvimento, estabelecendo o tripé: desenvolvimento econômico,

preservação ambiental e eqüidade social. Com isso, nos países do Sul não era preciso reduzir

o desenvolvimento, mas sim orientá-lo, preservando o meio ambiente e os recursos não

renováveis.

Dessa forma, Sachs afirma que:

“Embora reconhecendo a complexidade e a gravidade dos desafios sociais e

ambientais enfrentados pela humanidade, o Relatório de Founex, a

Declaração de Estocolmo e a Declaração de Cocoyoc (resultante do Simpósio

do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA – e da

Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, realizado

no México em 1974) continham uma mensagem de esperança com respeito ao

planejamento e à implementação de estratégias ambientalmente viáveis para

promover um desenvolvimento socioeconômico eqüitativo, ou para o

‘ecodesenvolvimento’”.(Sachs, 1993:12)

Antecedendo a Conferência do Rio de Janeiro em 1992, o PNUMA com o apoio das

Comissões Econômicas Regionais das Nações Unidas realizou, em 1979 e 1980, seminários

sobre estilos diferentes de desenvolvimento que deram origem ao Relatório de Brundtland

(1987). Somando-se a esse relatório, o simpósio preliminar ocorrido em Haia na Holanda

(1991) que tinha como tema “Desenvolvimento Sustentável: do Conceito à Ação”, ficou

estabelecida a convocação da Conferência do Rio de Janeiro.

A Conferência do Rio de Janeiro, Eco-92, ou ainda o que Strong chamou de “o Grande

Encontro da Terra”, provavelmente, será para os historiadores do futuro “um momento

decisivo na busca de uma nova ordem internacional, baseada do desenvolvimento eqüitativo e

na segurança ambiental” (Strong, 1993, cit. Sachs, 1993). Para Sachs, a própria conferência

do Rio de Janeiro reconhece “em seu próprio título (...) meio ambiente e desenvolvimento

como dois lados da mesma moeda” (Sachs, 1993). Isso porque, no Rio, foi possível ampliar a

consciência de todos os agentes sociais envolvidos no processo de desenvolvimento, como

por exemplo: líderes políticos, representantes de movimentos civis, comunidade científica,

meios de comunicação e opinião pública em geral.

Além de estabelecido e definido o “desenvolvimento sustentável”, também foi no Rio

de Janeiro que se originou a “Agenda 21” que tem por objetivo “colocar em prática,

programas para frear o processo de degradação ambiental” (Andrade, Tachizawa & Carvalho,

2000). Programas esses que estejam ligados a “atmosfera, recursos naturais, agricultura

sustentável, desertificação, florestas, biotecnologia, mudanças climáticas, oceanos, meio

ambiente marinho, água potável, resíduos sólidos, resíduo tóxicos, rejeitos perigosos, entre

outros”. Todos estes temas discutidos e conscientizados poderão construir o desenvolvimento

sustentável que apenas seria cabível a uma sociedade sustentável. 5 “Ecodesenvolvimento” é o termo usado por Ignacy Sachs, que posteriormente foi chamado pelosanglo-saxões de “desenvolvimento sustentável”.

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2.4. Desenvolvimento SustentávelA partir da década de 70 (como já mencionado) começou a preocupação mundial que

buscava unir duas frentes: a econômica e a ambiental. Muitos conceitos foram surgindo:

ü “ecodesenvolvimento” (Sachs): “respeito ao planejamento e à implementação de

estratégias ambientalmente viáveis para promover um desenvolvimento socioeconômico

eqüitativo”;

ü “ecodesenvolvimento urbano” (Sachs): “a reciclagem de resíduos, a conservação de

energia e da água e a manutenção do estoque de equipamentos e das infra-estruturas são

intensivas em mão-de-obra, criando empregos autofinanciados pelas economias realizadas na

utilização de matérias-primas (...) que é um campo ainda inexplorado de oportunidades de

empregos, onde considerações sociais, econômicas e ambientais seguem juntas, e que oferece

um ponto de partida conveniente para o planejamento de estratégias de ecodesenvolvimento

urbano”;

ü “desenvolvimento qualitativo” (Daly, cit. Sachs): “inclui o crescimento material

baseado em uso mais eficiente e na reciclagem da energia e dos recursos naturais, e também

na redução de resíduos e poluentes, na medida em que admite ser possível, dentro de certos

limites, aumentar a produtividade do capital da natureza, sobretudo pelo incremento da

eficiência nos usos finais do produto”;

ü “economia ecológica” (Costanza, cit. Sachs): “ramo de Economia que foi introduzido

o conceito de ‘capital natural’ provocando importantes avanços conceituais”;

ü “desenvolvimento socioeconômico ambientalmente” (Sachs): “quanto mais corajosos

forem os passos dados no futuro próximo, menor será o intervalo de tempo a nos separar de

um estado estável, no Norte, e de um desenvolvimento socioeconômico ambientalmente

viável, no Sul e no Leste”;

ü “sustentabilidade ecológica” (Costanza, cit. Sachs): “sustentabilidade é um

relacionamento entre sistemas econômicos dinâmicos e sistemas ecológicos maiores e

também dinâmicos, embora de mudança mais lenta, em que: a) a vida humana pode continuar

indefinidamente; b) os indivíduos devem prosperar; c) as culturas humanas podem

desenvolver-se; mas em que d) os resultados das atividades humanas obedecem a limites para

não destruir a diversidade, a complexidade e a função do sistema ecológico de apoio à vida”.

Todos esses termos estão focados ou se referindo a um único ponto: o

desenvolvimento sustentável, isto é, o processo que melhora a qualidade e condições de vida

da população, respeitando o volume de recursos extraídos e quais e como os rejeitos são

despejados no meio em que vivemos, ou seja, respeitando “os limites da capacidade de carga

dos ecossistemas” (IUNC – União Internacional para a Conservação da Natureza e dos

Recursos Naturais, 1991, cit. Sachs, 1993 ) englobando o meio social, econômico ecológico.

Para ser alcançado, depende de planejamento a longo prazo e do reconhecimento de

que os recursos naturais da Terra são finitos, representando uma nova forma de ver o

desenvolvimento econômico, que deve levar em conta o meio ambiente.

É de suma importância realizar uma distinção entre o desenvolvimento sustentável

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e o crescimento econômico. Esse último, dissociado de prioridades sociais, leva ao

esgotamento de recursos naturais dos quais a humanidade depende, isto é, tende a ser

insustentável. Desses recursos depende não só a existência humana e a diversidade biológica

como o próprio crescimento econômico. Já o desenvolvimento sustentável sugere qualidade

em vez de quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da

reutilização e da reciclagem.

Apenas é possível pensar em desenvolvimento sustentável com uma mudança de

paradigma da sociedade. É preciso, como Rattner (2001) defende, uma sociedade mais estável,

racional e harmoniosa, baseada no princípio de igualdade e justiça nas relações entre os

indivíduos em um nível global, tendo, com isso, uma melhoria na qualidade de vidas das pessoas,

pois o desenvolvimento sustentável envolve o Poder Público, a Sociedade Civil Organizada,

Empresas e Organizações Não Governamentais buscando a proteção da sobrevivência dos

recursos naturais utilizados pela sociedade.

Essa qualidade de vida através do desenvolvimento sustentável envolveria diversos

setores da administração pública. Por exemplo, a educação e mobilização dos cidadãos, buscando

conscientizá-los do problema em questão e tentar uma mudança de cultura que existe em relação

ao meio ambiente, como foi exposto no texto de Vaz & Cabral (2001). Um dos meios de se

chegar a essa mudança seria através da coleta seletiva e reciclagem do lixo, onde os maiores

beneficiados são o meio ambiente e a saúde da população.

2.5. LixoSegundo dados da Prefeitura Municipal de Curitiba, do total de lixo gerado nos centros

urbanos, calcula-se que algo entre 35 e 45 % do que vai para nos aterros sanitários, lixões

controlados ou lixos a céu aberto, são compostos por materiais não degradáveis que podem

ser reaproveitados. São resíduos que ocupam grandes espaços, enquanto que as áreas

destinadas aos aterros estão cada vez mais escassas. A continuar nesse ritmo acelerado de

geração de resíduos, a montanha de lixo sobre a Terra em 2.050 deverá chegar a 1,5 trilhão de

toneladas.

A questão do lixo é uma problemática mundial. De acordo com o Environmental

Protection Agency, EPA (órgão de controle ambiental federal dos EUA), citado em estudo

realizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT, 1995), os

EUA são os maiores produtores de lixo do mundo: cada norte americano produz 1,63 kg/dia,

sendo geradas 200 milhões de toneladas de lixo por ano. Desse total, 2/3 vão para os aterros,

16% é incinerado e o restante é separado e vai para a reciclagem.

Dados da Prefeitura Municipal de Curitiba informam que em 2.665 cidades brasileiras

– mais de 50% dos municípios brasileiros – o lixo é depositado a céu aberto. No Brasil, são

produzidas 241.614 toneladas de lixo diariamente. Desse total, 76% vão para os lixões,

espalhados pelo país; 24% recebem tratamento mais adequado. A tabela abaixo mostra como

é a disposição final do lixo no Brasil:

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Tabela I

Disposição final do lixo no Brasil

Lixão 76%

Aterro controlado 13%

Aterro sanitário 10%

Usina de compostagem 0,9%

Usina de incineração 0,1%

Fonte: IBGE, 1991

Abordando essa mesma questão, Franco (1999) afirma que os municípios6 devem

preocupar-se, principalmente, em quatro principais segmentos, em relação ao lixo urbano:

1 – Destinação final dos resíduos sólidos: localização adequada de aterros sanitários

e tratamento de resíduos: usinas de compostagem, incineração ou reciclagem;

2 – Operação de limpeza urbana: equipamentos, trajetos e pessoal adequado;

3 – Operação da destinação final dos resíduos no que diz respeito a aterros e áreas

apropriadas, controlando efluentes e emissões.

4 – Educação e conscientização ambiental para a população, focando a diminuição da

geração de lixo e sua disposição. A educação e conscientização ambiental ficam ligadas

diretamente a qualquer programa a ser implantado ou para seu monitoramento para que seja

possível sua infiltração na sociedade.

É importante conhecer os diferentes tipos de lixo para que seja possível saber como

lidar com cada tipo especificamente, portanto, segue abaixo a diferenciação.

2.5.1. Lixo Doméstico

É aquele produzido nas residências. Contem jornal, revistas, papéis, embalagens de

plástico, metais, vidros, trapos, restos de alimentos, lixo de banheiro, poeira e outros.

2.5.2. Lixo Comercial e Industrial

É aquele produzido em estabelecimentos comerciais e industriais e sua composição

varia conforme a natureza da instituição. Hotéis, restaurantes e bares produzem,

principalmente, restos de comida. Lojas e supermercados descartam muitas embalagens.

Bancos e escritórios, bastante papel. Os resíduos das industrias compõem-se de restos de

processamento, cuja composição depende das matérias-primas e as técnicas industriais

utilizadas.

O lixo industrial, por sua vez, é coletado em 1.505 municípios dos 4.425 pesquisados

pelo IBGE. Desse total, 66% não tem coleta especial e também se misturam ao lixo comum.

Em síntese, o brasileiro convive com a maioria do lixo que produz. Montanhas cada vez

maiores de resíduos sólidos representam uma séria ameaça à saúde e a qualidade de vida e o

potencial de desenvolvimento é afetado por políticas com manejo inadequado das “sobras”

sólidas.

6 Dos mais de 5.500 municípios, mais de 5.000 sofrem problemas com seus lixões, que são operadosde formas inadequadas.

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2.5.3. Lixo Público

São os resíduos provenientes da limpeza de logradouros públicos. Compreende os

restos das capinas, das podas e da atividade de varrição – poeira, folhas, galhos e lixo jogado

pela população. Também contém animais mortos e entulhos – móveis velhos,

eletrodomésticos quebrados, restos de materiais de construção etc – que são indevidamente

deixados nas ruas pelos cidadãos.

2.5.4. Lixo Hospitalar

É a porção denominada infectante (ou potencialmente contaminada) com material

patogênico – que é cerca de 20% do total produzido – que merece tratamento especial. O

restante desse tipo de lixo é semelhante ao de outra comunidade qualquer.

O lixo hospitalar, responsável por vários tipos de doenças, é recolhido diariamente

somente em 2.442 município brasileiros. Do total coletado, 42,3% são despejados em

vazadouros a céu aberto, 6% são jogados em aterros, 0,4% fica em aterros de resíduos

especiais, e, 45 % do lixo não têm coleta especial, sendo misturados ao lixo e depositados em

vazadouros e aterros que não possuem tratamento.

2.5.5. Lixo Radiativo

É constituído de resíduos – restos de cápsulas e pastilhas de césio, urânio, irídio – e

objetos – botas, luvas, roupas, pinças, frascos – utilizados nas usinas nucleares, em

equipamentos de laboratórios e m medicamentos nas clinicas e hospitais para o tratamento de

algumas doenças.

Esse tipo de lixo precisa ser mantido em caixas de chumbo e concreto para que a

radiatividade não afete os seres vivos.

2.5.6. Lixo Tóxico

São aqueles que contém substancias tóxicas capazes de causar danos à saúde e ao meio

ambiente se depositados em locais inadequados. Por exemplo: pilhas, lâmpadas fluorescentes,

baterias, frascos de aerossóis, embalagens de agrotóxicos etc. Devem ser encaminhados aos

fabricantes através de pontos de coleta especiais.

2.6. Coleta SeletivaO sistema mais moderno de recolhimento de resíduos e que se tem difundido

mundialmente através de diversas experiência é o da coleta seletiva. A coleta seletiva de lixo

“é um sistema de recolhimento de materiais recicláveis, tais como papéis, plásticos, vidros,

metais e ‘orgânicos’, previamente separados na fonte geradora. Estes materiais são vendidos às

industrias recicladoras ou aos sucateiros” (CEMPRE, 1999, cit. IPT, 2000).

Inicialmente, para ser implantado o processo de coleta seletiva do lixo e a reciclagem é

preciso realizar um estudo para analisar as condições do município e o perfil dos resíduos

sólidos gerados. Após este levantamento, será preciso definir a modalidade de coleta seletiva

que são basicamente quatro, segundo definição do estudo realizado pelo IPT (2000):

ü Porta-a-porta ou domiciliar: semelhante ao procedimento da coleta normal, os

veículos coletores recolhem o lixo em dias e horários específicos e que não coincidam com a

coleta normal. Assim, os moradores colocam o lixo – separado em orgânico e reciclável –

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na calçada de sua residência;

ü Ponto de Entrega Voluntária (PEV): são utilizados contêineres ou pequenos

depósitos, colocados em pontos fixos do município, onde o cidadão, espontaneamente, deposita

o lixo reciclável em recipientes específicos. Os contêineres possuem a cor determinada para

cada tipo de material: verde para vidro, azul para papel, vermelho para plástico e amarelo para

metais;

ü Postos de Troca: o material entregue é trocado por algum bem ou benefício,

podendo ser alimento, vale-transporte, vale-refeição, descontos etc;

ü Catadores: muitas vezes confundidos com mendigos, os catadores são de suma

importância para a coleta seletiva. Eles coletam os materiais recicláveis antes do caminhão da

Prefeitura passar, reduzindo os gastos com a limpeza pública e abastecendo o mercado de

materiais recicláveis. Segundo o CEMPRE (1999), no Brasil até 1999 havia cerca de 200 mil

catadores de rua responsáveis pela coleta de vários tipos de materiais.

A implantação de coleta seletiva de resíduos é um fator que muito contribui para

aumentar a quantidade de materiais recicláveis.

A vantagem da coleta seletiva do lixo e a destinação final adequada é principalmente

ambiental e econômica. Abaixo, estão os aspectos positivos da coleta seletiva descritas no

estudo do IPT (2000):

ü Proporciona boa qualidade dos materiais recuperados, uma vez que estes estão

menos contaminados pelos outros materiais;

ü Estimula a cidadania, pois a participação popular reforça o espírito comunitário;

ü Permite maior flexibilidade, uma vez que pode ser feita em pequena escala e

ampliada gradativamente;

ü Permite articulações com catadores, empresas, associações ecológicas, escolas,

sucateiros etc;

ü Reduz o volume do lixo que deve ser disposto.

Por outro lado, também há pontos negativos em um processo de coleta seletiva, de

acordo com o mesmo estudo do IPT (2000), que estão descritos abaixo:

ü Necessita esquemas especiais, levando a um aumento dos gastos com coleta. Por

exemplo, no caso de coleta porta-a-porta, utiliza caminhões especiais que passam em

dias diferentes dos da coleta convencional;

ü Necessita, mesmo com a segregação na fonte, de um centro de triagem, onde os

recicláveis são separados por tipo.

É importante destacar que o objetivo da coleta seletiva não é gerar recursos, mas sim

reduzir o volume do lixo, gerando ganhos ambientais, isto é, investir na qualidade de vida e no

meio ambiente. Isso explica o fato de a coleta seletiva no Brasil não se sustentar apenas com a

receita vinda da venda de materiais recicláveis, apesar do custo médio para mantê-la ter

diminuído ns últimos tempos: em 1994 era de US$ 240.00/t e em 1999 caiu para US$ 157.00/t

(CEMPRE, 1999, cit. IPT, 2000).

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2.6.1. Usina de Triagem

Usina de Triagem é o local onde é feita a separação dos materiais recicláveis do lixo

proveniente da coleta e transporte usual. Isso faz com que se reduza em grande quantidade o

volume de resíduos enviados para o aterro, atingindo taxas de 50 a 70% quando bem

gerenciadas, além da redução de custos de aterramento por quantidade coletada e aumento da

vida útil destinada a sua disposição. Juntamente com a Usina de Triagem é comum haver no

mesmo local a compostagem da fração orgânica do lixo.

2.7. Destinação final dos resíduos sólidosHá basicamente cinco formas de destinação final de resíduos sólidos: aterro sanitário,

aterro controlado, lixão, incineração e usina de reciclagem. A seguir, será explicado cada um

dos tipos.

2.7.1. Aterro Sanitário

Aterro Sanitário é um processo utilizado para a destinação final no solo, especialmente

o lixo domiciliar em critérios de engenharia e normas operacionais específicas que permite a

afirmação segura em termos de controle de poluição ambiental e proteção á saúde pública.

Nessa forma de aterro, existe adequada impermeabilização do solo antes do início da

disposição dos resíduos, sistema de drenagem do chorume (ver item 2.7.1.1), captação do gás

produzido e correta compactação e cobertura das camadas com terra.

2.7.1.1.Chorume

Chorume é o líquido escuro gerado pela degradação da matéria orgânica presente no

lixo que contém alta carga poluidora, por isso deve ser tratado adequadamente. Nos aterros

sanitários, o chorume é captado através de drenos e conduzido ao tanque de equalização que

tem a função de reter os metais pesados e homogeneizar os afluentes. Em seguida, é

conduzido a uma lagoa anaeróbica onde as bactérias vão atacar a parte orgânica, provocando a

biodegradação.

Para complementar a biodegradação, o chorume é conduzido para a lagoa facultativa,

que irá tratá-lo por processo aeróbico e anaeróbico. Os efluentes após passarem por esse

sistema de tratamento e com a redução de sua carga orgânica em torno de 86 a 92% são

lançados nos rios, pois já não causarão mais danos ao meio ambiente.

2.7.2. Aterro Controlado

O aterro controlado é uma técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos, sem

causar danos ou riscos á saúde pública e sua segurança, minimizando os impactos ambientais.

Esse método exige que haja uma camada de material inerte cobrindo o lixo, na conclusão de

cada jornada de trabalho. Em geral, há uma poluição localizada, pois similarmente ao aterro

sanitário, a extensão da área disponível é minimizada. Porém, normalmente, não é feita a

impermeabilização de base (comprometendo a qualidade das águas subterrâneas), num

sistema de tratamento de chorume ou de dispersão dos gases gerados.

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2.7.3. Lixão

Diferentemente das formas citadas acima, “lixão”, segundo a Associação Brasileira de

Normas Técnicas, é uma forma inadequada de disposição final de resíduos sólidos, que se

caracteriza pela simples descarga sobre o solo, a céu aberto, sem medidas de proteção ao meio

ambiente ou à saúde pública, que pode causar a proliferação de vetores de doenças, geração

de maus odores e, principalmente, a poluição do solo e das águas superficiais e subterrâneas

através do chorume comprometendo os recursos hídricos. Em lixões, não é possível o controle

dos tipos de resíduos despejados, há o risco de explosões devido a gases provenientes da

decomposição, causa mau cheiro, além de ser um sério risco a vida de catadores que vivem

nos lixões.

2.7.4. Incineração

Para alguns lixos de fontes especiais, como alimentos contaminados, materiais

patogênicos e medicamentos fora do prazo de validade, o melhor tratamento é a incineração.

Segundo Fellenberg (1980), na incineração todo o lixo é triturado e levado à fornalha,

onde funde pelo menos uma parte dos materiais não combustíveis, realizando a máxima

redução de volume dos componentes não-combustíveis. O lixo é levado, por partes, sobre

uma grelha até a região de temperatura máxima. Após secar o lixo os gases inflamáveis

escapam e na região mais quente (1.200oC) são queimados os resíduos carbonizados. O calor

obtido com a queima pode ser aproveitado para aquecimento ou em geradores elétricos. No

Brasil, não há disposição de sistemas de reaproveitamento do calor gerado na combustão do

lixo.

A redução do volume de lixo chega a 80 ou 90%, e há a esterilização total dos

resíduos. Se durante a etapa final a temperatura for elevada a 1.200oC, o lixo funde

completamente e poderá ser removido em estado líquido, reduzindo o volume em 95%.

2.7.5. Compostagem

A compostagem do lixo consiste no processo biológico de degradação oxidativa dos

resíduos orgânicos por conta de microorganismos, como no tratamento de esgotos. Esse

composto gerado é usado na agricultura, embora não possa ser utilizado de forma

generalizada devido à quantidade elevada de sais e o valor do pH alcalino.

2.7.6. Comparação entre aterros sanitários, incineração e compostagem

A destinação final dada ao lixo depende, primeiramente, das características locais.

O método mais barato é a deposição do lixo em aterro sanitário e o mais caro, é a

incineração; a obtenção de adubo encontra-se entre os dois métodos. Conforme a quantidade

aumenta, os custos diminuem, principalmente na queima do lixo. Quanto à diminuição do

volume do lixo, é a incineração que apresenta melhores resultados e, menos favorável, o

aterro sanitário.

Quanto à poluição ambiental, através da compostagem se obtém um produto

descontaminado, já durante o processo de decomposição. O gás emitido durante a incineração

constitui um fator poluente, apesar do comprometimento do ar, ser de apenas 3% da poluição

total da atmosfera. Um depósito de lixo apenas não compromete a área que foi utilizada

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depois da mesma ter sido fechada e recoberta por vegetação. Esta área apenas poderá ser

utilizada, e cultivada, 25 anos depois de recoberta.

O que depende da destinação final do lixo, não é apenas o método a ser usado, mas

sim as condições locais, a composição do lixo, o espaço disponível para depósitos, a

densidade da população, a possibilidade de aproveitamento do composto de lixo na

agricultura e da energia obtida pela combustão, entre outros.

2.8. O Princípio dos três R’sO Princípio dos três R’s é uma sugestão para a problemática do lixo urbano: reduzir a

produção do lixo, reutilizar os materiais e, por fim, reciclar.

2.8.1. Reduzir

Seria preciso haver mudanças no paradigma da sociedade consumista no sentido de

pensar antes de comprar, pois metade do que se compra (Grupo do lixo, 1999) é apenas

embalagem que, na maioria das vezes, vai diretamente para o lixo; deve-se evitar produtos em

balados com papel plastificado, parafinado ou metalizado – como os sacos de salgadinho, por

exemplo – pois não são recicláveis, significa dizer, escolher produtos embalados em material

reciclável; reduzir o consumo de materiais que resultam em lixo tóxico, como é o caso das

pilhas e de outros produtos.

2.8.2. Reutilizar

O outro R refere-se a reutilizar ao máximo o material antes de descartá-lo, preferir

embalagens retornáveis etc. É preciso não descartar o produto enquanto ainda tiver alguma

utilidade como, por exemplo, racionalizar o uso de papel, doar livros para bibliotecas públicas

ou levar roupas e móveis usados para instituições.

2.8.3. Reciclar

Reciclar é fazer voltar ao processo de produção os materiais – papel, vidro, plástico e

metal – que foram usados e descartados. Significa preservar o meio ambiente e poupar energia,

pois a reindustrialização reduz a extração dos recursos naturais.

As principais vantagens da reciclagem de resíduos sólidos são:

ü Diminuição da quantidade de lixo a ser aterrado, aumentando, assim, a vida útil

dos aterros sanitários;

ü Preservação dos recursos naturais;

ü Redução do consumo de energia;

ü Diminui a poluição do ar e das águas;

ü Auxilia na conscientização da comunidade sobre a esgotabilidade dos bens, da

relação homem/meio ambiente, dos atuais sistemas de produção;

ü Diminuição dos custos de produção, devido ao aproveitamento de materiais

recicláveis pelas indústrias de transformação;

ü Geração de empregos e intensificação da economia local, através da criação de

empresas recicladoras e a conseqüente concorrência;

ü Economia para o país na importação de matérias-primas e na exploração de

recursos naturais não-renováveis.

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Porém, apesar das vantagens citadas acima, a reciclagem sozinha não gera lucro

financeiro nem resolve todo o problema do lixo. Tanto o mercado formal quanto o informal já

trabalham há anos no que diz respeito à indústrias recicladoras. Como exemplo disso, o

CEMPRE cita as indústrias de papel que produzem a partir de aparas de papéis que já foram

utilizados. Esse ciclo de reaproveitamento geralmente começa com o trabalhador informal: o

catador de rua (ou carrinheiro como também é chamado). Seu trabalho é o recolhimento de

papéis e papelão para vender ou revendê-los a depósitos até chegar aos grandes aparistas e

indústrias recicladoras.

Os maiores beneficiários do sistema de reciclagem são o meio ambiente e a população.

A reciclagem de papéis, vidros, plásticos e metais – que representam em torno de 40% do lixo

doméstico – reduz a utilização dos aterros sanitários, prolongando sua vida útil. Se o

programa de reciclagem contar também com uma usina de compostagem, os benefícios são

ainda maiores.

Cada material reciclável é representado com uma cor. São elas: azul para papel,

amarelo para metal, verde para vidro e vermelho para plástico.

As experiências de reciclagem (CEMPRE, 1993) nos municípios não são tão recentes

e vêm sendo implantadas por companhias municipais, órgãos do Poder Executivo local ou

mesmo por empresas privadas prestadoras de serviços. A Prefeitura Municipal de

Pindamonhangaba, interior de São Paulo, foi a pioneira no assunto, implantando o serviço em

1978 quando a coleta era feita por charretes à tração animal.

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Capítulo IIIA experiência na política ambiental do município de Curitiba: apresentação

e análise dos programas municipais

Quando se discute questões que envolvem a formulação de políticas para a melhoria

de vida, dois temas acabam ganhando relevo: o controle ambiental e a educação. É,

principalmente, por essa razão que o município de Curitiba parte do princípio de que a

educação ambiental é um dos caminhos para promover a gestão compartilhada entre o poder

público e a população, buscando propiciar um ambiente equilibrado para viver.

3.1. Breve comentário sobre o município de CuritibaO município de Curitiba, capital do estado do Paraná, região sul do país, é uma cidade

com 308 anos e com 1.584.232 habitantes descendes de imigrantes italianos, poloneses,

alemães, ucranianos, japoneses, sírios e libaneses.

Com PIB de US$ 12,1 bilhões/ano, tem renda per capita de aproximadamente US$ 8

mil/ano, contra uma média nacional de US$ 5 mil/ano. Possui um índice de 55 m2 de área

verde por habitante, o que a faz ser considerada a Capital Ecológica do Brasil.

A administração municipal, quando da realização do estágio, defendia três diretrizes

básicas: geração de empregos, gestão compartilhada e integração metropolitana. Essa última,

levando a experiência curitibana aos 26 municípios da região metropolitana.

Assim como inúmeras outras cidades, nas últimas décadas o município tem

apresentado alguns problemas com a intensa urbanização. Por isso, desenvolveu projetos e

programas voltados à solução desses problemas, como por exemplo: melhoria na infra-

estrutura do transporte coletivo, aumento do número de oportunidades para geração de

trabalho e renda, implementação de ações para redução do analfabetismo, democratização do

acesso aos recursos tecnológicos, otimização dos recursos públicos e comunitários com ações

intersetoriais, proteção dos recursos naturais, despoluição dos rios, preservação de nascentes,

melhoria das condições urbanas e ambientais, entre outros.

A cidade parte do princípio de que a educação ambiental é um dos meios para melhor

interagir o desenvolvimento urbano e a conservação do meio ambiente. O que depende,

principalmente da parceria do poder público e da população. Desde 1989, a educação

ambiental foi inserida no currículo escolar municipal, não esquecendo do restante da

comunidade, atingindo cidadãos de todas as idades, níveis sociais e econômicos, com

diferentes interesses. Em março de 2001, uma pesquisa patrocinada pela ONU aponta Curitiba

como a melhor capital do Brasil pelo Índice de Condições de Vida (ICV).

É através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente que a cidade vem trabalhando no

sentido de estimular uma análise crítica junto à população frente a diversas questões

ambientais tais como o consumo exagerado, as tecnologias utilizadas, formas de utilização

racional dos recursos naturais, disposição final do lixo e o desenvolvimento de valores que

privilegiam o espírito coletivo, procurando sensibilizar e mobilizar os cidadãos para uma

atuação diferenciada no seu cotidiano. A Secretaria tem a responsabilidade de proposição

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e execução da Política Ambiental da cidade, buscando alternativas para manter o equilíbrio do

ambiente urbano e seus projetos fundamentam-se a partir da visão global da cidade que visam

conciliar o potencial de crescimento urbano à conservação ambiental.

Atualmente, dentro da necessidade de se encontrar ações de cunho ambiental que

visem minimizar a problemática do lixo, os programas desenvolvidos tornam-se uma ação

extremamente importante por fortalecer a limpeza do ambiente urbano e realizar práticas

ambientalmente corretas pela população enquanto processo educativo. Além disso, conciliar o

desenvolvimento das cidades com alternativas de solução para as questões ambientais é o

grande desafio para os administradores de hoje.

Desenvolver a consciência do cidadão sobre o ambiente total e os problemas a que se

associam, para que tenha o conhecimento, modifique suas atitudes, cultive o desejo de

envolvimento, potencialize suas habilidades para trabalhar individual e coletivamente em

busca de soluções e prevenção para as questões atuais e futuras, requer que a educação

ambiental se enraíze pelo conjunto da sociedade. Por essa razão, a educação ambiental sai das

salas de aula para abarcar também as comunidades urbanas por meio de programas de

conscientização e mobilização sobre a destinação final do lixo e sua reciclagem. Depois de

mais de dez anos de programas sobre a coleta seletiva, os números mostram que em 2000, o

índice de reciclagem em Curitiba correspondia a 19.73%. Foram coletadas, por exemplo, nos

programas “Lixo que não é lixo” e “Câmbio Verde” 34.443 toneladas de aparas,

representando uma economia de 1.005.804 m3 de água, evitando o corte de 974 mil árvores. O

que mostra a grandiosa importância de programas sobre a coleta seletiva e reciclagem de

resíduos sólidos que os municípios deveriam implantar.

No que diz respeito aos resíduos sólidos, a Prefeitura Municipal de Curitiba oferece à

população:

ü Coleta de Resíduos Sólidos Domiciliares;

ü Coleta de Resíduos Sólidos Recicláveis;

ü Coleta de Resíduos Vegetais;

ü Coleta de Resíduos de Serviço de Saúde;

ü Programa Compra do Lixo;

ü Programa Câmbio Verde;

ü Varrição Manual;

ü Varrição Mecânica;

ü Limpeza de feiras-livres;

Quanto à disposição final desses resíduos:

ü Resíduo Domiciliar – Aterro Sanitário da Cachimba;

ü Resíduo Reciclável – Usina de Valorização de Rejeitos;

ü Resíduo Vegetal – Parque Náutico Iguaçu;

ü Resíduo de Serviço de Saúde – Vala Séptica/Incineração;

A seguir, os tópicos 3.2 a 3.9 são apresentados, por ordem cronológica de

implantação, alguns dos programas mencionados relacionados aos resíduos sólidos.

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24

3.2. Resíduos Sólidos de Serviço de SaúdeEm dezembro de 1988, foi implantada em Curitiba a coleta diferenciada para resíduos

hospitalares, banco de sangue e postos de saúde, clínicas odontológicas, clínicas veterinárias e

farmácias. Juntamente com esse tipo de coleta também foi construída a Vala Séptica,

localizada na Cidade Industrial do município, com área de 92.200 m2 .

3.2.1. Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos de Saúde

Com a finalidade de melhorar a coleta de resíduos de saúde, foi iniciado o “Programa

de Gerenciamento de Resíduos Sólidos de Saúde” em 1994 cujos principais objetivos foram

reduzir os resíduos infectantes gerados através da separação dos resíduos na fonte geradora;

separar os tipos de resíduos sólidos em comum, recicláveis e infectantes; implantação da

incineração dos resíduos infectantes como um método de disposição final para esse tipo de

material.

O Programa classifica os resíduos infectantes baseado no tipo de tratamento e

destinação final a ser executado:

ü Incineração:

§ Pérfuro cortante: agulhas, ampolas, pipetas, lâminas;

§ Sangue e Hemoderivados: bolsas de sangue após transfusão, bolsa com

prazo de validade vencido ou sorologia positiva, amostras para análise, soro, plasma,

sub-produtos;

§ Cirúrgico, anatomopatológico e exsudado: resultados de biópsia, fios de

sutura, materiais descartáveis com secreções, excreções e demais líquidos orgânicos;

§ Biológico: inoculo, meio de cultura inoculados, vacinas (exceto quando

em vidro), filtro de gases aspirados de áreas contaminadas, qualquer material

contaminado por esses produtos;

§ Assistência ao paciente: curativos, esparadrapo, algodão, drenos, bolsas

coletoras, material de sutura.

ü Vala Séptica:

§ Restos alimentares de pacientes;

§ Fetos e peças anatômicas;

§ Gesso, talas e ataduras;

§ Fraldas descartáveis, absorventes em geral, papel higiênico, papel

toalha de pacientes;

§ Lençóis e fronhas descartáveis;

§ Uniformes, máscaras e gorro descartável.

As etapas do gerenciamento dos resíduos sólidos de saúde encontram-se descritas no

fluxograma a seguir:

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25

Fluxograma I

Etapas do Gerenciamento dos Resíduos Sólidos de Saúde

3.3. Programa Compra do LixoEsse programa foi implantado em janeiro de 1989 com a finalidade, de forma

alternativa, de coletar o lixo domiciliar das camadas menos favorecidas da população,

evitando sérios problemas ambientais devido às áreas serem desurbanizadas e de difícil acesso

aos caminhões da coleta por se tratarem de encostas de morros, fundos de vale e ruas muito

estreitas e, na maioria das vezes, não asfaltadas.

O programa funciona da seguinte maneira: a Prefeitura instala uma caçamba

estacionária com capacidade de 7m3 em local previamente determinado e entrega a

Associação – que administra o programa nos pontos de troca – saco de lixo com capacidade

de 60 litros para acondicionamento dos resíduos orgânicos e inorgânicos. Para cada saco de

lixo contendo de 8 a 10 Kg de resíduos depositados na caçamba, o participante recebia

Resíduos Sólidos deServiço de Saúde

Segregação

Incineração

Cinza

Programa“Lixo que não

é Lixo”

Vala Séptica Retorno aofabricante, CTRI

ou alternativa.

Pequenos geradores798 pontos de coleta

Grandes geradores76 pontos de coleta

ComumReciclável EspeciaisInfectante

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26

um vale-transporte. Mas a partir de julho de 1991, a prefeitura, visando auxiliar os pequenos

produtores da Região Metropolitana de Curitiba e Litoral, passou a comprar o excedente das

safras através do convênio firmado com a FEPAR - Federação Paranaense das Associações

dos Produtores Rurais. Assim, foi substituído o vale-transporte por produtos

hortifrutigranjeiros da época. Hoje em dia, quem deposita de 1 a 4 sacos de lixo na caçamba

recebe uma sacola de alimentos simples (ovos, maçã, banana, repolho etc); ou, aqueles que

depositarem acima de 5 sacos recebem outro tipo de sacola (arroz, feijão, mel, batata,

cenoura, cebola, alho, doce em pasta etc). Os produtos são escolhidos de acordo com a

demanda de mercado e leva-se em conta o valor nutritivo e energético dos alimentos. A

Associação de Moradores recebe 10% do valor pago por cada saco de lixo depositado na

caçamba, devido a parceria com a prefeitura. Este dinheiro é depositado em conta corrente

bancária em nome da Associação, que utiliza o recurso em obras ou serviços definidos pela

própria comunidade.

Participam do programa 42 comunidades por ano, representadas por associações de

moradores legalmente constituídas e integradas a um programa específico de educação

ambiental, beneficiando, assim, 21.584 pessoas por mês de diferentes formas:

ü Limpeza total das áreas diminuindo a incidência de doenças causadas por

vetores;

ü Nos locais onde havia depósitos de lixo a céu aberto, as comunidades utilizaram

esse espaço para execução de hortas comunitárias;

ü Possibilitou o manejo correto de resíduos e seu devido acondicionamento,

evitando a exposição do lixo, mesmo durante os intervalos da coleta;

ü Auxílio no escoamento da safra dos hortigranjeiros na região metropolitana de

Curitiba e litoral;

ü Enriquecimento da alimentação das famílias mais carentes.

No início do programa, em 1990, foram coletados 2.269 toneladas de lixo no ano,

como pode ser verificado no gráfico abaixo. Em 2000, esse número passou para 6.709

toneladas. Os dados de 2001 ainda não foram divulgados.

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27

Gráfico I

Demonstração da quantidade de lixo coletado por ano do

Programa “Compra do Lixo”

2.269

4.146

7.1857.502

6.6105.866

5.369 5.4275.768

6.1556.709

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

7.000

8.000T

onel

adas

3.4. Programa Lixo que não é LixoO programa foi implantado em outubro de 1989, primeiramente com trabalhos de

educação ambiental através de escolas da rede pública municipal de ensino, em seguida com

objetivo de conscientizar os cidadãos curitibanos sobre os benefícios ao meio ambiente e à

população da separação do lixo orgânico do inorgânico. Para isso foram utilizadas cartilhas,

folder, imprensa – jornal, rádio, TV etc. – onde eram enfatizadas importantes questões, por

exemplo: um terço dos resíduos sólidos produzidos na cidade poderiam ser reciclados; a cada

50 Kg de papel usado, transformado em papel novo evita que uma árvore seja cortada; a cada

mil Kg de alumínio reciclado evita que 5 mil Kg de minério seja extraído do solo; para fazer 1

Kg de vidro é preciso 1,3 Kg de sílica ou 1Kg de vidro quebrado.

O programa utiliza 23 caminhões baú – que trabalham em dois turnos – 30 motoristas

e 90 coletores. Os dados de maio de 99 mostram que eram coletados 55 toneladas por dia de

resíduos recicláveis. Uma parte é vendida aos depósitos de iniciativa privada e a outra é

destinada a Unidade de Valorização de Rejeitos. Veja, a seguir, o gráfico referente ao

programa de 1990 a 2000.

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Ano

Page 28: Apresentação e Análise dos Programas de Tratamento dos ... · O que mais se destacou foram os programas de coleta seletiva, no qual o ... as características dos dados coletados

28

Gráfico II

Demonstração da quantidade de lixo coletado por ano do

Programa “Lixo que não é Lixo”

Fonte: SMMA – Departamento de Limpeza Pública

Esse programa além de ampliar a vida útil do aterro sanitário, economizar energia e

matérias-primas e gerar empregos, representa um esforço visando a melhoria da qualidade de

vida e um combate à degradação da natureza. Dados da Secretaria Municipal de Meio

Ambiente compravam isso: a coleta seletiva vem poupando um volume de 1.221 m3 por dia

do aterro sanitário.

3.4.1. Programa Lixo que não é Lixo em Condomínios

Esse Programa existe desde julho de 1997 e tem por objetivo realizar a educação

ambiental referente a resíduos sólidos domiciliares gerados em condomínios residenciais e

comerciais. A prefeitura tem consolidado parcerias com instituições privadas como

administradoras de imóveis, sindicatos e similares para disseminação, implementação ou

ampliação do Programa juntamente com os condomínios. Hoje, já são 8 mil condomínios na

cidade.

São realizadas palestras com os condôminos para enfatizar a importância da separação

do lixo e sua entrega para a coleta. Para o cadastro do condomínio, é feita uma reunião onde

os formulários de cadastro são preenchidos, o material educativo é entregue, é feita a

orientação quanto aos tipos de coleta e horários que os caminhões passam, e, a partir daí,

realizada a tabulação dos dados do formulário e a elaboração de um relatório mensal.

3.4.2. Programa Lixo que não é Lixo em Shopping Centers

Outro derivado do Programa Lixo que não é Lixo é o trabalho educativo ligado a

5.163

6.852 6.3257.278 7.479

8.852

12.079

14.973

17.504 17.102

13.619

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

18.000T

on

elad

as

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Ano

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29

shopping centers. Existe desde 1998 e seu objetivo é fazer com que os lojistas realizem uma

melhor separação prévia dos resíduos recicláveis.

Com o intuito de não atrapalhar os catadores (ou carrinheiros), a entrega do material

pode ser feita diretamente para a RECOOPERE (ver item 3.9) ou para os coletores de papel,

conforme normas estipuladas pela administração do shopping. A reunião é feita da mesma

forma que no Programa em condomínios, com o objetivo de incentivar a participação dos

clientes e lojistas. Na praça de alimentação dos shoppings são colocadas lixeiras diferenciadas

para a separação.

3.5. Aterro da CachimbaAté 20 de novembro de 1989, quando se iniciou a operação do Aterro Sanitário da

Cachimba, o município de Curitiba não possuía um local adequado para depositar o lixo da

cidade. Eram, para isso, utilizados depósitos de lixo (lixões) de municípios vizinhos

(Lamenha Pequena e São José dos Pinhais), que tiveram uma vida útil de apenas seis meses.

Esses locais foram desativados e, hoje, foram recuperados e estão na condição de aterros

controlados.

Localizado ao sul do município, sua área total é de 410.000 m2, sendo que a área

destinada à disposição de lixo propriamente dito é de 237.000 m2. Esse aterro tem por

finalidade receber resíduos de características domiciliares e industriais. Além da cidade de

Curitiba, é autorizado a receber resíduos de municípios da região metropolitana de Curitiba

(como: Almirante Tamandaré, Colombo, São José dos Pinhais, Piraquara, Campina Grande

do Sul, Mandirituba, Pinhais, Fazenda Rio Grande e Quatro Barras).

Para a escolha do local a ser feito o aterro, a prefeitura municipal de Curitiba realizou

estudos e normas operacionais para estar certa de que haveria segurança no que diz respeito

ao controle de poluição ambiental e proteção ambiental. Para cálculo da área e tempo de vida

do aterro, foi adotada a produção per capta média de lixo de 0,55 Kg/hab/dia, e uma

abrangência variável do sistema de coleta de 75 a 90%, nos anos de 1988 a 2010. Levando

em conta o cálculo aproximado da capacidade do aterro de 3.239.500 toneladas, e a projeção

populacional para o município de Curitiba, estimou-se uma vida útil aproximada de 11 anos e

5 meses. Entre o período de 1989 e 2000, o aterro recebeu aproximadamente 5.015.206,41

toneladas de resíduos domiciliares.

Pelos cálculos iniciais realizados pela prefeitura, o aterro já teria acabado, mas, graças

aos incentivos à reciclagem dos Programas da cidade, a prefeitura conseguiu ampliar em pelo

menos dois anos sua vida útil.

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30

Gráfico III

Demonstração em toneladas de Resíduos Depositados no

Aterro Sanitário da Cachimba

256.425295.665 306.954

327.756348.949

412.977

500.589548.390

629.696656.012

704.167

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

800.000T

on

elad

as

Fonte: SMMA – Departamento de Limpeza Pública

3.6. Programa Câmbio VerdeEsse programa teve início em junho de 1991, de uma derivação dos programas

“Compra do Lixo” e “Lixo que não é lixo” e consiste na troca de materiais recicláveis por

produtos hortigranjeiros de época. Iniciou através da ocorrência de uma super safra de repolho

comprada pela Prefeitura de Curitiba para ser utilizada na troca por lixo reciclável coletado

pela população. Em 1996, foi classificado como um dos semifinalistas do Concurso de

Projetos de Gestão Pública e Cidadania, realizada pela Fundação Getúlio Vargas e Fundação

Ford.

Os pontos de troca estão localizados em pátios de supermercados, órgãos municipais,

associações de moradores, ruas de determinados bairros, destinando-se a famílias com renda

de até 3 salários mínimos. Ficam dois caminhões estacionados: um com uma balança para

pesar o lixo reciclável e o outro com os alimentos que serão entregues. A cada 4 kg de lixo a

pessoa recebe uma senha que dá o direito a uma porção contendo verduras e frutas da época

(ver foto I e II). O material recolhido nestes pontos é enviado para a Unidade de Valorização

de Rejeitos ou a Depósitos credenciados para ser separado, estocado ou vendido. Atualmente

existem 61 pontos de troca, sendo beneficiadas aproximadamente 18.203 pessoas

mensalmente.

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Ano

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31

A Secretaria de Meio Ambiente compra os alimentos que são trocados través de um

convênio entre a Prefeitura Municipal e a Federação Paranaense das Associações de

Produtores Rurais – FEPAR e Associação Recreativa de Usuários do CEAS – ARUC. Essa

forma de aquisição agiliza a compra de hortifrutigranjeiros, contornando o problema de

perecibilidade.

A importância do programa é uma melhoria da limpeza pública do ambiente urbano,

promover a educação da população em questões ambientais, prolongar a vida do aterro

sanitário, facilitar o escoamento da safra de hortifrutigranjeiros produzida pelo cinturão verde

Curitiba, além de racionalizar a exploração dos recursos naturais renováveis e não renováveis.

Abaixo está a tabela mostrando os números desse programa.

Gráfico IV

Demonstração da quantidade de lixo coletado por ano do

Programa “Câmbio Verde”

Fonte: SMMA – Departamento de Limpeza Pública

3.6.1. Câmbios Especiais

Os Câmbios Especiais são aqueles em que a Secretaria Municipal do Meio Ambiente

participa com a infraestrutura da coleta, mas a troca é patrocinada por outras Secretarias não

envolvidas normalmente no programa. A Secretaria Municipal da Educação promove a troca

do lixo por cadernos no início do ano letivo; as Secretarias da Criança, da Educação e a

Fundação de Ação Social – FAS, realizam trocas de lixo reciclável por chocolates, panetones,

brinquedos em comemoração de algumas datas festivas como a Páscoa, Natal, Dia das

Crianças, etc. Na maioria das vezes, o produto alimentício trocado, como por exemplo,

427

1.723

2.278

1.893

2.257

2.795

3.567

4.076

4.3584.209

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

To

nel

adas

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Ano

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panetones ou ovos de Páscoa, é fabricado pelos próprios integrantes de entidades mantidas

pela FAS.

3.7. Unidade de Valorização de Rejeitos (UVR)A Unidade de Valorização de Rejeitos (UVR) está situada no município de Campo

Magro a 30 km de Curitiba. A UVR é gerenciada pela Fundação de Ação Social – FAS e

Instituto Pró-Cidadania e tem por finalidade receber o material coletado nos programas “Lixo

que não é lixo” e “Câmbio Verde”. Recebe em média 400 toneladas por mês de lixo reciclável

através de caminhões da prefeitura do programa “Lixo que não é lixo” e possui 74

funcionários. Os caminhões operam apenas três vezes por semana e cada um chega com

aproximadamente 800 a 1.700 kg somente de lixo reciclável, o restante do lixo que não é

reciclável – rejeitos – vai para o aterro localizado em Cachimba. Os materiais recicláveis

triados transformam-se em insumos que são vendidos às industrias para produção de novas

embalagens. Os recursos provenientes da venda são aplicados pela FAS em obras

assistenciais.

A separação ocorre da seguinte maneira:

1. O lixo chega, ainda em sacos plásticos de lixo que a população colocou, nos

caminhões que é descarregado em um pátio de recepção. Veja, a seguir, foto III.

2. Um trator com uma pá carregadeira empurra o lixo até a boca de dois cilos.

3. Do cilo, o lixo cai em duas esteiras mecânicas, onde funcionários da prefeitura

estão postos lateralmente para separar os tipos de material em tambores. Cada

funcionário está responsável em pegar 3 tipos de material (por exemplo: plástico,

alumínio e vidro) e colocá-los em tambores distintos. Segue abaixo foto IV.

4. Os tambores são levados a outro local onde é feita a separação por especificidade

do material. Por exemplo, o plástico: PET verde, PET branco, garrafa de óleo de

cozinha, pote plástico de margarina, etc7.

5. Depois de separados dessa forma, são processados em fardos prensados em

máquinas especiais e depois vendidos para empresas que irão reciclá-los. O rejeito não

reciclável é conduzido diariamente ao Aterro Sanitário da Cachimba. A seguir foto V.

O preço dos materiais recicláveis varia de acordo com a época do ano e tipo de

material. O PET branco ou colorido está sendo vendido a R$ 400,00 a tonelada e no verão

esse preço abaixa para R$ 300,00/ton devido ao aumento de consumo de refrigerantes

embalados em PETs. Cada fardo de PET tem 200 Kg, ou seja, é vendido a R$ 80,00 ou R$

60,00 o fardo no verão. As latas de alumínio também sofrem variações sazonais de preço, são

vendidas, em média, a R$ 200,00/ton. Os vidros são separados em brancos e coloridos e hoje

em dia a UVR não mói, tritura nem tira as tampas, são empresas compradoras de vidro que

realizam esse serviço. O valor do vidro é de R$ 40,00/ton o branco e R$ 170,00/ton o colorido

e é o único material que pode ser esterilizado. Muitos artesãos vão até a UVR para comprar os

7 Como já foi mencionado no capítulo anterior, o plástico na UVR é vendido sob a forma de “plásticoseparado”, ou seja, há separação por tipo de plástico através da catação manual. Depois disso, sãoprensados em uma fardadeira para a venda.

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potes de vidro que estão inteiros para colocar alimentos em conserva, doces. O papel é

dividido em dois tipos: o misto (todos os papéis de cores, por exemplo, revistas) que é

vendido a R$30,00/ton e o branco (caderno, papéis de escritório), vendido a R$220,00/ton. O

EPS (isopor)8 é reutilizado de duas formas: em construção civil para fazer concreto leve o

qual é misturado flocos de EPS com adesivo e cimento/areia ou na agricultura que favorece a

aeração do solo para plantio.

Tabela II

Preço médio dos materiais recicláveis vendidos

a empresas compradoras de sucata

Tipo de material Preço em R$/ton

PET (branco ou colorido) 400,00

Alumínio 200,00

Vidro branco 40,00

Vidro colorido 170,00

Papel misto 30,00

Papel branco 220,00

Fonte: Unidade de Valorização de Rejeitos. 13/set/2001

Na área onde ficam os funcionários há uma placa com a meta diária de produção de

separação. É preciso alcançar 17.000 Kg de lixo separado e no máximo 5.000 Kg de rejeitos.

Ao final de cada dia é feita uma planilha onde cada responsável anota o peso e o tipo de cada

fardo para depois se tabular o resultado.

Com a grande quantidade de livros em ótimos estados encontrados no lixo que vai

para a UVR, houve a necessidade de formar-se uma biblioteca no próprio local para o uso de

funcionários e seus familiares que foi inaugurada em setembro deste ano. Também há na

UVR desde 1995, o Museu do Lixo, onde são colocados os interessantes e surpreendentes

objetos encontrados pelos funcionários no lixo. Esses objetos variam de quadros, relógios de

parede, rádios antigos, dinheiro, peles de animais, mapas, louças, móveis, enfeites,

fotografias... até uma réplica de uma estatueta do Museu do Louvre em Paris no valor de 5 mil

reais. A UVR recebe em média 17 mil pessoas por ano do mundo inteiro para conhecê-la e

para visitar o museu.

A seguir está o gráfico representando o percentual de tipo de matérias coletados na

Unidade.

8 EPS é a sigla internacional do Polistireno Expandido, de acordo com a norma DIN ISSO-1043/78.No Brasil é conhecido como Isopor, que é marca registrada da Knauf.

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34

Gráfico V

Caracterização dos resíduos sólidos depositados na

Unidade de Valorização de Rejeitos29,39

21,8

15,3511,42

5,22 1,55

15,27

0

5

10

15

20

25

30

Per

cen

tual

(%

)

Papel

Alumínio

Vidro

Plástico Rígido

Plástico Flexível

Tetra Pak

Rejeitos

Fonte: Unidade de Valorização de Resíduos Recicláveis

Uma Usina de Triagem e Compostagem, em geral, acarreta uma diminuição de até

70%, em média, da tonelagem de lixo destinada ao aterro, com a conseqüente redução de

custos de aterramento por quantidade coletada e aumento da vida útil destinada à sua

disposição.

3.8. Programa de Coleta Especial de Resíduos DomiciliaresEm setembro de 1998, Curitiba lançou esse programa para materiais que merecem

cuidados especiais quanto a sua disposição final. São eles: pilhas, solventes, embalagens de

inseticidas, lâmpadas fluorescentes e medicamentos, tintas, toner9.

O caminhão da coleta especial possui tambores diferenciados para cada tipo de resíduo

tóxico e segue escala pré-determinada. Uma vez por mês, o caminhão estaciona em cada um

dos 24 terminais de ônibus da cidade, das 7 da manha às 15 horas.

O lixo de composição química coletado é encaminhado à Central de Tratamento de

Resíduos Industriais – CTRI, localizado na Cidade Industrial de Curitiba. A unidade de

tratamento é administrada pela empresa terceirizada CAVO, encarregada pela destinação final

dos resíduos.

As baterias de telefones celulares, lâmpadas fluorescentes e toner já podem ser

reciclados, desse modo, são encaminhados a seus fabricantes. Lâmpadas fluorescentes, se

quebradas, emitem o gás mercúrio que exige muito tempo para sua decomposição e, em

grande quantidade, causa poluição do ar. As pilhas contem níquel e chumbo, isto é, metais

pesados que em contato como solo poluem o lençol freático. Os medicamentos vencidos,

restos de tinta, de verniz e embalagens de inseticidas que ainda não são recicláveis, ficam

armazenados adequadamente na CTRI para evitar a contaminação do meio ambiente.

A tabela abaixo mostra o percentual de resíduos tóxicos recolhidos:

9 Toner: corante orgânico.

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35

Gráfico VI

Caracterização dos resíduos Tóxicos Domiciliares

Período: setembro/98 a dezembro/2000

23,7421,85

21,72

9,63

7,54 6,84

4,46

2,22 2,01

0

5

10

15

20

25

Per

cen

tual

(%

)Lâmpadas

Tinta

Medicamento Vencido

Produto Químico

Bateria

Pilha

Toner

Inseticida

Embalagem de Agrotóxico

Fonte: SMMA – Departamento de Limpeza Pública

3.9. Cooperativa de Coletores de Material ReciclávelFundada em setembro de 1998, a Cooperativa de Coletores de Material Reciclável –

RECOOPERE – possui 240 cooperados e é responsável por aproximadamente 70% da coleta

de resíduos sólidos recicláveis (os 30% restante é coletado pelos Programas “Lixo que não é

Lixo” e “Câmbio Verde”) que são vendidos a depósitos de iniciativa privada. O valor da

coleta é estimado em 225 toneladas por dia, envolvendo 1.500 coletores na rua por dia.

A RECOOPERE possui um tipo de treinamento para os coletores realizado por uma

equipe técnica da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Fundação de Ação Social e

Serviço Nacional do Comércio, visando uma melhoria da qualidade de vida das pessoas que

trabalham com isso contribuindo para sua autogestão. Existia já em 1997 um trabalho de

educação ambiental para os coletores para esclarecer a importância da separação do lixo e da

reciclagem e a contribuição do trabalho deles para a qualidade ambiental.

A cooperativa possui duas balanças, uma prensa e uma empilhadeira. Também há

trabalhando lá um gerente, um motorista, seis classificadores de materiais – no departamento

de recursos humanos – além de um caminhão que recolhe material dos coletores nos bairros

mais distantes e de doações.

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Capítulo IVConclusão

A partir do estágio realizado, estudos feitos sobre o assunto e elaboração deste

relatório, algumas conclusões, críticas e sugestões foram elaboradas sobre o tema explorado.

Antes da implantação de qualquer programa é preciso que a população, de forma em

geral, tome consciência de suas próprias ações no que diz respeito ao consumo, a extração

exacerbada de recursos naturais do planeta – principalmente aqueles finitos –, o modo como

os rejeitos são devolvidos ou jogados no meio ambiente, e até mesmo pensar antes de jogar

um papel na rua.

A mudança de atitude de toda a coletividade deve necessariamente se reportar e

desenvolver o princípio dos três R’s: reduzir, reutilizar e reciclar o lixo gerado. Reduzir no

sentido de pensar antes de comprar, ser menos consumista, não descartar o produto que ainda

tem vida útil apenas para comprar algum lançamento no mercado, e ainda, combater o

desperdício. Reutilizar ao máximo o material ou produto antes de descartá-lo, preferir

embalagens retornáveis ou utilizar o lado avesso das folhas de papel como rascunho. Reciclar

como forma de reduzir a quantidade de recursos naturais extraídos, além da redução de lixo

que deve ser aterrado ou mesmo jogado nos lixões.

Certamente alcançar esse patamar de conscientização da população em geral não é

tarefa simples, pois envolve uma mudança no modo de agir dos cidadãos de todos os níveis

sociais, econômicos e culturais. Por isso, primordial é a educação e reeducação ambiental e a

intensa divulgação com folhetos explicativos que deve se dar no início de qualquer

implantação de programa relacionado à coleta seletiva para que a população seja incentivada e

informada dos inúmeros benefícios do programa. A divulgação deve ser perene, constante e

enfática, principalmente no início.

Devemos atentar que embora os resultados apresentados pelos programas sejam

positivos há ainda muito a ser explorado, a Prefeitura não deve se dar por satisfeita com os

valores acima apresentados, a mudança do costume deve ser de tal relutância que crie uma

nova cultura assentada na redução, reutilização e reciclagem dos resíduos sólidos. O

município de Curitiba nos anos de 1999 e 2000 apresentou uma redução da quantidade

coletada de resíduos sólidos recicláveis (ver gráfico II), enquanto que houve um aumento

neste mesmo período de lixo despejado no Aterro Sanitário da Cachimba (ver gráfico III), o

que demonstra claramente uma perda de eficácia dos programas destinados a coleta seletiva.

Essa perda se deu, como pude observar, pelo relaxamento na divulgação, ou seja, é primordial

a retomada de uma divulgação intensa, buscando maximizar o envolvimento da sociedade

curitibana.

Uma maneira de iniciar a coleta seletiva, mesmo não sendo de iniciativa do Poder

Público, pode ser através da união dos cidadãos através de associação de moradores de

bairros, condomínios ou escolas, sendo possível a venda ou doação do material reciclável

arrecadado a catadores ou instituições. A cidade de Curitiba já existe exemplo de programa

como este, o Lixo que não é Lixo em Condomínios, que é desenvolvido pela Prefeitura

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Municipal. Cada família, cada casa, cada departamento de empresa ou organização poderia

funcionar como uma usina de reciclagem, ressaltando a conscientização das pessoas e o

envolvimento destas com os problemas ambientais e a busca do desenvolvimento sustentável.

Mesmo não sendo de baixo custo, a implantação da coleta seletiva pode ser barateada

através dos consórcios intermunicipais, isto é, a união de municípios vizinhos de menor porte

na compra de equipamentos, caminhões, ou mesmo na divulgação. Isso faz com que seja

implantada a coleta seletiva em mais de um local, e ainda, com o custo reduzido.

Outro ponto muito relevante que pude notar, tanto em Curitiba quanto em outros

lugares estudados e observados é o fato de dar esperança a vários catadores de materiais

recicláveis que trabalham na rua e depois abandoná-los, sem ter feito o mínimo para ajudá-

los. Em Curitiba, no momento do estágio, eles estavam mais estabilizados, com apoio da

Prefeitura Municipal que cedia uniformes, carrinhos especiais entre outros, mas há algum

tempo, reuniões e promessas eram feitas a eles e por intrigas políticas eram deixados de lado,

causando uma enorme descrença nos mesmos, pois quando acham que podem dar início a

seus projetos o que recebem é a total ignorância.

Muito inovadores, em minha concepção, são os programas “Compra do Lixo” e

“Câmbio Verde”, implementados pela Prefeitura Municipal de Curitiba. Ao comprar produtos

hortifrutigranjeiros de pequenos produtores da região metropolitana, há um incentivo à

produção, gerando empregos e evitando o êxodo rural. Assim, beneficia os pequenos

produtores e também a própria cidade, evitando um “inchaço urbano”. Por outro lado, para

aqueles que recebem os alimentos, estes programas também são importantíssimos, já que é

um complemento na alimentação – ou, em muitos casos, a própria alimentação –, utilizando o

dinheiro que seria gasto com alimentos, em outras compras, como roupas ou remédios. Enfim,

através de programas como estes implantados no município foi possível gerar empregos,

melhorar a alimentação, a qualidade de vida da população carente e também o ambiente da

cidade, entre outros.

Além de todas essas iniciativas de âmbito local, são necessárias também atitudes mais

abrangentes a nível estadual e federal, como a aplicação de sanções para os causadores de

degradação e poluição do meio ambiente, de incidentes ambientais e também àqueles que

depositam resíduos tóxicos e perigosos em lugares indevidos. As poucas infrações ou multas

que existem são de baixa credibilidade por serem aplicadas em pouquíssimos casos ou

também por serem de baixo valor, face ao tamanho do problema ambiental causado. A

estratégia de políticas públicas ambientais torna-se ineficientes, pois, como afirma Maglio

(1999), os governos ainda não incluíram em seus governos temas como: “ação ambiental do

município, gestão compartilhada, educação ambiental, redução da geração de resíduos no

interior do processo produtivo industrial, redução do consumo, maior responsabilização do

gerador de resíduos, minimização dos impactos do processo de produção, entre outros”

(Maglio, 1999).

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