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Apresenta:

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"Apaixonada pelo Perigo tem ação ininterrupta, humor contagiante e romance

envolvente, a combinação perfeita para fazer de um livro uma leitura gratificante!"

- Kathy Samuels (Romance Reviews Today)

"O enredo de ação, a trama de intriga e o estilo bem-humorado formam uma combinação

explosiva e irresistível."

- Jill M. Smith (Romantic Times)

"Suzanne Enoch combina sensualidade e humor à perfeição, para criar uma leitura fabulosa."

- Oakland Press

"Suzanna Enoch é uma das minhas autoras prediletas."

- Julia Quinn (autora)

"Suzanne Enoch sempre acerta em cheio!"

- Susan Andersen (autora)

"Os personagens Rick e Sam são uma dupla feita para o romance e a aventura!"

- Cristina Dodd (autora)

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Copynghi O 2006 hy Su/annc hooch On|iiulmmir puMi> *1-- em 2006pela HafprrCnJIii» PuNithrrx

PLBUCADO SOB ACORDO COM HARPERCOUJNS PU BUS Ml Rs NY.NY-USA Todo* o* «li rciii ™ re»cr* adot

Todo» o* prfuwifcn» de*ia obra «Ao ficrJoo* Qualquer «mclhar ̂j com ftmm *I»M ou mortas terá udo meta HÉHMMa

TÍTULO ORIGINAL: Doo I Looà Down

EDITORA Leontoc Pomponio

ASSISTENTE EDITORIAL Palhcii Qmm

EDIÇÁO/TEXTO Tradução Nancy Alve» Copadf yaue Robeno Pcllcjnno Rtwtio LnuOunaAwi

ARTE MAnicaMaVionado

ILUSTRAÇÃO Laim Stóck

MARKETING/COMERCIAL Silvia Campo»

PRODUÇÃO GRAFICA Soma Savu

PAG INAÇÃO Daoy Edüora Uda

*C 2007 EdMora Nova Cuidara] Lida Ruihctlme, '2J - 10* aadar - CEP 05424-010 - Sao Paulo - SP www novacukuraJ com bc

ImptmiD e acaoantetMo RR Donaelk* Moorc

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Querida leitora,

Cumprindo a promessa que fiz a você na edição 1456 da série Sabrina - Flertando com o Perigo -

finalmente Samantha e Rick estão de volta, em outra nova e emocionante aventura da brilhante Suzanne

Enoch, autora da lista de Best Sellers dos jornais USA Today e The New York Times. A dinâmica dupla

formada pelos protagonistas Sam e Rick mais uma vez diverte e fascinam as leitoras com suas peripécias,

conflitos, encontros e desencontros, neste incrível romance de ação e suspense!

Leonice Pomponio Editora

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Suzanne Enoch

APAIXONADA PELO PERIGO

TRADUÇÃO Nancy Alves

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Capítulo I

Devonshire, Inglaterra,

om faróis altos acesos, um carro diminuiu a marcha ao passar pela casa principal e depois tornou a acelerar,

sumindo na noite.

- Turistas... — Samantha Jellicoe murmurou, do local onde se encontrava.

Os observadores, ambos ingleses e perseguidores de gente famosa, nem a teriam notado, interessados que estavam na

casa que ficava além dos portões altos. Mas Sam não queria ser vista no momento. Seguiu até o muro e o escalou sem

dificuldade. Sabia que a propriedade estava segura por fios de segurança que seguiam até a cabine do vigia; para desligá-

los, teria de cortar a eletricidade da casa inteira, o que faria os alarmes das baterias de reposição soarem de imediato.

Pulou para o gramado e percebeu que teria de passar por detectores de movimento e gravadores digitais de vídeo,

além dos muitos guardas que patrulhavam a casa. Mas como havia uma brisa forte nessa noite, os detectores estariam

descarregados, e os guardas, cansados de religá-los com freqüência. Era sempre melhor entrar numa propriedade quando

havia vento, ela sabia; mas janeiro, na Inglaterra, era frio demais.

Seguiu, junto ao muro, até a primeira câmera. Cortou um galho próximo com um alicate que trazia consigo e bateu de

leve na câmera; repetiu o processo mais duas vezes, como se o vento estivesse agindo, e não suas mãos; em seguida,

golpeou a câmera com força. Vendo que a retirara da posição, jogou o galho sobre o muro e continuou avançando.

Alguém sairia em breve para arrumar a câmera, mas então Sam já estaria dentro da casa. Algum aristocrata, anos

antes, devia ter achado perigoso ter a cozinha junto aos outros cômodos, então ela se localizava do lado de fora da

construção principal.

Sam notou que havia fios no batente da porta de entrada e que o vidro era sensível à pressão. Não podia quebrá-lo.

Mesmo não havendo ninguém na casa, com exceção dos guardas e dos empregados tinha de ter extremo cuidado para que

não a notassem. Assim, teve de usar toda sua experiência em escalar ao longo de janelas para chegar ao teto, de onde

pôde ver a janela da biblioteca, no andar superior. Usou a corda de aço e os prendedores que trazia ao cinto para lançar-se

num vôo certeiro. Tinha nervos de aço, como todo bom ladrão deve ter. E foi controlando-os até que conseguiu chegar

onde queria. Junto às portas de vidro que davam para a sacada, observou que agora havia fios de segurança, mas que o

vidro não era à prova de pressão, já que, ali em cima, qualquer vento mais forte poderia disparar o alarme com

freqüência, tornando-o inconveniente.

Colocou os fios de cobre que trazia e os prendeu aos fios de segurança para interceptar o circuito elétrico; feito isso,

abriu a porta devagar, com um sorriso nos lábios. No entanto, assim que colocou os pés dentro da biblioteca, as luzes se

acenderam.

— Droga — ela sussurrou.

— Muito interessante — proferiu uma voz, num inglês perfeito.

— Mas o que você está fazendo aqui?! — Sam tentou disfarçar o susto que levara. Apesar das informações seguras

que obtivera obviamente o dono da casa não estava fora...

— Eu moro aqui. O que houve? Perdeu sua chave?

C

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Por segundos, ela apenas o olhou; moreno, alto e atraente, mesmo usando jeans e camiseta, Rick Addison era o sonho

de qualquer mulher.

— Estou treinando. Como descobriu que eu chegaria aqui?

— Faz meia hora que observo seus movimentos lá fora.

— Mentira. Fiquei lá fora por quarenta minutos só observando uma idiota que fingiu estar com o pneu do carro

furado.

— Como sabe que ela fingiu?

— Porque estava tentando esconder uma câmera enorme. Aposto que você chegou aqui há menos de cinco minutos,

talvez quando eu estava escalando a parede da cozinha.

— Independentemente de quando cheguei, esta é a segunda vez que a surpreendo entrando em uma das minhas

propriedades, Sam.

— Mas, desta vez, eu não estava tentando roubar nada.

— Não? Bem, uma explicação seria ótima...

Sam passou por ele e foi até a porta que dava para o corredor.

— Passei três horas hoje ouvindo John Harding reclamar dos pés-rapados que querem roubar a sua coleção. Como se

algum ladrão que se preze quisesse roubar aquelas miniaturas russas... Pelo menos, o fanfarrão costuma colecionar

crucifixos de prata...

— Corrija-me se estiver errado, Sam: você não ia passar a proteger gente que possui coisas valiosas? Afinal, seu

último roubo culminou com uma explosão e a quase morte do dono da casa, eu, por acaso, e também a sua...

— Eu sei, mas...

— E também me lembro de que estava disposta a aceitar Harding como cliente.

— E eu o fiz, mas Harding é uma pedra no sapato, não um cliente. Eu jamais falaria com ele se você não tivesse me

pedido.

— Esplêndido! Podia ter me dito que ele foi uma de suas vítimas no passado antes de eu apresentá-los.

— Não se queixe.

— Não. Mas eu gostaria de saber por que me escolheu como vítima apenas naquela noite em Palm Beach.

— Ora, sua coleção era valiosa demais. Ainda é.

— Sei. E isso me salvou de você. — Rick já se aproximava com aquele sorriso encantador nos lábios e Sam sentia as

pernas fraquejarem. Por isso, desviou o assunto:

— Agora, diga-me: por que está aqui se deveria permanecer em Londres até amanhã?

— Pude vir mais cedo. E bem a tempo de provar que posso prevenir seus movimentos. Peguei-a em flagrante, na

Flórida, há três meses, e agora aqui em Devon. Talvez tenha sido mesmo bom você ter se retirado do negócio de roubos.

Sam sorriu e inclinou o rosto pedindo um beijo. Rick não se fez de rogado, enlaçou-a e beijou-a com paixão. Tendo-o

assim distraído, ela passou rapidamente a corda de aço por suas mãos e tronco.

— Sam! Tire isto agora mesmo!

— Não. Você fez pouco das minhas habilidades. Desculpe-se.

— Só quando me soltar.

Sam sorriu. Soltá-lo não lhe parecia à melhor das idéias no momento. Empurrou-o, fazendo-o sentar-se numa cadeira,

e amarrou-lhe também as pernas.

— Isso vai ensiná-lo a não enfrentar um ladrão como eu e usar apenas esse seu elegante charme inglês como arma.

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— Sam, não estou gostando da brincadeira!

—Eu sei. Porque estou no comando, certo? Mas se pedir desculpas, posso soltá-lo.

Os olhos incrivelmente azuis dele a enfrentavam.

— Está blefando.

— Estou? — Sam inclinou-se e beijou-lhe demoradamente a parte sensível do pescoço logo abaixo da orelha.

— Hum... Então é isso o que acontece quando você se vê frente a frente com um... Cliente?

— Pode ser. — Sam ergueu-lhe a camiseta e beijou-lhe o peito.

Se for assim, acho que vou começar a encorajá-la nesse seu... Novo negócio.

— Deixe os negócios de lado agora. — Beijou-o com ardor, ouvindo-o gemer de leve. Aparentemente, Rick tinha

esquecido a conversa sobre entrar ou não em sua casa no meio da noite, mas, se ela bem o conhecia, voltaria ao

assunto mais tarde.

— Pelo menos, solte minhas mãos — ele pediu.

— Não. Falou mal de mim, agora sofra as conseqüências.

Não era de seu feitio esse tipo de atividade erótica, com dominado e dominador, porém Sam estava começando a gostar

de ter Rick sob seu domínio. Continuou provocando-o, beijando-o, tirando-lhe as roupas peça por peça. Depois foi sua

vez.

— Está me matando aos poucos nesta tortura, sabia? — ele gemeu, entre seus beijos.

Se era tortura ou não, Sam não estava mais pensando. Seu corpo todo o desejava. E a recíproca era mais do que

verdadeira. Fizeram amor ali, assim, com Rick amarrado e sentado na cadeira, ela por cima, deleitando-se com o prazer

que sempre havia em seus encontros amorosos. Por fim, caíram os dois, junto com a cadeira de mais de cem anos, sobre

o carpete, cansados, satisfeitos e felizes.

—Você está bem?—Sam perguntou, acariciando-lhe o rosto suado.

— Não, desde que a conheci. Mas deixe a corda por perto, caso eu queira lhe dar o troco.

— Olhe que promessa é dívida, inglês.

— Eu sei ianque. Essa é a idéia!

Rick acordou antes de Sam, como era seu costume. Na verdade, seus hábitos de sono eram apenas mais um detalhe das

inúmeras diferenças entre eles. Sam tivera uma vida pregressa voltada para atividades noturnas; entrar em casas

sofisticadas, por exemplo. Fora assim que se conheceram. Se ela não tivesse entrado na casa de Palm Beach tentando

roubar a valiosíssima pedra entalhada de sua coleção, Rick teria morrido na explosão que havia se seguido. Sam salvara-

lhe a vida naquela noite e ele vinha tentando salvar a dela desde aquele momento.

Rick saiu da cama com cuidado, dando um beijo suave no rosto de Sam. Ligou para Nova York para saber como andava

o novo empreendimento com os chineses, e, em seguida, foi até a cozinha para tomar um gole de café. Só então seguiu

para o chuveiro.

Pouco depois descia para seu escritório, na outra ala da mansão. A xícara de chá quente já o esperava junto ao

computador. Depois das oito, ligou para seus escritórios em Londres a fim de pedir mais dados a respeito da companhia

que estava a ponto de adquirir. Pediu à sua assistente, Sarah, que lhe arranjasse um encontro com o secretário de

Comércio para depois do fim de semana. E, para terminar, acessou os dados sobre os números do mercado de ações

americano. Tomava seu chá com prazer enquanto surfava na internet.

Meia hora depois, se levantou e saiu para o corredor. A temperatura havia baixado consideravelmente. Providenciara para

que Sam tivesse uma sala ao lado de seu escritório, onde ela poderia gerenciar seu novo negócio de segurança de valores.

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Rick, no entanto, estava um tanto inquieto com essa mudança na vida de Sam. Aliás, se a reação que ela tivera à

entrevista com John Harding indicasse algo, parecia óbvio que precisaria de muito mais ação em sua vida do que

simplesmente ser a dona de um novo empreendimento de seguros.

— Está franzindo a testa — Sam disse, vindo pelo corredor. — Posso saber por quê?

Rick voltou-se e sorriu. Vê-la era sempre uma grande emoção. Tão linda, com os olhos muito verdes, os cabelos

castanhos e aquele corpo atlético e cheio de suaves curvas que ele adorava.

— - Estou só... Pensando.

— - Pareceu-me que estava ansioso para entrar na minha sala.

— - Achei que poderia ajudá-la a fazer a proposta para John Harding.

— - Ah, nem sei se quero fazer essa proposta! — Sam passou por ele, abriu a porta e acendeu as luzes. — Nunca

gerenciei um negócio antes, e isso de ficar agindo na Europa e na América ao mesmo tempo... Seria ótimo se eu

pudesse trabalhar apenas na Flórida.

— - Entendo, mas Harding é meu vizinho, e eu ainda preciso ficar na Inglaterra por uns quinze dias.

— Sei. E quer que eu me ocupe enquanto você trabalha. Mas o meu negócio não tem nada a ver com o seu certo? Não

quero que fique me ajudando o tempo todo. Daqui a pouco vai querer transformar a ala leste da sua mansão numa enorme

galeria de arte só porque sabe que eu adoro arte!

— - Também adoro. E você tentou roubar uma peça de mim. E, mais importante que tudo: quero abrir uma galeria

pública, sim, mas porque isso me dará prazer. Pedi a sua ajuda porque não terei de pagá-la e sei que é perita no

assunto. Também conhece muitas formas de manter minhas propriedades em segurança absoluta.

— - Muito bem. Então, vamos até a ala leste para ver as possibilidades de iluminação que temos ali.

— - Isso vai custar quanto?

— - Ora, não quer o seu Rodin mal iluminado, quer?

— - Não, claro que não. A propósito: se você entrou com tanta facilidade ontem à noite, por que vamos trazer o meu

Rodin para cá?

— - Eu consegui entrar, meu amor. Isso não significa que qualquer outra pessoa consiga. E não passou de um teste. A

idéia é aumentar a segurança até que nem eu mesma consiga mais entrar.

— - E é assim que vai trabalhar com todos os seus clientes?

— - Não sei ainda. Saiba que há firmas que contratam gente como eu só para testar o equipamento de segurança.

— - Fez os telefonemas que sugeri para ter uma idéia de quanto cobrar pelos seus serviços?

Sam encarou-o.

— Rick, vá cuidar dos seus bilhões e deixe que das minhas coisas cuido eu, está certo?

Ele pressionava porque, assim que ela tivesse seu negócio realmente estabelecido, seria muito mais difícil abandonar

tudo e voltar à antiga vida de crime. Mas compreendia que estava sendo inconveniente.

—Está bem, perdoe-me. O que acha de tomarmos o café-da-manhã antes de vermos a galeria?

Rick estava animado com a idéia de poder expor suas maravilhosas peças. O único inconveniente que via nisso era a

equipe de construção dentro de sua propriedade acabando com sua privacidade e chamando-o o tempo todo de "mi

lorde". Detestava ser um nobre.

— - Está bem. Desjejum primeiro — Sam concordou. — Mas lembre-se: a galeria pode ser um favor, mas você está

me pagando pela segurança.

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— Não vou me esquecer. Como não deve se esquecer de que o "favor" que você está me fazendo custa-me uma

pequena fortuna.

— Eu sei, mas vai ficar maravilhosa!

Jean-Pierre Montaigne, chefe de cozinha exclusivo da mansão, tinha preparado panquecas americanas para o desjejum.

Jamais se rebaixara a tanto, mas a presença de Sam na casa parecia ter encantado todos os empregados, como acontecera

em Palm Beach. E ela adorava panquecas.

Depois de comerem, seguiram para a ala onde ficaria a nova galeria. Rick havia muito desistira de entender por que Sam

roubava tantas pessoas ricas e se recusava terminantemente a roubar museus e coleções públicas; na verdade, ela os

adorava.

Aumentei este espaço — Sam mostrava, animada, na planta que emprestara do mestre-de-obras. — Achei que seria o

lugar perfeito para o seu Van Gogh. É preciso vê-lo de longe para sentir a solidão que ele evoca.

— Não sei como consegue lembrar-se de que tenho um Van Gogh. Está emprestado ao Louvre.

— Tenho excelente memória para o que me interessa. E depois, eu me filiei ao seu fã-clube, que publica uma revista

mensal com dados sobre tudo que lhe diz respeito.

— Fantástico! E vai receber essa revista aqui, suponho.

— Não. A revista é enviada para a casa de Stoney, na Flórida, e ele vai mandá-la para mim.

— Seu... Sócio recebe a minha revista?

— Ele também se aposentou da vida de crimes, lembra?

— Sei. E como vai Walter?

— Bem. Está procurando algo para mim.

— Algo dentro da lei?

O antigo companheiro de roubos de Sam, Walter Barstone, vulgo Stoney, ainda poderia ser uma má influência para ela,

por isso Rick não gostava dele.

— E acha que eu lhe diria se não fosse legal?

— Sam, eu...

O celular preso à cintura dela tocou.

— Falando no diabo... Olá, Stoney!

Rick não gostou nada quando a viu afastar-se pela galeria. A conversa com Stoney parecia animada, mas era óbvio que

não podia ouvi-la e isso o irritou. Voltou sua atenção para a planta sobre a mesa e notou que Sam estava, de fato, fazendo

um belo trabalho ali. E sentiu-se gratificado por ter dado a ela a oportunidade de realizar algo de que realmente gostava.

O telefonema terminou e Sam tornou a se aproximar, rindo:

— Ele recebeu a mais nova revista do seu fã-clube, e sabe qual é a novidade? Você não está mais de caso com aquela

misteriosa Samantha Jellicoe; o romance ficou sério e você a convidou a morar na sua companhia no seu castelo em

Devonshire.

— Boatos. Não se deve acreditar neles.

— Claro. Aposto que todas as garotas do seu fã-clube estão querendo me matar agora. Vou acessar o seu site para

saber mais.

— E foi só por isso que Walter ligou?

— Não. — Sam hesitou por segundos. — Ele achou um lugar excelente.

— Para o seu escritório?

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— Talvez. Quer que eu volte a Palm Beach para dar uma olhada.

— Dê-me uma semana e irei com você, prometo. Diga a Walter que estou interessado e peça-lhe para dizer aos

proprietários que esperem um pouco.

Sam meneou a cabeça.

— Você não está interessado. Eu estou.

— É a mesma coisa. Vamos...

— Não, não é. Pela última vez, Rick, este negócio é meu, está bem?

— Eu sei. Estou apenas me oferecendo para ajudar. Afinal, tenho experiência com negócios e recursos também. Quero

colocar tudo a seu dispor.

— Não acho que esteja querendo me ajudar. Quer resolver tudo, isso sim. Criar uma companhia internacional de

seguros, apontar os clientes que poderão dar lucros. Mas a idéia foi minha, meu projeto! Eu quero fazer tudo sozinha!

— Com Walter, quer dizer. Vocês dois têm experiência em roubos, Sam. Vão montar algo dentro da lei e seria tolice

não tirarem proveito do que posso lhes oferecer.

— Agora sou tola só porque quero fazer algo sem você. Sabe, fiz muito dinheiro sem a sua ajuda. No entanto, sem a

minha ajuda, você estaria morto há três meses.

— E o que isso tem a ver com montar um negócio?

— Você quer que eu fique ligada a você, eternamente grata pela sua ajuda. Não é assim que trabalho. Para mim, já

chega! Vou voltar para a Flórida! — Sam deu-lhe as costas e voltou aos aposentos íntimos da casa.

— Só daqui a uma semana!

— Claro... Acha que pode me manter aqui, certo?

— Para o seu bem! Use seu cérebro, e não seu ego! Não vê que seria bem melhor se esperasse para voltar comigo?

Dessa vez, ela nem se importou em responder. Sabia muito bem que Rick estava tentando controlá-la, bem como à

situação. Assim fizera bilhões de libras. Mas Sam não iria admitir que ele se intrometesse assim em sua vida.

— Sam! — Rick chamou, do primeiro degrau da escadaria. Como ela não parasse, ele subiu correndo.

Sam deixara de ser uma ladra havia apenas três meses e certos hábitos são difíceis de ser abandonados. Ela entrou no

quarto, agarrou a mochila onde sempre carregava as poucas coisas de que necessitava e começou a enchê-la.

Rick a presenteara com um pequeno carro esporte que, na noite anterior, Sam havia deixado estacionado a meio

quilômetro da mansão. Apressada, saiu pela outra porta do quarto e desceu a escada dos fundos. Pretendia pular o muro

de proteção da casa e ganhar a estrada em minutos, para então correr até seu carro. No caminho, viu o de Rick parado

diante da porta e, sem vacilar, furou os quatro pneus com seu canivete de bolso. Não queria que aquilo se transformasse

numa perseguição. Dissera-lhe que iria embora e falava a sério.

Sam pulou do muro para a estrada e correu quanto pôde, sem olhar para trás. Rick devia estar bem longe e furioso.

Ao chegar, ela jogou a mochila no banco, pulou para dentro do automóvel e o colocou em movimento. Ligou para a

British Airways e reservou passagem para o próximo vôo para Miami, e depois para outro até Palm Beach. Usou o

número de um dos cartões de crédito de Rick. Mandaria o dinheiro assim que chegasse à Flórida; não queria ficar

devendo nada a ele.

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Capítulo II

Palm Beach, Flórida

ssim que entrou na casa nos arredores de Palm Beach, Sam viu o homem quase careca, de pele bronzeada,

sentado à mesa. Ele ia começar a comer sua salada e já tinha aberto o hambúrguer que estava num prato ao

lado.

— Ora, não era sem tempo! — Stoney exclamou, sorrindo. — Seu lanche já estava esfriando.

Sam largou a mochila em um canto e sentou-se diante dele.

— Como sabia que eu ia chegar a tempo para jantar?

— Verifique a secretária eletrônica. — Ele apontou para o telefone com um gesto de cabeça.

— Ah... Quantos recados ele já deixou?

— Três. Atendi da primeira vez, mas depois deixei a máquina fazer o serviço. O sujeito me parece furioso com você.

— É recíproco.

— Acabaram então. — Stoney teria aprovado o rompimento, já que não gostava nada de vê-la ligada a um dos

homens mais ricos do mundo. Mas sabia que Rick também não a queria ainda ligada a um antigo colega de... Negócios.

— Na verdade, ele estava começando a se intrometer demais. E depois... Senti saudade de você.

— Eu também, querida. — Ele a encarou por vários segundos. — Tem certeza de que quer trabalhar do lado da lei

agora? Porque recebi uma oferta tentadora de Creese. Um milhão pelo trabalho de uma noite em...

— Pare. Não me tente. No meu último trabalho, três pessoas acabaram mortas. Acho que foi um sinal.

— Mas não foi culpa sua! Sem você, teria sido pior! Addison poderia estar morto!

— É, mas não é fácil ficar vendo corpos aparecerem de repente.

— Você é quem sabe. Mas esse trabalho é com um Michelangelo que desapareceu. A Santíssima Trindade, eu acho.

— Eu disse para não me tentar! — Sam adorava Michelangelo. — Não vou. Eu me aposentei!

— Por causa de Addison?

— Não! Eu decidi parar!

— Pois eu vou continuar com os meus contatos.

— É, faça isso. Ainda está nesta casa para mantê-los?

— Dizer e fazer são coisas bem diferentes, você sabe. A propósito, deu meu número a Addison, não?

— Sim e também seu endereço.

— O quê?!

— Se algo acontecesse comigo, eu queria que ele pudesse entrar em contato. Lembre-se de que passei minhas duas

primeiras semanas na Inglaterra no hospital, com uma concussão.

— É. E os efeitos ainda devem estar na sua cabeça... Sam revirou os olhos e mudou de assunto:

— Quando posso ver o escritório?

— Como achei que fosse chegar, arranjei tudo para daqui a meia hora. Fica na Worth Avenue, de frente para o

escritório daquele sujeito, Donner.

A

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Sam sorriu. Donner ia detestar tê-la por perto. O melhor amigo e advogado de Rick podia ser excelente, mas havia um

antagonismo forte entre ele e Sam.

— Achei que ia querer um lugar elegante, já que terá clientes elegantes. Posso ajudar com a papelada, se quiser.

— Não me parece muito animado...

— E não estou. Você está me empurrando nesse negócio.

— Porque gosto de trabalhar com você. Mas nada mais de roubos. - Stoney sorriu. Tomou-lhe uma das mãos, olhou-a

profundamente e disse:

— Tenho cuidado de você desde que tinha cinco anos, querida, quando seu pai saía para algum serviço. E espero que

esteja tomando a decisão correta agora.

— Estou.

—E sabe também que a polícia vai saber onde você está, já que terá um escritório aberto. E as pessoas com quem ou

para quem já trabalhou também saberão onde encontrá-la. Isso pode ser perigoso.

Sam tentou sorrir.

—Gosto de pressão, lembra?

—Sim. E lembro também que você é maluca. Mas estou do seu lado. Como estaria se também decidisse passar o fim

de semana em Veneza a fim de roubar um Michelangelo.

—Stoney, se eu fosse alcoólatra, você me ofereceria uma bebida?

—Se ela valesse um milhão?

—Já chega! Vamos ao escritório.

Meia hora depois, estavam estacionando diante do prédio. Sam notava que a velha caminhonete de Stoney já era um

monte de lixo e pensou no conversível azul que Rick a deixara usar e que estava estacionado em sua garagem

monumental, a alguns quilômetros de distância. Era melhor Stoney nem saber desse presente.

O prédio era, de fato, elegante; nem tanto quanto o outro, onde ficavam os escritórios de Donner, mas bastante

impressionante. O escritório que Sam ocuparia ficava no terceiro andar. O aluguel não era nada barato, mas Sam tinha

sua poupança feita através de anos de trabalho com antigüidades e roubos de obras-de-arte.

—Quanto vai custar? — ela quis saber.

—Você vai falar com a corretora. Seu nome é Kim.

No hall do terceiro andar, havia quadros de paisagens por todas as paredes, até a entrada das salas.

—Monet — Sam murmurou, reconhecendo as pinturas.

—Cópias — Stoney observou como se desprezasse tudo o que não era legítimo.

Uma das portas se abriu para dar passagem a uma moça.

—Você deve ser Kim. Sou Samantha... Sam. Obrigada por nos receber assim tão tarde.

—Walter e eu visitamos dezessete outros imóveis e fiquei feliz por ele ter se decidido por este — informou a

corretora.

Entraram numa sala confortável e, enquanto a moça discorria sobre os atrativos do imóvel, Sam olhou pela enorme

janela que dava para a cidade. Era estranho. Três meses depois de conhecer Rick Addison, estava alugando seu primeiro

escritório, com a intenção de trabalhar dentro da lei... E de frente para os escritórios de Donner! O advogado...

— Há quatro outras pessoas interessadas nestas salas, mas, devido às suas conexões, Sam, nós lhe demos preferência.

Sam voltou-se, interessada:

— De que conexões está falando?

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— Bem, Walter mencionou que você está residindo em Solano Dorado, que pertence a Rick Addison. Como estou

sempre atualizada, soube que uma Samantha Jellicoe o está namorando e logo imaginei que se tratasse de você.

Sam lançou um olhar raivoso a Stoney, que ergueu as sobrancelhas.

— Espero que saiba que estes escritórios não serão parte dos negócios do Sr. Addison.

— Ah, claro. — Não havia, porém, muita certeza na expressão da corretora.

— Muito bem, então vamos assinar os papéis.

De volta à caminhonete, Stoney dirigiu enquanto Sam rascunhava um anúncio procurando uma recepcionista.

—Vai gastar mais um bocado na mobília do escritório — comentou, parando num semáforo.

— Preciso dar boa impressão aos clientes, não?

— Mas vai gastar boa parte do que juntou.

— Sempre vivemos perigosamente, não? Temos de arriscar agora também.

— Seu pai ficaria furioso sabendo que vai gastar seu dinheiro para ficar dentro da lei. Ouça, dê-me alguns dias para

procurar a mobília para você. Vou achar bons preços.

— Vai levar Kim com você? Porque notei como olha para ela. Ah, e ela também para você.

Stoney sorriu.

— Pode ser.

— Então, vamos combinar assim: eu arranjo os clientes e você, a mobília.

— Certo. Seria bem melhor irmos a Veneza atrás do Michelangelo, mas... Que droga!

Sam ergueu os olhos do anúncio quase pronto.

— O que houve?

O Jaguar estava estacionado diante da casa de Stoney, a pouca distancia de onde se encontravam. Sam respirou fundo,

analisando que, fosse como fosse, Rick tinha sido bem rápido ao segui-la.

— Quer ir embora?

— Não. Ele já deve ter ouvido o barulho deste motor.

Stoney estacionou na garagem aberta, mas não saiu do carro. Sabia que o assunto devia ser resolvido por Sam e Rick

apenas.

Rick estava na cozinha, sentado à mesa velha, bebendo um copo de limonada, que servira da jarra deixada por Stoney

sobre a pia. Assim que o viu, Sam sentiu o coração bater mais forte.

— Há quanto tempo está aqui? — quis saber.

Os olhos muito azuis dele dirigiram-se ao relógio em forma de gato que Stoney mantinha numa das paredes.

— Na Flórida? Aproximadamente duas horas. Nesta casa, há dez minutos.

— Quebrou a fechadura! — Stoney gritou da entrada, onde avaliava o estrago na porta.

— Vou lhe comprar outra. — Rick levantou-se. Voltou-se para Sam: — Tomei a liberdade de colocar sua mochila no

carro.

— Mas...

— Você me deve quatro pneus. Mas poderei perdoar a dívida se voltar a Solano Dorado comigo.

— Isso é chantagem!

— Negócios, eu diria. Além do mais, quero berrar com você e detestaria fazer isso diante de Walter.

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— Eu também não gostaria nada. — Stoney entrava na cozinha, trazendo o folheto com amostras de tinta que havia

pegado para escolher a cor dos escritórios.

— Está bem. — Sam não queria que Rick pensasse que precisava de Stoney para proteção. — Mas não espere

desculpas pelos pneus.

— Vamos negociar. Isto chegou para você. — Ele tirou uma folha de papel do bolso do paletó.

— Leu minha correspondência?!

— Chegou pelo meu fax, querida.

Sam pegou a folha e, dando um beijo no rosto de Stoney, prometeu:

— Vejo você pela manhã.

— No escritório?

— Claro.

Já na calçada, Rick abriu a porta do carro e indagou:

— Então, ficou com o imóvel que Stoney escolheu?

— Sim. Fechamos negócio há pouco.

Ela se acomodou no carro e, quando Rick se sentou a seu lado, ouviu-o perguntar:

— Vou poder ver o lugar?

— Provavelmente, não.

— Bem... Roubos são sua área, mas negócios são a minha. Por que não me deixa ajudar?

— Pare de se intrometer, ou, na próxima vez em que eu decidir fugir, não vai conseguir

me encontrar.

— Entendo que isso seja importante para você, mas... Se me deixar de fora, estará me

excluindo da sua vida.

— Está com ciúme da minha nova atividade? É isso?!

— Não. Mas não gosto de ser excluído de uma mudança tão fundamental na sua vida.

— Mesmo assim... Não quero que vá. Não o estou excluindo do que se passa comigo.

Sabe que sou boa em tudo no que me aventuro, não?

Ele assentiu de leve.

— Muito bem. Nunca tentei algo como agora. E, se você interferir, o negócio não será meu e não terá valor. Faz

sentido?

Rick dirigiu em silêncio por minutos, digerindo aquelas palavras. Por fim, assentiu novamente.

— Ah, até que enfim! — exclamou Sam.

— Será que posso, pelo menos, indicar-lhe alguns clientes?

— Desde que não presuma que vou aceitá-los todos. Também conheço gente de dinheiro, embora a maior parte eu

tenha... Roubado.

Ele respirou fundo e ergueu as sobrancelhas.

— Dê uma lida no fax — instigou. Ela quase se esquecera do papel.

— Charles Kunz. É um industrial, não?

—Sim. Do ramo de plásticos. Eu jogo pólo com o filho dele, Daniel. O pai é um tanto... Cáustico, mas... Você nunca

roubou deles, roubou?

— Não. Acho que vai me fazer essa pergunta com freqüência, não?

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— Provavelmente. Vai contar a verdade quando a resposta for afirmativa?

— Talvez.

Bem, seja como for, ele quer marcar um encontro com você.

— Maravilha! Já tenho gente interessada!

— Pode usar meu escritório em Solano Dorado, se quiser.

— Não. Vou pegar umas cadeiras emprestadas e atendê-lo no meu escritório. Stoney poderá passar por recepcionista.

— Isso não vai impressionar Kunz.

— Pelo que diz no fax, ele sabe que ainda estou me estabelecendo.

Mais alguns minutos de silencio, enquanto seguiam pelas ruas de Palm Beach, até que Rick perguntou, parecendo

contrariado:

— Vai querer viver aqui, não?

— Sim. Gosto da cidade. Você não?

— Comprei Solano Dorado. É uma boa indicação de que gosto.

— Mas há aquela lei que diz que você só pode passar dez semanas por ano nos Estados Unidos, não é?

— Se pagar um imposto, posso ficar mais.

— Muito mais?

— Não muito, se você quiser, de fato, minha companhia.

— Muito bem, eu quero.

Rick sorriu, e seu coração parecia querer estourar de alegria. Sabia, porém, que com Sam precisava sempre ter muita

paciência.

Reinaldo, o rapaz latino que fazia às vezes de caseiro, veio recebê-los. Anunciou logo que Hans, o cozinheiro, já tinha

estocado muitos potes de sorvete, de que Sam tanto gostava. Toda a criadagem, Rick sabia, gostava demais de Sam.

Assim que subiram para o quarto, ele tomou-a nos braços para dar-lhe um beijo longo e saudoso.

— Ei, só se passaram algumas horas... — Sam protestou, sorrindo.

— Mas um oceano inteiro ficou entre nós nesse período de tempo. O que posso fazer se sinto tanto a sua falta?

— Sou irresistível, então?

A resposta foi mais um beijo, que acendeu, em ambos, o desejo já tão conhecido.

— Adorei você ter vindo — sussurrou ela, entregando-se.

— Eu também.

Sam seguia guiando o carro que Rick lhe emprestara, com ele ao lado.

— Vamos aos escritórios de Tom? — ele indagou, reconhecendo o lugar.

— Não. Ao meu. Você disse que queria vê-lo. Mas não quero nenhum conselho seu certo?

— Tudo bem.

Rick a seguiu até as salas alugadas. No caminho, sem conseguir evitar, ainda insistiu que ela deveria abrir filiais em

outras cidades. Sam pensou logo em Veneza e no Michelangelo, mas policiou os próprios pensamentos.

— Stoney está escolhendo a mobília — disse, assim que entraram numa das salas.

Em silêncio, Rick inspecionou todos os ambientes, depois comentou:

— É muito bom. Muito bom mesmo!

— Obrigada.

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— E Tom vai ficar uma fera quando descobrir que você está bem diante dos escritórios dele. Sam teve de rir.

— Foi o que pensei. Não é maravilhoso? Mas não diga nada a ele. Quero ter esse prazer.

Stoney chegou, então, trazendo um vaso com uma delicadíssima orquídea.

— Os proprietários enviaram isto como presente de boas-vindas.

— Mas que linda! — Sam percebia, mas ignorava a falta de palavras entre os dois homens.

— Sei quanto gosta de flores e jardins — Rick observou. — Aliás, vou mandar livrar uma boa parte da área em torno

da piscina para que você faça seu jardim particular ali.

Stoney pigarreou, vendo o olhar apaixonado que Sam lançava a Rick.

— Mandei colocarem um telefone e um fax — anunciou.

Ela verificou as horas. Podia retornar o fax de Charles Kunz com um telefonema. Entregou a flor a Rick e disse:

— Obrigada, Stoney. Agora, vocês dois podem sair e dar uma voltinha. Preciso fazer uma ligação.

Os dois se entreolharam. Saíram para a recepção e, ali, Rick perguntou, só para ter o que falar:

— Está gostando da vida nova?

— Não muito. Acha que Sam está?

— Parece que sim.

— Pretende ficar muito tempo em Palm Beach?

— Sim.

— E ela vai ficar com você?

— Vai, mas não acho que isso seja do seu interesse.

Stoney ergueu as sobrancelhas. Mesmo assim, insistiu: - Não quero interferir, mas sei que tem uma vida muito ativa, e

Sam vai ter seu próprio negócio...

Sam retornou, animada:

— Ei, inglês, quer sair comigo esta noite? Rick se voltou, aliviado pela interrupção.

— Claro! Aliás, ia convidá-la para um evento de caridade; é algo bem exclusivo. Pode encontrar clientes em potencial

por lá.

— É o evento de caridade no Clube Everglades?

— Sim.

— Ah, já consegui ingressos!

— Conseguiu?

— Eu também tenho conexões importantes, meu caro.

— Para quem você ligou?

— Falei com a secretária de Kunz. Ele quer me ver no clube esta noite e forneceu os ingressos.

— Ah, então é a minha conexão que está usando...

— É mas você o passou para mim, lembra?

Era um jantar dançante, que acontecia uma vez por ano, marcando a temporada de inverno da cidade. Rick nunca

estivera presente, por não apreciar as condições restritas impostas aos membros do clube. Quando se encontrava na

Flórida, gostava de trabalhar, mas, como a de Sam, sua vida também havia mudado muito ultimamente.

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Tinha um projeto atual sendo desenvolvido com os diretores de uma empresa. Estava acabando de se arrumar para a

festa; entrou no banheiro para fazer o nó da gravata borboleta, quando viu a nota em papel amarelo que Sam deixara

colada ao espelho:

Estou no jardim, perto da piscina.

Rick sorriu, pegou o bilhete e enfiou-o no bolso. Depois seguiu até a sacada do quarto, para dar uma olhada na

piscina. Sam estava junto ao deque. Escolhera usar vermelho e estava magnífica. Sorrindo novamente, Rick desceu pela

escadaria externa, que levava àquela área da propriedade.

— O que está fazendo? — perguntou.

— Falava a sério quando disse que vou ter meu próprio jardim aqui? Ah, a propósito, você está um "gato"!

— Obrigado. Você também está de tirar o fôlego. E, sim, esta área será só sua. Mas, se preferir outra parte...

— Não, não. Mas, sabe? Não tem que ficar dando-me coisas. Estou aqui por sua causa apenas. Quero apenas a sua

confiança.

— Já a tem. — Ele tomou-lhe a mão. — E seria mais fácil se aceitasse o que quero lhe dar.

— Fácil para qual de nós dois?

— Para ambos. Poderia aceitar meus conselhos.

— Obrigada.

— Vamos, então?

— Claro!

Limusines lotavam a entrada esplendorosa do clube. A imprensa estava cobrindo o evento e havia celebridades e

políticos por toda parte. - Não achei que seria tudo isso — Sam comentou, olhando de dentro da Mercedes de Rick.

— Mas é o evento que abre o inverno e há de tudo aqui esta noite.

— Câmeras, inclusive.

— Vai ter de se acostumar. Todos sabem quem você é agora e uma foto a mais não fará diferença. — Ele se inclinou

para falar com o motorista: — Bem, deixe-nos aqui.

— Mas vamos ter de andar muito! — Sam protestou.

— Será melhor andar do que ser recebido na boca do leão, onde a imprensa está mais presente.

De fato, mesmo tendo de caminhar entre muitos repórteres, o grosso deles encontrava-se do outro lado. Havia garotas

ali que pertenciam ao fã-clube de Rick, e isso fez Sam rir. Como elas tinham imaginado que ele estaria ali?

— Vão querer autógrafos — ela comentou.

Entraram e logo se viram mesclados a uma enorme quantidade de gente famosa. Sam aceitou uma taça de champanhe

de um garçom e tomou um gole, olhando ao redor.

— Está causando admiração — Rick comentou, devido aos muitos olhares masculinos que lhe eram dirigidos. Aqueles

que não sabiam que era contratada para a segurança de Rick Addison deviam estar se perguntando quem era.

— Alguma de suas ex-namoradas está aqui?

— Talvez. Por quê?

— Para eu poder "trocar figurinhas" com ela.

Pela primeira vez, Sam demonstrava um ligeiro sinal de ciúme, e isso agradou a Rick.

— Veja. Charles Kunz está logo ali. Quer que eu os apresente? Uma onda de nervosismo a tomou, mas ela se

controlou.

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— Não. Quero fazer tudo sozinha. Além do mais, aquela garota com o vestido transparente, perto da porta, não tira os

olhos de você. Devia ir dizer-lhe "olá" antes que a pobrezinha tenha um ataque.

Rick soltou-lhe a mão e sorriu.

— Daqui a pouco nos veremos, então. Boa sorte.

— Obrigada.

Sem vacilar, apesar da tensão, Sam seguiu até seu cliente em potencial.

— Sr. Kunz? — Notou que ele tomava vodca, a mesma bebida responsável por levar seu pai ao túmulo. — Sou

Samantha Jellicoe.

Ele aceitou-lhe a mão estendida.

— Como está? Já vi fotos suas nos jornais.

— Obrigada pelas entradas para a festa.

— Não foi tão cortesia assim, pois espero uma doação de Addison.

— Bem, gostaria de discutir algo agora ou prefere marcar uma hora?

— Agora. Detesto encontros de negócios em lugares fechados.

— Muito bem, então por que não me diz qual é a sua preocupação? Por segundos, ele apenas a encarou, até que disse:

— Conheceu Peter Wallis?

— O homem que foi responsável pelo assalto na casa de Rick? Sim.

— E... Lutou com ele? Quero dizer, fisicamente? Sam vacilou; não sabia aonde ele queria chegar.

— Sim. — Wallis fora o responsável pela concussão que a deixara duas semanas no hospital.

Kunz sorriu o que chegou a surpreendê-la.

— Ouvi rumores a respeito da senhorita e de seu pai. Sei que ele morreu na prisão.

— Eu nunca escondi isso.

— Eu sei. O fato é que não acredito que não lhe tenha seguido as pegadas.

— Se não confia em mim, Sr. Kunz, talvez seja melhor contratar outra pessoa.

— Eu não disse que não confio. Na verdade, gosto de como leva sua vida. E é preciso coragem para sair de algo

assim.

— Obrigada. Mas... Posso saber aonde quer chegar?

— Bem, tenho muito dinheiro e influência e conheço muita gente interessada nisso tudo. — Kunz continuava bebendo

sua vodca.

— Está precisando de um guarda-costas, então? Posso indicar-lhe algumas pessoas, mas o meu negócio é mais no

setor de proteção e prevenção.

— Não, nada de guarda-costas. Mas devo confessar que me sinto ameaçado.

— Não seria melhor dirigir-se à polícia, então?

— Poderia me indicar um bom investigador?

Sam sorriu. Ela, indicando um policial...

Nesse momento, um sinal soou, e alguém anunciou que o jantar seria servido. Rick aproximou-se, estendendo a mão

para Kunz.

— Como vai, Addison? A sua Srta. Jellicoe, aqui, é extremamente charmosa.

— Também acho.

— Bem, não quero parecer mal-educada, Rick, mas ainda tenho que acertar alguns detalhes com o Sr. Kunz.

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— Não, não. — Kunz encarou-a. Parecia querer dizer algo mais, mas preferiu convidar: — Vá até a minha casa

amanhã, às duas. Quero esclarecer mais alguns pontos com a senhorita.

— Como preferir, Sr. Kunz.

— Charles. E, por favor, permita-me que a chame também pelo primeiro nome. Nada de formalidades. Tenham uma

boa noite.

Sam observou-o conversar com um rapaz mais jovem e muito parecido com ele. Imaginou ser seu filho Daniel.

Sentira-o preocupado.

— Está com fome? — ouviu Rick perguntar e voltou-se.

— Já teve a impressão de estar se metendo numa grande encrenca?

— Por quê? Sentiu-se isso, não aceite o serviço.

— Não falo de mim, mas dele.

— Charles Kunz? Acho que ele tem mais sede do que preocupações. Viu como bebe?

— Eu bem que gostaria de falar um pouco mais com ele antes do fim da festa. Tenho quase certeza de que algo muito

ruim o está deixando tão tenso.

— Com certeza, ou não teria pensado em contratá-la.

— Ah, acha que eu atraio encrencas, então?

— Não. Atrai a mim, isso sim. Agora, venha. Vamos comer. Pelo visto, esse jantar vai me custar, no mínimo, dez mil

dólares; portanto, pretendo aproveitá-lo ao máximo.

— Rick! Oh, meu Deus! É você mesmo!? Sam sentiu-o apertar sua mão mais do que necessário.

— Boa noite, Patrícia — saudou-a, voltando-se para a mulher que se aproximara. Depois fez as apresentações: —

Sam, esta é Patrícia Wallis. Patrícia, Samantha Jellicoe.

Sam encarou a ex-esposa de Rick, tentando mostrar-se calma.

— Como está, Patrícia?

— Ótima! Mas que bom encontrá-los depois de tanto tempo.

O aperto de mãos não foi, de fato, um aperto. Os dedos de Patrícia estavam úmidos, fracos, deixando transparecer seu

nervosismo disfarçado pelo sorriso aberto.

— O que está fazendo aqui? — O tom de Rick era suave, mas seus olhos para a ex-mulher eram frios.

— Vim para a festa e o início da temporada. Um pouco de movimento, você sabe... Fico muito entediada em Londres

agora. Na verdade, estou num dilema. Posso lhe fazer uma visita amanhã para conversarmos?

Sam imaginava que ele fosse recusar, mas, depois de alguma hesitação, viu-o assentir.

— Às nove. No café-da-manhã.

— Esplêndido! — Patrícia colocou a mão em seu braço e deu-lhe um beijo no rosto. — Obrigada, Rick.

Assim que ela se foi, Sam entreabriu os lábios, mas Rick foi mais rápido:

— Não quero falar sobre isso. Não agora.

Mesmo que quisesse, ela não conseguiria dizer nada, porque uma belíssima top model tomou Rick pelo braço,

animada, falando sobre determinadas férias nos Alpes suíços. Com paciência, Sam esperou até que a conversa terminasse

e depois seguiu com Rick até a enorme sala de jantar. Ao entrar, viu uma dama da alta sociedade enfiando um pequeno

enfeite de cristal na bolsa.

— Você viu aquilo?! — exclamou surpresa.

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— O quê?

— Oh... Nada.

Muito bem, Rick queria que ela fosse uma mulher direita numa sociedade onde até damas refinadas roubavam,

certamente por prazer. Era a eterna busca pelo perigoso, o proibido, avaliou. Para Sam, porém, o proibido sempre fora

muito mais do que uma simples peça de cristal. Um Michelangelo, talvez... Olhou para Rick, notando-o absorto. Havia

muitas maneiras de trair alguém, imaginou. Por isso mesmo sentia-se sempre em cima do muro. Ele poderia perdoá-la se,

um dia, ela viesse a escorregar?

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Capítulo III

azia algum tempo que Rick observava Sam, que dormia tranqüilamente a seu lado. Fora uma ardente noite de

amor a que tiveram. Uma noite para não ser esquecida. Lembrou-se da festa. Quando Sam vira Patrícia, achou

que ela fosse fazer-lhe uma série de perguntas, mas nada dissera. Tinha ficado calada e um tanto distante o

tempo todo. O que isso poderia significar?

Mais inquieto ainda estava pelo fato de Sam não questioná-lo por ter convidado a ex-mulher para o desjejum.

Os olhos muito verdes dela abriram-se de repente.

— Bom dia — murmurou, ainda com sono.

— Bom dia. Por que parece tão inocente quando está dormindo?

— Estou economizando para poder ser maliciosa durante o dia. Houve alguns segundos de silêncio, nos quais Rick

apenas a olhou.

— O que há?

— Vai ficar bem com Patrícia vindo para tomar café?

— Parece-me um tanto esquisito, mas... Acho que deve fazer o que você considera correto. Afinal, foi ela a errada no

seu rompimento e não deve sentir-se culpado ou embaraçado.

— Puxa, sentiu todo o problema só em olhá-la?

— Ela é um problema. Mas acho que também sou não?

— É sim. E acho que o desjejum com vocês duas será, no mínimo, interessante.

Sam sorriu, deu-lhe um beijo e foi até a porta do banheiro.

— Não estarei aqui — avisou. — Vou até o escritório para ver se mandaram algum currículo. E também preciso me

preparar para um encontro.

— Está falando de Kunz?

— Exatamente. Mas não é só por causa dele que vou sair. Acho que você e Patrícia precisam conversar a sós.

Ela se fechou no banheiro. Rick aproximou-se da porta, ainda intrigado, e observou:

— Está sendo muito compreensiva.

— Sempre sou. E tenho mais o que fazer além de me engalfinhar com Patrícia Addison-Wallis.

— Muito bem, então. Estarei em casa, escrevendo um artigo para uma revista de negócios, caso precise de mim para

alguma coisa.

Sam saiu pouco antes das nove. Rick sabia que, se Patrícia seguisse o velho costume, chegaria atrasada. Sentiu-se

ridículo devido à pressão que pesava sobre seus ombros. Estava acostumado a enfrentar tubarões da indústria e da

política todos os dias, e hoje, por causa de um simples café-da-manhã com a ex-esposa, sentia-se bastante nervoso. O fato

de, três anos antes, tê-la surpreendido na cama com seu amigo, Peter Wallis, pesava também.

Para sua surpresa, porém, precisamente às nove horas, Patrícia chegava com seu carro de luxo alugado.

— É bom vê-lo novamente, Roberto — ela saudou o caseiro.

— Sra. Willis.

— Wallis — ela corrigiu. — Addison-Wallis.

F

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— Desculpe-me, mas a senhora tem tantos nomes... — Reinaldo sorriu e acompanhou-a até a entrada, onde Rick

aguardava.

— Obrigada por me receber. Eu não tinha certeza se o faria.

O desjejum seria servido na sala de jantar, para onde se dirigiram em seguida.

— O que a trouxe à Flórida? — indagou Rick.

— Vejo que colocou um novo papel de parede. É lindo! Reformou a galeria do andar superior também?

— Considerando que foi seu marido quem a explodiu... Acho que não é da sua conta.

—Meu ex-marido, você quer dizer. Estou me divorciando de Peter. Enquanto digeria a novidade, Rick fez um sinal à

criada e logo o café-da-manhã começou a ser servido.

— Não vai comentar nada, Rick, sobre o meu divórcio?

— Por quê?

— Bem, ele está na prisão, esperando julgamento por ter matado duas pessoas e também por contrabando e roubo!

Não é motivo suficiente para eu me divorciar?

— Não sei. Não estou familiarizado com o seu código de moral.

— Rick, por favor, não comece.

— Só estou surpreso por você ter vindo até aqui para dizer-me que cometeu outro erro.

— Eu nem sabia que você estava na Flórida. Mas fiquei feliz ao vê-lo. Você foi meu primeiro amor, e os primeiros

oito meses do nosso casamento foram... Excepcionais!

Houve alguns minutos de absoluto silêncio, enquanto se serviam de chá e torradas.

— Sua... Amiga não vai se juntar a nós? — Patrícia perguntou, de repente.

— Sam tinha um compromisso.

— Ouvi dizer que ela está montando uma firma de seguros. Como se sente ao vê-la trabalhando, já que...

— Patrícia, por que está aqui? E não me venha com essa bobagem de que adora o clima da região.

— Está bem, vou dizer. Você não tornou as coisas fáceis para mim, nem antes nem depois da nossa separação. Eu...

Bem, estou num hotel aqui em Palm Beach. Tive de deixar Londres por causa de Peter. Todas aquelas pessoas que ele

enganou, nossos amigos... E quero a sua ajuda para recomeçar. Desta vez, quero fazer tudo certo. Estou controlando

meus gastos, tentando andar na linha, sendo independente pela primeira vez na vida.

— Se é independente, por que quer a minha ajuda?

— Quero me espelhar em você. Veja: conseguiu tocar a vida em frente, até arranjou uma namorada. Quero conselhos,

ajuda e compreensão. — Patrícia tocou-lhe a mão com dedos frios e trêmulos. Rick conhecia-a bem o suficiente para

saber que, pelo menos agora, não estava fingindo.

— O que quer exatamente?

— - Achei que pudesse me deixar falar com um dos advogados que trabalham para Tom, porque muito do que Peter

possuía vinha de atividades ilegais, e quero saber os meus direitos no divórcio. Pretendo alugar ou comprar uma casa

aqui na Flórida e...

— Espera que eu a ajude a mudar-se para cá?! Patrícia estava com lágrimas nos olhos.

— Reuni todas as minhas forças para vir até aqui. Não posso ficar em Londres! Por favor, ajude-me!

— - Vou pensar no caso. Agora, se me der licença, tenho de me encontrar com Sam. Reinaldo a acompanhará até a

porta.

— Mas...

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— Já pediu o suficiente por um dia.

Rick já se afastava quando a ouviu murmurar:

— Você não deixava seus negócios para ir se encontrar comigo. Ele não respondeu; Patrícia, afinal, tinha razão. Não

se importava muito com ela.

— Deixe o telefone e o endereço do hotel com Reinaldo. Vou pedir que alguém do escritório de Tom a procure.

— Obrigada, Rick! Não sabe o que isso significa para mim! Rick se foi, pensativo. Sabia que ela jamais mudaria. Era

charmosa, bonita, educada, mas... Acabara mostrando as garras com o passar do tempo; até a traição final. Também

ele tinha procurado outro amor. E agora estava completamente envolvido para voltar atrás.

— E então? — Stoney perguntou.

— Está tudo ótimo. Não me interessa que rádio escolheu. Só quero saber de onde veio este fax e por que há este

adesivo na parte de trás escrito "Propriedade de Dunbar e Associados".

Ele apareceu, vindo da sala ao lado.

— É sempre bom deixar uma estação de rádio bem tranqüila tocando ao fundo — disse.

Sam estava concentrada na planta da casa de Charles Kunz. Muitos de seus antigos contatos continuavam eficientes.

Teria demorado mais de uma semana para conseguir aquela planta, não fosse por eles.

— Vamos ver... Uma estação que toque música clássica?

— Não. Qualquer estação de rádio pode fazer propaganda de outra firma de seguros. Vamos... de onde veio o fax?

Vou ter de ligar para a Dunbar e Associados para saber?

— Não teria se estivéssemos em Veneza.

— Stoney!

— Foram à falência, está bem? Bill Talmidge estava com alguns dos equipamentos e me ofereceu uma barganha.

Sam conhecia Bill. Era também do ramo de roubos, mas mantinha um negócio legalizado de compra e venda de

objetos usados.

— Jura?

— Pelo amor de Deus, Sam! Onde foi que aprendeu a ser tão desconfiada?

Stoney sentou-se diante dela, vendo-a estudar a planta. Vivenda Coronado era o nome do solar. Sam sabia por onde

poderia entrar, portanto já tinha uma idéia sobre como arranjar a segurança da mansão.

No entanto algo no fundo de sua mente continuava atrapalhando, como vinha acontecendo desde que acordara. Patricia

devia estar agora fazendo cara de coitadinha para amolecer o coração de Rick.

— Por que não sai e vai comer alguma coisa? — Stoney sugeriu.

— O quê? Meu primeiro dia no meu escritório e você acha que não estou agüentando?!

— Eu não disse isso. Parece que vai explodir a qualquer momento, então achei que deveria relaxar um pouco.

— Ouviu isso?

Ele a encarou sem entender.

— O quê?

— Aumente o volume do rádio! Depressa! Ouvi o nome de Kunz!

— Ah, está ficando paranóica.

Stoney foi até a outra sala e fez o que ela pediu. A voz forte e clara do locutor dizia:

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“... milionário Charles Kunz há muito morador de Palm Beach. Tinha sessenta e dois anos e deixa um filho, Daniel, e

uma filha, Laurie. Pelo que a polícia já analisou, a morte foi um homicídio perpetrado por alguém que entrou em sua

mansão com o intuito de roubar. As investigações continuam. Agora, as notícias sobre o tempo..."

— Meu Deus! — Sam sussurrou atônita. Estava a alguns dias na Flórida e pessoas que ela conhecia já começavam a

aparecer mortas!

— Alguém em casa? — A voz de Rick vinha da porta de entrada dos escritórios.

Stoney estava junto à mesa, olhando-a de forma sombria.

— Aqui! — gritou.

— Não quero ser intrometido, mas acho que deveriam colocar uma campainha... — Rick parou à porta, percebendo a

expressão no rosto de ambos. — O que houve?

— Charles Kunz morreu — Sam informou, quase sem voz.

— O quê?

Acabamos de ouvir na rádio. Parece que invadiram a casa dele e o mataram.

— Venha. — Rick puxou-a pelo pulso. — Tom deve estar no escritório. Ele poderá ligar para a polícia e logo

saberemos o que aconteceu de fato.

— Charles Kunz queria a minha ajuda. Rick acha que ele sabia de alguma coisa?

— Um pressentimento? Não acredito nisso. Mas eu lhe disse que ele estava preocupado.

— Seus instintos falam alto. Foi apenas uma coincidência. Charles não lhe pediu ajuda. Queria apenas uma proposta

de negócios para colocar a casa em segurança. Poderia aceitá-la ou não.

Não era isso o que Sam sentira. Kunz tinha, sim, pedido sua ajuda.

— Eu pensaria que se tratava apenas de negócios se ele não estivesse morto agora.

— Não exagere. Se ele estivesse mesmo, preocupado com a sua segurança pessoal, teria avisado a polícia ou já

contratado outra firma de segurança.

— Se estiver assim tão certo, por que irmos falar com Donner?

— Para provar a minha teoria.

Seguiram para o maravilhoso prédio do outro lado da rua. Sam sentia que Rick estava lidando com a situação, com ela

própria, e não gostava disso. Mas estava tão imersa em seus pensamentos sobre a conversa que tivera com Kunz na festa

que o deixava agir. Deveria ter falado com Kunz depois do jantar e certificar-se de que não havia um perigo imediato.

Chegaram ao escritório, onde a secretária os atendeu prontamente, com um sorriso. Sam analisou a moça, tão elegante

e simpática, profissional ao extremo, o tipo de garota que ela precisaria contratar para seu próprio negócio. Mas os

clientes de Donner também cairiam mortos? Não. Isso só acontecia com ela...

— Rick! Que bom que veio! Eu quase tive de ir à tal reunião de diretores! — Tom cumprimentou o amigo com

efusão.

— Como está, Tom? Lembra-se de Sam, não?

O olhar do advogado era uma mistura de divertimento e incômodo.

— Pelo visto, ainda não foi presa, Jellicoe.

— Ainda não. E você? Já arranjou um bom caso?

— Tom, teria um minuto? — Rick interferiu no sempre constante desentendimento entre Sam e Tom.

— Claro. O que ela fez desta vez?

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Entraram na sala privativa. Lá, Sam mostrou a língua a Donner, detestava advogados, mas, bem no fundo, respeitava

aquele em particular. Notara que todos os funcionários pelos quais tinham passado conheciam Rick. E ele sabia até seus

nomes. Detalhe costumava dizer; tudo estava nos detalhes.

— Ouvi dizer que montou um escritório — Donner comentou. Sentando-se atrás de sua mesa, apontou para as duas

cadeiras estofadas diante dela, para que a ocupassem. — Rick me disse que eu teria de perguntar-lhe onde fica.

Sam apontou para o outro prédio.

— Ali.Está vendo o escritório com as persianas abertas? É o meu.

O sorriso que Tom Donner ostentava desapareceu.

— Está brincando...

— Não estou não. Apareça para tomar um café. Ah, mas terá de levar o café, porque ainda não compramos uma

cafeteira. Donner voltou-se para Rick:

— Ela disse "não compramos". Está nesse negócio também?

— Não. Sam e Walter Barstone.

— O trambiqueiro?! Sam forçou um sorriso.

— Não é mais — explicou. — Agora, somos sócios.

— Isso é... Assustador.

— Obrigada!

—Bem, mas não foi por isso que viemos — Rick mudou de assunto.

—Não? Então, se o objetivo não era causar-me um aneurisma, do que se trata?

— Já soube sobre Charles Kunz?

—Ah, sim. Um dos meus advogados estava na delegacia quando houve o chamado pelo rádio.

— E ele ouviu algo de interessante?

— Não... Esperem um pouco. Jellicoe teve algo a ver com essa morte? Aliás, sou seu advogado, Rick, e preciso saber.

— Não tive nada com isso! — Sam protestou. — Meu Deus, você é paranóico?

— Não. Sou experiente. Se não é isso, qual é o seu interesse em Kunz?

— Ele pediu orientação de Sam sobre a sua segurança ontem à noite — Rick respondeu por ela. —E, antes que

revelemos esse detalhe a mais alguém, prefiro saber mais detalhes.

Donner assentiu; pensou um pouco e levantou-se. - Esperem aqui. Vou dar uns telefonemas e ver o que consigo

descobrir.

Assim que ele saiu, Sam também se levantou e foi até a janela. - Por que tenho a impressão que Donner poderia ter

feito os tais telefonemas daqui? Ele não quer que eu ouça o que está havendo.

— É mais provável que não queira suas críticas sobre seu jeito de conseguir informações.

— Está dizendo que eu deixo seu advogado tenso?

— Se quisesse, poderia deixar muito mais pessoas tensas; você é muito inteligente e sabe disso.

Sam ergueu as sobrancelhas, aceitando a explicação. Voltava a pensar em seu cliente, ou quase, morto. Ele a

impressionara e teria feito um belo trabalho em seu sistema de segurança.

Donner voltou pouco depois.

— E então? — Rick adiantou-se.

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— A filha de Kunz o encontrou no chão do escritório com uma bala no peito. Chamou a polícia e os peritos ainda

estão por lá. Por certo, muito dinheiro desapareceu, bem como um conjunto de jóias incrustadas com rubis; tudo que

estava em seu cofre. E acham que algumas peças de arte também foram levadas.

Exceto pela bala no peito de Kunz, parecia um serviço que ela própria poderia ter feito em sua prévia vida de crimes,

Sam pensou, Rick a olhou, embora ainda falasse com o amigo:

— Kunz não tinha nenhum sistema de alarme?

— Sim, tinha — Sam respondeu por Donner.

— Seja como for, ele não disparou — explicou o advogado. — Considere isso um bom indicativo para seu novo

trabalho, Jellicoe.

— Não me lembro de ter lhe pedido conselhos.

— Eu sei, mas, pelo menos, meu primeiro cliente não foi morto assim que me procurou.

— Nem depois, já que Sam salvou a minha vida — Rick tornou a interferir. E, como Kunz não assinou nenhum

contrato com ela, não era seu cliente de fato.

Sam respirou fundo. A situação parecia bem confusa.

— A polícia não tem suspeitos ainda? — ela quis saber.

— Parece que ainda estão falando com a família e os criados. Mas não há por que se preocupar. O sujeito está morto, e

você não tinha um contrato assinado com ele. Assim...

— Mas é estranho ele ter morrido no dia seguinte ao que falou com ela sobre aumentar sua segurança — Rick

observou.

— Quer que eu faça mais perguntas? Ou que tente esconder informações sobre o contato que Kunz teve com Jellicoe?

— Não vai adiantar. A secretária dele sabia que íamos conversar na festa. Até conseguiu os ingressos para mim e

Rick.

— Então, logo os investigadores vão procurar você para esclarecimentos.

— É. Bem, obrigada pela ajuda.

Donner não insistiu; apertou a mão do amigo, mas preferiu apenas assentir para Sam. Certamente lembrava-se muito

bem de ter sido jogado na piscina por ela quando lhe segurara o braço com mais força do que devia, ao serem

apresentados em Solano Dorado.

Já descendo pelo elevador do prédio, Rick notou Sam ainda tensa.

— Relaxe. Nada vai acontecer.

— Já teve a sensação de estar à beira de um precipício?

— Freqüentemente. — Rick lembrou-se do acordo que fizera com Patrícia para ajudá-la. Por isso, achou melhor abrir

o jogo antes que Sam descobrisse tudo sozinha e perdesse o pouco de confiança que tinha nele: — Está preparada para

o primeiro passo para dentro desse precipício?

— Oh... Está bem, vá em frente.

— Patrícia está se divorciando de Peter. Parece que, finalmente, encontrou um pouco de moral dentro de si mesma.

Não tanto, porém, que a fizesse afastar-se dele logo depois de vê-lo cair em desgraça.

— Parece-me normal. Afinal, ela não ia querer que seus amigos a hostilizassem por ter escolhido um assassino e

ladrão por marido.

— Pois é, mas já se sentiu hostilizada. Por isso, quer morar fora de Londres. E está procurando uma casa aqui, em

Palm Beach.

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Sam encarou-o, muito séria.

— Aqui. Ah, quer você de volta!

Saíram do elevador e ela passou a andar tão depressa que o fez acelerar o passo para acompanhá-la.

— Não se trata disso.

— Não? Prove.

—Patrícia precisa de alguém que a oriente com a papelada e pensou em mim. Além do mais, ela se sente bem num

tipo de sociedade como a daqui. Muitos dos seus amigos mais chegados de Londres têm casas de veraneio na Flórida.

Não consigo vê-la em uma cidade fria ou sem muita diversão.

Já atrás do volante do carro, Sam o encarou.

— E que tal Veneza, Milão, Nova York? Não. E sabe por que não? Porque você está aqui. E depois, se ela tem amigos

com casas de veraneio por aqui, por que pediu a sua ajuda?

— Está com ciúme?

Ela preferiu não responder.

— Para onde estamos indo?

— Solano Dorado. Preciso pensar.

Depois de alguns minutos de silêncio, Sam voltou-se para Rick.

— Como pode ser tão cego? Ela volta, fazendo-se de donzela desesperada, e você se deixa enganar!

— Ela não...

— Oh, Rick, preciso da sua ajuda! — Sam imitava os gestos e o sotaque de Patrícia. — Deixei Peter e quero tanto

recomeçar! Mas não sei o que fazer... Estou tão sozinha! Você é forte, inteligente, bem-sucedido! Por favor... Vê?! Ela o

quer de volta!

— Bem, Patrícia não vai me ter. Mas pediu minha ajuda e sou parte do motivo pelo qual está em sua atual situação.

— Não. Ela dormiu com o seu amigo. Buscou sua atual situação e, você não resiste a vestir sua armadura de cavaleiro

salvador. Se e posso ver isso, Patrícia também pode!

— Sam... Acho de fato, que ela não sabe direito o que fazer. Se e a deixasse no meio da rua, mal saberia encontrar

uma loja de conveniência para comprar fosse o que fosse.

— Patrícia não quer comprar nada!

Pararam num semáforo e Rick aproveitou para beijá-la apaixonadamente.

— Não se preocupe — sussurrou. — Não vai ter de lidar com ela.

— Mas você vai! E lembre-se de que Patrícia tem um site onde dá conselhos sobre como não se prejudicar num

divórcio!

— Ela tem?!

— Sim, e é bem interessante.

— Pois vou exigir que ela acabe com esse site como condição para receber minha ajuda.

— Claro. Patrícia não vai mais precisar do site, já que estará tentando reconquistá-lo, fazendo-o de tolo.

— Ninguém me faz de tolo, Sam.

— Ninguém ainda fez.

Patrícia recolocou os óculos de sol, vendo o carro esporte passar a toda velocidade. Com certeza, Jellicoe não

respeitava lei alguma, o que não era novidade. Poderia segui-los, mas tinha uma sessão de massagem dentro de quinze

minutos e, se cancelasse, teria de pagar, da mesma forma. Precisava economizar agora. Seguiu para lá, com um suspiro.

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Ver aquela vadia com Rick era penoso demais. Achara que já deviam estar separados, como acontecia com todos os

namoros dele, mas estavam juntos fazia três meses! E, pior do que isso: ela estava dirigindo seu Bentley! Com ele ao

lado!

Pensaram que não soubesse das atividades de Peter, mas começou desconfiar delas e, assim que ele foi preso, já estava

ciente de tudo. Peter havia mandado alguém contratar Jellicoe para roubar Rick. Tentara tanto fazer com que prendessem

a vadia, mas não tinha conseguido!

No semáforo, olhou-se no retrovisor. O sol da Flórida, mesmo no inverno, era forte e fazia aparecer rugas nos cantos

de seus olhos. Graças a Deus estava num hotel com sessões de massagem e relaxamento. Ainda mais com a festa que

haveria nessa noite e à qual Daniel pretendia comparecer, apesar da morte do pai. Afinal, era outra festa de caridade, uma

das favoritas do velho Kunz.

Havia sido muita sorte Daniel se encontrar do outro lado do salão quando encontrara Rick e Jellicoe no jantar

dançante. Ele ficaria muito menos propenso a ajudá-la se soubesse que estava saindo com alguém. Não que não

abandonasse Daniel se Rick a quisesse de novo...

Patrícia sorriu para si mesma. Tinha sido fraca, deixara-se levar pela paixão, mas havia sempre tanta tentação no tipo

de vida que ela e Rick levavam quando casados! Tinha pedido desculpas, dissera que iria falar com um consultor

conjugal, mas de nada adiantara; tivera de fazer algo para não parecer que dormia sempre por aí, com outros homens.

Então, havia se casado com Peter. E ele estava mais obcecado por Rick do que ela própria.

Agora, porém, estava sem marido, com pouco dinheiro e apenas um namorado e um plano; tinha também um ex-

marido bilionário, lindo e charmoso. E aquela tal Jellicoe dormia com Rick. Pelo que havia entendido, tinham-se

conhecido na noite da explosão na casa dele. O perigo e o crime deviam estimulá-los muito. Para ela, porém, bastava

pensar em Rick. Já era estímulo suficiente.

Assim que fizeram a curva atrás da qual aparecia Solano Dorado, Sam pisou nos freios. Diante da entrada da mansão,

estava parado o carro antigo e enorme e, recostado nele, comendo sementes de girassol de um saquinho pardo, um

homem de meia-idade, com vasto bigode grisalho e aparência latina.

— Não me diga que convidou Frank Castillo para o almoço! — Sam comentou, contrariada.

— Não.

— Então, a Homicídios está assando ao sol só para dizer olá. Bem, vamos descobrir.

Tentando controlar a tensão por estar diante de um policial, Sam deixou que Rick fosse à frente.

— Bom dia, Frank! — Rick saudou.

— Como está, Frank? — perguntou Sam em seguida.

— Bem, obrigado. Você está maravilhosa.

— Mesmo? Olhe, sem ofensa, mas eu estava melhor antes de ver você.

Castillo teve de rir.

— Não duvido. Sabe, então, por que estou aqui?

— Talvez. Mas diga, mesmo assim.

— Charles Kunz. Fui indicado para o caso.

— Sim, ouvimos que ele foi morto — Rick comentou. — Espero que não ache que Sam tem algo a ver com isso.

Afinal, estava comigo a noite toda.

— Acho que você diria qualquer coisa para protegê-la, mas, na verdade, só vim para fazer algumas perguntas sobre a

conversa que ela teve com Charles Kunz ontem à noite. A secretária me disse que eles iriam conversar na festa.

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Sam ia dizer algo, mas Rick foi mais rápido:

— Precisamos de um advogado, Frank?

— Não. Pelo menos, ainda não.

— Mas posso ser suspeita...

— Não, se seu álibi for verificado. Fiquei até aliviado quando soube que havia conversado com Kunz. Tem bons

instintos e imaginei que, se houvesse algo de estranho com ele, você teria percebido.

Castillo parecia inclinado a acreditar nela e isso a deixou menos tensa. Talvez fosse bom ter um amigo investigador,

afinal.

— Está com fome? — Sam perguntou, sorrindo.

— Sim! Ei, Rick, o seu cozinheiro vai ainda preparar aqueles deliciosos sanduíches de pepino?

— Mas claro, vamos entrar!

Rick pediu os lanches e os três seguiram para a piscina. Acomodaram-se a uma mesa embaixo da tenda armada sobre

o gramado.

— Muito bem, o que deseja saber? — Sam adiantou-se. Castillo tirou seu caderninho de anotações do bolso e

perguntou:

— Por que Kunz quis falar com você?

— Estou abrindo uma firma de segurança.

— Eu sei. O Departamento inteiro sabe, aliás. Provavelmente, o FBI e a Interpol também. "Jellicoe Segurança" é o

nome, certo?

— É. E o que todos acham?

— Estão à espera para ver no que dá. Imagino que, se houver uma série de roubos onde estiver trabalhando, você irá

responder por isso.

— Não vai haver nada — Rick defendeu-a. — A idéia do negócio é prevenir esse tipo de coisa.

— Certo. Bem, Sam, Kunz pediu para vê-la, ou a iniciativa foi sua?

— Ele pediu.

— Disse algo específico?

— Não. Enviou-me entradas para o jantar dançante no Clube Everglades. O filho estava presente, mas não junto com

o pai, quando cheguei Kunz bebia vodca; um pouco demais, devo dizer. Quis falar de negócios, disse que algumas

pessoas estavam interessadas no seu dinheiro e na sua influência. Achei que estava querendo um guarda-costas. Sugeri

que falasse com a polícia, e ele até concordou. Íamos nos encontrar hoje, às duas horas, para falarmos de detalhes da

sua segurança.

— Algum outro pormenor de que se lembre?

— Kunz me pareceu preocupado. Mais do que o normal.

— Achava que a sua vida podia estar em perigo?

— Bem, ele não disse uma palavra sobre proteger suas posses; falou apenas a respeito de medidas preventivas em

geral. Portanto acho que suspeitava, sim, de que alguém o queria morto.

— Mais nada?

Mesmo tensa Sam revelou:

— Dei uma boa olhada na planta da casa dele esta manhã, a fim de estar preparada para o nosso encontro.

— E...

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— Já há um sistema de segurança, mas furado.

— Então, não seria um trabalho complicado para um ladrão.

— Não, se quem entrasse soubesse como a casa estava protegida. O alarme tocou? — Mesmo sabendo a resposta, ela

achou melhor perguntar.

— Não — respondeu Castillo. — Ninguém notou nada até que a filha de Kunz foi verificar por que ele não tinha

descido para o café da manhã.

— Quantas pessoas vivem na casa?

— Oito, incluindo os dois filhos.

— Com tanta gente circulando por lá, não seria difícil para uma pessoa entrar.

— Então, acha que foi um roubo comum?

— Não. Na verdade, não acho. Castillo ergueu as sobrancelhas.

— Posso saber por quê?

— Kunz era como Rick. Sempre acostumado a estar no controle. Confiante, um tanto arrogante. Oh, não me olhe

assim! — Sam notava que Rick franzia as sobrancelhas. — Para você, é um elogio! — Voltou-se ara o policial: —

Nossa conversa foi interrompida pelo jantar. Não fosse assim, poderíamos ter falado mais. Depois de comermos, a

festa ficou um tanto... Confusa.

A comida chegou, acompanhada de refrigerantes, e Castillo apressou-se a atacar.

— Guarda-costas significam medo pela vida, não pelas posses — o investigador continuou analisando. — Tem certeza

de que essa era a situação com Kunz, então?

— Essa foi, com certeza, a minha impressão.

— Não é uma base muito boa para desenvolver uma investigação...

— Bem, se me lembro corretamente, Rick não quis falar logo com a polícia quando houve a explosão na casa dele.

Imagino que Kunz agiu da mesma forma.

— Mais alguma impressão que queira registrar?

— Gostei dele. Vai me avisar se souber de mais alguma coisa? Frank Castillo meneou a cabeça.

— Acho que posso dar um jeito. Bem, agora tenho de ir. Vou passar no necrotério. Obrigado pelo almoço.

— Sempre às ordens! Vou acompanhá-lo até o carro — Rick ofereceu. E, voltando-se para Sam, acrescentou: — Não

avance no meu restinho de sanduíche.

Ela fez uma careta, vendo-os afastarem-se. Não gostava nada da idéia de se tornar responsável por todo novo cliente

que arranjasse. Pena ser tarde demais para salvar Kunz; mas não tarde demais para pensar no que fazer para desvendar

sua morte. Talvez fosse isso que ele queria lhe pedir: que ela cuidasse para que alguém soubesse o que estava se

passando.

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Capítulo IV

ocê é quem tem de voltar a Londres — Sam insistiu com Rick.

— Não. Já arranjei para que os diretores venham fazer a reunião aqui. Posso comprar a Kingdom

Fittings tanto daqui quanto de Londres. Mas, voltando ao assunto que interessa: não gostei de Castillo lhe

fazer tantas perguntas.

— Eu já lhe disse mil vezes que posso cuidar dos meus problemas sozinha. Vá ajudar sua ex-mulher, está bem? Se

precisar de alguma coisa, eu aviso. A não ser, claro, que você e Patrícia decidam voltar a viver juntos.

— Não diga bobagens! — Mesmo reagindo às palavras, Rick sabia que um dia tinha amado Patrícia e se casara com

ela, o que agora o horrorizava. Muito embora, como havia prometido, teria de ajudá-la. — Bem, seja como for, não vou

deixar Palm Beach até estar certo de que tudo se resolveu nesse caso da morte de Kunz.

— Não vou apenas ficar observando o desenrolar dos fatos. Kunz me pediu ajuda e eu, de certa forma, o decepcionei.

— Não, Sam...

— Decepcionei, sim. E não me sinto bem com isso. Ele era meu primeiro cliente e, de certa forma, ainda é.

— Sam, sua presença aqui, na noite em que ele morreu, foi comprovada pelos meus criados. Por enquanto, está tudo

bem, mas não pode sair por aí fazendo perguntas, querendo saber mais sobre o assassinato. Você tem um passado com o

crime e pode levantar suspeita.

— Não se preocupe; não vou falar com pessoas que possam ter contato com a polícia.

— Procure não atrapalhar as investigações de Castillo com os seus contatos.

— Sei o que faço. Aliás, você é o homem de negócios bem-sucedido, e eu sou a ladra bem-sucedida. Não serei pega,

prometo.

Rick meneou a cabeça. Não adiantava insistir. Ela era decidida e teimosa.

— O que planejou fazer hoje, então?

— Vou para o escritório. Stoney estará lá. Acho que temos algumas entrevistas com candidatas a recepcionista.

— E depois?

— Acho que vou entrar em algumas mansões, ver se consigo um Rembrandt para a sua coleção.

Rick encarou-a, aborrecido.

— Não gostei da brincadeira.

— Desculpe. — Sam se levantou da mesa. O desjejum fora ótimo, como sempre. — Não se preocupe, não me siga e

não deixe de fazer o que precisa. Até mais.

— Cuide-se.

Ela sorriu e, aproximando-se, deu-lhe um beijo demorado.

— Vou me cuidar — sussurrou, saindo em seguida.

Ao ver-se sozinho, Rick respirou fundo. Agora, Sam iria atrás de um assassino, porque se sentia em dívida com um

cliente morto. Ele, ao contrário, via a situação de forma mais direta: Kunz estava morto, e ela iria se meter em algo muito

perigoso, talvez até ilegal. Precisava dar mais telefonemas do que havia planejado.

Sam decidiu passar na casa de Stoney antes de seguir para o escritório. Deixara alguns acessórios que precisaria para

investigar a morte de Kunz. Tinha certas coisas em casa de Rick também, mas as mantinha bem escondidas, pois não

queria que o FBI ou a Interpol acabassem chegando e descobrindo tudo ali, podendo até incriminar Rick por isso.

Estava já abrindo a porta quando viu a visita matutina.

V

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— Oh, Patrícia... Rick não disse que você viria hoje.

— Ele não sabia. Mas decidi arriscar.

— Como entrou?

— Ainda conheço o código dos portões. — Patrícia sorriu com certa maldade. — Mas, se eu fosse você, certamente

teria pulado um dos muros.

— É. E, com certeza, disparado os alarmes também.

— Eu posso entrar?

— Vou deixar que Reinaldo decida. — Depois de chamar o caseiro, Sam passou por Patrícia e seguiu até o Bentley,

já estava estacionado diante da casa, pronto para seu uso. Se Patrícia queria insistir com Rick, problema dela. E dele.

Tinha coisas mais importantes a fazer. Descobrir quem matara Charles Kunz, por exemplo.

_ Não, não quero deixar recados. Por favor, avise o investigador Castillo que eu liguei. Sim, ele sabe como me

encontrar. Obrigado.

— Rick desligou o telefone de seu escritório, contrariado. Se ligasse diretamente para o chefe de polícia, poderia

atrair mais suspeitas sobre Sam. Precisava ser mais discreto na ajuda que tencionava dar a ela.

— Sr. Addison? — chamou a voz de Reinaldo no interfone.

— Sim?

— A Sra. Wallis está aqui.

A primeira reação foi de dizer um palavrão, mas Rick se controlou.

— Onde a mandou esperar?

— No salão da ala leste.

— Vou descer num minuto.

Irritado, saiu de trás da mesa, agora sem poder conter as duas ou três imprecações que serviram para aliviá-lo um

pouco. Patrícia era seu maior erro, sem dúvida, mas teria de pagar por ele pelo resto da vida?

Encontrou-a no salão, olhando para a tela de Monet pendurada acima da lareira.

—Patrícia...

— Lembro-me de quando comprou este quadro. Passamos a noite em Buckingham, a convite da rainha.

—Por que veio? Eu lhe disse que falaria com Tom.

— Desculpe-me. Eu gostaria tanto que acreditasse que mudei que agora sou outra mulher.

—Mudou de endereço e de continente. O que quer?

— Bem, se eu roubasse coisas, talvez me tratasse de forma diferente, não? Poderíamos agir em dupla, roubar obras-de-

arte, e depois nos divertirmos, passarmos boas noites juntos.

Rick a encarou, aborrecido.

— Está insinuando que se você fosse uma ladra, haveria uma chance para nós?

— Estou dizendo que nós dois poderíamos ter uma vida de aventuras. Acho que você iria gostar. Parece que é isso o

que o excita agora.

— Você não poderia ser como Sam, se é o que quer dizer. Sugiro que desista. Se soubesse o que realmente vejo nela,

não faria esta cena patética.

— Mas ela é uma ladra! O que mais poderia interessá-lo em alguém assim?

— Tudo.

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Patrícia o encarou ofendida. Depois riu.

— Claro que deve achá-la interessante — comentou. — É diferente, charmosa. Foi só uma brincadeira minha. Por

favor, peça a Tom que me ligue. Quero cortar todos os meus laços com Peter e bem depressa. Mas, sabe, não preciso

apenas de assistência jurídica.

— É de dinheiro que necessita? Pode começar a economizar e aprender a comprar em lojas simples, e não de grife.

Isso ajuda muito.

— Concordo, mas acho que não preciso desistir de tudo ou de todas as pessoas com quem estou acostumada a ter

contato.

— Achei que queria uma nova roda de amigos, que nada soubessem sobre o que houve em Londres.

— Rick, minha vida se arruinou. Somente alguns poucos amigos entendem o que me aconteceu, e menos ainda que

queiram continuar freqüentando a minha casa.

— Então, por que não arranja um consultor de imagem pública? Porque esta não é minha área de competência. —

Rick foi até a mesa mais próxima e pegou o interfone. — Reinaldo, por favor, acompanhe a Sra. Wallis. Ela já está de

saída.

— Mas...

— Desculpe-me, eu tenho uma reunião muito importante. Dando-lhe as costas, Rick saiu dali imediatamente. Como

no dia anterior, sua vontade era de ver Sam. Precisava livrar-se do problema que sua ex representava. Assim, ao

chegar ao escritório, a primeira coisa que fez foi ligar para Tom Donner.

Patrícia sorriu para o caseiro, entrando no carro alugado. Sentia-se vulnerável em Palm Beach. Certamente Daniel

apreciara a noite que haviam tido. Ela também gostara. Não era de admirar que Sam Jellicoe roubasse coisas. Patrícia

jamais se sentira tão excitada!

Tocou o bolso onde mantinha o anel de diamante, quando já estava dirigindo pelas ruas da cidade. Não fazia sentido...

A vadia roubava e andava com Rick como se os dois fossem os pombinhos mais apaixonados do mundo. E quando ela

sugeria que poderia fazer a mesma coisa, ele ficava frio, quase grosseiro! Agora, tinha consigo um anel de diamante

roubado e ninguém para ajudá-la. Que desculpa daria para visitar Lydia Harkley novamente e devolver à jóia? Seria

descoberta, com certeza. Também não podia revelar a Rick o que fizera, porque ele havia acabado de deixar bem claro

que achava uma atitude assim, vinda dela, um absurdo sem graça. Poderia, até, acusá-la de tentar imitar a vadia...

De repente, uma idéia maravilhosa lhe ocorreu. Se conseguisse incriminar a vadia e ainda ser uma heroína... Jellicoe

seria presa e Rick estaria livre. Daniel dissera que a vadia tinha um escritório na Worth Avenue. Sorrindo, Patrícia virou

à direita e seguiu para a área comercial de Palm Beach. Poderia fazer compras. Porque, afinal, roubar parecia compensar

bastante.

Ao chegar a seu escritório, Sam impressionou-se: já havia mobília, uma mesa, atrás da qual estava Stoney, e dois sofás

muito elegantes onde, bem acomodadas, nove candidatas a recepcionista preenchiam formulários, mantendo o ar mais

profissional possível. Mais atônita ainda ela ficou ao ver que Stoney usava terno e gravata e, que havia em duas outras

cadeiras estofadas, dois rapazes que, provavelmente, estavam ali também com o intuito de arranjar o emprego oferecido.

— Ah, Srta. Jellicoe poderia me atender em sua sala por alguns minutos? — Stoney perguntou, num sorriso.

— Claro — murmurou Sam pasma.

Na sala, havia mais móveis, alguns dos quais ainda encaixotados.

— Aonde você foi? — Stoney inquiriu, parecendo um tanto aflito.

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— Fui cuidar de alguns assuntos. A propósito, seu vizinho estava roubando as rosas do seu jardim novamente.

— Esteve na minha casa?! O que foi buscar lá?

— Binóculos e o conjunto de abridores de fechaduras. Puxa, esta mesa é de mogno legítimo!

Ele sorriu.

— Claro que é. Sabia que iria gostar. Mas não se apegue muito, porque temos todo este aparato por apenas seis

semanas.

— Alugou tudo? Mas...

— Não, não aluguei. — Não entendi.

— Estamos guardando a mobília toda. Mas não se preocupe tudo está dentro da lei.

— Mas...

— Se não gostou, é melhor procurar coisas sozinha.

Sam olhou-o de soslaio.

— Muito bem, quem são as pessoas preenchendo os papéis na ante-sala?

— Uma delas vai ser a sua recepcionista, presumo. Começaram a aparecer aos montes. Há uma hora havia vinte e três

delas aqui. Tive de ir até o outro prédio para pedir uns formulários de emprego para o tal Donner. Ainda bem que você

chegou para me ajudar. O resto das entrevistas será por sua conta.

— De jeito nenhum. Essa função é sua.

—Não é não. Você disse que sou seu sócio. Não devo ficar fazendo entrevistas em vez de ir depositar um quarto de

milhão na minha conta na Suíça. E arranjei a mobília, lembra?

— Não reclame. Se eu tivesse continuado na minha antiga vida, você poderia estar suando esse terno para ir ao meu

enterro agora.

— Só que agora sou seu sócio e estou saindo para ir almoçar.

— Vai almoçar com Kim, a tal corretora?

— Não é da sua conta. Boa sorte com as entrevistas. Volto amanhã. As chaves estão na mesa da recepção. Não se

esqueça de ligar o alarme.

Ele se foi antes que Sam pudesse reclamar mais. Ela olhou ao redor. Era ridículo! Tinha um assassinato para

investigar e havia nove pessoas lá fora esperando para serem entrevistadas.

As primeiras cinco candidatas gostavam de falar. Não foi difícil entrevistá-las. Sam prometia entrar em contato

quando a decisão fosse tomada e levava-as de volta à sala de recepção, liberando-as. Amber, a quinta candidata,

perguntou-lhe, antes de sair:

— Srta. Jellicoe, seu namorado costuma vir ao escritório? Que ótimo! Outra fã de Rick!

— Sim. Stoney está aqui todos os dias.

— Mas...

— O próximo!

O segundo rapaz se levantou, mas uma das candidatas, a que estava ao fundo da saleta, ergue-se rapidamente,

interceptando-o:

— Não. Sou eu agora.

Sam deu um passo atrás. Estava diante de Patrícia Wallis!

— Não vou contratá-la — disse, sem conseguir controlar-se.

— Claro que não, querida. Eu jamais trabalharia para você. Mas imaginei se teria tempo para uma xícara de café.

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— O que houve? Rick a expulsou de novo?

Patrícia avançou, entrando na sala sem ser convidada. Sam a seguiu, contrariada, vendo apenas agora a máquina de

café que havia sido colocada a um canto.

— Tenho entrevistas a fazer — disse.

— Eu sei. Gostei do escritório. Quem é o seu decorador? Trezise?

— Não. Eu mesma. — Era mentira, mas para que falar em Stoney agora?

— Claro. Bem, as peças são bem... Ecléticas.

— Como eu. — Começando a gostar da situação, Sam a serviu. — Açúcar?

—Duas colheres, por favor. Sabe, achei que poderíamos conversar. Rick não é fácil e, como ele se propôs me ajudar,

achei que poderia ajudá-la também.

— A mim?

— Sim. Quem mais tem um conhecimento profundo sobre Rick? Fomos casados por quase três anos. Infelizmente,

tivemos de nos separar.

— Porque estava dormindo com outro, não é? E ele surpreendeu você e o sujeito que tentou nos matar, a mim e a

Rick, em Londres.

— Não tive nada a ver com isso. Na verdade, cometi um grave erro com Rick, e depois outro, ainda pior, com Peter.

Jamais esquecerei.

— Então, veio aqui para conversarmos. E para me dar presentes, também. — Sam enfiou a mão no bolso da jaqueta e

tirou o anel de diamante. Colocou-o sobre a mesa e comentou: — Muito bonito.

Patrícia entreabriu os lábios, irritada.

— Como... Oh, detesto esta cidade! Nada dá certo para mim!

— Parece que, enquanto enfiava isso no meu bolso, tudo estava indo bem. Mas eu percebi, não é? — Sam levantou-se.

— Muito bem, a quem pertence?

— Por que eu diria, sua vadia?

Agora, sim, estavam falando às claras, Sam analisou. Sorriu antes de rebater:

— Tenho a impressão de que vai dizer, sim.

—Mesmo? Agora, ele está com as suas digitais e eu vou entregá-la à polícia.

— Entendo... E o que vai dizer aos tiras?

— Que você o roubou!

— E como sabe que o anel é roubado? — Sam indagou.

— Porque você me disse que o roubou.

— Sei. Sou uma idiota, então. E você é Sherlock Holmes de saias. Vamos, deixe disso. De quem é o anel? Sabe que,

se eu contar tudo a Rick, ele ficará do meu lado. Agora, vamos, desembuche!

— Odeio você!

— Isso não me afeta. — Sam pegou o celular. — Vou ligar para ele agora, Pat.

—Patrícia! Droga! Achei que agora Rick poderia querer aventuras, que só está com você pela adrenalina que isso lhe

dá, por você ser uma ladra! Eu disse para Rick que poderíamos ficar juntos, roubar juntos, e ele praticamente me atirou

para fora de Solano Dorado! A casa que era minha! E agora estou com esse maldito anel, sem saber o que fazer com ele.

Queria impressionar Rick, mostrar-lhe que sei roubar também e... Droga! Vamos, ligue você para a polícia! Talvez me

coloquem numa cela perto da de Peter.

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— Não. Você iria para a prisão feminina.

Patrícia escondeu o rosto nas mãos, soluçando. Sam ergueu as sobrancelhas. Devia ser apenas encenação, mas a

mulher tinha seus talentos, afinal. Pegou o anel. O diamante devia ter uns cinco quilates, avaliou. Na parte interior da

armação havia uma inscrição:

Para minha adorada LH.

— Entrou numa casa para roubar ou simplesmente tirou de algum lugar quando os donos não estavam vendo?

— O que importa isso agora?

— Vai importar quando a polícia começar a fazer perguntas e a dona ficar imaginando quem esteve na casa dela.

Patrícia ergueu os olhos molhados. Demorou a responder:

— Fui à casa dos Harkley para um jantar. Subi para usar o banheiro e, ao passar por um dos quartos, vi o anel numa

mesinha-de-cabeceira. Achei que... Que...

— Sei o que achou. — Sam lembrava-se de ter visto os Harkley no Clube Everglades; era um casal de meia-idade que

possuía muito dinheiro, vindo de mineração e petróleo. Também se lembrava de que, cinco anos antes, eles tinham um

crânio de cristal maia que a fizera arrepiar-se. Jamais se sentira tão aliviada ao entregar uma peça ao comprador. —

Quando o pegou?

— Na noite passada.

Sam percebia que Patrícia estava arrependida de fato. Podia ser uma tola e vir a se arrepender, mas poderia ajudá-la.

Afinal, compreendia o que Pat devia ter sentido quando Rick lhe dera as costas. Havia também aquela adrenalina

começando a correr em suas veias, mostrando-lhe uma situação perigosa da qual não queria fugir. Recusara o negócio em

Veneza... E se fizesse algo perigoso agora, mas com um fim justo, legítimo?

— Sam... Você está pensando... Você poderia... Poderia?

Sam recolocou o anel no bolso. Sim, seria uma boa ação, nada mais.

— Vou dar um jeito. Mas se abrir a boca para qualquer pessoa, cuidarei pessoalmente para que se arrependa,

entendeu?

Acreditando ou não na ameaça, Patrícia assentiu vigorosamente.

— Não vou dizer nada! Prometo! E não esquecerei o que está fazendo por mim, Sam! Jamais! Se um dia precisar de

alguma coisa, é só me dizer.

Sam ergueu as sobrancelhas.

— Está bem. Agora, se me der licença, tenho entrevistas a fazer.

— Claro, claro...

— Só mais uma coisa, Pat. A outra se voltou:

— Sim?

— Fique longe de Rick.

— Ah, sim, claro.

Sam deixou-a ir. Acreditava nela.

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Rick estava diante da janela da biblioteca, olhando para o gramado, quando viu o Bentley parar à entrada da casa.

Tomava seu uísque tranqüilamente, vendo Sam sair do carro e entrar. Ela dissera que iria receber um cliente e que

chegaria apenas bem tarde da noite. Serviu uma dose em outro copo e foi ao encontro de Sam, oferecendo-lhe a bebida.

— Então, como foi?

Ela bebericou o uísque antes de responder:

— Entediante. Sinto não ter vindo para o jantar. Sobrou alguma coisa? — Aproximou-se e beijou-o apaixonadamente.

— Hum... Você está cheirando a uísque e chocolate.

— Comi alguns brownies. Hans ficou emburrado por você não estar aqui para prová-los. E, sim, guardamos um pouco

do assado para você.

— Ótimo.

Mas Sam não lhe pareceu tão bem assim.

— Algo errado?

— Não. Trouxe alguns formulários preenchidos pelos candidatos a recepcionista, mas vou lê-los só depois de comer.

Sam soltou-se dos braços dele e bebeu mais um gole.

— Com quem foi se encontrar? — Rick perguntou.

— Ninguém que você conheça. Não acho que vai dar certo. Vou comer e já volto, está bem?

Ele a viu seguir para a cozinha. Terminou seu uísque e a seguiu. Hans deixara o prato pronto no forno.

Viu-a colocar o prato sobre a mesa e sentar-se.

— Importa-se se eu lhe fizer companhia?

— De forma alguma. Sente-se.

— E então, no que está pensando?

— Nos formulários que terei de ler. Devia ver os candidatos. Um deles é bem forte, parece até um professor de

educação física.

— Como sabe que não conheço seu provável cliente?

— Você me parece desconfiado, sabia? Rick sorriu de leve. Estava preocupado, sim.

— Esteve pesquisando sobre a vida e a morte de Charles Kunz, não? Frank disse que a manteria informada. Deixe de

investigar por conta própria.

— Acho que posso descobrir mais do que ele e em menor tempo. E isso vai me ajudar a ficar longe de encrencas.

Quer que eu fique longe delas, não?

— Ficar fora até tarde e falar com os seus antigos contatos pode não deixá-la longe delas.

— Rick, você age do seu jeito e eu, do meu, certo? E vou desvendar esse crime antes que a polícia o faça. Você vai

ver. Quer apostar?

— Não vou apostar em algo no qual você possa se ferir.

— Não vai apostar porque sabe que tenho razão.

Sam investigaria aquele crime, quer com seu apoio, quer sem ele. Mas Rick queria tanto que ela estivesse sempre

segura, protegida. Talvez fosse bom aceitar a tal aposta e ver no que iria dar.

— Está bem. Cem dólares como a polícia vai descobrir tudo antes de você.

— Fechado, inglês.

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Rick sorriu. Usaria suas próprias conexões, seu conhecimento, para ajudar no caso e, assim, fazer com que Castillo

resolvesse aquele assassinato primeiro. Assim, Sam estaria a salvo.

Entrar na casa dos Harkley e devolver o anel fora a coisa mais fácil do mundo. Nem sequer tinham renovado a

segurança nesses últimos cinco anos, desde que ela entrara lá da outra vez. Havia roubado a fita da noite anterior, só para

ter uma arma contra Patrícia caso fosse necessário, e saíra sem ser percebida.

Quanto à aposta que havia feito com Rick, precisava ser rápida. Arranjar informações sobre as jóias e pinturas

roubadas na noite do assassinato e tentar responder à questão: fora roubo e assassinato ou conveniência e má sorte

ligadas.

Tentou escapar dos braços de Rick, que ainda a prendiam na cama, mas ele os apertou.

— Aonde pensa que vai? Quero mantê-la aqui a manhã inteira — disse ele, com voz de sono.

— Acho que isso é uma tática para ganhar a aposta.

Rick a beijou, cheio de desejo novamente. Possuí-la duas vezes naquela noite parecia não ter sido suficiente. Sam

deixou-se levar, usufruindo a deliciosa sensação que sempre se apoderava dela quando estava nos braços de Rick.

Estivera em vários relacionamentos antes, todos muito rápidos, e todos terminados por ter ficado entediada ou ter perdido

o interesse. Jamais estivera por três meses inteiros com um homem e jamais desejara tanto que esses três meses se

desdobrassem em mais algumas centenas. O fato era que nunca se sentiria entediada, nunca perderia o interesse em Rick.

Ele era fabuloso. Tudo o que ela poderia ter sonhado. Seu único defeito era a teimosia. E um exemplo disso foram as

palavras que Sam ouviu em seguida:

— Não pretendo mudar o que pensa sobre a morte de Kunz, mas... Tome cuidado, sim? Quero que permaneça livre,

fora da prisão.

— Sempre sou cuidadosa e jamais estive na prisão.

— Não?

— Já chega, está bem? Sabe, andei lendo umas matérias sobre relacionamentos duradouros e descobri que, depois de

três meses, os parceiros começam a sair do período de encantamento e passam a descobrir as falhas um do outro.

— Ótimo, porque já sei de todas as suas falhas, e eu não tenho nenhuma.

— Convencido!

— Quanto ao desinteresse, esqueça. Quanto mais a tenho, mais a quero.

— Sei. Agora, preciso ir.

— Não...

— Acho que está só tentando me distrair e, assim, ganhar a aposta. Olhe, vou tomar um banho. Poderia pedir a Hans

que faça umas daquelas panquecas alucinantes?

— É para já!

Depois do café da manhã, Sam saiu com o Bentley e seguiu para o centro de Palm Beach. No caminho, ligou para

Frank Castillo. Precisava saber ao certo tudo o que desaparecera da casa de Charles Kunz.

— Castillo falando.

— Olá. É Sam. Tem um minuto?

— Claro. Pode vir ao meu escritório? Ela hesitou.

— Não há perigo... E posso mandar buscar café e uma rosquinha para você.

— Está bem. Mande pôr cobertura de chocolate nela.

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Tremia quando desligou. Seu pai devia estar se revirando no túmulo por ela concordar em entrar numa chefatura de

polícia. Mas era uma vida nova a que levava agora e podia ter uma nova insanidade também. Além do mais, não iria

perder a aposta com Rick. Continuava dirigindo, pensando que nem ela nem Rick tinham mencionado Patricia. Ambos

guardavam segredos. Isso podia ser bom, mas muito ruim também.

O celular tocou, e Sam pegou-o para ver quem estava ligando. O número era desconhecido.

— Alô.

— Samantha Jellicoe?

— Sim.

— Liguei para o seu escritório e o seu assistente me deu este número. Lida com segurança, não?

Stoney não costumava dar seu número a estranhos...

— Sim.

— Poderíamos marcar uma hora?

— Depende. Quem é o senhor?

— Claro. Bem, preciso pedir sua absoluta discrição primeiro.

— Sou muito discreta.

O estranho identificou-se, com sotaque britânico ainda mais acentuado:

— Meu nome é Leedmont. John Leedmont. Ela quase bateu no carro à sua frente.

— John Leedmont, da Kingdom Fittings?

— Ah, já ouviu falar de mim?

— Rick Addison está comprando a sua companhia. Claro que ouvi falar do senhor.

— Ele está tentando comprar a minha companhia.

— Sei. O que quer? Porque se vai tentar algum tipo de suborno, eu gosto de chocolate, mas Rick não aceita os meus

conselhos. Ele riu antes de explicar:

— É um assunto pessoal, Srta. Jellicoe, que não quero discutir por telefone.

— Certo. Que tal no meu escritório, dentro de uma hora?

— Não. Que tal Howley's, na South Dixie, em meia hora?

Ele conhecia a cidade. O lugar era público, não haveria problemas.

— Quarenta minutos — Sam concordou, consultando o relógio. Desligou, analisando a situação. Era bizarra, no

mínimo, mas, considerando-se a semana que vinha tendo...

Então, o magnata John Leedmont queria falar-lhe. Podia avisar Rick, porém era melhor saber do que se tratava,

primeiro.

Estacionou junto aos muitos carros de polícia diante da chefatura e arrepiou-se. Estava fazendo uma loucura. No

balcão de entrada, pediu para falar com Castillo e, pouco depois, ele apareceu sorridente.

— Prefere ficar lá fora, ou não se incomoda de entrar no cubículo em que eu trabalho?

— Vamos à sua "sala". Onde está a minha rosquinha?

Sam não pôde deixar de notar que todos paravam com o que faziam para vê-la passar. Deviam estar em alerta, avaliou,

arrepiando-se novamente.

Sentaram-se a uma pequena mesa, velha e cheia de papelada. Castillo ofereceu-lhe o saquinho com a rosquinha e o

copo de isopor com o café. Sam negou com a cabeça diante do copo, mas logo deu uma mordida no doce.

— Não há refrigerantes?

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—Não. O pessoal da SWAT esteve aqui hoje cedo e levaram todos.

— Está bem, então. Frank preciso de um favor seu.

— Logo imaginei. Mas, como me ajudou a solucionar um caso internacional, e também porque gosto muito de você,

farei o possível, se eu não tiver de colocar em risco qualquer parte da minha investigação.

— Nossa, eu só quero saber ao certo o que foi levado da casa de Kunz.

— Sam...

— Olhe, ele me pediu ajuda, e depois você fez o mesmo. Só quero saber o que foi levado.

— Está bem, mas, se isso vazar, vou saber quem abriu a boca.

— Como se eu tivesse alguém a quem contar.

— Jóias de rubi. Uma coleção inteira. Kunz a tinha comprado a dez anos de um colecionador; algo referente à realeza

Flemish.

Sam pensou por segundos, depois murmurou:

— A coleção Gugenthal. Castillo encarou-a.

— Exatamente. Conhece as jóias, então.

— Sim. Qual o valor do que foi levado?

— Uma avaliação rápida mostrou uma quantia em torno de doze milhões de dólares em dinheiro e jóias, mais um Van

Gogh e um 0'Keeffe.

— Dupla estranha...

—Estavam os dois no escritório de Kunz. Aparentemente, ele tinha acabado de voltar de uma viagem em que comprou

peças para as suas coleções.

Se esse fosse o caso, objetos dos quais a família nem teria conhecimento poderiam ter sido levados... Mais uma

complicação. Sam estava ainda mais interessada.

— E nada mais foi tirado de outra parte da casa?

— Não.

— Então, primeiro houve o assassinato, e depois o roubo, só para encobrir a morte.

Castillo mastigava um bocado de sua própria rosquinha. Engoliu antes de responder:

— Você pensa como policial sabia?

— Mesmo? Vou aceitar como um elogio.

— Tem alguma outra idéia sobre o caso?

— Bem... Kunz sabia que as coisas iam piorar, e muito, e achava que o perigo estava por perto. Pessoas como ele não

têm muitos pontos fracos e não deixam estranhos notar nenhum deles, se conseguem evitar. E, se estivesse preocupado

apenas com o dinheiro ou as jóias, poderia ter removido tudo para uma caixa de segurança num banco, por exemplo.

O investigador deixara de comer para fazer anotações.

— Faz sentido. E encaixa na sua teoria do guarda-costas.

— Quando será o funeral? — Sam não gostava de enterros, mas iria a esse, para ver se alguém ''interessante" poderia

parecer por lá.

— Depois de amanhã. Estarei presente, representando o Departamento. Gostaria de me acompanhar?

— Se Rick não for, por que não?

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— Olhe Sam, se está me perguntando tudo isso com o intuito de esclarecer o caso, esqueça. É meu trabalho. E, cá

entre nós, há muita gente só esperando você dar um passo em falso para colocá-la atrás das grades.

Ela sorriu e levantou-se.

— Não sei do que está falando. Meu pai era ladrão e foi preso por isso. Eu sou apenas especialista em segurança de

valores.

— É. E eu sou Fidel Castro. Portanto não se envolva.

— Ok, Fidel. Ligo para você amanhã.

Sam deixou a chefatura com passos firmes e rápidos. O ambiente ali era por demais arrepiantes para alguém com um

passado como o seu. Além do mais, tinha outro compromisso.

Vira John Leedmont apenas uma vez, ao encontrar-se com Rick no escritório dele em Londres, para um almoço. O

empresário da Kingdom Fittings estava saindo. E, ao entrar no Howley's, e vê-lo sentado a uma das mesas de fórmica do

restaurante, achou-o um tanto acabado. Preocupado também. Ao que pareciam, todos que queriam falar com ela estavam

assim... Mas, afinal, gente feliz não precisaria de seus serviços.

Sam sentou-se diante dele, cumprimentando-o, enquanto o via levantar-se ligeiramente, cavalheiro que era.

— Srta. Jellicoe, obrigado por me atender.

— Claro. O que houve?

— Cuida de sistemas de segurança?

— Já me perguntou isso. A resposta ainda é "sim".

Uma garçonete se aproximou e Sam pediu um refrigerante.

— E a senhorita me prometeu ser discreta. Se isso vier a público, estarei arruinado. E cuidarei para que Addison

jamais venha a pôr as mãos na Kingdom Fittings.

—Oh, que interessante. Está me oferecendo algo além de ameaças?

— Dez mil dólares americanos.

Sam ergueu as sobrancelhas. Não era tanto assim.

— Para fazer o quê?

Leedmont retirou um envelope do bolso interno do paletó e fez menção de entregá-lo a ela.

— Esta manhã, colocaram isto por baixo da porta do quarto de hotel em que me hospedo.

Esperta, Sam imediatamente baixou as mãos para o colo. Não seria pega num local público pegando em propriedade

que poderia ser roubada ou em dinheiro sujo.

— Por que não abre e me mostra?

— Prefiro não fazê-lo aqui.

—Foi o senhor quem marcou este encontro. Eu cuido de instalações de segurança, e isto não me parece ser do ramo.

— Na verdade, não é. Mas preciso da sua ajuda mesmo assim. — Leedmont abriu o envelope, mesmo a contragosto, e

depositou o conteúdo sobre a mesa.

A garçonete retornou com seu refrigerante, e Sam virou a foto. Assim que estavam a sós novamente, tornou a virá-la.

Não tinha boa qualidade, fora tirada à noite e não havia como dizer quem era a mulher retratada, mas o bigode branco de

seu acompanhante era bastante reconhecível.

— Estão querendo chantageá-lo?

Leedmont apenas respirou fundo. Na borda da foto, em letras pequenas e escritas em negro, havia a seguinte

mensagem:

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US$50.000, caixa postal 13452, Palm Beach, 334411-3452.

Sam prestou de novo atenção à foto. Tinha sido tirada de cima, focalizando o conversível. O volante estava à esquerda

e a mulher, de cabelos negros e nenhum traço do rosto visível, usava uma blusa vermelha e shorts brancos.

— Foi tirada aqui e o senhor está na cidade desde... Ontem?

— Ela praticamente se atirou dentro do meu carro.

— Impressionante!...

A ironia de Sam dizia tudo.

— Olhe, não é o que está pensando. Ela me pediu carona e eu dei. Foi apenas isso.

Sam notou a aliança no anular esquerdo de Leedmont e sorriu.

— O senhor é casado e esta não é sua esposa.

— Não.

— Então, pague o preço.

— Não, sem uma garantia de que esta foto nunca mais aparecerá e de que nunca mais serei chantageado por ela.

— Sabe, o estranho nesta foto é que a tal garota está muito inclinada sobre o seu colo. Está me dizendo a verdade?

— Estou. Ela me disse onde deixá-la e, quando estacionei, deixou cair o batom e se inclinou para pegá-lo. Então saiu

do carro, agradeceu e eu continuei meu caminho até o hotel. Achei que eu tinha feito uma boa ação até esta manhã,

quando a foto apareceu embaixo da porta.

— Acha que alguém pagou essa mulher para armar contra o senhor?

— É a única explicação que posso dar. Então, vai me ajudar?

— Não tenho muita experiência com chantagens.

— Se isso tivesse acontecido em Londres, eu teria a quem recorrer, mas aqui, embora possua muitos conhecidos, acho

que não posso confiar totalmente em nenhum deles. Sei que cuidou de uma situação muito delicada com Addison e sinto

que posso confiar na senhorita. Apenas gostaria de salientar que só receberá seu pagamento quando eu tiver todas as

garantias de que esta foto nunca mais possa ser mostrada seja a quem for.

—Se fosse uma foto digital, o senhor estaria frito.

—Eu sei. E ainda quero saber quem a tirou.

— Muito bem, vou ver o que posso fazer. Qual é o seu hotel?

— É o Chesterfield, quarto 223.

— Manterei contato. — Sam terminou sua bebida e levantou-se.

— Não quero esse peso nos meus ombros enquanto negocio com Addison — avisou ainda, em tom de ameaça.

Sam apenas sorriu, pegou o envelope coma foto e se foi. Voltando ao escritório, viu que, dessa vez, não havia

candidatos preenchendo formulários.

—Stoney?

—Na sua sala.

—Você tem seu próprio lugar aqui, moço! — disse ela, entrando na sala, mas logo parou, vendo que, diante dele, à

mesa, estava Patrícia.

—Mas... O que está fazendo aqui?

— Ah, querida, eu vim apenas conversar, saber como foi a sua noite. Contrariada, Sam convidou:

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— Muito bem, por que não vamos tomar um café por aí? — Se havia algo que não queria era que Stoney ficasse

sabendo sobre o que fizera à noite e para quem.

Patrícia despediu-se amavelmente de Stoney e a seguiu ao corredor.

—Vou repetir a pergunta: por que veio aqui? — Sam insistiu.

—Queria saber o que aconteceu com o anel. Não podia ficar esperando que a polícia aparecesse à minha porta.

—Ah, se isso acontecesse!

—Olhe aqui, se está tentando aprontar algo contra mim, vou negar tudo e acusar você, porque não quero que

coloque Rick contra mim!

—Calma! Olhe, o elevador chegou. Até mais.

—Não íamos tomar café juntas?

Sam respirou fundo. Teria de suportar a mulher mais algum tempo, pois ela era, no mínimo, pegajosa.

— Está bem, só uma xícara.

Foram ao Starbucks, uma lanchonete refinada na esquina. Patrícia logo se sentou.

— Vou querer um cappuccino.

— É? Então, vá pedir no balcão. Eu nem bebo café.

— Não gosto de pedir coisas em lanchonetes. É tão... Confuso! Sam revirou os olhos e foi até o balcão. Tinha motivos

egoístas, na verdade, para suportar aquela criatura. Estava curiosa para saber como ela conseguira fisgar Rick, já que

ele a detestava agora. Pediu o cappuccino, um suco e ia voltar para junto de Patrícia. Agora, ela lhe devia quatro

dólares, além da sua liberdade.

No meio do caminho até as mesas, parou. Um homem loiro, elegante, estava sentado com Patrícia. Reconheceu-o

logo: Daniel Kunz, filho de Charles.

Viu-o dar um beijo rápido nos lábios de Patrícia e depois se levantar. Sam apressou-se, chegando à mesa ainda a

tempo de pegá-lo ali.

— Prontinho! Aqui está o seu cappuccino. Oh, Pat, quem é o seu amigo?

Absolutamente corada, Patrícia gaguejou: — Ele... Eu...

Ele, ao contrário, estendeu a mão, sorridente.

— Olá. Meu nome é Daniel Kunz. E você é Sam Jellicoe, certo?

— Certo. Sinto pelo que houve com seu pai.

— Obrigado. — Voltando-se para Patrícia, ele tornou a sorrir. — Eu a vejo no almoço, então.

— Claro, Daniel...

— Foi um prazer conhecê-la, Sam. — Tornou a beijar de leve os lábios de Patrícia e então se foi.

Sam tomou um gole de seu suco, esperando por uma explicação. Por fim, ela veio:

— Daniel é um velho amigo. Ele é... Muito... Expansivo.

— Claro. Mas não me beijou como beijou você. Foi por intermédio dele que você foi ao jantar no Clube Everglades,

não?

— Olhe, não pode contar a Rick! Só porque me sinto solitária, não significa que esteja interessada em Daniel. Somos

apenas amigos.

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— Já disse isso. — Sam notara que havia algo além de amizade entre ambos; como havia percebido também que o

elegante e simpático Daniel não parecia estar nem um pouco triste com a morte do pai. Também não parecia preocupado

com o fato de que poderia ter o mesmo destino dele... — Aonde vai almoçar com Daniel Kunz?

—Na... Casa dele. Estou ajudando a preparar as coisas para o velório.

— Leve-me com você.

— O quê?! Não!

— O pai de Daniel era um... Amigo meu. Eu também gostaria de ajudar.

— Não precisamos da sua ajuda. Você nunca deve ter feito preparativo algum na vida para qualquer tipo de evento.

— Mas estive presente a uma porção deles. Além do mais, achei que poderia ajudar o meu amigo investigador

Castillo. Ele está encarregado de investigar o caso de Charles.

— Tem amizade com um policial?! — Patrícia tinha um ar de desdém nos olhos. — Que fascinante!

— Pode ficar fascinada quanto quiser, mas vai me levar a esse seu almoço.

— De jeito nenhum!

—Não? Sabia que eu tenho uma fita de vídeo que mostra você roubando aquele anel?

Patrícia empalideceu.

— Não pode ser! Você...

—Na verdade, peguei-a para a sua própria proteção. Portanto não me force a entregá-la ao meu amigo Castillo.

— Não ousaria...

—Eu ousaria qualquer coisa. Tudo que quero é entrar naquela casa.

— Então não tenho escolha, já que está me chantageando.

— Pense como quiser. A que horas eu a apanho?

—Meio-dia. Estou no Breakers. Não entre. Encontro-me com você na varanda.

— O Breakers... Maravilha! Eles têm um spa e tanto lá. Então, nada de hotel simplesinho para você...

— Claro que não. — Patrícia resmungou mais alguma coisa dentro da xícara de cappuccino, mas Sam não fez questão

de entender.

Encontrara um jeito de entrar na casa dos Kunz. Quem poderia imaginar que Patrícia Addison-Wallis, ao roubar um

anel, lhe poderia ser tão útil?

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Capítulo V

spero que você não assine isto — disse Donner, fechando o contrato de trinta páginas. — O sujeito é firme.

Admira-me que tenha pensado em vender a companhia.

— Quer que eu pague bem mais do que ela vale — Rick concluiu, recostando-se na cadeira de seu escritório

em Solano Dorado. — Veio a Palm Beach e talvez esteja aberto ao diálogo. Vamos fazer uma contra-oferta à mesa de

diretores que não me faça sustentá-los na boa vida pelo resto de seus dias.

— Certo.

Rick olhou para a enorme janela, pensativo, enquanto seu advogado guardava os papéis. Não devia ter feito aquela

aposta com Sam. Isso só a instigara mais na investigação.

— E o relatório da polícia? — perguntou, de repente.

— Eu o trouxe. O capitão não ficou muito feliz em entregá-lo. Estou começando a dever muitos favores por aí. E isso

significa que você também é devedor.

— É. Algo de interessante?

— Nada completo ainda, já que a investigação está em curso. Imagino por que Jellicoe esteja interessada no caso.

Deve estar furiosa por alguém ter feito um serviço que antes era dela.

Rick encarou o amigo franzindo a testa.

— Não se trata disso.

— Você caiu na história de que Sam se sente mal por ter decepcionado Kunz?

— O que quer dizer?

— Por que você está me pedindo relatório policial, e não ela? Rick meneou a cabeça antes de responder:

— Eu... Fiz uma aposta com Sam. Cem dólares, como a polícia conseguiria resolver o caso pelos métodos tradicionais,

bem mais rápido do que ela com os seus... Métodos particulares.

— Quase nada...

— Não se trata de dinheiro.

— Sei. E você, praticamente, a instigou a violar a lei.

— Não. Sam ia agir por conta própria de qualquer forma. Donner assentiu, contrariado.

— Bem, quer que eu faça mais alguma coisa, ou posso continuar com este contrato de doze milhões de dólares?

Rick sentiu o sarcasmo, mas preferiu não responder. Pegou o relatório que Tom lhe entregava e levantou-se.

— Rick, olhe, se quer, mesmo, este negócio com a Kingdom Fittings, não me leve a mal, mas precisa de muito mais

do que minha equipe redigindo novamente o contrato. Ainda tem de convencer Leedmont a vender. Ele é sua peça-chave.

— Estou cuidando disso.

—Não, não está. Está pensando em como ganhar cem dólares numa aposta tola.

— Também. Como também estou cuidando de muitos outros assuntos, até internacionais, como sempre estive.

Portanto, se vai começar a tentar me convencer de que Sam faz mal à minha vida, esqueça.

— Não precisa ser tão inflexível. Desejo apenas que faça um bom negócio, porque nunca antes o vi perder o foco

numa negociação desse porte. Nem mesmo quando estava cortejando Patrícia.

Rick respirou fundo. Donner conseguira enfurecê-lo.

E

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— Não estou perdendo o foco — disse pausadamente. — O fato é que estou preocupado porque Sam está longe do

crime há três meses, mas tenho um pressentimento de que possa escapar a qualquer momento. Felizmente, sou mais

importante para ela do que a sua antiga vida. E, sabe do que mais? Se o mundo desabar, não vou me importar porque a

amo!

Tom assentiu devagar.

— Ótimo. Era o que eu precisava saber. Vou tentar cuidar para que seu mundo não desabe. Estarei no escritório se

precisar de algo.

— Obrigado.

Os dois amigos, apesar das desavenças, apertaram-se as mãos. Assim que Tom se foi, o celular em cima da mesa tocou

e Rick atendeu depressa, reconhecendo o número de Sam.

— Já foi presa?

— Já, e já escapei.

— O quê?! Você está bem?

— Estou ótima! Passei pelo escritório de Castillo. Não se assuste. Rick precisou de alguns segundos para absorver tal

informação sem, de fato, se assustar. Depois disse:

— Muito bem, não estou assustado.

— Maravilha. Vou ao funeral de Charles com Frank, se você não for. Vai?

— Recebi o aviso por e-mail esta manhã. Achei que você gostaria de ir comigo.

— E quero. Vou ligar para Frank e cancelar com ele. Ah, também tenho outro assunto que quero conversar com você,

mas isso pode esperar.

— Está certo. — Ele se esforçava por manter o controle, porém a preocupação continuava.

— Ah, mais uma coisinha.

— Diga meu amor.

— Que bom que você não ficou na Inglaterra.

— Também acho.

Sam desligou e, com um sorriso, Rick fechou o celular, encerrando a ligação. Vinda dela, uma admissão assim só

fazia corroborar o que ele dissera havia pouco a Tom. Por Sam, faria qualquer coisa.

Ela entrou na pequena oficina de consertos de televisão em Pompano Beach. Uma mulher ruiva atrás do balcão falava

a um celular e avisava o técnico que mexia num aparelho pouco mais atrás:

— Tony! Julie está aqui. — E fez um sinal a Sam para que entrasse diretamente nos fundos do estabelecimento.

Tony achava que ela era uma drogada e que seu patrão era o fornecedor, mas Sam não se importava.

— Como está, Bob? — perguntou ao homem gordo e quase calvo.

— Julie Samacco! Há quanto tempo!

Sam arrepiava-se sempre que ouvia seu pseudônimo; sorte Rick não o conhecer, pois morreria de rir. Mas servia ao

seu propósito.

— Estive fora da cidade — explicou. — Vim porque tenho uma pergunta, e a resposta vale cem dólares. — Colocou

cinco notas de vinte sobre um aparelho de tevê próximo.

— Pode perguntar!

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Bob LeBaron era um trambiqueiro que lidava com pequenos objetos. Pela variedade de coisas valiosas levadas da

casa de Kunz, Sam imaginava que o ladrão não devia estar a serviço específico de alguém, atrás de algo em particular.

Bob conhecia muitos ladrões da região.

— Sabe de algum "gato" que acabou de receber uma boa quantia por um roubo?

— Não.

— Nada sobre rubis ou um Van Gogh?

— Não.

— Poderia perguntar por aí para mim? Vale mais cem.

— Olhe, esta é uma loja de consertos de tevês. E é isso que temos por aqui. Televisores. Ligados todos os dias.

Sabemos de todos os programas que vão ao ar.

Sam sentiu um arrepio na espinha. Confiava em seus instintos e notou a chave de fenda ao seu alcance, sobre um

balcão. Estaria preparada para qualquer coisa.

— Bem, você não sabe de nada porque eu não lhe disse meu nome verdadeiro, ou porque não sabe de nada realmente?

— Puxa, você é filha de Martin, e Stoney nunca me contou! Vai, mesmo, passar para o lado da lei?

— Provavelmente.

— Que pena! Não, não sei da nada do que perguntou e, já que agora está do lado da lei, sempre que quiser falar

comigo, marque uma hora, como os outros fregueses.

— Certo. — Voltando-se para sair, Sam pegou oitenta dos cem dólares que deixara. — Então, vou pagar como eles

também. A placa lá fora diz que os orçamentos custam vinte.

— Quantos serviços já arranjou para a nossa firma?

— Um. — Sam ficou de costas para que Stoney fechasse o zíper de seu vestido Chanel. Tinha de estar bem vestida

para o almoço.

—O serviço de Kunz ou outro para o qual será paga?—ele insistiu.

—Um de verdade, que vai pagar um mês do nosso aluguel. — De quem se trata? Um dos amigos de Addison?

— Não. Muito ao contrário.

— E não vai me contar nada?

— Vou. Mas acho que preciso falar com Rick primeiro.

— E por que com ele primeiro?

— Porque o cliente não é rival de Rick nos negócios.

— Isso não me parece tão divertido quanto se tivéssemos ido a Veneza pegar aquele Michelangelo...

Sam cerrou os olhos diante da tentação.

— Talvez não seja. Mas estou tentando trabalhar dentro da lei, Stoney!

— Está bem. E quanto ao ex-futuro cliente morto? Alguma novidade?

— Ainda não. Mas dê-me dois dias. Então vamos colocar alguns anúncios nos jornais, para publicidade e, quem sabe,

algo nas rádios também, como toda firma que se preza.

— Ótimo, porque precisaremos pagar as contas deste escritório e, com mortos, será bem difícil. Está certo, vou

esperar. Enquanto isso vou arranjar uns quadros para colocar nestas paredes nuas. De quantos acha que precisamos?

— Depende de onde virão.

— Do mesmo lugar de onde veio a mobília.

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— Alugados por seis semanas também? — Sam vasculhava dentro de sua minúscula bolsa, tentando encontrar alguns

clipes e um pedaço de fio de cobre. Instrumentos de trabalho. Nem percebeu que Stoney não respondeu à sua pergunta.

— Aonde vai toda arrumada?

— A casa de Kunz, para almoçar com Patrícia.

A expressão dele foi suficiente para que Sam explicasse sem precisar de perguntas:

— Ela conhece Daniel, o filho de Kunz.

— Deus! Sam lembre-se de que já andou roubando de muitos desses ricaços! Não são seus amigos, mas suas presas!

— Clientes, agora. Em potencial.

— E quanto a essa Patrícia, não acho bom ficar andando com a ex de Addison.

— Vou apenas buscar informações sobre Kunz, nada mais.

— Ah, como se eu fosse cair nessa...

Patrícia a esperava na varanda do Breakers. Usava claro, um vestido de grife internacional, uma echarpe branca e

óculos de sol para não ser reconhecida em companhia de Sam.

— Bela echarpe — Sam comentou, com um sorriso malicioso. — Presente de alguém?

— Não lhe interessa.

— Não quer conversar?

— Não gosto de você.

—Nem eu, Pat. O que fez com Rick... .

— Ele também agiu mal comigo.

— Mas do que está falando?

— Rick me ignorou. Só se lembrava de mim quando precisava estar com a esposa em sociedade. O resto do tempo

lidava com seus negócios e me deixava sozinha.

— Ele me disse que você não gostava de viajar.

— Viajar, para mim, é divertimento, não trabalho. Não é bom ficar num hotel enquanto o marido sai para as suas

intermináveis reuniões. Vai saber por si mesma.

Sam sentiu um arrepio. Talvez fosse, de fato, assim... Mas já teria ido embora antes de ser amarga como Patrícia.

— Bem, só estou com Rick por causa dos dois cozinheiros maravilhosos que ele tem — brincou.

— Peter e eu também tínhamos uma boa chefe de cozinha. Mas tive de demiti-la quando Peter foi preso. Agora só

tenho uma mulher que vem fazer a faxina e cozinhar para mim.

— Então, ainda mantém a casa de Londres...

— Meu advogado vai colocá-la à venda. Infelizmente, os advogados de Peter já a estão reclamando. Quando esse

processo terminar, estarei pobre. Peter é egoísta demais. Não sei por que não se contenta em ficar na cadeia e me deixa

amparada.

Chegaram à Vivenda Coronado, uma belíssima mansão tropical. Sam anunciou Patrícia no interfone.

— E você, quem é? — perguntaram do outro lado da linha.

— Oh, droga! — Patrícia interferiu. —É uma amiga! Agora abram, porque não vou ficar torrando aqui no sol!

Os portões se abriram e ela continuou explicando:

— Não tem nada a ver com você. Não conseguem nos ver no carro, lá de dentro.

A mansão era conhecida de Sam apenas pelas plantas. No entanto a decoração e o paisagismo eram maravilhosos,

dando a impressão de uma vila mexicana.

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— Sempre acho que deveria trazer um repelente de insetos quando venho aqui — Patrícia reclamou, passando os olhos

pelas muitas plantas tropicais ao redor.

— Quantas vezes já esteve aqui?

— Patrícia! — exclamou uma mulher.

Sam voltou-se para ver a garota morena e de traços delicados, muito bem vestida, que vinha recebê-las. Devia ser

Laurie, filha de Kunz, devido à semelhança física com Daniel.

— Obrigada por ter vindo. Cuidar dos preparativos para o funeral tem sido tão... Difícil. Seja quem for que inventou esse

costume de reunir as pessoas em casa depois de um enterro, acho que era maluco. Não se importa que eu saia um pouco

antes de cuidarmos de tudo, não é? Você vai almoçar com Daniel... Volto logo. — Virando-se, Laurie observou: — Você

deve ser Samantha Jellicoe.

— Patrícia disse que vocês talvez precisassem de alguma ajuda. A hostilidade em Laurie era evidente e Sam a sentiu

de imediato.

— Tem certeza de que não veio para roubar alguma coisa?

— Como disse?

— Olhe, não sei por que meu pai quis contratá-la, mas encontrei o arquivo que ele tinha sobre as suas... Atividades.

Recortes de jornal onde você aparece com o ex-marido de Patrícia, dados sobre seu pai, que ele pegou na internet, e

anotações a respeito de roubos que deve ter levado a cabo.

Sam engoliu em seco.

— Meu pai fez muitas coisas ruins, mas pagou. Não somos todos iguais a nossos pais, somos, Laurie?

— Eu não sabia que iria trazer uma amiga — a voz de Daniel soou gentil, vinda de uma porta lateral.

— Ela não é minha amiga. Mas não conhece ninguém em Palm Beach, então decidi ajudá-la trazendo-a comigo.

Sam estava mais e mais interessada. Nem precisara ir além do hall para obter boas informações. A hostilidade

presente ali era algo a ser bem observado.

—Conheço algumas pessoas em Palm Beach — defendeu-se, prestando atenção em Daniel. — Na verdade, vim mais

porque gostei de seu pai. Espero que consigam uma boa firma de eventos para a reunião que vão oferecer.

Deu as costas a todos e seguiu para a saída. Patrícia ficaria bem. Sempre conseguia o que queria, afinal, com uma boa

exceção...

Assim que se viu na rua novamente, ligou para Rick.

— Eu estava exatamente pensando em você — disse-lhe a voz sedutora, forte, na outra ponta da linha. — Aconteceu

algo?

— Nada muito sério. Meu almoço foi cancelado.

— Sorte sua eu estar saindo para o Café Europa, então. Pode me encontrar?

— Claro. Em vinte minutos.

Sam continuou dirigindo e pensando. Seus instintos lhe diziam que a morte de Charles Kunz nada tinha de comum ou

acidental. Algumas respostas estavam, sim, em Vivenda Coronado. E já vira certas pistas. Talvez Rick tivesse outras, se

lhe fizesse as perguntas certas.

Encontraram-se na entrada do restaurante. Sam estava preocupada, Rick podia apostar. Sentira isso em sua voz ao

celular.

— Está linda! — elogiou-a no ouvido, notando o vestido extremamente elegante.

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— Você também. Como sempre.

Seguiram o maitre até uma das mesas junto às janelas e, logo em seguida, receberam o cardápio. Depois da escolha,

Rick indagou sem poder esperar mais:

— O que queria me dizer?

— O que acha dos filhos de Kunz? Ele meneou a cabeça, pensando.

— Depende...

— Do quê?

— Se isso é sobre a aposta.

— Está bem, se não quer dizer nada, não diga. Posso entrar naquela mansão a qualquer hora e descobrir sozinha.

Chantagem emocional. Ambos sabiam que ela funcionava muito bem com Rick...

— O que, exatamente, quer saber?

— O que sabe sobre Daniel?

— Bem, ele não é um amigo, mas talvez seja pouco mais do que apenas um conhecido.

— E o que acha dele?

— Oficialmente, é vice-presidente da Companhia Kunz, mas acho que jamais entrou na firma, a não ser para, talvez,

dar um beliscão no traseiro de alguma secretária.

— Ele não me pareceu tolo.

O garçom trouxe-lhes a comida, e Sam, faminta, apressou-se a dar a primeira garfada.

— Não, não é — Rick concordou, servindo-se também. — Mas é preguiçoso em assuntos de negócios.

— Então, todo o dinheiro veio do trabalho do pai?

— Sim. Os dois sempre pareceram dar-se bem. Talvez Charles ficasse um tanto desapontado com a falta de talento do

filho para empreendimentos, mas Daniel ganhou alguns troféus de tênis e iatismo. Acho que isso satisfez a quem

interessava.

— E o que acha de Laurie?

— É dona de uma firma imobiliária. É esperta. Pelo que pude observar Charles a amava muito. Mais, talvez, do que a

Daniel.

— Talvez porque ela ganhasse o próprio dinheiro. E a mãe de ambos?

— Morreu de câncer há nove anos.

— E essa morte afetou muito alguém da família?

— Não sei. Daniel ainda estava no colegial e Laurie, começando a cursar a faculdade. Eu não os conhecia nessa

época.

Sam assentiu e tomou alguns goles de seu suco.

— Já esteve na Vivenda Coronado?

— Uma vez, numa comemoração do Dia da Independência. Sinto, mas não prestei atenção à segurança da casa.

— Não faz mal. Nem sei ao certo pelo que estou procurando. Mas tenho as plantas. Bem, como foi a sua manhã?

— Rejeitei uma proposta de compra de Leedmont. Tom vai fazer alterações no contrato para apresentar uma

contraproposta. Depois liguei para Sarah, em Londres, e a mandei providenciar o vôo dos outros diretores da Kingdom

Fittings para Palm Beach.

— Rick acho que você não deve...

— Olhe, se não me deixa dar palpites nos seus negócios, também não quero que os dê nos meus.

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— Uau! Essa doeu! — Ela ergueu as sobrancelhas e terminou o suco. — A propósito, tenho algo mais a lhe dizer e

acho que não vai gostar. Mas... Quem é? — Os olhos de Sam fixavam alguém atrás de Rick.

Ele se voltou discretamente enquanto ela indagava:

— O homem com Laurie Kunz. Quem é?

— Como sabe que aquela é Laurie?

Sam não esperou mais. O garçom passava e ela tocou-lhe o braço, perguntando:

— Por favor. Quero dar as condolências a Laurie Kunz, mas não me recordo do nome do cavalheiro que está com ela.

Poderia ajudar-me?

— Oh, claro. É o Sr. Aubrey Pendleton. — O rapaz se inclinou e segredou-lhe: — Ele é um acompanhante

profissional.

O garçom se foi e Sam dirigiu-se a Rick:

— Bem, Aubrey Pendleton não é nada feio.

Mais uma vez, com extrema discrição, Rick olhou para trás. A informação do garçom mostrava Pendleton como um

desses homens sempre disponíveis na sociedade para acompanhar mulheres jovens ou mais velhas a eventos, quando

estas estavam sem quem o fizesse.

Bonito, simpático, bronzeado, ele chamava a atenção. Sua presença com Laurie era surpreendente, pois ela nunca

precisara de companhia. Rick sentia que Sam estava escondendo algo. Não entendia como ela já podia conhecer Laurie.

Mas não queria pressioná-la para que a cena em sua casa de Devonshire não se repetisse e Sam saísse correndo.

— Claro que você é muito mais bonito — ouviu-a comentar, sorrindo.

— Obrigado.

E terminaram o almoço sem mais tocar no assunto.

Assim que saíram, o celular de Sam tocou. Era Stoney.

— Querida, acho que encontrei algo de que vai gostar. Poderia me encontrar na Gressin Antiques?

— Estou um pouco longe. Quem ficou no escritório?

— Deixei um cartaz na porta dizendo que estaria de volta em dez minutos. Vai vir ou não?

— Agora mesmo.

Antes que ela se voltasse para o local onde deixara o carro, Rick segurou-lhe o braço e indagou:

— O que ia me dizer e que eu não iria gostar?

Sem saber como ele reagiria ao saber de seu encontro com Leedmont e precisando ver Stoney, preferiu dizer:

— Ainda não tenho todos os detalhes, mas, seja como for, vai ter de fingir que nada sabe, pelo menos por enquanto.

— Eu acho que não deveria estar lhe dizendo isso, Rick. Por causa da ética profissional, sabe?

— Estou ficando ansioso. Mas prometo continuar ignorante, embora sabendo. A não ser, claro, que coloque sua vida

em perigo, ou a minha.

Sam passou os olhos ao redor, certificando-se de que não eram ouvidos.

— Recebi uma oferta de trabalho esta manhã. Não exatamente na minha área, mas o cliente não tinha mais a quem

recorrer, e acho que o estão pressionando.

— De quem se trata?

— John Leedmont.

Rick piscou várias vezes, em choque. Por fim, perguntou, tentando ficar calmo:

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— E o que ele queria?

— Ah... é assunto profissional.

— Sam!

— Não, Rick. Eu só lhe contei porque vocês estão envolvidos no mesmo negócio e não quero que fique sem saber de

tudo, porém, nada de detalhes.

— Mas sabe que pode confiar totalmente em mim.

— Eu sei claro, e prometo lhe contar mais caso as coisas fiquem, digamos, mais sérias.

Rick assentiu, porém sua contrariedade era visível. Seu celular também tocou e, ao atender, avisou:

— É Donner.

— Essa é a minha dica para ir embora. Vou me encontrar com Stoney.

— Espere. Há outro jantar de caridade amanhã e, se formos, preciso confirmar. — Levou o telefone ao ouvido: —

Tom?

Sam permaneceu por perto enquanto Rick ouvia o advogado. Assim que desligou, estava sério, tenso.

— O que houve? — ela indagou.

— Katie. Lembra-se dela?

— Katie Donner? Claro! Esposa de Tom. Ela está bem?

— Ela viu você.

— Então, deveria ter dito "olá", não?

— Viu-a no carro, diante da casa de Kunz.

— Oh... Eu não queria ter de lhe explicar isso...

— Explique agora. O que estava fazendo com Patrícia na Vivenda Coronado?

— Está bem. Vejamos... Patrícia conhece Daniel, e eu queria entrar na mansão. Não funcionou, porque,

aparentemente, papai Kunz fez uma pesquisa a meu respeito, e os dois irmãos sabem tudo sobre Samantha Jellicoe. Saí

de lá e liguei para você. Foi isso.

— Usou minha ex-esposa para entrar na mansão ilegalmente.

— Não houve nada de ilegal nisso!

— E mentiu para mim sobre conhecer os dois irmãos.

— Rick, eu só estou tentando ganhar a nossa aposta.

— Estou começando a me arrepender de tê-la feito. Como soube que Patrícia conhece Daniel?

— Eu os vi conversando. — Sam não queria revelar a história do anel.

— Ah, sei... Então ligou para ela e pediu para acompanhá-la à casa dos Kunz. E, mais incrível ainda, Patrícia

concordou!

— Sim. Acho que está querendo ser gentil para conseguir a ajuda que quer de você. Eu a usei e ela me usou. Ficamos

quites.

— Já lhe ocorreu que eu poderia não gostar que ficasse assim tão... Íntima da minha ex? Ou não se importa com isso?

— Não leve para o lado pessoal, Rick. Deixe-me lembrá-lo de que, quando decidiu ajudar Patrícia, não perguntou a

minha opinião. E não fiz disso um drama.

Sam olhou-o com firmeza e, enquanto ele se recuperava do "golpe", deu-lhe as costas e seguiu para onde estava o

Bentley. Era incrível, mas ninguém conseguia deixá-la tão furiosa quanto Rick Addison!

Ele a seguiu, alterado. Caminharam lado a lado, rapidamente, parecendo dois malucos.

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— Não vou parar de discutir só porque decidiu ir embora.

— Problema seu. Tenho mais o que fazer! — Fizera concessões, quisera deixá-lo a par de alguns de seus passos, e era

assim que Rick agradecia! — Além do mais, se quer brigar, é melhor ter um bom motivo, porque Pat não o é! Agora,

adeus! Tenho que ver Stoney!

Antes de entrar na loja de antigüidades, Sam deu uma boa olhada na vitrine. Mobília, lustres, vasos, alguns

brinquedos. Nada do que fora roubado da casa de Kunz poderia estar num lugar assim, mesmo que o ladrão tivesse

tentado livrar-se do que levara.

Logo que entrou, viu Stoney a um canto, com uma caixinha de jóias nas mãos.

— Isto não é bonito?—ele comentou, erguendo um pouco o objeto.

— Muito. Mas o que...

Ele abriu a tampa, mostrando o interior em veludo vermelho onde se via gravada a ouro, a inicial "G".

— Gugenthal? — Sam indagou, sussurrando. — Estranho, não acha?

— É. E acho que é bem diferente do resto da coleção, mas talvez date de antes da época em que os Gugenthal tiveram

de vender suas coisas.

Ela tomou a caixa nas mãos e a examinou para ver se havia alguma marca.

— Foi feita a mão — observou. —Provavelmente na Bélgica. Pode ter sido da família Gugenthal, sim, mas...

— Perguntei ao dono quando a recebeu. E ele disse que foi ontem. — Stoney ergueu as sobrancelhas

significativamente.

— Espere um minuto.

Sem vacilar, Sam ligou para Castillo.

— Frank, por acaso havia alguma caixa de jóias na lista de objetos roubados da casa de Kunz?

— Não. Por quê? Descobriu alguma coisa?

— Talvez. Fiquei imaginando se o roubo foi bem organizado. Havia coisas espalhadas por toda parte?

— Sim.

— Obrigada.

— Se tiver alguma informação, ligue novamente, sim?

— Claro. — Sam desligou e voltou-se para Stoney: — A caixa não está na lista. Bem, mas vejamos. Não é tão bonita

assim, está vazia, então... O melhor a fazer é livrar-se dela. Talvez valha 500, 600 dólares?

— O dono da loja deu o preço de 725.

— Não deve ter valor sentimental, se veio da Vivenda Coronado. Charles, afinal, deve ter morrido na sala com ela.

— Não sei. O dono da loja disse que a comprou de um sujeito loiro.

— Não disse o nome?

— Não consegui tirar isso dele.

Sam olhou para o homem magro, já idoso, atrás do balcão. Aproximou-se dele sorrindo.

— Olá!

— Boa tarde, senhorita. E a moça interessada na caixinha de jóias do século XVII?

— O senhor quer dizer do começo do século XX. As dobradiças são de alumínio...

— Ah, vejo que conhece mesmo caixas de jóias. Seu amigo disse que conhecia.

— É meu hobby, entende? Peço sempre ao Sr. Barstone para procurá-las para mim. É dinamarquesa, não?

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— De acordo com o vendedor, sim.

— Peça de herança, talvez.

— O cavalheiro que a trouxe disse ter sido um presente. Como já me vendeu outras peças antes, não tenho razão para

duvidar.

— Acha que ele pode ter outras caixinhas mais antigas?

— Pode ter acesso a algumas. Sam sorriu.

— Posso também ter acesso a outras coisas nas quais o senhor poderia estar interessado.

— Como?

Insinuante, ela se inclinou sobre o balcão, de modo que seu decote ficou um tanto aberto.

— O senhor me faz um favor, eu lhe faço outro... Tenso, ele olhava, mas parecia embaraçado. — Oh, Deus! Vou lhe

dar o número do Sr. Pendleton. Tenho certeza de que ele não vai se importar. — Maravilha! — Sam mantinha a calma,

mas seu cérebro trabalhava freneticamente. Aubrey Pendleton, o sujeito que acompanhava as mulheres da sociedade.

Agradeceu ao dono da loja e depois saiu com Stoney. — O vendedor foi Aubrey Pendleton. Eu o vi há uma hora com

Laurie Kunz. — Beleza! Bem, vou ter que voltar ao escritório. Uma mesa de reuniões e alguns arquivos chegarão esta

tarde. Sam nem perguntou de onde essas peças estavam vindo. — Vou com você. Preciso fazer algumas ligações. —

Precisava encontrar um acompanhante como Pendleton e queria saber de Leedmont em que ponto a garota entrara em seu

carro e também onde haviam parado quando ela se inclinou sobre suas pernas.

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Capítulo VI

ai ficar aí na janela, olhando? — Tom indagou, fechando a pasta com a lista de exigências feitas por Leedmont.

— É proibido?

— Não, mas está com uma cara muito feia, meu amigo.

— Estou preocupado.

— Jellicoe sabe se cuidar. Eu sabia que não devia ter-lhe dito nada do que Katie comentou, mas achei que gostaria de

saber.

— Você sabia muito bem o que fazia Tom. Queria que eu e Sam discutíssemos. Posso saber por quê?

— Rick, não fique aborrecido comigo, mas... Jellicoe está acostumada a procurar os pontos fracos e agora acha que

Patrícia poderá lhe fornecer os seus. Por isso, quer ficar íntima dela. Você não passa de mais uma presa, um alvo!

— Olhe Tom, não estou aborrecido com você, e sim furioso. E, se repetir esse monte de asneiras outra vez, vou

demiti-lo!

— Posso, pelo menos, dizer quem está maluco?

— Pode. Aliás, já disse. E chega.

— Bem, pelo que falou, Jellicoe está usando sua ex para tentar ganhar a aposta. Duvido que as duas possam se

entender. Deve ter sido um encontro único.

Rick desejava que assim fosse, mas sentia-se sempre pisando em ovos no que se referia a Sam. Voltou-se para os

papéis sobre a mesa do advogado e tentou mudar de assunto:

— Revisou a cláusula sobre os funcionários?

— Sim.

— Ótimo. Vou levá-la e estudá-la esta noite. Quero o apoio de Leedmont diante dos diretores.

— Mas o sujeito é teimoso.

Rick assentiu. Por que Leedmont procurara por Sam? Mais uma vez, pensava nela...

— Não vou precisar dele se o resto dos diretores votar a meu favor. Mas, se também aceitasse a nossa proposta, seria

melhor. Quero enviar a proposta aos diretores antes mesmo de embarcarem para cá, para que tenham algumas horas para

pensar nas vantagens antes de receber a influência de Leedmont.

— Está me dizendo que é errado usar uma fonte de informações só porque ela teve um passado com o homem com

quem estou agora?

Stoney meneou a cabeça.

— Só estou dizendo que vou ficar fora dessa história.

— Eu diria tudo a Rick, mas Patrícia nem vale a pena. Aliás, nem sei o que ele viu nela.

— É, vou ficar bem distante mesmo.

Sam encarou o amigo, vendo-o checar uma lista que trazia numa prancheta. Não parara de pensar na discussão com

Rick.

— Stoney, você é meu grande conselheiro. Vamos, cumpra seu papel e diga-me como agir.

Ele soltou uma risada curta.

V

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— Há três meses eu a aconselhei a ficar longe de Addison. Não adiantou. Consegui há pouco um excelente trabalho

em Veneza. Não adiantou. Mas, vamos lá, vou tentar de novo: se está com Addison e ele fica furioso porque você foi

vista com a ex, não faça isso novamente.

— Falar é mais fácil do que fazer — disse uma voz vinda da porta do escritório.

Sam voltou-se para ver Aubrey Pendleton entrando na sala. Sorriu, ofereceu-lhe a mão e recebeu-o com simpatia.

— Sua ligação me surpreendeu — disse ele, já sentado diante da mesa.

— Mesmo?

— Moças que saem com Rick Addison nunca precisam de outro acompanhante.

— Stoney aproximou-se, depois de ter observado o visitante de cima a baixo, e ofereceu-lhe a mão. Depois das

apresentações, a conversa prosseguiu num tom um tanto profissional:

— Este lugar costumava ser ocupado por uma firma de seguros. Diz-se que não conseguiram pagar o aluguel e

tiveram de mudar-se.

— Mas, pessoalmente, acho que escolheram mal seus clientes. Com seus conhecimentos, imagino que seja bem mais

fácil manter tudo isto.

Sam sorriu de leve. Ao que parecia, todos sabiam quem era e com quem estava vivendo. Olhou significativamente

para Stoney que, mesmo a contragosto, fingiu ir terminar sua lista em outro cômodo.

— Falando em conhecimentos, Sr. Pendleton, fui até a Gressin Antiques esta tarde. O senhor teria, por acaso, outra

caixinha de jóias como aquela que está na loja?

Ele sorriu, mas notava-se que sua mente trabalhava velozmente para estar seguro da situação.

— Caixinhas de jóias — murmurou. — Sabia que uma coleção de belas aquarelas ficaria muito bem nestas salas?

— Já temos alguns Monet na recepção.

— Notei. Mas acho a impressão que causam muito... Européia. Poderia escolher algo mais próximo. O que acha de um

0'Keeffe?

— Não sei... Muito parado, creio.

— E Diego Rivera?

— Prefiro as nativas de Gauguin. Mas, podemos voltar ao assunto das caixinhas?

Ele tornou a pensar por alguns instantes; depois se acomodou melhor e respondeu:

— Laurie Kunz deu-me aquela caixinha há dois dias e me pediu para que me livrasse dela. Disse que não gostava da

peça e, como o inventário vai demorar um pouco para sair, precisava de dinheiro vivo para as despesas do funeral.

Sam observava com atenção a postura e o tom de voz de Pendleton.

— O senhor não aprovou tal atitude — comentou, por fim.

— Charles e eu, mais alguns cavalheiros, costumávamos jogar pôquer toda quinta à noite, quando ele estava na

cidade.

— Gostava de Kunz?

— Sim.

— Eu também.

— E ele gostava das suas coleções. Cheguei a oferecer algum dinheiro a Laurie; ela não precisava dispor daquela

caixinha.

— Mas foi almoçar com ela hoje. Ele tornou a sorrir.

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—Um homem precisa saber viver, Srta. Jellicoe. E há famílias nesta cidade contra as quais não se deve ter nenhum

impasse, se quer ter uma boa vida. Informações são vitais, e é importante saber com quem se pode partilhá-las. E... estou

escolhendo partilhá-las com a senhorita.

— Nossos serviços não são assim tão diferentes. Lidamos com... Propriedades alheias. Parece-me que agora, porém,

sua ocupação é bastante legal.

—É sim. Estou tentando. Poderia dar-me algumas informações,

—Sabe de alguém que prepare armadilhas para homens muito ricos ou turistas, usando uma prostituta para poder

tirar fotos comprometedoras?

—Ouvi falar de algo assim, bem como sobre a utilização de uma caixa de correio.

— E... Tem alguma idéia de quem poderia estar por trás desse esquema?

Mais uma vez, Pendleton sorriu.

—Minha cara, seja quem for não faz parte da sociedade de Palm Beach. Já vi coisas assim antes. Gente rica

prefere pagar chantagistas a chamar a polícia. Sempre têm coisas a ocultar.

—Certo. Bem, muito obrigada pela sua colaboração.

—Sempre às ordens. É interessante ajudar a solucionar casos assim. Sinto-me num filme policial.

Sam também sorriu. Pendleton aprecia, sim, estar apreciando a situação. Uma pergunta a mais, então, não seria

problema:

— Acha que os filhos de Charles Kunz possam ter tido algo a ver com a morte dele?

Ele ergueu as sobrancelhas.

— Bem, eu jamais me ligaria a assassinos. Cá entre nós, são mimados demais, mas... Assassinos? Acho

que não.

Sam sentiu-se desanimar. No entanto não dispensaria os dois irmãos baseada apenas na opinião de uma pessoa.

—Mais uma vez, obrigada pela sua atenção, Sr. Pendleton.

—Aubrey, por favor. E, mantenha-me informado, está bem? Acho tudo isso fascinante.

—Combinado.

—E ligue-me sempre que quiser. — Ele lhe ofereceu a mão e voltou-se para a porta. Antes, porém, de sair,

comentou: — Ah, mais uma coisa: minha experiência diz que há duas formas de fazer um homem esquecer uma

briga: comida e sexo.

— Oh... As mulheres a quem acompanha sabem que conhece tanto os homens?

— Tanto quanto sabem que eu vim aqui.

— Entendo.

Aubrey Pendleton se foi, deixando Sam pensativa. Pelo visto, ambos guardavam seus segredos muito bem.

Quando chegou em casa, Rick recebeu um e-mail de Shelly, secretária de Tom, dizendo-lhe que um dos maiores

jornais do país queria confirmação sobre a compra da Kingdom Fittings. Ligou para ela e pediu que os mantivesse em

cheque até sexta-feira. Assim que desligou, o aparelho tocou.

— Olá, Rick.

— Estou um pouco ocupado agora, Patrícia. Eu ligo depois.

—Estou ansiosa. Falou com Tom? Quero tanto encontrar uma casa aqui...

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— Mais uma vez vou perguntar: por quê?

— Já falamos sobre isso.

— Não me convenceu.

— Ora, porque o clima é bom, é longe do círculo de influências de Peter e tem uma sociedade muito interessante. E

ainda tenho alguns amigos com casas de veraneio aqui.

— E se eu lhe pedisse para morar em outro lugar? Se pagasse por isso?

— Sua namoradinha americana está com medo da concorrência?

— Não. Estou tentando lhe fazer um favor, não sei se percebeu.

— Meu querido, eu agradeço. Preciso tanto da sua ajuda... Por favor, insista com Tom, sim?

— Vou pedir que ele ligue para você amanhã.

— Obrigada.

— Se quiser, mesmo, agradecer, fique longe de Sam.

— Diga a ela para que fique longe de mim, pois não é bom para a minha imagem ser vista com uma antiga ladra.

Patrícia desligou sem dar-lhe chance para argumentar. Era até engraçado. Sua namorada andava atrás de sua ex que,

por sua vez, andava atrás dele próprio. Favores...

— Olá.

— Rick voltou-se para ver Sam entrando.

— Ainda estamos brigando? — ela perguntou.

— Não sei. Estamos?

— Espero que sim, porque acabaram de me ensinar às duas formas mais eficazes para acabar com uma briga: comida

e sexo.

— Rick sorriu.

— Ótimo, porque você está maravilhosa nesse vestido. Muito sensual.

— Sam cheirava a sabonete. Seus cabelos estavam úmidos, e sua pele, fresca.

— O que acha de começarmos com a torta de chocolate de Hans, então? — Ela deu-lhe as costas e se dirigiu à

cozinha.

— Eu adoro torta. — Rick seguiu-a sem vacilar.

— Achei que ainda estava bravo.

— Já passou.

— Cresci sem conseguir falar sobre o que meu pai e eu fazíamos para viver e, acho que me acostumei a segredos.

Pensei que você fosse se aborrecer por eu estar conversando com a sua ex, então fiquei quieta, mas sem má intenção.

Ele a segurou pelo braço, fazendo-a parar e encará-lo.

— Tenho receio, Sam. Por você. É isso que me move, que me faz agir com extrema cautela e querer que faça o

mesmo. Eu amo você, não vê isso?

Ela abriu os lábios, surpresa, mas Rick não a deixou dizer nada, beijando-a com paixão. Recostou-a na parede e

interrompeu o beijo para murmurar novamente:

— Amo você. Amo você.

— Senhor...

Ele se afastou, irritado. Reinaldo os observava.

— Sinto interromper, mas o jantar está servido.

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— Ótimo! Estou faminta!

Rick olhou-a, entre decepcionado e contrariado. Teriam de deixar a diversão para depois.

Sam detestava funerais. Havia luxo e ostentação em toda parte; nos arranjos de flores, na mobília, nos trajes das mais

de duzentas pessoas presentes. Não se sentia à vontade, mesmo estando ao lado de Rick.

Notou o grupo de homens que lhe pareceram realmente consternados; deviam ser os amigos de pôquer que Pendleton

mencionara. A polícia mantinha a imprensa distante, mas, mesmo assim, podia-se ouvir certo tumulto do lado de fora do

cemitério, bem como o espocar de flashes.

— Laurie não me parece muito bem — Rick comentou quando a filha de Kunz saiu da limusine que a trouxera.

Sam, porém, não via traços de choro no rosto da garota que, ao lado do irmão, se aproximava do caixão.

— Por que diz isso? Ela não me parece ter chorado.

— Não sei... Acho que o preto não lhe cai bem.

Sam torceu os lábios. Alguma coisa estava errada, só não entendia o que podia ser.

— Como estão? — Castillo cumprimentou-os, vindo de trás.

— Oh, olá, Frank. Alguma novidade?

— Nada, Sam. Mas estamos investigando bastante dentro da casa e falando com quem vive lá.

— Acham que foi alguém de dentro?

— É o nosso ponto de partida, pelo menos. Notaram algo de estranho por aqui?

— Laurie parece não ter chorado — Rick comentou, repetindo o que haviam dito antes. — Ei, podemos conversar em

outro lugar? Não me parece apropriado aqui.

Levantaram-se das cadeiras próximas ao local do sepultamento e se afastaram.

— O que houve? — Sam interessou-se.

— Más recordações. Vamos prestar nossos respeitos e sair daqui, está bem?

— Preciso ir à casa dos Kunz depois do enterro. Se não quiser me acompanhar, posso pedir a Frank que...

— Não. Eu vou com você.

A cerimônia ia começar, então pararam onde estavam. Sam olhou para a família, colocada ao lado do caixão, e

surpreendeu-se por ver que Daniel olhava para ela. Parecia mais cansado, mas também não demonstrava sinais de choro.

Na verdade, o que via naquele olhar era interesse. E isso a fez pensar em Patrícia. Onde ela estaria? Talvez não quisesse

que Rick a visse junto a Daniel. Passou os olhos ao redor, e, de repente, a viu, tão envolta em roupas, chapéu e véu

pretos, que estava praticamente irreconhecível. — Sua ex está aqui — segredou para Rick.

— É o acontecimento social do dia. Como não estaria? — ele comentou com desdém.

No fim da cerimônia, Laurie adiantou-se, disse algumas palavras sobre as coisas boas que seu pai fizera para a

comunidade e sobre como fora bom e compreensivo para com ela e Daniel. O padre fez a bênção final e avisou que

haveria uma reunião de condolências na Vivenda Coronado.

— Foi uma cerimônia um tanto triste, não acha? — Sam comentou quando voltavam ao carro.

— Todas são.

— Viu Frank saindo?

— Pode deixar de interessar-se pela investigação por um minuto? Ela sentiu a contrariedade na voz de Rick.

— Não vamos recomeçar, sim?

—Não. Mas quando pensam que você pode estar correndo perigo... Temos, mesmo, de ir a casa deles?

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— Por favor. Não vamos demorar. Só quero ver quem vai falar com quem.

— Pelo que comentou comigo sobre o outro dia, podem não recebê-la muito bem.

— Estarei com você, então não vão ousar nada contra mim, meu querido.

Havia muita gente na mansão. Até mesmo no pátio interno. Sam circulava, longe de Rick, tentando captar qualquer

coisa. De onde estava agora, tinha uma boa visão do escritório de Charles Kunz sem precisar entrar nele. Nenhuma das

janelas estava quebrada, observou; quem entrara não o fizera por ali.

— Olá — ouviu e voltou-se para ver Daniel.

— Oh, olá. Foi um enterro bonito.

— É. Gostei de vê-la presente.

— Mesmo?

— Laurie foi um tanto dura com você ontem, mas anda muito agitada devido a tudo que aconteceu.

— Pelo visto, encontraram uma boa firma de eventos para esta reunião.

—Minha irmã conhece muita gente devido ao seu ramo de trabalho. Bem, eu gostaria de me desculpar pelo que houve.

— Não é necessário. Entendo que estejam passando por momentos difíceis.

— Estamos sim. Gosta de arte e antigüidades, não?

— Então, venha ver.

A oportunidade era boa demais para ser desperdiçada e Sam seguiu-o sem vacilar. Foram até o escritório de Charles,

onde o rapaz mostrou-lhe uma redoma de vidro.

— O que acha?

Ela se aproximou, notando o Renoir falso na parede logo acima Baixou os olhos para o que Daniel lhe apontava; era

uma pequena escultura de mulher.

— Sabe do que se trata? — ele indagou.

— Você sabe?

— Não. Não consegui encontrar esta peça na lista dos objetos de meu pai.

— E está aqui há muito tempo?

— Na verdade, nunca a notei antes da semana passada. Papai tinha acabado de voltar da Alemanha e achei que a

tivesse adquirido lá. Ele sempre fazia isso.

— Bem, seja o que for não é uma antigüidade e não se encaixa no que eu entendo.

— Droga! Então, não sabe o que...

— Mas eu diria que pode ser uma Giacometti, talvez um molde para um de seus trabalhos maiores.

Daniel aproximou-se; demais, para o que seria apropriado, Sam considerou.

— Quanto acha que vale?

Bem, ele achava que precisava flertar para arranjar informações? Ora, ela mesma sempre costumara fazer isso. No

entanto, no momento, havia um inglês muito ciumento a poucos metros de distância, bem como sua ex-esposa.

— Há alguns anos, uma das esculturas de Giacometti chegou a valer três milhões, mas em tamanho natural. Porém há

muitas falsificações por aí.

— Meu pai não as compraria. — Daniel tocou-lhe o queixo. — Tem certeza de que aquele lorde inglês não é muito

enfadonho para você?

Sam sorriu.

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— Achei que você também tinha uma dama inglesa.

— Patrícia? Detesto limitar minhas opções. — Ele inclinou-se e roçou os lábios nos dela. Depois enfiou a mão no bolso e

tirou um cartão, onde havia um número de telefone escrito a mão. — Meu celular.

— Tinha isso tudo preparado?

— Esperava que você viesse. — Daniel sorriu e acariciou-lhe o rosto. — Sou um sujeito generoso, Sam. Sei partilhar o

que é meu. Pense nisso.

— Está... Tentando me subornar com alguma coisa?

— Não. Estou tentando seduzi-la.

— Ah, aí está você! — Rick entrou, mantendo a expressão tranqüila de sempre. — Daniel... Minhas condolências.

Precisamos ir querida. Tenho aquela reunião importante.

— Rick, eu estava acabando de perguntar a Sam se ela faz idéia do que seja aquilo. — Mais uma vez, Daniel apontou

para a escultura na caixa de vidro.

— Entendo. Bem, desculpe-nos, mas temos mesmo de ir.

— Claro. Obrigado por terem comparecido.

Seguiram para o carro em silêncio. Rick ligou para seu motorista, indicando onde apanhá-los, e Sam guardou o cartão

de Daniel na bolsa. Tinha certeza, desde que ele entrara na sala, que Rick havia se dado conta do que se passava ali.

Já dentro do veículo, foi ela quem começou:

— Rick olhe...

— Espere. Preciso pensar.

— Ei, não fui eu quem o beijou!

— Eu sei. Mas por que ele achou que seria uma boa idéia beijá-la?

—Acho que pensou que devia me dar algo pelas informações que queria de mim.

— E não tinha dinheiro para dar? Teve de ser um beijo?

— Não sei. Não verifiquei os bolsos dele.

— Não me provoque. Vamos, o que achou do sujeito, já que, imagino, estava apenas tentando ganhar a nossa aposta?

— E vou ganhar! Bem, Daniel me pareceu ser o centro do próprio mundo, e não lhe dei uma boa bofetada porque senti

que há alguma coisa errada naquela casa. E tenho quase certeza de que ele sabe muito bem do que se trata.

— Sei. E há algum bom motivo para que eu não o destrua financeira e fisicamente?

Sam sorriu e entrelaçou os dedos nos de Rick.

— Somente se ele tiver algo a ver com a morte do pai. Achei que você fosse ficar mais zangado.

—Eu mesmo me surpreendo às vezes. — Sabe, eu nem mesmo gosto dele.

—Eu sei. O que pretende fazer agora?

— Falar com Castillo de novo. Preciso encaixar as peças do quebra-cabeça no lugar antes dos tiras, lembra?

— Não espere que eu lhe deseje sorte.

— Claro que não. Você é inglês. Apostas são apostas.

Então, Sam estava usando Patricia e Daniel para ganhar a aposta, Rick avaliou, diante da janela de seu escritório.

Esperta, mas deixava-o louco de preocupação. Pegou seu celular e ligou para Laurie, deixando uma mensagem para que

ela retornasse a ligação. Também sabia ser sedutor nesse jogo...

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— Rick? — Sam entrou no escritório, sorrindo.

— Ora, não vai trabalhar?

— Não. Stoney tem um encontro, e eu quero descansar o resto do dia.

— Walter tem um encontro?

— Sim. E eu lhe emprestei o Bentley. Algum problema?

— Não, eu praticamente lhe dei o carro.

— Ótimo. Pretendo fazer um desenho detalhado do que vou querer no jardim. Não esqueceu que me deixou expandir

minha criatividade ornamental naquela área junto à piscina, esqueceu? Tem um bloco de papel bem grande?

Ele lhe ofereceu o bloco de imediato.

— Obrigada. — Com um beijo no rosto, ela se foi, mas parou à porta: — Já lhe disse hoje que você é muito bonzinho?

— Não. Mas pode chamar um paisagista experiente para o jardim, se quiser.

— Não. Vou fazer tudo sozinha. Ah, se quiser, pode trazer o lápis e vir comigo.

Sam o estava convidando. Era uma oportunidade rara que Rick não desperdiçaria por nada.

— Vou ligar para Tom e a alcanço em seguida.

— Estarei junto à piscina.

Ela depositou as revistas sobre jardinagem na mesa branca e, ao lado delas, a lata de refrigerante gelado. No entanto,

ao abrir o bloco de papel, não foi o jardim que começou a desenhar, mas o escritório de Kunz, com todos os detalhes de

que se recordava. Sua memória fotográfica ajudava-a sobremaneira nessa tarefa. Sentia que havia alguma coisa ali que

parecia estar lhe falando, passando-lhe uma mensagem, mas não a entendia.

O Renoir naquela parede nada significava, tinha certeza. Ninguém, afinal, colocaria um original num local tão

acessível, sem nenhum tipo de proteção. Por isso, deu mais atenção ao que se lembrava a respeito da estátua de

Giacometti.

Se aquele fosse, realmente, um molde da escultura famosa chamada Mulher em Pé, devia valer, pelo menos, um

milhão. Mas, a menos que alguém fosse muito íntimo das obras do escultor, não era um objeto assim tão impressionante.

Reconhecera-a, e um gatuno qualquer com perícia suficiente para entrar e sair da mansão também o faria. Além do mais,

a peça não constava da lista de objetos de arte de Kunz, e estava ali, exposta, sem nenhum sistema de segurança.

Mas o ladrão preferira abrir o cofre, levar dinheiro vivo, as jóias, o Van Gogh e o Ó'Keeffe. Interessante, mas não

muito esperto. Considerando-se a ignorância de Daniel sobre a estátua, deixá-la para trás tinha sido um erro. Mas, e se

Laurie conhecesse arte mais do que o irmão? Pela primeira vez, Sam percebia que desconfiava de Daniel. A menos que

tivesse contratado alguém para matar seu pai, sua ignorância a respeito de obras de arte tornaria as circunstancias do

crime lógicas. Quase todo mundo conhecia um Van Gogh e um 0'Keeffe, bem como o valor dos rubis e, logicamente, do

dinheiro.

O que precisava era conhecer alguém com uma visão melhor da família Kunz. Sam pegou o celular e, olhando para

ver se Rick já estava vindo, discou um número.

— Alô — atendeu a voz um tanto arrastada de Aubrey Pendleton.

— Aubrey, Samantha Jellicoe. Podemos conversar?

— Claro, querida. Achei que viria aqui na casa dos Kunz, mas não

— Oh, eu ligo depois, então.

— Não, não. Espere.

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Sam ouviu, ao fundo, o som de reggae e estranhou. Pouco depois, Aubrey voltava a falar:

— Pronto. Estou na biblioteca.

— Completamente. O que houve?

— Diga-me: qual é a peça mais famosa que os Kunz possuem? Ele manteve silencio por alguns segundos.

— Os rubis Gugenthal — disse, por fim. —Charles tinha um Monet na sala do andar superior, mas não gostava muito

de mostrá-lo.

— Mas o mostrou a você.

— Achou que eu gostaria, e gostei mesmo.

— E que objeto da família seria o mais valioso de todos?

— Os rubis. Já tem um suspeito em mente? Está tudo ficando tão emocionante!

Sam sorriu diante do entusiasmo na voz dele.

— Por enquanto, não. Mas poderia me fazer um favor? Se alguém na família perguntar sobre um intermediário de

reputação, poderia dar-lhe o nome de Walter?

— Claro, dê-me o número dele. Ela o fez e, em seguida, agradeceu.

— Eu é que lhe agradeço, querida!

— Até mais, Aubrey.

— Aubrey? — estranhou Rick, já bem próximo. — Você falava com aquele acompanhante profissional?

Sam se voltou, vendo-o de shorts. Era um homem delicioso, sem sombra de dúvida.

— Sim. Ele é muito interessante. Mas não precisa ficar enciumado, porque acredito que você seja mais o tipo dele do

que eu...

— Ah, é mesmo?

— Sim, mas é segredo. Não temos nada a ver com as preferências sexuais de ninguém, não é mesmo?

— É. Esse segredo morre aqui, então. Já desenhou alguma coisa?

— Não, não... Estava um tanto distraída.

— Vamos ficar aqui, ao sol, bebendo seu refrigerante, então. Era uma proposta simples e agradável. Sam precisava ir

até Lantana Road para investigar sobre o chantagista que ameaçara Leedmont, mas isso podia esperar.

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Capítulo VII

elefone tocou, assustando Sam, que deu um pulo na cama. — Faz idéia de que horas são?! — atendeu furiosa,

sem se importar com quem poderia estar ligando tão cedo.

— Você disse para eu ligar, menina. — Era Bob LeBaron.

Sam passou os olhos ao redor, procurando por Rick, mas ele já devia estar trabalhando no escritório.

— O que descobriu?

— Calma! Quanto vai pagar?

— Já disse: cem dólares.

— Não, não. A namoradinha de Rick Addison pode pagar mil pelo que tenho a dizer.

Ela respirou fundo. Maldito ganancioso!

— Duzentos, ou vá vender a outra pessoa. Silêncio. Podia ouvir sua respiração.

— Vou querer o dinheiro antes de falar.

— Certo. Está na sua loja?

— Sim. Algumas pessoas acordam cedo para trabalhar...

— Outras trabalham até tarde da noite. Estarei aí em meia hora.

— Use a porta dos fundos. Não abro antes das dez. Apressada, Sam correu ao banheiro. Tomou uma chuveirada, es-

covou os dentes e vestiu-se. Desceu depois até o escritório.

— Bom dia, moço bonzinho!

Rick ergueu a cabeça dos papéis que estava lendo.

— Já é assim tão tarde ou há algo de errado com você?

— Nada errado, preciso ir atrás de uma coisa.

— Uma pista?

— Talvez. Depois vou para o escritório. Vemo-nos mais tarde. Mas não se preocupe. — Entrou, deu-lhe um beijo e

acrescentou:- Eu ligo para avisar que não morri.

— Certo. Leve o Chevrolet.

Meia hora mais tarde, Sam estacionou nos fundos da loja de subúrbio. Bateu e estranhou quando Bob levou alguns

minutos para abrir.

— Muito bem, o que tem para dizer?

Respirando fundo, ele fechou a porta e recostou-se nela. Sam não estava gostando da situação.

— Trouxe o dinheiro?

Ela tirou as notas do bolso e, mantendo certa distancia, avisou:

— Mas não vou entregá-lo se não gostar da novidade.

— Vai gostar. Se estiver procurando por um Van Gogh original, com flores azuis...

— Certo, onde o viu?

— Não vi, mas recebi uma ligação. Um sujeito com voz de Darth Vader me perguntou se eu conhecia intermediários

interessados nesse tipo de mercadoria.

— E o que respondeu?

T

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— Primeiro o dinheiro, menina.

Já que identificara o quadro, a informação devia ser verdadeira. Sam entregou-lhe as notas.

— Agora, fale tudo.

— Sabe, andei pensando... Addison deve ter muitas coisas de valor. Podíamos trabalhar juntos para...

"redistribuirmos" muitas dessas coisas. E você poderia esvaziar a metade da casa antes mesmo que ele se desse conta.

— Olhe, o dinheiro foi pela informação, mas o chute no traseiro vai ser de graça.

— Está bem. Eu disse ao sujeito que talvez pudesse ajudá-lo se viesse até aqui antes das nove.

Sam verificou as horas. Faltava pouco para as oito.

— Certo. Não se importa se eu ficar por aqui suponho.

— Claro que me importo! Você faz mal aos negócios! As pessoas com quem lido sabem que passou para o outro lado.

Esconda-se lá fora, onde não a possam ver.

— Está bem. Por onde ele vai entrar?

— Não sei. Agora, desapareça.

O Chevrolet não podia ficar ali em segurança. Sam decidiu estacioná-lo atrás do posto de gasolina da esquina. Não era

um lugar excelente, mas não dispunha de tempo para algo melhor.

As oito e quinze, ela subiu pelo cano da calha da loja e se postou no telhado. Cinco minutos depois, um carro parava

quase no mesmo lugar onde Sam parara ao chegar. O sujeito dentro do veículo voltou-se para retirar um toca-CD do

banco de trás. Aparentemente, os negócios de Bob começavam bem cedo. Ótimo. Enquanto a polícia não aparecesse e

não a pegasse no telhado, tudo estaria bem. O homem entrou na loja com o aparelho de som e saiu sem ele minutos

depois.

Já passava das oito e quarenta quando outro carro se aproximou. Sam abaixou-se, observando o BMW preto,

totalmente fora de lugar numa vizinhança horrível como aquela.

Quando, por fim, estacionou na parte de trás da loja, Sam prendeu o fôlego. Fosse quem fosse que saísse daquele

carro, era o assassino de Charles Kunz.

De repente, seu celular tocou, assustando-a. Apressada, desligou-o. Mas o motorista do BMW também ouviu o toque

e, antes mesmo de sair, tornou a fechar a porta e arrancou a toda velocidade. Sam pulou para o chão e correu para ver se

conseguia anotar a placa.

Conseguiu, mas conseguiu também ver a placa de aluguel do veículo. O sujeito que estava com o Van Gogh sabia

muito bem se proteger.

Voltou ao carro, furiosa, jogando o celular no banco a seu lado. Precisava decidir agora se dava o número do BMW a

Castillo sem se comprometer pela ligação com Bob LeBaron.

— Não vou fingir que trabalho para Addison! — Stoney protestou.

— Mas é para me ajudar! Vamos você estragou tudo esta manhã com a sua ligação, agora têm de fazer algo por mim!

— Devia ter dito o que ia fazer. Não acredito que tenha procurado Bob LeBaron sozinha!

— Olhe, podemos discutir isso depois, está bem? A propósito, alguém pode ligar para você para retirar um molde

Giacometti. Finja estar interessado.

— Eu poderia estar mesmo.

— Não! Estamos aposentados, lembra?

— Está certo. E sobre essa Giacometti?

Page 67: Apresenta - VisionvoxRick saiu da cama com cuidado, dando um beijo suave no rosto de Sam. Ligou para Nova York para saber como andava o novo empreendimento com os chineses, e, em seguida,

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— A peça está na casa dos Kunz. O interessante é que não consta da lista de inventário que deve conter tudo que existe

dentro da mansão. Agora, vá até a firma de Rick, entregue este papel e diga que Rick sofreu um acidente e que a pessoa

dirigindo o carro com esta placa foi a única testemunha. Precisamos de um nome e de um número de

Stoney torceu os lábios. Mesmo assim, fez o que Sam pedia. Quando voltou, encontrou-a ainda mais tensa.

— E então?

— Não vai gostar. — Ele lhe mostrou o papel com o nome John Smith.

— Está brincando...

— Não. Aparentemente, o sujeito deu um nome falso à firma de aluguel de veículos, usando uma identidade

falsificada. Mas eu consegui um endereço que corresponde ao número de telefone que ele deixou para referência. Veja.

— Mas... É da marina...

— Deve ser tudo falso também.

— Talvez não. Talvez haja alguma ligação. Talvez o sujeito conheça alguém na marina.

— Não é uma boa pista.

— Mas é a única que eu tenho.

Sam espreguiçou-se. Faltava pouco para as dez da noite. Adiara ir a Lantana Road por dois dias, mas agora precisava

ir. A seu lado, no sofá, Rick rabiscava nas laterais do contrato com Leedmont. Ela sorriu.

— O que foi? — ele perguntou, sem deixar de escrever.

— Acabei de pensar que você ficaria lindo com um desses óculos de leitura.

— Sei... Não vai comer mais pipoca? Se não, passe a tigela.

— Não. Você não está assistindo ao filme, então não tem direito à pipoca.

— Estou assistindo!

— Então diga qual é o nome do monstro com asas.

Rick a encarou por segundos, extremamente sério, e, como se fosse dar a resposta correta, declarou:

— Não sei.

Rindo, Sam se levantou.

— Preciso sair, mas volto às onze e meia, está bem?

— Eu vou com você.

— De jeito nenhum. Não é nada perigoso. Só tenho que ligar uma foto com um lugar e, antes que pergunte, não posso

fazer isso durante o dia por causa da luz.

— Certo. Mas, pelo menos, diga-me aonde vai.

Como Rick não fizera uma única pergunta sobre sua visita a LeBaron, achou justo responder:

— Um pouco ao norte do centro.

— Oh, informação precisa! E vai lá a esta hora?

— Vou. — Sam se inclinou e beijou-lhe os lábios. — Conte-me o fim do filme depois.

— Você já sabe. Viu-o mais de três vezes.

— Mas você, não.

— Sam, cuidado. Gosto de você do jeito que está: inteira.

Ela riu e se foi. Na garagem, como Stoney ainda estivesse com o Bentley, escolheu o carro mais fácil de manobrar

para sair dali: um Mustang vermelho. Nada discreto, mas estava tão escuro...

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Leedmont lhe dissera que havia parado em algum lugar ao longo de Lantana Road. Ainda era uma região bonita da

cidade, o que fazia sentido, pois um homem como ele teria evitado um lugar ruim. Mas era quinta-feira e o local

estava deserto.

Sam estacionou no pátio de uma lanchonete e tirou da bolsa a foto que ele lhe dera. Pelo ângulo em que havia sido

tirada, o fotógrafo devia estar num terceiro andar. Mas havia tantos prédios por ali... Não poderia entrar em todos eles

sem ser vista e observar o ângulo correto. Decidiu verificar melhor. Deu algumas voltas, e seus olhos de ladra

indicaram-lhe que alguns dos telhados dos prédios eram expostos demais para alguém escolhê-los para tirar uma foto

como aquela. Outros apartamentos tinham flores na janela, gatinhos enrodilhados nos parapeitos; não eram cenários

para algo assim.

Estacionou novamente, agora num posto de gasolina; restavam-lhe alguns pontos prováveis para o chantagista ter

ocupado no momento da foto. Seis ao todo. Dois apartamentos, um prédio comercial e três telhados. Poderia procurar

pela internet alguma coisa sobre quem habitava os apartamentos, mas era bom fazer uma inspeção direta primeiro.

A portaria estava trancada, o que não foi problema para seus grampos especiais. Em menos de um minuto, estava

no saguão do prédio. Parou no terceiro andar, diante das suas possibilidades. Respirou fundo e bateu numa das portas.

Um homem com cara sonolenta apareceu.

— Não há ninguém chamado Robby aqui.

— Não? Mas ele me deu este número... — Rápida Sam passava os olhos pelo que podia ver da sala. Um menino

muito parecido com o homem passou em frente à televisão ligada num programa para crianças. — Bem, sinto por

incomodar.

O homem tornou a fechar a porta e Sam voltou-se para a outra. Repetiu o chamado:

— Robby? Nada.

— Rob? Você está bem? Achei que íamos sair esta noite, querido! Silêncio absoluto. Sam sabia que não podia sair

dali sem dar uma olhada no interior do apartamento.

— Muito bem, amor, espero que não esteja nu, porque vou usar a minha chave e entrar.

Usou os clipes novamente e entrou. Colocou as luvas de pelica que sempre trazia consigo nessas ocasiões e avançou

devagar pela sala.

Havia cartas na mesa de centro, endereçadas a um tal Al Sandretti. O homem devia ser muito prático, pois não

existiam plantas nem enfeites de nenhum tipo no ambiente. Interessante era haver uma máquina fotográfica no peitoril da

janela da frente...

Sam foi até lá, abriu as cortinas com cuidado e olhou para baixo. Arrepiou-se ao perceber que o ângulo de visão era o

mesmo da foto com que chantageavam Leedmont.

— Na mosca! — sussurrou para si mesma.

Então pegou a máquina fotográfica e a observou. O filme em questão era por demais importante. Deixou a câmera no

mesmo lugar e passou os olhos ao redor. Qualquer que fosse a atividade que o dono do apartamento fizesse durante o dia,

seu aparato noturno estava montado. No quarto havia um pequeno armário com as duas gavetas trancadas; Sam abriu-as

sem dificuldade. Em ordem alfabética, havia cerca de cinqüenta arquivos, cada qual com fotos e os negativos.

Junto, anotações de três, quatro e até cinco pagamentos. Leedmont devia estar certo quando achava que a chantagem

não terminaria nunca. Como agora estava ao lado da lei, Sam esvaziou todos os envelopes, colocando tudo dentro de um

apenas. Com o envelope embaixo do braço, trancou as gavetas, saiu do apartamento e fechou a porta.

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Chamou o elevador e, quando a porta deste se abriu, seu coração disparou. Um homem imenso, bronzeado, saiu dele e

lhe sorriu.

— Olá, boneca.

— Olá... — Sam entrou no elevador tentando ocultar o envelope. Ainda com o coração aos pulos, chegou ao saguão,

correu para seu carro e deixou o lugar com a sensação do dever cumprido e de ter feito também uma boa, excelente ação.

Às 11h45min, Rick estava pronto para sair. Passou pelo escritório e pegou a arma que guardava num arquivo

trancado. Já ligara para Sam por três vezes, mas ela não atendia o celular. Algo devia ter acontecido. Tentou uma vez

mais.

— Alô! Só estou quinze minutos atrasada. — Ela apareceu no hall de entrada, ainda com o aparelho ao ouvido.

Rick desligou o seu e aproximou-se.

— Vai a algum lugar? — Sam perguntou, fechando a porta.

— Obrigada pela intenção de resgate, mas está tudo bem.

— Estou vendo.

— O que acha de repetirmos aquela receita? Comida e sexo. Foi bom, não?

— Pode ser — concordou.

Rick estava terminando o desjejum e lendo o jornal quando Laurie Kunz ligou. Depois de uma breve conversa, ela

aceitou recebê-lo em seu escritório pela manhã.

Em seguida, seu telefone tocou ao mesmo tempo em que Sam aparecia na sala de jantar e pegava uma rosquinha de

uma travessa.

— É Sara — avisou Rick, quando atendeu.

— Chegarão amanhã, senhor. Sábado. Para uma reunião que será apenas na segunda! Liguei para confirmar os

detalhes com o escritório do Sr. Leedmont e me disseram que os diretores da Kingdom Fittings pousarão em Miami à

uma hora de hoje, no horário daí. E a reunião foi remarcada para as dez horas do sábado.

— Mas por que não me avisaram?!

— Eles disseram que o fizeram, mas tenho certeza de que não recebemos nenhum comunicado. Verifiquei

telefonemas, e-mails e faxes. Não encontrei nada.

— Acredito Sarah. Bem, vamos ter que dar um jeito. Já informou Ben?

— Sim e reservei seis suítes no Hotel Chesterfield, já que o Sr. Leedmont já se encontra lá.

— Ótimo. Obrigado. Por favor, envie-me por e-mail a lista atualizada de quem virá, e mande outra a Donner.

Assim que desligou, Rick sentou-se, praguejando baixinho.

— O que houve? — Sam perguntou.

— Leedmont deve estar armando alguma coisa. Enviou o resto dos diretores com um dia de antecedência e remarcou a

reunião para amanhã.

- Leedmont não estaria querendo apenas que eles aproveitem o clima da Flórida, certo?

— Oh, excelente teoria.

— Por que não transfere a reunião para o dia que você marcara antes?

— Não. Não quero aborrecê-lo. Preciso do voto dele, droga! E o pior é que nem estou tão interessado assim nesse

negócio. É uma boa compra, não há dúvida, mas o ramo de peças para encanamentos nem é meu forte.

Sam meneou a cabeça.

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— O que está pensando? — Rick perguntou.

— Não sei... Você ainda está indeciso sobre uma compra que vai lhe render mais alguns milhões, e eu tenho seu rival

e um cliente morto na minha lista de negócios. Não acho que esteja dando muito certo a minha vida dentro da lei.

Ele riu.

— Bem, vamos esquecer o problema por enquanto. Então, o que pretende fazer hoje?

— Trabalhar, ora. No escritório. E você?

— Terminar a revisão do contrato com Tom e ver como está à situação de Patrícia. O que acha de jantarmos fora esta

noite?

— Mas tem uma reunião importante amanhã!

— Deixe comigo. Quero jantar fora com você.

— Está certo. Posso pegar o Mustang novamente?

Rick ia sugerir que Ben a levasse, porém o motorista precisava pegar os diretores da Kingdom Fittings no aeroporto.

— Está bem, mas não o arranhe!

— Nunca me disse isso em relação ao Bentley.

— O Bentley já é seu. O Mustang, meu amor, sinto muito, continua meu.

Sam estacionou no pátio do prédio, mas não viu o Bentley. Pensou melhor e, sem saber o que poderia fazer no

escritório, decidiu ligar para Daniel Kunz e continuar investigando sobre a morte de Charles. Afinal, Stoney já devia até

ter contratado uma recepcionista.

— Alô — Daniel tendeu, com voz de sono.

— Oh... Olá, Daniel. É Sam.

— Dê-me dez minutos e eu ligo de volta.

Ela o fez, desligando em seguida. Teria ouvido uma voz de mulher quando ele atendeu? Essa voz lhe teria parecido

ser de Patrícia? Podia ser. Ligou para Castillo enquanto esperava pelo retorno de Daniel.

— Esteve na casa dos Kunz depois do funeral? — o investigador perguntou depois das saudações matinais.

— Fui. Não vi você lá. Sabia que entrei no escritório de Charles? Não havia fitas de investigação de cena por lá.

— Por mim, a casa toda estaria interditada, mas os técnicos tiraram as fotos que queriam, coletaram amostras e tudo

ficou livre. Mas por que me ligou?

— Para lhe perguntar uma coisa: se alguém da família vender algo de Charles agora, haverá problemas?

— Tecnicamente, não. Trata-se da investigação de um assassinato, e a companhia de seguros já fez o inventário da

casa. Muita gente quer enfiar as mãos no que ele tinha. Sabe por quê?

— Tenho uma idéia... Mas, se algo acontecer, eu aviso. De quais mãos está falando?

—Sam, se souber de algo...

— Não sei de nada. Quais mãos?

— As de costume: uma irmã e sua família, dois sócios e os filhos.

— Dois sócios?

— É. Parece que querem que os negócios não sofram nenhum prejuízo.

Mesmo apostando mais na culpa de Daniel, Sam não estava recusando suspeitos.

— Está bem, obrigada.

— Espero que me diga se souber de algu...

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Ela desligou. Viu o Bentley aparecer a seu lado enquanto Stoney estacionava.

— Mas que beleza de carro! — comentou, assim que saiu e inclinou-se junto à janela do Mustang. — Acho até que

vou trocar minha lata velha. Mas não por algo tão luxuoso, claro.

— Ei, sócio, entre aqui um pouquinho.

— O que foi agora? — Stoney perguntou, já dentro do carro. — Não vou bancar moço de recados de Addison outra

vez.

— Não é nada disso. Ninguém ligou para falar da estatueta?

— Não.

— Então... — Sam se interrompeu quando o celular tocou. Era Daniel.

— Achei mesmo que fosse me ligar — disse ele, com o egocentrismo que Sam detectara antes.

— E por que eu o faria?

— O inglês ficou muito irado por ter-nos visto juntos?

— Não. Acreditou na história da estátua.

— Ótimo. Ei, você gosta de barcos?

— Barcos? — Ela pensou por alguns segundos. — Prefiro carros.

— Pois vai gostar desse barco. Encontre-me na marina, no Clube Sealfish, píer 38, em meia hora.

— Olhe, eu não...

— Vamos, Sam! Sou um cavalheiro, não esqueça. Deixe-me encantá-la com o meu charme e aparência, ok?

— Está bem.

Assim que desligou, ela meneou a cabeça. Clube Sealfish, na marina. Interessante.

— O que foi?

— Vou seguir uma pista sobre Charles Kunz.

— Vai sozinha?

— Estarei com o filho dele, Daniel.

— Vi uma foto dele no jornal. Não é nada feio.

— Trata-se apenas de negócios, e você sabe bem disso.

— Eu sei, mas você recebeu esse telefonema aqui, e não na casa de Addison.

— Bobagem. Agora, saia. Preciso ir à marina.

— Não gosto disso. Devia avisar Addison.

— Não. Mas vou avisar Donner, está bem? Vai ficar mais tranqüilo? — Assim, ela teria mais tempo para chegar ao

barco, caso o advogado ligasse de imediato para Rick.

— Está bem.

— Já arranjou uma recepcionista?

— Estou cuidando disso. Mas será preciso pagá-la, você sabe...

— Não se preocupe. Vou pegar o cheque de Leedmont.

— Mas não vá se matar trabalhando para o cliente morto, hein!

Stoney subiu para o escritório e Sam decidiu avisar Donner imediatamente. Seguiu para o prédio em frente e

surpreendeu-se quando o advogado não a deixou esperando.

— O que fez agora? — perguntou, porém, ao recebê-la.

— Nada.

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— Sei. Esta visita é social, então.

— Isso mesmo. Olhe, vou me encontrar com Daniel Kunz na marina. Estou avisando para que Rick saiba logo caso

algo me aconteça.

— Vai sair de barco com Daniel Kunz? Mas por quê?

— Ele me convidou. E acho que deve ter algo a ver com a morte de Charles ou, pelo menos, com o roubo. E eu queria

que alguém em quem confiássemos, soubesse

— Oh, estou comovido.

— Não esteja. Não tem um contrato para terminar com Rick? Pois os diretores chegarão hoje e a reunião será amanhã.

— Já sei. Rick me ligou.

Sam estacionou o Mustang na marina e não teve problemas em localizar o píer 38. Daniel já a esperava, com uma

cesta de piquenique nas mãos. E, vendo-a arregalar os olhos para o iate às suas costas, sorriu e explicou:

— Achei melhor não dizer que é tão grande.

— Oh... E como se chama esse "barquinho"?

— Destino.

— Bonito nome. É seu ou da família?

— Meu agora, ou será assim que os papéis ficarem prontos. Meu pai o comprou para mim.

— Porque você gosta de competir.

— Porque gosto de vencer.

Sam tinha um plano: mostrar-se bastante ignorante e deixar que ele falasse muito, exibindo-se.

— Você sai muito com ele?

— Tanto quanto posso. Rick também tem um iate aqui. Vocês não saem juntos?

— Ele nunca me convidou. Nem sei onde fica.

— Ah, é bem ali. — Daniel apontou para um enorme iate a pouca distância.

— E sabe que nome tem?

— Parece que era Britânica, mas ele mudou o nome há algumas semanas. Agora é Jellicoe.

— O quê?!

— Não sabia?

— Não.

— Eu diria a alguém se fizesse algo assim.

— Por que me deu o seu telefone, no outro dia, se sabia que ele tinha dado meu nome ao barco?

— Porque a vi me olhando muitas vezes.

— Oh... É muito seguro de si mesmo, não?

— Na verdade, sei apenas do que gosto.

Estavam deixando a marina e entrando em mar aberto.

— E o que seria? — Sam insistiu.

— Primeiro, responda-me uma coisa: seu pai foi, de fato, o famoso gatuno Martin Jellicoe?

— Sim.

— E você chegou a roubar de alguém?

— Talvez. Daniel sorriu.

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— E o que sentiu?

— Não gosto de falar dos meus pecados.

— Ora, vamos. Eu adoro pecados.

— Aposto que sim. Mas se eu lhe confessar os meus, terá de me confessar os seus. — Sam se insinuava na conversa,

pois sabia que esse era o caminho para descobrir o que queria.

— Veremos. Mas eu disse que serei um perfeito cavalheiro hoje. —Certo, então vou lhe contar. É emocionante, sim.

Pura adrenalina.

— Sei como é. Pratico esqui radical. É selvagem!

Passaram a falar sobre esqui e iatismo, Daniel sempre procurando mostrar-se mais do que realmente era. Por fim,

levou o barco a uma enseada tranqüila.

— Entre nós dois apenas: você ainda rouba, não? — quis saber. Por frações de segundo, Sam teve a impressão de que

era ele quem fazia a investigação. Talvez achasse que ela havia matado seu pai. Ou talvez estivesse procurando por

um bode expiatório caso algo desse errado em suas ações.

— Já faz tempo que parei. É perigoso demais.

— Entendo. Também feri minha perna em Vail, no último campeonato de que participei. Mas é bom saber que a

adrenalina pode estar em outras coisas.

— É... Onde estamos? É um lugar lindo!

— Meu lugar particular.

— Já veio aqui com Patrícia?

Daniel se aproximou e acariciou-lhe os cabelos.

— Estou aqui com você — foi sua resposta.

— Talvez eu esteja sendo um tanto pessoal demais, mas seu pai morreu num assalto. Não vejo como pode estar

gostando de trazer uma ladra para almoçar.

— Trata-se de atração, e não de meu pai. — Daniel curvou-se para beijá-la.

Sam permitiu, mas afastou-se depois.

— Achei que se sentisse atraída por mim também.

— Sim, mas... É preciso mais do que um passeio de barco para que me convença de que pode ser melhor do que Rick

para mim.

— Puxa, você é mercenária — ele riu.

A vontade de Sam era devolver o comentário, porém preferiu calar-se. Daniel lhe parecia bem demais para quem

havia ido ao funeral do pai no dia anterior.

— Sou prática — disse, pouco depois.

— Estou vendo. — Ele ancorou o barco e voltou-se. — Está com fome?

— Um pouco. O que trouxe?

— Frutas, queijos, pães. E uma garrafa de vinho.

— Hum! Está querendo me impressionar.

— Já se impressionou, ou não estaria aqui. Patrícia a chama de vadia, mas eu acho que você é mais sofisticada do que

muitas mulheres que conheço.

— Obrigada.

— Verdade. Ela, por exemplo, não saberia distinguir uma obra de arte de uma torrada. Só conhece moda, nada mais.

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— E você prefere mulheres mais... Profundas.

— Sim. Gosto disso em você. — Daniel preparava a comida agora. — O que faz para se divertir?

— Estou abrindo uma empresa de segurança, mas acho que já sabe disso.

— Vi que tem um desses celulares com um toque diferente para cada pessoa. Isso ajuda com os clientes?

Ele queria saber sobre seu telefone, e isso não era bom.

— Eu o mantenho no vibra call. É melhor assim.

— Claro. Se meu pai a tivesse contratado, o que teria feito pela nossa casa?

— Nem cheguei a pensar. Acho até que foi melhor ele ter morrido antes de assinarmos um contrato.

—É. Mas pode me falar a respeito. O que colocaria? Mais câmeras? Sensores de movimento?

— De que adianta falar nisso agora?

— Aquele sujeito soube como entrar, como sair, onde meu pai estava. Acha que esses artefatos modernos de segurança

poderiam evitar o que aconteceu?

O que Daniel queria agora? Elogios? Sam o encarou para responder:

— Não. O sujeito era bom demais. O melhor que já vi. A polícia tem alguma pista?

— Nenhuma! Se ele é assim tão bom, talvez o conheça; talvez seja famoso.

— Bem, eu não era assim tão boa. — Mais uma vez, Sam temia pelo rumo da conversa e viu certa decepção nos olhos

dele.

—Aposto que você poderia trabalhar com os grandes ladrões, Sam. Eu gostaria de tê-la a meu lado.

— E você é um grande ladrão?

Daniel se inclinou para sussurrar em seu ouvido:

— O melhor de todos.

— Ah... E rico também.

Daniel olhou para a praia e indagou, mudando de assunto:

— Gostaria de dar uma volta?

— Com o barco?

— Sim.

— Não, não... — mas Sam sabia que, se precisasse, saberia como lidar com a embarcação para voltar à marina.

— Bem, fique à vontade. Vou descer e tomar um banho. Já volto.

— Ficarei admirando a paisagem.

Assim que ele se foi, Sam pegou o celular e colocou-o no vibra call. Não sabia bem o que pensar. Daniel tinha um ego

imenso. Charles o teria mimado a esse ponto? Gostaria de ver os documentos da família para descobrir se, de alguma

forma, Charles tinha tomado alguma atitude contra o filho que pudesse provocar-lhe a raiva.

Quando ele voltou, sorridente, Sam retribuiu, notando que era ou muito esperto ou totalmente tolo. Aquela descida

para um banho, deixando-a sozinha, era, no mínimo, estranha. Mas notou que Daniel cheirava a álcool. Tudo indicava

que o filho seguia os passos do pai no tocante à bebida...

— Bem, onde estávamos?

— Você ia me dizer o que fez de ruim. Até me instigou a fazer algo parecido novamente, a seu lado.

— Ah, sim. Poderíamos ser os modernos Bonnie e Clyde, o grande casal de bandidos. O que me diz? — Ofereceu-lhe

um copo de vinho e acrescentou: — Uma proposta interessante, não acha?

Ela tomou um gole e desviou o assunto:

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— Diga-me como aprendeu a lidar com iates.

Rick estacionou no pátio da imobiliária de Laurie Kunz e não viu sinal do BMW que ela dirigia. Ligou para Tom, para

não perder tempo.

— Recebeu meu e-mail?

— Sim. — Silêncio. — Ah, Rick você virá aqui hoje?

— À tarde. Preciso fazer algo primeiro.

— Certo. Vou deixar o contrato revisado, então.

— Tom? Você me parece estranho. Aconteceu alguma coisa?

— Não, estamos muito ocupados aqui.

— Eu lhe disse para ficar preparado para essa reunião.

— Eu sei. Estamos prontos. Até mais.

Rick ergueu as sobrancelhas. Tom jamais desligava primeiro. Ia tornar a ligar, mas o BMW prateado apareceu.

Desceu para recepcionar Laurie.

— Obrigado por me receber. Desculpe por ter marcado este encontro muito em cima da hora.

— Não se preocupe. Vamos ao meu carro. Tenho todos os mapas e plantas.

Rick apressou-se a entrar pelo outro lado.

— Posso lhe perguntar por que não me procurou para marcarmos este encontro anteontem?

— Achei que estava passando por momentos difíceis e não quis interferir com negócios.

— Mas negócios são negócios. Há sempre tempo para eles. Esse costumava ser o lema de Rick também, antes de

conhecer Sam... Algo na atitude prática de Laurie dizia-lhe que, mesmo que não fosse culpada pela morte do pai, ela

pouco ou nada se interessava pela vida dele.

— Minhas condolências novamente pelo que houve—pressionou.

— Obrigada. Mas eu e Daniel estamos enfrentando bem a situação.

— Vocês dois sempre foram muito próximos, não?

— Tentamos. Quanto mais envelhecemos, porém, mais nossos interesses se distanciam.

Ela seguia dirigindo, levando-o para os imóveis que pretendia mostrar-lhe.

— Pretende vender Solano Dorado? — Laurie perguntou de repente. — Porque eu ficaria muito aborrecida se não

entregasse o negócio em minhas mãos.

— Não se trata disso. Prometi a uma amiga ajudá-la a encontrar uma casa por aqui.

—Uma amiga... Sabe, eu mesma não ficaria triste se você estivesse solteiro novamente. Não que eu queira que o seu

relacionamento com a Srta. Jellicoe termine claro.

— Sinto-me lisonjeado.

Ela apenas sorriu. Seguiram observando as casas que Laurie administrava. Rick prestava atenção a tudo que ela dizia.

Cada detalhe poderia ser importante.

— Vai ficar com a Vivenda Coronado? — ele quis saber.

— Claro que sim. Papai a adorava!

— Daniel ficará lá com você?

— Sim, a não ser que eu receba uma oferta melhor. O que acha desses imóveis?

—Bem, eu estava pensando num condomínio, num lugar mais alto. Nada de quintal grande.

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— Acho que tenho duas casas assim.

— Podemos olhá-las? Se tiver tempo, claro.

— Tenho todo o tempo para você.

— O que acha de almoçar comigo, então? Já que está tendo tanto trabalho por minha causa.

— Seria maravilhoso, embora não seja trabalho algum. É o que faço, afinal.

— O que me diz do Âncora Azul, em Del Rey Beach?

— O barzinho que veio diretamente da Inglaterra?

— Pedra por pedra. Deve haver até um fantasma de duzentos anos por lá Uma assassina ou algo assim. — Na verdade,

Bertha, o famoso fantasma, fora assassinada, mas a inversão servia melhor a seus propósitos.

— É de arrepiar, mas aceito. — Laurie nem piscava. Se fosse uma assassina, tinha sangue muito frio. — Ainda não

tocou no assunto, mas o que acha de Daniel e Patrícia?

Rick controlou-se ao extremo para parecer natural. Daniel e Patrícia juntos? Então, certas coisas começaram a fazer

sentido. Sam devia saber!

— Achei que não deveria interferir — observou.

— Oh, uma atitude muito britânica. Na verdade, até me surpreendi quando deixou o recado no meu telefone, porque

Patrícia parece estar certa de que você está determinado a vingar-se dela de alguma forma.

— Ela se julga muito importante.

— Ah, agora você me parece irritado. Rick olhou-a e sorriu.

—Irritante é essa mania que certas pessoas têm de viver do passado. O que acabou, acabou. Gente assim não tem

visão para o futuro.

— Concordo. Temos muito em comum, sabe? Aliás, sempre me perguntei por que não me convidava para sair depois

de um desses jogos de pólo de que você e Daniel tanto gostam.

— Você sempre estava com alguém.

— Como se isso pudesse detê-lo...

— Diga-me, Laurie, vai mudar a sua linha de trabalho agora que seu pai faleceu?

— Talvez eu precise alterar um pouco os meus negócios, sim. Mas não se preocupe, porque não vou fazê-lo antes de

você encontrar o imóvel que quer. Meus clientes sempre ficam satisfeitos.

— Não duvido. Mas o que pretende fazer se deixar o ramo imobiliário?

— Viajar, eu acho, e cuidar dos negócios de meu pai.

— Ele iria gostar do seu interesse.

— Seria tolice deixar todo o trabalho dele cair nas mãos dos tubarões, não acha?

Rick imaginava se ela o consideraria também um tubarão... Depois de verem mais alguns imóveis, ele pareceu gostar

de uma casa, mas ainda pretendi procurar um pouco mais. Até o momento não descobrira nada que pudesse colocar

Laurie como suspeita da morte do pai, e queria conseguir mais alguma informação interessante. Por isso, perguntou:

— Daniel pretende ficar com você na administração dos negócios?

— Duvido.

— Que bom que ele a tem por irmã, então.

— Ah, claro, e...

O celular tocou e Rick atendeu Donner:

— Sim, Tom?

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— Olhe, não agüento mais ficar calado. Jellicoe saiu de barco com Daniel Kunz.

Rick sentiu o coração se acelerar enquanto o advogado dava-lhe maiores detalhes de quando Sam fora ao seu

escritório.

— Sinto muito, Laurie — disse, desligando. — Vou precisar adiar nosso almoço. Poderia levar-me de volta ao carro?

—Claro. Estarei sempre disponível. Quero saber mais sobre aquele fantasma.

— Na terça, às dez, o que acha?

— Perfeito!

Quinze minutos depois, Rick entrava em seu carro e seguia a toda velocidade para o Clube Sealfish.

O iate aportou com tranqüilidade. Sam pulou para o píer e jogou um beijo para Daniel, mas seu coração estava

disparado. Ele tinha sido um cavalheiro, fizera apenas insinuações estranhas, mas, ainda assim, ela estava arrepiada de

medo.

— Sam! — ouviu e voltou-se para ver Rick encostado em seu carro. Abriu logo um sorriso para ele.

— Olá!

— Saiu de barco com Daniel, não?

— Ah, eu sabia que o Dr. Chato não resistiria em lhe contar.

— Então, por que disse a ele?

— Porque não sou tola. E então, vai me beijar ou me dar um tiro?

— Não sei. Sabia que Daniel está saindo com Patrícia?

— Sim.

— E não me contou.

— Também não me contou que mudou o nome do seu iate para Jellicoe.

— Não mude de assunto — respondeu Rick.

— Agora, sou o maior iate desta marina!

A alegria dele contrastava com sua preocupação e deixava-o irritado.

— Posso tatuar seu nome no meu traseiro, se quiser — Sam lhe segredou, inclinando-se e dando-lhe um beijo. Depois,

como se continuasse o assunto, disse: — Acho que Daniel matou o pai. Contratou alguém ou o fez pessoalmente.

— Sam, você se arriscou...

— Não, não. Eu sabia o que estava fazendo.

— Mas não o faça mais, entendeu? A menos que queria que eu tenha um ataque cardíaco.

—Não quero isso. Vamos sair daqui antes que Daniel nos veja juntos.

— E por que não quer que ele nos veja?

— Porque acha que estou enganando você, ora! Além do mais, preciso passar no escritório.

— E eu, falar com Tom.

Seguiram para seus carros, então, depois de mais um beijo apaixonado. Rick seguiu-a por algumas ruas, mas, por fim,

ficou preso num semáforo. Sam teve de parar em outro, mais adiante e, de repente, sentiu uma batida forte atrás do carro.

O impacto lançou-a contra o retrovisor, que se quebrou. Olhou para ver uma caminhonete azul enorme que arremetia

novamente contra a traseira do Mustang. Saiu a toda velocidade, vendo que a caminhonete a seguia de perto. Era

proposital! A perseguição tomou algumas ruas laterais, menos movimentadas, Sam estava apavorada, porém tentava de

tudo para escapar. Quando achou que não haveria mais o que fazer, lançou o carro contra um poste de luz e só desviou no

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último momento, atingindo, mesmo assim, toda a lateral do carro. A caminhonete não teve tanta sorte e bateu em cheio

no poste.

Sam saiu do Mustang, furiosa e ainda trêmula. Seguiu até o outro carro e gritou:

— Mas o que você pensa que está...

Um taco de beisebol apareceu pela janela e quase a alcançou, lançando estilhaços de vidro por toda parte.

— Sua vagabunda! — gritou uma voz de homem enquanto Al Sandretti saía da caminhonete, usando o taco como

arma.

Com um pontapé no meio das coxas ela o desequilibrou, mas por pouco tempo. Gente começava a aparecer de todos

os lados, para ver o que acontecia. Sam começou a afastar-se, porém Sandretti ainda avançava contra ela.

— Onde estão as minhas fotos, sua vadia?!

Sam fugia, esperando que alguém tivesse chamado a polícia. Um de seus saltos quebrou, fazendo-a mancar. Acabou

caindo, e Al se aproveitou para erguer o taco. Mas, quando ia acertá-la, alguém o atingiu com violência nas costas. Era

Rick. Com golpes certeiros nos rins do sujeito, colocou-o no chão. O taco caiu das mãos de Sandretti e Rick pegou-o,

golpeando-o nas pernas para imobilizá-lo de vez. Sandretti, porém, ainda tentou reagir, mas um violento soco de Rick o

colocou para dormir.

— Mas quem é esse sujeito?! — Rick perguntou ofegante.

— Al Sandretti. É parte da chantagem a Leedmont.

As sirenes começaram a soar conforme as viaturas da polícia bloqueavam a rua.

— Eu o vi atingir seu carro — Rick disse, levando os dedos à testa de Sam, que sangrava muito. — Deus, achei que...

— Estou bem. Tenho cabeça dura. Mas estraguei o seu Mustang. Rick apertou-a contra si.

— Esse animal estragou o meu Mustang e vai pagar caro por isso! A história que Sam contou à polícia foi tão

convincente que ela própria acreditou em cada palavra. Disse que encontrou uma pasta com as fotos e negativos, que

ia entregar tudo a Castillo e que o sujeito, vendo-a, a atacara. Pegou a pasta, rapidamente tirou as fotos de Leedmont

dela, enfiou-as em sua bolsa e depois entregou o resto aos policiais.

Os paramédicos também chegaram, e os ferimentos de Sam, sendo superficiais, foram tratados ali mesmo. Ela se

recusou a ir para o hospital e Rick acabou levando-a para o escritório, pois notou que Sam, de fato, estava bastante bem

em vista das circunstâncias.

— Mas o que houve com você?! — Stoney exclamou, assim que a viu entrando.

— Nada de grave. Conto depois.

— Tem certeza de que está bem?

— Claro. Os paramédicos já cuidaram de mim.

— Certo. Estou saindo para o almoço.

— Outro encontro?

— É. — Ele sorriu, animado. — Ah, recebi um telefonema a respeito da peça de Giacometti. Já marquei um encontro

para esta noite.

— Espere! Quem ligou?

— Não sei. A voz do outro lado da linha era parecida com aquela do sujeito de Star Wars.

— Darth Vader.

— Isso mesmo.

— Está bem, vamos pensar no que fazer quando você voltar.

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Sam despediu-se de Stoney e foi para a sua sala. Ia ligar para Leedmont; notou que sua mesa era outra, mas não deu

maior importância ao caso. Stoney devia estar fazendo seus rolos de sempre.

Marcou um encontro com Leedmont para a manhã seguinte, depois passou a ler os formulários preenchidos por

candidatas a recepcionista. Stoney ainda não se decidira por ninguém. Por fim, Sam olhou para o celular e, sem conseguir

evitar, ligou para Aubrey Pendleton.

— Alô.

— Olá! Posso lhe fazer uma pergunta?

— O que quiser minha linda.

— Está com um humor excelente!

— Uma adorável dama acaba de me enviar uma caixa de vinho francês, safra 1935.

— Ora, você deve ser um acompanhante e tanto!

— Devia experimentar...

— Talvez um dia. Mas quem lhe pediu o meu número de telefone?

— Número? Ninguém. Ando com ele, mas não o dei a ninguém. Aliás, você deu início a um processo de aventura

dentro de mim que acho impossível deter. Não sei como poderei voltar a ser apenas charmoso.

Sam riu.

— A dama que mencionei está na outra linha. Preciso desligar.

— Está bem, até mais.

Bem, quem quer que ligara para Stoney não conseguira o número com Aubrey. Mas Walter Barstone era bem

conhecido em seu meio como receptador. Não era de estranhar. Fosse como fosse, precisava começar a tramar uma rede

e pegar um peixe. Um egocêntrico, delirante, talvez desequilibrado peixe chamado Daniel Kunz.

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Capítulo VIII

ick apanhara Sam no escritório e estavam se dirigindo a um restaurante mexicano para jantar, quando o celular

tocou. Ela atendeu e, por sua expressão e palidez, Rick percebeu que algo grave tinha acontecido.

— O que foi? — perguntou, estacionando.

— Stoney... Foi preso.

— Como?!

— Assim que colocou as mãos na Giacometti, a polícia bateu na sua porta e o levaram.

— Achei que ele tinha se aposentado, como você.

— Na verdade, Stoney estava me fazendo um favor.

— Mas...

— Escute. Eu só queria saber quem estava tentando vender a peça a ele. Agora, preciso ajudá-lo.

— Vamos para lá juntos. Vou ligar para Tom, pois não sabemos o que poderá haver contra você nesse caso.

— Mas eu não roubei a peça!

— Eu sei, porém sabe sobre ela.

— Olhe, não vou deixar Stoney na cadeia. Já sofri muito quando meu pai estava lá e eu não podia fazer nada para

ajudá-lo.

— Entendo, mas é melhor esperarmos pelo que Tom...

— Não. Vou para lá agora.

— Então, tome as chaves do Mercedes.

Em menos de dez minutos, Sam voltou à garagem do prédio e pegou o carro. Precisava pensar rápido para poder tirar

Stoney da cadeia quanto antes. Dissera a apenas uma pessoa quanto a Giacometti poderia valer: Daniel.

Quando chegou à esquina da rua onde ele morava, teve de parar. Havia vários carros da polícia estacionados por ali.

Deu a ré e tomou a primeira rua à direita, seguindo para a chefatura.

Rick seguiu direto para a casa de Donner.

— Eu lhe disse que estava cuidando de tudo pelo telefone. Não precisava vir até aqui.

— Estou preocupado! Sei que a sua especialidade não é direito criminal.

— Sabe também que não quero lidar com as coisas sujas em que Jellicoe se envolve, e agora me pede para tirar o

comparsa dela da cadeia um dia antes de uma importantíssima reunião de negócios!

— Não quero que tire um criminoso da prisão, mas que investigue o que está havendo. Sam considera Stoney um pai.

Tom assentiu, contrariado.

— Já fiz todos os telefonemas que podia. Desta vez, você vai, sim, ficar devendo grandes favores por aí.

— Não me importo.

— Então, volte para casa e deixe-me trabalhar no caso. Eu ligo quando souber de algo.

Extremamente tensa Sam, esperava, sentada na chefatura de polícia. Quando uma porta lateral se abriu e o delegado

apareceu, trazendo Stoney, seu coração bateu ainda mais depressa. As algemas que ele trazia nos pulsos feriam-lhe o

coração.

R

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Assim que o delegado saiu, deixando-os a sós, Stoney inclinou-se, indagando:

— Você me deu um emprego, pediu-me para lhe fazer um favor, e então à polícia entra na minha casa e encontra

evidências plantadas lá dentro. Preparou essa armadilha para mim?

— Stoney! Claro que não! Em primeiro lugar, você não devia comprar a estatueta; eu só queria saber quem a estava

vendendo. Em segundo...

— Não a comprei.

— Mas os policiais a encontraram!

— Sim. Foi colocada na minha casa! Se não foi você, deve ter sido seu namorado, porque Addison me detesta!

— Claro que não. Deve ter sido Daniel Kunz. Se você for acusado, ele estará livre. E eu estarei avisada para me

afastar.

— Ah, sou o bode expiatório, então. Tire-me daqui.

— Não posso fazer isso, Stoney. Por favor, entenda... Prometo arranjar um plano. No momento, acho que estará em

segurança aqui.

— Bobagem! Eu lhe disse que devíamos ir para Veneza! Mas você quis ficar e brincar de detetive.

Ela se levantou.

— Sinto muito, mas vai ter de esperar e confiar em mim. Ele também se levantou e o delegado apareceu de pronto.

— Por favor, confie — Sam repetiu. — Eu amo você.

De volta ao carro, ela deixou de resistir e chorou. Aquilo devia ter sido planejado por Daniel. Ameaças por trás e

sedução pela frente. O homem agia assim. Precisava falar com alguém que soubesse mais sobre ele. E esse alguém era

Patrícia.

Ainda no carro, sem ter saído da frente da casa dos Donner, Rick pensava em toda a situação. Lembrou-se da saída

para ver imóveis com Laurie Kunz, então pegou o celular e ligou para o advogado.

— Ainda não saiu da frente da minha casa, não é?

— É. Quero tudo o que puder sobre a agência imobiliária de Laurie Kunz. O nome é Paradise Empreendimentos. E

também tudo o que puder me arranjar sobre a família Kunz. Quero ver tudo amanhã, depois da reunião com os diretores

da Kingdom Fittings.

— Deus, você está ficando louco e me arrastando junto!

— Pago sua terapia depois. Ou uma viagem para Cancun com a família, você escolhe.

— Certo.

Assim que desligou, Rick sentiu que estava no caminho certo. Afinal, Patrícia e Daniel pareciam ter um caso, e ela

agora lhe devia um favor...

Do saguão do Breakers, Sam ligou para o apartamento de Patrícia. Ela atendeu com voz de sono, o que significava que

Daniel não estava em sua companhia. Mudou a voz e ofereceu a Patrícia uma garrafa extra de champanhe como brinde da

casa. Assim, conseguiu subir até o quarto e, ao bater, a porta se abriu sem maiores problemas.

— Oh, é você! Vá embora! — Patrícia tentou fechar a porta, mas Sam a impediu.

— Precisamos conversar.

— Estou ocupada!

— Só se dormir for uma ocupação. Quero falar sobre Daniel.

— Por quê? Rick não é suficiente? Tem que roubar todos os meus homens?

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— Mas do que está falando?

— Vocês se beijaram! Eu vi!

— Pode ter visto ele me beijando, mas saiba que não quero nada com o seu namorado. Agora, com licença.

Sam empurrou a porta e entrou.

— Se não sair, vou chamar a segurança!

— Faça isso e pedirei a eles que descubram onde você esteve esta noite e também na noite em que Charles Kunz foi

morto.

— O quê?! Não! Não vai fazer isso de novo! Já chega ter arruinado a minha vida uma vez, pondo Peter na cadeia!

— Cale a boca e ouça: quando foi a última vez em que viu Daniel? Patrícia ia mandá-la sair novamente, mas alguém

forçou a porta, sobressaltando a ambas.

— Quem é agora? — Patrícia perguntou, irritada.

— Rick abriu sem maiores problemas e disse:

— Precisamos conversar Patrícia! — E, vendo Sam, surpreendeu-se: — O que está fazendo aqui?

— Parece que tivemos a mesma idéia...

— Fora daqui os dois! — Patrícia gritou.

— Pare com a histeria e responda: onde está Daniel?

— Mas vocês dois não têm mais o que fazer? Esta mentirosa deve ter...

— Não vim para falar de Sam, mas de Daniel! Diga logo antes que eu comece com ameaças, das quais não gosto.

— Rick, deixe que eu cuido disso — Sam interferiu.

— Não, ela é minha ex-esposa e...

— Por favor!

Ele se calou, aborrecido. Pensou por instantes, depois anuiu:

— Vou procurar Castillo, então, e tentar descobrir onde Daniel se meteu. E, por favor, Sam, tome cuidado, seja lá o

que for que vier a fazer.

Patrícia observava-os de uma cadeira. Fumava nervosa e desgostosa com a cena de ternura que via. Quando Rick se

foi, sem ao menos despedir-se, voltou-se para Sam, dizendo, entre dentes:

— Odeio você cada dia mais!

— Ótimo. Agora, vamos conversar: meu amigo foi preso por estar com uma Giacometti.

— Não sei o que é isso e não me interessa.

— É uma peça de arte que estava na Vivenda Coronado. Daniel a mostrou a mim e me perguntou seu valor.

— Seu amigo não devia tê-la roubado, então.

— Não roubou. Ela foi colocada na casa dele. E agora, quem verdadeiramente a roubou deve estar por aí ganhando um

milhão de dólares.

— Um milhão?!

— Daniel lhe falou sobre essa estatueta?

— Não falamos sobre arte e nem sobre dinheiro.

— Não? Ele sabe que você quer se mudar para Palm Beach?

— Rick está me ajudando nisso.

— Pois pense: por que uma pessoa que pode estar precisando de dinheiro perde, de propósito, a chance de ganhar uma

fortuna?

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— Olhe... Vá embora, sim?

— Porque está criando a oportunidade de ganhar ainda mais. Esta é a resposta.

Sam tinha quase certeza de tudo agora: os policiais deviam ter encontrado um dos rubis Gugenthal com a estatueta.

Daniel estaria, assim, escapando da culpa pelo roubo e o assassinato e ainda culpando outra pessoa. E como, com certeza,

tinha os outros rubis, poderia vendê-los enquanto Stoney era acusado de havê-los roubado e de não querer revelar seu

paradeiro. Deviam valer mais de três milhões de dólares, que seriam de Daniel, além do que lhe coubesse como herança.

Explicou tudo isso a Patrícia, embora esta se mantivesse alheia, mas, por fim, conseguiu convencê-la de que era verdade.

— Está me dizendo que Daniel matou o próprio pai?

— Sim. E, se não matou, pelo menos o roubou. Isso significa que, quando eu conseguir colocá-lo atrás das grades,

você estará mais uma vez nos jornais por seu envolvimento com um ladrão e, talvez, assassino.

— Droga! Isso é tudo sua culpa!

— Não, não é, mas vou lhe dar uma chance de escapar sem se sujar novamente. Se me ajudar, direi à polícia que

estava comigo nas investigações e que foi a primeira a suspeitar de Daniel, até por sua ligação com a bebida.

Patrícia olhou-a com raiva e engoliu em seco. Por fim, perguntou:

— O que quer que eu faça?

Rick estava no sofá de sua sala íntima, com o celular e um bloco de papel ao lado. Olhava para a televisão sem vê-la

de fato.

Por fim, ouviu a porta atrás de si abrir-se e fechar-se. Uma adorável sensação de alívio o tomou.

— Não precisava me esperar acordado — disse Sam. — Terá de se levantar muito cedo.

— Como se eu pudesse dormir com você lá fora. Ela sorriu, aproximou-se e acariciou-lhe os cabelos.

— Algo de novo?

— Só poderemos tirar Stoney da prisão na segunda de manhã. Ele será apresentado a um juiz e formalmente acusado.

Será quando seu advogado pedirá a fiança e...

— Fui falar com ele.

— Walter?

— Sim. E ele estava muito angustiado por estar lá dentro.

— Sinto muito. Tom colocou Bill Rhodes no caso. Ele é bom.

— Stoney me disse que colocaram a estatueta na casa dele. Tom conseguiu descobrir algo mais?

— Sim. Ao que parece, a polícia recebeu uma ligação anônima dizendo que o assassino de Kunz voltou ao local do

crime para pegar outra peça, e deu o local aonde Stoney iria se encontrar com o comprador, que não apareceu claro.

Viram Stoney e depois pegaram a estatueta na casa dele. Ah, e acharam também um rubi Gugenthal.

— Eu sabia.

— Sabia? Custou tanto a Tom descobrir esse pormenor!

— Foi uma dedução.

— Sei... E Patrícia? Algo de novo?

—Depois de Peter, ela não confia mais em seu gosto pelos homens.

— Apenas isso?

— Conto-lhe os detalhes amanhã, certo? Agora estou exausta. Mais uma vez, Rick preferiu não insistir. Com Sam, as

coisas tinham de ser sempre assim, do jeito dela.

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A primeira coisa que Sam fez no dia seguinte foi passar na loja Ungaro, onde comprou um caro colar de esmeraldas

que combinava com a coleção Gugenthal de maneira especial. Depois passou numa loja de quinquilharias e comprou um

colar de rubis falsificados no qual gastou bem pouco. Suas habilidades tornaram fácil a tarefa de trocar a esmeralda

central pelo maior rubi de vidro da outra peça. Arriscaria tudo em sua suposição, mas confiava nos próprios instintos.

Seguiu, então, para o Hotel Chesterfield. Surpreendera-se que Leedmont aceitasse encontrá-la ali, ainda mais com os

outros diretores da firma ocupando quartos no mesmo hotel. Mas, como a reunião com Rick seria dentro de pouco tempo,

ele não devia querer ir muito longe.

Leedmont pareceu-lhe tenso. Talvez por vê-la, talvez pela reunião.

— Então, encontrou o chantagista? — perguntou, assim que a viu.

— Sim. — Sam estendeu-lhe o envelope com as fotos e o negativo. Ele verificou o conteúdo.

— Teve problemas?

— Apenas um carro batido, mas tudo acabou bem. O sujeito foi para a cadeia porque entreguei as outras provas do

negócio ilícito que ele tinha. E o senhor saiu limpo dessa.

— Não ficou com cópias das fotos para si mesma?

— Para chantageá-lo e fazê-lo aceitar a proposta de Rick? Não. Ele não sabe de nada disso.

Leedmont assentiu, então fez um cheque e o entregou a Sam.

— A propósito — disse ela, guardando o cheque sem nem mesmo verificar o valor —, o senhor não me parece um

mau sujeito. — Levantou-se e foi até a porta.

— Srta. Jellicoe.

— Sim?

— Posso perguntar-lhe uma coisa? Ela esperou, permitindo.

— Eu gostaria de perguntar-lhe sua opinião sobre Rick Addison.

— Ora estou vivendo com ele, então devo achá-lo uma boa pessoa.

— Confiável?

— Plenamente.

— Obrigado.

Mesmo tendo estranhado a pergunta, Sam assentiu e se foi. Tinha ainda outra coisa a fazer.

Quando chegou ao Breakers, Patrícia já a esperava. Entregou-lhe o colar, lembrando-a:

— Foi um presente, não esqueça! — E, enquanto a via colocar a jóia falsa, indagou: — Vamos lá, repita: onde a

conseguiu?

— Daniel o deu a mim num jantar. Disse que eu deveria estar sempre coberta de rubis e esmeraldas.

— Sabe, ainda não entendo como este plano vai funcionar.

— É simples. Será um almoço de caridade, com você, eu e Laurie Kunz sentadas à mesma mesa. Ela vai perguntar

sobre o rubi, você vai responder, e saímos.

— Mas você disse que Daniel foi o ladrão.

— E acho que Laurie pensa assim também. Quero ver a reação dela.

Quinze minutos depois, estavam entrando na Casa Nobles, onde seria o almoço. A anfitriã seria a Srta. Cynthia

Landham-Glass, filha de um inventor de máquinas de algum tipo que Sam não recordava, e também esposa do maior

revendedor de carros de luxo do país.

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Foram recebidas com entusiasmo à porta, mas Sam notou que conheciam bem mais Patrícia do que a ela. Mas, como

era namorada de Rick e, mesmo sem ele saber, trouxera seu talão de cheques, merecia um bom lugar na sociedade local.

— Sam? — chamou alguém quando estavam se acomodando no salão.

— Kate! Não sabia que estaria aqui!

—Eu não perderia. Parte da renda será revertida para uma fundação de salvação do peixe-boi, à qual sou afiliada.

A esposa de Donner estranhou a presença de Patrícia, mas, mesmo assim, cumprimentou-a para depois segredar no

ouvido de Sam:

— São amigas agora?

— De jeito nenhum! Rick sabe que viemos. Negócios...

— Eu as vi juntas no outro dia e contei a Tom; sinto muito. Devia ter falado com você primeiro.

— Não faz mal.

— Bem, vou me sentar com as minhas amigas àquela mesa. Fique à vontade para se juntar a nós.

— Obrigada, mas a minha mesa é a onze. — Ela mesma colocara o número, visto que Laurie estaria ali. E dirigiu-se

para lá, percebendo, porém, que Patrícia ficava.

— O que houve agora? — perguntou, irritada.

— Não vim aqui para ser humilhada.

— Eu sei, mas será se não fizer o que combinamos. Lembre-se que ainda tenho aquela fita de você roubando o anel.

— Isso é chantagem!

—Descobriu a América. E lembre-se: vou lhe dar crédito por ajudar a descobrir um assassino. Esse será o começo e o

fim da nossa parceria. Agora, vamos.

Assim que as duas se sentaram à mesa, Laurie olhou-as, desconfiada.

— Olá. Não imaginava que fossem tão... Amigas. Interessante.

— Rick me pediu que introduzisse Sam na sociedade.

Sam revirou os olhos, mas não protestou. Se havia uma porta aberta em Palm Beach para ela, era por causa de Rick,

não de Patrícia.

— Interessante, de fato, porque eu vou conduzir Rick pelos melhores locais da cidade. Estamos procurando uma casa.

A revelação pegou tanto Sam quanto Patrícia de surpresa, mas nenhuma delas se manifestou. O almoço começou com

um discurso de Cynthia Landham-Glass sobre a preservação da natureza em geral. Patrícia voltou-se e, discreta,

comentou:

— Ela ainda não notou.

— Paciência. Vai notar.

Minutos depois, de fato, Laurie perguntou, procurando usar seu tom mais casual:

— Onde conseguiu um colar assim tão lindo, Patrícia?

— Ah, isto? Daniel o deu a mim num jantar, há alguns dias. Disse que eu merecia todos os rubis e esmeraldas do

mundo e que este seria apenas o começo. Seu irmão é muito romântico.

Sam aproveitou o momento e, apontando para o rubi, observou:

— Este é um "senhor" começo!

Laurie apenas sorriu e continuou participando do almoço normalmente; Sam poderia jurar que ela queria ligar de

imediato para o irmão e acusá-lo de ter matado o pai, ou, pelo menos, de ficar dando seus rubis por aí.

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Ao final da reunião, todas as senhoras assinaram seus cheques, doando altas quantias para a causa ecológica, inclusive

Sam. Em seguida, colocou o bilhete que escrevera pela manhã sob o celular de Laurie, que estava na mesa. Seu próximo

passo seria o mais difícil. Agora, só restava esperar.

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Capítulo IX

ntão, é o rei dos canos em todo o mundo, agora? — Sam perguntou, em tom de brincadeira, quando Rick deu-

lhe tempo para respirar entre beijos famintos.

— Exato. E Leedmont me disse que eu deveria agradecer a você. Posso saber por quê?

— Deve ser porque eu disse que você é uma pessoa confiável.

— Ora, ora...

— Ah, a propósito da sua bondade, esta tarde, num almoço, doei cinco mil dólares para uma entidade ecológica.

— Bem, se foi por uma causa tão nobre...

Mais um beijo, enquanto ela o despia do paletó, e então Rick avisou:

— Os Donner virão para um churrasco às seis. Sam forçou-se a manter o sorriso.

— Toda a família?

— Sim, até mesmo Chris, que está em férias. Fale-me sobre esse almoço.

— Rick, você andou procurando casa em companhia de Laurie Kunz?

— Sim. É uma casa para Patrícia, você sabe.

— E há apenas ela como corretora em Palm Beach?

— Não, mas eu queria saber mais sobre o roubo.

— Ah, então, quando decido cuidar das investigações, é perigoso, mas quando você decide fazer o mesmo, tudo bem,

certo?

— Sam, eu achei que Laurie poderia ser suspeita.

— Interessante, porque passei um bilhete pra ela hoje, dizendo que posso ajudar em qualquer problema causado pelo

irmão.

Rick soltou-a do abraço que ainda a prendia e encarou-a.

— Não fez isso...

— Fiz. Queria ver a reação de Laurie. — Sam contou-lhe o que preparara com os dois colares. — Os olhos dela quase

saltaram das órbitas ao ver o rubi, mas se manteve discreta.

— E se ela for à assassina?

—Tenho certeza de que foi Daniel. Dei um dia para ela pensar e escrevi que, depois disso, vou falar com a companhia de

seguros. Rick pensou um pouco, depois indagou:

— Ela sabe que você e Walter são amigos?

— Deve saber que trabalhamos juntos.

— Se for Laurie a assassina, não vai querer você por perto.

— Eu sei me cuidar. E só lhe contei porque, já que vai sair com ela para procurar a casa, não quero que você corra

qualquer tipo de perigo.

O interfone tocou e Rick apressou-se a atender. Reinaldo avisou que o investigador Castillo estava na biblioteca,

esperando para falar com Sam.

— Estranhei que demorasse a me chamar — disse Castillo, acomodando-se numa das poltronas da biblioteca.

— Então, sabe que Stoney e eu somos amigos. Que ele trabalha comigo na minha firma.

E

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—Sam, Tom Donner vem ligando para todo mundo tentando colher informações. E Donner significa Addison. Olhe,

estou conduzindo uma investigação de assassinato. Por favor, não se envolva com evidências ou testemunhas e não minta

para mim. Walter Barstone vem sendo observado há muito tempo e poderíamos mantê-lo preso por muitas outras

acusações. Mas, diga-me, foi por isso que quis me ver?

— Na verdade, quero saber quem o avisou de que Stoney estaria com algo da casa dos Kunz.

— Chamada anônima. E me surpreendeu ser seu amigo o receptador da peça desaparecida.

— Ele não fez nada. Foi envolvido.

— Pode provar?

— Ainda não.

— Diga-me o que sabe Sam. Será melhor.

Rick, que se mantivera calado até agora, sentou-se ao lado dela e deu sua opinião:

— Ainda acho que Donner deveria estar aqui.

— Ele vai chegar logo — disse Sam. — Agora, Frank, vai querer tomar notas?

O investigador tirou seu bloquinho do bolso e começou a escrever, enquanto a ouvia:

— Você encontrou Stoney com uma estatueta Giacometti, certo? Bem, ela não foi levada no roubo na casa dos Kunz,

porque Daniel a mostrou a mim no velório do pai. E eu lhe disse que era um molde e que uma em tamanho original devia

valer uns três milhões de dólares.

— Disse isso a ele e, no dia seguinte, seu amigo é pego com a estátua. Isso não é bom...

— Mas Stoney também estava com um rubi Gugenthal, não?

— Como sabe?

— Já lhe digo. Veja bem: se eu fosse à ladra e soubesse sobre os rubis e quisesse levá-los, passaria batida pela

Giacometti e depois voltaria para pegá-la só depois de a família saber quanto é valiosa? Não é estranho?

— E por que a "plantariam" na casa de Barstone?

— Para que a polícia concentre as atenções nele.

— Vamos ver... O rubi liga o ladrão à noite do crime, e a estatueta apenas liga Stoney a casa. Pode provar o que está

dizendo?

— Ainda não, mas acho que Daniel matou o pai, roubou os rubis, e Laurie suspeita dele. Então, me ofereci para ajudá-

la a dispor de qualquer item roubado e manter o irmão fora da cadeia.

— Você o quê?

— Está sempre dizendo que preciso arranjar provas...

— Sim, mas se a colocarem numa situação perigosa, poderá ser acusada!

— Eu sei como me safar.

— Sinto Sam, mas até agora, não consigo ligar os filhos de Kunz ao crime. Não tinham motivo. Talvez apenas se

aproveitaram das circunstâncias e tiraram o que havia no cofre.

Mais uma vez, Rick se manifestou:

—Uma coisa eu digo: dinheiro vivo é fácil de colocar numa agência imobiliária.

— Daniel é um esnobe, gosta de luxo, de bebida cara, de gastar. Também poderia usar muito bem o dinheiro e

rapidamente.

— Mas o pai nunca lhe negou nada, é um esportista, pratica esportes caros. Iatismo, pólo.

— Temos até uma partida marcada para segunda à tarde, para o Fundo de Ajuda aos Bombeiros — Rick observou.

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— Talvez devêssemos olhar os papéis do seguro para ver o que, de fato, estava em nome de Daniel. Charles devia

saber do gosto do filho pela bebida e também da sua incontrolável obsessão por gastar. Não colocaria tanto nas mãos

dele. Talvez estivesse controlando o dinheiro e tentando internar Daniel numa clínica de reabilitação.

— Posso verificar isso — Castillo murmurou.

— E não vamos nos esquecer de Laurie — Rick insistiu.

Rick estava sentado à beira da piscina, observando Sam, enquanto ela brincava na água com Mike e Olivia, os filhos

menores do casal Donner. O grupo reunido para o churrasco era, no mínimo, estranho: uma ladra, um investigador da

polícia, um advogado, sua esposa e filhos, e um nobre inglês.

Sam aproximou-se da borda.

— Vai ficar aí o tempo todo, carrancudo?

— Não estou carrancudo; apenas preocupado por você se arriscar sempre.

— Não há riscos desta vez. Laurie ainda nem ligou.

— Talvez não ligue. — Seria bom, ele imaginava, se os filhos de Kunz tivessem simplesmente deixado o país.

— E se eu entrasse na mansão?

— Sam, você prometeu!

— Mas seria por uma boa causa! Preciso salvar Stoney!

— Esqueça.

Ela lhe deu um beijo e voltou à piscina, sorrindo. O churrasco transcorreu animado, mas sem nenhuma ligação para Sam.

Quando já estavam todos se despedindo, Frank aproximou-se:

— Não deixe de me avisar sobre qualquer novidade.

— Está bem. Mas vamos ser pacientes; ela tem até amanhã para me ligar.

Solano Dorado estava em profundo silêncio agora. E Rick aproveitava para raciocinar. Pensava na investigação. Sam

dissera que Charles Kunz parecia muito tenso na noite anterior à sua morte. Talvez soubesse de algo. Olhou para seu

computador, pensando. Sam estava tomando um banho; poderia verificar os e-mails e depois convidá-la para assistirem a

um bom filme na tevê. Precisava, porém, verificar os papéis sobre os Kunz que Tom lhe entregara antes. Qualquer pista

seria bem-vinda no caso.

Abriu o envelope em sua mesa. Ali estavam cópias de documentos referentes à Vivenda Coronado, o testamento de

Charles Kunz, e mais alguns papéis sobre propriedades da família. Rick observou-os com atenção para notar algo que

pudesse levar a assassinato ou roubo.

— E o nosso filme? — ouviu, sobressaltando-se. Sam encontrava-se ao seu lado.

— Deus, você é silenciosa!

— Você é que está atento demais a esses papéis.

— Muito bem, você venceu. Venha dar uma olhada nisto.

— Ah, seu menino mau! Aposto que Donner arranjou tudo isso para você. E eu que achava que ele gostava de ser

certinho.

— Tom não gostou nada de pedir favores por estes documentos, mas eu insisti. No entanto só consigo ver aqui que

Laurie, ao contrário do que todos pensam, não é uma mulher de negócios bem-sucedida. Mas isso não a torna uma

assassina. Você estava certa quanto aos fundos para Daniel estarem restritos, porém. Não há nada aqui, mas ele deve

estar fazendo alguma coisa para receber dinheiro mensalmente.

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— Como assim? Algum acordo com o pai? Acha que ele poderia, por exemplo, ter de freqüentar uma clínica para

alcoólatras em troca de uma mesada?

— Pode ser. Você disse que Daniel bebeu escondido no barco.

— Acho que o problema dele com a bebida vai muito, além disso.

— O problema é que a morte de Charles não liberou mais dinheiro para Daniel.

— Nem no testamento?

— Não. Haveria uma liberação mensal maior de dinheiro, mas as restrições seriam as mesmas. Pelo menos, é o que li

aqui.

— Então, Daniel pode ter achado que as jóias e o dinheiro fossem suficientes para mantê-lo até que essas restrições

acabassem ou ele conseguisse arranjar um jeito de convencer um juiz de que essas restrições não teriam mais

fundamento.

— Talvez. Laurie mencionou largar a agência e dedicar-se aos negócios do pai.

— É. E você? Estava vendo esses papéis para ajudar Frank e ganhar a nossa aposta?

— Não. Estava tentando encontrar uma forma de não deixar você tão exposta ao perigo. Tudo que eu souber pode

ajudar.

Sam sorriu; abraçou-o por trás e murmurou em seu ouvido: — Deixe de se preocupar comigo, inglês. Venha. Desisti da

tevê. Quero viver um romance na pele esta noite.

O celular tocou, fazendo Sam sentar-se, sobressaltada.

— Tenho certas condições — foi a primeira coisa que Laurie disse, do outro lado da linha.

Rick acordou também, sentando-se ao lado de Sam e ouvindo-a reclamar:

— Está louca? São três da madrugada! Ligo daqui a pouco.

— Quem era? — Rick indagou.

— Laurie. Devia estar me testando para saber se eu falaria perto de você. Vou ligar de novo e ela vai achar que sou

confiável. Portanto fique bem quietinho.

Rick assentiu, tomou-lhe a mão e a apertou de leve. Segurança, apoio... Sam sentiu uma onda de carinho apoderar-se

de seu corpo. Ele já tinha dito antes que a amava e, estranhamente, não se sentira amedrontada com tal idéia, como

achava que deveria.

Sorriu, acariciou-lhe o rosto, e ouviu-o instigar:

— Faça a sua ligação.

Sam apertou a tecla para discar de volta. Laurie atendeu de pronto.

— Quais são as condições?

— Se eu achasse que Daniel poderia estar com dificuldades, não seria bom ter a polícia por perto à procura do ladrão e

assassino.

Sam entendeu de imediato. Mesmo sentindo raiva, concordou:

— Está bem. Barstone permanece na cadeia por enquanto. Será difícil encontrar outro receptador à altura, mas acho

que você vai fazer valer à pena.

— Preciso de uma garantia de que posso confiar em você. O futuro de meu irmão e também o meu estarão em jogo, se

agirmos juntas.

— Bem, para mim, trata-se de dinheiro. Seu irmão tentou me enganar, e eu não quero perder nada.

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— Não adiantaria entregá-lo à polícia, você sabe. Ele é apenas um garoto rico mimado que bebe praticamente tudo o

que recebe de mesada.

— Isso não me interessa. Quero vinte por cento para receptar os rubis, as pinturas e qualquer outra coisa que vocês

dois possam tirar da mansão sem deixar a companhia de seguros suspeitar.

— Certo. Mas, se me passar para trás, não vai viver nem para se arrepender. Já fui enganada antes e não serei de novo.

Como fazemos para negociar?

— Vai a esse jogo de pólo na segunda-feira? — Sam olhou para Rick e apontou para o pulso, querendo saber a que

horas a partida começaria. Ele respondeu erguendo dois dedos.

— Claro. Daniel vai jogar e todos que estarão lá são nossos conhecidos.

— Ótimo. Leve uma cesta de piquenique com frutas. Eu a encontro às duas e meia.

— Está bem. E não me engane, Jellicoe!

Assim que desligou, Sam voltou-se para Rick. Estava tremendo.

— Espero que dê certo — murmurou.

— Eu também. Venha, deite-se. Não vou ficar tranqüilo jogando enquanto você recebe mercadoria roubada numa

cesta de piquenique.

Ela assentiu; teria de avisar Castillo, mas estaria, ao mesmo tempo, infringindo a lei.

— Não precisa ir comigo — Sam observou, vendo Hans colocar latas de refrigerante na cesta de vime.

— Eu sei, mas vou assim mesmo — Rick insistiu, terminando de ler seu jornal.

Minutos depois entravam no conversível que servia bem a seus propósitos. Passaram pela estrada que levava à zona

mais próxima da praia, e muitas pessoas os viram.

— Seus fãs não se cansam de acenar — Sam comentou, rindo, vendo que uma garota de bicicleta quase caiu ao voltar-

se para eles. — Terá um álibi perfeito.

— Como tem certeza de que Daniel e Laurie não estarão em casa?

— Falei com Aubrey. Os dois sempre vão à missa de domingo. E imagino que, hoje, queiram pedir perdão a Deus

pelo que andam fazendo.

— Continuo achando que essa idéia que teve depois do telefonema não é nada boa. Por que quer tanto encontrar essa

arma?

— Para provar o crime, ora. Olhe, prometo que será a última vez em que vou entrar na casa de alguém, está certo?

Rick meneou a cabeça. Tinha de acostumar-se a ouvir isso com mais freqüência...

Iam entrar pela janela do banheiro. Rick estava com ela, literalmente. Seguiu todas as instruções, passo a passo, e

chegou, mesmo, a sentir a adrenalina correndo solta nas veias, ao passar correndo entre duas voltas das câmeras de

observação, pulando o muro, arriscando-se tanto. Não sabia como se deixara envolver a ponto de fazer aquilo, mas não

queria pensar no momento. Precisavam da arma, e isso era o que importava. E começava a dar real valor ao "trabalho" de

Sam. Ela era uma das melhores do mundo naquilo, com certeza.

— Onde acha que a arma está? — sussurrou, junto à parede onde se protegiam.

— Onde Daniel pudesse vê-la e sentir-se seguro de que poderia matar o pai quando quisesse. Num lugar em que os

policiais não a pudessem encontrar. Ele é cheio de si e gosta do perigo, lembra?

— Para onde vamos, então? O quarto do rapaz?

— Exatamente.

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O quarto era, na verdade, uma enorme suíte, com sala privativa e um pequeno escritório. Vasculharam por todos os

cantos, até que Sam olhou para a mesa com atenção. Sua experiência levava-a a crer que uma das gavetas poderia ter um

fundo falso. E foi exatamente assim.

— Na mosca! — murmurou ao deitar-se e forçar a gaveta mais baixa. Tirou dela uma caixa de metal retangular, na

qual, de fato, encontraram um revólver. — Meu Deus, ele realmente matou o pai! Teremos de nos cuidar para que não

tente o mesmo conosco.

— Mas não podemos tirar esta arma daqui sem comprometer as investigações da polícia.

— Não vamos tirá-la. Deve estar cheia de digitais de Daniel e só precisaremos dar um jeito para que os policiais a

encontrem. Bem, já que fizemos o que queríamos, vamos ao piquenique, para que tudo fique perfeito. Conhece alguma

praia deserta, inglês?

— Por quê?

— Esta emoção toda me deixou, digamos, tensa demais. E preciso relaxar. Com você...

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Capítulo X

Audiência transcorreu tranqüila. Rick e Sam tinham pedido a Donner e seu parceiro que simplesmente não

aparecessem no tribunal. Mesmo sabendo que Stoney se sentiria perdido e magoado, traído até, ela

compareceu, vendo-o na primeira audiência, preso, impotente. Chegou a chorar, mas Rick estava ao seu lado

para ampará-la. Tinha feito sua parte. Restava esperar que Laurie fizesse a dela.

Seguiram para a chefatura de polícia, onde, em poucas palavras, colocaram Castillo a par do plano que haviam

preparado. Mesmo contrariado, o investigador concordou que aquele seria um bom caminho.

— Posso levar um gravador desses bem pequenos comigo no encontro com Laurie — Sam ofereceu. — Poderiam

pegá-la assim.

—Não sei... Pode ser perigoso. Estamos lidando com um assassino, não esqueça. — Castillo olhou para Rick.

Também ele tinha uma expressão tensa no rosto. Mas ambos sabiam que essa seria sua única saída.

Quando chegaram ao campo de pólo, Rick beijou Sam, desejou-lhe boa sorte e seguiu para o vestuário, a fim de se

arrumar para o jogo. Ela ficou andando por ali, analisando o local. Passou a mão pelo aparelho que trazia na bolsa

pequena, sentindo o botão com que deveria ligá-lo no momento correto. Os microfones estavam atados à sua pele, por

baixo do vestido.

Notou Patrícia sentada com um grupo de conhecidos, a uma das mesas que ficavam à sombra de árvores frondosas e,

pouco mais adiante, estava Castillo. Sua presença não era estranha ali, pois as investigações continuavam. No entanto

devia estar acompanhado de outros policiais, estes sim vestidos à paisana e mesclados às pessoas.

Pouco depois, Rick retornou já vestido para a partida de pólo.

— Algum sinal dos dois? — perguntou.

— Nada.

Mas assim que Sam respondeu, Laurie e Daniel surgiram vindos dos estábulos. E ela trazia uma cesta de piquenique,

como combinado.

— Cuide-se, amor. Estarei olhando tudo — Rick sussurrou, dando um beijo rápido nos lábios de Sam e afastando-se.

O jogo começou e todos se acomodaram às mesas, para assistir. Sam ligou o aparelho e colocou a bolsa sobre a mesa.

Laurie veio devagar para junto dela e acomodou a cesta logo ao lado.

— Então, Daniel e Rick estão no mesmo jogo — comentou.

— Sim, mas lembre-se que Rick não sabe de nada entre nós. Laurie sorriu com certo desdém.

— Trouxe o combinado? — Sam indagou, olhando ao redor.

— Aqui está.

A maçã que Laurie tirou da cesta era por demais pesada. Muito bem, havia evidências de um roubo dentro da fruta.

Agora, tudo de que Sam precisava era de provas de um assassinato. Foi adiante:

— Como vai se garantir de que Daniel não a mate como fez com seu pai? Afinal, os negócios vão ficar em suas mãos,

não?

— Somos muito unidos. E outro Kunz morto levaria Daniel direto à prisão, como principal suspeito.

Ela estava absolutamente calma e fria. Teria sido a assassina? Sam continuou sua pesquisa:

A

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— Stoney sabe muito bem quanto vale uma Giacometti.

— Por isso, a roubou...

— Ele o teria feito na noite do crime, e não voltado depois para buscá-lo e arriscar-se.

— Não havia estatueta alguma na lista de bens. Deve ter pertencido a outra pessoa.

— Bobagem. Muita gente estava no velório e pode ter entrado no escritório de seu pai, visto a peça...

Laurie olhou-a, sem uma resposta. E Sam aproveitou a oportunidade para pressioná-la mais:

— Quer saber o que acho? Você matou seu pai porque ele não queria colocar Vivenda Coronado à venda. E você

estava com muitas, muitas dívidas, inclusive as do aluguel do seu negocio imobiliário. Por isso, atendeu Rick tão

rapidamente quando ele quis um imóvel. Que má impressão para uma mulher como você, não? Mostrar sua

incompetência em gerenciar uma firma... Seu pai temia que você fizesse algo contra ele, por isso quis me contratar.

— Não pode provar nada disso.

— Não? Agora estou com os rubis na maçã, não é?

Com gesto calculado, Laurie enfiou a mão na cesta que trouxera.

— Dê-me a maçã de volta.

O som característico de uma arma sendo engatilhada chegou aos ouvidos de Sam. Rick tinha razão. Laurie era a

assassina!

— Se usar essa arma, estará perdida — avisou. — Pode entregar-se agora e dizer que estava tentando livrar-se dos

rubis para ajudar seu irmão. Ele ainda pode ser seu bode expiatório.

O rosto de Laurie contraía-se devido à raiva e à frustração.

— Pena não ter conseguido vender a estatueta, não? Devia estar mesmo, muito desesperada por dinheiro.

Nesse momento, Patrícia aproximou-se. Sua expressão não era boa.

— Laurie temos de conversar.

— Agora, não!

— Agora, sim!

Laurie voltou-se para ela e, sem vacilar, deixou-a ver parte da arma que segurava. Patrícia empalideceu e, olhando

para Sam, seguiu na direção dos estábulos, para onde Laurie indicava. Sem poder fazer nada e, assim, expor a vida de

Patrícia e a sua própria diante de uma mulher desesperada para escapar, Sam foi com elas.

Castillo levantou-se, percebendo o afastamento das três, mas um breve sinal de Sam mostrou-lhe que não havia o que

fazer no momento, pois uma troca de tiros poria a vida de todos ali em risco.

— Ótimo. Agora, posso fazer com que pareça que vocês duas se mataram pelo amor do belo Rick — Laurie observou

com ironia, entre as divisões do estábulo:

Não havia mais o que esperar. Era agora ou nunca, Sam avaliou; e, voltando-se de repente, jogou sua bolsa contra o

rosto de Laurie. A surpresa a fez cambalear e, logo em seguida, cair com o pontapé que Sam lhe desferiu na cintura. As

duas começaram uma luta frenética, durante a qual a arma disparou. A briga prosseguiu por mais alguns segundos, até

que Sam sentiu mãos fortes segurando-a pelos ombros.

Castillo e mais de dez policiais à paisana estavam ali, separando-as.

— Muito bem, já temos a arma — disse ele.

— As maçãs! — Sam gritou ainda, mas não conseguiu ver mais nada além de Daniel Kunz entrando no estábulo, com

o taco de pólo erguido em sua direção.

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Tudo se passou num instante. Rick cavalgando atrás de Daniel, desarmando-o do taco, jogando-o ao chão, e a polícia

prendendo-o também. O caso estava resolvido. Uma assassina e seu irmão, cúmplice por saber de tudo, por ajudá-la no

roubo.

A manhã estava fabulosa em Palm Beach. Sam chegou ao escritório quando passava das dez. Stoney tinha tirado o dia

de folga, para encontrar-se com sua namorada corretora. Merecia, depois de tantos dias tensos na cadeia. A vida voltava

ao normal. Precisavam, ainda, de uma recepcionista.

— Posso entrar? — Rick perguntou, sorrindo.

— Achei que estivesse em reunião com Donner.

— Saí para um café e para lhe trazer isto. — Ele depositou um jornal sobre a mesa, onde havia a manchete e a notícia

a respeito da prisão dos irmãos Kunz. Algumas linhas estavam dedicadas a Patrícia, que acabara sendo considerada

ajudante na solução do caso. Sam leu e sorriu. A fita que guardava sobre a ex de Rick ainda era um segredo seu e dela.

— A propósito, vim para lhe dar isto também — disse Rick, tirando uma nota de cem do bolso.

— Oh... Vou comprar roupas de baixo novas.

— Ótimo. — Ele a enlaçou, beijando-a e gemendo de leve. — Vai vesti-las para mim mais tarde, suponho.

Sam repetiu o beijo e o gemido antes de responder:

— Todas.

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