apresentaÇÃo - petletras.files.wordpress.com · apresentaÇÃo o mural pet-letras tem se...

49

Upload: lyhuong

Post on 01-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

APRESENTAÇÃO

O Mural PET-Letras tem se configurado como permanente, desde os primeiros

anos de atuação do grupo (1996). Sob o intuito discutir e difundir questões de interesse da

comunidade do Instituto de Letras e fomentar debates relativos ao cenário político-

cultural, social e artístico-literário na contemporaneidade, o Mural tem funcionado como

um veículo de divulgação ativo das produções promovidas pelo PET-Letras.

Por acreditar que você também é personagem protagonista dessa narrativa, nós o

convidamos para escrever dessa vez. Esta edição do Mural (02/2017) foi pensada sob o

tema “Ave, Palavra” – mesmo nome da seção de criação literária da Revista Hyperion,

que, por sua vez, buscou inspirações na obra homônima de Guimarães Rosa. Desse

modo, o Mural pode se construir como um espaço aberto e democrático, à disposição das

demandas e produções dos membros da comunidade como um todo.

Neste arquivo, estão compiladas todas as produções literárias submetidas para a

confecção de nosso Mural. O PET-Letras gostaria de agradecer a todos aqueles que

compartilharam, conosco e com toda a comunidade do Instituto de Letras, suas criações

literárias autorais. Obrigado por construir junto a nós esse espaço tão importante de

divulgação e de debates na academia. É incrível que possamos todos dividir, ao mesmo

tempo, os papéis de autores e protagonistas de nossas próprias histórias.

PET-Letras/UFBA Fevereiro de 2017

DESEJO Desejo que você cresça, sem pressa ou procrastinação Viva cada momento da vida há seu tempo Saboreie, ao máximo, a beleza de cada estação Desejo que você abuse sempre do colo de seus pais Mas que nem sempre se deixe levar por terceiros Comece seus primeiros passos, utilize apoio, sem vergonha das quedas Depois trate de correr, subir em árvore, andar de bicicleta e machucar o joelho Desejo que você comece a falar Nem que seja aquele gruído que só seu pai jura entender, pobre tolo Que você descubra o poder da palavra, prata Mas que também saiba o valor do silêncio, ouro Desejo que você participe de um clubinho. Só de meninas! Com casinha, bonecas e outros brinquedos Que tenha amigos em que possa confiar E ao menos um para contar seus segredos Desejo que você fique-de-mal, por uma hora, nada mais Só para animar a amizade e rir da briga sem valor Que perceba que a vida é sempre muito curta Não deixe espaço para ódio, inveja ou rancor Desejo que você quebre seu melhor brinquedo, acredite em magia Se livre de tudo que não seja útil, bonito ou alegre Use suas roupas para eventos especiais todos os dias Desejo que você corra descalça e tome banho de chuva E que às vezes, mas só às vezes, fique doente. Nada sério! Só para receber todo o carinho e atenção da casa E descobrir que colo de mãe é sempre um bom remédio Desejo que você se apaixone por um professor E que mais tarde sinta vergonha do que escreveu no diário Se pergunte, com sorriso, como pôde ser tão criança É sinal que tudo valeu à pena, foi superado Desejo que você cometa alguns erros Mas não sempre os mesmos. Use a imaginação! Que tenha coragem para assumi-los e corrigi-los E sabedoria para aprender a dizer sim, talvez e não.

Desejo que você tenha uma galera e curta uma (curta) fase rebelde Mas que possa transpor a arrogância da juventude Que valorize sua família, sua origem E aprenda que não é preciso ser má para ter atitude Desejo que você tenha paciência com seus pais Eu sei que eles são chatos, esquizofrênicos, autoritários... iguais aos meus! Mas dedicam suas vidas para te fazer feliz São apenas humanos, crianças, seu pedaço de Deus! Desejo que você estude e trabalhe Escolha algo que ame, sua vocação, nada obrigado Que sinta todo o desespero e prazer do amadurecimento Que você tenha dinheiro, nunca o contrário! Desejo que você se ame Que encontre e ame outra pessoa E que por ela também seja amada Exatamente nesta ordem Desejo, por fim, que você seja mãe Que essa vida a desabrochar inicie um novo ciclo Novas esperanças, sonhos, medos e realizações Mas minha pequena Luísa, não se iluda! Meus desejos não são fruto de bondade São, ao contrário, manifestação do meu egoísmo profundo e individual prazer Porque sei que a cada uma dessas realizações sua mãe transbordará de felicidade E saber que fiz minha irmã sorrir é condição essencial ao meu viver. Ademir Andrade Bicalho Júnior *Para minha sobrinha Luísa Bicalho Vieira

Agudo Ele vive dentro de mim Sua gosma amarela Embrulha meu estômago Uma bílis úmida e corrosiva Transborda de meus olhos Minhas carnes viradas pelo avesso O branco Translúcido Reverso Em tosse desmedida Ondas de agonia E choro Eu mordo a língua Meus lábios cinzentos As presas que me arrancaram Muito antes de eu nascer Brotam no peito Aberto Encarnado Sem auréolas Meu ranger come paredes Abre rachaduras Em silêncio Deito-me no leito Azul E morno. Alahisa Lago, 8º semestre, Letras Vernáculas.

Meu corpo é esfera Maciça e pesada Através dela não passa luz, mas reluz e cintila estrelas. Alahisa Lago, 8º semestre, Letras Vernáculas.

Saboroso toque da vida Em constante crise existencial Troco a sala de frutas Pelo sabor incógnito das tâmaras Mergulho em águas inexploradas Nada de superficialidade, vou fundo, busco sínteses, integridade Gosto das misturas, um sabor é muito pouco Em plena Sinestesia, sou um famito por sons com sensibilidade tátil no olhar. Sou aquele que descobre caminhos para se perder Gosto das estatísticas e suas combinações, possibilidades, pathos, ludus, flechadas do eros Sou "criador", gosto da arte de combinar o que há de melhor Sou o chronos que vai, a incerteza imanente, a efemeridade da vida Alan Ricardo dos Santos Costa, 14º semestre, Educação Física.

Odeio Eu odeio suas manias, Odeio suas rimas. Odeio sua frieza, Odeio seu sorriso. Ai, como eu amo seu sorriso… Como eu amo seu cheiro, Amo seu jeito… Na verdade, odeio a mim mesma. Me odeio por te querer. Odeio poetizar, respirar, pensar que não irei te ter. Odeio amar você. Alice Lemos, 5º semestre, Letras Vernáculas – Língua Estrangeira.

Condenados Mais uma mãe hoje chorou Os becos e vielas embebidos de sangue... Mais um filho preto morreu E o que será de meu povo que todos os dias é exterminado?! Entendam! Não é dever! Abuso de poder! Poder branco! Poder bélico! Poder capitalista! Poder escravocrata! Meu povo não quer morrer Parem de nos matar! Nos matam nos corredores de hospitais Nas ruas Nas escolas- presídios! Nos mataram até mesmo na "abolição da escravidão" Tivemos trabalho? Terras? Educação? Direitos? Não éramos cidadãos! Ao nascer já fui condenada a morte... Morte da minha subjetividade

Eu Não posso amar Sofrer Chorar Me revoltar Sou preta... Apenas... Nasci para sustentar o país com o meu trabalho escravo Sem reclamar! Sem estudar! Direito? De ficar calada! Preto não fala Se cala! Cale a boca você! É! você! Incomodado com o meu grito Incomodado com a minha subjetividade Inteligência Ousadia E Enfrentamento Cansei de ser chicoteada! Respeite os filhos e filhas de Dandara! Ana Paula de Oliveira, 8º semestre, Letras Vernáculas.

EM VOLTA As coisas em volta, sem volta. O medo. A dúvida. Alma que não sossega. Eu vejo o querer, a certeza. Vejo, mas as cegueiras confundem. Minhas também. As coisas em volta. Um sorriso no rosto, nas sombras. Um sorriso. Me olho, me canso. Me vejo, me espanto. Me sinto, me basto. Me encontro, me quero. O outro também. A esperança... existe. A beleza, cercada. Em frente, a muralha, em volta também. Não mais. A muralha, atrás. Em volta, o brilho fascina. O início e o durante. O durante... Eu em volta de mim. Antônio Carlos Vieira Caetano Júnior, 2º semestre, Letras Vernáculas.

Divagações delirantes O homem é cria do amor? O amor é cria do homem? - sinceramente, não sei! Se me cabe resposta acertiva ou se cabe resposta subjetiva ou múltipla escolha objetiva? ou redação dissertativa narrativa ou descritivas? Sigo em reticências ou em pequena interrogaçãozinha "quem veio primeiro o ovo ou a galinha?

Antonio Rubens Berenguer, 4º semestre, Letras Vernáculas.

J E S U s V e G A L U A n A R A ó N I L U C A s P A T R I c K J o à O n A T H A N L A R I s S A t H A Í S M U r I L O J u L I A L A (u) i Z A S A m U E L S O N C A R o L A L E s s A N D R A B R U N o C R I S T i A N E A L m I R K A R e N J A n I N E M A T H E U s G E o V A N E b A R B A R A a T R I A R O b E R TO G A B R I e L (a) G I U l I A , q U E T S I A J u L I A N A R A F A e L m A R I A N A S E v E R A A G a T H A M A R i A I N G R I d M A N O e L L A Y A s M I N E H t A C A r V A L H O D u A R T E y A N N A D E - G I N O A l A N A V I T o R I A ? Anônimo, Anônimo, Letras.

Pai De certo, o açúcar das sacas Com que se vestiu de infância ainda brilham nos contornos da pele de – porque velho – menino! Talvez isso explique Minha mão mole, Meu olhar apertado ou Minha obesidade: Nosso diabetes cultural fitando horizonte [bate-se na madeira]. Na minha casa, Haverá sempre um eterno cheiro de coco queimado Dos cabelos brancos que salpicam a negra e dourada pele De meu pai. Hoje, não tem cocada. Só esta palmeira alta De onde me versejo. Ari Sacramento de Souza, Doutor em Letras e Linguística.

o sentido não faz sentido: existe; hesite

os planetas são átomos do universo os peixes cantam enquanto se divertem os números cantam ópera o cavalo fala quando dorme elefante rosa que perdura em minha cabeça como sorrir sem boca? como dançar nas nuvens? amar sem coração? em que tipo de coisa o universo está inserido? quem criou o criador? hoje, amanhã de ontem Luana {cabelo preto de loira que bebe água salgada) não ligou, mas o mar se tornou vermelho tão meiga e doce que sua ignorância era uma flor flutua sobre uma pequena folha que caiu da árvore tem pé, mas não tem cabeça pé de manga que não dá fruto caule sem espinhos Aurora Silva de Oliveira, 4º semestre, Física.

Amaríssimo

Todos os Josés amam todas as Marias Todas as Larissas amam todas as Bias Todos os Joões e Carlos amam-se todos os dias Todos que tem problemas com isso precisam amar-se às terapias Autor Desconhecido Propositalmente, 1º semestre, Letras.

"Estrela Brilhante Menino dos olhos constantes que revira bastante esse mundo tão vulgar, na mira da sombra tenebrante encontro teus olhos vibrantes onde tanto posso descansar. Os sonhos da tua mente, que pensa em te fazer contente virão pra ti quando o teu verdadeiro sol raiar. Garoto dos pés calejantes de tanto andar distante busca o teu objetivo um dia alcançar. Mas, espera, espera tua luz culminante que sonda em tua voz pedante aos teus sonhos alcançar. Um dia verás que tu, serás estrela brilhante diante os que um dia não te fizeram alcançar. Bruno de Jesus do Espírito Santo, 6º semestre, Letras Vernáculas.

"Moço Moço dos cabelos pretos, que tem tanto encosto a falar a mim. Diga que tu és meu lindo, a beleza grande que eu ganhaste aqui. Diga que enfim um dia eu aqui não viria se não fosse tu, pois a vida é tão vazia que merece um dia um amor como tu. Saibas que daqui pra frente tu olhais pra fora e olhais pra dentro, pois o mundo só ganhastes o teu sorriso doce como o vento. Mas eu digo minha vida que tu és aquilo que eu sempre sonhei... pois a vida é tão vazia que ganhastes tu para me concedeis. Concedeis a felicidade que jamais um dia tu acharás, pois o mundo é tão escuro que a tua luz que brilha me iluminarás... o momento é agora e eu te espero aqui a todo tempo, cuida-te moço lindo para que ficares doces como o tempo. Bruno de Jesus do Espírito Santo, 6º semestre, Letras Vernáculas.

Pessoa que ecoa em mim logo se (re)constituirá. Camila Araújo Gomes, 5º semestre, Letras Vernáculas – Língua Estrangeira.

O verdadeiro poeta nega sua profissão. O verdadeiro poeta teme a incompreensão. Foda-se! Camila Araújo Gomes, 5º semestre, Letras Vernáculas – Língua Estrangeira.

Depois da Festa No final, no apagar da luz, O pensar entre espada e cruz Vai fritando a cinzenta massa E, assim, caminhando aflito, Eis à frente, como infinito, O silêncio e o vazio da praça. No final, me percebo ouvindo O cortejo do Escuro infindo Ao meu ser - que é sombrio também -. Já sem garbo, a gravata frouxa, Um respingo, um sinal na coxa, Dos olhos molhados vem. No final, o portão à frente, E ao redor nem um "piu" de gente; As janelas sem luz nem olhos. Por fim, quando o quarto alcanço, A carcaça na cama eu lanço E da noite analiso espólios. No final, remontando a festa, As canções, cada dança, resta Eu saber se era "festa" mesmo... Um soluço, um desejo enorme De ser como alguém que dorme Sem dor ou pensar a esmo. No final, já cantando o galo, O chuveiro, a toalha, o ralo, Algum pão que, apressado, grelho, O bilhete do bus e o ponto São peças com as quais remonto Outro dia, que é novo... e é velho. No final, quando a noite vem E lá longe vai mais um trem A levar multidões sem fim, Eu percebo que céu nem folhas, Sequer a mais vil das rolhas Vão nunca esperar por mim.

Carlos Witalo, 3º semestre, Letras – Língua Estrangeira.

Voyeur da Noite A luz amarela Que o poste sustenta... O som dos cachorros Nas noites aumenta. Fechou-se a janela Que outrora espiava Um trem apitando Que ia e voltava. A noite chegara Mostrando figuras Que, tristes, zanzavam Nas próprias loucuras. Que a Treva entregara Aos palcos da noite Seu fel mais amargo, Seu tórrido açoite. Que a tinta de agora Provém dos boeiros Que entopem de preto Quaisquer dos tinteiros.

Que a pobre senhora Na cama, no escuro, Repensa nos filhos, No pão que jaz duro. E um homem sozinho, Bebendo, seguia; Com os olhos chorava, Com a boca sorria. A moça um carinho Que outrora tivera, Reclama em seu quarto E o espera, e o espera. Das almas sofrentes A mais peculiar É a minha, pois segue A olhá-los passar E, olhando essas gentes Que gemem sozinhas, Eu sinto a dor delas Somando-se às minhas. Carlos Witalo, 3º semestre, Letras – Língua Estrangeira.

n o s t a l g i a s o cheiro de terra molhada é inconfundível suscetível a lembranças histórias de quando criança água de coco no fim da tarde e já na mocidade me invade o reconhecimento de todos os símbolos signos que não deixarão de me encontrar e eu a vos abraçar. Celyps, 4º semestre, Letras Vernáculas – Língua Estrangeira.

Deixa eu ver teus contrastes na noite Deixa eu ver teu reconvexo, teu remelexo Deixa eu ver tua pressa ficar agoniada com minha lentidão Deixa eu ver teu sorriso que me deixa sob aviso sobre tua explisão Deixa eu ver tua pele multicor, indolor Me permita ver, se a ajuda das lentes multifocais, o mais lindo brilho do seu ser. Celyps, 4º semestre, Letras Vernáculas – Língua Estrangeira.

Saudades da Bahia Que saudades eu tenho da Bahia. Dos seus becos, de suas ruelas, de sua gente! Do modo faceiro do seu povo, do samba de roda sem regras. Acordei hoje assim , com saudades. Quanta saudade tenho do mar da Bahia, das suas praias calorentas, do vendedor de queijinho que é esperto, das brejas geladas com a água do mar batendo em sua canela, e o sol castigando suas costas. Que saudades eu tenho da noite da Bahia, com suas boates e suas dançarinas malucas, que saudades tenho das morenas faceiras de Itapuã . Não sei, só sei que acordei assim, com saudades da Bahia, da minha Bahia! A Bahia tem seu charme, seu cheiro, seu jeito A Bahia tem seu lance, seu romance, seu alcance Tem sua postura, sua envergadura, sua falta de compostura A Bahia tem seu remelexo, seu desfecho e seu pretexto A Bahia encanta, porque dança e canta A Bahia rima porque tem sintonia fina A Bahia é ímpar porque par é muito simples e normal A Bahia é ousada, pois ousadia é a sua diferença Enfim Bahia é Bahia, porque Bahia não tem stress, tem só alegria. Diogo Barreto Berni, 6º semestre, Letras Vernáculas.

ESPÍRITO LIVRE Quisera lhe ter preso em mim como a um vaga-lume numa garrafa de vidro E contemplar em minhas noites, sob a cama, iluminado por ti Lhe ter só meu, e não do mundo Ser teu par Mas hoje percebo que é um espírito livre É do mundo, é de Deus, de Oxum, é do ar, da terra, fogo e da água Seus quatro elementos me completam Me tiram da normalidade de ser só eu Você me deixa em outra estação de mim mesmo Redescobri em seus beijos um alguém que fui e que me olvidara há muito Acariciado pelos seus cabelos numa madrugada musical Já não sou mais alguém, sou imortal Teu fogo em meu fogo Tua terra em minha terra Teu ar em meu ar E tua água em minha água Ah, saudade que destrói quem se prende nela Quem revive em pensamentos o que já se foi O devir é um remédio, talvez O porvir é acalanto E quando fecho os olhos tento voltar para aquela sexta Reviver toda a madrugada do sábado Ir contigo no prazer multiplicador e incansável Contigo estar, e permanecer contente Gamaliel, foi um anjo que entrou em meu céu Te espero, seja hoje, amanhã ou em outra vida. Ebert Vieira, 5º semestre, Letras Vernáculas – Língua Estrangeira.

CAMINHO Caminho entre síncope e o fogo impresso na grife do ensejo. Onde eu sucumbir de ausência, rompe o espectro da palavra: cáfilas de metáforas. A morte revestiu minhas cidades rotas. Agora, enquanto a noite alastra, escuto esgares da fênix encantada sobre meus rastros, vejo brotar lírios da ferrugem onde a angústia analisa meu grito de incêndios. O meu amor é essa gota vazada de amora, e a partícula que me ergue é este lacre de sangue. Fabrício Lima de Oliveira, 2º semestre, Letras Vernáculas. MORADA Nesses olhos meigos habitam dor, medo e silêncio. Fabrício Lima de Oliveira, 2º semestre, Letras Vernáculas.

(extensos poemas de 1 verso só) - ágape deus seguro do ponto da árvore verde mais alta descia derretendo por todos os poros do mundo com um corpo multiuso dentro da privada e dando de cara com o muro o telhado a cerca a mãe fazendo as unhas da cadelinha doméstica pensa que deus demora muito mas deus está inclusive no tempo e no pelo tosado de mary a professora pediu para joãozinho escrever ―bicicleta‖ no quadro e deus com dor de cabeça ouviu ―buceta‖ do fundo do giz o ginasta quando bateu as mãos despertou um susto em deus que se pendurava na lâmpada florescente de um quarto alagado em sulcos de prazer respingados da masturbação da garota que deus se choca no espelho e vê pela webcam duzentas pessoas na livraria passando as páginas dos livros com pressa e deus sendo rebatido folha em folha de capa a rabo uma casa isolada cheia de santos e uma unidade de beata portando vestidos pretos e crucifixos: deus espia e se assusta com tantos olhos voltados para seu bumbum uma britadeira gritando o nome de deus e o homem cai do prédio em construção seduzido pelo canto um edifício de uma cidade abandonada desaba com o pulo de deus e não havendo ninguém para ouvir só deus faz barulho o constante campo de mudança do capital para deleite e deus está na moeda nos olhos do pobre e uma estrela que nunca foi vista do fundo da terra para o limo na pedra de uma praia desconhecida porque deus compunha o átomo o homem que foi preso carregava na mochila uma garrafa de vinagre e uma camisa vermelha e meio pacote de bolachas e deus o corpo da toupeira esfomeada se limpa no lago encharcado de deus um desenho sendo repintado por um artista de rua é observado por três moscas e deus deus esparramado no sangue de um vietnamita que tropeçou numa bomba na base da bomba atômica passaram manteiga depois da queda do orvalho que deus adiantou o inverno em homenagem uma bruxa deitada só sozinha com deus canta em latim uma profanação e amém todas as pessoas que vão e já foram e irão embora vão com deus e voltam sozinhas vi um cabelo encaracolado todo sujo de grama para saber que deus estava na felicidade de rolar do morro se você corre ao dicionário e coloca na letra D você vê palavras e deus está na corrida de todas as páginas do livro no banco do ponto de ônibus esperam Forrest Gump e uma senhora de idade olhando uma folha que cai vêem deus emitindo o documento da ordem, Gabriel Amorim, 4º semestre, Letras Vernáculas.

I — romance romance, me perguntam, o que é um romance? - é uma questão fácil eu diria. todos os amores que tive me distraia de alcançar o que eu sou sozinho. [falava enquanto ouvia a chuva do lado de fora cair, denso]

 — mas por que vc acha que foram seus amores que te deram esse problema assim? não quero mais responder, ela tem corpo moreno cabelo caracóis castanhos, sotaque estranho malemolência na estrutura e dança. - carai, não sei. Todos os amores que tive me feriram, realmente. Depois me encontrei pela dor o cristal da lágrima se tornou caro. - entendo. Mas você ainda não me conta o que pra você é um romance, seje criativo. [os olhos dele passeavam por ela, eles não percebia. Os olhos dela passeavam por ele, eles não percebia. Chegavam bem perto um do outro, num calor duro e real, duplo sentido, polissemia] é você! você é o romance, você! O que posso dizer? Ver teu corpo pelado me transforma ouvir sua voz de manhã, conversar com você - não sei, acho que sou meio louco. Digo, não acho que já me apaixonei alguma vez só pequenos casos - um romance é um momento, amigo, uma história pra contar mais tarde. E ele escolhe as vítimas, eu diria! É narcisista… - não acredito em nada disso,

talvez romance seja entrega total ao outro. Nunca tive um romance. sentir suas palavras crocantes nos ouvidos e ter medo de perder ela evaporar com o amor pelos meus dedos [Ele tinha um semblante vago. Ela pensava em profundo sentimento, não construído em palavras, ―talvez se eu apertar a mente dele, posso descobrir a paixão‖. Tudo parecia girar, o sol brilha laranja e o amor evapora denso e invisível] romance, me perguntaram o que é romance, o que é romance? por fim, a última resposta: - alicía, eu sei o que é romance. É o lado bom, a beleza do amor quente e vivo nos nossos braços; é o lado ruim, o medo de morrer e sumir quando a outra pessoa partir, o apego. "Tenho pra mim que todos nós somos apaixonados; de fato, todos nós nos matamos todos os dias por algo ou alguém. O pior do amor [disse, a olhando nos olhos marrons e fundos] é olhar nos olhos marrons e fundos da outra e dizer em palavras simples que o romance é uma contradição.

II — terror corria transtornado na madrugada frígida gelada deserto de computadores dores incomputáveis perdidas memoráveis em arquivos de zip lcoks mendigos momentos décadas passadas vários looks vazias mãos afaga o rosto de pixels moles degenerados quase mesmo que apagados agarram quente a pele macia imagem vazia fuligem na memória corria deixava a marca: toda consciência existia materializada no rio negro corria ao seu lado vermelho sangue na água de voz de sereia e medo perdido em tnttas passagens informações contagenss tantas verdades inverdades mentiras verdades volúpias sonhosss alucinações

corria em tristes deformações o céu azul ultramarino. - quer atravessar o rio, amigo? 20 moedas de ouro. [homem vestido de preto, ri frio]

 — quero chegar no coração

 — mas amigo, quanto mais mergulhamos, menos encontramos. Seria mesmo melhor nem dar ouvidos ao que está por vir. Toda palavra descontinua.

 — se o que tu diz é verdade, cabeça, então se foda. A palavra contém o sentido e nele nos encontramos. [desce do barco, rio no tornozelo. Tudo o que vê é azul e morto] Ia, era tudo que lem rava, ao encontro de alicía na descida do inferno de fogo azul com memórias fragmentos compartilhados em arquivos rar e almas correntes em memórias quentes de ninar: os corpos já não tinham rentes nada nas mãos, os ossos brilhavam brancos. Desceu, nas vozes do passado se encontrou, viu de joelhos um senhor de cara gelada dizendo sempre ―não há poesia amanhã, quando se tem fome hoje‖ e era magro mago vazio riu foi embora fumaça vermelha desapareceu o mar de verdades tava atrás, todas as questões e contradições, se banhar no rio do esquecimento, almas perdidas apaixonadas ou loucas. Tudo o que queria era saber que aquilo que sentia não era a morte. Não era, não era a morte. Não podia ser, tentava com fé acreditar na morte: os olhos do velho eram mortos como os de modigliani mortos pedra viva esculpida em humano morto olhos brancos de modigliani a morte riu, ao sair de cena.

III — sangue de cristo [ alicía sentada no trono de lucifer gritava cuspindo todo tipo de ferocidade. Tinha dominado o inferno quando derrubou o argumento do diabo de que deus era, no íntimo, mau. Sua hipótese era que Deus era o Nada. E só assim poderiam existir, sob a contradição de Deus: a matéria, as coisas!] - alicía! Que bom que te encontrei, precisamss voltar e viver bem livres desse mal computacional, desse mal de arquivo. - não sei se quero sair

e perder meu trono de ser supremo e racional - será que a racionalidade em seu mais puro estado vai salvar você de chorar no meu ombro quando a dor vier? - não tenho mais dores, não quero mais ter! sou, agora, o diabo. - não tem mais contradições ou paixões? - nada disso. Sou, agora o Todo, e tudo conheço, menos a Deus - me fala a dor que senti quando te vi morrer. [E todo inferno, que tinha cantos sagrados e noturnos, de sons extremamente rosa desbotado, agora se calou. Tudo se calou e todas as almas se acalmaram. Todos os olhos revirados se acertaram; os pensamentos ansiosos ficaram lentos. Naquele momento, nem mais os demnnios tiveram coragem de ficar: só existia alicía e theo] - não posso - mas por que? - porque não sei ler as almas por qual sou apaixonada - e tu diz que é dona da Razão? eu te conheço alicía, sei que teu caminho é outro. - o que tu sugere? - subir e ficar puto

IV — sagrado subiram enfurecidos pro céu:

mataram endurecidos sob o véu: os medos desaparecidos de deus. Jesus ria tomando vinho, levou uma facada na barriga. Desgraça de Morte desgraçada. [O mago do inferno ria, de longe, observando a cena] Nada daquele sangue sagrado satisfez alicía e theo que por sua vez queriam a mais transtornada viagem: sangue e miragens em alguém dessa vez foi projetado na Totalidade. Na realidade, viveram na materialidade por certo tempo até que alguém, preto pobre ladrão, deu um tiro na cabeça por engano da Beleza e a matou. O romance, nessa hora, morreu. Agora, livres de todo o dispendioso cansaço de seus corpos perceberam que a existência era menor que um fonema: o grito de Deus foi o silêncio eterno. subiram enfurecidos pro céu mataram os anjo exu hermes caralho, todo mundo. No fim, não tinham nada nas mãos além do riso.

V — alicía

- mas theo — ela dizia, tirando uma faca suja do buxo de miguel como tu pode me fazer lembrar de quem eu era? - acredito q cada alma tem um gênio e se apaixona por certos outros talvez especiais… [ela tinha, no rosto, um alívio. Conversavam num horizonte sem nada, além de anjos mortos. a morte viva observava os dois, assobiando. O futuro, dali pra frente, era incerto]

- não sei se acredito nisso, exatamente, mas admito que o amor é um jogo que não compreendo - talvez o primeiro passo seja aprender que o verdadeiro nunca é um jogo, mas uma realidade. - toda morte, me parece, é um recomeço [e riram por tanto tempo, que as vozes morreram e as línguas mudaram, mas a paixão permaneceu] Galego, 4º semestre, Letras Vernáculas.

Pobre menino que sonhava em ser policial, bandido e herói. Queria o baralho e a paz. Queria Deus e o diabo. Queria a todos e a solidão Pobre menino de cabelo corrugado e cabeça inchada. Inchada de problemas, perturbações e preocupações. Queria o amor e a dor. Queria o mistério e a solução. Fazia as perguntas, mas não queria as respostas. Pobre menino magricela que sonha muito e pensava demais. Queria o mundo. Queria o tudo. Pobre menino diferente. Queria aceitação. Queria igualdade. Queria se tornar realidade. Pobre menino herói. Queria salvar a todos: negros, cristãos e homossexuais. Pobre menino. Esquecido, Excluído, Inconformado, porque questionava demais. Gilmar Figueiredo Silva Souza, 3º semestre, Letras Vernáculas.

hoje, eu chorei mas chorei pelos dedos chorei rios de letras que desaguaram numa folha branca de papel. Gilmar Figueiredo Silva Souza, 3º semestre, Letras Vernáculas.

Vivo hoje. Morto amanhã, as emoções que senti, os momentos que vivi, palavras ditas ou não ditas, sonhos realizados, planejados, inacabados, frustrados, amores vividos, fingidos, não correspondidos. tudo termina aqui. este é o fim: poesia. Gilmar Figueiredo Silva Souza, 3º semestre, Letras Vernáculas.

Em cada cama que deitei: me reduzi, desfiz de mim, me sacrifiquei, amei sem amar, me doei sem deixar, toquei-me sem sentir, sem permitir, enchi-me do prazer que não existia, só fingia. Me lambuzei de solidão, despojei de mim e a mim mesmo me matei. Gilmar Figueiredo Silva Souza, 3º semestre, Letras Vernáculas.

sou frasco. em mim, contém os piores venenos. sou de dentro pra fora, mortal. de fora pra dentro, pura mentira. Gilmar Figueiredo Silva Souza, 3º semestre, Letras Vernáculas.

Eu: olho, foco, penso, imagino, desejo, toco, sinto, logo, eu gozo. Gilmar Figueiredo Silva Souza, 3º semestre, Letras Vernáculas.

Sou poema Tem um monte de mim, aqui ali acolá até já não dá mais já enraizei já me fundi sou daqui eternizo-me aqui sem fim nesta poesia Gilmar Figueiredo Silva Souza, 3º semestre, Letras Vernáculas.

A ADOLESCÊNCIA DESNUDADA pelo basculante só se vê metade do amanhecer metade da cidade banhada pela metade do sol que surge entre as metades dos prédios o basculante é a prévia da liberdade; o gosto fraco de gengibre que finca à boca já dormente; a promessa da JANELA - o ápice da ambição para o menino que observa, silente, as metades e é fadado a imaginar (e só imaginar) os inteiros o basculante é a esperança de que a cidade se estende por outros ângulos ainda cegos: os ângulos do amanhã. (a juventude é um exercício de paciência.) Giulia Fontes, 4º semestre, Letras Vernáculas.

Felicidade Faz uns dias que a felicidade me habita Fez morada nos cantos úmidos de mim E para que a história de tristeza não se repita Devo dizer que ser feliz não é tão problema assim. Hilário Mariano dos Santos Zeferino, 4ª semestre, Letras Vernáculas. Tem ventado muito esta primavera. Eu vi um beija-flor, ninguém me contou. Ele lutava com suas asinhas contra o Zéfiro furioso que o impelia ao lado contrário. Esse beija-flor, meu Deus, sou eu. Não tem flores nesta primavera. O tempo esfriou, congelou a semente. A semente das ideias. Essa semente, meu Deus, sou eu. Tem chovido muito esta primavera. Pingos pulando por todo lado. Tem poças, tem reflexos. Esses reflexos, meu Deus, sou eu? Hilário Mariano dos Santos Zeferino, 4º semestre, Letras Vernáculas.

Perdição Perdi meu verso no ar Na fumaça do ônibus Na rua escura Ou num outro qualquer lugar Achei que tinha falado Achei que tinha ouvido Achei que se voltasse tudo Talvez teria encontrado Mas eu perdi, perdi mesmo Devo ter deixado cair Pode ser que esteja numa boca de lobo E está no esgoto a esmo Mas algo desejo. Desejo que a dor seja conjunta Alguém ache meu verso E goste dele como um beijo. Hilário Mariano dos Santos Zeferino, 4º semestre, Letras Vernáculas.

Tributo às formigas Eu, a sombra da noite, levantado do chão, Estranho, louco, sem nome. Sou todos vocês: Gays, negros, pobres, A margem da orla, favelados. As lágrimas que escorrem pelo meu rosto Orvalham o chão antes árido, duro, espinhoso da solidão. Nós os combalidos, feios, gordos, magros demais, Invisíveis, desolados, Não nos deixaremos vender, vencer! Nasce o sol do outro dia e nos diz: ―Vai, segue!‖ Olho para trás, o que vi da vida? Tudo. Nada. Desespero. Fome. Combati o bom combate, não com milagres, Mas com sangue nas unhas, concreto nas costas. Sou nordestino, o que aproveita a chuva para se banhar, Aquele que cata latinha no carnaval, Esboçando o sorriso amarelado no rosto Alegre pra ter o que comer no dia seguinte. Represento minha gente que luta Com a lata d água na cabeça ou o lápis na mão Para sobreviver dia após dia, E a noite poder olhar o céu ao chegar em casa E agradecer a Deus por estar vivo, por ter sobrevivido. Formiguinhas que carregam o peso diário do preconceito, da discriminação, Dos socos e pontapés de maridos, amantes, cafetões, Porém lutam com dignidade, apesar das bermas da estrada Que lhe foram relegadas. Formigas-monstros Pequenas, grandes, desbravadoras, Crescem, navegando contracorrente Da tempestade que parece interminável. Jefferson Expedito Santos Neves, 4º semestre, Mestrando em Literatura e Cultura.

EU JÁ TINHA APRENDIDO A TIRAR FOTOS Quando nos conhecemos: Você só tinha alguns fósforos. Demos risada pela primeira vez: Ser ranzinza é engraçado. Até certo ponto. Subir a ladeira da Preguiça é: Sentir o coração palpitar. Penso ser de amor, mas também fumo todos os dias. Ideia de desejo: "Gato branco arranhando bolhas de sabão." Te encontrar tão pouco: Sinastria amorosa online. Forjei uma certidão de nascimento pra você. Te encontrar sempre: O poema que vingou. Festa bacaninha no centro da cidade: A física das pequenas partículas se faz presente, tem um arco invisível entre nós. Quando te vi sem óculos: "Amor é o jeito que nós fervemos." Abandonar os problemas de memória: Tateio o braço. A cintura. Me aninho no ombro esquerdo e espero. Vasculho barriga e umbigo em um só movimento. Sei todas as rotas, não me perco em nenhuma. Quando aprendi a te agarrar só com as pernas: Cocaína na seringa. O gosto da minha pele na sua língua: Líquido que escorre sem lamentos. E se renova. Quando deram nome para o que a gente fazia: Caiu café na nossa foto 3×4. Encontrar romance no verso do seu marca página: Usamos palavras importantes para coisas de pouca importância. Letícia Carvalho Pinto, 3º semestre, Letras Vernáculas.

SOMOS GEMAS PRECIOSAS gastei todas as folhas daquele bloquinho azul turquesa para enrolar as bitucas dos cigarros que acendi e apaguei nessas páginas que depois reparei você havia desenhado autorretratos ali e escrito "TODO O CASO" em hidrocor preto sorri, porque aquilo me fez lembrar a Szymborska mas não tanto, veja bem que eu só uso nanquim (caso tivesse um exemplar de nanquim) você disse me arranjar um, um presente mas já não nos vemos mais e você odeia ter de ir ao correio ou deixar recado embaixo do tapete eu, particularmente adoro que me deixem recados embaixo do tapete ou nas últimas páginas do livro emprestado ou ainda que larguem notícias na minha mochila de costas "me gustan las sorpresas" é a resposta praquela sua pergunta que veio em forma de quadrinho do Liniers podes perceber que estou aprendendo espanhol e também a descamar peixes podemos cuidar do mesmo peixe mastigar o mesmo alho engolir a mesma manteiga

chorar juntos pela mesma cebola choraremos juntos por muitas razões depois fomos entender estamos encurralados e nos deixamos levar pelo trânsito ruim e uma ração barata não sabes o procedimento necessário nem para cuidar de tuas plantas que tanto ama eu o entendo, nesse sentido só me filio a péssimas estratégias com a gente não foi diferente não é assim uma grande questão mas é que só sou dura em todos os começos para me arrepender depois quando nos encontrarmos irei te oferecer bolas de gude e os lábios mordidos você vai ver que continuo cismada demais mas que tenho exercitado as boas mentiras eu fico com a tarefa de costurar nossas coisas fabulosas (por mais que nos digam o contrário) é a regra dos que ficam para trás você cuida de tirar boas fotos de Montevidéu imprimo as melhores e te envio de volta junto com a minha sala vazia do próximo carnaval e todos os convites que deixei de fazer Letícia Carvalho Pinto, 3º semestre, Letras Vernáculas

Matinal Para Ariana Silva O Sol entra pela janela esquenta o quarto ilumina a pele dela celebra o tato O maior órgão é a pele atrito que faz gozar seja qual expressão gere como a beleza no olhar Seu corpo Perseguido Machucado Cercado Escondido Produtor de sensibilidade produtor de significados causa minha felicidade quando o vejo ao meu lado Pois é você, É todo seu. Luanna Calasans de Souza Santana, 6º semestre, Letras Vernáculas.

Three words, three days Maybe it's the vodka talking – though I haven't had a sip today But lately I've been missing you I mean I want you to stay Stay, even if it's quietly Let's have a coffee or two I can no longer bear your absence I think I'm falling for you For you have those fingertips Running through my back Wandering over me, dizzy As if they're exploring the track Track me down, I'm not even hiding I'm sick of people playing games Let's be clear, I want you now Speaking out is not a shame Shame on me for keeping it in We should embrace what gives us joy Who would've known this would happen? I'm crushing a 19 year old boy Boy, I wanna tell you about my songs I'll let you read between the lines Sit and tell me about your day What do you think about our signs? Signs, energy, cosmos, universe Combining themselves on our behalf Some mysterious forces surround us And if it goes wrong, we'll have a laugh Laugh about the silly days And if I'm close it's even better Cause I think I grow another curl Every time we laugh together

Together is such a nice word When it comes to you and I Bad things are just an ugly blur When affection is here to satisfy To satisfy our urges, our needs This burning red colored desire But we know it can get messy When body and mind are both on fire Fire flames were not made to last We don’t want any awful surprises So we pour ourselves some alcohol As the liquid goes down, the craving rises Rises the attraction, rises the arousal It’s easier when you’re young and free Around this age the world is wide There’s so much more to feel and see See, I hope you get my point I hope I’m making myself clear It’s hard to talk, so I'll write down What I’ve been meaning to tell you, dear Dear college friend’s brother I think you’re pretty hot We fooled around sometimes And, no kidding, I liked it a lot A lot more than I should This I must confess Cause 19 year old boys Are usually such a mess A mess is what I’m living now Cause you’re almost dating some guy He’s so cute, funny and gentle I’m kinda jealous, I won’t lie Lie beside me one more time But let me tell you in advance

Yes, I wanna feel your body But I’m not asking for romance Romance is such a nice word When it comes to you and him But before we lose this chance Grab me and kiss me and touch my skin Skin to skin, let the fun begin Get closer to me as we sing this duet No drama, no pain, the tables are set Will it happen again? We don’t know yet Yet I know we must take care Don’t overthink, try to relax Just two friends, I’ll caress your chest You’ll warm my heart as you touch my breast Breast to belly to waist to hips Shoulders to arms to hands to fingertips Thighs to knees to legs to feet Ears to neck to cheeks to lips Lips that will kiss you entirely Lips that won’t say I love you Lips that may or may not be lying But won’t stop till the night is through Through some conversations we’ve had I’ve seen you have much to share And you’re not a sexist jerk Oh, honey, you got me there There’s something unique about you Your kindness, your voice, your smell I keep thinking ―he’s just 19‖ Apparently it’s not working well Well, it’s possible this whole thing Is nothing but falsehood I just wish what I can’t have I can’t stop, but I know I should

Should I give you this poem? Would it be a hideous crime? Am I really asking too much When I ask you one more time? Time to go straight to the point I’ll pick the place and you’ll say when Let’s make out one more time Before we never do it again Again I wonder if it’s wrong Since you’re falling for someone But can we really blame ourselves For being young and having fun? Fun is dancing in nightclubs Till they play the last song It’s having deep conversations About how the world is wrong Wrong is a recurring word here Let’s change this speech What about setting up the date To our walk on the beach? The beach is so beautiful I can picture us in the sea Immersed by the waves Let me know if you agree Agree to take a walk Maybe share a kiss or two We could go somewhere else Where I could be alone with you You always hug me twice when we meet My body twinkles like a star I smile as I say "hello, I love you" But my lips just ask you how you are Are you bored with my bad poetry? You're so much more than I can explain I miss the weight of your arms

Is it possible to have shoulders that complain? Complain, scream and argue with me Cause they want you now and also after Let me tell you with no exaggeration Say the word I'll be happy forever Forever is such a nice word When it comes to being dumb Cause it’s nice to ignore The end comes for everyone Everyone says you’re handsome I could confirm the first day we met Life turns into summer if you’re near Putting colors together to the prettiest sunset Sunset on Sunday, our friends laughing I can’t even tell how beautiful it is But you’re pretty busy on someone else’s arms It’s not with me you’re sharing a kiss Kiss me once, my body shakes There are some things I wanna try Kiss me twice, I’m totally yours If you excuse me, can I…? I catch myself thinking now and then That I may be fantasizing too much But what a waste to have my hands on a pen When your skin is right there to touch Touch me as we become something greater As we both get off of the ground Cover my body with yours Would you rather stand up or lay down? Lay down by my side a little bit

Let me kiss your problems away Let's talk about music and movies Do you know Thursday is my favorite day? Day 3 and the poem is not finished Truth is I don’t want it to end Cause then I’ll come back to the status Of pretending you’re just some friend Some friend would say it’s pathetic How I’m devoting myself to this fling But now you’ve become an excuse Cause, thinking of you, I can write anything Anything could happen if I told you But I also think I’d be mean There’s a guy who’s crazy for you Who am I to get in between? Between choosing me or him You better keep kissing men I’ll learn how to deal with it It’s ok to miss you now and then Then I wonder how I can be original When there's nothing new about love to write It seems like the symptoms are the same Why would it be different for you and I? I wish I could say I love you Organizing the words in a poetic way What I say ain't new, but my love is true Each and every day Every day it gets harder I hate you but you’re so beautiful Jesus, what have I done? I wish I knew how to quit you

You showed up with her in your arms You had no idea, but it was so hard Two goddamn rays from the shiniest star Your hands on her waist, your feet on my heart Luisa Martha Souza Castro de Matos, 6º semestre, Letras Vernáculas – Língua Estrangeira.

Pintou as paredes do quarto como se fosse ficar. Deixou rastros, pegadas, digitais. A pele ainda no leito, suspiros no espelho, cílios no sofá. Do vazio, farto de pedaços, costurou lembranças de quem não mais é. Restou pesar, mar de ausências, fantasmas perdidos no armário - E nos lábios uma súplica nun-ca expelida. Manuela Ferreira, 6º semestre, Letras Vernáculas.

nunca fui a uma praia do subúrbio tem 3 dias que o vizinho de quem eu roubo internet parou subitamente de me transmitir sinal, ilhados, eu, meu computador que necessita de um ventilador para continuar ligado esperando o sinal que certamente não virá, o rádio e uns cigarros que quase já não fumo, resistimos. tem 3 dias que a vida é ruim do lado de cá, acordo sempre tarde, ana, você sabe, fumo um cigarro enquanto uso o banheiro escovo os dentes e me sento para escrever 'dentro do carro sobre o trevo a cem por hora oh meu amor, só tens agora os carinhos do motor' um passarinho azul pousa na janela o mesmo velho bêbado apostador me empurrando pra frente sigo esperando o sinal que não virá. As vezes passo horas, ana, o tic tac do bater nas teclas por onde você anda agora? Não que eu me sinta só e que o ventilador quase branco com as letras U L T R A na parte da frente ligado no 1, reclame que pretensão minha te envolver na minha arte poderia, também, transmitir outra qualquer coisa, oras enem cerveja calor suor a distância exata entre o muro da minha casa e a dor do meu peito uma mulher que um dia me sorriu, em periperi. ninguém nunca viu um muro sair do lugar nem, tampouco, meu peito anda por onde você anda agora ana? acendo um cigarro a tarde nublada 'o que será que me dá que me bole por dentro será que me dá que me perturba o sono será que me dá' e um avião passando, longe. Maria Mariana Porto Eloy, 5º semestre, Letras Vernáculas.

Se viu diante do oco da geladeira se identificou por dentro. Há tempos se sentia vazio. Sabia porém, que precisava de pouco. Pouco foi tudo o que sempre teve... De amor a comida. E nunca os dois no mesmo prato. Isso seria sorte. E sorte não cabe no pouco que sempre teve. Até o oco da sua geladeira tinha uma fraca luz no fim do túnel. Em si, um túnel escuro sem fim. Era uma posição íntima, oco a frente de oco, uma singela troca de energia. Neilane Santos Rocha, 6º semestre, Medicina Veterinária.

Revolução Hipócrita Como é tão difícil de ter você revolução. Primeiramente pedi para aqueles que tinham o poder que largassem a corrupção, Mas reparando as minhas atitudes, eu percebi, que não poderia falar nada, pois a corrupção Já tinha corroído a mim. Em seguida tive pena da classe dominada, Por causa dessa injusta distribuição de renda, Que não distribuíam para eles quase nada. Mas dividir o meu dinheiro eu não queria ceder, Pois ser milionário é bem melhor do que Ter somente boas condições pra se manter. Depois indignei-me com atos de homofobia Senti pena dos homossexuais, que eram tratados Com desigualdade todo santo dia. Mas também não acho certo essa opção Foram criados homens e mulheres, O homossexualismo é descaração. Pelos negros eu chorei, pois estava consciente Que em todas as gerações brasileiras o grande preconceito por esse povo era onipresente. Mas ao lado dessa gente eu não iria protestar Pois eu morria de medo, que porventura Algum preto viesse me assaltar E na guerra de classes eu pedi pela equidade, Pois quanto mais vocês fingem tratar todos iguais mais aumentam a infeliz desigualdade. Mas também é muito difícil imaginar e aceitar O dominado ser o dominante locomovendo-se Da base pro ápice, e tentar comigo disputar. Muitas religiões desviaram de suas funções Já não nos liga mais a espiritualidade, Pois guerreiam, fazem preconceitos e provocações. Mas eu também não tiro delas a sua razão Precisamos lutar pra comprovar que nós Somos a única verdadeira religião.

Ô emissora, é tão difícil cumprir a sua função? Ou o sensacionalismo já lhe consumiu demais, Que ficou incapaz de passar a real informação? Mas vai com calma, não faça continência Pois certamente as suas atitudes são os motivos De fazer com que a gente lhe dê audiência Tirando a escama dos olhos, veremos o amor Poderemos assim fazer qualquer revolução, Pois conheceremos de cada gente a sua dor. A humanidade se recusa com nitidez enxergar Que a revolução que tanto precisamos nunca chegará até que o mundo seja livre dessas pessoas que não sabem amar. Renan Lopes, 1º semestre, Pré-vest.

"Até hoje eu sinto o vazio Da multidão Que eu me inseri Pra tentar me preencher" "Todo dia eu vivo a farça de tentar ser Quem sou Mas quem sou Senão um ser que a todo momento Algo tenta ser?" Unknown, Todos, LETA-VIDA.

Sob o teto dos mesmos olhos Coexisto com meu inconsciente Me formo e desformo no abrigo Que criei para me transfigurar c o n s t a n t e m e n t e Decifro códigos nos quais me inscrevi Na tentativa de sobreviver e resistir E a cada mudança de endereço Me fez ver do avesso O meu permanecer e o meu (re)partir Zélyps, 4º semestre, Letras Vernáculas.