aprendizagem motora: tendências, perspectivas e problemas de

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REVISTA GALEGO-PORTUGUESA DE PSICOLOXÍA E EDUCACIÓN 2 (Vol. 2) Ano 2°-1998 ISSN: 1138-1663 APRENDIZAGEM MOTORA: TENDÉNCIAS, PERSPECTIVAS E PROBLEMAS DE INVESTIGA9AO. MOTOR LEARNING: TENDENCES, PROSPECTS AND RESEARCH PROBLEMS Go TANI Universidade de sao Paulo 1. CONSIDERA90ES INICIAIS. Para urna melhor compreensao da Aprendizagem Motora (Motor Learning) como um campo de estudo, é importante con- siderar a sua relac;ao com Controle Motor (Motor Control) e Desenvolvimento Motor (Motor Development) que, juntos, constituem urna área integrada de estudos denominada de Comportamento Motor (Motor Behavior). Como sabemos, o campo de estudos deno- minado de Controle Motor procura estudar como os movimentos sao produzidos e con- trolados, ou seja, como o sistema nervoso central é organizado de maneira que músculos e articulac;6es tornam-se coordenados em movimentos, e como informac;6es sensoriais do meio ambiente externo e do próprio corpo sao usadas na coordenac;ao e controle de movimentos. o campo de Desenvolvimento Motor, por sua vez, procura estudar as mudanc;as que ocorrem no movimento do ser humano ao longo do seu ciclo de vida. E, finalmente, a Aprendizagem Motora procura estudar pro- cessos e mecanismos envolvidos na aquisic;ao de habilidades motoras e os fatores que a influenciam, ou seja, como a pessoa se toma eficiente na execuc;ao de movimentos para alcanc;ar urna meta desejada, com a prática e experiencia. Entretanto, é preciso ter-se sempre em mente que, embora seja possível caracterizar Aprendizagem Motora, Controle Motor e Desenvolvimento Motor como campos espe- cíficos de estudo, é muito dificil separá-los em termos de fenomeno, pois estao intima- mente relacionados. Por esse motivo, é muito importante ter-se urna visao integrada destes tres fenomenos. Existem fundamentalmente dois tipos de pesquisa em Aprendizagem Motora: (a) a investigac;ao dos mecanismos e processos subjacentes a aquisic;ao de habilidades moto- ras e (b) a investigac;ao dos fatores que afetam a aquisic;ao de habilidades motoras. Em dife- rentes períodos de sua história, maior ou menor enfase tem sido dada a um desses dais tipos de pesquisa, cada qual com suas meto- dologias características de investigac;ao, mas a sua implementac;ao tem estado subordinada a viabilidade operacional em func;ao do avanc;o teórico e técnico de cada momento. É importante também ressaltar que pes- quisas em Aprendizagem Motora podem ser 199

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REVISTA GALEGO-PORTUGUESA DEPSICOLOXÍA E EDUCACIÓNN° 2 (Vol. 2) Ano 2°-1998 ISSN: 1138-1663

APRENDIZAGEM MOTORA: TENDÉNCIAS, PERSPECTIVASE PROBLEMAS DE INVESTIGA9AO.

MOTOR LEARNING: TENDENCES, PROSPECTSAND RESEARCH PROBLEMS

Go TANIUniversidade de sao Paulo

1. CONSIDERA90ES INICIAIS.

Para urna melhor compreensao daAprendizagem Motora (Motor Learning)como um campo de estudo, é importante con­siderar a sua relac;ao com Controle Motor(Motor Control) e Desenvolvimento Motor(Motor Development) que, juntos, constituemurna área integrada de estudos denominada deComportamento Motor (Motor Behavior).

Como sabemos, o campo de estudos deno­minado de Controle Motor procura estudarcomo os movimentos sao produzidos e con­trolados, ou seja, como o sistema nervosocentral é organizado de maneira que músculose articulac;6es tornam-se coordenados emmovimentos, e como informac;6es sensoriaisdo meio ambiente externo e do próprio corposao usadas na coordenac;ao e controle demovimentos.

o campo de Desenvolvimento Motor, porsua vez, procura estudar as mudanc;as queocorrem no movimento do ser humano aolongo do seu ciclo de vida. E, finalmente, aAprendizagem Motora procura estudar pro­cessos e mecanismos envolvidos na aquisic;aode habilidades motoras e os fatores que ainfluenciam, ou seja, como a pessoa se toma

eficiente na execuc;ao de movimentos paraalcanc;ar urna meta desejada, com a prática eexperiencia.

Entretanto, é preciso ter-se sempre emmente que, embora seja possível caracterizarAprendizagem Motora, Controle Motor eDesenvolvimento Motor como campos espe­cíficos de estudo, é muito dificil separá-losem termos de fenomeno, pois estao intima­mente relacionados. Por esse motivo, é muitoimportante ter-se urna visao integrada destestres fenomenos.

Existem fundamentalmente dois tipos depesquisa em Aprendizagem Motora: (a) ainvestigac;ao dos mecanismos e processossubjacentes aaquisic;ao de habilidades moto­ras e (b) a investigac;ao dos fatores que afetama aquisic;ao de habilidades motoras. Em dife­rentes períodos de sua história, maior oumenor enfase tem sido dada a um desses daistipos de pesquisa, cada qual com suas meto­dologias características de investigac;ao, masa sua implementac;ao tem estado subordinadaa viabilidade operacional em func;ao doavanc;o teórico e técnico de cada momento.

É importante também ressaltar que pes­quisas em Aprendizagem Motora podem ser

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desenvolvidas eIn diferentes níveis de análise,desde o mais microscópico, como o bioquími­co, até o mais macroscópico, por exemplo, osociológico. No nível bioquímico de análise,os estudos focalizam a natureza das interac;oesbioquímicas que ocorrem dentro das célulasquando o indivíduo executa movimentos ouadquire habilidades motoras. No nível neuro­fisiológico de análise, por sua vez, focalizam­se as ac;oes elétricas e mecanicas que ocorremno grupo de células que participam na organi­zac;ao e controle de movimentos. 1sto envolveo estudo das estruturas neurais e suas inte­rac;oes funcionais que possibilitam o surgi­mento do comportalnento motor.

No nível comportamental de análise, noqual se realiza a lnaioria das pesquisas emAprendizagem Motora, os estudos focalizamo movimento observável e os fatores que afe­tam a qualidade de sua execuc;ao, o que envol­ve a identificac;ao dos fatores que detenninama precisao do movimento ou o padrao de ac;ao.Finalmente, no nível sociológico de análise,focalizam-se as atividades motoras num con­texto mais global, estudando a sua func;ao nasociedade, a escolha de certas atividades pordeterminadas cOInunidades, e as ac;oes moto­ras de indivíduos em times e grupos.

Embora nas áreas de Cinesiologia,Educac;ao Física e Esporte as pesquisas emAprendizagem Motora tenham sido iniciadas,basicaInente, na década de 60, este campoespecífico de estudos tem urna história relati­vamente longa de vida. Na realidade, nao háum consenso sobre urna data precisa de iníciode suas pesquisas, Inas sabe-se que elascomec;aram na Psicologia e o estudo de Bryan& Harter (1897) sobre a aquisic;ao de habili­dades no envio e recepC;ao de código Morse eo de Woodworth (1899) sobre a velocidade eprecisao de movimentos manuais sao vistoscomo estudos pioneiros.

Nao seria exagerado afinnar que, hoje, aAprendizagem Motora está presente na maio­ria das facuIdades de Cinesiologia, Educac;ao

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Física e Esporte em todo o Inundo, nao apenasCOIno urna disciplina do currículo de prepa­rac;ao profissional, mas principalmente COInoum laboratório de pesquisa, já se constituindonum dos mais tradicionais na área, provavel­mente, ao lado dos laboratórios de Fisiologiado Exercício e Biomecanica. É expressiva aparticipac;ao e contribuic;ao dos pesquisadoresda área de Cinesiologia, Educac;ao Física eEsporte na produc;ao de conhecimentos, o queé facilmente verificado nos principais periódi­cos em que as pesquisas desse can1po de estu­dos sao publicadas (por exeInplo, HumanMovement Science, -Joumal of ExperünentalPsychology: HUInan Perception andPerformance, Joun1al of Human MovementStudies, Journal of Motor Behavior,Perceptual and Motor Skills e ResearchQuarterly for Exercise and Sport).

o objetivo desta apresentac;ao nao é o dese fazer urna extensa revisao dos estudos rea­lizados, mas apenas descrever sucintamente asprincipais fases do seu processo evolutivo eenHio trac;ar algumas perspectivas de pesquisa,procurando identificar problemas de investi­gac;ao que, no nosso entender, merecem UInestudo mais profundo e sistemático. A análiseserá feita com a atenc;ao voltada para o campode estudo da Aprendizageln Motora na suarelac;ao com as áreas de Cinesiologia,Educac;ao Física e Esporte.

2. UMA REVISAD SUCINTADOS ESTUDOS.

A evoluc;ao das pesquisas eInAprendizagem Motora tem sido lnarcada porfases bastante características (vej a, por exem­plo, Manoel, 1995; Tani, 1992). Até a décadade 70, a preocupac;ao central dos estudos foi ainvestigac;ao das variáveis que afetam o pro­cesso de aprendizagem motora eln tarefasespecíficas, com enfase no produto. Em razaodisso, esta fase inicial foi denominada de fasede abordagem orientada ao produto ou el tare­fa (AOT). Algumas das variáveis estudadas

neste período foram a prática das partes e dotodo, a prática lllassificada e distribuída, aprática física e mental, o conhecimento deresultados, a motiva<;ao, entre outras.

Neste período, o estudo do comportamen­to motor e, consequentemente, da aprendiza­gem motora, sofreu forte influencia de duascorrentes teóricas da Psicologia: (a) aBehaviorista na qual o comportamento motorera entendido como hábitos, ou seja, probabi­lidades de respostas desenvolvidas com oaumento e for<;a de associa<;oes estÍlllulo-res­posta e (b) a Cognitivista na qual o comporta­mento motor era visto como um resultado tri­vial de processos básicos como percep<;ao,cogni<;ao e memória.

A década de 70 foi um período muitoespecial na história da área deComportamento Motor como um todo, com osurgimento da abordagem de processamentode informa<;oes. Em Aprendizagem Motora,especificamente, ela provocou urna mudan<;ade enfoque do estudo das variáveis que afe­tam a aprendizagen1 para a investiga<;ao dosmecanismos e processos subjacentes a aqui­si<;ao de habilidades motoras. Por esta razao,esta fase foi denominada de fase de aborda­gem orientada ao processo (AOP) (Pew,1970). Em Desenvolvimento Motor, por suavez, ela possibilitou urna mudan<;a do estudodescritivo da seqüencia de desenvolvimento,ou seja, da investiga<;ao do que muda e quan­do muda para a investiga<;ao do como muda omovimento ao langa do ciclo de vida(Connolly, 1970), em que o enfoque passou aser o estudo do desenvolvimento na capacida­de de controlar movimentos (Keogh, 1977).

A abordagelll de processamento de infor­ma<;oes, que continua até os dias de hoje, comconstantes avan<;os teóricos e metodológicos,procura dar enfase as opera<;oes mentais queacontecem entre o estímulo e a resposta, ousej a, as atividades cognitivas que precedem aa<;ao motora propriamente dita (Stelmach,1976; 1978). Nela, o organismo humano é

considerado um sistema auto-regulatóriocapaz de receber, processar, arlnazenar, trans­mitir e utilizar informa<;oes, e isto tem possi­bilitado especular-se sobre os processos emecanismos envolvidos na organiza<;ao econtrole de movimentos como a sele<;ao deresposta, a programa<;ao motora, a detec<;ao ecorre<;ao de erros, e assim por diante (Adams,1971; Keele, 1968).

Entretanto, apesar dessa importantemudan<;a paradigmática de estudos, urna dasconseqüencias desta llludan<;a da AOT paraAOP foi urna certa estagna<;ao das pesquisasem Aprendizagem Motora, pois o fen6menode controle motor tornou-se o foco dasaten<;oes, concentrando interesses e esfor<;osda maioria dos pesquisadores. Esta tendencia,cuja lógica de pensamento pautava-se naassun<;ao reducionista de que conhecer o quemuda (controle) é premissa para se conhecero como muda (aprendizagem e desenvolvi­mento), continuou até o final da década de 80.

No início da década de 80 surgiu a abor­dagem dos sistemas dinamicos (Kelso, Holt,Kugler & Turvey, 1980; Kugler, Kelso &Turvey, 1980; Kugler, Kelso & Turvey, 1982),também conhecida como abordagem ecológi­ca, do sistema de a<;ao ou bottom-up, que que­brou a hegemonia da abordagem de processa­mento de informa<;oes, tambélll denominadade representacional, do sistema motor ou top­down, dando início a urna fase de turbulenciateórica em toda área de ComportamentoMotor. Na literatura, este período é conhecidocomo o de "controvérsia" entre as teoriasmotora e da a<;ao (Meijer & Roth, 1988) e oconteúdo das discussoes, muitas vezes caloro­sas, ocorridas particularmente no início doembate teórico, foi amplamente divulgado naliteratura especializada.

A abordagem dos sistemas dinamicos sur­giu como urna crítica, em primeiro lugar, aenfase excessiva aos aspectos cognitivos naorganiza<;ao de movimentos dada pela abor­dagem de processamento de informa<;oes,

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relegando para um segundo plano as caracte­rísticas e propriedades inerentes do sistemaefetor, e, eln segundo lugar, ao fato dela naoter fornecido urna resposta satisfatória ao pro­blema da coordena9ao ou do controle dosgraus de liberdade na execu9ao de movimen­tos, levantado por Bernstein (1967).

Urna das características da abordagem dossistemas dinamicos é urna forte enfase ecoló­gica, enfase na n09ao de que o nosso sistemaefetor foi organizado através da evolu9ao,numa intera9ao dinamica do organismo comas características físicas do meio ambiente, eque devemos, portanto, tentar compreender aestrutura e fun9ao do sistema motor usandositua90es naturais de pesquisa. Acoplada aessa visao, há a proposi9aO de que perceP9aOe a9aO sao funcionalmente inseparáveis e aassun9ao de que a compreensao do sistemamotor depende da COlnpreensao dos princí­pios físicos de nossas a90es e de como essesprincípios interagem com fun90es biológicas.Além disso, essa abordagem é relutante emusar abordagem cognitiva-psicológica em queestruturas cerebrais hipoteticamente definidascomo memória, programa motor e esquemasao propostas e defendidas (Kugler, Kelso &Turvey, 1982; Reed, 1982). Mais recentemen­te, as características nao-lineares e auto-orga­nizacionais do sistema motor tem sido enfati­zadas (Kelso, 1995). De acordo com essavisao, o sistelna motor pode funcionar auto­nomamente e sem recurso a estruturas cogni­tivas, de modo que urna liga9ao direta entreinten9ao e sistema motor é assumida, sem anecessidade de nenhuma media9ao por urnaestrutura representacional interna.

Essa abordagem teve e tem tido maiorrepercussao e, consequentemente, um maiornúmero de adeptos e seguidores em ControleMotor. Especificamente em AprendizagemMotora, o seu desenrolar tem sido aindamuito tímido, exatamente porque explicarmudan9as é sempre mais complexo do queexplicar estados alcan9ados (Sheridan, 1988;van Wieringen, 1988).

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Independentelnente dos avan90s da abor­dagem dos sistemas dinalnicos, observou-se,a partir do final da década de 80, Ulna reto­mada dos estudos em Aprendizagem Motora,sem que isto enfraquecesse ou reduzisse oímpeto das pesquisas em Controle Motor.Houve, de fato, urna mudan9a de postura,daquela que via o progresso emAprendizagem Motora dependente do apro­fundamento dos conhecimentos em ControleMotor, para urna postura que via este campode estudo possuidor de temas de investiga9aogenuinamente intrínsecos que poderiam seratacados livres da "amarra" dos conhecÍlnen­tos de controle (Públio, Tani & Manoel,1995).

Estudos sobre as variáveis que inf1uen­ciam a aquisi9ao de habilidades motorasforam retomados e intensificados, agora comurna "roupagem teórica" muito mais sofistica­da se comparada el época da AOT, incorporan­do os conheciInentos adquiridos e acumula­dos sobre o controle motor durante o períododenominado de AOP. Esses conhecimentosforam utilizados nao só na formula9ao denovos problemas de aprendizagem, mas prin­cipalmente para a interpreta9ao do efeito dediferentes variáveis na aquisi9ao de habilida­des motoras.

Esta retomada nao se tem caracterizado,portanto, numa simples volta no tempo parareiniciar velhos estudos e atacar velhos pro­blemas com velhas metodologias. Temascomo conhecimento de resultados, interferen­cia contextual e imagem mental teln colocadoo problema da aprendizagem nUlna nova pers­pectiva e tem sido objeto de intensas pesqui­sas, resultando em inúmeras publica90es deartigos em periódicos especializados e deteses de doutorado (veja, por exemplo,Barreiros, 1991; Godinho, 1992). Por exem­plo, urna série de estudos sobre conhecimentode resultados realizada por Schmidt e colabo­radores (por exempl0, Schmidt, Young,Swinnen & Shapiro, 1989; Schmidt, Lange &Young, 1990; Winstein & Schmidt, 1990;

Wulf, Lee & Schmidt, 1989) na Universidadeda Califónlia e, no Brasil, os próprios estudospor nós realizados no LACOM - Laboratóriode Comportamento Motor da Escola deEducayao Física e Esporte da Universidade deSao Paulo (por exemplo, Chiviacowsky &Tani, 1993; Teixeira, 1993; Chiviacowsky &Tani, 1997) ilustram e reforyam esta consta­tayao.

Pesquisas sobre o efeito da interferenciacontextual continuam em alta (veja Magill &Hall, 1990 para Ulna revisao) e tem merecidotambém a nossa atenyao (Correa & Pellegrini,1996; Freudenheim & Tani, 1995; Teixeira,1993; Ugrinowitsch & Manoel, 1996). Oenfoque de investigayao tem mudado da aná­lise dos efeitos de diferentes tipos de práticavariada para o estudo da estrutura da variabi­lidade em si, especialmente a questao do queé variado - programa ou parametro. Urnatendencia clara para o futuro é estudar o efei­to da interferencia contextual quando ela écombinada a outras variáveis como, porexemplo, conhecimento de resultados (veja,por exemplo, Wulf, 1992a, 1992b).

Em relayao él controvérsia entre as aborda­gens já mencionadas, tem-se tomado dificilsustentar, de urna forma geral, que urna únicateoria abrangente seja capaz de englobar eexplicar todos os tipos de habilidade quefazem parte da repertório motor humano. Defato, a especificidade da tarefa motora temsido apontada como um fator crucial queinfluencia enormemente o poder de expla­nayao das diferentes abordagens teóricas(Abbs & Winstein, 1990; Colley, 1989;Newell, 1991), aléln do nível de organizayaoem que a observayao é feita (van Wieringen,1988). Se coordenayao e controle de movi­mentas chamados filogenéticos, de caracterís­ticas cíclicas e rítmicas como a locomoyao,sao melhor explicados pela abordagem de sis­temas dinamicos, parece ser dificil explicarmovimentos com forte envolvimento cogniti­vo como datilografar, caligrafar, tocar instru­mentos musicais ou danyar sem recorrer-se aalguma forma de representayao central.

Assim, após 15 anos de controvérsia, temsurgido neste final da década de 90, os pri­meiros sinais, ainda que thnidos, de inte­grayao das abordagens de processamento deinformayoes e sistemas dinamicos (por exeln­plo, van Ingen Schenau, van Soest, Gabreels& Horstink, 1995; Latash, 1993), em que,curiosamente, a problemática da aprendiza­gem, juntamente com os avanyos em neuro­ciencia cognitiva, teln desempenhado umpapel catalisador. Na realidade, nao se trata deurna reconciliayao das duas abordagens, algomuito dificil de acontecer em razao das dife­renyas filosóficas subjacentes. Trata-se lnuitomais de urna aprendizagem pela experiencia.Urna dura constatayao a que se chegou, pelasrepetidas observayoes cuidadosas do fencnne­no em si, de que a complexidade do objetosob investigayao nao comporta urna aborda­gem única e hegemónica. Parece que tem pre­valecido a velha mensagem da ciencia: quan­do se estabelece um conflito conceitual inso­lúvel, volte ao fenómeno e o observe carinho­samente! Tudo indica que é isto que muitospesquisadores estao comeyando a fazer, semse prender delnasiadalnente ao lnodelo con­ceitual das diferentes abordagens.

3. ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR.

Esse observar cuidadoso do fenómeno temlevado os pesquisadores a criar e utilizarmétodos de observayao cada vez mais sofisti­cados e precisos. Neste particular, urna forteinterayao com a área de Biomecanica tem sidoobservada, pois a aplicayao de métodos con­sagrados de análise de moviInentos por eladesenvolvidos tem se constituído um procedi­mento útil e eficaz de se estudar detalhada­mente as mudanyas qualitativas no padrao demovimento que emergem em decorrencia daaprendizagem.

Na realidade, o que se observa na área deComportamento Motor em geral é a adoyaode urna abordagem muitidisciplinar (veja, porexemplo, Swinnen, Heuer, Massion & Casaer,1994; Requin & Stelmach, 1991; Stelmach &

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Requin, 1992; Zelaznik, 1996). Essa mudanc;ade orientac;ao nas pesquisas tem sido estimu­lada pela visao de que para se compreender ocomplexo processo envolvido na organizac;ao,controle e aprendizagem de movimentos, aanálise apenas de seus efeitos produzidos nomeio ambiente externo é bastante limitada.Em outras palavras, as abordagens recentespartem do princípio de que é necessário inves­tigar-se a organizac;ao e controle de movi­mentos nao só a partir da análise dos resulta­dos produzidos no meio ambiente, mas tam­bém a partir da cuidadosa descric;ao da dina­mica do próprio padrao de movimentos e dasestruturas neurais responsáveis pela sua pro­duc;ao.

Isso tem sido possível, em parte, pela dis­ponibilidade de tecnologia avanc;ada de regis­tro de movimentos em Biomecanica que per­mitem análises cinemáticas cada vez maisprecisas e sofisticadas. Além disso, osavanc;os tecnológicos na Neurofisiologia esua aplicac;ao na Neurociencia Cognitiva tempossibilitado o estudo integrado de aspectoscognitivos de ac;oes motoras e os eventos neu­rais que precedem e acompanham a execuc;aode movimentos, através de medidas eletrofi­siológicas precisas (Jeannerod, 1997; Requin,1992). Por exemplo, o desenvolvimento detécnicas de medic;ao sofisticadas como oregistro de atividades de um neuronio isoladotem permitido vasculhar o sistema nervosocentral in loco para descobrir mecanismossubj acentes a coordenac;ao e controle demovimentos. As recentes evidencias aponta­das por Jeannerod (1994) de que a formac;aode imagem motora e a preparac;ao motora temo mesmo substrato neural sao demonstrac;oesconcretas da potencialidade dessa integrac;aode áreas. Em suma, urna abordagem integradamultidisciplinar envolvendo ComportamentoMotor, Biomecanica e Neurofisiologia temsido cada vez mais freqüente e tem se mostra­do extremamente promissora no estudo docomportamento motor de urna forma geral.

Urna das "avenidas" de pesquisa muitoexploradas dentro dessa perspectiva tem sido

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urna detalhada análise CinelTIática da trajetóriade movimentos, utilizando-se de técnicas bio­mecanicas como o registro contínuo de sinaisde posic;ao, velocidade e acelerac;ao dos seg­mentos corporais numa variedade de tarefasmotoras. No caso de ac;oes motoras simplesou discretas como alcanc;ar, agarrar, transpor­tar ou arremessar objetos, o foco de investi­gac;ao tem sido a COlTIpreensao do processoque controla a acurácia final do movimento.Por outro lado, no caso de ac;oes motorascomplexas, o foco de investigac;ao telTI sido adescric;ao detalhada do padrao de movimentoem si com o objetivo de inferir meCaniSlTIOSde coordenac;ao e controle subjacentes, COlTIO,por exemplo, a questao da ordem seriada(Lashley, 1951).

A formac;ao de trajetória refere-se a plane­jamento e controle da cinemática do movi­mento. A proposic;ao básica é de que se o per­fil de trajetória de urna determinada tarefamotora executada sob diferentes demandaspermanece invariável, a idéia de um mecanis­mo de organizac;ao e controle de movimentosbaseado numa estrutura genérica e abstrata ésustentada (Marteniuk, MacKenzie & Leavitt,1988). Em outras palavras, lTIovimentos dediferentes velocidades, amplitudes e sobrecar­gas, cujas trajetórias podem ser escaladas aolongo de urna base comum pertenceriam aurna mesma categoria de movitnentos elTI ter­mos de coordenac;ao e controle.

A decomposic;ao e análise da traj etória emfases de acelerac;ao (do início do movimentoaté a velocidade de pico) e desacelerac;ao (davelocidade de pico até o término do movi­mento) tem possibilitado a identificac;ao, elTItermos de perfil de velocidade, de urna for­mac;ao de trajetória em forma de um sino quepode ser escalada tanto no domínio da ampli­tude como no de tempo (Atkeson &Hollerbach, 1985; Flash & Hogan, 1985). lssotem dado sustentac;ao ateoria de organizac;aoe controle de movimentos através de progra­ma motor generalizado e paralTIetrizac;ao(Schmidt, 1980; 1985; 1988).

Basicamente, o programa motor generali­zado é uma representa<;ao abstrata de umaclasse de movimentos que possui um padraocomum de movimento. As varia<;oes dentroda classe de lllovimentos sao produzidas pelaaplica<;ao de certos parámetros ao programamotor generalizado antes da sua execuc;ao,dando urna configura<;ao única a cada padraode movimento elll conformidade conl asdemandas específicas da situa<;ao.

Entretanto, outros estudos tem mostradoque os perfis de trajetória podem ser escala­dos em tomo de um perfil comum, quandomovimentos de diferentes amplitudes saoexecutados para um mesmo tamanho de alvo.Para alvos de tamanhos diferentes, a pro­por<;ao de tempo gasto antes e depois da velo­cidade de pico varia no sentido de que paraalvos pequenos o perfil de velocidade é envie­sado, com longa cauda adireita (fase de desa­celera<;ao) (MacKenzie, Marteniuk, Dugas,Liske & Eickmeier, 1987). Além disso,evidencia de que a formac;ao de trajetória éinfluenciada pela experiencia passada einten<;ao do movimento (Marteniuk,MacKenzie, Jeannerod, Athenes & Dugas,1987; Marteniuk & MacKenzie, 1990;Marteniuk, MacKenzie & Leavitt, 1988) temcolocado questoes importantes que mostramque o assunto requer nao só um maior núme­ro de estudos experimentais, como tambémreformula<;oes teóricas significativas. Detodas as maneiras, as análises cinemáticas dastrajetórias de movimento tem se mostrado ummétodo eficaz na compreensao dos mecanis­mos envolvidos na organiza<;ao, controle eaprendizagem de movimentos.

Os estados de estabilidade na coordena<;aoe controle de movimentos tem sido interpreta­dos, de Ulll lado, COIllO sendo urna conseqüen­cia da aquisic;ao de programas motores gene­ralizados (Schmidt, 1988) ou, de outro, comouma forma<;ao de atratores (Turvey, 1990),dependendo do referencial teórico adotado.Por exemplo, embora a interpreta<;ao deaspectos variantes e invariantes do movimen-

to mudem de acordo com a posi<;ao teóricaadotada, como o fizeram Sclllllidt (1985) eZanone & Kelso (1992) em rela<;ao ao timingrelativo, a existencia desses aspectos na orga­nizac;ao de ac;oes habilidosas telll sido forte­mente sustentada por evidencias empíricas(por exemplo, Kelso, Southard & Goodman,1979; Schmidt, 1980; 1985). lsto mostra quetem havido uma primazia na identifica<;ao deestabilidades, de padroes, de estruturas, e nacompreensao de sua natureza e característicasdo que a discussao e definic;ao prévia do nOlllea ser-lhes atribuído. No futuro, esta é urnapostura que tende a ser adotada por um núme­ro cada vez maior de pesquisadores. Procurardiferen<;as entre posic;oes teóricas nao seconstitui mais urna fonte de motiva<;ao acade­mica.

A ado<;ao desta postura mais realista e por­que nao mais pragmática do ponto de vistaoperacional, abre perspectivas de uma novadinámica de discussoes e também de novasmaneiras de atacar os problemas. Quaisseriam, entao, os problemas centrais que, nonosso entender, desafiam os pesquisadores emAprendizagem Motora?

4. ALGUNS PROBLEMAS CENTRAISDE INVESTIGArAO.

Em primeiro lugar existe o problema daexplica<;ao da coexistencia de consistencia evariabilidade em a<;oes habilidosas. Bartlett(1932) cunhou uma das frases que melhorexpressam essa característica singular.Referindo-se ao movimento de rebatida emtenis, ele afirmou: "quando executo a rebati­da, na realidade, eu nao produzo algo absolu­tamente novo nem repito meramente algovelho" (p. 202). De fato, quando se observamovimentos de pessoas habilidosas, seja noesporte, na arte, na dan<;a ou no trabalho, tem­se a impressao de que elas executam repetida­mente, com muita precisao e consistencia,movimentos identicos. Contudo, urna obser­va<;ao mais detalhada desses movimentos, por

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exemplo, via análise cinematográfica ou coma utilizac;ao de tecnologias mais modernas,como a análise triditnensional de imagens via

. computador, revela que elas nao executamdois movinlentos iguais.

Há, de um lado, Ulna variabilidade ineren­te ao sistema motor que resulta numa variac;aosutil de tentativa a tentativa na micro-estrutu­ra do movimento, mas, por outro lado, hátambém um padrao próprio na macro-estrutu­ra que pennite identificar até estilos indivi­duais. É o que acontece com as nossas pró­prias assinaturas. Nunca conseguimos fazerduas iguais, mas pode-se perfeitamente iden­tificar a sua autoria. Em síntese, esses movi­mentos executados com habilidade caracteri­zam-se por um padrao com urna integrac;ao demacro-ordem e micro-desordem, isto é, con­sistencia e variabilidade ao mesmo tempo(Choshi, 1980, 1983, 1984; Manoel, 1993;Manoel & Connolly, 1995, 1997; Tani, 1982,1995).

Na realidade, o ser humano é incapaz deexecutar dois movimentos identicos. Hávárias razoes para isso. Em primeiro lugar,existe o problema de controle dos inúmerosgraus de liberdade que estao presentes na exe­CUC;ao do lnovimento (Benlstein, 1967). Oproblema dos graus de liberdade pode servisto de várias formas, como, por exemplo, onúmero de graus de liberdade nas diferentesarticulac;oes que participam do movimento, onúmero de músculos que agem sobre elas, eaté mesmo o número de unidades motoras quedevem ser ativadas para produzir um detenni­nado movimento. Quanto mais microscópicoo nível de análise, maior o número de graus deliberdade. Em segundo lugar, há o problemada imprevisibilidade das variac;oes ambientaisque exigeln adaptac;oes do padrao de movi­mento as circunstancias particulares daquelemomento. E existe também o problema dacaracterística nao-linear dos próprios múscu­los que implica um mesmo comando motorproduzindo diferentes efeitos, dependendo desuas condic;oes iniciais (Bernstein, 1967;Turvey, Fitch & Tuller, 1982).

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A consistencia do movimento é alcanc;adaatravés da reduC;ao de variabilidade ou contro­le dos graus de liberdade. Seln a reduc;ao devariabilidade é dificil de se obter performan­ces bem sucedidas. Entretanto, quando Ulnexcesso de enfase é dado na reduc;ao de varia­bilidade, duas conseqüencias podeln ser espe­radas. Em primeiro lugar, a produc;ao depadroes de movimentos rígidos e estereotipa­dos, isto é, de baixa adaptabilidade (Tani,1982). Em segundo lugar, a inviabilizaC;ao dopróprio movimento, em funC;ao da tentativa dese eliminar a variabilidade inerente ao sistenlamotor, o que acarreta a perda do grau mínimode liberdade necessário a produc;ao do movi­mento (Choshi, 1980).

COlno essas duas características aparente­mente contraditórias - consistencia e variabi­lidade ou macro-ordeln e micro-desordem ­podem ser conciliadas dentro de urna nleSlnaestrutura, e mais ainda, quais sao os mecanis­mos subjacentes responsáveis por essa inte­grac;ao e como estas estruturas sao adquiridascom a prática constituem, certamente, itnpor­tantes problemas de investigac;ao (Tani,1995).

Um segundo problema, central no nossoentender, continua sendo a questao da equi­valencia motora, ou seja aquela capacidade doser humano de alcanc;ar urna mesma meta ourealizar urna mesma ac;ao via diferentes movi­mentos (Glencross, 1980; Hebb, 1949;Turvey, 1977), fruto da plasticidade do seusistema motor. Imagine urna pessoa escreven­do o seu nome com urna caneta, primeiro coma sua mao preferida, depois com a mao naopreferida, com a caneta presa entre os dedosdo pé ou mesmo entre os dentes, e assim pordiante. Embora em cada um destes movÍlnen­tos a pessoa demonstre um diferente nível dehabilidade, é inegável que urna mesma aC;aoesteja sendo realizada através de diferentesmovimentos, ou seja, utilizando-se de dife­rentes grupos musculares. Além disso, apesarda variac;ao no nível de habilidade, é possívelidentificar o produto da escrita COlno sendo deautoria de urna mesma pessoa.

Essa equivalencia motora presente nomovimento humano suscita a seguinte per­gunta: se o ser humano é capaz de alcanc;arurna mesma meta via diferentes movimentos,que sentido tem aprender urna determinadatécnica de luovimento, se pela própria defi­nic;ao, técnica é o (um) meio mais eficientepara alcanc;ar UIU determinado objetivo?Embora a repetic;ao de urna técnica que espe­cifica os micro-detalhes do movimento possaconduzir mais rapidamente a padronizac;ao domovimento (ordem), tomando a aprendiza­gem aparentemente mais eficiente, estapadronizac;ao corresponde também a urnaperda proporcional de flexibilidade no movi­mento. Em outras palavras, pode resultar naaquisic;ao de um padrao de movimento rígidoe estereotipado, de baixa adaptabilidade(Tani, 1991).

A adaptac;ao a novas situac;oes ou tarefasmotoras requer altenlativas de soluc;ao de pro­blemas (Tani, 1982). Imagine urna pessoaabrindo a porta de seu apartamento. Comovimos anteriormente, ela poderá realizar essaac;ao via diferentes movimentos. Em situac;oesnormais, lanc;ará mao sempre de um mesmomovimento, provavelmente aquele que semanifestou mais eficiente em experienciaspassadas. Imagine agora essa pessoa voltandoao seu apartamento, com as maos ocupadascom pacotes de compras de supermercado.Ela só conseguirá abrir a porta se tiver "dis­ponível" no seu repertório de movimentosalternativas motoras que permitam urnasoluc;ao criativa. De que forma surgem essassoluc;oes criativas? Certamente isto envolveum processo de gerac;ao e nao apenas deselec;ao de respostas motoras (Tani, 1995).

A adaptac;ao as mudanc;as exige tambémpadroes flexíveis de movimento. Existemvárias maneiras de se definir padroes flexíveisde movimento. De acordo com Koestler(1967), sao aqueles padroes que possuem umaspecto invariável governado por regras fixas(ordem, consistencia), além de um aspectovariável dirigido por estruturas flexíveis

(desordem, variabilidade). As estruturas flexí­veis implicam a existencia de Ulua toleranciana definic;ao de parametros permitida pelasregras fixas. E, para se adquirir padroes flexí­veis de movimento, que melhor se adaptenl asnovas situac;oes ou tarefas motoras, é possívelinferir que, durante o processo de aprendiza­gem, urna certa liberdade na escolha das res­postas seja necessária. Isto porque, quando seelimina essa liberdade, tomando a aprendiza­gem totalmente dirigida, a enfase está sendodada apenas ao aspecto invariável da habili­dade, contribuindo para a formac;ao depadroes de movimento estereotipados. Poroutro lado, se um excesso de liberdade fortolerado, toma-se dificil adquirir a consisten­cia necessária para a realizac;ao da meta COIUeficiencia (Tani, 1982, 1989; Tani, Bastos,Castro, Jesus, Sacay & Passos, 1992).

A técnica é claramente urna forma de res­tric;ao (constraint), mas ela nao se constituium real problema, como muitos preconizam.Afinal, a técnica existe como urna informac;aosobre a maneira mais eficiente de alcanc;ar umobjetivo. Qual seria entao urna possívelsoluc;ao? Ternos explorado a seguinte idéia(Tani, no prelo): proporcionar liberdade naescolha de alternativas e encorajar os sujeitosa explorar suas potencialidades de movüuen­to, tendo informac;oes sobre a macro-estruturado movimento apenas como um referencialorientador desta explorac;ao. No início daaprendizagem, os movimentos serao inconsis­tentes e desordenados. Mas, elU func;ao daorientac;ao recebida e do feedback intrínseco,a sua macro-estrutura tornar-se-á gradativa­mente ordenada, até que eles encontrem umpadrao correspondente a urna técnica, ousemelhante a ela. Ao final, um padrao demovimento consistente na sua macro-estrutu­ra e ao mesmo tempo variável na micro-estru­tura poderá resultar, de forma que estilos ecaracterísticas individuais serao incorporadosa técnica de movimento. Em vez do sujeito seajustar a técnica, a técnica seria "construída"de forma a se ajustar as suas característicasindividuais (Tani, no prelo). A verificac;ao

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experimental destas idéias, utilizando-se dediferentes tarefas e sujeitos, tem-se constituí­do um desafio merecedor de nossa atenc;ao.

Em terceiro lugar, há o problema funda­mental da limitac;ao do modelo de equilíbriopara explicar sistemas com aumento contínuode complexidade. A aquisic;ao de habilidadesmotoras caracteriza um processo dinamico ecomplexo. Entretanto, teorias correntes deaprendizagem motora explicam apenas o pro­cesso de estabilizac;ao da performance, ouseja, um processo homeostático (equilíbrio)alcanc;ado via feedback negativo' (Adams,1971; Schmidt, 1975). Processos baseados emfeedback negativo, ou mecanismo de neutrali­zac;ao do desvio sao capazes de manter aestrutura ou ordem, mas sao incapazes deconduzir a urna nova estrutura, visto que paratanto é necessário desestabiliza<;ao, ou seja,feedback positivo ou mecanismo de amplifi­cac;ao do desvio (Maruyama, 1963). A auto­matizac;ao, vista como a fase final do proces­so de aprendizagem motora pelas teoriascorrentes, é um exemplo típico de estabili­zac;ao.

Recentes meta-teorias da cIencia temenfatizado que, em sistemas abertos, a for­mac;ao de novas estruturas pressupoe instabi­lidade ou quebra de estabilidade. Nesta pers­pectiva, a aquisic;ao de habilidades motorasmelhor caracteriza um processo cíclico edinamico de estabilidade-instabilidade-estabi­lidade, resultando em crescente complexida­de. Com esse background teórico, Choshi(1978, 1981, 1982), Choshi & Tani (1983),Tani (1982, 1989) e Tani et alii (1992) temproposto um modelo de nao-equilíbrio emaprendizagem motora em que dois processosfundamentais sao considerados: estabilizac;aoe adaptac;ao. O primeiro é aquele em que sebusca, como a própria palavra indica, a esta­bilidade funcional que resulta na padroni­zac;ao espacial e temporal do movimento (for­mac;ao de estrutura). Movimentos inicialmen­te inconsistentes e descoordenados van sendogradativamente refinados até se alcanc;ar

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movimentos padronizados e precisos. Nesteprocesso, o elelTIento fundalTIental é ofeedback negativo.

O segundo é aquele em que se procuraadaptac;oes as novas situac;oes ou tarefasmotoras (perturbac;ao), através da aplicac;aodas habilidades já adquiridas. Neste processoexige-se modificac;oes na estrutura da habili­dade já adquirida, e urna posterior reorgani­zac;ao dessa estrutura num nível superior decomplexidade. Existem perturbac;oes para asquais a adaptac;ao se faz pela flexibilidadeinerente a estrutura adquirida, ou seja, pelamudanc;a de parametros do movimento.Entretanto, existem perturbac;oes de tal enver­gadura que por mais que haja disponibilidadena estrutura nao há condic;oes de adaptar-se.Neste caso, exige-se urna reorganizac;ao daprópria estrutura que, quando concluída,reflete numa mudanc;a qualitativa do sistema(Tani, 1982). Investigar a formac;ao de novasestruturas a partir de estruturas existentes, ouseja, a aprendizagem motora como um pro.­cesso contínuo e dinamico em direc;ao a esta­dos crescentemente complexos de organi­zac;ao, exige urna agenda de investigac;ao delongo termo, mas certamente recheada de pro­blemas intelectualmente desafiadores e esti­mulantes (Tani, no prelo).

Um quarto problema, decorrente do ante­rior, diz respeito a necessidade de reestudodos fatores de instabilidade na aquisic;ao dehabilidades motoras. O quadro a seguir (figu­ra 1) mostra a relac;ao entre informa<;ao eentropia elaborada por Miller (1978). Os pro­cessos de mudanc;a em direc;ao a estados maiscomplexos de organizac;ao, ,como evoluc;ao,aprendizagem e desenvolvimento, sao proces­sos em que a incerteza é transformada enlinformac;ao, a entropia em entropia negativa,o ruído em sinal, a desordem elTI OrdelTI eassim por diante. E, para que todas estastransformac;oes sejam realizadas, há a neces­sidade do dispendio de energia.

Entretanto, por longo período, os fatoresrelacionados a desordem, que estao colocadosa direita no esquema elaborado por Miller,foram considerados elementos negativos quenecessitavam ser eliminados para que a ordemprevalecesse. Como é bem conhecido, estavisao negativa de fatores relacionados com aentropia positiva advinha de urna concep9aode ciencia em que o determinismo e a lineari­dade eram os seus postulados fundamentais.

H -S

infonna9ao incerteza

entropia negativa entropia

sinal roído

precisan erro

fonna caos

regularidade aleatoriedade

padrao ou fonna falta de padrao ou fonna

ordeln desordeln

organiza9ao desorganiza9ao

cOlnplexidade regular silnplicidade irregular

heterogeneidade hOlnogeneidade

ilnprobabilidade probabilidade

previsibilidade ilnprevisibilidade

(H = infonna9ao S = entropia)

Figura 1: Infonna~ao versus entropia (adaptado deMiller, 1978).

Urna das conseqüencias dessa visao queapenas considera e valoriza a ordem foi o sur­gimento de sua irma gemea de sinal trocado,ou seja, a apologia da desordem. Com issoimplantou-se a filosofia dos extremos, oucomo diz o ditado popular, oito ou oitenta, e

na disputa de posi90es dicotómicas, o esfor90de síntese foi inibido. Sao bem conhecidos osresultados dessa dicotomia nos diferentescampos da atividade humana. Todavia, apósum longo período de predomínio dessa visaodicotómica, o quadro come9a a se alterar emfun9ao das recentes proposi90es das meta­teorias da ciencia.

o panorama que se apresenta ainda suge­re muita prudencia, mas há lugar para um oti­mismo, pois recentes avan90s na ciencia temfomecido elementos animadores. Prigogine(1967) mostrou, por exemplo, como ordempoderia ser criada a partir da desordem, atra­vés de processos estocásticos que transfor­mam flutua90es locais de matéria-energia emestados dinamicos altamente ordenados cha­mados de estruturas dissipativas. Maruyatna(1960), por sua vez, formulou o conceito derela90es causais multilaterais, mútuas esimultaneas. Ele distinguiu rela90es morfoló­gicas (criadoras de desvios) dirigidas porfeedback positivo e rela90es morfostáticas(combatedoras do desvio) dirigidas porfeedback negativo no desenvolvimento denova ordem, estrutura e organiza9ao.

Princípios de auto-organiza9ao e de tran­si9ao de fase come9am a ser desvendados naoapenas no mundo fisico, como também nomundo biológico e sociológico (Haken, 1977;Jantsch, 1980). Explicar descontinuidade eemergencia num ciclo de estabilidade e insta­bilidade tem se constituído urna das preocu­pa90es centrais em vários campos da ciencia.A teoria da complexidade revela que descon­tinuidades ocorrem quando sistemas dinami­cos se colocam no limite do caos, permitindoum salto qualitativo (Lewin, 1993). Pareceexistir princípios de ~rganiza9ao universais(Laszlo, 1994) que se aplicam a todos os sis­temas dinamicos, conforme previaBertalanffy (1968). A ciencia dirige a suaaten9ao as semelhan9as, a essencia, procuran­do vencer velhas dicotomias como mente xcorpo, natureza x cria9ao, matura9ao x expe­riencia, inato x aprendido e assim por diante.

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De fato, um novo panorama se desenha,urna nova atmosfera se cria. Na visaoKuhniana, um novo paradigma emerge(Kuhn, 1970) e com ele urna reconsiderac;aodo significado da aleatoriedade, variabilidade,incerteza, ruído e outros fatores relacionadosa desordem em vários campos da ciencia(Prigogine & Stengers, 1984). Quando aaprendizagelTI motora é vista apenas como umprocesso de estabilizayao de performance,esses fatores relacionados com entropia posi­tiva sao elementos que necessitam ser reduzi­dos ou eliminados via feedback negativo paraque a estabilizac;ao ocorra. Entretanto, quandoa aprendizagem motora é vista como um pro­cesso além da estabilizac;ao, isto é, como pro­cesso adaptativo, os fatores de desordemnecessitam sér reconsiderados (Manoel, 1993;Manoel & Connolly, 1995, 1997; Tani, 1995;Tani et alii, 1992).

o estudo dos fatores que afetam a aqui­sic;ao de habilidades motoras tem sido condu­zido tendo como background teórico ummodelo de equilíbrio de aprendizagem moto­ra. Nesta perspectiva, variabilidade de respos­ta, freqüencia relativa de CR, imprecisao deCR, atividades interpoladas durante o interva­lo pós-CR e outros elementos relacionados adesordem tem sido considerados prejudiciaisa obtenyao da estabilidade no processo deaquisic;ao de habilidades motoras. Na pers­pectiva do processo adaptativo cabe indagar:seriam estes fatores relacionados a desordemfonte de ordem também em aprendizagemmotora?

Finalmente, existe o problema da reali­zac;ao de pesquisas em Aprendizagem Motorae a aplicayao prática dos conhecimentos pro­duzidos. Refiexoes sobre o conjunto de pes­quisas realizadas sobre aprendizagem motoraao longo do tempo, especialmente aquelas denatureza básica direcionadas para a eluci­dac;ao dos mecanismos e processos subjacen­tes, tem levado a conclusao de que elas poucocontribuíram para a busca de soluc;oes para osproblemas práticos encontrados no exercício

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profissional da Educac;ao Física e Esporte(Christina, 1989; Hoffman, 1990; Petersen,Santos & Reghelin, 1991; SchlTIidt, 1989;Stelmach, 1989; Tani, 1992).

A maioria das pesquisas sobre os mecanis­mos e processos subj acentes a aquisiyao dehabilidades motoras continua a ser realizadasob forte influencia do paradiglTIa das cienciasnaturais, cuja lTIetodologia implica, como ébem conhecido, na simplificac;ao do objeto deestudo e no controle rigoroso de variáveis,vi.sando assegurar a fidedignidade dos resulta­dos. Todavia, é também bem conhecido queesse procedimento cria situayoes artificiaisque podem levar a falta de correspondenciaentre. as condiyoes de pesquisa e a situac;aoreal e, assim, comprometer a validade ecoló­gica dos resultados (Tani, 1992). Além disso,essa metodologia pode resultar num acúlTIulode informac;oes desconexas, dificeis de seremintegradas em princípios gerais de aprendiza­gem capazes de fornecer subsídios para atomada de decisoes práticas mais seguras.

Essa distancia existente entre pesquisasbásicas e a situayao real de prática é, de certaforma, inevitável, e constitui-se um problemasem soluc;ao em diferentes áreas do conheci­mento. Além disso, nao é algo passível desoluc;ao pela simples dinamizac;ao de pesqui­sas aplicadas. Pesquisa básica, elTIAprendizagem Motora, procura, em últÍlnaanálise, desenvolver um corpo de conheci­mentos orientado a teoria que possibiliteexplicar como ocorre a aquisic;ao de habilida­des motoras e prever acerca desse fenomeno.Ela nao se orienta para a soluyao de proble­mas. Isto é papel da pesquisa aplicada, cujameta é produzir conhecimentos de aplicac;aoprática para soluc;ao de problemas do mundoreal. Entretanto, é preciso considerar as limi­tac;oes da pesquisa aplicada. Muitas vezes, osconhecimentos por ela produzidos sao dema­siadamente específicos e, portanto, de dificilgeneralizac;ao. Em outras palavras, elespodem ser aplicáveis as situa'c;oes muito pecu­liares, provavelmente somente a soluc;ao de

problemas que se assemelham aqueles de pes­quisa onde foram originalmente testados eaplicados (Tani, 1992). Apesar dessas limi­tac;oes, é mais do que notório a necessidade defomentar-se, com muito maior vigor, pesqui­sas aplicadas em Aprendizagem Motora.

Claramente, a integrac;ao entre teoria eprática é muito mais complexa do que fazdeduzir aqueles discursos inflamados dosauto-proclamados guardioes do retomo socialdas pesquisas científicas. Urna alternativa quese propoe é a realizac;ao de pesquisas decaracterísticas de integrac;ao e síntese de con­hecimentos em que a preocupac;ao central sejaa verificac;ao experimental da aplicabilidadedos conhecimentos, princípios e hipótesesderivados da pesquisa básica, numa situac;aoreal. Ternos denominado o campo de estudosresponsável por essas pesquisas de Ensino­Aprendizagem de Habilidades Motoras (Tani,1992). Pesquisas em Ensino-Aprendizagemenvolvem urna participac;ao integrada de pes­quisadores e profissionais e caracterizam umtipo de pesquisa em que é preciso conciliarganho em validade ecológica com perda emfidedignidade. Verificar a aplicabilidade dosconhecimentos adquiridos numa situac;ao realainda nao caracteriza urna pesquisa aplicadano sentido clássico da palavra. É um passointermediário, ainda orientado a teoria, parti­cularmente no que se refere a checagem dasua validade ecológica, lnas já com a preocu­pac;ao de integrar teoria e prática (veja, porexemplo, Públio & Tani, 1993; Públio, Tani &Manoel, 1995).

Se variáveis que afetam a aqulslc;ao dehabilidades motoras sao, em últim~ análise,os fatores que sao manipulados pelos profis­sionais que lidam com o ensino de habilidadesmotoras numa situac;ao real de prática (veja,por exemplo, Tani, Manoel, Kokubun &Proenc;a, 1988), a realizac;ao de pesquisas emEnsino-Aprendizagem acerca dessas variá­veis, mais do que urna necessidade para dimi­nuir a distancia entre teoria e prática, seriaurna grande contribuic;ao para a promoc;ao do

reconhecimento social e profissional daCinesiologia, Educac;ao Física e Esporte e asua consolidac;ao como áreas de conhecimen­to (Tani, 1996).

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