aprendizagem organizacional para sustentabilidade ... · 2.5. educação para sustentabilidade o...
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APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL
PARA SUSTENTABILIDADE
ORGANIZACIONAL:
DESENVOLVIMENTO DE
COMPETÊNCIAS EM FABRICANTES DE
EQUIPAMENTOS ELETROMÉDICOS
Marco Antonio Silveira (CTI )
Leticia Sayuri Kikuchi (CTI )
Nanci Gardim (CTI )
Cristiani Aparecida Policeno (CTI )
Leticia Damasco Silveira (CTI )
Os mercados atuais exigem das empresas níveis de desempenho
sucessivamente maiores visando fazer frente às forças competitivas
existentes e atender às demandas de tecnologias em constante
evolução. Essas inovações exigem um aprendizado consstante das
organizações e dos trabalhadores que as sustentam. Por outro lado, a
abrangência, importância econômica e impactos ambientais da
indústria de eletrônicos estão a exigir sua transição para modelos de
produção sustentáveis, como aqueles definidos pelas diretivas
europeias WEEE, para gestão de resíduos de seus equipamentos, e
RoHS, para minimização de substâncias perigosas de seus produtos e
processos, e pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, promulgada
recentemente no Brasil por meio da Lei Nº 12.305/2010. Tendo como
premissa que um País de economia emergente como o Brasil precisa
desenvolver mecanismos de apoio às suas empresas, teve início em
2010 um projeto de âmbito nacional cujo propósito é apoiar a
sustentabilidade com enfoque triple bottom line da indústria eletrônica
brasileira. A implantação dessas propostas iniciou-se com a execução
de um projeto piloto com nove empresas do setor de equipamentos
eletromédicos, escolhidas por serem intensivas em tecnologia,
exportadoras e precisarem se adequar às regulações ambientais. Este
trabalho tem como objetivo apresentar uma síntese do plano, e de
algumas ações já implantadas, elaborado para o desenvolvimento de
competências nessas empresas piloto, cujas características principais
foram identificadas através de um conjunto de avaliações realizadas
entre abr/2011 e mar/2012. Para ilustrar, foca-se o desenvolvimento
de competências visando à cultura para sustentabilidade, em especial,
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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na capacitação dos gestores para fomentar a aprendizagem junto à sua
equipe (aqui denominado de “gestores educadores”). Este trabalho
prevê a dinamização da aprendizagem nas empresas envolvidas como
meio para superar os desafios existentes, pois estratégias que
valorizam o capital intelectual podem proporcionar os meios
necessários para gerar vantagens competitivas sustentáveis, ao mesmo
tempo que contribuem para a valorização do capital humano. O
trabalho apresenta a abordagem TCD (sigla para “Trabalho,
Capacitação profissional e Desenvolvimento pessoal), que integra
contribuições teóricas buscando interligar a aprendizagem ao
trabalho, a fim de humanizar as organizações em prol de sua
sustentabilidade econômica e social.
Palavras-chaves: Aprendizagem organizacional, Conhecimento
organizacional, Sustentabilidade organizacional, Desenvolvimento de
competências, Indústria eletrônica
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1. Introdução: tripé da sustentabilidade em resposta aos desafios atuais
As organizações são, em sua maioria, sistemas de alta complexidade em contínua interação
com o seu ambiente externo de onde importam os recursos necessários para a execução de
suas atividades e para onde exportam os seus produtos, na forma de bens tangíveis,
informações ou serviços.
Na medida em que os mercados se tornam mais complexos, competitivos e dinâmicos, uma
gama de novos desafios está sendo imposta às organizações, especialmente as empresariais.
Se até bem pouco tempo as empresas eram mais livres para atuar sem se preocupar com os
prejuízos provocados ao meio ambiente e à sociedade, visando tão somente o seu lucro e
crescimento, o nível de impactos negativos provocados pelas atividades empresariais chegou
a um ponto em que começaram a surgir importantes reações na sociedade.
Em poucos anos ficaram mais visíveis as inter-relações entre questões econômicas, sociais e
ambientais. A abordagem que busca a solução integrada nas três dimensões citadas se
constitui no, assim denominado, tripé da sustentabilidade, ou enfoque triple bottom line
(TBL) da sustentabilidade, explicitado pela primeira vez na obra de Elkington (1998).
Este trabalho tem o objetivo de apresentar os principais aspectos relacionados com o plano
para capacitação e os primeiros resultados de sua implantação em um conjunto de nove
empresas que fazem parte de um projeto piloto visando apoiar a adequação do setor brasileiro
de equipamentos eletromédicos (E.E.) aos requisitos ambientais que vem sendo impostos à
indústria eletrônica, com o citado enfoque TBL. Serão apresentados os resultados obtidos no
projeto durante o período de abr/2011 a mar/2012.
2. Fundamentos
A indústria eletrônica vem sendo alvo de uma série de regulamentos específicos que se
adicionam à legislação ambiental aplicável aos demais setores econômicos. Após uma visão
dessas regulações ambientais, serão apresentados os demais fundamentos de interesse para o
projeto.
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2.1. Legislação ambiental na indústria eletrônica: os desafios no setor de E.E.
Hoje se requer produzir de modo ambientalmente adequado. No Brasil, por exemplo, foi
lançada em 2010 a Política Nacional de Resíduos Sólidos (P.N.R.S.), considerado um marco
histórico no movimento ambientalista nacional.
Já a indústria eletrônica, em virtude de sua abrangência, importância econômica e impactos
ambientais, vem merecendo uma atenção especial para se adequar a modelos de produção
sustentáveis. Desde 2006 estão em vigor na União Européia restrições para a comercialização
de seus produtos, através das diretivas WEEE-Waste of Electro-Electronic Equipments
(Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos) e RoHS-Restriction of Hazard Substances
(Restrição de Substâncias Perigosas-SP). Essas diretivas vêm sendo adotadas integral ou
parcialmente também em diversos outros países, como China, Japão e EUA.
A diretiva WEEE trata da gestão de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos, definindo
requisitos tanto para minimizar a quantidade desses resíduos como para tratar os resíduos
efetivamente gerados. Já a diretiva RoHS responsabiliza formalmente as empresas caso seus
produtos possuam substâncias nocivas à saúde (chumbo, mercúrio, cádmio, cromo
hexavalente e polibromobifenila e éter de difenil polibromado) em quantidades acima de um
limite permitido.
Para que as empresas possam evidenciar a sua conformidade aos requisitos derivados da
RoHS, a opção feita neste projeto foi pelo documento publicado no Brasil em 2010 com a
denominação “ABNT IECQ/QC 080.000: 2010 Sistema de gestão para substâncias perigosas
em produtos e componentes elétricos e eletrônicos – Requisito” (ou, simplesmente, QC
080.000). A QC 080.000 especifica requisitos para desenvolvimento dos processos de
identificação, controle, quantificação e relato de quantidades de SP, como aquelas definidas
pela RoHS, em produtos fabricados ou fornecidos pelas empresas.
2.2. Capital intelectual como instrumento para sustentabilidade
Na abordagem da teoria neoclássica, os recursos organizacionais restringem-se a capital,
trabalho e terra. Porém, como consequência da dinâmica evolutiva dos mercados
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atuais, a teoria dos recursos expandiu a noção de recursos organizacionais, definindo-os como
sendo “entidades tangíveis e intangíveis que a firma tem à sua disposição e que lhes
permitem produzir com mais eficiência ou eficácia” (Sveiby, 1998).
O conjunto de recursos intangíveis é denominado por vários autores como capital intelectual,
entendido como aqueles recursos que não possuem existência física, mas, que assim mesmo,
representam valor para a empresa (Edvisson e Malone, 1998). Isso inclui tanto a capacidade
intelectual humana, como outros ativos intangíveis decorrentes da aplicação do conhecimento,
entre eles, marcas e patentes.
Sveiby identifica três conjuntos de fatores que compõem o capital intelectual:
capital humano, representando os conhecimentos e as competências dos colaboradores,
colocados à disposição da organização;
capital estrutural, envolvendo tanto os softwares e sistemas de gestão, como os demais
ativos organizacionais que possam ser relacionados na categoria de “propriedade
intelectual” (marcas, patentes entre outros);
capital de relacionamento, correspondente à geração de conhecimento resultante das
relações com outras organizações, como clientes e fornecedores.
2.3. Estratégias para inovação e aprendizagem
A partir de 1960 identificou-se a necessidade de se pensar a empresa holisticamente, quando
foi introduzido o conceito de estratégia para suprir esta lacuna (Montgomery&Porter, 1998,
p.12).
A importância do enfoque estratégico vem crescendo na proporção direta em que aumentam o
nível de competitividade e o ritmo das transformações no ambiente empresarial. Vantagens
competitivas sustentáveis, segundo Day&Rebstein (1994, p. 165), estão relacionadas à
manutenção de resultados superiores, existindo três grandes grupos de estratégias: liderança
por custos, liderança por diferenciação e nicho de mercado (Porter, 1990, p.23).
Este projeto foca nas estratégias baseadas em diferenciação, para as quais a inovação é um
importante instrumento. A inovação é o resultado da aplicação de novos conhecimentos na
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organização, e o conhecimento é um atributo próprio do ser humano, de onde pode se
perceber a importância da consideração adequada do capital humano e dos fatores que o
influenciam.
Em Silveira (2006), são exploradas as relações de causalidade entre aprendizagem, inovação e
vantagem competitiva, apresentadas na figura 1, baseadas no pressuposto que,
desconsiderando eventuais casualidades, toda inovação requer uma aprendizagem
correspondente.
Figura 1 – Cadeia de relações causais aprendizagem-inovação-competitividade
Fonte: Silveira 2006
2.4. Aprendizagem TCD
Uma alternativa vantajosa para o desenvolvimento de competências é a busca de integração
do processo de aprendizagem organizacional com o desenvolvimento das atividades laborais.
A integração dessas atividades resulta na otimização da aprendizagem pelos ganhos de
eficácia e de eficiência, pela sinergia de esforços criada (SILVEIRA et al., 2011).
Propõe-se uma abordagem denominada TCD, em que se busca a integração entre Trabalho,
Capacitação profissional e Desenvolvimento pessoal. Essa abordagem ressalta dois aspectos
principais: a) integração do desenvolvimento de competências com as atividades laborais; b)
distinção entre capacitação profissional e desenvolvimento pessoal (SILVEIRA et al., 2011).
A abordagem TCD possibilita a realização profissional, tornando o trabalho digno e
prazeroso, e o trabalhador um ser capaz de fazer o seu melhor e se desenvolver cada vez mais,
alinhando objetivos e competências individuais e organizacionais.
São as capacidades humanas como a inteligência, a criatividade, a intuição e a inovação,
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aplicadas à tecnologia e à técnica, os instrumentos-chave para o sucesso das organizações
atuais, o que justifica a valorização da capacitação profissional e desenvolvimento social na
abordagem proposta.
Gestor educador
A abordagem TCD requer um novo perfil dos gestores que incorporem a responsabilidade
pelo fomento e compartilhamento de novos conhecimentos no âmbito dos processos sob sua
responsabilidade, ou seja, tem como função intermediar um diálogo entre os empregados e a
direção, reportando avanços, dificuldades e sugestões de melhorias no trabalho da equipe.
Em Silveira et al. (2011) este agente é denominado gestor educador, isto é, um gestor
responsável pela coordenação do capital intelectual e dos processos inerentes à aplicação da
abordagem TCD dentro do seu departamento, cabendo a ele promover e coordenar a
participação de sua equipe nas práticas de aprendizagem, estimulando a geração e
disseminação do conhecimento, buscando a capacitação profissional necessária, o
desenvolvimento pessoal almejado e a inovação nos processos.
2.5. Educação para sustentabilidade
O conceito de aprendizagem que propomos busca convergir metas de natureza econômica,
social e ambiental, baseadas no enfoque TBL de sustentabilidade. Além disso, entendemos
que a aprendizagem organizacional consiste no ganho de competências, sendo esta o agente
impulsionador da inovação, de modo a atender as demandas mercadológicas e promover
vantagens competitivas.
Assim, vemos a educação contínua como um meio de integração das necessidades inerentes
aos vários stakeholders, sendo aqui discutidos, privilegiadamente, os aspectos econômicos e
sociais. Éboli e Mancini (2011) elencam as competências necessárias para o desenvolvimento
sustentável das organizações, as quais são apresentadas na figura 1.
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Figura 2 - Competências necessárias para o Desenvolvimento Sustentável
Competências
- capacidade de mobilizar pessoas - capacidade de reconhecer limites - conhecimento interdisciplinar - consciência ambiental, social e econômica - cooperação - eficiência - ética, honestidade e responsabilidade - flexibilidade - habilidade de diálogo e comunicação - habilidade de planejamento - liderança - percepção e ação - pró-atividade - visão crítica - visão de longo prazo - visão sistêmica
Fonte: Eboli e Mancini (2011)
Desenvolvendo as competências humanas de seus colaboradores – objeto de todo processo
educacional e chave para o sucesso organizacional - as organizações terão as condições
necessárias de obter competências organizacionais e empresariais, bem como o
desenvolvimento do trabalho na perspectiva da integração TCD.
3. Métodos utilizados
O projeto aqui descrito tem como propósito fundamental apoiar a adequação das EP aos
requisitos ambientais – em especial à RoHS, WEEE e P.N.R.S. - contribuindo para a sua
competitividade e para a integração do capital intelectual das organizações envolvidas,
visando à sustentabilidade do setor brasileiro de E.E. A seguir serão descritos os métodos
relacionados com esse propósito.
3.1. Caracterização do problema
A proposta do projeto foi delineada visando ao desenvolvimento socioeconômico com
equilíbrio ambiental de empresas nacionais de pequeno e médio porte da indústria eletrônica.
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Para tanto, torna-se necessário buscar meios para que essas empresas possam se adequar às
legislações ambientais aplicáveis a esta indústria, de uma maneira tal que não se perca de
vista a viabilização dos seus negócios e os demais interesses da sociedade.
Portanto, o referencial teórico que embasa o desenvolvimento metodológico deste estudo
indica tratar-se de uma pesquisa experimental, pois envolve casos reveladores em que serão
observados fenômenos até então inacessíveis à pesquisa científica.
Trata-se de uma proposta inovadora na medida em que se busca desenvolver os métodos
necessários para apoiar o desenvolvimento sustentável de uma indústria específica, integrando
efetivamente à dimensão ambiental, as dimensões econômica e social, portanto, de modo
alinhado com o enfoque de sustentabilidade TBL.
Entre os métodos de interesse se inclui o desenvolvimento das competências necessárias para
a consecução dos objetivos do projeto, de maneira adequada à realidade das empresas
envolvidas, que é o foco principal deste artigo.
Visando obter as informações necessárias para elaboração do plano para o desenvolvimento
das competências dos funcionários das EP necessárias para a consecução dos objetivos do
projeto, no período de abr/2011 a mar/2012 foram realizadas em cada EP as três avaliações a
seguir descritas. Para integrar todas as informações obtidas nessas avaliações foi utilizada a
pesquisa de levantamento, uma das cinco metodologias na tipologia proposta por Bryman
(1995), indicada quando se deseja examinar padrões de relacionamento entre variáveis, sendo
associada a entrevistas estruturadas e questionários auto-administrados.
3.2. Avaliações das EP
No período de maio a junho de 2011, foi feita a avaliação inicial de cada EP utilizando-se a
metodologia BenchStar, envolvendo aspectos de gestão (estratégia, financeira, marketing e
pessoas), processos produtivos (qualidade, produção e inovação) e relações com a sociedade e
o meio ambiente (meio ambiente, saúde e segurança, responsabilidade social).
Essa
metodologia prevê a coleta de dados de todas as áreas da empresa visando estabelecer uma
pontuação para cada processo estudado, de modo a poder avaliar aspectos de gestão,
processos produtivos, relações com a sociedade e o meio ambiente. Sendo um benchmarking,
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permite avaliar o posicionamento de cada empresa em relação ao grupo (MAZO, 2003).
De ago a nov/2011 as EP foram avaliadas com base em um outro questionário desenvolvido
pela própria equipe, visando obter informações específicas de interesse do projeto. Essa
avaliação contemplou questões estratégicas sobre a empresa e seus negócios, além de uma
visão sobre o mercado e seus concorrentes. As questões abordavam dados referentes ao
produto alvo, estratégias, cadeia de fornecimento, inovação, logística, percepções e
expectativas da empresa. Também envolviam informações sobre P&D, possíveis problemas
da empresa, planejamento, nível de cooperação do setor, visão da empresa, suas prioridades e
inibidores para alcançar a visão organizacional.
De mar a abr/2012 foi feita uma terceira avaliação em seis das nove EP, para conhecer em
profundidade questões referentes a sistemas de gestão, processos, fornecedores e capacitação,
de interesse para a adequação da empresa às legislações ambientais que fazem parte do
escopo do projeto piloto. Essa avaliação permitiu o mapeamento dos diversos processos do
sistema de gestão da empresa, identificar as melhores práticas, deficiências e necessidades na
gestão da cadeia de fornecedores.
Todas as entrevistas foram presenciais e conduzidas por um ou mais entrevistadores.
3.3. Objetivos de aprendizagem neste projeto
Para permitir o desenvolvimento dos métodos necessários para a consecução do propósito
fundamental que é desenvolver a sustentabilidade com enfoque TBL nas EP, este foi
desdobrado em cinco metas organizacionais a serem alcançadas nas EP, as quais são
apresentadas na figura 3. Os detalhes sobre como essas cinco metas estão articuladas entre si,
e como serão implantadas estão apresentadas em Silveira (2011).
As cinco metas organizacionais das EP foram agrupadas nos seguintes três eixos de
competências:
1. Visão estratégica da sustentabilidade
2. Adequação aos requisitos ambientais
3. Cultura para sustentabilidade
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O plano de aprendizagem para desenvolvimento desses grupos de competências está
apresentado na figura 4.
Figura 3 – Desdobramento do objetivo do projeto em metas organizacionais para as EP
Fonte: Dados da pesquisa
Figura 4 – Estrutura do plano para desenvolvimento das competências
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Fonte: Dados da pesquisa
4. Resultados
A seguir são apresentados os resultados das avaliações feitas nas EP e aqueles associados com
o desenvolvimento do plano de aprendizagem, e os primeiros resultados obtidos.
4.1. Caracterização das EP
Todas as EP são constituídas por capital nacional, predominando empresas de pequeno e
médio porte, tendo a maioria entre 50 e 250 empregados. Apenas uma empresa está situada no
Sul do País, sendo que 67% delas estão no interior paulista. Portanto, se encontram em
regiões com boa infraestrutura logística e proximidade de potenciais compradores.
A atuação dessas empresas é voltada para a instrumentalização de centros cirúrgicos,
hospitais, clínicas e ambulâncias. A demanda de seus produtos tem como principal público-
alvo órgãos públicos, hospitais privados, clínicas médicas, clínicas de estética e de
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fisioterapia.
Na figura 5 são apresentados o número de funcionários e a localização de cada EP, bem como
o produto objeto deste projeto, aqui denominado “produto alvo”.
Figura 5 - Conjunto de EP e principais características
Empresa
Piloto (EP)
Produto Alvo
no Projeto Piloto
Número de
Funcionários
Localização
(estado)
A Bisturi cirúrgico eletrônico 70 SP – interior
B Mesa cirúrgica 215 SP – capital
C Produto fisioterápico 115 SP – interior
D Bomba de infusão 500 RS - Interior
E Bisturi cirúrgico eletrônico 45 SP – interior
F Produto fisioterápico 85 SP – interior
G Incubadora 60 SP – interior
H Diagnóstico oftalmológico 225 SP – interior
I Ventilador pulmonar 115 SP – capital
Fonte: Dados da pesquisa
Com base nos dados levantados sobre a distribuição dos colaboradores pelo nível educacional
identificou-se que 50% da mão de obra possui escolaridade máxima de nível médio, enquanto
27% dos colaboradores possuem nível superior. São esses colaboradores que formam a base
dos departamentos de P&D das empresas entrevistadas, área na qual aparecem em maior
concentração: 45% estão nas atividades de P&D ou de engenharia dos processos. Os
colaboradores de nível técnicos correspondem, por sua vez, ao terceiro maior grupo de
profissionais por nível educacional, com participação de 11% no total.
Os processos de capacitação normalmente empregados variam pouco entre as empresas,
predominando um sistema de treinamento que faz a integração dos colaboradores aos
processos rotineiros.
Todas as empresas têm consciência da necessidade de envolverem todos os seus funcionários
no projeto, em especial os gestores, sendo que por motivos práticos, somente em cinco delas
isso está ocorrendo efetivamente.
Como principais problemas gerais, foram identificados falta de mão de obra qualificada,
capacidade de investimento limitada e lentidão dos órgãos reguladores.
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4.2. Desenvolvimento da visão estratégica da sustentabilidade
À exemplo do que ocorre com a maioria dos profissionais e organizações, as EP apresentavam
uma visão sustentabilidade, restrita a questões ambientais. Uma das consequências desta visão
limitada é a dificuldade para superar os desafios impostos, uma vez que a empresa só
consegue perceber os custos associados. Portanto, um aspecto fundamental no projeto foi
desenvolver nos gestores das EP uma visão estratégica da sustentabilidade. Isso se deu em três
eixos complementares: o imperativo ambiental da sustentabilidade, estratégia baseada em
inovação e gestão integrada do composto de marketing.
No primeiro eixo busca-se construir o entendimento de que os problemas ambientais
atingiram uma proporção tamanha em nossa sociedade que as mudanças na legislação serão
no sentido de se tornar ainda mais exigentes. Isso implica que inovações em produtos e
processos decorrentes do imperativo ambiental estão se tornando compulsórias, cabendo às
empresas somente decisões de como e em que ritmo implantá-las; portanto, as empresas cujas
estratégias estão alinhadas com essas tendências possuem maiores chances de sucesso. No
terceiro eixo se procura instrumentalizar as empresas sobre como implantar essa visão
estratégica, através de uma mudança integrada no composto de marketing.
Esses três eixos estão sendo desenvolvidos com base em cursos presenciais, propostas de
tarefas associadas e discussões com gestores, em especial durante as visitas nas empresas. Na
figura 6 são apresentados os cursos presenciais associados aos três eixos mencionados.
Figura 6 – Cursos presenciais para capacitação dos gestores das EP
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Capacitação
(O QUE)
Objetivo Principal
(PORQUE)
Participantes
(QUEM)
Duração-Data
(QUANDO)
Estratégia
baseada em
inovações
Discutir como as inovações
necessárias ao projeto podem
alavancar a competitividade da
empresa
Diretores da Empresa
Desejável: R.D.
Duração: 04 h
Data: jul/2011
Gestão da
sustentabilidade
em empresas
Apresentar mecanismos para
integrar requisitos ambientais aos
objetivos do negócio da empresa
Diretores da Empresa
(pelo menos um)
Desejável: R.D.
Duração: 04 h
Data: jul/2011
Gestão
integrada do
composto de
marketing
Dar início ao planejamento
integrado dos 4P´s do marketing:
Produto, Preço, Promoção e Praça
Funcionários da área
comercial e de marketing
Desejável: Diretor da
Empresa
Duração: 04 h
Data: set/2011
Compras
governamentais
sustentáveis
Apresentar as vantagens da
adequação aos requisitos
ambientais nas compras
governamentais
Funcionários da área
comercial e de marketing
Desejável: Diretor da
Empresa
Duração: 02 h
Data: set/2011
*R.D.: Representante da Diretoria
Fonte: Dados da pesquisa
4.3. Capacitação para adequar aos requisitos ambientais
A adequação aos requisitos ambientais derivados da RoHS, WEEE e P.N.R.S. envolve uma
série de desafios importantes para as EP, tendo em vista a sua limitação na capacidade de
investimento e o seu quadro de pessoal reduzido.
No estágio atual de conhecimento e de competências em que o setor nacional de E.E., e a
indústria eletrônica como um todo, ainda são muito incipientes os métodos associados à uma
adequação segura das empresas. Entre os métodos necessários, podem ser mencionados a
gestão da cadeia de fornecedores para fornecimento de insumos livres de SP, integração de
sistemas de gestão, controle de processos de produção e de pós-produção, implantação do
principio de due diligence (procedimento metódicos de análise de informações e documentos,
com o objetivo de mensurar riscos efetivos e potenciais), entre outros.
Devido à envergadura desses desafios, o plano de aprendizagem foi desenvolvido com
enfoque TCD, incluindo cursos presenciais (mostrados na Figura 7), discussões com todo os
R.D. das empresas piloto, assessorias durante as visitas técnicas, reuniões com os funcionários
das áreas mais envolvidas, entre outros instrumentos que foram e serão aplicados.
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Figura 7– Cursos presenciais para capacitação dos gestores das EP
Capacitação
(O QUE)
Objetivo Principal
(PORQUE)
Participantes
(QUEM)
Duração-Data
(QUANDO)
Introdução à
QC 080.000
Fornecer informações sobre os
requisitos e demandas associadas à
esse documento.
R.D.
Desejável: outros funcionários da
área de qualidade
Duração: 16 h
Data: jun/2011
Introdução à
gestão
integrada de
processos
Fazer uma introdução de
ferramentas para gestão dos
processos, que irão auxiliar no
nosso projeto
R.D.
Desejável: Diretor Industrial
Duração: 04 h
Data: ago/2011
Sistemas
integrados de
gestão
Mostrar como integrar todos os
sistemas de gestão da empresa:
qualidade, segurança, RoHS etc.
R.D.
Desejável: Diretor Industrial
Duração: 04 h
Data: ago/2011
Introdução à
WEEE e
P.N.R.S.
Apresentar as vantagens nas
compras governamentais da
adequação da empresa à WEEE e à
RoHS
R.D.
Desejável: Pessoas da área
comercial e de marketing
Duração: 02 h
Data: set/2011
*R.D.: Representante da Diretoria
Fonte: Dados da pesquisa
4.4. Desenvolvimento da cultura para sustentabilidade: o papel do gestor educador
Neste trabalho, no que se relaciona à meta para desenvolver cultura para sustentabilidade,
vamos nos ater ao desenvolvimento das competências do gestor educador, as quais foram
feitas com base no trabalho de Perrenoud (2.000) sobre a construção de competências, e estão
apresentadas na figura 8.
O objetivo da definição de capacidades necessárias para os gestores é de promover uma
sequência didática para formar líderes que sejam competentes em gerir equipes, valorizando o
conhecimento humano dos colaboradores bem como o desenvolvimento profissional e
pessoal. Com base nisso, o plano para desenvolvimento de competências visando formar
gestores educadores, prevê os seguintes três níveis, sucessivamente mais profundos:
- Nível 1: conscientização sobre a importância da aprendizagem organizacional na
superação dos desafios derivados da dinâmica competitiva atual e para atingir a
necessária sustentabilidade organizacional;
- Nível 2: compreensão dos fundamentos subjacentes ao papel do gestor educador na
equipe;
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- Nível 3: conhecimento das principais técnicas de apoio ao papel do gestor educador.
Figura 8: Competências de um gestor educador
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Competências do
Gestor Educador
Desdobramento das Competências
Organizar e dirigir
situações de aprendizagem
1.1 Ter claro os conteúdos a serem ensinados e quais são os objetivos
dessa aprendizagem
1.2 Trabalhar a partir da ação (contexto de trabalho)
1.3 Trabalhar considerando os erros como possibilidade de
aprendizagem
1.4 Construir, planejar e sequenciar conteúdos a serem apreendidos.
1.5 Envolver os colaboradores em atividades que estimulam na busca
pelo conhecimento.
Administrar a progressão
das aprendizagens
2.1 Saber administrar conteúdos/situações-problema de acordo com as
possibilidades dos colaboradores
2.2 Adquirir uma visão longitudinal dos objetivos de ensino (a
capacitação para o desenvolvimento profissional)
2.3 Estabelecer laços com as teorias de aprendizagem às atividades
específicas.
2.4 Avaliar o processo da aprendizagem, de acordo com uma abordagem
formativa
2.5 Fazer balanços de competências (conhecimentos, habilidades e
atitudes) e tomar decisões de progressão.
Conceber e fazer evoluir os
dispositivos de diferenciação
3.1 Conhecer/administrar a heterogeneidade da equipe
3.2 Fornecer apoio integrado: relação gestor-educador e colaboradores.
3.3 Desenvolver a cooperação/interação entre os colaboradores, a fim de
fomentar formas de ensino mútuo.
Envolver os alunos em suas
aprendizagens e em seu
trabalho
4.1 Suscitar a motivação para aprender e ressignificar o sentido do
trabalho, e desenvolver a capacidade de auto-avaliação
4.2 Favorecer a definição de um projeto de desenvolvimento do
trabalhador (desenvolvimento humano)
Trabalhar em equipe
(Líder-Educador)
5.1 Elaborar um projeto em equipe
5.2 Dirigir um grupo de trabalho
5.3 Enfrentar e analisar em conjunto situações complexas, práticas e
problemas profissionais
5.4 Administrar crises ou conflitos interpessoais
Participar da administração
da cultura organizacional
6.1 Organizar e fazer evoluir, no âmbito da organização, a participação
dos colaboradores.
Informar e envolver todos 7.1 Envolver todos na construção dos saberes, enfatizando a necessidade
do "aprender-a-aprender"
Utilizar novas tecnologias 8.1 Explorar as potencialidades didáticas dos programas em relação aos
objetivos do ensino
8.2 Utilizar as ferramentas multimídias no ensino
Enfrentar os deveres e os
dilemas éticos da profissão
9.1 Promover as relações harmoniosas e de respeito mútuo
9.2 Lutar contra os preconceitos e as discriminações sexuais, étnicas e
sociais.
Administrar a sua própria
formação contínua
10.1 Saber explicitar as próprias práticas
10.2 Estabelecer seu próprio balanço de competências e seu programa
pessoal de formação contínua
10.3 Negociar um projeto de formação comum com os parceiros de
trabalho
10.4 Acolher a formação dos parceiros e participar dela.
Fonte: Elaboração própria (baseado em Perrenoud: 2.000)
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Na figura 9 são apresentados os níveis necessários para o desenvolvimento das competências
desejadas para os diretores e os gestores das EP.
Figura 9 - Níveis das competências na formação do gestor educador no Projeto Piloto
Competências principais do gestor educador
Funções na Empresa
Nível 1 (sensibilização)
Nível 2 (orientação)
Nível 3 (Treinamento)
Entender a importância da aprendizagem organizacional
Todos os Funcionários
Diretores e Gerentes
Gerentes
Compreender os fundamentos do gestor educador
Diretores e Gerentes
Diretores e Gerentes
Gerentes
Conhecer técnicas do gestor educador
- - Gerentes
Fonte: Dados da pesquisa
Os resultados das avaliações indicaram que nenhum dos gestores das EP tinha qualquer
formação ou conhecimento prévio relacionado com o perfil de gestor educador. Portanto, o
processo para desenvolvimento de competências deve se iniciar buscando suprir de forma
abrangente as lacunas referentes ao nível 1, ou seja, buscando a conscientização sobre a
importância da aprendizagem organizacional na superação dos desafios derivados da
dinâmica competitiva atual e para atingir a necessária sustentabilidade organizacional.
5. Comentários Finais
A superação dos múltiplos desafios impostos às empresas, tanto decorrentes dos níveis de
desempenho sucessivamente maiores impostos pelos mercados atuais, como aqueles para
realizar a necessária transição para modelos de produção sustentáveis não é tarefa simples,
confirmado a necessidade de um projeto como o que aqui apresentado que, ao apoiar as
empresas em todos os aspectos envolvidos, facilita sobremaneira a superação das muitas
dificuldades associadas.
Este projeto tem alguns aspectos que o fazem original, uma vez que foi estruturado de modo a
alcançar ao mesmo tempo vários objetivos consideravelmente ambiciosos, entre os quais
viabilizar a adequação do setor brasileiro de E.E. às diretivas RoHS e WEEE e à P.N.R.S.,
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mantendo o princípio da sustentabilidade TBL
As avaliações realizadas nas nove EP confirmaram a sua representatividade do setor, uma vez
que são constituídas por capital nacional e, em sua maioria, são de pequeno e médio porte.
Essas características as tornam muito flexíveis na tomada de decisão e no manejo das
tecnologias.
O projeto prevê a dinamização da aprendizagem nas empresas como caminho para superar os
desafios existentes, pois estratégias que valorizam o capital intelectual podem proporcionar os
meios necessários para gerar vantagens competitivas sustentáveis, ao mesmo tempo que
contribuem para a valorização do capital humano. O enfoque de aprendizagem organizacional
aqui proposto visa à integração de objetivos de múltiplas naturezas, de modo a que se torne
um instrumento para viabilizar a sustentabilidade da organização baseada na abordagem TBL.
O trabalho apresentado apresentou o plano para desenvolvimento de várias competências,
incluindo aquelas para manter uma cultura para sustentabilidade, em especial, na capacitação
dos gestores educadores, visando fomentar a aprendizagem junto à sua equipe.
O desenvolvimento de novas competências associadas às prioridades estratégicas da
organização alavanca uma série de relações causais não-lineares, provocando mecanismos de
interação positiva entre os vários elementos constituintes da organização. Muito embora seja
praticamente impossível quantificar de maneira precisa essas relações de benefícios mútuos
(que são o princípio da sustentabilidade organizacional), elas podem ser ilustradas através de
ganhos perceptíveis para cada todos os grupos de stakeholders organizacionais.
Por exemplo, o desenvolvimento de novas competências aumenta a empregabilidade do
empregado, proporcionando meios para que ele agregue mais capital humano à organização, o
que permite o aperfeiçoamento dos processos organizacionais, resultando em produtos que
agregam mais valor aos clientes.
Assim, a sociedade terá uma série de ganhos econômicos (mais impostos e geração de
riquezas), tecnológicos (dinamização e adensamento tecnológico das cadeias produtivas) e
sociais (empregos qualificados e cidadãos mais educados).
Desse odo, o projeto parece atender à sua proposição fundamental, que é apoiar as empresas
nacionais, mantendo o foco no principio da sustentabilidade TBL, integrando benefícios
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econômicos, ambientais e sociais.
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