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INTERVENÇÃO DO MINISTRO DAS FINANÇAS, MÁRIO CENTENO
APRECIAÇÃO DA PROPOSTA DE LEI DO
ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2017
COMISSÃO DE ORÇAMENTO, FINANÇAS E MODERNIZAÇÃO
ADMINISTRATIVA E COMISSÃO DE TRABALHO E SEGURANÇA
SOCIAL
2 DE NOVEMBRO DE 2016, ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
Senhora Presidente,
Senhoras e senhores deputados,
Estive aqui na passada terça-feira, tendo apresentado as linhas
gerais da proposta do Governo para o Orçamento do Estado para
2017.
Nessa oportunidade realizamos um profundo debate acerca das
principais linhas de atuação do Governo. As mais de cinco horas
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que durou esse debate são bem a comprovação de que o Relatório
do Orçamento de Estado continha toda a informação necessária a
um debate detalhado das opções orçamentais.
Apresentei ainda na altura a minha intenção de aqui voltar para
que houvesse oportunidade de aprofundar esse debate com as
senhoras e com os senhores deputados, sempre que assim o
entendessem justificado.
Tal como temos vindo a afirmar e sobretudo a demonstrar, o
Governo entende que a relação com o Parlamento é mais do que
um mero cumprimento de deveres; entendemos que, acima de
tudo, os dois órgãos de soberania devem colaborar mutuamente e
devem contribuir para o esclarecimento dos cidadãos.
A estimativa suplementar em contabilidade pública para 2016
merece certamente a nossa presença aqui hoje.
O Governo faz escolhas políticas, mas também metodológicas.
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No plano legal, cumprimos inteiramente as normas que estão em
vigor da Lei de Enquadramento Orçamental, que, no caso, é ainda
a de 2001.
Mas é importante centrar a nossa atenção no que efetivamente nos
traz aqui hoje.
A política económica e orçamental subjacente à elaboração da
proposta de OE para 2017 assentou em três eixos fundamentais:
(i) A recuperação de rendimentos pelas famílias, que se deve
fazer por alívio da carga fiscal de famílias e empresas mas também
por uma melhoria das condições do mercado de trabalho, do
emprego e dos salários;
(ii) A capitalização das empresas, que permita melhorar as
condições económicas e financeiras do nosso tecido empresarial,
de modo a que possam investir, criar emprego e ganhar expressão
económica interna e externamente;
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(iii) A estabilização do sistema financeiro, para que possa
apoiar a economia e o investimento produtivo.
A informação complementar que entretanto apresentámos apenas
confirma o esforço de rigor e equilíbrio orçamental entre as
diferentes áreas da governação.
A execução de 2016, como qualquer outra anterior, será avaliada
pelo respeito que conseguir demonstrar dos equilíbrios
orçamentais essenciais: a evolução do défice, a redução do
encargo em juros, a trajetória da divida pública e a carga fiscal.
Esta avaliação deve ser feita em contas nacionais e a resposta é
muito clara e inequívoca: o défice reduz-se em 2016, a taxa de
juro implícita no pagamento de juros reduz-se, a divida manter-
se-á numa trajetória de redução e a carga fiscal diminui pela
primeira vez desde 2010.
Podemos agora analisar a execução orçamental em contabilidade
pública. Com mais números. Números que continuarão a não
agradar à oposição. Não há volta a dar-lhes.
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O Orçamento do Estado para 2015 (numa prática iniciada nos anos
anteriores) introduziu variadíssimos riscos nos programas
orçamentais. Entre os problemas identificados encontramos
situações várias de suborçamentação nas áreas da Educação e da
Saúde. Não é essa a nossa forma de atuar e de lidar com as contas
públicas.
Por isso, o Governo tem vindo a corrigir essas situações. E isto é
notório nos quadros que constam do Relatório do Orçamento do
Estado — exatamente os mesmos quadros que refletem com
verdade e seriedade a natureza setorial da política orçamental.
Senhora Presidente, senhoras e senhores deputados,
Os quadros adicionais ao Relatório sublinham precisamente o rigor
da execução das contas públicas no presente ano de 2016.
Eles reafirmam aquilo que já sabíamos, que o rigor orçamental não
colocou em causa as mais essenciais funções do Estado. As
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despesas em educação cresceram face a 2015. Este crescimento
anual acontece pela primeira vez desde 2011. Depois de anos
sucessivos de redução do orçamento inicial da Educação, com uma
diminuição de 440 milhões de euros entre 2013 e 2015, em 2016 e
2017 este orçamento tem um reforço significativo de 483 milhões
de euros. Trata-se apenas de corrigir a sub-orçamentação do
Programa Orçamental da Educação.
Em relação à execução, entre 2013 e 2015 verificou-se uma
redução de 210 milhões de euros. Em 2016 o crescimento estimado
é de 337 milhões de euros. Corrigido do atraso de pagamento de
custos salariais de 2015, que o anterior Governo deixou para trás,
e que apenas foram satisfeitos em 2016, de mais de 70 milhões de
euros, o crescimento em 2016 seria de 267 milhões de euros.
A Educação é uma prioridade para este Governo, na mesma medida
que foi entendida como uma DESPESA pelo anterior Governo. Mas
as prioridades têm que ser sujeitas a uma hierarquia e ao rigor que
a execução orçamental está sujeita. E assim tem sido também
nesta área.
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Outro exemplo é o Programa Orçamental da Saúde.
As despesas em saúde evoluem em 2016 de forma responsável e no
respeito pelo equilíbrio orçamental. Há um aumento das despesas
em saúde, que é acompanhado por uma responsabilidade
orçamental reforçada.
Em 2015, o défice inicial do Programa Orçamental da Saúde era de
30 milhões de euros. O apuramento final por parte do Instituto
Nacional de Estatística colocou o défice da saúde em 472 milhões
de euros. Uma derrapagem de 440 milhões de euros. Haja saúde.
Para aqueles que de repente se tornaram expansionistas fiscais, e
que nunca assumiram em Portugal as suas prioridades perante
Bruxelas, é importante referir que Portugal continua num processo
de consolidação orçamental. Que este Governo não tem desse
processo a visão purificadora e instrumental que durante anos
ouvimos do PSD e do CDS. Às vezes mais do PSD, mas só às vezes.
Sabemos agora que quem subiu impostos e defendeu cortes
transversais neste Parlamento, apela agora à magia negra para
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reduzir dívida. Chama-se a isto revisionismo? Não, apenas um plano
diabólico!
Uma breve nota para a execução fiscal do Estado. A receita bruta
dos principais impostos está a evoluir de acordo com as
expectativas do Governo. O que não está a evoluir com as
expectativas dos portugueses é o fardo de despesa fiscal que o
anterior governo adiou para 2016.
Este ano temos mais 900 milhões de euros de reembolsos do que
em 2015. O plano do anterior Governo foi de atingir as metas de
2015 à custa de reter nos cofres do Estado dinheiro dos
portugueses.
No IRS, no IRC e no IVA os desvios são quase exclusivamente
explicados por reembolsos mais elevados. O IRS tem as retenções
na fonte dos rendimentos de trabalho dependente e de pensões a
aumentar acima de 3%. No IRC o primeiro pagamento especial por
conta cresceu 5,1% face a 2015. E no IVA o crescimento bruto da
receita acumulada até setembro foi de 2,4%.
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A previsão até ao final do ano está enquadrada nesta evolução.
Para o sucesso de uma consolidação sustentável é fundamental o
aumento do potencial de crescimento.
Não é através de ilusões que alcançamos este objetivo. Não se
pode crescer desorçamentando a educação ou a saúde. Não nego
no entanto — e seria irresponsável se o fizesse — que, nestas áreas
em concreto, os orçamentos devem ser aplicados com equilíbrio,
atendendo às necessidades pela prestação de serviços, mas
também tendo em consideração as restrições existentes.
Assim, o crescimento potencial depende em grande medida da
eficiência da despesa pública, até porque a carga fiscal tem que
diminuir. Não se pode crescer dividindo — separando o público do
privado, os jovens dos pensionistas, o litoral do interior. Não.
A estigmatização dos serviços públicos ficou como marca de água
de quem hoje está na oposição. Para a Administração Pública, o
anterior Governo apresentou um documento com muitas páginas e
muitos espaços em branco. Esse foi o legado.
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O debate que hoje aqui temos centra-se na execução de 2016: uma
execução exigente mas que levará Portugal para fora do
Procedimento por Défice Excessivo.
Esses números nunca hão-de faltar, mas são esses números que a
oposição nunca quis ver.
O génio de Camões já tinha celebrado a palavra “cativo”.
A oposição está cativa de uma Tabela. “Aquela cativa,
Que me tem cativo, Porque nela vivo, Já não quer que
viva”. Quando nos tornamos cativos, por mais
transparente que seja a forma, não conseguimos ver o que
nela consta.
Muito obrigado.