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APRESENTAO

Com enorme satisfao, apresentamos o XI workshop de Ensino e Aprendizagem da FACCAMP, edio 2014/2015.

O WEA, como carinhosamente conhecido por todos ns, mais uma vez vem socializar a produo cientfica da nossa comunidade escolar. Trata-se da publicao dos resultados de estudos e pesquisa de todas as reas do conhecimento. Mais especificamente, temos reportes de iniciaes cientficas e trabalhos bem sucedidos em sala de aula nas reas de: Fsica, Qumica, Matemtica, Comunicao, Msica, Sociologia e Histria, por exemplo.

Nesta XI edio, tivemos trabalhos individuais, como reporte de pesquisas de pesquisa, de doutorado de docentes; bem como produes realizadas em parceria entre professores e alunos, dando a ver resultados de trabalhos de pesquisa realizados na instituio. interessante observar uma quantidade expressiva de trabalhos que incorporam as temticas sobre cultura indgena e afro-brasileira, que vem dar a ver por exemplo a matemtica usada pelos indgenas, ou por japoneses.

Desse modo, o WEA concretiza a misso da FACCAMP: a promoo e busca constante de excelncia, no ensino, na pesquisa e na extenso para a formao plena do cidado e da profissional.

Desejamos que a leitura seja um bom mergulho, cultural e formativo, nesta edio!

Professores Fernando Campos e Kelly Oliveira

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Comit de programa e organizao

Prof. Me. Patrcia Gentil Passos

Prof. Dr. Nelson Gentil

Prof. Dr. Osvaldo Luiz de Oliveira

Profa. Dra. Alba de Queiroz Ferreira

Prof. Dr. Fernando Roberto Campos

Profa. Dra. Liliana Harb Bollos

Profa. Dr, Lizete Maria Luiz Fischer

Profa. Me. Kelly Gomes de Oliveira

Profa Dra Maria do Carmo Santos Guedes

Prof. Esp. Monique Traverzin Ribeiro

Prof. Me. Cleber de Carvalho Lima

Prof. Me. Simone Dias da Silva

Prof. Dr. Fbio Villani

Prof. Me. Silvia Aparecida Fortunato Santos

Prof. Me. Paulo Orestes Formigoni

Bel. Eliane Gonalves dos Santos

Esp. Priscila Benette

Prof. Esp. Felipe dos Santos Schadt

Esp. Diego Carminatti

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Sumrio A EDUCAO MUSICAL E A NECESSIDADE DA FORMAO CONTINUADA PARA O PROFESSOR Por Gisele Luzia Matavelli Gigante ......................................................................................................................................................7 A INFLUNCIA AFRICANA NA CONSTRUO DA CINCIA MATEMTICA Por Jeremias de Gois Maciel, Prof. Me Jos Augusto dos Santos ........................................................................................... 10 A MELHORIA DA QUALIDADE NA LINHA DE PRODUO DE NOTEBOOK COM A IMPLEMENTAO DA FILOSOFIA LEAN MANUFACTURING Por Constncio Bortoni ......................................................................................................................................................................... 15 A OFERTA DE NIVELAMENTO EM AVA: EAD COMO FERRAMENTA ESTRATGICA Por Jefferson dos Santos Conchetto ................................................................................................................................................. 21 A QUIMIOLUMINESCNCIA POSSIBILITANDO UMA ABORDAGEM CONTEXTUALIZADA E INTERDISCIPLINAR DA QUMICA Por Bruna de Souza, Lisete Fischer .................................................................................................................................................. 25 AFETIVIDADE EM SALA DE AULA: CONTRIBUIES DE HENRI WALLON Por Ana Paula da Silva Fazan, Samira M. F. Gotarde ................................................................................................................. 32

ARTE E CULTURA INDGENA NO CONTEXTO ESCOLAR: DESAFIOS E POSSIBILIDADES Por Eliane Belmonte Lucenti, Liliana Harb Bollos ............................................................................................................................. 40 A ARTE QUMICA DOS VITRAIS Por Natlia de Lima Machado, Lisete Maria Luiz Fischer ........................................................................................................ 46 AS RELAES PROFESSOR E ALUNO NO ENSINO DE NVEL SUPERIOR NA ATUALIDADE (IV) Por Fuad Jos Daud.................................................................................................................................................................................. 52 ATIVIDADES INTERATIVAS COM A QUMICA ESTRUTURAL PARA A PREVISO DE IMPACTOS AMBIENTAIS Por Alba Denise de Queiroz Ferreira ............................................................................................................................................... 55 AVALIAO DAS PROPRIEDADES FSICO-QUMICAS DE MOLCULAS ENVOLVIDAS NA DISCIPLINA DE TRANSFORMAES Por Lisete Maria Luiz Fischer, Michelle S. Liberato ................................................................................................................... 62 CUIDADOS COM A VOZ, INSTRUMENTO DE TRABALHO DOS PROFESSORES: TCNICAS DE AQUECIMENTO Por Tamy Cristina Pisck, Lisete Maria Luiz Fischer ................................................................................................................... 65

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DEMONSTRAO DA EQUAO DO CAMPO MAGNTICO, INDEPENDENTE DA CORRENTE ELTRICA E SUA COMPROVAO EXPERIMENTAL COM MS DE NEODMIO (Nd2Fe14B) Por Kleberson Diego de Castro, Prof. Paulo Orestes Formigoni ........................................................................................... 69 DESCOBRINDO NOSSAS RAZES: A ESCOLA INDGENA E O ENSINO DA MATEMTICA Por Victor de O. Turquetto, Jeremias de G. Maciel, Douglas, Camila Oliveira, Anderson Krol, Jos Augusto .... 74 EMPREENDEDORISMO FEMININO: EM UM MUNDO MASCULINIZADO, COMO AS MULHERES CONQUISTAM SEU ESPAO? Por Mauro Elias Gebran, Vnia Maria Jorge Nassif ..................................................................................................................... 80 ENSINO DA DINMICA DOS FLUIDOS COMPUTACIONAL (DFC) - UMA ABORDAGEM VOLTADA GRADUAO USANDO SCILAB Por Eduardo Vieira Vilas Boas, Prof. Paulo Orestes Formigoni ............................................................................................ 88 JOGO DA ONA APRENDA GEOMETRIA BRINCANDO Por Anderson K. de Oliveira, Douglas C. Santos, Camila O. Cruz, Prof. Me. David L. Mazzanti, Prof. Me. James Ernesto Mazzanti ...................................................................................................................................................................................... 96 MTODO JAPONS DE MULTIPLICAO COM PALITOS: UMA FERRAMENTA AUXILIAR NO ENSINO-APRENDIZAGEM DA MATEMTICA Por Douglas C. Santos, Anderson Krol, Camila Oliveira ......................................................................................................... 100

O AUDIOVISUAL NA EDUCAO: CULTURA DE ACERVO E INTERDISCIPLINARIDADE Por Prof. Dr. Antnio Reis Junior .................................................................................................................................................... 106 O JORNALEIRO: UMA PRTICA EDUCOMUNICATIVA? Por Prof. Esp. Felipe dos Santos Schadt ....................................................................................................................................... 113 O MTODO SUZUKI E A EDUCAO MUSICAL NO ENSINO DO VIOLINO Por Fbio Pavan ..................................................................................................................................................................................... 121 O PAPEL DA REFLEXIVIDADE COMO PRODUO DE CONHECIMENTO NO ENSINO SUPERIOR: UM ESTUDO SOBRE OS PROFESSORES FORMADOS NA LTIMA DCADA Por Shirley Barreto Rabelo ................................................................................................................................................................ 124 O TEATRO NA FORMAO ESTTICA DE ESPECTADORES E ATUANTES NO ENSINO FUNDAMENTAL I Por Adriane Santos Lima, Cleber de Carvalho Lima ............................................................................................................... 130

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PLANO REAL: OS DESAFIOS POLTICO-INSTITUCIONAIS DA ESTABILIZAO Por Clayton Hernandez Tozatti, Denis Pescum ......................................................................................................................... 135

PROJETO DE FILTRO DIGITAL IIR DE 2A ORDEM UTILIZANDO A APROXIMAO HOMOGRFICA Por Constncio Bortoni .......................................................................................................................................................................... 142 PRPOLIS E SEUS CONSTITUINTES QUMICOS: UMA PROPOSTA PARA O PARA O ESTUDO DAS FUNES ORGNICAS E NOMENCLATURA Por Milton Barros de Oliveira, Maria do Carmo Guedes ....................................................................................................... 146 REAPROVEITAMENTO DE GUAS DE CHUVA APLICAO E RETORNO DE INVESTIMENTO Por Nicoly Coelho, Willian Timteo Malouf, Eduardo Vieira Vilas Boas ........................................................................ 154 REFLEXES ACERCA DA DISCALCULIA E DO CONHECIMENTO MATEMTICO Por Prof. Me. David Luiz Mazzanti, Prof. Me. James Ernesto Mazzanti ........................................................................... 159 RELATO DO PROJETO DE INICIAO CIENTFICA NA LICENCIATURA EM QUMICA DA FACCAMP Por Lisete Maria Luiz Fischer, Letcia Falconi Boraldo .......................................................................................................... 165 SUBTRAO PELO MEIO DECRESCENTE: ESTRATGIAS MATEMTICAS PARA EDUCANDOS SURDOS FALANTES DE LNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS Por Paula Letcia da Silva, Prof. Doani Emanuela Bertan ................................................................................................... 171

UM OLHAR CALEIDOSCPICO E VANGUARDISTA PARA A SOCIEDADE: AS MLTIPLAS PERSONALIDADES DE FERNANDO PESSOA (S) Por Jaqueline Massagardi Mendes ................................................................................................................................................. 176 UMA BREVE ABORDAGEM SOBRE OS NMEROS COMPLEXOS Por Artur Cesar de Freitas, Victor de Oliveira Turquetto, Fernanda Boava Pires ...................................................... 180 USO DE PROGRAMAS OPEN SOURCE NO ENSINO E NA PESQUISA DE MECNICA DOS FLUIDOS Por Eduardo Vieira Vilas Boas, Prof. Paulo Orestes Formigoni ......................................................................................... 185 VERIFICAO DA PRESENA DE TANINOS E FLAVONIDES EM EXTRATOS SECOS DE VALERIANA OFFICINALIS Por Kerolyn B. G. Surita, Maria do Carmo S. Guedes, Lisete M. L. Fischer, Sabrina de A. Marques ...................... 191

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A EDUCAO MUSICAL E A NECESSIDADE DA FORMAOCONTINUADA PARA O PROFESSOR

Gisele Luzia Matavelli Gigante Faculdade Campo Limpo Paulista Rua Guatemala, 167, Jd. Amrica

13231-230 Campo Limpo Paulista, SP, Brasil (11) 4812 9400

[email protected]

RESUMO O presente trabalho tem por objetivo apresentar alguns aspectos referentes importncia em considerar a msica como rea de conhecimento, bem como a formao continuada para o professor. O artigo apresenta uma breve explanao a respeito das modificaes do cenrio da educao musical e aponta uma formao docente, partindo do princpio que todos so capazes de aprender, um diferente do outro, em seu ritmo e com potencialidades diversas. Palavras chave Educao Musical, Avaliao, Formao Continuada. ABSTRACT This paper aims to present some aspects of the importance to consider music as an area of knowledge as well as continuing education for teachers . The article presents a short explanation of the changes in the landscape of music education and points to a training assuming, that everyone is able to learning , different each other , at your timea and with varied potential.

Keywords Music Education , Evaluation , Continuing Education.

INTRODUO Antes da colonizao do Brasil, havia a cultura de transmisso oral e informal dos povos indgenas, que pode ser similar ao processo que muitas tribos utilizam at hoje, de aprendizagem por imitao e pela convivncia com os mais velhos. No incio da colonizao, a msica era utilizada como recurso para auxiliar a educao nos aldeamentos. Durante dois sculos, os jesutas conseguiram despertar a ateno e a simpatia dos nativos, utilizando a msica como eficiente instrumento de catequizao indgena e compunham melodias cujas letras falavam do Deus cristo. Ao longo da nossa histria, o cenrio da msica e da educao musical sofreu diversas modificaes. Grande parte da prtica musical realizada em sala de aula fruto de uma longa histria, que foi sendo construda durante sculos e transformando o pensamento e os mtodos de muitas geraes.

Em 2008, com a lei 11. 769 institui-se que, em todas as escolas brasileiras, a msica se torne contedo obrigatrio (mas no exclusivo) da rea de Arte.

Qualquer proposta de ensino precisa abrir espao para o aluno trazer msica para a sala de aula, contextualizando-a e oferecendo acesso a obras que possam ser significativas para o seu desenvolvimento pessoal em atividades de apreciao e produo. (PCN, 1997, p.53)

Essa norma foi uma conquista para a educao, mesmo considerando que os Parmetros Curriculares Nacionais e Referenciais Curriculares Nacionais Infantis j preconizavam o desenvolvimento da rea como um eixo do contedo de Arte. Contudo, a lei favoreceu o despertar do processo de ensino-aprendizagem deste eixo dentro das escolas, porm, as dificuldades hoje enfrentadas so muitas. Dentre elas, destaquemos a formao do profissional, para garantir ao educando, o acesso a esse saber.

A formao continuada o prolongamento da formao inicial, visando o aperfeioamento profissional terico e prtico no prprio contexto de trabalho, e ao desenvolvimento de uma cultura geral mais ampla para alm do exerccio profissional (LIBNEO, 2001, p. 189).

As Diretrizes Nacionais para a Operacionalizao do Ensino de Msica na Educao Bsica, aprovada em 04 de dezembro de 2013, fundamenta a Educao Musical no Brasil.

[...] O ensino da msica deve constituir-se em contedo curricular interdisciplinar, que dialogue com outras reas de conhecimento. Desse modo, o conhecimento e a vivncia da msica como expresso humana e cultural devem ser integrados

mailto:[email protected]

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sistematicamente s diferentes reas do currculo (BRASIL, 2013, p.05)

2. EDUCAO MUSICAL Em se tratando da trajetria musical, o sculo XIX trouxe mudanas na vida cultural brasileira, especialmente na msica, com a chegada de D. Joo VI e toda sua corte. Promoes de concertos, criao de orquestras e bandas, o aumento de professores particulares de instrumentos e a fundao de escolas especializadas em msica eram alguns acontecimentos da poca. Entretanto, as prticas musicais nas escolas pblicas continuavam a ser norteadas pelo pensamento musical dos sculos anteriores, como: aquisio do conhecimento musical pela compreenso intelectual; utilizaes do repertrio da msica erudita europeia e uso de estratgias de repetio e memorizao.

O no exerccio da criatividade acarreta a falta de autonomia, a impossibilidade de reflexo em situaes de resoluo de problemas, no somente musicais, mas tambm em outras reas. Anula-se, do mesmo modo, a expressividade atravs da linguagem musical, pois se privilegia a msica como um instrumento de controle, e no como uma forma de expresso, mesmo que no se tenha conscincia disso (KEBACH, DUARTE E LEONINI, 2010, p. 66).

O sculo XX traz a ideia de que todo ser humano possui um potencial musical, que deveria ser desenvolvido com as outras habilidades bsicas para completar sua formao integral. Em 1971, durante o regime militar, uma nova lei foi sancionada. O professor de educao artstica seria polivalente, com formao para atuar nas diversas linguagens da Arte: visual, teatro, dana e msica. Em geral, porm, essa formao era insuficiente para uma atuao mltipla e a maioria dos profissionais optava apenas por um dos eixos as artes visuais. Na dcada de 90, iniciou-se um questionamento sobre a polivalncia e as licenciaturas em educao artstica. Em 1996, a LDB n 9.394 apontava uma mudana em relao ao ensino da rea de artes, que passou a constituir um componente curricular obrigatrio nos diversos nveis da educao bsica. No ano de 1997, os Parmetros Curriculares Nacionais reforam esse olhar, indicando princpios norteadores para as quatro linguagens: teatro, artes visuais, dana e msica. fato que, aps tantos anos sem msica na grade curricular das escolas, mesmo com os novos impulsos descritos nos Parmetros Curriculares Nacionais, a situao da educao musical no Brasil no se resolveu na ltima dcada do sculo XX.

Para Fonterrada (2008), a abdicao do ensino de msica no currculo escolar um reflexo da Arte concebida pela sociedade, sendo vista como entretenimento e lazer.

O abandono da educao musical por parte das escolas e do governo foi acompanhado por profundas modificaes na sociedade, que se abriu para o lazer e o entretenimento, ofertados pelos meios de comunicao de massa, afastando-se a populao escolar, cada vez mais, da prtica da msica como atividade pedaggica, aderindo, em vez disso, aos hits do momento e ao consumo da msica da moda, do conjunto instrumental da moda, do cantor da moda (FONTERRADA, 2008, p. 12).

O desafio a formao do professor, seja especfico de arte ou o pedagogo, em relao a uma reflexo profunda sobre que tipo de saber musical ser levado para dentro das escolas, bem como o fazer desse novo contedo, para que transformaes em relao s aes sejam significativas.

A ausncia de pesquisas brasileiras que abordem aspectos amplos e especficos da formao continuada de educadores e articuladas com os avanos, conquistas e problemticas atuais tm mostrado consequncias graves na concepo, definio e implantao de projetos de capacitao desses profissionais. Esses projetos, quando no apoiados em resultados de pesquisas que os ajudem a interferir na qualidade e quantidade de suas aes, apresentam-se com algumas dificuldades persistentes, dando a impresso de que as mesmas so insuperveis. (FUSARI, 1994, p. 28)

Na segunda metade do sculo XX, a preocupao em formar, didaticamente, o professor, finalmente atinge o ensino superior. At ento, como afirmaram os participantes do congresso sobre didtica, realizado em Gand, na Blgica, em 1954, no existiu nenhuma preocupao em relao a isso. A universidade no oferece nos cursos de graduao, seja licenciatura em Educao Artstica ou Pedagogia, uma formao consistente. No proporciona, ainda, salas especficas, material didtico, instrumentos musicais e ambientes acsticos necessrios. preciso tambm no ensino superior, aprender a ensinar.

A formao continuada o prolongamento da formao inicial visando o aperfeioamento profissional terico e prtico no prprio contexto de trabalho, e ao desenvolvimento de uma cultura geral mais ampla para alm do

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exerccio profissional (LIBNEO, 2001, p. 189).

Comemorada por msicos, educadores, artistas e outros segmentos da sociedade, a nova lei 11769/08 coloca um grande desafio: traduzir projetos de implantao da msica cuidadosamente pensados e aes educativas que considerem as diversas realidades brasileiras.

[...]quanto mais criticamente se exera a capacidade de aprender tanto mais se constri e desenvolve o que venho chamando curiosidade epistemolgica sem a qual no alcanamos o conhecimento cabal do objeto (FREIRE, 2003, p. 24).

4. CONSIDERAES FINAIS Historicamente, a msica como rea de conhecimento, foi silenciada na escola, sendo geralmente utilizada apenas para organizar rotinas e/ou como apoio didtico para o ensino de outros contedos. preciso ir alm desta perspectiva e considerar a msica como rea de conhecimento. Ter profissionais qualificados para trabalhar com a educao musical tambm um desafio, pois infelizmente, a formao para tal eixo geralmente aligeirada em cursos de Pedagogia e Educao Artstica Nesta perspectiva, configura-se um entrave na Educao Musical, na qual, tanto pedagogos no possuem conhecimentos especficos musicais, bem como msicos carecem de conhecimentos pedaggicos. Como defente Brito (2003), todos devem ter o diretito de cantar e tocar um instumento, ainda que no tenham senso rtmico fluente ou afinao pois, as aptides musicais se desenvolvem com uma prtica orientada. Da a importncia da Formao Continuada ser oferecida aos educadores, partindo do princpio que todos so capazes de aprender, um diferente do outro, em seu ritmo e com potencialidades diversas, valorizando a necessidade de se promover metodologias contemporneas, que procurem trabalhar de forma ativa e crtico-reflexiva com os educandos. (FERNANDES, 2009). Esse processo de Educao Musical deve - se dar em um ambiente respeitoso, sempre valorizando e estmulando cada indivduo, com propostas que dialoguem com outras reas do conhecimento. E isso um grande desafio, pois pensar no ato de musicalizar, exige mudana de postura ,para efetivamente, transformar um cenrio pouco ativo para uma paisagem onde a participao de todos os sujeitos envolvidos imprescindvel e, consequentemente, o bom funcionamento de um processo educativo.

REFERNCIAS BRASIL. MINISTRIO DA EDUCAO. Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil. Braslia: Secretaria de Ensino Fundamental, 1998. (3 vol). ________. Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental: Arte 1 a 4 sries. Braslia: SEF, 1997. BRASIL. Diretrizes Nacionais para operacionalizao do ensino de Msica na Educao Bsica. Braslia/DF, 2013. BRITO, Teca Alencar de. Msica na Educao Infantil: propostas para a formao integral da criana. So Paulo: Peirpolis, 2003. FERNANDES, Iveta Maria Borges vila. Msica na escola: desafios e perspectivas na formao contnua de educadores da rede pblica. 2009. 349p. Tese (Doutorado) Faculdade de Educao. Universidade de So Paulo. So Paulo. 2009. DEMO, Pedro. Avaliao qualitativa. 7. ed. Campinas (SP): Autores Associados, 2002. FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e fios. Um ensaio sobre msica e educao. 2. Ed. So Paulo: Ed Unesp: Rio de Janeiro: Funarte, 2008. FUSARI, Jos Cerchi. Interfaces de um projeto de capacitao continuada na parceria com Estados e Municpios. In: CASALI, A.; TOZZI, Devanil A.; NOGUEIRA, Sandra Vidal (Orgs). A relao universidade rede pblica de ensino: Desafios reorganizao curricular da ps graduao em educao: seminrio. So Paulo: EDUC, 1994. p. 21-36. FREIRE, Paulo. Professora sim, tia no. 14ed. So Paulo: Olho Dgua, 2003.

KEBACH, Patrcia; DUARTE, Rosangela; LEONINI, Mrcio. Ampliao das concepes musicais nas recriaes em grupo. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 24, p. 64-72, set. 2010. Disponvel em . Acesso em 02/10/2013. LIBNEO, Jos Carlos. Organizao e gesto da escola: Teoria e prtica. 4. Ed. Goinia: Editora alternativa, 2001.

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A INFLUNCIA AFRICANA NA CONSTRUO DA CINCIA MATEMTICA

Jeremias de Gois Maciel Faculdade Campo Limpo Paulista Rua Guatemala, 167, Jd. Amrica

13231-230 Campo Limpo Paulista, SP, Brasil (11) 4812 9400

[email protected]

Prof. Me Jos Augusto dos Santos Faculdade Campo Limpo Paulista Rua Guatemala, 167, Jd. Amrica

13231-230 Campo Limpo Paulista, SP, Brasil (11) 4812 9400

[email protected]

RESUMO Este artigo tem o propsito de sinalizar o quanto o povo africano e sua cultura influenciaram na construo da cincia matemtica. Buscamos atravs de fontes arqueolgicas e histrias elementos que apontam que alm da frica ser o bero da humanidade tambm o com relao ao desenvolvimento do pensamento lgico matemtico. Palavras chave frica, histria da matemtica, cultura. ABSTRACT This article intends to sign how much the African people and their culture influenced the construction of mathematical science. We seek through archaeological sources and stories elements that indicate that Africa is the cradle of humanity as well is related to the development of mathematical logical thinking. Keywords Africa, the history of mathematics, culture. INTRODUO

Considerando: a Lei 10.639/2003 que alterou a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 - a LDB, para incluir no currculo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temtica: "Histria e Cultura Afro-Brasileira"; bem como os diversos artigos que tratam sobre a temtica da histria da matemtica no continente africano, atravs da tica da Etnomatemtica, o presente trabalho tem por finalidade uma reflexo sobre o tema: A influncia africana na construo da cincia matemtica.

Infelizmente, quando estudamos os nossos professores no ensino Fundamental e Mdio, geralmente, no citam a frica como o bero do conhecimento matemtico, esse fato no mencionado nem mesmo no curso de licenciatura em matemtica. Apesar de a maioria reconhecer que a humanidade surgiu na frica, questes raciais e discriminatrias muitas das vezes impedem a meno e ou o ensino de toda gnese do conhecimento humano africano.

necessrio que os educadores propiciem momento de discusso para transmitir conhecimentos, como instrumento de poder para as nossas crianas e

adolescentes, ensinando-os que os nossos ancestrais africanos dominavam a cincia matemtica e que no era apenas uma propriedade exclusiva dos europeus. Desconstruir o modelo estereotipado, que comumente vemos nos livros didticos, nos filmes, e outros meios miditicos, de um homem branco detentor do conhecimento intelectual e os demais simplesmente como executores de tarefas. A DISSEMINAO DA VISO EUROPIA DE MUNDO

A colonizao de povos asiticos, africanos e americanos por pases europeus a partir do sculo XV imps a cultura europeia em detrimento da cultura local. O esteretipo de homem europeu como detentor do conhecimento e como uma raa superior os no europeus como uma subclasse humana discutida na obra de Alexandre Vom Humbolt:

... aos habitantes de uma pequena seo da zona temperada que o resto da humanidade deve a primeira revelao de uma familiaridade intima e racional com foras governando o mundo fsico. Alm disso da mesma zona que os germes da civilizao foram carregadas para as regies dos trpicos. (HUMBOLDT, Alexander Von: COSMOS, p. 56, 1997)

Este autor de forma sutil, ainda, relata sobre a misso civilizatria do homem branco europeu com relao aos povos colonizados, destacando a inferioridade entre os povos:

Encontramos mesmo nas naes mais selvagens um certo sentido vago, aterrorizado, da poderosa unidade das foras naturais, e da existncia de uma essncia invisvel, espiritual que manifesta estas foras... (HUMBOLDT, Alexander Von: COSMOS, p 59, 1997)

O autor relata de forma pejorativa, naes mais selvagens que nada relata sobre estes povos, suas

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culturas, como vivem, entre outros detalhes, demonstrando que, em sua viso, o conhecimento e a cultura somente validada aquela produzida pelos colonizadores.

O filsofo Osvaldo Spengler em seu estudo sobre a cultura ocidental, em meados do sculo XX, aps a Primeira Guerra Mundial, apresenta uma nova forma de ver a histria, no fragmentada, mas ampla, considerando contexto histrico, dando possibilidade no estudo da cincia matemtica e o seu desenvolvimento, como relata em seu texto:

Segue-se disso uma circunstncia decisiva que at agora escapou aos prprios matemticos. Se a matemtica fosse uma mera cincia, como a Astronomia ou a Mineralogia, seria possvel definir o seu objeto, h muitas Matemticas. (SPRENGLER Oswald: A decadncia do Ocidente, 1973, p.72)

Como se percebe na fala do autor, ele v a matemtica atrelada na prpria cultura. Uma cincia construda atravs da necessidade do homem dominar o mundo em sua volta, no somente pela fora, mas muito mais pela capacidade de raciocnio lgico matemtico.

Faz-se necessidade de uma reviso histrica na forma de como foi construda o pensamento matemtico nas diversas culturas e com o uso da Etnomatemtica como uma ferramenta de pesquisa, procurar as diversas formas do uso do raciocnio lgico-matemtico usado pelas diversas culturas, nos diversos focos, seja o cognitivo ou o histrico-social.

O ponto importante descobrir indcios que apontam a existncia do pensamento matemtico nos povos africanos em perodo remoto e desmitificar que a preeminncia dos europeus no domnio desta cincia. Ver a partir de novas lentes interpretativas para os mesmos fatos histricos e sobre tudo que provoquem a crtica histrica. Como diz Santos:

[...] escavar no lixo cultural produzido pelo cnone da modernidade ocidental para descobrir as tradies e alternativas que deles forem expulsos, [...] o interesse identificar nesses resduos e nessas runas fragmentos epistemolgicos, culturais, sociais e polticos que nos ajudem a reinventar a emancipao social...(SANTOS, 2005, p 18)

Nos livros mais consagrados da histria da matemtica publicada no Brasil, como Boyer (1996), Eves (2007) e Strik (1997), pouco ou quase nada se refere sobre a matemtica utilizada na frica. Embora no tem como esconder a influncia o Egito na construo do pensamento matemtico. Munanga afirma sobre a distino entre marcadores biolgicos e marcadores culturais quando afirma:

...mesmo pessoas como Tales, Pitgoras, Euclides e seus discpulos, no tenha uma gota de sangue africano, no h como dizer o mesmo da sua produo cientfico-cultural a qual produzido em parte no Egito ou aps suas passagens pelo Egito, suas obras e descobertas matemticas, est permeado pelo contexto cientfico-cultural africano. (Munanga, p. 13 1999)

Muito do conhecimento milenar africano foi apropriado pelos europeus, publicado em suas obras e infiltrado na cultura ocidental, e isto no tratado nos livros didticos do ensino bsico. Pois h elementos comprovativos, como veremos a seguir, que conhecimentos matemticos gregos que foram divulgados a partir do sculo V a.C, j eram conhecidos dos africanos pelo menos mil anos antes, como as operaes descritas no Papiro de Ahmes.

Desta forma, abaixo apresentamos trs exemplos de descobertas arqueolgicas que comprovam que a cincia matemtica mais antiga do que se propaga nos livros. Trata-se do Osso de Ishango, Osso de Lebombo, que eram instrumentos para clculo, e o Papiro de Ahmes. Os quais fazem cair por terra a tese de que a matemtica surgiu na Babilnia e na Grcia. O OSSO DE ISHANGO

Em 1950, foi feita a descoberta por um gelogo

belga, na pequena vila de Ishango, na fronteira do Zaire com Uganda, no continente africano, ossos de macaco, que media aproximadamente dez centmetros, contendo inscritas com as marcaes que aparecem para representar nmeros, cujo artefato foi datado entre 18 mil a 22 mil anos.

A figura abaixo mostra o diagrama e os ossos de Ishango, que so marcaes bem precisas, divididas em trs colunas, sendo a primeira com quatro nmeros primos: 11, 13, 17 e 19, totalizando 60; a coluna da direita com os nmeros 11, 21, 19 e 9, que 21= 11+10 e 9= 19-10, dependentes dos primos, e que tambm totaliza 60; e a coluna central totalizando 48, todos sendo mltiplos de 12. Podemos concluir que o dono do artefato poderia realizar a contagem com base 12 como vrios povos antigos.

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Foto 1: Osso de Ishango, Museu Cincia Naturais Bruxelas

No se sabe exatamente a utilidade deste artefato, se era para contagem do ciclo menstrual ou para contagem do tempo com base no ciclo lunar de 6 meses, que era til para a agricultura. Mas com certeza era uma forma de organizar a contagem. No site Matemtica do PI encontramos uma sucinta e razovel explicao sobre esta descoberta:

A coluna central comea com 3 traos e logo duplica o seu nmero. O mesmo processo repetido com o nmero 4, que se duplica a 8 traos, e logo inverte-se o processo com o nmero 10, que dividido pela metade resultando em 5 traos. Por isto chega-se concluso de que estes nmeros no podem ser puramente arbitrrios, seno que sugestionam algum indcio de clculos de multiplicao e diviso por 2. O osso poderia ter sido usado, portanto, como uma ferramenta para levar a cabo procedimentos matemticos simples. Essa viso reforada por olhar para o nmero de entalhes de cada lado da coluna central. Os nmeros, esquerda e direita da coluna central so todos nmeros mpares (9, 11, 13, 17, 19 e 21). Alm disso, os nmeros na coluna da esquerda so todos nmeros primos, sugerindo alguns conhecimentos matemticos. Os nmeros de cada coluna lateral somam 60, e os

nmeros da coluna central somam 48. Ambos os resultados so mltiplos de 12, mais uma vez sugerindo que j existia uma compreenso da multiplicao e diviso. (http://jonasportal.blogspot.com.br/2010/04/o-osso-de-ishango.html)

O OSSO DE LIBOMBO

O mais antigo artefato matemtico conhecido datado de 35000 a.C, denominado de Osso de Libombo, encontrado no sul do continente africano, mais especificamente, na atual Suazilndia, um pequeno artefato de 7,7 cm, feito da fbula de um babuno (osso de macaco), contendo 29 entalhes bem definidos.

H o consenso entre os estudiosos que o Osso de Libombo foi uma ferramenta de medio, pois era utilizado como contador de fase lunar, possivelmente para ajudar as mulheres a controlarem o perodo do ciclo menstrual, como mostra a figura abaixo.

Foto 2: Osso de Libombo, fonte: www.fisica-interessante.com

PAPIRO DE AHMES

Alm dos artefatos matemticos antigussimos temos uma descoberta mais recente, trata-se do Papiro de Ahmes, datada de 1650 a.C., tambm conhecido como Papiro de Rhind, que leva o nome do colecionador de antiqurios escocs Alexandre Henrry Rhinde; pessoa a qual o adquiriu na cidade egpcia de Luxor em 1858. Hoje se encontra no Museu Britnico, cuja dimenso de 5,5 metros por 32 centmetros de largura, conforme foto abaixo:

Foto 3: Papiro de Ahmes

fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/rhind/inicio.htm

http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/rhind/inicio.htmhttp://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/rhind/inicio.htmhttp://lh6.ggpht.com/_fSsSaKPmd2s/S7qETKvTwWI/AAAAAAAAAbo/9Exbcs_4aeQ/s1600-h/Somas Osso[2].gifhttp://www.naturalsciences.be/expo/old_ishango/en/ishango/introduction.html

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Este papiro foi uma compilao feita por um escriba egpcio denominado Ahmesque, que detalha a soluo de 87 problemas que envolvem assuntos do dia a dia egpcio, como contagens, clculo de reas, divises. As resolues destes problemas exigiam conhecimentos: de fraes; da aritmtica; de regras de trs simples; de clculos de rea de polgonos regulares e de volumes de slidos geomtricos; da trigonometria; da raiz quadrada; da progresso aritmtica; o clculo de circunferncia, entre outros.

De certa forma, estes conhecimentos matemticos j faziam parte do dia a dia dos matemticos africanos por volta de 1850 a.C, bem anterior aos pais da matemtica1 antiga, os gregos: Tales, Pitgoras e Euclides.

HEGEMONIA DA MATEMTICA OCIDENTAL

Embora as descobertas citadas acima indiquem as

razes do surgimento do pensamento matemtico no continente africano, sabemos que no mundo antigo o domnio da escrita e do clculo concentrou-se nas mos de poucos, principalmente das grandes potncias mundiais, como a Babilnia, Medo Persa, Grcia, Roma, mais tardiamente os rabes; todos os conhecimentos dos povos dominados eram apropriados pelos dominadores. Lembrando que a histria que nos contada a histria do ponto de vista dos dominadores e no dos dominados.

Temos conscincia que a investigaes das genealogias no so algo preciso, principalmente quando citamos datas e personagens fora do contexto histrico. exatamente o que aparece nos livros didticos quando abordam a histria das cincias, que so geralmente europocntricas2, veja o que diz Shoat em seu texto:

[...] fazer engenhosas acrobacias para purificar a Grcia clssica de todas as contaminaes africanas e asiticas. Tinha que explicar, por exemplo, as inmeras homenagens gregas a culturas afro-asiticas, a descrio de Homero dos irrepreensveis etopes, o casamento de Moiss com a filha de Kush4, e as frequentes referncias aos Kaloskaghatos (bons e belos) africanos na literatura clssica. (SHOHAT, 2004, p. 28).

A hegemonia europeia da matemtica que registrada nas literaturas diversas sobre a histria da

1 A denominao pais matemticos, tambm uma viso estereotipada, que comumente tratado os referidos personagens nos livros didticos. Pois pai o que d origem, incio. Sabemos que j havia muito conhecimento da matemtica anterior aos referidos personagens gregos. 2 Eurocentrismo a cultura europia com bases central do pensamento.

cincia est atrelada dominao deste continente sobre outros povos, como afirma DAmbrsio em seu texto:

[...] expanso da civilizao ocidental, e assim associada a um sistema de dominao poltica e econmica que resultou desse processo de expanso. Supostamente, ao falarmos de razes socioculturais, essas consideraes no podem ser esquecidas, e a matemtica, como conhecimento de base para a tecnologia e para o modelo organizacional da sociedade moderna, est presente de maneira muito intensa em tudo isso. A matemtica e o processo de dominao que prevalece nas relaes com o que hoje o Terceiro Mundo esto intimamente associados. [...]. Em resumo, a matemtica est associada a um processo de dominao e estrutura de poder desse processo. (DAMBRSIO, 1998, p. 14)

Outros autores que indicam em seus textos a apropriao indbita do patrimnio cultural africano pela civilizao greco-romana, que urge por uma reviso histrico epistemolgica, como afirmou Boyer:

[...] Os gregos no hesitavam nada em absorver elemento de outras culturas de outra forma no teriam aprendido to depressa como passar na frente de seus predecessores... (BOYER, 1996, p. 31).

conhecido que grande parte do conhecimento

matemtico foi levado para a Grcia atravs de processos desonestos ou violentos. Os escritores gregos, em vrios casos, apresentavam-se como autores de conceitos ou teorias que haviam aprendido com mestres africanos. O saque da biblioteca de Alexandria foi um episdio central nesse processo, pois a destruio ou deslocamento dos textos antigos destituiu o Egito de suas fontes primrias.

Suspeito que a branquitude3 encontra na matemtica lugar de grande potencialidade. Por trs de muitos enunciados, emerge um discurso colonial, de afirmao de superioridade cultural dos ocidentais. Dito de outra maneira, a narrativa matemtica contribui para a consolidao de um sentimento de superioridade civilizatria, em detrimento dos africanos e seus descendentes.

E neste ponto que problematizamos a fabricao de uma frica selvagem e matematicamente analfabeta, cuja influncia do africano, ou do negro, para muitos est apenas voltada para o ldico, a culinria e o esporte. De igual modo, a cultura Egpcia em boa medida

3 Por branquitude queremos dizer a eliminao de matemticos negros da histria da matemtica.

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pensada de maneira distante dos descendentes de africanos no Brasil.

A escrita da histria da matemtica chega ao cotidiano escolar produzindo sentidos e representaes: tradicionalmente, o pai da matemtica grega Tales de Mileto, um mercador que visitou a Babilnia e o Egito na primeira metade do sculo VI a.C (STRUIK, 1997, p. 73).

A afirmativa de Struik no singular revela um pouco da presena do iderio colonizador que escreve a histria da matemtica propondo uma ideia de marco inaugural ou um ponto de origem.

O apagamento civilizatrio africano no desenvolvimento histrico da matemtica condicionado, alm de outros, pelo fato de a frica ser narrada numa histria eurocentrista como um continente sem civilizao. A histria da matemtica, os processos civilizatrios so mostrados como resultantes de apenas duas matrizes culturais, dicotomizadas entre, Oriente e Ocidente.

CONSIDERAES FINAIS

Diante das reflexes apresentadas no desenvolvimento deste trabalho, procuramos apontar que parte dos conhecimentos que utilizamos nos Currculos da matemtica de origem africana, oriundos principalmente da civilizao egpcia. E que durante o desenvolvimento da histria da humanidade, os vrios dominadores apropriaram dos conhecimentos matemticos africanos ocultando a fonte primeira. As provocaes que aqui foram feitas podero servir para dar incio a um estudo mais aprofundado do assunto, podendo mudar o modo de apresentar o conhecimento matemtico em sala da aula, dando ouvidos aos fatos histricos no desenvolvimento da matemtica. REFERNCIAS BOYER, Carll (1996). Histria da Matemtica. Ed Edgar Bluxh,, 2 Ed. Trad. Elza Gomides.

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A MELHORIA DA QUALIDADE NA LINHA DE PRODUO DE NOTEBOOK COM A IMPLEMENTAO DA FILOSOFIA LEAN MANUFACTURING

Constncio Bortoni Faculdade Campo Limpo Paulista Rua Guatemala, 167, Jd. Amrica

13231-230 Campo Limpo Paulista, SP, Brasil (11) 4812 9400

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RESUMO Este artigo discute conceito e o processo implementao da filosofia Lean em linha de montagem de NOTEBOOK, Processo de manufatura ASSY (assembly), e placa de circuitos eletrnicos "MOTHERBOARD" de tecnologia SMT (Surface Mount Technology), Processo de manufatura SMT. Isso por meio da mudana da cultura dos funcionrios e da forma de planejar; cujo foco esteja em melhor fluxo de processo, maior produtividade e rentabilidade, ou seja, na melhoria dos indicadores de qualidade. Foram usadas, como base, as caractersticas reais de uma manufatura j definida h trs anos trabalhando em metodologia long Line e sem a filosofia Lean, para a aplicao da metodologia Cell Line. Isso se deu utilizando os conceitos, as ferramentas e as bases estruturais da filosofia LEAN. Palavras chave Filosofia Lean, Cell Line, Fluxo de processo, Produtividade, Melhoria da Qualidade e Rentabilidade. ABSTRACT This paper discusses the Lean philosophy concepts and implementation in a NOTEBOOK assembly line (ASSY Manufacturing Process) and electronics circuit board "MOTHERBOARD" technology SMT (Surface Mount Technology Manufacturing Process). It was carried on by changing the employees culture and the way of planning, which was focused on better flow process, increasing productivity, profitability and quality improvement. This article was based on real features and data of a real manufacturing that already was set for 3 years worked in methodology "long line", without the Lean philosophy. It was developed by the application of the methodology "Cell Line", using the concepts, tools and structural bases of the Lean philosophy. Keywords Lean philosophy, Cell Line, Process Flow, Productivity, Quality Improvement and Profitability. INTRODUO Numa manufatura enxuta a administrao deve ser visual, simples e direta. O tempo de resposta a problemas deve ser zero. Informar com clareza visual o

que fazer e como fazer no momento exato, sem sombra de dvidas o objetivo do gerenciamento visual. Fluxo contnuo e clulas de manufatura (preferencialmente em formato de U) eliminam vrios desperdcios. Defeitos so detectados com rapidez, estoques em processo e tempos de processo so reduzidos, aumentando sua flexibilidade e melhorando o entendimento do fluxo como um todo. A filosofia Lean manufacturing deve ser implementada desde o cho de fbrica at sua gerncia, para que os objetivos tornem-se alinhados. fundamental integrar os indicadores de desempenho com a estratgia e o projeto de sistema de produo. A implementao da filosofia Lean gera uma mudana radical nos mtodos de produo e de trabalho de uma empresa e, para isso, esta deve ter frente um presidente ou um diretor com poderes de deciso e apoio irrestrito da presidncia. Pois a mudana da mentalidade das pessoas envolvidas e, principalmente, a conscientizao da alta gerncia para o apoio as mudanas, so os entraves para se melhorar processos, mudar a maneira de fazer e pensar. Com a implementao da Manufatura Enxuta, os ganhos so percebidos por todos os acionistas, fornecedores e a sociedade em geral que apoiam o desenvolvimento da organizao e esto envolvidos na fabricao de produtos e colaboradores. 2. REVISO BIBLIOGRFICA 2.1 O Sistema de Manufatura Enxuta. O sistema de manufatura enxuta (Lean manufacturing) evoluiu do sistema produtivo criado por Eiji Toyada, Taiichi Ohno e Shigeo Shingo desenvolvido para a Toyota Motor Corporation no perodo aps 2 Guerra Mundial. Nesse perodo, o Japo passava por escassez de recursos humanos, financeiros e materiais. Com isso a Toyota precisava focar na reduo ou eliminao das tarefas que no agregavam valor para conseguir vantagens competitivas com as concorrentes Americanas e Europeias. Assim surgia o Sistema de Produo Toyota (TPS), fundada no desenvolvimento de pessoas, processos e focada na eliminao do desperdcio e criao de valor. O termo pensamento enxuto (Lean thinking) foi usado pela primeira vez por James Womack e Daniel Jones em 1996. Desde ento a filosofia do

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pensamento enxuto vem alcanando grande reputao e passou tambm a ser aplicado em todas as reas de atividades econmicas com fins-lucrativos, setor pblico e organizaes sem fins-lucrativos.

[...] O PENSAMENTO ENXUTO uma maneira de voc pensar a melhoria e a (re)organizao de um ambiente produtivo. A aposta-chave a de que: entendendo o que valor para o cliente, voc ser capaz de identificar e eliminar os desperdcios, via o melhoramento contnuo dos processos de produo, e assim alavancar a sua posio competitiva, em particular no que se refere aos fatores como a velocidade no atendimento aos clientes, a flexibilidade para se ajustar ao seus desejos especficos, a qualidade e o preo do produto ou servio ofertados. (COSTA; JARDIM, 2010).

Segundo Costa R.S. & Jardim E.G.M (2010) e Pinto J. P. (2009) o pensamento enxuto alicerado por 5 princpios de raciocnio que simplificam o modo de produo, entrega, valor aos seus clientes e eliminam o desperdcios.

1. Definir Valor; 2. Mapear o fluxo de produo 3. Implementar o fluxo contnuo 4. Implementao da produo puxada 5. Buscar a perfeio

2.1.1 Definir Valor A nossa tendncia classificar valor quando nos referimos a um produto ou servio que usamos ou compramos, mas no pensamento enxuto a conotao de valor bem mais ampla. Para a filosofia do pensamento enxuto valor tudo que justifica ateno, esforo e tempo dedicado para a realizao de algo. Tambm devemos classificar o desperdcio como uma subordinao a essa caracterizao de valor e que desperdcio toda atividade que realizada que no acrescenta valor. O cliente quem define o valor e este referente s caractersticas dos produtos/servios que satisfazem s expectativas e aos anseios dos clientes, lembrando que o valor que mantm os clientes interessados nos negcios de uma organizao. Muito importante salientar que no apenas os clientes esperam receber valor das organizaes contratadas, mas tambm todos envolvidos nesse processo (stakeholders): colaboradores, acionistas, fornecedores e a sociedade em geral que apoiam o desenvolvimento da organizao. Assim, a organizao para criar valor para todos os stakeholders deve ter foco nas atividades que satisfaam as expectativas destes, eliminando todas as formas de desperdcio. 2.1.2 Mapear o fluxo de produo O primeiro passo desenhar o fluxo que bem represente as atividades corretamente realizadas na organizao. Isto fornece a informao que voc precisa para desenvolver um estado futuro. E se houver diferentes produtos e/ou servios, selecione o fluxo que

seja mais relevante para o resultado do sistema. Nesse estgio, j se tem o conhecimento dos parmetros adequados para a definio das atividades que agregam ou no agregam valor ao cliente. Posteriormente, necessrio fazer a anlise de como o caminho do material e a informao nesse fluxo, sempre atento aos tempos de cada estgio de fila, armazenamentos, retrabalhos, inspees e controles. O foco para o fluxo correntemente. Aquelas atividades podem ser necessidades, mas de fato constituem-se em desperdcios que em nada interessam aos clientes; ao qual importa que o produto/servio tenha preo, qualidade e seja entregue conforme especificaes. Com o mapa do fluxo atual, o prximo passo a confeco do fluxo ideal. O ponto chave no ser fixar as solues existentes. Perceba com o que necessrio que se lide no dia a dia: as limitaes de mquinas, recursos (pessoa e dinheiro) e tempo; mas no deixar estas restries influenciar na viso ideal. Com os mapas dos dois fluxos, defini-se o novo mapa do fluxo possvel para as atuais condies, o mapa do estado futuro. 2.1.3 Implementar o fluxo contnuo O fluxo contnuo o processo de produzir uma pea de cada vez com os itens passando de um posto de trabalho para o outro sem nenhuma parada. Sendo assim, um modo mais eficaz de produo, que evita desperdcios de tempo e recursos. Nesse estgio, deve-se sincronizar os meios envolvidos na criao de valor para todas as partes: Fluxo de materiais, de capital, de pessoas e de informao. 2.1.4 Implementao da produo puxada O efeito da criao de um Fluxo de Valor pode ser sentido na reduo dos tempos de concepo de produtos, de processamento de pedidos e em estoques. Ou seja, ser veloz no atendimento de uma demanda e; ento, em vez de tentar adivinhar o que vai acontecer amanh, a empresa poder se dar ao luxo de esperar a chegada do pedido e s ento disparar a produo. Ter a capacidade de desenvolver, produzir e distribuir rapidamente d ao produto uma "atualidade": a empresa pode atender necessidade dos clientes quase que instantaneamente. Isso permite a empresa inverter o fluxo produtivo: as empresas no mais empurram os produtos para o consumidor (desovar estoques) atravs de descontos, promoes e "leve dois pague um". O consumidor passa a "puxar" a produo, eliminando estoques e dando valor ao produto; a Produo Puxada. Toda essa mudana significa uma vantagem competitiva irresistvel: leveza para atender imediatamente os desejos do cliente. Com pequenos lotes e demanda puxada, a empresa mantm-se com muito mais facilidade o foco e a concentrao em gerar valor para o cliente. Gerando a reduo de custos, esforos, tempos e espaos. 2.1.5 Buscar a perfeio A Perfeio e melhoria contnua so realidades. Em um processo transparente, em que todos os membros da cadeia (Stakeholders) tenham conhecimento do

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processo como um todo, podendo dialogar e buscar continuamente melhores formas de criar Valor. As empresas esto aprendendo que o sucesso depende fundamentalmente das pessoas. Com a filosofia LEAN, as pessoas so o incio (a base da transformao), o meio (o instrumento) e o fim (objetivo). Sendo que as trasnformaes estratgicas so pautadas na responsabilizao, desenvolvimento tcnico, e autonomia das equipes de linha de frente.

[...] Grupos e ferramentas para a melhoria contnua; gesto visual e semiautnoma; auto-gesto da performance cotidiana, feedback frequente e resposta rpida so alguns dentre os vrios instrumentos propostos pelo LEAN para interligar as aes do dia a dia e a oferta de valor para os clientes. Womack e Jones, que estudaram durante anos o sistema Toyota de Produo e mais adiante cunharam o termo LEAN MANUFACTURING registram com sua experincia de anos junto a empresas que seguiram este caminho: medida que as organizaes comeam a especificar valor com preciso; identificam o fluxo de valor total; medida em vo transformando o seu sistema na direo do fluxo contnuo e deixam que o cliente puxe a sua produo, algo muito estranho comea a ocorrer. Ocorre aos envolvidos que o processo de reduo de esforo, tempo, espao, custo e erros infinito. (COSTA; JARDIM, 2010).

As melhorias de processo so geralmente implementadas atravs das ferramentas Kaizen e 3Ps. O Kaizen uma palavra japonesa que significa melhoria contnua e utiliza uma rgida metodologia que coloca foco nas atividades de mudana. No kaizen, deve-se dar nfase s filosofias da metodologia da Manufatura Enxuta: puxada da produo pelo cliente, identificao da cadeia de fluxo de valor, eliminao de desperdcios, implantao de cartes de controle de material (kanban), procedimentos de entrega no tempo correto (just in time), fluxo contnuo, etc. Segundo HOHMANN (2002), o Kaizen ser bem sucedido se for definido um patrocinador para o projeto (fazendo com que a informao entre as pessoas e reas envolvidas seja transparente e eficaz), tudo seja documentado, definio de lderes para cada grupo e ter os objetivos claros e mensurveis como, por exemplo: tempo do processo, quantidade de material utilizado e o ndice de produtividade. Outra ferramenta muito utilizada o 3Ps - produo, preparao e processo. A ferramenta 3 Ps a designao de um mtodo para desenhar processos de produo enxuta ou, simplesmente, obter solues aos problemas de fluxo de criao do valor na produo, tendo como consequncia a radical inovao do estado atual. Criam-se processos naturalmente enxutos, isto , que por natureza no apresentam limitaes ao fluxo e ao sistema de puxar a produo.

2.2 Aplicao de Manufatura Enxuta. Conforme LIKER J. & HOSEOS M. (2008), toda e qualquer grande mudana em uma empresa deve ser liderada pelos cargos de alta gesto, e para aplicao da manufatura enxuta no diferente. Esse um ponto muito importante, pois s assim se tem a participao efetiva e aderncia de todos na empresa. Com esse apoio da alta direo, os responsvies pela implementao que tenham o conhecimento e vontade conseguem desenvolver o projeto da manufatura enxuta.

[...] Um dos maiores problemas na transformao Lean a carncia de conhecimento tcnico e de comportamentos adequados por parte da mdia Gerncia. A definio e implementao de planos de ao por parte de Coordenadores Lean, que normalmente no fazem parte da linha de frente da empresa, tem dificuldades de sustentao quando a mdia Gerncia no compreende, e assim, no apia, as mudanas que se pretende implementar. (LIKER; HOSEOS, 2008)

Outro ponto muito importante na implementao da filosofia Lean a adeso de todos os funcionrios da empresa, com o completo entendimento da filosofia Lean. Como citado anteriormente, as pessoas so o incio (a base da transformao), o meio (o instrumento) e o fim (objetivo). Se houver resistncia por parte das pessoas a implementao da filosofia Lean no ter sucesso.

[...] A implantao desse processo, bem como de qualquer e todo processo de mudana, suscita comportamentos que podem ir desde a aceitao at a resistncia. As mudanas podem significar uma ameaa ao conhecido e familiar, segundo Motta (1997). Nada mais natural do que funcionrios se revelarem apreensivos sobre suas tarefas e seu emprego, quando ficam sabendo das mudanas. Em situaes conflitantes, com seus interesses ameaados, h uma tendncia das pessoas a se aliarem ou se confrontarem com as novas propostas, com o objetivo de salvaguardar as suas conquistas e os seus valores. Segundo Hernandez e Caldas (2001), tanto a literatura acadmica quanto a gerencial, tendem a apontar a resistncia mudana como uma das principais barreiras mudana bem sucedida. As fontes individuais de resistncia mudana esto associadas insegurana econmica, medo do desconhecido, ameaas ao convvio social, hbito e dificuldade em reconhecer a necessidade de mudana. As fontes organizacionais referem-se s seguintes caractersticas: inrcia estrutural, foco limitado de mudana, inrcia do grupo, ameaa especializao, ameaas s relaes de poder estabelecidas e ameaas s alocaes de recursos estabelecidas. (SANTOS, 2010).

A mudana de um processo de produo tradicional para o processo de Manufatura Enxuta requer uma mudana radical no pensamento e modo de agir das

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pessoas o que mais difcil de se conseguir do que obter recursos financeiros. Para essa mudana de grande estrutura, a ferramenta do KAIZEN utilizada, e assim buscar a melhoria contnua. Entretanto, todo novo projeto, por mais que bem estruturado, inicialmente no apresenta todas as vriveis do processo que sero reorganizadas e melhoradas com o KAIZEN. Neste primeiro estgio, utiliza-se, ento, a ferramenta 3Ps do LEAN. Para tal, necessria a criao de um grupo multidisciplinar de diferentes reas que integrem as necessidades dos mais diferentes enfoques sobre o produto, processo, custos e equipamentos. Assim, desenvolvem-se, como um todo, os processos da empresa seguindo os princpios da produo enxuta. Segundo WOMACK, JAMES (2009), pode ser seguida nos 3 seguintes passo: Criao de processos alternativos com o intuito de facilitar e agilizar os elementos bsicos do sistema: fluxo contnuo, produo puxada e autonomao. O objetivo a criao de pelo menos sete processos alternativos; Escolha dos trs melhores processos alternativos. Para tal, usado uma avaliao de 14 itens conforme um sistema de Produo Enxuta avanado; em que cada processo alternativo recebe uma nota para cada item e os trs itns com as maiores notas so escolhidos pelo grupo; Simulao em escala real dos trs melhores processos alternativos. O melhor processo, a ser escolhido, ser aquele cujo conceito foi devidamente simulado e revelou-se mais prximo ao atendimento pleno dos quesitos do sistema, alm de ter obtido desempenho superior aos outros conceitos de processos simulados. DESENVOLVIMENTOS E RESULTADOS A implementao do sistema Lean manufacturing teve incio em 2010, quando comearam os estudos das alteraes necessrioas de lay-out, mtodo de trabalho e planejamento de materiais. Seguindo os trs passos de WOMACK J. (2009) de criao de processos alternativos com o intuito de facilitar e agilizar os elementos bsicos do sistema; escolha dos trs melhores processos alternativos e simulao em escala real dos trs melhores processos alternativos, concluiu-se que o melhor resultado seria a implementao de manufatura em clula e a criao de um supermecado para abastecer a linha de produo. Umas das principais caractersticas aps a implantao da linha de produo em Clula a de que as pessoas passam a trabalhar mais em time, pois so partes de um fluxo contnuo; em que a parada em um posto leva a parada imediata das operaes seguinte. O funcionrio passa a se sentir dono do ambiente de trabalho e uma pessoa importante nas tomadas de decises. Deste modo, as pessoas devem ser treinadas para assumir maiores responsabilidades e serem mais donas das metas. Gerando uma transformao da

mentalidade das pessoas que trabalham na linha devido aos resultados que estes conceitos trazem e de forma rpida. Com a mudana de mentalidade vem a mudana de atitude que, por sua vez, alavanca uma viso muito mais crtica do trabalho que realizado; gerando aperfeioamento, criatividade, disciplina e melhoria. Estes sentimentos resultam em um trabalho realizado com primor, com preveno a falhas, com disciplina, com inovao, levando a resultados de excelncia. Outra caracterstica importante a de que os problemas de qualidade so identificados e corrigidos antes que haja grandes quantidades de produtos rejeitados, resultando em maior produtividade e menos produtos rejeitados no cho de fbrica. Assim, faz-se com que, automaticamente, a quantidade de material seja reduzida no processo; facilitando a busca pelo zero defeito e otimizao dos recursos da produo. A manufatura em clula tem seus benefcios refletidos tambm na qualidade do produto, pois durante o fluxo de produo como existem poucos produtos em processo. Os produtos defeituosos se destacam e tornam-se um incomodo visual para todos. Assim, todos agem para que a qualidade fique dentro das metas pr-estabelecidas. A produo enxuta gera uma alta qualidade devido: reduo dos nveis de inventrio, melhora da visualizao do produto em seu fluxo, disciplina que ela prope, gerando o comprometimento, foco e conhecimento dos funcionrios, s aes preventivas que evitam falhas em toda a cadeia produtiva, padronizao que garante aes constantes e assertivas; bem como a reduo dos nveis de produto defeituoso. Com todas essas aes de melhorias, tem-se menor desperdcio e sem desperdcio, o dinheiro utilizado de forma inteligente, comedida e assertiva. O dinheiro que no desperdiado utilizado em melhorias nos processos que se tornaro mais produtivos com uma melhor utilizao dos recursos. Mais produo significa mais ganho financeiro, mais qualidade significa mais competitividade, mais clientes, mais negcios e assim por diante. Abaixo, tem-se o resultado aps a implementao do novo processo de manufatura em clula e supermecado. Os grficos mostram os resultados ms a ms para os anos de 2011 - ano do incio da implementao e de 2012. Os ndces que usamos para medir a performance foi o UPPH - quantidade de unidades produzidas por funcionrio por hora e a relao de perdas pelo produzido. Esse novo processo foi implementado em dois processos de manufatura, o processo SMT - processo de manufatura e montagem das placas de circuito eletrnico com a tecnologia SMT e o porcesso ASSY - processo de manufatura e montagem dos noteboks por completo.

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FIG. 1 Grfico de resultado do processo SMT para os

anos de 2011 e 2012

FIG. 2 Grfico comparativo de produtividade do

processo SMT entre os anos de 2011 e 2012

FIG. 3 Grfico de resultado do processo ASSY para os

anos de 2011 e 2012

FIG. 4 Grfico comparativo de produtividade do

processo ASSY entre os anos de 2011 e 2012

FIG. 5 Grfico de resultado da relao de perdas pela produzido nos processos SMT e ASSY para os anos de

2011 e 2012. Analisando as FIG. 1, 2, 3, 4 e 5, vemos que com a implementao da filisofia LEAN os ndices de produtividade e de desperdcios - chamadas perdas - tiveram uma queda muito expressiva. Quando comparamos o ms de janeiro de 2011(antes da implementao da filosofia LEAN) com janeiro 2012 (6 meses aps o incio da implementao da filosofia LEAN), temos um aumento de produtividade no processo de SMT de 62% e processo de ASSY de 64%. Tambm tivemos uma reduo muito grande (de 0,44% para 0,084%) do desperdcio para o mesmo perodo de comparao. Ao fazer a comparao do ms de maio de 2011 (ltimo ms antes da implementao da filosofia LEAN) com o ms de maio de 2012 (1 ano de implementao da filosofia LEAN), tem-se um resultado mais expressivo ainda no aumento de produtividade. A produtividade no processo SMT aumentou 88% e a produtividade para o processo ASSY aumentou 85%. CONSIDERAES FINAIS Com a implementao da filosofia LEAN, do fluxo contnuo e da manufatura em clulas, a produtividade aumenta e eliminam vrios desperdcios. Defeitos so detectados com rapidez, estoques em processo e tempos de processo so reduzidos, aumentando sua flexibilidade e melhorando o entendimento do fluxo como um todo. fundamental integrar os indicadores de desempenho com a estratgia e o projeto de sistema de produo. Com a implementao da Manufatura Enxuta, os ganhos so percebidos por todos os acionistas, fornecedores e a sociedade em geral que apoiam o desenvolvimento da organizao e esto envolvidos na fabricao de produtos e colaboradores. Esse trabalho foi feito considerando as caractersticas reais de manufatura e dois processos distintos (SMT e ASSY). Aplicamos os mesmos conceitos de LEAN MANUFACTURING a ambos os processos e os resultados obtidos foram bem prximos e muito expressivos. Uma sugesto para futuros trabalhos incluir nesse estudo toda a cadeia de produo, como o planejamento de materiais e warehouse e seus respectivos ndices de controle.

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov DezASSY 2011 0,5 0,53 0,59 0,55 0,62 0,68 0,79 0,87 0,94 1,03 1 0,93ASSY 2012 0,82 0,86 0,99 0,85 1,15 1,11 1,1 1,05 1 1,08 1,05 1,08

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

UP

PH

UPPH Processo ASSY

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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ROHMANN, C., Author of A World of Ideas: The Dictionary of Important Ideas and Thinkers, 2009 COSTA, R.S., JARDIM, E.G.M. - Os cinco passos do pensamento enxuto NET, Rio de Janeiro, 2010. Disponvel em: http://www.trilhaprojetos.com.br HERNANDEZ, J. M. C.; CALDAS, M. P. Resistncia mudana: uma reviso crtica. Revista de Administrao de Empresas, So Paulo, v. 41, n. 2, p. 31-45, abr./jun. 2001. Lean Enterprise Institute - www.Lean.org, 15 de Fevereiro de 2012 a 05 de Maro de 2012 Lean Institute Brasil www.Lean.org.br,15 de Fevereiro de 2012 a 05 de Maro de 2012 Lean Thinking: Conceitos e Aplicaes, Lean Institute Brasil Maio/02 SLATER, R.; WELCH, J. O executivo do sculo Os insigths e segredos que criaram o estilo GE. So Paulo: Negcio Editora, 1999. PINTO, J. P., Lean Thinking: Novas janelas de oprotunidades para as organizaes, Comunidade Lean Thinking 2009. Disponvel em: http://www.slideshare.net/Comunidade_Lean_Thinking/Lean-thinking ROTHER, M.; SHOOK, J., Aprendendo a enxergar, The Lean Enterprise Institute, 2009 Revista Exame. So Paulo: Editora Abril. 20 de maro de 2002. LIKER, J.; HOSEOS, M., Cultura Toyota. Editora Bookman, 2008. SANTOS, T. M. C., Anlise da reao dos colaboradores ao processo de mudana organizacional - LEAN THINKING - Um estudo de caso na empresa Beta, Pedro Leopoldo: Faculdades Pedro Leopoldo, 2010 WOMACK, J. P.; JONES, D. T., A mquina que mudou o mundo. Rio de Janeiro: Elsevier, 1992. WOMACK, J. P., JONES, D. T., A mentalidade enxuta nas empresas: elimine o desperdcio e crie riquezas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

http://www.librarything.com/work/80722http://www.librarything.com/work/80722http://www.trilhaprojetos.com.br/http://www.lean.org.br/http://www.slideshare.net/Comunidade_Lean_Thinking/lean-thinkinghttp://www.slideshare.net/Comunidade_Lean_Thinking/lean-thinking

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A OFERTA DE NIVELAMENTO EM AVA: EAD COMO FERRAMENTA ESTRATGICA

Jefferson dos Santos Conchetto Faculdade Campo Limpo Paulista Rua Guatemala, 167, Jd. Amrica

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RESUMO primordial as faculdades oferecerem um nivelamento bsico aos ingressantes no nvel superior, devido s deficincias no aprendizado. A forma como oferecido este, pode ser fundamental para a Instituio de Ensino Superior (IES), uma vez que a permanncia do educando est relacionada tambm ao aproveitamento dos estudos, e este maturidade e competncia para o aprendizado. Uma maneira estratgica de nivelar nossos alunos pode ser criar sistemas de ensino e aprendizagem atravs de um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), capaz de avaliar e dar subsdios para o graduando em sua formao acadmica. O Ensino a Distncia (EaD), apesar de algumas discusses no meio acadmico, pode ser uma ferramenta muito til na estratgia pedaggica para o nivelamento. Aprender e ensinar, independente do contexto e mtodo, trazem sempre dilemas e problemas. Por conseguinte, todo processo ensino aprendizagem necessita ser avaliado, apesar do tradicional sistema avaliativo. Palavras chave Nivelamento, EAD, AVA, Ensino Superior. 1. INTRODUO Um ponto muito discutido atualmente no nvel superior o nivelamento. Este por sua vez tem se tornado uma necessidade primordial ao egresso do ensino mdio, principalmente o da rede pblica. Segundo OLIVEIRA e ARAJO (2006), o ensino mdio est com a qualidade de ensino percebida sob trs formas distintas, sendo primeira a da oferta insuficiente, a segunda a da disfuno no fluxo ao longo do ensino fundamental e a terceira o sistema de avaliao baseado em testes padronizados. A necessidade do nivelamento d-se no s pela deficincia da formao bsica, mas tambm por se tratar de ingressantes nas IES de um grupo heterogneo, com diversas idades (geraes completamente diferentes), tendo discentes remanescentes de uma gerao de ensino precedente s Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC's). Algumas IES esto ofertando o nivelamento de forma presencial, a chamada pr-aula. A proposta deste artigo a discusso sobre a oferta de um nivelamento por um AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem), mais

propriamente dito, o uso do Ensino a Distncia (EaD) via internet, dentro de um ambiente virtual de aprendizagem. Para tal feito, necessria uma compreenso a respeito do que pode ser aprender, ensinar e avaliar dentro do EaD, com base na legislao vigente. 2. OBJETIVO Para uma maior disseminao junto aos discentes do que possa ser o aprender em uma graduao e para que haja um equilbrio dentre as possveis geraes em uma sala de aula, a proposta deste artigo consiste em mostrar, atravs de um estudo terico, a vantagem da oferta de um nivelamento tendo como estratgia pedaggica o EaD, para uma introduo, familiarizao com a tecnologia e resgate de conhecimentos prvios para a sequncia e permanncia no curso superior. 3. ENSINO A DISTNCIA (EAD) As geraes de EaD podem ser sinteticamente observadas no quadro abaixo (Moore e Kearsley, 2008, p.26 apud Vilaa, 2011, p.95).

Tabela 1 - Geraes de EaD de acordo com Moore e Kearsley (2008, p. 26).

De acordo com este quadro, ns estamos na quinta gerao de ensino a distncia. Segundo Almeida e Almeida (2003) desenvolver atividades de ensino e aprendizagem no meio digital implica em lidar com a complexidade de situaes educacionais evidenciadas por este meio,

Gerao Forma Recursos instrucionais e tecnolgicos bsicos

Primeira Ensino por Correspondncia

Materiais impressos, livros, apostilas.

Segunda Transmisso por rdio e televiso

Rdio, Vdeo, TV, Fitas cassetes.

Terceira Universidades abertas

Materiais impressos, TV, Rdio, telefone, fitas cassete.

Quarta Teleconferncia Teleconferncia interativa com udio e vdeo

Quinta Internet/web Internet, MP3, ambientes virtuais de aprendizagem

(AVA), vdeos, animaes, ambientes 3D, redes sociais,

fruns...

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enfrentar novos desafios relacionados s especificidades da comunicao multidirecional. O resultado e controle da participao nas atividades podem ser usufrudos pelas avaliaes, evidenciando possibilidades difceis sem o apoio digital. Para Santos e Rodrigues (1999), o Ensino Distncia tem importncia por atingir maior audincia, atender estudantes que no podem assistir s aulas na escola, unir estudantes de diferentes contextos sociais, culturais, econmicos e preponderam os estudantes que esto buscando voluntariamente mais conhecimentos. TICs A tecnologia da informao e comunicao (TIC) dentro de um AVA um meio de mediao e construo do conhecimento. Com o desenvolvimento digital, atravs de trocas de informaes (e-mail, chat, foruns) feitas via PC, tablets ou at mesmo celulares, podemos romper o espao/ tempo e, em diferentes eventos, acessar os contedos diversos quantas vezes forem necessrias para a construo de nosso conhecimento. Para Perry et al (2006), as TICs constituem um apoio cognitivo real, mais ergonmico ao raciocnio humano com reforo natural atividade neural de processamento de informaes dada suas diversidades (sonoras, visuais e tteis). Ainda com relao s TICs, vlido ressaltar sobre os aportes que elas podem oferecer no ensino/aprendizagem, assim como na avaliao ou processo avaliativo. O proceso educacional em EaD recorre das TICs com extrema cautela e estratgia, principalmente em sua concepo, porm quanto ao processo que envolve ensino, aprendizagem e avaliao, os dados podem ser melhores interpretados e aproveitados para futuros projetos. APRENDER, ENSINAR E AVALIAR EM EAD. Este artigo no tem a pretenso de criar uma maneira objetiva de como realizar tais feitos. O intuito deste talvez seja atentar quanto necessidade de sermos estrategistas e competentes desde a base, o projeto. No menos importante que o contedo, est a presena do tutor. APRENDER O aprender em EaD manifesta-se com dilemas, problemas e propsitos tais como em cada poca histrica, ou seja, independente do contexto o aprender tem l seus questionamentos em relao maneira como se d o aprendizado, como feita a reteno das informaes segundo o metodo de ensino. No contexto atual, as informaes esto mais prximas, a facilidade tanta que acaba por ocorrer o oposto do que se espera. A prxis docente deixa a desejar perante os diversos canais de informaes presentes no cotidiano, levando a um desinteresse discente. Segundo Schneider et al (2009) a EaD, para atingir grau de excelncia, exige planejamento de ao que

contemple as diferentes formas de aprendizagem, vencendo o espao-tempo, ou seja, a riqueza da Ead est no conhecimento tcito, este necessita de um planejamento estratgico, impecvel, para que o discente permanea em atividade e no perca a motivao pelo contedo ou at mesmo pelos estudos. Neste ponto, vale ressaltar a questo da maturidade discente necessria para a sequncia no nvel superior e no somente em um curso em EaD. Essa seria a funo do Ensino Mdio, desenvolver no discente a maturidade, ou seja, a disciplina e comprometimento com os estudos de forma a facilitar o aprendizado, o compromisso com a vida universitria. ENSINAR notvel a melhora da qualidade de ensino e aprendizagem ps revoluo tecnolgica. Contudo surge uma questo: Como lidar com as complexidades evidenciadas no meio digital? Claramente nota-se a necessidade de que o docente tenha mais conhecimentos didticos e que domine estrategicamente as TICs. Para Perry et al (2006) as prticas de EaD devem ser encaradas com um olhar sistmico, podendo assim serem criados ambientes investigativos dentro de um maior contexto, resultando em: (a) um aumento na agilidade dos processos; (b) a diminuio de retrabalhos; (c) maior garantia de qualidade; (d) possibilidade de reproduzir e estender prticas e resultados e (e) distribuir, reaproveitar e acumular conhecimento dentro da instituio/ comunidade de pesquisa. Um ponto to importante quanto ao ambiente criado para o EaD so os aportes dados atravs de um profissional de suma importncia, o tutor. Para Silveira (2005):

[...] o Tutor poderia ser aquele que instiga a participao do aluno evitando a desistncia, o desalento, o desencanto pelo saber. Talvez aquele que possibilita a construo coletiva e percorre uma trajetria metodolgica desobediente, transgressora de receitas prontas e acabadas e construa, de forma participativa com seus alunos nova saberes, novos olhares sobre o real.

Vale ressaltar quo importante o papel do tutor pela troca de conhecimento, pois diferente de um professor conteudista, que segue uma linha de pensamento estratgico, o tutor obrigado a divagar por outros assuntos (de certa forma, pertinentes ao curso um frum por exemplo) para que, uma vez solicitado, ele possa responder ou discutir, e manter uma aproximao afetiva, ou seja, reforar o lado humano por detrs da tecnologia, motivando o discente e mantendo ele ativo. Para Monteiro et al (2014), a relao afetiva tambm diminui a sensao de distanciamento provocado pelo afastamento fsico, pois aproxima os coraes, estabelece laos de amizade e torna o processo de ensino e aprendizagem uma troca e no um processo

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de estmulo e resposta. Ainda sobre a viso da autora, a falha na atuao do tutor pode causar desmotivao, baixo desempenho e a desistncia do discente. AVALIAR A avaliao desempenha objetivos como subsidiar o processo ensino-aprendizagem e tambm, sob o discurso de compreender a desigualdade no ensino, o Ministrio da Educao no Brasil atribui-se o direito de implantar processos avaliativos nos diversos nveis e sistemas escolares (FERNANDES, 2009). Desta forma, podemos notar a importncia do ato de avaliar, e determinar o papel de quem vai avaliar. O avaliador um negociador por meio da comunicao, com critrios predefinidos estratgicamente, tendo que envolver os diversos segmentos interessados no objeto avaliado e divulgar os resultados obtidos. Com o envolvimento sobre os objetivos da avaliao, mostra-se ao discente como ele est se desenvolvendo por meio do processo avaliativo. A avaliao vai alm da mensurao, pois visa sempre a aprimorar a aprendizagem do avaliando e a abrir possibilidades para novas descobertas (BRITO, 2010). Rodrigues & Borges (2013) entendem que avaliar a aprendizagem no fcil, pois, a avaliao permeada por subjetividade, sendo que cada indivduo possui uma viso de mundo diferente dos demais. Muitos docentes utilizam a avaliao como uma forma de punir o aluno pelo desrespeito ou falta de interesse durante o desenvolvimento das aulas. A avaliao vem sendo utilizada exclusivamente como uma forma de atribuir notas, visando aprovao ou reprovao do aluno. Para Maia, Mendona & Ges (2005) avaliao em EAD pode ser realizada de forma presencial (avaliao feita na presena do formador ou de outra pessoa responsvel, garantindo legitimidade da mesma), distncia (com aplicao de testes on-line a serem respondidos e enviados para o formador por meio de e-mail ou de formulrios de envio) e avaliao contnua ao longo do curso (baseada em componentes que forneam subsdios para o formador avaliar seus aprendizes de modo processual). Para que qualquer dessas formas tenha sucesso, reclama que o docente seja estrategicamente um negociador. As negociaes podem ser feitas pelos tutores e ocorrer atravs dos fruns, chats ou at mesmo e-mail, de forma a estarem sempre alinhados, docente e discente, com retorno de ambas as partes quanto aos anseios ou apatia presente. No s as negociaes sobre os termos avaliativos podem ser feitas atravs das TICs acima citadas, mas tambm a prpria avaliao. Sartori & Both (2014) apontam o estudo dirigido, lanado num frum de debate em um AVA, que pode ser acompanhado pelo orientador acadmico e atribudo um conceito no processo avaliativo do discente. Ainda do ponto de vista dos autores, o estudo dirigido e o chat so formas de construo e reconstruo de conhecimentos a partir das respostas dadas, que podem ser discutidas e mediadas pelo tutor.

CONCLUSO. Em meio aos discentes h a necessidade de um resgate de conhecimentos prvios. Porm antes deste feito, primordial que seja introduzido conceitos quanto s formas de absorvermos melhor os conhecimentos. claro o objetivo, nivelamento, mas se apenas despejarmos o contedo, o jarro continuar sempre vazio. O ideal, a proposta deste artigo, uma ateno especial em no criar apenas um nivelamento das disciplinas bsicas (matemtica, portugus) mas incluir nos contedos um material que demonstre a necessidade e incentive o discente a desenvolver a maturidade necessria para o nvel superior. As TICs em um AVA so ferramentas estratgicas e devemos estar em constante evoluo quanto sua atualizao. A cada dia surgem novas tecnologias s quais devemos procurar inserir em nosso sistema. As novas geraes so movidas por elas e a falta delas implica em uma desmotivao, ou seja, usando-as pode ser que no motive, porm h a desmotivao caso no use. Como experincia, posso citar a necessidade de uma tutoria consciente e presente nos fruns, com o intuito de ressaltar no discente a importncia das discusses. Neste ponto o papel do tutor primordial, pois ele quem vai mediar o conhecimento. Tanto o aprender, quanto o ensinar ou avaliar so processos complexos e exigem uma elaborao estratgica, porm a execuo tem que ser muito bem controlada estatisticamente dentro do sistema. O bom da EaD que os dados podem ser coletados e aproveitados com mais facilidades, desde que seja planejado com antecedncia. REFERNCIAS ALMEIDA, F. J.; ALMEIDA, M. E. B. (2003). Educao a distncia em meio digital: novos espaos e outros tempos de aprender, ensinar e avaliar. Virtual Educa 2003, Miami, USA. BRITO, C. S. (2010). Avaliao da aprendizagem no ensino superior: uma viso do aluno. SILVEIRA, R. L. B. L. da (2005). A importncia do tutor no processo de aprendizagem a distncia. Revista Iberoamericana de Educacin, 36(3), 6. OLIVEIRA, R. P. de; ARAJO, G. C. de (2006). Qualidade do ensino: uma nova dimenso da luta pelo direito educao. Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Educao. FERNANDES, C. M. B. (2009). Formatos avaliativos: trajetria histrica, contradies e impactos em estudantes universitrios. HERMIDA, J. F.; BONFIM, C. R. D. S. (2006). A educao distncia: histria, concepes e perspectivas. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n. especial, 166-181.

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MAIA, M. C.; MENDONA, A. L.; GES, P. (2005). Metodologia de ensino e avaliao de aprendizagem. TC, 5, 05. MONTEIRO, Alice Fogaa, et al (2014). Tutor/Autor: experincias e saberes. Cadernos Pedaggicos da EaD. MORESI, Eduardo A. D. "Inteligncia organizacional: um referencial integrado." Cincia da Informao 30.2 (2001): 35-46. PERRY, Gabriela Trindade, et al. "Desafios da gesto de EAD: necessidades especficas para o ensino cientfico e tecnolgico." RENOTE 4.1 (2006). RODRIGUES, N. V. M.; BORGES, F. T. (2013). Avaliao da Aprendizagem em Educao a Distncia atravs do Frum (Interface Educacional). Ideias e Inovao-Lato Sensu, 1(2), 25-34. SANTOS, A. M.; RODRIGUES, M. (1999). Educao a distncia. Tecnologia Educacional, 24, 25-30. SCHNEIDER, Elton Ivan, L. F.; MEDEIROS, S. T. U. "O Aprender e o Ensinar em EaD por meio de Rotas de Aprendizagem." Anais do 15 Congresso Internacional Associao Brasileira de Educao a Distncia. 2009. VILAA, M. L. C. (2011). Educao a Distncia e Tecnologias: conceitos, termos e um pouco de histria. Revista Magistro, 2(1). SARTORI, M. R. K.; BOTH, I. J. (2014). Uma proposta de mtodo complementar avaliao na EAD: O estudo dirigido como ferramenta de aprendizagem colaborativa no frum. Sade, 1(9).

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A QUIMIOLUMINESCNCIA POSSIBILITANDO UMA ABORDAGEM CONTEXTUALIZADA E INTERDISCIPLINAR DA QUMICA

Bruna de Souza Faculdade Campo Limpo Paulista Rua Guatemala, 167, Jd. Amrica

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Lisete Fischer Faculdade Campo Limpo Paulista Rua Guatemala, 167, Jd. Amrica

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RESUMO Este trabalho apresenta resultados de um estudo, realizado com alunos do curso de qumica da FACCAMP a fim de: identificar os contedos conceituais a serem desenvolvidos relativos ao tema quimioluminescncia, mapear o nvel de assimilao de tais contedos nas turmas do curso e, ainda, colaborar como agente formador de alguns pontos conceituais sobre o tema.

Palavras chave Quimioluminescncia, pesquisa exploratria, visvel, ultravioleta, fluorescncia. ABSTRACT This paper presents results of a study with the students of chemistry course at FACCAMP to: identify the conceptual contents to be developed for the chemiluminescence theme, map the level of assimilation of such contents in the course classes and still work as agent forming some conceptual points on the subject. Keywords Chemiluminescence, exploratory research, visible, ultraviolet, fluorescence. 1. INTRODUO O presente trabalho foi produzido durante as aulas de monografia, inicialmente, observou-se a necessidade em conhecer os pontos principais no tema central que poderia servir como auxlio e meio de pesquisa para outros alunos do curso de qumica bacharelado. Para isto, foi realizada uma pesquisa para a determinao dos contedos conceituais que deveriam ser abordados. Santos e Mortimer (1999) concluram, aps pesquisa realizada com professores de qumica, que apoiavam suas aulas em temas contextualizados, que havia maior facilidade de assimilao do contedo por parte dos alunos, bem como facilitao do aprendizado, aumento da motivao do aluno e melhora no relacionamento professor-aluno. Assim, optamos por abordar o tema principal de maneira contextualizada, oferecendo informaes a cerca do contedo desejado, porm de forma facilitada, inserindo os aspectos de interesse dos alunos que participaram da pesquisa.

Realizou-se uma pesquisa explanatria, a fim de mapear o nvel de assimilao pelos alunos do contedo abordado, e em seguida, determinao de subtemas principais para o desenvolvimento deste artigo. Ser demonstrado, neste trabalho, a contextualizao da quimioluminescncia, aplicada utilizao do luminol, reagente responsvel pela deteco de vestgios de sangue em cenas de crime. Sendo este um tema interdisciplinar, possvel ilustrar e contextualizar conceitos de outras disciplinas do currculo de qumica, tal como qumica quntica e espectroscopia, assim como ser demostrado neste trabalho. 2. INTERDISCIPLINARIDADE: ESPECTROSCOPIA,

QUMICA QUNTICA E A RELAO COM A QUIMIOLUMINESCNCIA

Sala (1996) e Skoog, Holler e Nieman (2002) indicam em suas obras que a espectroscopia o campo responsvel por estudar a interao da matria com a radiao, seja esta visvel, ou no, tendo como finalidade determinar a matria estudada, obtm-se para isso a variao da posio dos nveis energticos. Salienta que podem ocorrer transies vibracionais na regio infravermelho, eletrnicas entre as regies ultravioleta e visvel e no estgio das micro-ondas ocorrem variaes rotacionais. Desta forma, a espectroscopia o campo que estuda a absoro de radiao eletromagntica, que deve ocorrer em uma determinada frequncia para cada uma das espcies analisadas. A resposta ser em forma de um sinal proporcional transio entre os nveis de energia de um tomo, ou s vibraes de determinadas molculas (SHRIVER et al., 2008). Skoog, Holler e Nieman (2002) afirmam que para ocorrer absoro de energia, o fton excitante deve ser referente ao inverso da energia entre os estados fundamental e excitado da substncia a ser analisada. Onde a radiao apresentada pelo espectro eletromagntico, conforme a figura 1.

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Figura 1: Apresentao do espectro eletromagntico com suas variaes em funo do comprimento de onda

O espectro eletromagntico, figura 1, apresenta um compilado entre todas as radiaes conhecidas, em funo do comprimento da onda apresentado e sua frequncia. O comprimento da onda determinado pela distncia entre os picos, e a frequncia resultante da repetio da onda (BALL, 2005). Skoog, Holler e Nieman (2002) classificam os tipos de espectroscopia conforme apresentado na tabela 1, relacionando os diferentes tipos de espectroscopia com o fenmeno quntico observado. Tabela 1: Relao entre o tipo de espectroscopia e a transio quntica gerada.

Tipos de Espectroscopia

Intervalo Usual de Comprimento de

onda

Tipo de Transio Quntica

Emisso de raios gama 5.10-12 - 1,4.10-9 m Nuclear

Absoro, emisso, fluorescncia e difrao de raio X

1.10-10 - 1.10-7 m Eltrons internos

Absoro ultravioleta no vcuo

1.10-7 - 1,8.10-6 m Eltrons de ligao

Absoro, emisso e fluorescncia ultravioleta-visvel

1,8.10-6 - 7,8.10-6 m Eltrons de ligao

Absoro infravermelha e espalhamento Raman

7,8.10-6 - 3.10-3 m Rotao/ Vibrao de molculas

Absoro de micro-ondas

7,5.10-4 - 3,75.10-3 m

Rotao de molculas

Ressonncia de spin eletrnico

3.10-2 m

Spin dos eltrons em um campo magntico

Ressonncia magntica nuclear

0,6 - 10 m

Spin dos ncleos em um campo magntico

A faixa da luz visvel, observada na tabela 1, deve ser destacada, pois est relacionada com as cores. Segundo Atkins (2002) a luz branca, emitida pelo Sol, uma mistura de cores, da qual ao se filtrar uma, sua cor aparente ser a dada como complementar. A figura 2 pode auxiliar nesta compreenso. interessante observar que as substncias so capazes de assimilar somente determinados comprimentos de onda.

Figura 2: Disco de cores de Newton (WANG, 2014) Assim sendo, se a luz laranja for filtrada da luz branca, ela se tornar azul-esverdeada (ciano). A cor resultante de uma das cores que compem a luz branca chamada de cor complementar (ATKINS, 2002). Desta forma, ao filtrar-se qualquer uma das cores apresentadas pela figura 2, a cor resultante ser a oposta a ela, ou seja, sua cor complementar. Como os fenmenos relacionados com a interao luz-matria so entendidos com o auxlio da qumica quntica, os conceitos introdutrios dessa disciplina so apresentados no prximo tpico. 3. INTRODUO AOS ASPECTOS DA QUMICA

QUNTICA: O MODELO PARTCULA-ONDA PROPOSTO POR DE BROGLIE

Silva (2003) resume a mecnica quntica como um compilado de teorias, desenvolvidas pela necessidade de se compreender o mundo subatmico. At 1920, imaginava-se que os eltrons eram partculas, mas a produo experimental revelou que partculas poderiam adquirir comportamento de onda em determinados casos. Esta evidncia se manifestou quando um feixe de eltrons foi passado por uma placa

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metlica e houve difrao (LEE, 1999). Conforme afirma Shriver et al. (2008) as caractersticas ondulatrias observadas foram a interferncia e difrao, conhecida pelo comportamento dos ftons, pois o comportamento dos eltrons no deveria ser puramente de partcula. Assim, mximos e mnimos de ondas que viajam por um caminho interferem em mximos e mnimos de ondas que viajam por outro caminho (ATKINS; JONES, 2012). Desta forma, as sobreposies nos pontos mximos resultam em interferncias construtivas, enquanto seu inverso em sobreposies destrutivas, conforme exemplifica a figura 3.

Figura 3: Interferncia de ondas (a) interferncia construtiva (b) interferncia destrutiva (BURKE, 2009). De Broglie concluiu que os eltrons podem apresentar caractersticas dualsticas, podendo ser onda ou partcula. Esta variao est diretamente relacionada com sua finalidade de estudo, da mesma forma a radiao no totalmente onda, nem puramente partcula. Este postulado tornou-se conhecido pelo nome dualidade partcula-onda (ALMEIDA; SANTOS, 2001). necessrio destacar que no presente artigo, para sua compreenso utiliza-se o padro eltron-onda. 4. REGIO VISVEL E ULTRAVIOLETA Geralmente, os espectros ultravioleta e visvel so apresentados em conjunto, tornando-se conhecido como espectro UV-Vis este acontecimento ocorre devido absoro de radiao nestas regies. Nos exemplos discutidos por Shriver et